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REGIÃO ACADÉMICA III

UNIVERSIDADE ONZE DE NOVEMBRO


INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO (ISCED)

TRABALHO DE TEORIA DE HISTÓRIA

OBRA:  LIBERDADE, PODER E PLANIFICAÇÃO DEMOCRÁTICA

Catarina Benza Sumbo


4º Ano de Ensino de História
Docente: Joaquim Paka Massanga

CABINDA, MARÇO DE 2019


Karl Mannheim nesta obra estende muito mais o seu conceito de educação social e seu
método dialético no qual relaciona o conhecimento formal como informal.

No primeiro capítulo da referida obra, Karl Mannhein falou das novas técnicas e
complexo de poder afirmando que muitos conhecimentos foram adquiridos para
aumentar o poder. A tecnologia, tanto económica quanto social, desenvolveu-se como
instrumento para a busca e aumento do poder pessoal.

No capítulo 3, “A Cerca do poder – um capítulo da sociologia política”, Mannhein


identifica 3 formas básicas do poder como sendo:

 O livre desafogo da violência descontrolada por parte de indivíduos ou grupos


conduz ao caos, à anarquia e à anomia.
 A destruição organizada, como a das guerras, das revoluções etc., demonstra
formas exteriores de organização, mas seus métodos violentos e suas finalidades
destruidoras inclinam-na para o livre desafogo.
 O poder canalizado, como desejamos denominá-lo, encontra-se concentrado em
instituições e produz normas ordenadas de interacção humana, sujeitas a
princípios, códigos e regras. O poder é controlado e, por sua vez, controla o
comportamento.

No capítulo 7 desta obra, Mannheim conceitua princípios e a evolução da influência


entre que o costume e a ciência social têm na sociedade. Segundo o autor, antigamente
os costumes serviam como forma de ordenador social, um regulador nas próprias
relações primárias e secundárias entre os indivíduos. Tanto relações institucionalizadas
e não institucionalizadas, eram reguladas pelo sistema de costumes.

O enfraquecimento dessas instituições e dos próprios costumes, torna urgente e


necessário o surgimento e fortalecimento de uma nova instituição, no qual regule essas
relações, eis que surge a urgência da ciência social ser uma forma de orientação para
essa estrutura.

O que se destaca nesse capítulo é noção de competição e cooperação. Segundo o autor a


competição somente é nociva na noção mais extrema do capitalismo e do liberalismo,
que a competição entre desiguais, que somente contribui para sentimentos de
inferioridade e exageros gerados pelo excesso de poder e falta de regulagem nas
relações. Para Mannheim, a competição somente é sadia quando é feita entre iguais,
incentivando cada membro do conjunto social a se aperfeiçoar com finalidade atingir os
objetivos comuns. Essa competição entre iguais se transforma em espécie de cooperação
social, já que a dificuldade do outro em acompanhar o restante do grupo, não significa
uma forma de segregação social, mas um fator de cooperação entre os membros desse
grupo.

A cooperação não se restringe somente ao pequeno grupo, mas sim a cooperação de


pequenos grupos formando um grande grupo, pois para Mannheim, o homem com
ideários democráticos, que recebe uma educação social, terá como princípio do espírito
competitivo a solidariedade com finalidade de bem comum. Nesse ponto, o autor lança
princípios que a educação social é uma forma de torna esse ideal realidade. Nessa parte
do texto o autor se aproxima de Max Weber, com ideia de “ethos”, de um espírito que
permeie as relações sociais, resultando na cooperação social, uma espécie de ação
racional. Nesse sentido, Mannheim acaba superando Durkheim, fazendo a função
cooperativa não simplesmente uma função de organismo social orgânico, mas sim de
organismo desenvolvedor do status democrático em sociedade mais dinâmica que a
idealizada por Durkheim.

No capítulo seguinte o autor tentar teorizar um padrão de comportamento democrático,


começa com questão de como o padrão de comportamento, durante a história foi forma
de regulagem social e também resultado da própria estrutura social e suas instituições.

