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- 12/05/2023 (Balibar)

Balibar refere-se a todos os autores que já estudamos.


Tem um conceito de “igual liberdade”. As teorias da justiça trabalham mais com o valor da
liberdade como se fosse o principal e a igualdade real aparece como algo secundário. As
desigualdades são um problema do mundo real e essas conceções dizem que a tendência é que vá
desaparecendo ao longo do tempo. Balibar é contra essa conceção.
O Direito anti-discriminatório foi desenvolvido nos EUA e foi retrabalhado no continente Europa
no Conselho da Europa no âmbito da UE. Na carta dos direitos fudamentais da UE encontra-se
consagrado. Balibar está preocupado com a proposição da igual liberadade e recusa teorias que
privilegiam a liberdade em detrimento da igualdade.
Para Balibar não há liberdade onde não há igualdade e vice-versa.
A proposição da igual liberdade é historicamente formulada nas grandes revoluções liberais que
a reivindicam.
Igual liberdade é um conceito muito operativo para os juristas - levanta a questão “quem está a
reivindicar?”

Comparação
Habermas VS Balibar

Habermas tem uma teoria do agir comunicativo que concebe um espaço, mundo de
racionalidade onde através do diálogo o melhor argumento vence e o que tem conteúdo
normativo prevalece;

Para Balibar há uma atribuição dessa proposição histórica - pessoas excluídas reivindicam a
não discriminação e a igualdade são eles que se tornam o critério da igual liberdade; Anne
Arendt tem essa conceção também - direito a ter direitos, quem reivindica é aquele que está
excluido dos direitos e não simplesmente algo formulado no espaço público de debate.

Balibar é um autor judeu que sofre na própria biografia a discriminação antissemita. Por isso, vê
a História de forma menos idealista e mais realista. Balibar considera que o fundamental é o
exercício da cidadania o que remete para uma posição de Direito constitucional que é o poder

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constituinte e o poder constituído. A constituição material resulta do exercício de cidadania. Para
Balibar o fundamental é que a igual liberdade não é algo contruído racionalmente na ação
comunicativa mas sim uma proposição construída historicamente em movimentos de oposição e
quem formula essa proposição são os excluídos, que não têm direitos e fazem as exigências anti-
discriminatórias.

Foucault VS Balibar:

Foucault preocupa-se com formas de governamentabilidade, não de universalidade; com


Foucault não teríamos o tipo de política de cidadania, a preocupação de Foucault é revelar
os mecanismos sociais que impedem a liberdade das pessoas, mas não como os movimentos
sociais se dão para reivindicar direitos;

Balibar preocupa-se sobre como é formulada essa proposição historicamente (o facto de ser
formulado pelos excluídos e ser uma oposição a uma situação de desiguldade), mas também
com as seguintes questões:

porque aceitamos nas democracias contemporâneas as desigualdades reais?


porque é que as vemos como natural? (por exemplo, porque é que vemos como
natural que o homem trabalha e a mulher sacrifica-se para o papel doméstico? - na
maioria das faculdades a carreira de professores é dominada pelo sexo masculino);
porque é que quem faz trabalho intelectual ganha mais que o manual?

todas essas conceções são construídas, mas ao aparecer como se fossem naturais,
justificam a discriminação direta e indireta ou situações mais extremas como
assédio, crime de ódio; hoje em dia, o assédio está a ser desnaturalizado, porém até
há pouco tempo atrás o assédio não era denunciado, era natural, fazia parte da
natureza dos homens, das relações sociais, etc. e a denúncia era sujeita a sanção.

num processo histórico de lutas e conquistas, o que era considerado natural e


justifica a discriminação vai sendo desnaturalizado.

se existem essas diferenças que justificam a desigualdade, então o que significa a


igualdade?

não significa que somos todos iguais - há uma singularidade única de cada pessoa,
cada pessoa tem o seu modo de vida, de pensar e de agir.

na filosofia de Aristóteles havia uma ideia de que os seres tinham essências e isso
justificava a hierarquia social (homens em primeiro, depois mulheres, depois

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escravos); cada um tem um papel social com a sua essência; também o pensamento
racista é um pensamento redutor a essência; todo o pensamento que justifica
diferenças sociais é essencialista. Há uma essencialização dos papéis sociais. A
diferença ontológica serve para se opor a toda uma tradição que buscava procurar
essências que estão na origem de discriminação (racismo, sexismo que reduzem as
pessoas a um certo lugar na sociedade).

Balibar e Bourdieu:

Bordieu - a razão é historicamente construída (Balibar concorda);

Balibar - conceção prática e política de cidadania.

