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A Filosofia Política de Hobbes


            Podemos considerar como as obras políticas de Hobbes: Elements of Law (1640), De
Cive (1642) e Leviathan (1651) e A dialogue between a Philosopher and a Student of the
Common Law of England (1681). Sobre as obras políticas, Teles (2012, p. 30) pondera que:
“Embora boa parte do conteúdo presente no Leviathan tenha sido apresentado por Hobbes nas
obras Elements  e também em De Cive, foi o Leviathan que ganhou toda notoriedade e
relevância que as obras anteriores de Hobbes não alcançaram”. Embora sua obra mais conhecida
tenha sido O Leviatã, na obra De Cive (Do cidadão), de 1642, Hobbes fundamenta sua
concepção monarquista do poder político na medida em que a legitimidade do monarca está na
vontade do povo, fonte de sua soberania. No De Cive, Hobbes estabelece ainda as leis relativas
ao contrato social e as próprias leis da natureza. Fundamenta a tradição da lei civil tanto no
direito romano, a partir da lei das 12 tábuas, como na lei mosaica da Torá judaica.
            Sua teoria política aborda temas relacionados ao Estado (que ele usa a simbologia de
homem artificial para falar a respeito): direitos, poder e autoridade. Uma análise do Estado que
pretende ser estudada de forma científica e filosófica. Além de temas como a representação, a
soberania, o absolutismo. Uma teoria política que leva em consideração a visão antropológica, ou
seja, pensada a partir da visão que se tem do homem.
Logo, nas obras citadas, em especial as três primeiras, Hobbes faz uso de
várias páginas para detalhar todos os elementos que constituem o
homem. Efetivamente, como se fosse uma máquina, o homem é
detalhado em cada “peça”, cada elemento que o engendra, que dá vida e
movimento a esta complexa máquina voluntariosa e calculante. Hobbes
analisa e conceitua cada elemento que constitui a natureza humana, ao
mesmo tempo em que une e relaciona estes elementos para mostrar a
complexidade desta criatura que está para além das demais criaturas
vivas (TELES, 2012, p. 38).
            Compreender a visão que se tem do homem é fundamental para compreender a teoria
moral e política de Hobbes: “(...) para entender a moral e a política, é necessário entender o
homem” (GAUTHIER, 1969, p. 01 apud TELES, 2012, p. 38).
En el Leviatán, el motivo de la generación del mundo civil está enraizado
en la conformación natural del hombre mismo. Por esto, la
fundamentación contractual del Estado es precedida por una doctrina de
la naturaleza humana, en la cual Hobbes define al hombre natural como
un sistema mecánico de materia en movimento (RODAS, 2010, p. 20).
            As implicações políticas e sociais que Hobbes vê na sociedade devem levar em
consideração a natureza humana, com suas paixões (com ênfase no medo e na esperança, que são
inerentes ao homem natural) e sua racionalidade: “o Estado é fruto ou construto do homem e
para entender porque este homem chegou a este “produto” é necessário entender quem é esse
homem e que lugar a razão e as paixões ocupam neste ser” (TELES, 2012, p. 38). Há que
considerar, por exemplo, que a primeira parte de sua principal obra, Leviatã, trata exatamente do
Homem.
            Além disso, as teorias do homem e do Estado, formuladas por Hobbes (seja no Leviatã ou
em Do Cidadão) inserem-se num processo histórico bastante definido: o conflito entre o poder
real e o poder do Parlamento, na Inglaterra do século XVII. Em 1689, as forças liberais
(inspiradas nas ideias de John Locke) que predominavam no Parlamento inglês derrotaram o
absolutismo real. Na introdução de sua obra mais conhecida, Leviatã (1997) (saiba mais em: A
obra Leviatã) Hobbes estabelece alguns pontos principais que pretende trabalhar em sua obra:
Como e através de que convenções é feito o Corpo Político? Quais são os direitos e o justo poder
ou autoridade de um soberano? O que o preserva e/ou desagrega?
