Você está na página 1de 68

Ciência Política e Teoria do Estado

Prof. Dr. Marcelo Garcia Santana


A ORIGEM DO ESTADO

NOÇÕES GERAIS

Já estamos em condições de apresentar alguns ramos teóricos que


consideramos os mais influentes dentre aqueles que buscam explicar o
surgimento do Estado:

a) as teorias naturalistas e

b) as teorias contratualistas.
A ORIGEM DO ESTADO

TEORIAS NATURALISTAS

Pelas teorias naturalistas, o ser humano seria naturalmente gregário, e sua


associação com os outros seres humanos, de maneira organizada ou não, é
que estaria na origem da ideia contemporânea de Estado. Nessa via, o ser
humano é um animal político (zoon politikon) inclinado a fazer parte de uma
polis, a cidade, entendida esta como sociedade política. Assim, para os
naturalistas, a cidade precede a família e até mesmo o indivíduo, tendo em
vista que responde a um impulso social natural do ser humano. A cidade
(polis) é o fim (telos) e a causa final da associação humana, segundo
afirmou Aristóteles em uma de suas obras políticas mais relevantes (Ética a
Nicômaco).
A ORIGEM DO ESTADO

TEORIAS NATURALISTAS

A Ética a Nicômaco – é a principal obra de Aristóteles sobre ética. Nela, o


autor expõe sua concepção teleológica e eudaimonista de racionalidade
prática, sua concepção da virtude como mediania e suas considerações
acerca do papel do hábito e da prudência.
A ORIGEM DO ESTADO

TEORIAS NATURALISTAS

O precursor e, certamente, o mais importante nome dentre os que defendem


a teoria naturalista é Aristóteles. Afirma o grande filósofo grego que “o
homem é por natureza um animal social”, ou seja, é a sua natureza que o
leva à política. Assim, em Aristóteles, o que nós estamos denominando por
Estado é uma instituição natural, necessária e que decorre da natureza
humana. É, também nesta via, uma consequência de movimentos naturais
de coordenação e harmonia, sendo que suas finalidades seriam: segurança
da vida social, regulamentação da convivência entre os homens e promoção
do bem-estar coletivo.
A ORIGEM DO ESTADO

TEORIAS CONTRATUALISTAS

O contratualismo em sua forma mais conhecida e estudada é aquele


produzido na Modernidade, entre os séculos XVII e XVIII, principalmente a
partir das teorizações elaboradas por Thomas Hobbes, John Locke e Jean-
Jacques Rousseau. É com as teorias produzidas por estes autores que o
contratualismo ganhou enorme relevância, levando-nos a apresentar,
mesmo que de forma sintética, os principais contornos teóricos de cada
uma de suas teorias.
A ORIGEM DO ESTADO
O CONTRATUALISMO DE THOMAS HOBBES
(1588-1679)

Para entendermos a teoria contratualista


hobbesiana é imprescindível que comecemos
pela sua visão antropológica, ou seja, pela
forma como ele compreende o ser humano.
Segundo Hobbes, o homem é movido por
inclinações inatas, sendo que: a) se por um
lado, o orgulho e a vaidade o levam a que
deseje ardentemente a glória; b) por outro lado,
é ele assediado de forma igualmente
apaixonada pelo desejo de se conservar vivo, o
que o leva a temer de forma profunda a morte.
São duas paixões que convivem
simultaneamente.
A ORIGEM DO ESTADO

O CONTRATUALISMO DE THOMAS HOBBES


(1588-1679)

Analisemos melhor: se a primeira inclinação o


leva a um desejo perpétuo e incessante de
adquirir cada vez mais poder e a entrar em
conflito com os seus semelhantes (nesse
sentido, o homem, em Hobbes, seria um ser
antissocial e egoísta) e, consequentemente,
colocando-o em situação de permanente perigo,
a outra inclinação atenuaria o apetite
desenfreado pela paixão à glória.
A ORIGEM DO ESTADO

O CONTRATUALISMO DE THOMAS HOBBES (1588-1679)

O entendimento desta “antropologia” hobbesiana facilita enormemente a


compreensão do que significa para ele o chamado “estado de natureza”.
Porém, antes de continuarmos, talvez seja o caso de explicarmos o que é este
“estado de natureza” de uma forma genérica. Trata-se de uma situação
hipotética, imaginada por certos filósofos, na qual se encontrariam os homens
antes de se organizarem em sociedade. Observem que é uma visão que
confronta completamente aquela que nós estudamos um pouco acima, nas
teorias naturalistas, nas quais o homem seria, naturalmente, um ser social.
A ORIGEM DO ESTADO

O CONTRATUALISMO DE THOMAS HOBBES (1588-1679)

Indo adiante, no estado de natureza em Hobbes, ausentando-se normas e leis,


o direito natural seria o direito de todos os homens sobre todas as coisas e
também sobre todos. Na falta de um poder superior que limitasse o poder de
cada um, é aquele orgulho e aspiração de glória a que nos referimos acima,
que vai transformar “o homem em lobo do próprio homem”. Observe que
neste caso não teríamos nem mesmo uma organização social, razão pela qual
se diz que o homem hobbesiano é “associal”. Isso acarreta um estado de
guerra perpétuo, que Hobbes define como a “guerra de todos contra todos”,
em que a violência parece ser incontornável. Mas, como veremos, Hobbes
apresenta uma solução para este problema.
A ORIGEM DO ESTADO

O CONTRATUALISMO DE THOMAS HOBBES (1588-1679)