Nessa parte do texto, o autor disserta sobre a questão da liberdade responsável é feita
pela cooperação e pela competição sadia, fazendo disso possível pelo poder da educação
social, que não está somente no sistema formal de educação, mas também em outras
instituições sociais, como família.

Na questão família, Mannheim faz uma reflexão na transformação dessa instituição,


com advento dos métodos anticoncepcionais. Muitos acham que tal instituição está em
viés de extinção, mas segundo o autor, essa instituição deve ser valorizada para uma
educação social, somente assim uma educação democrática será eficiente, já que a
família é parte importante e órgão também formador dessa consciência social, dessa
nova ordem social. Isso não significa usar meios autoritários de conservação dessa
instituição, mas sim meios democráticos que a conservem, sem que mesma perca a
liberdade de escolha, como por exemplo, ter ou não ter filhos.

Pois a formação de comportamento democrático tem como um dos de seus princípios a


responsabilidade democrática. Mannnheim explica que a pequena propriedade privada
tem uma função didática, pois antigamente, quando o capitalismo não tinha reduzido a
propriedade das pessoas em venda de sua mão-de-obra, quando existia uma criação de
responsabilidade criada pelo trabalho familiar na pequena propriedade, essas tinham
uma noção de responsabilidade social. Mannheim não nega e nem defende o fim da
propriedade privada, mas sim o uso responsável da mesma.

Segundo o autor deve haver um treinamento para responsabilidade e pela


espontaneidade, a superação do superego e a solução do enfraquecimento da pequena
propriedade criado pela sociedade liberal capitalista. Apesar nesse ponto o autor se
aproximar de Karl Marx, ele não propõe a formação de uma sociedade igualitária e
socialista, mas sim de uma sociedade democrática, onde haverá valorização da
tolerância em vez do fanatismo ideológico, sendo o autor bastante critico ao uso
ideológico da educação, tanto no meio capitalista como meio comunista, pois a função
integradora da educação democrática funcionaria como forma de reforço da cooperação
social, instituída pela competição sadia e igualitária, em educação praticamente
libertadora. Todavia nessa ideia autor, assemelha-se muito a Bakunin e Mezáros, em
suas propostas educacionais, de superação da sociedade liberal falida feita também pela
educação.

Mannheim na dissertação da formação da personalidade democrática, no capitulo


seguinte o autor defende o uso educacional como formador de uma personalidade mais
democrática, seguindo essa uma função moralizante. Nessa questão, novamente
Mannheim supera Durkheim, pois a formação proposta por ele não uma proposta
autoritária como Dukheim, mas sim uma função libertadora, como forma de superação
social, apesar de ambas terem uma função de terminar disfunções como anomias
sociais, como a criminalidade. A proposta moralizante de ambos os autores não é nova,
pois socialistas utópicos, como Robert Owel, já teorizaram sobre essa questão, o que
Mannheim traz de complemento é questão de função libertadora que essa nova moral
traz, se aproximando muito da proposta educacional de Paulo Freire.

Na proposta do autor, de formação personalidade democrática traz uma ideia de


sociedade colectiva, em vez do individualismo liberal, exercido pela competição
desigual. Todavia a sociedade democrática proposta pelo autor traria as condições
necessárias para sobrevivência de um padrão de personalidade democrática, pois esta
seria a dualidade dessa personalidade, a concordância entre extrema individualidade e
cooperação social, instituída na competição entre iguais e na tolerância democrática que
seria a base que sustentaria essa nova estrutura social.

A proposta moralizante de Mannheim se assemelha ao pensamento do socialismo


utópico, onde a superação da sociedade liberal, não será feita pelo rompimento das
próprias estruturas dessa sociedade, mas sim de uma utopia que tolere tanto a igualdade
da educação social com a existência real da própria desigualdade capitalista.

No capítulo 10, o autor disserta na questão da educação como base do trabalho de


formação de uma nova sociedade democrática, como Marx, e diferente de Durkheim
(que fazia a proposta educacional na qual mantinha a estrutura social capitalista liberal),
Mannheim reforça nesse capitulo a educação como formação uma nova forma de
sociedade, uma sociedade democrática.

