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O Estado de Natureza em Hobbes, Locke e

Rousseau.
O conceito de Estado de Natureza é uma abstração teórica que se refere a um "momento" em que os seres humanos
organizavam-se apenas sob as leis da natureza.

É um momento anterior ao surgimento de qualquer tipo de organização social e do Estado Civil.

Vale ressaltar que essa ideia de anterioridade, não se refere a um momento histórico, mas uma metáfora a um
período pré-social dos seres humanos.

Uma característica marcante é a ideia de que os indivíduos viveriam isoladamente ou organizados em pequenos
grupos familiares dedicados à sua estrita sobrevivência.

Estes indivíduos pré-sociais seriam plenamente livres, seguindo sua liberdade natural, e igual, não estando
submetidos a construções sociais ou culturais.

Diferentes autores propõem diferentes visões sobre como seria o estado de natureza. As três principais concepções
remetem à filosofia moderna com Hobbes, Locke e Rousseau.

Hobbes e a guerra de todos contra todos


Para Thomas Hobbes (1588-1679), os seres humanos possuem uma tendência natural à violência. Daí, sua célebre
frase:

“O homem é o lobo do homem.”

Por conta de seu intelecto, os seres humanos dominam a natureza, mas encontram em outros seres humanos os
seus grandes rivais, seus verdadeiros predadores naturais.

Os desejos dos indivíduos em estado de natureza gerariam disputas que poderiam levar à morte de uma das partes
do conflito.

Pela necessidade de segurança e, principalmente, por receio de uma morte violenta, os indivíduos preferem abrir
mão de seu direito à liberdade e igualdade dada pela natureza.

Sendo assim, celebram um pacto ou contrato social no qual passam a estar submetidos a um governo que possa,
através das leis, garantir-lhes uma vida segura.

Os seres humanos abandonam o Estado de Natureza e dão origem ao Estado Civil por meio do contrato social.

Locke e o direito natural


John Locke (1632-1704) foi um filósofo inglês, considerado o "pai do liberalismo". Isso se deve fundamentalmente
por sua concepção da propriedade como um direito natural dos seres humanos.
Diferente do pensamento hobbesiano, Locke afirma que os seres humanos em estado de natureza não vivem em
guerra, tendem a uma vida pacífica por sua condição de liberdade e igualdade.

Para ele, os indivíduos ao nascer receberiam da natureza, o direito à vida, à liberdade e aos bens que tornam
possíveis os dois primeiros. Isto é, o direito à propriedade privada.

Entretanto, o indivíduo em estado de natureza, por seus desejos e por sua liberdade, acabaria entrando em litígio
(disputa) com outros indivíduos. Como cada uma das partes defenderia seu próprio interesse, tornou-se necessária a
criação de um poder mediador ao quais todos se submetessem.

Sendo assim, o indivíduo abandona o estado de natureza, celebrando o contrato social. Com isso, o Estado deve
desempenhar o papel de árbitro nos conflitos, evitando injustiças e, consequentemente, a vingança daquele que se
sentiu injustiçado. Tendo em vista sempre, a garantia do direito natural à propriedade.

"Ser livre é ter a liberdade de ditar suas ações e dispor de seus bens, e de todas as suas propriedades, de acordo
com as leis regentes. Dessa forma, não ser sujeito à vontade arbitrário de outros, podendo seguir livremente a sua
própria vontade."

Locke afirma que a função do estado é interferir o mínimo possível na vida dos indivíduos, atuando apenas na
mediação de conflitos e na defesa do direito à propriedade.

Onde não há lei, não há liberdade.

Rousseau e o bom selvagem


Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), filósofo suíço, possui uma concepção do ser humano em estado de natureza
bem contrastante dos seus predecessores.

Rousseau afirma que o ser humano é naturalmente bom. Em estado de natureza, viveria uma vida isolada dos
demais, plenamente livre e feliz. O indivíduo seria o "bom selvagem" inocente e incapaz de praticar o mal, como os
outros animais.

Entretanto, esse estado termina quando por algum motivo particular, um indivíduo cerca um pedaço de terra e o
classifica como seu. O surgimento da propriedade privada é o motor gerador de desigualdades e violência.

O homem nasce bom e a sociedade o corrompe.

Surge o estado de sociedade onde os possuidores (aqueles que detêm a posse de algo) lutam contra aqueles que
não possuem bens.

Pela extinção dessa insegurança, o contrato social faz com que os indivíduos abandonem o estado de natureza e
assumam a liberdade civil. Vivam sob o controle de um Estado que deve realizar estritamente a vontade geral.

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