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O presente trabalho tem como objetivo evidenciar as ideias acerca da filosofia política

contida na obra “Leviatã” de Thomas Hobbes. Na obra o autor investiga sobre a origem do
Estado, o exercício do poder político, os respectivos direitos e deveres dos cidadãos e líderes,
entre outras questões, propondo também o que ele considera um Estado ideal.
Hobbes entendia filosofia como a ciência por excelência, entendida por ele como
ciência das consequências, onde os objetos seriam os corpos, suas causas e propriedades.
Nesse sentido, além da filosofia natural, que considera as consequências dos acidentes dos
corpos naturais - Hobbes tem enfoque na filosofia política, que se ocupa das consequências
dos acidentes dos corpos políticos. O filósofo foi influenciado por grandes autores da
filosofia - como pelos elementos de Euclides, com sua rigorosíssima construção dedutiva,
considerada por Hobbes modelo para filosofa; também teve como notável influência o
racionalismo cartesiano e suas atribuições derivadas da revolução científica; e por Bacon com
sua concepção utilitarista do saber; mas a maior influência foi exercida por Galileu, com sua
física, que fica evidente em algumas partes de sua obra (REALE, 1990, p. 486 - 487).
A filosofia política de Hobbes baseia-se na concepção que o filósofo tem de Estado,
compreende-o como uma “pessoa artificial”, criação humana que copia a arte divina
manifestada na natureza, essa arte divina está sobretudo no ser humano (HOBBES, 1974, p.
04). Nesse sentido, a pessoa é o sujeito “cujas palavras são consideradas quer como suas
próprias quer como representando as palavras ou ações de outro homem” (HOBBES, 1974, p.
100). Isso implica que a pessoa artificial, ou seja, o Estado, age em nome de outros, dos
mesmos indivíduos que firmaram o contrato que lhe deu origem.
Para o filósofo, as pessoas devem sair do que ele chama de “estado de natureza”, no
qual elas possuem um “direito natural” de fazer o que querem. Segundo Hobbes, enquanto as
pessoas manterem esse direito natural continuarão na condição miserável de guerra, onde
cada um é ameaçado pelo outro, isto é o que Hobbes chama de guerra de todos contra todos,
causado pelo direito natural à vida e a necessidade à sobrevivência. A partir disso, o homem
só escapa desse estado de natureza, aceitando um soberano como poder absoluto. Com isso,
as pessoas devem abrir mão do direito natural de decidir por si mesmas o que é ou não
necessário para a sua própria preservação e transferir esse direito para um indivíduo, ou um
grupo de indivíduos, que agirão em benefício de todos (FINN, 2010, p. 119-121).

A condição em que os homens se encontram naturalmente é


uma condição de guerra de todos contra todos. Cada qual tende a se
apropriar de tudo aquilo que necessita para a sua própria
sobrevivência e conservação. E, como cada qual tem direito sobre
tudo, não havendo limite imposto pela natureza, nasce então a
inevitável predominância de uns sobre os outros (REALE, 1990 p.
498)..

A transferência do direito para um poder comum é feita por um pacto ou contrato


pelos homens entre si, de modo que cada um dissesse a cada homem: “Eu autorizo e abro
mão de meu direito de governar a este homem ou a esta assembleia de homens” (HOBBES,
1974, p. 105). Assim, os indivíduos fazem um pacto de associação entre si para transferir seu
direito de se governar a uma autoridade comum, ou seja, o poder soberano. Essa autoridade
reside justamente em fazer valer os direitos de todos à sobrevivência, ao bem comum, e etc.
Voltando ao conceito de pessoa para Hobbes, ou seja, aquele que representa a si mesmo ou a
outros, percebe-se que a pessoa artificial, isto é, o Estado, representa os indivíduos, segundo
um acordo que foi feito no contrato, para garantir a paz exercendo um poder coercitivo para
subjugar a tendência à guerra de todos contra todos que reside nos indivíduos (FINN, 2010,
p.121).
Alguns questionamentos surgem a partir desse poder conferido ao Estado: "Até
quando essa representação política, o Estado, é legítimo? Quais ações podem ser
consideradas ilegítimas e por que? "Sob um ponto de vista geral, legítimo" diz-se de todo ato,
de toda atitude [...] cujo sujeito é considerado como estando, sob esse ponto de vista, no seu
direito" e "no sentido político, diz-se de um soberano chamado ao trono em virtude das regras
tradicionais de sucessão em vigor” (LALANDE, 1999, p. 606).
Das definições dadas pode-se depreender que a legitimidade está relacionada
diretamente às leis que regem determinada sociedade e no caso do Estado proposto por
Hobbes, os indivíduos conferiram ao soberano a autoridade para legislar sobre eles tendo em
vista o bem de todos e não os bens individuais. Mas esse mesmo soberano está posto como tal
por conta de leis a que os homens se sujeitaram no estado de natureza, a saber, a principal
delas é a de procurar a paz e a sobrevivência individual ameaçada por ver no outro um
inimigo (HOBBES, 1974, p. 82), como já foi mencionado.
É manifesto que a terceira lei de natureza diz respeito à obrigação dos indivíduos de
cumprir os pactos estabelecidos para tornar possível a existência mesma do Estado, já que se
ninguém cumprir o contrato é impossível que subsista o Estado. Porém, mesmo essa
obrigação de cumprir os pactos pode ser quebrada se os contratos forem nulos, exemplos
destes são aqueles nos quais o sujeito renuncia a direitos: por assim dizer, irrenunciáveis,
como o da autopreservação, que não pode ser perdido por nenhum pacto feito, o que se
configura um contrato ilegítimo (HOBBES, 1974, p. 88).