Mannheim defende que a ciência que orientará nessa nova estrutura educacional será
sociologia. O autor defende formação da sociologia da educação, na qual orientaria a
pedagogia como instituição de transformação social. Pois a educação social seria
realizada por estrutura social democrática, em uma escola democrática, que seria um
nível igualitário de instrução e que treinaria desde primeira infância, o exercício
democrático. Assim a educação social, com as outras instituições sociais, primárias e
secundárias, o treinamento democrático, formando um novo padrão de personalidade,
essa democrática, onde seria uma sociedade tolerante e responsável. Seria uma forma
planificada de educação muito além da estrutura escolar.

Podemos perceber que Mannheim propõe uma educação de formação moral, mas essa
democrática, apesar de se assemelhar Durkheim nessa questão, percebe-se que sua
proposta se aproxima mais com a proposta de Paulo Freire de educação libertadora. Pois
sua proposta educacional é proposta de superação da sociedade existente, e não uma
preserve a sociedade vigente, como proposta de Durkheim.

Devemos também destacar a proposta de educação igualitária em todas as classes


sociais, nessa teoria Mannheim se assemelha com proposto pelo anarquista Bakunin, em
sua obra “A instrução Integral”, que propõe que superação da sociedade capitalista não
será possível se existir vários níveis de instruções para diferentes classes sociais.
Mezáros, mais recentemente em sua obra “A Educação para Além do Capital”, prevê a
mesma proposta da educação como forma de superação da estrutura social, uma
educação democrática.

Todavia a critica que se faz é que proposta de sociedade democrática de Mannheim não
é superação total das estruturas capitalistas, assim não superando o status quo
capitalista. Diferente de Mézaros e Bakunin, a nova sociedade proposta pelo autor seria
uma forma mais amena de capitalismo (se isso é possível) embasada na tolerância e na
cooperação entre os indivíduos, apesar da desigualdade econômica e social do
capitalismo.

Podemos concluir que a teoria de Mannheim é uma utopia educacional, muito próximo
a ideologia dos socialistas utópicos, como a proposta de Robert Owen e o poder
educação na formação de uma nova sociedade. O problema, que diferente de Owen, a
proposta educacional de Mannheim nunca foi colocada em prática, sendo esse um
grande desafio para estrutura educacional vigente, assim seria possível empiricamente
saber se essa utopia educacional seria possível ou não.

Biografia
Dentre os grandes vultos das ciências sociais, alguns dos quais mereceram o devido
registo é justo assinalar a extraordinária personalidade do PROF. KARL MANNHEIM
(1893-1947).

Natural da Hungria, estudou KARL MANNHEIM nas Universidades de Budapest,


Berlim, Paris, Friburgo e Heidelberg, tendo sido, nesta última, um Privatdozent. Em
1929, assumiu o cargo de professor na Universidade de Francfort. Em 1933, ano em que
HITLER subiu ao poder, emigrou para a Inglaterra, onde passou a actuar, com sucesso,
a princípio como lecturer em sociologia na Escola de Economia de Londres
(Universidade de Londres) e, desde 1944, como catedrático de Educação no Instituto de
Educação. Era, ainda, editor da importante colecção The International Library of
Sociology and Social Reconstruction.

As principais contribuições de KARL MANNHElM para o progresso das ciências


sociais foram o estabelecimento das indicações básicas para a construção de uma
sociologia do conhecimento e a formulação de uma teoria do desenvolvimento da
civilização ocidental. Como epistemologista, MANNHElM foi hábil em mostrar os
factores irracionais na elaboração do conhecimento, ou sejam, os resíduos
ideológicos e utópicos do pensamento humano. Neste particular, grande é a sua dívida
a KARL MARX, cuja doutrina, segundo contam, esforçou-se por tornar "salonfahig"
(acessível aos salões) na Alemanha. Mas superou o marxismo, pois embora acreditasse
que o pensamento é situacionalmente elaborado, admitiu a possibilidade do
conhecimento objectivo nas ciências sociais, mediante a verificação crítica e o controle
dos julgamentos de valor.

Bibliografia

MANNHEIM, K. Liberdade, poder e planificação democrática. São Paulo, 1972.

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