            Para o filósofo inglês, a resposta a estas perguntas pressupõem uma análise da própria
natureza humana, sendo que o mesmo acredita que o homem não é sociável por natureza. A
situação dos homens deixados a si próprios é de anarquia, insegurança, medo. Predominam
interesses egoístas e o homem se torna um lobo para o próprio homem (homo homini lupus). O
homem em seu estado de natureza (um estágio anterior a vida em sociedade como veremos mais
adiante) é agressivo. O estado natural em que o homem se encontra é o estado de “guerra de
todos contra todos” (Bellum omnia omnes ou Bellum omnium contra omnes). O homem, movido
por suas paixões e desejos não hesita em matar e destruir seu semelhante.
Ao descrever o homem em seu estado natural, o autor do Leviatã aponta
a igualdade entre todos como característica básica. Falamos então de uma
igualdade de direitos. Esses direitos não têm limites: todos
indistintamente têm direito a tudo que lhes aprouver. Não existindo um
poder comum que garanta a preservação das posses, a única garantia de
que algo vai continuar em poder daquele que o tomou para si é o uso da
força e do ataque como formas de defesa. Qualquer bem existente na
natureza pertence a todos que o queiram. É comum, por sua vez, que dois
ou mais indivíduos se interessem pela mesma coisa. É a partir desse
direito, quando dois homens desejam a mesma coisa, ao mesmo tempo
que é impossível ela ser gozada por ambos que surgem as atitudes que
irão levá-los à condição de guerra no estado de natureza. A guerra de
todos contra todos se refere a essa condição (GOMES, 2006, p. 13).
            Vamos entender melhor o que vem a ser um tal estado de natureza e como a vida em
sociedade surge a partir da necessidade de se constituir um acordo entre os homens levando em
consideração as condições de vida humana no estado natural. Mas aqui faremos apenas uma
breve exposição e deixaremos para aprofundar este tema em um texto específico (saiba mais
em: O Contratualismo de Thomas Hobbes).
 
A Teoria Contratualista de Hobbes
            Da sua teoria política merece destaque o seu contratualismo, ou seja, Hobbes é um
daqueles filósofos que afirmaram na modernidade que a origem do Estado e/ou da sociedade está
em um contrato social: “[...] os homens viveriam, naturalmente, sem poder e sem organização –
que somente surgiriam depois de um pacto firmado por eles, estabelecendo as regras de convívio
social e de subordinação política” (RIBEIRO, 2001, p. 53). Contratualismo “[...] é a doutrina que
abarca as teorias políticas que situam a origem da sociedade e a fundamentação do poder político
[...] em um pacto social, também chamado contrato, dando o termo contratualismo” (VILALON,
2011, p. 49). Tal pacto representa um acordo entre os indivíduos de uma mesma localidade
geográfica e que farão parte do mesmo corpo político.
            Este pacto determina a saída dos homens do que Hobbes chama de estado de natureza (o
modo de ser característico do homem antes de seu ingresso no estado social) para a vida em
sociedade.
            Os filósofos contratualistas admitem, antes da formação da sociedade, a existência
deste estado de natureza, embora com diferenças na forma como cada um explica as
características humanas neste estado. A principal característica do estado de natureza com a qual
todos os contratualistas concordam é que neste estado predomina a ausência de uma organização
social.
          Por que os homens deixam de viver no estado de natureza e passam a viver em sociedade?
Para Hobbes, o que caracteriza os homens no estado de natureza são suas paixões e necessidade
de preservação da existência (por uma espécie de instinto de sobrevivência). Como os homens se
tornam individualistas e egoístas (pelo instinto de sobrevivência) e, pela passionalidade, os
homens se tornam violentos e desejos de poder, há a necessidade de regular as relações humanas
que evitem os conflitos e guerras. “O Estado, de acordo com Hobbes é instituído quando uma
multidão de homens concorda e pactua [...] a fim de viverem em paz uns com os outros e serem
protegidos do restante dos homens (DIAS, 2008, p. 69)”.
