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- 12/05/2023 (Balibar)
Comparação
Habermas VS Balibar
Habermas tem uma teoria do agir comunicativo que concebe um espaço, mundo de
racionalidade onde através do diálogo o melhor argumento vence e o que tem conteúdo
normativo prevalece;
Para Balibar há uma atribuição dessa proposição histórica - pessoas excluídas reivindicam a
não discriminação e a igualdade são eles que se tornam o critério da igual liberdade; Anne
Arendt tem essa conceção também - direito a ter direitos, quem reivindica é aquele que está
excluido dos direitos e não simplesmente algo formulado no espaço público de debate.
Balibar é um autor judeu que sofre na própria biografia a discriminação antissemita. Por isso, vê
a História de forma menos idealista e mais realista. Balibar considera que o fundamental é o
exercício da cidadania o que remete para uma posição de Direito constitucional que é o poder
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constituinte e o poder constituído. A constituição material resulta do exercício de cidadania. Para
Balibar o fundamental é que a igual liberdade não é algo contruído racionalmente na ação
comunicativa mas sim uma proposição construída historicamente em movimentos de oposição e
quem formula essa proposição são os excluídos, que não têm direitos e fazem as exigências anti-
discriminatórias.
Foucault VS Balibar:
Balibar preocupa-se sobre como é formulada essa proposição historicamente (o facto de ser
formulado pelos excluídos e ser uma oposição a uma situação de desiguldade), mas também
com as seguintes questões:
todas essas conceções são construídas, mas ao aparecer como se fossem naturais,
justificam a discriminação direta e indireta ou situações mais extremas como
assédio, crime de ódio; hoje em dia, o assédio está a ser desnaturalizado, porém até
há pouco tempo atrás o assédio não era denunciado, era natural, fazia parte da
natureza dos homens, das relações sociais, etc. e a denúncia era sujeita a sanção.
não significa que somos todos iguais - há uma singularidade única de cada pessoa,
cada pessoa tem o seu modo de vida, de pensar e de agir.
na filosofia de Aristóteles havia uma ideia de que os seres tinham essências e isso
justificava a hierarquia social (homens em primeiro, depois mulheres, depois
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escravos); cada um tem um papel social com a sua essência; também o pensamento
racista é um pensamento redutor a essência; todo o pensamento que justifica
diferenças sociais é essencialista. Há uma essencialização dos papéis sociais. A
diferença ontológica serve para se opor a toda uma tradição que buscava procurar
essências que estão na origem de discriminação (racismo, sexismo que reduzem as
pessoas a um certo lugar na sociedade).
Balibar e Bourdieu:
Bordieu faz caricaturas do Balibar e ataca-o. Mas na verdade queria atacar mais o mestre de
Balibar. O mestre de Balibar era o grande filósofo na sua época e assassinou a sua esposa. O
Balibar era o mais experiente e ja publicava textos. Bourdieu ataca o Balibar quando ainda só
tinha 20 anos. Bourdieu ataca a noção de um Estado que formaria as pessoas, as identidades. No
entanto, eles são mais próximos do que parece porque ambos estão preocupados com os conflitos
sociais e o papel das instituições sociais. Balibar aprecia a obra de Bourdieu. Em Bourdieu não
há uma prentensão ética (não há nada que se aproxime da igualiberdade), apenas de explicar
como funciona. Balibar preocupa-se em definir um conteúdo ético que aparece na igualiberdade.
Bourdieu é muito operativo na sociologia do Direito, mas para os juristas que se preocupam em
ter um horizonte normativo Bourdieu não é suficiente.
Bourdieu tem uma pretensão de racionalidade e luta de capital simbólico em cada campo.
Bourdieu preocupa-se com a razão historicamente contruído numa apenas das suas obras que é
“meditações pascalianas” (?). Por isso, a leitura que geralmente se faz de Bourdieu é que não
existe. Essa obra é o que mais se aproximaria de Balibar.