Enquanto a paixão pela glória e a vaidade levam à guerra, a paixão pela


conservação da vida faz com que o homem procure a paz com seus
semelhantes. Embora naturalmente egoísta e mau, o homem é também
racional. Não um tipo qualquer de racionalidade, mas sim um tipo de
racionalidade calculadora, consequencialista, na qual se mede a relação
custo/benefício para se atingir um determinado fim. Assim, o homem
substituiu o “direito de natureza”, que é o direito do mais forte, pelo “direito
natural ou lei natural”, de maneira a romper, de forma definitiva, com o estado
de natureza. A lei natural, na busca pela preservação do corpo e da vida, tem
como regra primeira e fundamental procurar e manter a paz. Em síntese: a
percepção que o uso ilimitado de sua liberdade original poderia conduzi-lo à
autodestruição fez com que o homem procurasse a paz.
A ORIGEM DO ESTADO

O CONTRATUALISMO DE THOMAS HOBBES (1588-1679)

Nestas circunstâncias, em Hobbes, a lei natural é a grande fonte inspiradora


para que os homens busquem um contrato fundador não apenas da sociedade
civil, mas também do Estado. Por meio deste contrato os homens acordam
renunciar reciprocamente aos seus direitos naturais sobre todas as coisas,
entregando seu poder a um soberano. Em Hobbes, embora aponte ele sua
preferência por um monarca/soberano, acena com a possibilidade de que o
poder soberano fosse exercido por uma assembleia (vamos tratar de
soberania depois).
A ORIGEM DO ESTADO

O CONTRATUALISMO DE THOMAS HOBBES (1588-1679)

Como se pode observar, o Estado seria, então, a encarnação de um indivíduo


(ou assembleia) que exerceria o poder político. Nesta linha, o poder político é
criação humana, constituindo uma pessoa artificial (o Leviatã). Isso nos leva a
uma característica já apontada: em Hobbes, não há sociabilidade instintiva na
origem das sociedades, pois esta sociabilidade é artificialmente criada para
tornar possível a manutenção da vida. A ordem política é uma construção
artificial, fruto da racionalidade calculadora do homem.
A ORIGEM DO ESTADO

O CONTRATUALISMO DE THOMAS HOBBES (1588-1679)

Assim, o Estado, em Hobbes, tem tripla finalidade:


a) representar os cidadãos, pois, personificando aqueles que a ele
(Estado) livremente delegaram todos os seus direitos e poderes, encontra
legitimada a submissão de todos à sua autoridade soberana;
b) assegurar a ordem, ou seja, garantir a segurança de todos, monopolizando
o uso da força estatal (este ponto será retomado por Max Weber, no Século
XX, que reafirmará este poder monopolístico do Estado de usar legitimamente,
em seu território, a força física e a coerção, a fim de garantir a ordem legal);
c) ser a única fonte da lei, porque a soberania, sendo absoluta, dita o que é
justo e o que é injusto.
A ORIGEM DO ESTADO
PERGUNTAS:

a) Para Hobbes o estado de natureza é de paz? Justifique sua resposta.

b) Para Hobbes o pacto seria de submissão ou de cooperação entre os


indivíduos e o governante? Justifique sua resposta.

c) Qual a finalidade do Estado em Hobbes? Justifique sua resposta


A ORIGEM DO ESTADO

O CONTRATUALISMO DE JOHN LOCKE (1632-1704)

Também em Locke, a teoria contratualista pressupõe a existência de um


estado natural, contudo sua existência, diferentemente do que dissemos em
Hobbes, parece ser uma realidade e não uma ficção. A família e a
propriedade caracterizam a existência efetiva do estado natural.

A violência não é a regra. Pelo contrário, a paz é a regra e a guerra a


exceção que quebra a harmonia da relação homem-natureza e cujos
responsáveis são as paixões e o dinheiro.

Por isso, podemos afirmar que em Locke o estado de natureza não é um


estado de luta, mas um estado de cooperação fundado sob o signo da
racionalidade humana.
A ORIGEM DO ESTADO
O CONTRATUALISMO DE JOHN LOCKE (1632-1704)

Em estado de natureza os homens possuem direitos inatos à vida, à


propriedade e à liberdade, bem como a faculdade de castigar qualquer
ofensa.

Essa concepção que destaque deu à liberdade e à propriedade


fundamentará as bases do chamado Estado liberal e encontra em Locke um
dos principais teóricos
A ORIGEM DO ESTADO
Sistematizando as ideias do estado de natureza lockeano:

1. Também trabalha com o conceito de “estado de natureza”

2. O estado de natureza é uma realidade, não uma ficção

3. A paz é a regra e a guerra, provocada pelo dinheiro, a exceção

4. O estado de natureza é um estado de cooperação, fruto da racionalidade


humana

5. Os homens possuem direitos inatos à vida, à propriedade e à liberdade,


bem como a faculdade de castigar qualquer ofensa

6. Fundamenta o Estado Liberal


A ORIGEM DO ESTADO
O CONTRATUALISMO DE JOHN LOCKE (1632-1704)

Portanto, o estado de natureza não é um estado de violência, pois a própria


sociedade possuiria o direito de, com suas próprias mãos, defender a vida, a
liberdade e os bens daqueles que vivem de acordo com essas leis (naturais).
A pergunta que surge e se faz relevante neste momento, então, é a seguinte:
por que seria necessário passar do estado de natureza para um estado civil,
se o primeiro (diferentemente da construção pensada em Hobbes) já teria
por pressuposto os direitos à liberdade, à vida e à propriedade?
A ORIGEM DO ESTADO
O CONTRATUALISMO DE JOHN LOCKE (1632-1704)

Para respondermos, devemos considerar alguns aspectos:

a) A fraqueza humana levaria a comportamentos contra natura e a lei não-


escrita (lei natural)

b) A lei natural está sujeita à contestação

c) os homens decidiram cindir a sua comunidade em sociedades civis


particulares, a fim de salvaguardar os seus direitos naturais (à felicidade,
à liberdade, à igualdade, à propriedade)

Estado de Natureza = insegurança (o que se quer é garantia dos direitos


naturais, com um sistema de sanção aperfeiçoado).
A ORIGEM DO ESTADO

O CONTRATUALISMO DE JOHN LOCKE (1632-1704)

Portanto, com o contrato, cria-se o ESTADO CIVIL e concomitantemente, o


DIREITO POSITIVO.

