Você está na página 1de 4

Segunda Avaliação / Filosofia Política Rodrigo Jaber

Thomas Hobbes:

O direito natural, as leis naturais, as leis civis e a relação entre eles

Introdução

Hobbes foi um filósofo ligado ao jusnaturalismo que, juntamente com outros filósofos
dos séculos XVII e XVIII, defendia a ideia de uma justiça que precedia o livre-arbítrio dos
homens e seria anterior ao surgimento do Estado. A liberdade natural que todos os homens em
buscar, através de seu próprio julgamento, meios para conservar sua própria natureza, não é
compatível com uma vida harmoniosa entre eles. Através da reta razão, o homem é capaz de
entender a regra geral em que essa convivência pode ser conseguida, afastando-o do que Hobbes
chama de Estado de natureza. O objetivo deste texto é analisar como Hobbes relaciona essa
regra geral, ou lei natural, com as leis civis, esta última ordenada pelo poder soberano de um
Estado.

Desenvolvimento

Em “Leviatã”, Hobbes faz suas considerações ao direito natural, ou jus naturale, como
“a liberdade que cada homem tem de usar seu próprio poder como quiser, para a conservação
de sua própria natureza, isto é, de sua própria vida; e, consequentemente, fazer o que seu
próprio julgamento e razão consideram ser o meio mais adequado para atingir esse fim.”
(Leviatã, p. 113). Não há, portanto, uma ideia hobbesiana de “bom” ou “mau” e sim algo a ser
desejado ou desprezado, em que o homem empreende algum esforço para ser bem sucedido;
sendo a liberdade a ausência de obstáculos externos para impedir essa conquista. Todos os
homens possuem faculdades físicas e intelectuais semelhantes por natureza, além de ter a
mesma capacidade de matarem uns aos outros. Nessas condições, chamado de Estado de
Natureza, surge o conceito de Hobbes do “homem ser lobo do homem”: quando somente há o
direito natural, os homens tendem à bestialidade e à decadência, onde não há leis ou garantias
de segurança e de convivência pacífica. Os homens por desejarem a mesma coisa e buscando
seus direitos naturais se tornam inimigos, utilizando das forças individuais e guerreando uns
contra os outros. “Enquanto persistir aquele direito natural de cada um com respeito a todas
as coisas, não pode haver segurança para ninguém (por mais forte ou sábio) de existir durante

1
Segunda Avaliação / Filosofia Política Rodrigo Jaber

todo o tempo que a Natureza ordinariamente permite que os homens vivam.” (Hobbes, Thomas.
Leviatã, p. 114).
Na natureza humana existem impulsos naturais que nos movem através de uma cadeia
interna de deliberações. Porém existem regras dadas pela reta razão que proíbem ao homem
fazer algo que destrua sua vida ou o prive dos meios de preservá-la, como por exemplo: “justiça,
equidade, modéstia, piedade.” Trata-se da lei da natureza; que segundo Hobbes são também
leis morais. “As leis da natureza (...) são, por si só, quando não há medo de um certo poder que
motiva sua observância, contrário às nossas paixões naturais, que nos induzem à parcialidade,
ao orgulho, vingança e afins.” (Hobbes, Thomas. Leviatã, p. 148)
Por mais que o indivíduo conheça as leis naturais e tenha consciência da moralidade por
detrás dos conceitos, Hobbes diz que “os pactos que não se apoiam na espada são apenas
palavras, sem força para proteger o homem de forma alguma.” (Leviatã, p. 148). Isto é, se não
há um poder instituído ou ele não é grande o suficiente “cada um confiará apenas, e ele será
capaz de fazê-lo legalmente, em sua própria força e habilidade, para se proteger contra outros
homens.” (Leviatã, p. 148).
Como consequência, o poder seria um tônus a esse esforço em conseguir o bem que
deseja ou evitar o que se tem aversão, podendo ser “original ou instrumental”. Nas palavras de
Hobbes: “O poder natural é a eminência das faculdades do corpo ou da inteligência, como
força extraordinária, beleza, prudência, aptidão, eloquência, liberalidade ou nobreza.
Instrumentais são aqueles poderes que são adquiridos por meio do mencionado, ou por fortuna,
e servem como meios e instrumentos para adquirir mais, como riquezas, reputação, amigos e
os desígnios secretos de Deus, o que os homens chamam de boa sorte.” (Hobbes, Thomas.
Leviatã, p.74). Com o compartilhamento dos esforços individuais, cria-se então um ser
“artificial”, o Estado, formado pelo conjunto de pessoas (poderes individuais) visando “a
segurança do indivíduo” que tem como causa final “o cuidado de sua própria conservação e,
portanto, além disso, a conquista de uma vida mais harmoniosa; isto é, o desejo de abandonar
aquela condição miserável de guerra, que, como dissemos, é uma consequência necessária das
paixões naturais dos homens, quando não há poder visível para mantê-las sob controle e
sujeitá-las, por medo de punição, à realização de seus pactos e à observância das leis da
natureza.” (Hobbes, Thomas. Leviatã, p. 148). O Estado detém então o poder maior de todos,
o poder soberano, o Leviatã – figura mitológica poderosa e imponente, usada em associação
por Hobbes.