Como o soberano não participa do pacto, uma vez recebidos


em suas mãos todos os direitos dos cidadãos, ele os detém
irrevogavelmente. Ele está cima da justiça (porque a terceira regra,
como as outras, vale para os cidadãos, mas não para o soberano). Ele
também pode interferir em matéria de opiniões, julgar, aprovar ou
proibir determinadas idéias. Todos os poderes devem se concentrar
em suas mãos. A própria Igreja deve-se sujeitar a ele. O Estado,
portanto, também pode interferir em matéria de religião. E, como
Hobbes crê na revelação divina e, portanto, na Bíblia, o Estado que
ele concebe, em sua opinião, também deverá ser árbitro em matéria
de interpretação das Escrituras e de dogmática religiosa, impedindo
dessa forma todo motivo de discórdia. O absolutismo desse Estado é
verdadeiramente total (REALE, 1990 p. 501)

A legitimidade, portanto, a partir do exposto, reside no fato de que o soberano age de


acordo com a autoridade que lhe foi conferida no contrato social, ou seja, ele deve cumprir
suas obrigações de manter a paz, criando leis que vão reger a sociedade e fazendo com que
elas sejam praticadas, exercendo um poder coercitivo. Parece razoável concluir que se o
soberano não cumprir com suas obrigações ele se torna ilegítimo, já que aquilo pelo qual lhe
foi conferido o poder não é posto em prática.
As ações do soberano não podem ser consideradas injustas, pois ele não é uma parte
contratante no pacto de associação. O soberano é somente uma terceira parte. E como vemos,
injustiça implica na violação do pacto, por isso, o autor, faz a comparação com Deus, porque
o soberano está acima do julgamento moral, ele permanece essencialmente em um estado de
natureza, mas retém o direito natural a todas as coisas (FINN, 2010, p. 122)
A partir disso, fica evidente que, para Thomas Hobbes, na base do Estado há dois
pressupostos. O primeiro, como já mencionado, é o bem relativo originário, ou seja, a vida e
a sua conservação, esse pressuposto parte do egoísmo. O segundo é justiça, que é uma
convenção estabelecida pelos homens e cognoscível de modo perfeito a priori, ou seja, o
convencionalismo. Nesse sentido, a concepção política de Hobbes está totalmente inversa da
clássica concepção aristotélica (REALE 1990, p. 497).
Portanto, conclui-se que todos os homens se encontram naturalmente em condição de
guerra de todos contra todos, desse modo, o homem arrisca-se a perder o bem primário, que é
a vida e para sair desta situação faz um apelo que está fundado em dois elementos. O instinto
de evitar a guerra contínua e de providenciar aquilo que é necessário para a subsistência. E a
razão, no sentido do instrumento apto a satisfazer os instintos de fundo. Contudo, é a partir
daí, que nascem as leis de natureza, essas leis constituem de certo modo a racionalização do
egoísmo - seria as normas que permitem realizar racionalmente o instinto de
autoconservação. Das leis naturais que Hobbes elenca, podemos dizer que as mais
importantes são as três primeiras. Elas consistem em procurar a paz e alcançá-la,
defendendo-se com todos os meios possíveis; renunciar ao direito sobretudo, quando também
os outros renunciam; respeitar os pactos estipulados, ou seja, ser justos.
Para a construção do Estado, além dessas leis, é preciso que todos os homens deputem
um único homem ou uma assembleia para representá-los, noção de soberano já mencionado.
Assim se origina o pacto social, que é feito pelos súditos entre si, enquanto o soberano
permanece fora do pacto e é o único depositário dos direitos dos súditos. O poder do
soberano torna-se indiviso e absoluto: ele está acima da justiça pode intervir em matéria de
opinião e de religião, concentra em si todos os poderes. Trata-se da mais radical teorização do
estado absolutista, por isso Hobbes retoma a imagem do Leviatã em sua obra.

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