Esse estado civil tem por objetivo assegurar a coexistência humana e


garantir os direitos naturais. Mas como?
A ORIGEM DO ESTADO

O CONTRATUALISMO DE JOHN LOCKE (1632-1704)

As condições da coexistência harmoniosa dos indivíduos iguais e livres


acabam por ser, em Locke:

a) uma lei positiva, clara para todos (parlamento);

b) um juiz reconhecido como tal por todos, imparcial e competente;

c) um poder para fazer respeitar a lei.


A ORIGEM DO ESTADO

O CONTRATUALISMO DE JEAN-JACQUES ROUSSEAU


(1712-1778)

A constatação da existência de traços de profunda corrupção


no homem de seu tempo levou o suíço Rousseau a demonstrar
que tais traços não estavam ligados à natureza humana, mas a
uma socialização nefasta por que passou o homem. Para
encontrar a verdadeira natureza humana é preciso, por meio de um processo
fictício, imaginar um estado de natureza, no qual se dá início a um complexo
quadro explicativo da formação dos grupos sociais.
A ORIGEM DO ESTADO
Sistematizando as ideias do estado de natureza rousseauniano:

a) O estado de natureza é uma hipótese

b) não existiriam agregações sociais, nem mesmo família

c) Constitui, portanto, uma moral natural, uma inocência original, que levou a
que o homem no estado de natureza conhecesse um estado de felicidade do
qual poderia nunca ter saído. De toda forma, o importante é que entendamos
que, para Rousseau, o estado de natureza é o reino da liberdade, da
espontaneidade, da moralidade (natural) e também da felicidade do homem

d) Qual é a origem das desigualdades sociais e morais dos homens?


A ORIGEM DO ESTADO

Um quarto ponto interessante de se anotar é o fato de que ao homem natural é


atribuída a perfectibilidade, ou seja, a faculdade de se aperfeiçoar. Mesmo que
entendamos que o homem em sua origem encontrava-se próximo da
animalidade, ele distinguia-se dos demais animais, movidos pelo instinto, em
razão da sua liberdade para aceitar ou para resistir. Assim, mesmo que esta
perfectibilidade não implicasse necessariamente em progresso moral, ela
aponta para o potencial humano de mudar, o que não garante que isto o leve a
um estágio necessariamente melhor.
A ORIGEM DO ESTADO

A CORRUPÇÃO DO ESTADO NATURAL


Segundo Rousseau, não foi possível manter-se neste estado de felicidade e a
formação de grupos sociais acaba por corromper o homem. Nesta via, as
questões que são, posteriormente, enfrentadas por Rousseau são as seguintes:
como teria se desencadeado o processo histórico de degenerescência? Como
puderam homens bons dar origem a uma sociedade má?
A ORIGEM DO ESTADO

A CORRUPÇÃO DO ESTADO NATURAL


Foram os obstáculos exteriores (as alterações climáticas, por exemplo) que
arrancaram o homem primitivo de sua independência e ociosidade felizes. Em
um contexto de dificuldades, o homem confronta-se com a necessidade do
trabalho, condição para sua sobrevivência. Tem então de usar a força, produzir
armas, além de ter de conservar a memória das suas descobertas. Ao tomar
consciência da sua dimensão temporal, entra na história. É este estágio que
Rousseau entende que estariam sendo formadas as sociedades.
A ORIGEM DO ESTADO

ESTADO DE AGREGAÇÃO
AQUI TEMOS 3 ETAPAS: EIS O CONTRATO!
ESTADO DE ASSOCIAÇÃO
ESTADO SOCIAL
ESTADO DE NATUREZA (CIVIL) ESTADO POLÍTICO

Essencialmente bom Corrompido pela Soberania popular


vida em sociedade

Rousseau olha para o homem na Perfectibilidade - raciocínio – Súdito e soberano – democracia


sua essência, sem agregações comparam-se entre si – direta – desloca vontade
sociais. percebem desigualdades morais individual para a vontade geral
e políticas – propriedade (maioria + interesse do corpo
(apropriação arbitrária daquilo coletivo) – lei – recuperação da
que pertence a todos) – liberdade
insegurança (homens tornam-se
maus) – perda da liberdade
TEORIA MARXIANA DO ESTADO
Em Marx (1818 – 1883), o Estado somente poderia
ser explicado historicamente à luz do
desenvolvimento do corpo social, em um ambiente
de antagonismo entre as classes que coabitam o
espaço social. Para ele o Estado não seria o reino da
razão e/ou do bem-comum, como muitos afirmam,
mas da força e do interesse de uma parte específica
da sociedade. Assim, o surgimento do Estado é um
imperativo para que os interesses de uma dada
classe se façam valer no mundo dos fatos.
TEORIA MARXIANA DO ESTADO

A finalidade do Estado, neste caso, não seria a de proporcionar o bem-viver


de todos os membros do grupo, mas somente para uma minoria que detém o
poder. Na concepção sociológica de viés marxista, o discurso político de
realização do bem-comum é, na realidade, um mecanismo ideológico que
busca escamotear os verdadeiros interesses da classe dominante, de forma a
conceder a aparência de legitimidade ao poder por ela exercido.
TEORIA MARXIANA DO ESTADO

Assim, o Estado é produto das relações de produção e como expressão


política da estrutura de classe inerente a produção (ou seja, o Estado se
constitui como instrumento de dominação). Além disso, O Estado representa
o braço repressivo da burguesia, permitindo que o grupo social dominante
use o poder de Estado contra outros grupos.
EXERCÍCIOS MÓDULO 1