Bordieu faz caricaturas do Balibar e ataca-o. Mas na verdade queria atacar mais o mestre de
Balibar. O mestre de Balibar era o grande filósofo na sua época e assassinou a sua esposa. O
Balibar era o mais experiente e ja publicava textos. Bourdieu ataca o Balibar quando ainda só
tinha 20 anos. Bourdieu ataca a noção de um Estado que formaria as pessoas, as identidades. No
entanto, eles são mais próximos do que parece porque ambos estão preocupados com os conflitos
sociais e o papel das instituições sociais. Balibar aprecia a obra de Bourdieu. Em Bourdieu não
há uma prentensão ética (não há nada que se aproxime da igualiberdade), apenas de explicar
como funciona. Balibar preocupa-se em definir um conteúdo ético que aparece na igualiberdade.
Bourdieu é muito operativo na sociologia do Direito, mas para os juristas que se preocupam em
ter um horizonte normativo Bourdieu não é suficiente.

Bourdieu tem uma pretensão de racionalidade e luta de capital simbólico em cada campo.
Bourdieu preocupa-se com a razão historicamente contruído numa apenas das suas obras que é
“meditações pascalianas” (?). Por isso, a leitura que geralmente se faz de Bourdieu é que não
existe. Essa obra é o que mais se aproximaria de Balibar.

Marx e Balibar:

Marx - também faz crítica dos universais jurídicos (igualdade e liberdade); para si são os
princípios do capitalismo (livre circulação de mercadorias e capital) e não têm
correspondência na realidade, servem para o empregado livremente se escravize e são
ideologia para justificar a opressão.

Balibar - não aceita essa crítica; se pensarmos como Marx vamos deixar de lado o potencial
emancipador desses princípios que podem-se tornar operativos no Direito e criar um

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horizonte normativo.

Marx critica Bentham e o utilitarismo por a declaração dos direitos humanos consagrar a
igualdade, a liberdade e o bem por consagrar o utilitarismo e o livre funcionamento do mercado
(”liberdade, igualdade, propriedade e Bentham”). Balibar diz que daqueles que estão excluídos
vem uma reivindicação emancipatória com conteúdo jurídico e político que pode transformar a
realidade daqueles que estão na prática excluídos.

Em suma…
“Igualiberdade”:

diferença antropológica - são diferenças reais entre as pessoas? fisicamente até pode
existir, mas o mais importante são as difernças que servem para justificar historicamente as
desiguldades reais, as discriminações;

diferenças ontológicas - remetem a singularidade de cada pessoa e a recusa de reduzir uma


pessoa a um grupo (mulher, raça, estudante, professor - não se pode reduzir a um grupo só e
ser tratado de acordo com o papel social que se espera da pessoa).

Balibar considera que as nossas democracias estão fundadas formalmente no pº da igualiberdade


nas nossas Constituições e instituições democráticas. Porém, na realidade há uma enorme
desigualdade real e é justificada de acordo com diferenças que as pessoas teriam (razões de
discriminação - são características protegidas deficiências, sexo, raça, religião, idade; chamamos
minorias às pessoas socialmente excluídas, contudo na verdade eles no conjunto são a maioria e
na realidade a minoria é o homem europeu). Usamos a categoria de minoriais, como se a
maioria não sofresse algum tipo de discriminação; há quantitivamente uma minoria que
constitui o perfil da elite económica, financeira e intectual.

A distinção entre nacionais e estrangeiros é exemplo de discriminações - as pessoas trazem em si


as divisões e fronteiras do mundo geograficamente dividido. O problema é as pessoas trazerem
consigo as fronteiras, fazendo delas não só administrativas mas também pessoais.

Balibar mostra a contradição das nossas sociedades:

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por um lado, as instituições são fundadas no pº da igualiberdade;

por outro lado, há um conjunto de diferenças que vemos como naturais e justificam
discriminação e exclusão.

A igualiberdade é consequência dessa criação - o facto das populações estarem divididas em


grupos e todas essas justificações ideológicas de tratamento desigual apesar das legislações
dizerem o contrário. Essas diferenças são construídas, são antropológicas, e justificam a
desiguldade.

Diferenças Antropológicas
Como são produzidos esses efeitos discriminatórios?

Exemplo: Numa situação de casamento:

1. a diferença entre homem e mulher é normal;

2. entre o mesmo sexo já não é normal.

Diferenças Ontológicas
Não somos todos iguais, temos as nossas singularidades e necessidade de construir um ser
original com seu próprio modo de vida, de vestir e de ser e, por isso, nenhuma pessoa pode ser
reduzida a um grupo de raça, religião, etc.

