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Componente Curricular: Filosofia

A Filosofia Contratualista
O contratualismo é uma teoria política e
filosófica baseada na ideia de que existe
uma espécie de pacto ou contrato social que
retira o ser humano de seu estado de
natureza e coloca-o em convivência com
outros seres humanos em sociedade. Foram
filósofos contratualistas os ingleses Thomas
Hobbes e John Locke, e o suíço Jean-
Jacques Rousseau.
Contratualismo e jusnaturalismo
A ideia de um contrato social parte do
princípio de que a sociedade é estabelecida
em comum acordo para que um certo fim
seja alcançado. O contrato social é o
momento em que o ser humano deixa de
viver como um ser natural e passa a viver
como um ser que se destaca da natureza,
criando suas próprias leis, sua moral, os
costumes e um conjunto de instituições para
que a convivência seja mais harmônica.
Segundo os filósofos contratualistas, há
um período da humanidade, que é o período
pré-social, em que o ser humano encontra-
se em seu estado de natureza. O estado de
natureza é o período em que a sociedade
ainda não se formou, quando não há uma lei
civil e, portanto, uma civilização para
amparar o convívio social. Esse estado é
regido por uma lei de natureza que coloca
os seres humanos em plena igualdade de
direitos. Chamamos esse conjunto de
direitos naturais e a teoria do estado de
natureza de jusnaturalismo.
O grande problema do estado de
natureza é que a igualdade de direitos gera
conflitos, e, para que a convivência seja
mais pacífica entre as pessoas, é necessário
instituir um conjunto de leis civis que
solucione todos os possíveis conflitos que
podem surgir nela. O estado formado após
o estado natural é chamado de sociedade
civil ou estado civil.
Quem criou o contratualismo?
A convivência dos seres humanos em
um estado civil acompanha a humanidade
desde o desenvolvimento das mais antigas
civilizações. Não é possível determinar
quando, exatamente, o ser humano deixou
de viver em seu estado de natureza e
assumiu para si um pacto civil.
Os filósofos contratualistas tratam o
estado de natureza, inclusive, como um
momento hipotético e didaticamente
desenvolvido para explicar o surgimento da
sociedade. A teoria contratualista, por sua
vez, foi pela primeira vez descrita na
Inglaterra, no século XVII, pelo filósofo e
teórico político Thomas Hobbes.
Pensadores contratualistas
Temos como os principais
contratualistas modernos os filósofos
Thomas Hobbes, John Locke e Jean-
Jacques Rousseau. Cada pensador apresenta
sua ideia de contrato social, apontando
diferentes concepções de estado de natureza
e diferentes motivos para que a humanidade
aderisse ao pacto social.
Thomas Hobbes
O filósofo e teórico político inglês era
um monarquista convicto. Em defesa à
monarquia em um período de crise política
na Inglaterra, ele publicou o seu mais
conhecido livro: Leviatã, ou Matéria, forma
e poder em um Estado eclesiástico e civil.
A palavra leviatã designa uma criatura
marinha do imaginário antigo (descrita
inclusive em passagens do Antigo
Testamento) que seria um monstro
gigantesco protetor dos peixes e animais
marinhos menores. Isso tem a ver com o
modo como Hobbes concebia a sociedade e
o Estado: um monstro violento e gigantesco
que existia para proteger os cidadãos.
A concepção de Estado, para Hobbes, é
pautada na ideia de que deve haver uma
forte concentração de poder estatal a fim de
tornar o convívio suportável. Isso seria
necessário porque o ser humano em seus
estado de natureza era, segundo Hobbes,
violento e cruel, sendo o ser humano natural
uma espécie de lobo do próprio homem.
Os impulsos de violência do ser humano
em seu estado natural levavam-no à
convivência difícil regida pelo medo, pela
desconfiança e pelo caos. O Estado seria a
criação necessária para controlar esse modo
de vida caótico por meio da força e da
concentração da violência.
Uma curiosidade sobre o livro Leviatã é
que ele foi escrito e publicado em inglês, ao
contrário das obras de intelectuais da época,
que eram publicadas em latim. A intenção
de Hobbes, ao publicar o seu escrito em
defesa do Estado monárquico em uma
língua de maior acesso à população da
Inglaterra, era conseguir um maior alcance,
para que mais pessoas pudessem ler e,
consequentemente, aceitar a monarquia que
se encontrava em crise no século XVII.
Para saber mais sobre esse filósofo
contratualista de origem inglesa, acesse:
Thomas Hobbes.
John Locke
O filósofo e teórico político inglês John
Locke, ao contrário de Hobbes, era contra a
monarquia. Locke foi um defensor do
parlamentarismo, forma de governo adotada
na Inglaterra no fim do século XVII, e
também é considerado o “pai” do
liberalismo político e um dos “ancestrais”
do liberalismo econômico.
O estado de natureza, segundo Locke,
era um período de plena igualdade entre
todas as pessoas. Todos eram regidos pela
lei natural, que garantia a posse sobre
qualquer bem natural, inclusive sobre o
mesmo bem, sem restrições. Essa lei natural
de igualdade irrestrita gerava, segundo o
pensador, problemas quando as pessoas
queriam a mesma posse. A saída defendida
por ele foi a instituição de um estado civil,
com leis e normas sociais que
regulamentariam a posse e impediriam os
conflitos.
A sociedade civil e o pacto social
seriam, portanto, necessários para
regulamentar a posse de bens, e o Estado
era uma instituição que deveria obedecer a
certos limites, principalmente quando se
trata da propriedade. Para Locke, o Estado
não deveria ter extrema força, como pensou
Hobbes, e deveria agir em conformidade
com os limites do direito à propriedade.
Para aprofundar-se nas ideias desse
filósofo, acesse: John Locke.
Jean-Jacques Rousseau
O pensador suíço é uma espécie de
contratualista crítico do contratualismo.
Para Rousseau, era no estado de natureza
que o ser humano encontrava-se
plenamente livre de qualquer amarra
institucional que o privaria de sua liberdade
natural. O ser humano era amoral em seu
estado de natureza. Desconhecendo a
moral, ele desconheceria também a
maldade. A maldade somente passou a ser
praticada intencionalmente quando o ser
humano descobriu de vez o que era certo e
o que era errado, ou o que era o bem e o
mal.
Para Rousseau, o Estado civil havia sido
criado de maneira ilegítima, de modo que a
sociedade civil baseada na propriedade
privada era um meio de corrupção do ser
humano. O pensador suíço defendia uma
reformulação da sociedade, a fim de que a
vontade geral fosse atendida em um
governo que realmente quisesse estabelecer
o bem social e não simplesmente atender
aos privilégios de uma classe dominante. A
fim de conhecer mais sobre suas ideias,
acesse: Rousseau e o contrato social.
O filósofo alemão Georg Wilhelm
Friedrich Hegel era extremamente contrário
à teoria contratualista. Para ele, o que o
contratualismo entendia como vontade geral
era um mero elemento contratual, acordado
entre os cidadãos. Como Hegel baseia-se
em uma concepção idealista, o que ele
entendia por vontade geral era um conceito
puro que deveria ser mantido como
existente em uma instância racional, acima
de qualquer elemento de acordo ou
contrato. Nesse sentido, a vontade geral
percebida pelos contratualistas não era a
vontade geral em si, mas apenas um
elemento que teria surgido baseado em um
acordo.

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