1. O intelectual florentino Nicolau Maquiavel costuma ser reconhecido pela


máxima “os fins justificam os meios”, que se tornou sinônimo de
legitimação da perversidade política. No entanto, a obra de Maquiavel é
muito mais complexa. Assinale, entre as alternativas a seguir, aquela que
melhor define a obra de Maquiavel.
EXERCÍCIOS MÓDULO 1
A) Maquiavel estava interessado em discutir como seria possível defender a monarquia e a
tirania do príncipe, sendo assim o principal teórico do autoritarismo político na modernidade.
B) Maquiavel estava interessado em discutir a abolição da propriedade privada e a revolução
social, sendo, por isso, o precursor do comunismo na modernidade e a fonte onde beberia Karl
Marx.
C) Maquiavel estava interessado em discutir formas de garantir a estabilidade interna e externa
da República, e, dessa maneira, atenuar os efeitos da corrupção, sendo o republicanismo de
Aristóteles sua principal referência.
D) Maquiavel estava interessado em afirmar a liberdade do mercado, sendo, portanto, o
precursor do liberalismo econômico, e a fonte onde a escola austríaca beberia.
E) Maquiavel estava interessado em defender a total abolição do Estado, sendo um dos
primeiros pensadores a formular o ideal anarquista.
EXERCÍCIOS MÓDULO 1

2. Thomas Hobbes e Jean Jacques Rousseau são os principais expoentes da


corrente de pensamento político que costumamos chamar de “contratualista”.
Assinale, entre as alternativas a seguir, aquela que melhor define a premissa do
contratualismo.
EXERCÍCIOS MÓDULO 1

A) A premissa do contratualismo afirma a organização política como o resultado de um acordo coletivo


segundo o qual, racionalmente, os homens decidem que viver em coletividade é melhor do que viver em
situação de desagregação.
B) A premissa do contratualismo afirma que o homem é naturalmente gregário e, por isso, a questão principal é
desenvolver mecanismos de aprimoramento da sociedade política, visto que a sua existência se confunde
com a própria natureza humana.
C) A premissa do contratualismo afirma que o Estado Moderno é o resultado da vitória política da burguesia,
que acumulou poder suficiente para organizar uma estrutura de dominação, cujo objetivo é a exploração do
trabalho.
D) A premissa do contratualismo afirma que os homens estão naturalmente vocacionados à liberdade, sendo o
Estado o artifício criado pela tirania divina com o objetivo de impedir a plena realização da natureza
humana.
E) A premissa do contratualismo afirma que os seres humanos são naturalmente gregários, logo o Estado é
um “desde sempre” que não precisa ser necessariamente explicado, mas apenas aprimorado.
FUNDAMENTAÇÃO HISTÓRICA DO ESTADO NAÇÃO

O Estado Nacional, entendido como estrutura de poder centralizada e capaz de exercer


soberania burocrática, política e militar sobre um território delimitado por fronteiras, é
resultado da história europeia ocidental entre os séculos XIV e XVII.
Nesse período, entende-se por “Europa Ocidental” a aproximação de França e
Inglaterra com a Península Ibérica, formada por Portugal e Espanha. Crises
democráticas agudas, guerras civis religiosas, início da laicização das mentalidades e
dos costumes, modernização das relações econômicas, urbanização. São essas as
experiências que aconteceram em uma Europa Ocidental plural e extremamente
diversificada, e que serviram de pano de fundo para o surgimento dos Estados
Nacionais.
FUNDAMENTAÇÃO HISTÓRICA DO ESTADO NAÇÃO

SÉCULOS XI -
XIV

O crescimento produtivo Um dos resultados desse


aumentou a quantidade de cenário foi o aumento do A consequência dessa
alimentos disponíveis para o custo de vida da aristocracia situação foi o
comércio, fazendo com que feudal, pois, com a endividamento em massa
seus preços diminuíssem e a Revolução Comercial ficou da nobreza europeia. Os
qualidade de vida mais caro manter os signos nobres europeus, em geral,
aumentasse, resultando no de distinção tão estavam morrendo
crescimento demográfico e, importantes para alimentar endividados.
consequentemente, no o ethos aristocrático em
crescimento das cidades e sociedades pré-modernas.
na intensificação da
atividade comercial.
FUNDAMENTAÇÃO HISTÓRICA DO ESTADO NAÇÃO
CRISE DO FEUDALISMO
Ou seja, se a nobreza não pode cortar gastos porque precisa manter seu estilo de vida
ostentatório, e os servos não aceitam impostos que consideram abusivos, o que fazer?
Essa situação é o ponto de partida para a famosa “crise do feudalismo”. A crise do
feudalismo, portanto, foi o resultado da disfunção do próprio sistema, pois suas causas
foram endógenas, isto é, internas. A epidemia de Peste Negra, que assolou a Europa
durante o século XIV, não foi a causa da crise, mas sim o seu agravante.
Pressionada e endividada, parte da nobreza começou a quebrar os acordos
consuetudinários (legitimados pelos costumes), o que provocou uma revolta geral junto ao
campesinato, dando início ao que alguns autores chamam de “anarquia feudal”. Em alguns
lugares da Europa Ocidental, os conflitos foram mais intensos do que em outros, mas a
realidade de colapso estrutural foi comum a todo o continente.
FUNDAMENTAÇÃO HISTÓRICA DO ESTADO NAÇÃO
CRISE DO FEUDALISMO – transição para a modernidade
Diante da real possibilidade da destruição física e do desaparecimento do estamento
social, a aristocracia europeia aceitou fazer algo que, em condições normais, jamais
aceitaria: abnegar de sua autonomia, inclusive militar, para permitir que uma família
aristocrática centralizasse o poder, dominando todas as outras e, dessa maneira, reunisse
condições políticas, econômicas e militares para o restabelecimento das hierarquias
feudais, ameaçadas pelas guerras camponesas.
Agora, uma casa aristocrática específica detinha o poder sobre as outras e sobre o
território. Surgiu, assim, o Estado Nacional, impulsionado pela tentativa de salvar as
hierarquias tradicionais da destruição, preservando o máximo possível a ordem social
feudal. Para isso, entretanto, foi necessário mudar, e a nobreza perdeu suas antigas
liberdades, passando a estar subordinada ao rei.
FUNDAMENTAÇÃO HISTÓRICA DO ESTADO NAÇÃO

