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SOCIOLOGIA JURÍDICA

DIREITO UNESC

As Desigualdades
Sociais e o Direito

PROF. ISMAEL DE CÓRDOVA


TÓPICOS
DE HOJE
O QUE VAMOS DISCUTIR
O Conceito de Desigualdade 1 INTERPRETANDO AS
DESIGUALDADES
pós Revolução Francesa
Thomas Hobbes
Aplicabilidade do Direito nas John Locke
Relações Sociais Jean-Jacques Rousseau

2 DESIGUALDADE: A POBREZA COMO


Indicadores das
FRACASSO
Consequências da
desigualdade social 3 A DESIGUALDADE COMO PRODUTO
DAS RELAÇÕES SOCIAIS
Se você não conhece a história,
então você não sabe de nada.
Michael Crichton
AS DESIGUALDADES NAS
RELAÇÕES SOCIAIS

As pessoas são diferentes entre si.

Diferenças se expressam:

No plano das coisas materiais,


da religião,
da personalidade, da inteligência,
do físico, da raça, do sexo, da cultura.
AS DESIGUALDADES NAS
RELAÇÕES SOCIAIS

Existem diferenças entre as pessoas que


constituem uma sociedade. Por que ?

Porque cada sociedade gera formas de


desigualdades específicas, que são os
resultados de como essas sociedades se
organizam.
As desigualdades assumem
feições distintas porque são
constituídas a partir de um
conjunto de elementos
econômicos, políticos e culturais
próprios de cada organização
social.

As desigualdades se manifestam
de um modo diferente no Brasil,
nos Estados Unidos, na Índia,
Europa...
INTERPRETANDO AS
DESIGUALDADES
Séc.XVI a XVIII – transição do feudalismo
para o capitalismo:

-profundas transformações vinculadas à


produção e ao trabalho;
-novas condições políticas, jurídicas e
culturais (renascimento).
Surgiram questionamentos sobre os
fundamentos das desigualdades.
QUEM FOI

Inglês nasceu em 5 de abril de


1588 – foi um matemático,
teórico político e filósofo, autor
de Leviatã (1651) e Do cidadão
(1651) Falecimento – 4 de
Thomas
dezembro de 1679) Hobbes
LEGADO

Leviatã é o livro mais famoso do


filósofo inglês Thomas Hobbes,
publicado em 1651. ... O livro, cujo título
por extenso é Leviatã ou matéria, forma
e poder de um Estado eclesiástico e
civil, trata da estrutura da sociedade
organizada. Hobbes alega serem os
humanos egoístas por natureza. Thomas
Explanou os seus pontos de vista sobre a Hobbes
natureza humana e sobre a necessidade
de um governo e de uma sociedade
forte.
Para Thomas Hobbes, antes da
constituição da sociedade civil, quando
dois homens desejavam o mesmo objeto,
eles

1. Entravam em conflito
2. Recorriam aos clérigos
3. Consultavam os anciãos
4. Apelavam aos governantes
5. Exerciam a solidariedade
Definia o estado de natureza: estágio no qual o homem se
encontrava entregue às suas próprias paixões (competição,
vaidade, desconfiança etc.), o que o levava a um
comportamento anti-social.

" O homem é o lobo do homem”


No estado de natureza, “a utilidade é a medida do direito”.

Isso significa que, levado por suas paixões, o homem precisa

conquistar o bem, ou seja, as comodidades da vida, aquilo

que resulta em prazer.

Hobbes afirma que “todos os homens são


naturalmente iguais”.
Essa igualdade baseia-se no desejo universal de
autopreservação, isto é, da procura do que é necessário e
cômodo à vida. Com isso fica estabelecido um direito
fundamental de autoconservação.
Como todos os homens seriam dotados de força igual (pois

o fisicamente mais fraco pode matar o fisicamente mais

forte, lançando mão deste ou daquele recurso), e como as

aptidões intelectuais também se igualam, o recurso à

violência generaliza-se e complica-se, cada qual elaborando

novos meios de destruição do próximo, com o que a vida se

torna “solitária, pobre, sórdida, embrutecida e curta”, na qual

cada um é lobo para o outro, em guerra de todos contra

todos.
Assim, o estado natural exige
uma saída com base no
próprio instinto de
conservação da vida.

Deixado a si, o instinto de


conservação é abertura para a
violência que o reitera e, ao
mesmo tempo, para a paz
tática que prometa
conservação.
É esse o campo da lei
natural.