            A luta pela autopreservação e o desejo de poder coloca os homens em um estado de busca
para garantir a sobrevivência o que implica na possibilidade de defesa e uso da violência. Devido
à ausência de uma lei, é preciso pressupor que existe sempre a possibilidade de um ataque, já que
não existe um poder do Estado controlando ou reprimindo. É natural que este estado gere uma
constante insegurança e medo, bem como o desejo de paz, não deixando dúvida sobre a
necessária urgência em sair deste estado de medo constante e morte iminente o que leva os
homens a estabelecerem um pacto e fundar um Estado social, abdicando de seus direitos em
favor de um soberano cuja autoridade terá um poder absoluto, encarregado de prescrever leis,
julgar, recompensar, punir, escolher seus conselheiros, de fazer a guerra e a paz.
            O medo é o grande vilão dessa história. O medo, sobretudo de morte violenta, faz com
que o mais seguro a se fazer seja atacar antes de ser atacado. Como não há no estado de natureza
um poder comum que mantenha o respeito entre todos, sempre existirá alguém querendo tirar do
outro algum objeto de desejo que esteja em suas mãos, inclusive a própria vida.
            A ameaça constante, mesmo que não concretizada, caracteriza a condição de guerra que,
segundo o filósofo inglês, é típica da condição natural da humanidade. Outra característica de
igual importância é a inexistência de um poder comum capaz de manter a paz. Não há nesse
estado um poder comum ou leis que proíbam as paixões, acabando com a discórdia.
            Para Hobbes os indivíduos ingressam na vida social porque a preservação da vida está
ameaçada e, nesse caso, os homens são levados a estabelecer contratos entre si, o pacto social.
“Por medo cria-se o pacto; por medo, deve-se obedecer ao soberano; por medo, principalmente
da morte violenta, saímos do estado de natureza, por medo, tornamo-nos súditos” (ALMEIDA,
2010, p. 30).
            Para Hobbes a vida só se torna viável dentro de uma sociedade civil originada com o
contrato. Por natureza os homens não poderiam viver em paz e diante do grau de insegurança em
que nos colocou a própria natureza é preciso se defender contra a violência dos demais.
En el Leviatán, el motivo de la generación del mundo civil está enraizado
en la conformación natural del hombre mismo. Por esto, la
fundamentación contractual del Estado es precedida por una doctrina de
la naturaleza humana, en la cual Hobbes define al hombre natural como
un sistema mecánico de materia en movimento (RODAS, 2010, p. 20).
            Não existe nenhuma garantia, no estado de natureza, que serão respeitadas as liberdades
individuais e, por conseguinte, a ordem e a paz. Basta a mera suspeita de que o outro não
respeitará a minha liberdade para que haja desconfiança e desconforto. Cada um se torna rival e
adversário cuja consequência última será a guerra com a imposição de um sobre outro (LYRA,
2006; VILALON, 2011). É preciso resolver essa situação através de um poder comum, situado
acima dos indivíduos, com direito e força suficiente para impor o cumprimento da ordem,
segurança e paz. “Dessa maneira, a sociedade civil só surge com o Estado: é a saída do homem
do Estado de Natureza. Para que o homem possa voltar a ter a segurança fundamental para
usufruir do seu próprio labor, sem temer a sua própria sobrevivência” (FARIAS, 2013, p. 151).
            Com a finalidade de cuidar da própria conservação e de ter uma vida mais satisfeita, o
Estado é então instituído. O pacto através do qual se dá a instituição do Estado consiste na
submissão de cada um a um representante, para o qual será transmitido o direito ao uso da força
para proteção dos representados. Daí aparece a ideia do soberano representante em Hobbes
(saiba mais em: O Contratualismo de Thomas Hobbes).
O objetivo a partir de agora será o de tentar demonstrar o significado do
papel do Estado no visão do autor, sua origem, seu desenvolvimento e os
seus objetivos maiores, a saber: a conquista e a manutenção da paz e da
liberdade e, a fim de que isto seja possível, em hipótese alguma o
soberano poderá ficar sujeito às leis civis, de forma que a sua supremacia
em relação à sociedade civil seja fundamental para que tais objetivos
sejam postos em prática (BUENO, 2009, p. 118).
 
O Contrato e o Direito Civil (Positivo)
            O estado de natureza é caracterizado pelo que podemos chamar de um direito natural, do
qual o mais proeminente é o direito de resistência: o direito que todo indivíduo tem de proteger
seu corpo e sua vida, de usar todos os meios possíveis para a autopreservação da vida.