ESTADOS MODERNOS - PORTUGAL


Portugal foi o primeiro caso de modernidade política na Europa, no pleno sentido do termo, com
sistema fiscal, exército e burocracia em dimensão centralizada, supralocal. Tal como aconteceu
no restante da Europa, o Estado surgiu em Portugal como um dos resultados de experiências
de intensa movimentação militar e guerra civil provocadas pelo cenário geral da crise feudal.
Todos os empreendimentos da sociedade portuguesa, inclusive a expansão marítima e
comercial a partir do final do século XIV, seriam coordenados pela autoridade central do Estado.
Comparado com o restante da Europa, Portugal tinha vantagem em termos de eficiência e
rapidez, o que explica a dianteira que tomou na geopolítica continental na época. Foi o primeiro
caso de modernidade política na Europa porque já contava com situação de relativa
centralização militar e administrativa desde a Idade Média, quando a aristocracia cristã formou
uma coalizão pra reconquistar o território ibérico, então ocupado pelos muçulmanos.
FUNDAMENTAÇÃO HISTÓRICA DO ESTADO NAÇÃO

ESTADOS MODERNOS - ESPANHA


O caso do Estado Nacional espanhol remete à principal experiência imperialista dos
primeiros anos da modernidade, visto o poder que a Espanha exerceu sobre grande parte
do continente americano e sobre o extenso território na própria Europa. Mais do que
qualquer outro país europeu, a Espanha beneficiou-se da política de alianças
matrimoniais/diplomáticas característica das sociedades monárquicas.
No século XIV, pressionados pela crise estrutural que assolava as sociedades europeias e
pela ocupação muçulmana, alguns reinos ibéricos decidiram unir-se com o objetivo de
centralizar esforços para a superação da crise e a reconquista cristã do território.
Américas foram descobertas e subjugadas.
FUNDAMENTAÇÃO HISTÓRICA DO ESTADO NAÇÃO

ESTADOS MODERNOS - FRANÇA


Na França, o Estado Nacional formou-se na transição do século XIV para o século XV, a partir da
sobreposição de duas situações de crise: a crise estrutural do feudalismo e a famosa Guerra
dos Cem Anos (1339-1453) contra a Inglaterra. Em desvantagem na guerra e pressionada pela
crise das hierarquias feudais, a nobreza francesa permitiu que o rei Carlos VII concentrasse em
si a talha, que era o imposto de sangue que o campesinato pagava à aristocracia em forma de
serviços militares esporádicos. Nasceu assim a “talha real”, que direcionou à dinastia a
prerrogativa de apropriar-se do serviço militar dos camponeses. Temos aqui o evento que
fundou o exército moderno, ao centralizar no rei o direito exclusivo de convocar e coordenar a
força militar. A nobreza foi, então, desarmada, sedentarizada, em um ato voluntário, consentido,
por uma questão de sobrevivência. Como se diz popularmente: “entregou os anéis para não
perder os dedos”.
FUNDAMENTAÇÃO HISTÓRICA DO ESTADO NAÇÃO
ESTADOS MODERNOS - INGLATERRA
Após perder a guerra para os franceses, a Inglaterra, que tinha tradição de descentralização político-
administrativa, foi dividida por uma guerra civil travada entre duas de suas principais casas
aristocráticas.
Foi a chamada Guerra das Duas Rosas (1450-1485), envolvendo os York e os Lancaster. A guerra foi
tão longa e sangrenta que praticamente extinguiu as duas casas, abrindo um vazio de poder que foi
ocupado por outra dinastia, a dos Tudor. Henrique VII (1457-1509) foi o primeiro rei da dinastia Tudor,
diante da fragilidade das outras casas aristocráticas, sempre rivais potenciais da dinastia. O projeto
de centralização político-administrativa liderado por Henrique VII teve três movimentos: 1 - Desarmar
a nobreza, fragilizando-a ainda mais e concentrando, na autoridade central, o poder de convocar e
formar exércitos; 2 - esvaziamento político da nobreza; 3 - Como consequência direta, foi o
rompimento com a tradição que orientava o monarca a delegar cargos para a aristocracia, nomeando
em seu lugar novas famílias emergentes e enriquecidas em virtude do comércio de lã.
FUNDAMENTAÇÃO HISTÓRICA DO ESTADO NAÇÃO

EM SÍNTESE...