Balibar diz que isso é uma violência que a pessoa pode sofrer quando é vista dessa maneira
reduzida ao grupo. Mesmo dentro do seu grupo pode sofrer violência ao ser obrigado a adaptar-
se aos respetivos modos de viver (ex: religião).

Igualiberdade
Parte da contradição fundamental entre os pº das ideias democráticas e a realidade que contradiz
os mesmos - realidade de discriminação.

Balibar reflete sobre a igualiberdade:

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há socialmente uma série de exclusões que vão sendo aceites por aqueles que têm privilégios
e imunes e, até mesmo, pelas próprias vítimas;

contudo, há outras pessoas que não aceitam essas formas de exclusão e lutam contra a
discriminação - estas pessoas formulam a proposição de igualiberdade.

há um conflito entre aqueles que aceitam a exclusão e aqueles que se mobilizam contra
a exclusão.

As ordens sociais tradicionais já eram hierárquicas tanto na filosofia (Aristóteles) como na


realidade. Porém, nas sociedades modernas há uma contradição própria da nossa época: os
princípios jurídicos são contra a hierarquia (defendem igualdade), mas a realidade é
hierarquizada na mesma (desigualdade real). Marx aqui também diz que há princípios que dizem
uma coisa e uma realidade que diz outra.

Como se explica essa contradição?

Liberalismo - J. Locke explicava as contradições dizendo que os direitos são universais; as


discriminações fazem parte do mundo das particularidades; esses pº universais não são
afetados pela realidade e ao longo da Histórias essas desigualdades vão desaparecer; o
mundo real tem um problema, mas são esses princípios que norteiam a mudança;

Marxismo - esses princípios não servem para nortear o mundo, servem para encobrir o
capitalismo;

Balibar (discorda com os dois) - há um problema na maneira de pensar nos princípios


universais porque estes aparecem como naturais (são fundamentados num Direito
natural, como se fossem alcançados pela razão; mesmo a teoria de Habermas vai ser
utilizada como fundamento de Direito natural apesar dele não defender a
naturalização); para Balibar não podemos pensar que esses pº são fundamentados num
Direito natural e racional, mas sim como uma proposição (isto é, proposta
historicamente pelos excluídos).

Naturalização de Pº Vs de Factos
Os pº democráticos surgem sempre como referência ao Direito natural e à essência humana. No
entanto, essas teorias foram construídas historicamente em movimentos de oposição. Também as
discriminações surgem naturalmente.

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Nós naturalizamos ideias e princípios que são particulares e exclusões como se fossem factos,
quando na verdade são construídos historicamente.

Balibar concebe a igualiberdade como algo criado em declarações propostas em


movimentos sempre revolucionários, de insurreição, de oposição contra o que está
instituído na realidade. É nesse sentido de reivindicação que temos de ler as declarações de
direitos humanos da atualidade - não como se fossem direitos naturais, mas sim como
proposições por parte dos excluídos.

Revolução francesa;

Revolução inglesa.

Foram momentos de contestação a uma ordem estabelecida, não tem nada a ver com o mundo
racional. Para Habermas na sua visão idealista (comunicação ideal que vai neutralizar as
diferenças de poder, nomeadamente a discriminação) não corresponde à realidade (o
contraargumento é que a teoria de Habermas pode ser útil na mesma como orientação, como
princípios norteadores). Habermas é muito útil no sentido da construção de instituições que
tentariam neutralizar discriminações. Há um idealismo utópico habermasiano mas útil no sentido
de pensar como devem ser formadas as instituições.

Propriedades da Igualiberdade
não há igualdade sem liberdade e vice-versa:

o liberalismo vem a considerar que a liberdade é mais importantes, é fundamental e a


igualdade vem depois.

há uma tensão entre as duas mas politicamente pode-se decidir em que medida uma vai ser
restringida para assegurar a outra em cada caso concreto (ex: redistribuição de riqueza e
cobrança de impostos para assegurar maior igualdade).

não se trata de obedecer a um pº universal, mas sim uma reivindicação e oposição às


instituições estabelecidas.

há uma dupla relação entre cidadãos e governantes (igualdade e liberdade na relação


horizontal entre estes).