O direito de natureza, a que os autores geralmente chamam jus naturale,
é a liberdade que cada homem possui de usar seu próprio poder, da
maneira que quiser, para a preservação de sua própria natureza, ou seja,
de sua vida; e consequentemente de fazer tudo aquilo que seu próprio
julgamento e razão lhe indiquem como meios adequados para esse fim
(HOBBES, 1974, p. 82 apud BUENO, 2012, p. 112).
            Além do direito natural, Hobbes considera a existência de leis naturais “que são regras
deduzidas pela reta razão e que são imutáveis e eternas” (VILLANOVA, 2004, p. 13). Destas
leis naturais “a mais importante delas ordena que o homem deve buscar constantemente a paz”
(BUENO, 2012, p. 113). Mas esta não é a única. O total de leis naturais variam, de acordo com a
obra de Hobbes que, inclusive, nem sempre coincidem: “De 16 leis naturais (Elementos), passa a
ser 20 no De Cive e 15 no Leviatã” (VILLANOVA, 2004, p. 13). No Leviatã, Hobbes acrescenta
ainda mais uma lei na “Revisão e Conclusão”, entretanto, “Ele mesmo dirá que podem ser outras
que ele mesmo não enunciou” (VILLANOVA, 2004, p. 36).
            Mas essas leis naturais são incapazes de fazer os homens viverem em paz, por isso existe
a necessidade de transferência do direito de todos no estado de natureza a um terceiro, o Estado,
do qual se originam as leis e o direito civil.
            Há uma intrínseca e complexa relação entre a lei natural e a lei civil que não será
abordada aqui. Uma relação que, como pondera Villanova (2004, p. 64), senão é difícil de ser
compreendida, é escopo de um entendimento conflitante. “A lei de natureza faz parte da lei civil,
em todos os Estados do mundo, e, reciprocamente, a lei civil faz parte dos ditames da natureza”
(VILLANOVA, 2004, p. 12). Eis porque Hobbes afirma (apud VILLANOVA, 2004, p. 12), no
cap. XXVI do Leviatã, que “a lei de natureza e a lei civil contem-se uma a outra e são de idêntica
extensão”. Também no Leviatã Hobbes (apud VILLANOVA, 2004, p. 10) considera que: “a lei
civil e a lei natural não são de diferentes espécies, mas diferentes partes da lei, uma das quais é
escrita e se chama civil, e a outra não é escrita e se chama natural”.
            Vamos nos concentrar aqui sobretudo na lei e no direito civil.
            É no momento mesmo em que é firmado o pacto social que surge o direito civil
(positivo). O contrato social, “[...] em que se transfere autoridade, força e poder a um ou a vários
homens que representarão a vontade da comunidade, coincide com o momento de criação do
direito propriamente dito” (MARUYAMA, 2009, p. 54). E é no cap. XVI da obra Leviatã que
Hobbes traz a sua fundamentação jurídica do pacto social, ou seja, o nexo entre direito e política.
Em sua condição natural não existem leis civis, comunidade política, poder comum e muito
menos direitos civis. O único direito existente no estado de natureza é o direito individual que
surge como elemento perturbador e ao qual é preciso renunciar, mas uma renúncia que não
implica abandono do direito, mas no reconhecimento do mesmo direito aos outros. Sob esta
perspectiva do direito, o pacto representa a transferência dos direitos naturais que o soberano
recebe dos indivíduos contratantes. Mas só os direitos individuais são naturais. O direito do
soberano é obra e artifício da razão, resultado do pacto e a ele cabe instaurar o direito civil.
            Este pacto ou contrato deve, inclusive, respeitar as leis naturais, como a busca pela paz.
Nenhuma lei civil pode ser contra a lei natural e, para ser válida, esta deve ser condicionada por
aquela. A lei natural não desaparece com a instituição da lei civil.
O direito de natureza, liberdade natural do homem, pode, então, ser
legitimamente limitado pelas leis da comunidade política. A finalidade da
lei é essa restrição, sem a qual, de certo modo, não haveria paz. No
Capítulo 26, sobre a lei civil, no Leviatã, Hobbes é enfático: a lei foi
trazida ao mundo para limitar a liberdade natural dos indivíduos
(MARUYAMA, 2009, p. 57).