A concepção que Hobbes


tem do estado de natureza
distancia-o da maior parte
dos filósofos políticos que
acreditam haver no homem
uma disposição natural para
viver em sociedade.
Para Aristóteles
O homem é um animal social e
já está naturalmente incluído
numa ordem ideal. Visões
distintas
Para Hobbes
os indivíduos entram em sociedade só
quando a preservação da vida está
ameaçada. Os homens não vivem em
cooperação natural, como o fazem as
abelhas.
Guiado pela razão, o instinto de
conservação ensina que “é preciso
procurar a paz quando se tem a esperança
de obtê-la”, pois a vida de cada um estaria
sempre ameaçada se cada qual tudo fizesse Assim, a paz imprescindível à
para exercer seu poder sobre todas as conservação da vida que a
coisas. razão solicita cria o pacto
social e, através deste, o
homem é introduzido em
Não sendo possível a paz, “é preciso uma ordem moral.
procurar em toda parte os recursos para a
guerra, sendo lícito empregá-los”.
Por fim o pacto social, sendo artificial e precário, não é suficiente
para assegurar a paz, pois sempre existiriam pessoas que,
acreditando saber mais do que as outras, poderiam desencadear
guerras civis, a fim de conquistar o poder só para elas.

Tal consequência somente poderia ser evitada se cada homem


submetesse sua própria vontade à vontade de um único homem ou
a uma assembléia determinada.

O escolhido para exercer o poder deveria ser totalmente seguido


pelos componentes do corpo social no que se refere aos problemas
da paz geral.
Um tal poder só seria capaz de corresponder à sua finalidade se
exercido despoticamente.

Esse poder não eliminaria a luta competitiva entre os


indivíduos, mas a colocaria sob controle da lei e da
ordem.
QUEM FOI
John Locke (29 de agosto de 1632
— 28 de outubro de 1704) foi um
filósofo inglês conhecido como o
"pai do liberalismo" sendo
considerado o principal
representante do empirismo
JOHN britânico e um dos principais
LOCKE teóricos do contrato social.
LEGADO
Defendeu a liberdade e a
tolerância religiosa.

Como filósofo, pregou a teoria


da tábua rasa, segundo a qual a
mente humana era como uma
JOHN folha em branco, que se
LOCKE preenchia apenas com a
experiência.
Opondo-se a Hobbes, Locke acreditava que se tratando
de Estado-natureza, os homens não vivem de forma
bárbara ou primitiva.

Para ele, há uma vida pacífica explicada pelo


reconhecimento dos homens por serem livres e
iguais.

Para Locke, no estado natural: “nascemos livres na


mesma medida em que nascemos racionais”.
Os homens, por conseguinte, seriam iguais,
independentes e governados pela razão.
No estado natural todos os homens teriam o destino
de preservar a paz e a humanidade e evitar ferir os
direitos dos outros.

Entre os direitos que Locke considera naturais, está o


de propriedade, que seria anterior à sociedade civil,
mas não inato.

Origem do direito de propriedade para LOCKE:


Está na relação concreta entre o homem e as coisas,
através do processo de trabalho.
Se, graças ao trabalho o homem transforma as coisas, ele
adquire o direito de propriedade:”todo homem possui
uma propriedade em sua própria pessoa”.

Locke sustenta a tese de que o trabalho é a origem e o


fundamento da propriedade.

As coisas sem trabalho teriam pouco valor, e seria


mediante o trabalho que elas deixariam o estado em que
se encontram na natureza, tornando-se propriedades.
O homem teria abandonado o estado natural e criado a
sociedade política, através de um contrato não entre
governantes e governados, mas entre homens
igualmente livres.

O objetivo do pacto seria a preservação da vida, da


liberdade e da propriedade, bem como reprimir as
violações desses direitos naturais.

Assim, em oposição às idéias de Hobbes, Locke acredita


que, através do pacto social, os homens não renunciam
aos seus próprios direitos naturais.
As desigualdades eram justificadas como inerentes às
próprias condições de existência social e política dos
indivíduos.

Ante a emergência da sociedade capitalista, exigia-se que


o indivíduo se apresentasse como proprietário, se não de
instrumentos de trabalho, meios de produção etc., pelo
menos de suas capacidades físicas e mentais (sua força de
trabalho) para negociar com o patrão em condições de
igualdade.
Surgem leis para regulamentar a relação contraditória e
desigualitária que florescia com o desenvolvimento do
capitalismo.