A monarquia feudal menos centralizada da Europa Ocidental fortaleceu sua autoridade central em
virtude do profundo esgotamento da aristocracia, e não por causa dos esforços do grupo em
sobreviver à crise estrutural do feudalismo, como aconteceu no continente.
O processo de construção do Estado Nacional, no entanto, não envolve apenas centralização
política, administrativa e militar, mas também representações simbólicas que sejam capazes de
construir vínculos identitários entre as pessoas. Trata-se de convencer todos os que nasceram
no território controlado por determinado Estado de que fazem parte de uma comunidade, de que
existem vínculos afetivos que os irmanam.
Para isso, foi fundamental o “nacionalismo”, um ambiente político-cultural que teve seu lugar na
Europa e nas Américas durante o século XIX.
FUNDAMENTAÇÃO HISTÓRICA DO ESTADO NAÇÃO
O ESTADO NAÇÃO
A nação é um tipo de comunidade imaginada socialmente, construída de modo a fazer as pessoas
pensarem sobre si próprias como parte de um grupo. A invenção da nação é de interesse direto do
Estado, pois não há poder que consiga se sustentar apenas pela repressão, sem contar com nenhum
consentimento.
A afetividade e a identidade fomentadas pela simbologia identitária, nesse sentido, são fundamentais
para a própria efetividade do poder público. Por isso, e essa foi uma das principais caraterísticas da
história política do século XIX, o Estado investe tanto na “invenção de tradições”.
Por “tradição inventada” entende-se um conjunto de práticas, normalmente reguladas por
regras tácita ou abertamente aceitas; tais práticas, de natureza ritual ou simbólica, visam
inculcar certos valores e normas de comportamento através da repetição, o que implica,
automaticamente, uma continuidade em relação ao passado. Aliás, sempre que possível, tenta-
se estabelecer continuidade com um passado histórico apropriado.
EXERCÍCIOS MÓDULO 2

1. A anarquia feudal, característica da crise do feudalismo, foi o ponto de partida


para a formação dos Estados Nacionais na Europa Ocidental. Assinale entre as
opções a seguir aquela que justifica corretamente essa afirmação.
EXERCÍCIOS MÓDULO 2

A) As guerras camponesas (a anarquia feudal) levaram ao estabelecimento de uma aliança entre o campesinato e a
aristocracia, que juntos derrotaram a burguesia e mantiveram a estrutura político-administrativa descentralizada.
Nasceu, assim, o Estado Nacional Moderno.
B) As guerras camponesas (a anarquia feudal) levaram ao estabelecimento de uma aliança entre as famílias
aristocráticas, que favoreceram o fortalecimento de uma delas para centralizar os esforços de repressão ao
campesinato. Nasceu, assim, o Estado Nacional Moderno centralizado.
C) As guerras camponesas (a anarquia feudal) levaram ao estabelecimento de uma aliança entre as frações da
burguesia comercial, que favoreceram o fortalecimento de uma delas para centralizar os esforços de repressão ao
campesinato. Nasceu, assim, o Estado Nacional Moderno centralizado.
D) As guerras camponesas (a anarquia feudal) levaram ao estabelecimento de uma aliança entre a Igreja Católica e as
frações da burguesia comercial, que favoreceram o fortalecimento de uma delas para centralizar os esforços de
repressão ao campesinato. Nasceu, assim, o Estado Nacional Moderno centralizado.
E) As guerras camponesas (a anarquia feudal) levaram ao estabelecimento de uma aliança entre a Igreja Católica e as
famílias aristocráticas, que favoreceram o fortalecimento de uma delas para centralizar os esforços de repressão
ao campesinato. Nasceu, assim, o Estado Nacional Moderno centralizado.
EXERCÍCIOS MÓDULO 2

2. Portugal foi o primeiro caso de modernidade política na Europa. Assinale


entre as opções a seguir aquela que melhor explica por quê.
EXERCÍCIOS MÓDULO 2

A) Portugal foi o primeiro caso de modernidade política na Europa porque já vinha desenvolvendo relações
comerciais no campo desde o século XI, o que potencializou a formação de um Estado burguês.
B) Portugal foi o primeiro caso de modernidade política na Europa porque precisou formar um exército
nacional e centralizado pra lutar contra a França no conflito que ficou conhecido como Guerra dos Cem
Anos.
C) Portugal foi o primeiro caso de modernidade política na Europa porque já contava com situação de relativa
centralização militar e administrativa desde a Idade Média, quando a aristocracia cristã formou uma coalizão
pra reconquistar o território ibérico, então ocupado pelos muçulmanos.
D) Portugal foi o primeiro caso de modernidade política na Europa porque a expansão marítima comercial
forneceu recursos para a burguesia portuguesa, que se articulou politicamente e fundou o primeiro Estado
capitalista do mundo.
E) Portugal foi o primeiro caso de modernidade política na Europa porque a guerra com a Espanha fortaleceu a
nobreza, que derrotou a burguesia incipiente, fundando assim o primeiro Estado aristocrático do mundo.
REVOLTAS SOCIAIS E ESTADOS NACIONAIS

O período compreendido entre os séculos XVII e XIX foi, ao mesmo tempo, o


momento de consolidação e crise dos Estados Nacionais. Foi nessa época que
o modelo de Estado centralizado, originado na Europa Ocidental no século XIV,
se espalhou pelo mundo, mas foi também quando a sociedade civil questionou
e confrontou a autoridade centralizada. Foi assim que se construiu uma
memória positiva desse conjunto de rebeliões sociais e políticas que
aprendemos a chamar de “Revoluções Burguesas”.
REVOLTAS SOCIAIS E ESTADOS NACIONAIS

REVOLUÇÃO INGLESA
Ainda no século XVII, a Inglaterra foi desestabilizada por um conjunto de
revoltas sociais que acabaram por instituir aquele que se tornaria um dos
valores mais sagrados das democracias liberais modernas: o
Constitucionalismo, que, como vimos no módulo 1, está fundado na premissa
de que o poder do Estado deve ser limitado pela lei.
Foi o evento de inauguração da fase moderna da luta de classes, ao decretar a
primeira grande vitória da burguesia sobre a aristocracia.
REVOLTAS SOCIAIS E ESTADOS NACIONAIS