            Podemos então definir a lei civil como as regras impostas pelo Estado, oralmente ou por
escrito, que estabelece como parâmetro o que é bem e mal (definição dada no cap. XXVI do
Leviatã, apud VILLANOVA, 2004, p. 50).
            A moral não seria suficiente para estabelecer a paz e a segurança no estado de natureza,
por isso se fazia necessário algo que tivesse mais do que um status moral e sim, um status
jurídico-político, ou seja, o estabelecimento do Estado com leis positivas: o direito. Assim,
“nasce finalmente o grande Leviathan, o homem artificial, o deus mortal, isto é, o soberano”
(TELES, 2012, p. 141).
            A lei civil proíbe, entre outras coisas, o roubo, o homicídio, o adultério, a injúria que, na
verdade, já eram proibidos pela lei de natureza. Mas somente a lei civil poderá determinar e
chamar o que sejam cada uma destas faltas.
            “Hobbes aqui não diz expressamente, mas sugere que não é só ao roubo, ao homicídio e
ao adultério que a lei civil irá determinar ao que se aplicam esses nomes” (VILLANOVA, 2004,
p. 37).
 
Absolutismo Não Teológico
            Mas por que Hobbes prefere a Monarquia se ele inclui a possibilidade de que uma
assembleia de homens, e não apenas um só, possa ter o direito de representá-los? Segundo
Danilo Marcondes (2002), as assembleias tendem a reviver o conflito por causa das disputas
entre facções e partidos e por isso uma monarquia seria preferível. Eis a razão pela qual Hobbes
defendeu a monarquia contra Cromwell, durante a guerra civil inglesa e, por isso, “[...] teve sua
obra censurada, indo exilar-se na França, período em que teve contato com Mersenne e
Descartes. Após a restauração da monarquia, retornou à Inglaterra e recuperou o seu prestígio”
(MARCONDES, 2002, p. 198).
            Hobbes dá preferência à monarquia absolutista baseado no princípio de que o poder, para
ser eficaz, deve ser exercido de forma absoluta, e não baseado nas teorias tradicionais do direito
divino dos reis (é o que podemos chamar de absolutismo não teológico). Este poder absoluto é o
resultado da transferência dos direitos dos indivíduos ao soberano através de um pacto social,
mas esse poder absoluto só pode ser considerado legítimo enquanto assegura a paz civil e não
para a realização da vontade pessoal do soberano.
Para o autor do Leviatã, o contrato é estabelecido unicamente entre os
membros do grupo que, entre si, concordam em renunciar a seu direito a tudo
para entregá-lo a um soberano encarregado de promover a paz. Um tal
soberano não precisaria dar satisfação de sua gestão, sendo responsável
apenas perante Deus ‘sob pena de morte eterna’. Não submetido a nenhuma
lei, o soberano absoluto é a própria fonte legisladora. A obediência a ele deve
ser total, a não ser que ele se torne impotente para assegurar paz durável e
prosperidade (João Paulo Martins. In: HOBBES, 1997, p. 15).
            Não basta a instituição de um Estado, é preciso um Estado forte, armado inclusive, para
forçar os homens ao respeito.
            Podemos pensar no contexto histórico vivido por Hobbes, com tantos conflitos e guerras.
A experiência destes acontecimentos e da guerra civil inglesa levou
Hobbes a formular uma teoria política cujo problema central é o de
construir um sistema de poder que evite em primeiro lugar o conflito
ideológico e religioso e assegure a paz. Para este fim, tal poder deve ser
absoluto, isto é, subtraído a qualquer controle por parte dos que lhe são
submetidos. O soberano pode, então, com a ameaça e o uso da força
impor uma paz duradoura e garantir uma vida segura (PINZANI, 2008, p.
52 apud TELES, 2012, p. 36).
            Hobbes era um absolutista (convicto defensor da monarquia) e opositor da democracia.
“Hobbes claramente preferia a monarquia, pois, em suas obras políticas por vezes apresenta
argumentos favoráveis a este tipo de governo. Para Hobbes, a monarquia configura-se a mais
coerente forma de governo conforme à natureza humana” (TELES, 2012, p. 168).
 

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