Marx e Balibar:
Marx - também faz crítica dos universais jurídicos (igualdade e liberdade); para si são os
princípios do capitalismo (livre circulação de mercadorias e capital) e não têm
correspondência na realidade, servem para o empregado livremente se escravize e são
ideologia para justificar a opressão.
Balibar - não aceita essa crítica; se pensarmos como Marx vamos deixar de lado o potencial
emancipador desses princípios que podem-se tornar operativos no Direito e criar um
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horizonte normativo.
Marx critica Bentham e o utilitarismo por a declaração dos direitos humanos consagrar a
igualdade, a liberdade e o bem por consagrar o utilitarismo e o livre funcionamento do mercado
(”liberdade, igualdade, propriedade e Bentham”). Balibar diz que daqueles que estão excluídos
vem uma reivindicação emancipatória com conteúdo jurídico e político que pode transformar a
realidade daqueles que estão na prática excluídos.
Em suma…
“Igualiberdade”:
diferença antropológica - são diferenças reais entre as pessoas? fisicamente até pode
existir, mas o mais importante são as difernças que servem para justificar historicamente as
desiguldades reais, as discriminações;
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por um lado, as instituições são fundadas no pº da igualiberdade;
por outro lado, há um conjunto de diferenças que vemos como naturais e justificam
discriminação e exclusão.
Diferenças Antropológicas
Como são produzidos esses efeitos discriminatórios?
Diferenças Ontológicas
Não somos todos iguais, temos as nossas singularidades e necessidade de construir um ser
original com seu próprio modo de vida, de vestir e de ser e, por isso, nenhuma pessoa pode ser
reduzida a um grupo de raça, religião, etc.
Balibar diz que isso é uma violência que a pessoa pode sofrer quando é vista dessa maneira
reduzida ao grupo. Mesmo dentro do seu grupo pode sofrer violência ao ser obrigado a adaptar-
se aos respetivos modos de viver (ex: religião).
Igualiberdade
Parte da contradição fundamental entre os pº das ideias democráticas e a realidade que contradiz
os mesmos - realidade de discriminação.
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há socialmente uma série de exclusões que vão sendo aceites por aqueles que têm privilégios
e imunes e, até mesmo, pelas próprias vítimas;
contudo, há outras pessoas que não aceitam essas formas de exclusão e lutam contra a
discriminação - estas pessoas formulam a proposição de igualiberdade.
há um conflito entre aqueles que aceitam a exclusão e aqueles que se mobilizam contra
a exclusão.
Marxismo - esses princípios não servem para nortear o mundo, servem para encobrir o
capitalismo;
Naturalização de Pº Vs de Factos
Os pº democráticos surgem sempre como referência ao Direito natural e à essência humana. No
entanto, essas teorias foram construídas historicamente em movimentos de oposição. Também as
discriminações surgem naturalmente.
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Nós naturalizamos ideias e princípios que são particulares e exclusões como se fossem factos,
quando na verdade são construídos historicamente.
Revolução francesa;
Revolução inglesa.
Foram momentos de contestação a uma ordem estabelecida, não tem nada a ver com o mundo
racional. Para Habermas na sua visão idealista (comunicação ideal que vai neutralizar as
diferenças de poder, nomeadamente a discriminação) não corresponde à realidade (o
contraargumento é que a teoria de Habermas pode ser útil na mesma como orientação, como
princípios norteadores). Habermas é muito útil no sentido da construção de instituições que
tentariam neutralizar discriminações. Há um idealismo utópico habermasiano mas útil no sentido
de pensar como devem ser formadas as instituições.
Propriedades da Igualiberdade
não há igualdade sem liberdade e vice-versa:
há uma tensão entre as duas mas politicamente pode-se decidir em que medida uma vai ser
restringida para assegurar a outra em cada caso concreto (ex: redistribuição de riqueza e
cobrança de impostos para assegurar maior igualdade).