REVOLUÇÃO INGLESA
Momento de fundação da ordem capitalista, que passaria a estruturar a vida
social e política no mundo ocidental, a Revolução Inglesa (1640-1688) foi um
processo plural, cheio de idas e vindas e atravessado por diversas guerras
civis. Desde o século XVI, a burguesia inglesa (famílias ricas, mas sem signos
aristocráticos de distinção) era um grupo influente devido ao processo de
cercamento dos campos, que pioneiramente passou a subordinar o espaço
rural às demandas comerciais e industriais urbanas.
REVOLTAS SOCIAIS E ESTADOS NACIONAIS

REVOLUÇÃO INGLESA
O campo inglês especializou-se em criar ovelhas para servirem como fonte de
matéria-prima para a incipiente indústria têxtil. Esse foi o “cercamento dos
campos”, enclosures, aquilo que Karl Marx (1818-1883) chamou de
“acumulação primitiva do capital”.
Entretanto, essa burguesia ascendente estava sub-representada na estrutura da
monarquia aristocrata inglesa. Podemos dizer que essa situação de sub-
representação foi um dos principais focos de tensão que implodiram o sistema
político inglês. No processo, o rei Carlos I foi morto, em janeiro de 1649, no
primeiro regicídio, ou seja, assassinato do rei, moderno da história.
REVOLTAS SOCIAIS E ESTADOS NACIONAIS

REVOLUÇÃO INGLESA
No caso da morte de Carlos I, o regicídio não foi conspiratório, mas sim
realizado em execução pública, em nome da “autoridade do povo”. O povo,
então, empoderou-se a ponto de condenar o rei à morte, o mesmo monarca que
até então era visto como o portador de um direito divino.
Depois da execução de Carlos I, a Inglaterra viu, ainda, a formação de uma
ditadura comandada por um líder militar chamado Oliver Cromwell (1599-1658).
A monarquia foi restaurada com a dinastia dos Stuart, e uma nova guerra civil, a
Revolução Gloriosa, em 1688, instituiu a primeira monarquia constitucional da
história.
REVOLTAS SOCIAIS E ESTADOS NACIONAIS

REVOLUÇÃO INGLESA
Agora, a verdadeira soberania não pertencia ao rei, mas sim à lei, entendida
como a manifestação da vontade do “povo”. É a máxima que diz que “o rei
reina, mas não governa”. Em todo esse período, o trono esteve em conflito com
o parlamento, disputando a quem caberia o controle político da monarquia. O
parlamento venceu. O parlamentarismo sobrepôs-se ao absolutismo.
REVOLTAS SOCIAIS E ESTADOS NACIONAIS

REVOLUÇÃO ESTADUNIDENSE
Na segunda metade do século XVIII, o mundo inglês protagonizaria outro evento
que seria reconhecido como um dos momentos de fundação da cultura
democrática moderna. Foi a independência das treze colônias inglesas, ou a
Revolução Americana, que trouxe ao mundo a novidade de um país
independente na América. A formação dos Estados Unidos nunca contou com
uma organização única, tendo cada uma das colônias estruturas singulares.
Sua unidade nunca feriu esse princípio, não à toa foi ali que se consolidou o
modelo de federalismo.
REVOLTAS SOCIAIS E ESTADOS NACIONAIS

REVOLUÇÃO ESTADUNIDENSE
Diferentemente das revoluções inglesas do século XVII, a Revolução Americana
não questionou a monarquia ou a autoridade do rei, mas sim o parlamento,
acusado de violar direitos coloniais adquiridos. Até o fim do processo, as elites
coloniais insurgentes pediram a proteção do rei contra a espoliação feita pelo
parlamento britânico. Por isso, como afirma John Pocock, a independência dos
EUA deve ser inserida no contexto mais amplo das transformações das
instituições britânicas que vinham se processando desde o século XVII.
REVOLTAS SOCIAIS E ESTADOS NACIONAIS

REVOLUÇÃO ESTADUNIDENSE
A Inglaterra era o parceiro governante e as raízes do parlamento estavam na
sociedade inglesa comercial e de proprietários de terra. Era isso o que tornaria
a conciliação com as colônias, em última instância, impossível. Diante da
recusa do parlamento inglês em atender às reivindicações das colônias, os
representantes coloniais reuniram-se novamente em 1776, quando Thomas
Jefferson (1743-1826) redigiu a Declaração de Independência dos EUA.
Começou, então, um ciclo de conflitos que se arrastaria até 1783, mostrando ao
mundo o caso inédito de colônias que confrontaram a autoridade de sua
metrópole e venceram.
REVOLTAS SOCIAIS E ESTADOS NACIONAIS

REVOLUÇÃO ESTADUNIDENSE
A Inglaterra era o parceiro governante e as raízes do parlamento estavam na sociedade
inglesa comercial e de proprietários de terra. Era isso o que tornaria a conciliação com as
colônias, em última instância, impossível. O que alimentou a insatisfação das colônias foi a
convicção de que seus direitos tradicionais estavam sendo atacados, de que suas
liberdades adquiridas corriam risco. O algoz não era a monarquia centralizada. Era o
parlamento. Diante da recusa do parlamento inglês em atender às reivindicações das
colônias, os representantes coloniais reuniram-se novamente em 1776, quando Thomas
Jefferson (1743-1826) redigiu a Declaração de Independência dos EUA. Começou, então,
um ciclo de conflitos que se arrastaria até 1783, mostrando ao mundo o caso inédito de
colônias que confrontaram a autoridade de sua metrópole e venceram.
REVOLTAS SOCIAIS E ESTADOS NACIONAIS

REVOLUÇÃO FRANCESA
A partir de 1792 até 1795, começaria o momento de maior radicalidade dos conflitos sociais
anteriores na França, quando a própria estrutura da sociedade francesa foi posta em
questão pelo projeto jacobino, comandado pela aliança entre operariados urbanos e a
pequena burguesia liderada por Maximilien François Marie Isidore de Robespierre (1758-
1794). Esses grupos situavam-se mais à esquerda do espectro político francês e
demandavam mais do que apenas o fim da monarquia absolutista e o fim da feudalidade.
Desejavam questionar a estrutura fundiária, a divisão de terras, a miséria dos trabalhadores
urbanos.
REVOLTAS SOCIAIS E ESTADOS NACIONAIS