As desigualdades tornavam-se cada vez mais presentes no


cotidiano da sociedade;

Nas cidades européias, a idéia de igualdade estava ganhando nova


dimensão, que teria sua máxima nos postulados do liberalismo do
século XVIII de que todos os homens são iguais perante a lei.

Europa – século XVIII– a discussão girava em torno da relação


entre propriedade, liberdade e desigualdade.
JEAN JACQUES ROUSSEAU
QUEM É? INFLUÊNCIAS

(28 de junho de 1712 — 2 de julho de


Sua filosofia política de fato
1778), foi um importante filósofo,
teórico político, escritor e compositor influenciou o Iluminismo por toda
autodidata genebrino. a Europa, assim como também
aspectos da Revolução Francesa e o
É considerado um dos principais
desenvolvimento moderno da
filósofos do iluminismo e um
precursor do romantismo. economia, da política e do
pensamento educacional.
PENSAMENTO

Para ele, as instituições educativas tradicionais corrompem o


homem e tiram-lhe a liberdade.
Para a criação de um novo homem e de uma nova sociedade, seria
preciso educar a criança de acordo com a Natureza, desenvolvendo
progressivamente seus sentidos e a razão com vistas à liberdade e à
capacidade de julgar.
Politicamente, expõe suas ideias no Do contrato social,
publicado em 1762. Procura um Estado social legítimo,
próximo da vontade geral e distante da corrupção.

A soberania do poder, para ele, deve estar nas mãos do povo,


através de um corpo político dos cidadãos. Segundo suas
ideias, a população tem que tomar cuidado ao transformar
seus direitos naturais em direitos civis, afinal.

"o homem nasce bom e a sociedade o corrompe".


A desigualdade, por outro lado, condena os homens a não-liberdade. A
lei era a base de sua teoria, que considerava a obrigatoriedade de os
homens serem iguais perante ela.

Rousseau afirma que a desigualdade social era um fenômeno gerado


pela própria sociedade e não uma condição natural, apesar de existirem
as desigualdades de natureza física e psíquica.

Para Rousseau, os homens eram livres e iguais e o contrato social era


uma forma de selar o pacto de submissão de todos os indivíduos e dos
governantes de uma sociedade à vontade geral.

Começava a se desenvolver, assim, a idéia de bem comum.


Rousseau preocupava-se com as formas de
perpetuação da própria desigualdade – por isso
suas análises e discussões sobre o papel
desempenhado pelas instituições no processo de
manutenção e reprodução das condições
desiguais.
PENSAMENTO DE ROUSSEAU
A questão básica no A partir do século XVIII- o
pensamento de Rousseau desenvolvimento da
referia-se à igualdade industrialização – propiciou
moral e legítima, a qual o crescimento econômico
estabelecia a possibilidade capitalista; as relações entre
de uma sociedade que o capital e o trabalho se
tivesse como base a consolidaram; O liberalismo
igualdade jurídica de todos também se consolidou.
os seus membros.
O LIBERALISMO
tinha como base a defesa da
propriedade privada, a
liberdade de comércio, a
igualdade perante a lei.

CONCEPÇÃO DE
SOCIEDADE E DE HOMEM
que vigorava na sociedade Contraste
medieval estava sendo
absolutamente transformada.
Social
O CAPITALISTA

o homem de negócios – era


exaltado como uma virtude
burguesa, pois ele realizaria a
riqueza para o bem de toda a
sociedade.

Era necessário dar-lhe todas as


credenciais, pois o enriquecimento Contraste
particular beneficiaria todos os
indivíduos. Social
DESIGUALDADE:
A POBREZA COMO FRACASSO
O homem de negócios – que surge com o
estado burgues é expressão do sucesso –
deveria ser aclamado e servir de modelo
para a sociedade como um todo.

Riqueza – mostrada como fruto do


trabalho e a todos acessível por
intermédio do trabalho.
DESIGUALDADE:
A POBREZA COMO FRACASSO

Pobreza – indicador fundamental das


desigualdades – é produto do fracasso
pessoal, e a sociedade não é responsável
por sua existência.

POBRES – teriam que colaborar para a


preservação dos bens dos ricos, uma vez
que estes lhes davam trabalho.
POBRES – NÃO DEVERIAM SE REVOLTAR CONTRA SUA
SITUAÇÃO PARA NÃO CRIAR DIFICULDADES PARA OS
PATRÕES, QUE NÃO ERAM CULPADOS DE SEREM RICOS.