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Igualiberdade é uma ideologia como concebe Marx?
Para Marx, a declaração dos direitos humanos serve para consagrar o utilitarismo e destrói a
fraternidade e igualdade e liberdade real.
Balibar diz que pode ser uma ideologia quando justifica o utilitarismo, mas não é quando é uma
proposição histórica formulada pelos excluídos. Na economia liberal o pº é o utiliarismo, logo
não é igualiberdade - a igualiberdade vem dos excluídos, não vem do que está consagrados nas
instituições e constituições democráticas. Nas instituições tem um função ideológica.
A reivindicação é legítima quanda na realidade há negação de igualiberdade. Se disser que já está
na Constituição a igualdade e liberdade tem valor ideológico porque ignora que de facto existem
aqueles que ainda não têm esse direito.
O pº do utilitarismo legitima as desiguldades pela livre-competição. A livre-competição legitima
apenas a sobrevivência do mais forte e é essa a forma que funciona a sociedade atual neo-liberal.
A ideologia dominante no neoliberalismo não é a igualiberdade, mas sim o utilitarismo.
Spencer é outro autor utilitarista. Balibar disse o seguinte contra Spencer: a igualiberdae vai ser
sempre o conteúdo de reivindicação das insurreições daqueles que na prática estão excluídos. O
problema das sociedades contemporâneas é a meritocracia - essa competição impede a
igualdade porque quem vence na competição ocupa legitimamente um lugar superior na
hierarquia social e tem mais direitos e privilégios de forma legítima porque “mereceu” ao
competir livremente.

Como é que as diferenças reais que existem são legitimadas?

chamamos as pessoas discriminadas “minorias”, como se fossem poucas pessoas,


disfarçando, assim, o problema, quando na verdade é a maioria a ser discriminada (p.e. as
mulheres por si só conseguem ser a maioria; adicionando a isso deficientes, homossexuais,
etc. acaba por ser a grande maioria);

os traços das “minorias” são vistas como traços naturais e propriedades que podem ser
herdadas e irrecusáveis (religião, cultura, etnia, etc.) - por exemplo, durante o holocausto
pessoas alemãs eram vistas como judeias porque os seus avós eram judeus, mesmo que essas
pessoas não se vissem como judeus e isso fosse irrelevante para elas (a terceira geração é
vista como se tivesse herdado uma propriedade de outra cultura, etnia, estrangeiro, etc. e são
excluídos).

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Sartre tem uma filosofia existencialista que critica o essencialismo (o ver as pessoas como tendo
uma essência). Toda a filosofia constrói essências, logo Sartre critica todas as essências. “Todo o
racismo é essencialismo”. Para Sartre tudo se forma na existência, não na essência. Sartre diz que
não pode dizer que Proust é um génio, porque dizendo assim é como dizer que é génio na
essência, mas ele é-o na existência, a partir do momento que a obra é escrita e existe na
realidade, Proust é genial partindo da essência, de algo que existe.
Bourdieu também constrói uma sociologia que reconstrói esta fenemenologia de Sartre que
também recusa todo o tipo de essencialismo, com a construção histórica da realidade social.

O Sartre preocupa-se com a questão da resistência ao nazismo durante a IIGM e diz algo
fundamental “o racismo não se refere a nenhum tipo de essência das pessoas, mas existe no olhar
dos racista”. É o racista que atribuiu uma qualidade às pessoas, não existe nas pessoas uma
essência que as faz pertencer a uma comunidade. O discriminador é que o faz pertencer a uma
comunidade.
Balibar diz o mesmo - no olhar do discriminador todos nós temos propriedades que não
podemos negar.

Com o conceito de diferenças antropológicas, Balibar procura um conceito que abarque


todos os tipos de discriminação: sexismo, racismo, em função da orientação sexual, pelo aspeto
físico, pelo local onde se vive, etc. Balibar arranja um conceito que é operativo para todos os
tipos de discriminação - toma todas as discriminações no seu modelo, não uma só.

Universalidade e Violência
Nem todas as diferenças “naturais” são discriminadas, mas a universalização de diferenças faz
com certas “essências” sejam consideradas um padrão de normalidade, justificando a violência:

exemplo: assédio ser visto como normal.

Como reagir a isso?


Os movimentos sociais têm duas formas de resistência - “ir às ruas ou não?”:

neutralizar a característica que justifica a discriminação - o risco é neutralizar a


diferença;

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gays podem optar por defender que “não interessa a ninguém a nossa vida íntima e
privada” (fica por casa); ou “sou mulher mas não me interessam as lutas feministas, não
participo nos movimentos que denunciam a violência contra as mulheres”.

valorizar o traço que justifica a discriminação - o risco é reproduzir o que origina a


discriminação.

“tire uma foto com um disléxico orgulhoso em ter dislexia”; “black and proud”; “gay
pride - outra hipótese é ir à rua e manifestar” - há valorização da diferença na ideia de
orgulho.

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