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Igualiberdade é uma ideologia como concebe Marx?
Para Marx, a declaração dos direitos humanos serve para consagrar o utilitarismo e destrói a
fraternidade e igualdade e liberdade real.
Balibar diz que pode ser uma ideologia quando justifica o utilitarismo, mas não é quando é uma
proposição histórica formulada pelos excluídos. Na economia liberal o pº é o utiliarismo, logo
não é igualiberdade - a igualiberdade vem dos excluídos, não vem do que está consagrados nas
instituições e constituições democráticas. Nas instituições tem um função ideológica.
A reivindicação é legítima quanda na realidade há negação de igualiberdade. Se disser que já está
na Constituição a igualdade e liberdade tem valor ideológico porque ignora que de facto existem
aqueles que ainda não têm esse direito.
O pº do utilitarismo legitima as desiguldades pela livre-competição. A livre-competição legitima
apenas a sobrevivência do mais forte e é essa a forma que funciona a sociedade atual neo-liberal.
A ideologia dominante no neoliberalismo não é a igualiberdade, mas sim o utilitarismo.
Spencer é outro autor utilitarista. Balibar disse o seguinte contra Spencer: a igualiberdae vai ser
sempre o conteúdo de reivindicação das insurreições daqueles que na prática estão excluídos. O
problema das sociedades contemporâneas é a meritocracia - essa competição impede a
igualdade porque quem vence na competição ocupa legitimamente um lugar superior na
hierarquia social e tem mais direitos e privilégios de forma legítima porque “mereceu” ao
competir livremente.
os traços das “minorias” são vistas como traços naturais e propriedades que podem ser
herdadas e irrecusáveis (religião, cultura, etnia, etc.) - por exemplo, durante o holocausto
pessoas alemãs eram vistas como judeias porque os seus avós eram judeus, mesmo que essas
pessoas não se vissem como judeus e isso fosse irrelevante para elas (a terceira geração é
vista como se tivesse herdado uma propriedade de outra cultura, etnia, estrangeiro, etc. e são
excluídos).
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Sartre tem uma filosofia existencialista que critica o essencialismo (o ver as pessoas como tendo
uma essência). Toda a filosofia constrói essências, logo Sartre critica todas as essências. “Todo o
racismo é essencialismo”. Para Sartre tudo se forma na existência, não na essência. Sartre diz que
não pode dizer que Proust é um génio, porque dizendo assim é como dizer que é génio na
essência, mas ele é-o na existência, a partir do momento que a obra é escrita e existe na
realidade, Proust é genial partindo da essência, de algo que existe.
Bourdieu também constrói uma sociologia que reconstrói esta fenemenologia de Sartre que
também recusa todo o tipo de essencialismo, com a construção histórica da realidade social.
O Sartre preocupa-se com a questão da resistência ao nazismo durante a IIGM e diz algo
fundamental “o racismo não se refere a nenhum tipo de essência das pessoas, mas existe no olhar
dos racista”. É o racista que atribuiu uma qualidade às pessoas, não existe nas pessoas uma
essência que as faz pertencer a uma comunidade. O discriminador é que o faz pertencer a uma
comunidade.
Balibar diz o mesmo - no olhar do discriminador todos nós temos propriedades que não
podemos negar.
Universalidade e Violência
Nem todas as diferenças “naturais” são discriminadas, mas a universalização de diferenças faz
com certas “essências” sejam consideradas um padrão de normalidade, justificando a violência:
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gays podem optar por defender que “não interessa a ninguém a nossa vida íntima e
privada” (fica por casa); ou “sou mulher mas não me interessam as lutas feministas, não
participo nos movimentos que denunciam a violência contra as mulheres”.
“tire uma foto com um disléxico orgulhoso em ter dislexia”; “black and proud”; “gay
pride - outra hipótese é ir à rua e manifestar” - há valorização da diferença na ideia de
orgulho.
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