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Hobbes: o medo e a esperança

Thomas Hobbes faz parte da categoria de filósofos ditos contratualistas, ou seja, ele
acreditava que o homem possui um estado natural de comportamento em sociedade, e
adquiriu a ideia de contrato social para limitar a selvageria entre si. É muito importante ter
essa premissa em mente para obter conhecimento de sua tese filosófica.
Para Hobbes, o homem está sempre em alerta, pois não conhece o que se passa na
mente do seu próximo, pois temos conhecimento de nossas forças e fraquezas, nossos desejos
e planos, mas não sabemos os dos outros. Por isso, para não ficar em desvantagem, o homem
em sua natureza, está apto para atacar sempre que puder para proteger os seus ideais e
objetivos, e atacar sempre que quiser tomar o lugar de outro, obtendo assim o poder máximo.
Existem as três principais causas de discórdia entre o homem: competição,
desconfiança e desejo de glória. A competição em obter o poder do outro, a desconfiança em
que outros ataquem o que lhe pertence, e o desejo de glória por pura vaidade, um elogio ou
uma opinião que lhe agrade. Assim, conclui-se que o ser humano vive em uma constante
guerra. Hobbes, por influência de filósofos clássicos, acredita que o homem é um animal
político que devemos conhecer a nós mesmos, e nos livrarmos dos preconceitos que estão
inseridos em nós. Apenas possuindo conhecimento da verdadeira natureza humana, é possível
fazer política.
Ao tratar do indivíduo hobbesiano, o definimos como um ser que preza pela honra e
não por bens. A honra é tratada como a verdadeira riqueza do homem. Nessa condição, é
observado no texto que, a partir do surgimento de guerras de todos contra todos, surge a
oportunidade da criação de um contrato social, ou seja, um pacto entre cidadãos e um
soberano assim escolhido por seus súditos. Antes disso, tratamos dos direitos que assim lhes
eram concedidos para poder viver em paz na sociedade. Um homem, sempre teve poder sobre
o outro e muitos viam seu modo de viver diante de muitas limitações. Na guerra, observamos
que a paz pode custar caro. Ela favorece para uns e não para outros. Aos que não cediam e
acreditavam na sua própria força e capacidade, de alguma maneira estariam sujeitos a
defender-se, quando não se sentissem seguros, ao receio de perderem sua própria liberdade.
A partir do século XVI, Joe Bodin foi um dos primeiros a tratar do assunto soberania.
Em suas reflexões políticas, ele manifesta que o Estado, assim obtendo um poder soberano,
possuirá um governo estável podendo solucionar pendências e solucionando qualquer decisão
que assim lhe for imposto. Neste caso, o direito do povo unificado passaria a ser um só poder
pertencente ao Estado. Isto era comparado ao grande Leviatã, figura bíblica que mencionado
por Hobbes, seria algo poderoso, que impunha suas vontades e ações. Ele enxergava o
contexto de liberdade de cada indivíduo como algo que torna essa pessoa individualista que
posteriormente causava conflitos. Por este motivo, autoriza-se o contrato social entre soberano
e súditos. Até mesmo aos que não votavam a favor, não podiam sequer ir contra a quem fosse
escolhido. Ao se opor a ele, estaria destinado a sofrer consequências como a morte ou outros
tipos de castigos. É importante ressaltar que um tipo de pacto social como este, será
questionado anos seguintes por diversos autores da contemporaneidade como Rousseau, ao
mais atuais. Outros tipos de pactos nesta época eram inadmissíveis e considerados
fraudulentos, podendo assim cometer injúrias ao Estado em si.
Hobbes desmonta o valor teórico das palavras “igualdade” e “liberdade”. A igualdade
é o fator que leva a guerra de todos, pois é quando dois homens ou mais podem querer a
mesma coisa e se enfrentam por ela. E a liberdade seria a falta de oposição, onde o indivíduo
pode fazer o que quiser, muito diferente da concepção de liberdade como um princípio pelo
qual os homens lutam e morrem. Entretanto, há o que Hobbes entende ser a verdadeira
liberdade do súdito. Quando o cidadão assina o contrato social, renunciando o seu direito de
natureza e dá poderes ao soberano, a fim de instaurar a paz, o homem só abre mão de seu
direito para proteger sua própria vida. Ou seja, o súdito tem o direito de desobedecer ao
soberano em casos de sua vida ser colocada em perigo, e de resistir individualmente a
qualquer ato nesse sentido.
O modelo de Estado hobbesiano tem como característica o temor que propaga aos
indivíduos. Contudo, a intenção não é aterrorizar ou disseminar o pânico, apenas é dever do
governante estimular o cumprimento das leis pelos súditos. Esse ponto é necessário para o
soberano garantir que o povo continue abrindo mão da liberdade em prol da paz. Assim, com
o temor garante-se a obediência, a saber que os indivíduos não querem causar a ira do
soberano e fazem de tudo para serem bem-comportados.
Ademais, o Estado proposto por Hobbes, é visto como um símbolo de esperança ao
povo. Acontece que em virtude da autonomia, as pessoas não estarão dispostas a respeitar a
propriedade dos outros, então cabe ao governante ser o mediador entre estes conflitos. Dessa
forma, o soberano distribui, administra e regula todos os bens e terras disponíveis. O Estado
também pode possuir sua própria porção de terra, esta poderá ser destinada para perpetuar a
harmonia. Logo, para livrar o povo de possíveis preocupações e conflitos, o governante
assume o controle da propriedade, sempre com o intuito de priorizar o bem-estar da nação
A partir do momento em que Hobbes entende o Estado como monstruoso e o homem
como belicoso, ou seja, rompendo com a lógica aristotélica do bom governante e do indivíduo
bom por natureza, Hobbes junta-se ao poder imagético na filosofia política vivenciado outrora
por Maquiavel e Rousseau, visto que o termo hobbista é tão ofensivo quanto o termo
maquiavélico.
Por subordinar a religião e a burguesia ao poder político, Hobbes nega enfaticamente o
direito natural ou sagrado à sua propriedade e assim chocando-se com o processo atemporal
da burguesia por legitimação da propriedade privada como um direito anterior e superior ao
estado, assim como Locke, ele acredita que a finalidade do poder público consiste em
proteger a propriedade, totalmente inversa as pretensões da burguesia, enquanto classe
(controlar o poder do estado)
Ao mesmo tempo, Hobbes é um pensador frustrado por não ter espaço ou campo de
aplicação, mesmo escrevendo três versões de sua filosofia política (de corpore,1642, de cive,
1640, Leviatã, 1651) em meio a uma guerra civil, porém, a perspectiva da ênfase na ciência
merece uma atenção especial por entender que só podemos conhecer, adequadamente e
cientificamente, aquilo que nós mesmos engendramos, assim, entendemos o papel do contrato
“se existe Estado, é porque o homem o criou” e devido a esse contrato, a necessidade de
vivermos em sociedade somos nós os autores da sociedade e do Estado e podemos conhecê-
los tão bem quanto as figuras geométrica (referência a matemática e suas criações perfeitas).
Ou seja, o homem como criador e protagonista de sua condição, de seu destino, e não
Deus ou a natureza. O homem podendo conhecer sua condição miserável e sabendo como
alterar essa estrutura, mesmo tendo esse pensamento abandonado na filosofia política no
século XVIII continua inspirando o pensamento sobre o poder e suas relações sociais.

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