REVOLUÇÃO FRANCESA
Politicamente, os jacobinos eram republicanos e não estavam dispostos a negociar com a
estrutura monárquica. O resultado foi o acirramento dos conflitos sociais e a militarização
efetiva da crise francesa, dando início àquilo que já na época ficou conhecido como
“terror”, quando o tribunal revolucionário executou milhares de pessoas, incluindo o rei
Luís XVI e o próprio Robespierre. Os efeitos da guerra revolucionária atravessaram o
oceano Atlântico, chegando à ilha de Santo Domingo, colônia francesa na América. Santo
Domingo era uma sociedade escravocrata, em que a minoria branca comandava uma
economia agroexportadora, movida pelo trabalho escravo da maioria negra. A elite colonial
manifestou o desejo de ser representada na Assembleia dos Estados Gerais e gozar da
ampliação dos direitos políticos. Porém, com a radicalização jacobina, a escravidão foi
abolida em todo o império colonial francês.
REVOLTAS SOCIAIS E ESTADOS NACIONAIS

REVOLUÇÃO FRANCESA
Nesse momento, as forças revolucionárias eram lideradas pelo comandante e governador
de Santo Domingo Toussaint Bréda (1743-1803), e o objetivo era defender a Revolução, o
que significava defender a abolição da escravidão, tanto dos ataques restauradores
internos como dos externos. Em 1º de janeiro de 1804 foi proclamada a independência da
República do Haiti, que se tornou o segundo país independente das Américas, logo depois
dos EUA. Na França, a monarquia foi restaurada, a propriedade privada respeitada e as
demandas jacobinas por direitos sociais sufocadas. Napoleão Bonaparte (1769-1821)
tornou-se a principal liderança política do Império francês.
REVOLTAS SOCIAIS E ESTADOS NACIONAIS

REVOLUÇÃO FRANCESA
Os questionamentos ao Estado Moderno continuariam no século XIX, novamente nas duas
margens do Atlântico: dezenas de processos emancipacionistas decretaram o fim da
dominação colonial europeia nas Américas, novas revoluções sociais desestabilizaram a
França, em 1830, 1848 e 1871, apresentando amplo leque de projetos políticos, indo do
liberalismo burguês ao comunismo.
Se, entre os séculos XIV e XVI, a Europa construiu o Estado Moderno, com sua estrutura
política, administrativa e militar centralizada e com seu espírito aristocrático, os séculos
XVIII e XIX questionaram tanto a centralização como a dimensão feudal dos Estados
Nacionais, dando origem a uma série de disputas ideológicas que marcariam a história
humana no século XX.
EXERCÍCIOS MÓDULO 3

1. A Revolução Americana guarda algumas particularidades quando comparada


com as revoluções inglesas do século XVII. Assinale entre as alternativas a
seguir aquela que melhor apresenta essas particularidades.
EXERCÍCIOS MÓDULO 3
A) Diferentemente das revoluções inglesas do século XVII, que questionaram o poder político da burguesia, a
Revolução Americana questionou o poder político da Igreja, considerada responsável pelo endurecimento
das relações coloniais a partir da década de 1760.
B) Diferentemente das revoluções inglesas do século XVII, que questionaram o poder político da Igreja, a
Revolução Americana questionou o poder político da burguesia, considerada responsável pelo
endurecimento das relações coloniais a partir da década de 1760.
C) Diferentemente das revoluções inglesas do século XVII, que questionaram a autoridade do rei, a Revolução
Americana questionou o poder do parlamento, considerado responsável pelo endurecimento das relações
coloniais a partir da década de 1760.
D) Diferentemente das revoluções inglesas do século XVII, que questionaram a autoridade do parlamento, a
Revolução Americana questionou o poder do rei, considerado responsável pelo endurecimento das relações
coloniais a partir da década de 1760.
E) Diferentemente das revoluções inglesas do século XVII, que questionaram a autoridade do rei, a Revolução
Americana questionou o poder da Igreja, considerada responsável pelo endurecimento das relações
coloniais a partir da década de 1760.
EXERCÍCIOS MÓDULO 3

2. A Revolução Francesa foi um processo histórico complexo, heterogêneo e


cheio de idas e vindas, que no final do século XVIII desestabilizou o mundo
francês. Assinale entre as alternativas a seguir aquela que melhor define a
Revolução Francesa.
EXERCÍCIOS MÓDULO 3

A) A Revolução Francesa não ficou restrita apenas ao território europeu, chegando também à América, e a
partir disso surgiu o segundo país independente das Américas: a República do Haiti, fundada em janeiro de
1804.
B) A Revolução Francesa ficou restrita ao território europeu francês, chegando às Américas apenas no plano
das ideias políticas, levando o continente a restaurar as relações coloniais, abolidas desde a independência
dos EUA, na década de 1770.
C) A Revolução Francesa não ficou restrita apenas ao território europeu, chegando também à América, e a
partir disso surgiu o segundo país independente das Américas, os EUA, fundado em janeiro de 1804.
D) A Revolução Francesa não ficou restrita apenas ao território europeu, chegando também à América, e a
partir disso surgiu o primeiro país independente das Américas, os EUA, fundado em janeiro de 1804.
E) A Revolução Francesa ficou restrita ao território europeu francês, chegando às Américas apenas no plano
das ideias políticas, levando o continente a adotar o comunismo, tal como havia sido pregado em Paris, na
década de 1780.

Você também pode gostar