POBRES – DEVERIAM PRESERVAR OS BENS DE SEUS


PATRÕES, TAIS COMO MÁQUINAS E FERRAMENTAS.

POBRES – VIVIAM SOB A IDÉIA DE QUE DEUS OS VIGIAVA


CONSTANTEMENTE NO SEU TRABALHO, PORTANTO,
PERDER TEMPO NA EXECUÇÃO DE SUAS TAREFAS ERA
ROUBAR O PATRÃO QUE LHES ESTAVA PAGANDO POR
UMA JORNADA DE TRABALHO.
POBRES – DEVERIAM TER PACIÊNCIA, RELIGIOSIDADE E
SERIEDADE COMO FORMA DE ACEITAÇÃO DAS NOVAS
REGRAS MORAIS QUE ESTAVAM SE ESTABELECENDO.

POBREZA- ATÉ O SÉC.XVII ERA JUSTIFICADA EM


NOME DA AUSÊNCIA DE GRAÇA DIVINA, AGORA,
COMBINAVAM-SE O FRACASSO E A AUSÊNCIA DE
GRAÇA.
PAPEL DA REFORMA
PROTESTANTE

Teve papel importante na justificativa do


conjunto de valores que embasaram a
nova concepção de riqueza e de pobreza
que se desenvolveu no século XVIII.

A Igreja Protestante incumbiu-se de


inculcar nos indivíduos a idéia de que
todos deveriam trabalhar
incessantemente, pois essa era uma das
formas de se alcançar a salvação eterna.
POBREZA – era apresentada também
como necessária, já que sem ela não
haveria riqueza;

Era justificada como uma situação


contra a qual nada poderia ser feito,
senão aceitá-la. A aceitação era básica
para que houvesse obediência e
disciplina..
Afirmava que não adiantava pagar altos salários aos pobres, pois
isso os levaria à bebedeira e a outros gastos supérfluos que, além de
não eliminarem a pobreza, incentivariam a desordem e a
desobediência.

BURGUESIA – tinha a preocupação de não permitir que o pobre


deixasse de existir, uma vez que ele era uma das condições para a
existência dos ricos.
Os salários deveriam ser pagos de tal forma que o pobre não
deixasse de ser pobre.

Afirmava que, para o pobre trabalhar constantemente, ele deveria


ter os seus ganhos limitados, ou seja, nunca poderia ter um
salário acima de suas necessidades básicas, pois se isso ocorresse
ele não mais se sujeitaria ao trabalho.
A DESIGUALDADE COMO PRODUTO
DAS RELAÇÕES SOCIAIS

KARL MARX desenvolveu ampla crítica POR KARL MARX

sobre a noção de liberdade e igualdade do


pensamento liberal, destacando que essa
Liberdade consistia, na verdade, na
liberdade de compra e venda e
representava uma tentativa de justificar as
relações capitalistas e seus processos de
apropriação e dominação.
A DESIGUALDADE COMO PRODUTO DAS
RELAÇÕES SOCIAIS

Igualdade jurídica também foi criticada porque se baseava na


necessidade intrínseca do capitalismo de apresentar todas as
relações como fundadas em normas jurídicas.
Marx criticava o liberalismo que expressava os interesses
de uma determinada classe social e não os da sociedade
como um todo.

A multiplicidade dessas relações acarreta diferentes


formas de organização social, que definem como o
social se constitui, evidenciando que os indivíduos são
seres sociais naturais.
Marx considera a desigualdade social como produto
de um conjunto de relações pautado na
propriedade como um fato jurídico, mas também
político.

Resumindo: a questão da dominação que garante a


manutenção e a reprodução dessas condições
desiguais, embasa suas reflexões.
Desigualdades sociais frutos
/produtos das relações sociais São fabricadas pelas relações
econômicas, sociais,
contraditórias manifestam-se na
políticas e culturais, pois
forma de apropriação e dominação,
expressam concepções de
ou, em outras palavras, num sistema
mundo diferentes, de
de organização social no qual uma
acordo com a classe social.
classe produz e outra se apropria do
produto desse trabalho.
Vida social – produz e reproduz a todo instante e nos níveis
econômicos, políticos e culturais, uma multiplicidade de
relações contraditórias que, por sua vez, são responsáveis pela
manutenção das desigualdades sociais.
REFERÊNCIAS
REZENDE, Maria José de. As desigualdades sociais. In: TOMAZI,
Nelson Dacio (Coord.).Iniciação à sociologia. São Paulo: Atual,
1993.Unidade III, p.83-122.

Grato pela
atenção !!!

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