2
Segunda Avaliação / Filosofia Política Rodrigo Jaber

Esse poder soberano pode ser conquistado de duas maneiras: através da conquista, em
que a força natural é o instrumento de sua imposição, ou através de um acordo, em que os
homens designam um homem ou a assembleia de homens como seu representante, dando o
direito de governarem a si mesmos. Para Hobbes, esse último tipo pacto seria um Estado
Político. O Estado é composto então, pela figura do soberano, que é o portador da pessoa
constituída pela multidão unida; e dos súditos, que são todos os demais integrantes do corpo
político. Da mesma forma que se criou um “ser artificial” para garantir o convívio pacífico entre
os homens, houve a necessidade de se criar pactos ou convênios mútuos “para estabelecer o
que é equidade, o que é justiça e o que é virtude moral, e dar-lhes caráter obrigatório justiça.”
(Hobbes, Thomas . Leviatã, p. 244).
No conceito hobbesiano, “a liberdade do súdito é combinada com o poder ilimitado do
soberano.” (Leviatã, p. 191); isto é, trata-se de uma liberdade cerceada pela regulamentação
das ações, predeterminadas pelo soberano. Para que se garanta a própria conservação e haja um
convívio harmonioso e pacífico, abandonando o estado de natureza, os homens restringem sua
própria liberdade através das leis civis, que segundo Hobbes “é uma consequência necessária
das paixões naturais dos homens, quando não há poder visível para mantê-las sob controle e
sujeitá-las, por medo de punição, à realização de seus pactos e à observância das leis da
natureza” (Leviatã p. 148). Não há, entretanto, injustiça em ações ou punições do soberano
para com o súdito, pois segundo Hobbes, o soberano possui autoridade, imbuída da palavra
dos representados. Além disso, para Hobbes, fora da condição de soberano ou súdito (i.e.,
liberdade absoluta), a condição do homem seria de mera natureza; que leva à “anarquia e
condição de guerra”.
As leis civis são, portanto, as leis ordenadas pelo soberano a fim de que as leis naturais
sejam cumpridas, cabendo aos súditos a obedecê-las. Por mais que as leis naturais já existam,
bastando a razão para identifica-la, somente com a instituição do Estado elas deixam de ser
apenas qualidades que predispõem os homens à paz e à obediência, e passam efetivamente a se
tornarem leis; consequentemente as leis naturais devem estar contidas nas leis civis. “Inerente
à soberania está o pleno poder de prescrever as normas em virtude das quais cada homem
pode saber de que bens pode desfrutar e quais ações pode realizar sem ser incomodado por
nenhum de seus concidadãos.” (Hobbes, Thomas. Leviatã, p. 161).

3
Segunda Avaliação / Filosofia Política Rodrigo Jaber

Conclusão

Para Hobbes, a liberdade ou direito de preservar a sua própria natureza é o direito


natural. Há, portanto, um esforço do homem em buscar o que lhe assegura um bem específico,
ou que o afasta de um mal; sendo o poder a facilidade em efetivar ambas as ações. A lei natural,
regra moral que surge através de virtudes no homem, o afasta do estado de pura anarquia e
guerras constantes, pois há no homem paixões e inclinações naturais que tendem a levá-lo de
volta ao seu estado natural. Hobbes então define as leis civis como ordenações do representante
ou soberano de um Estado, que restringem a liberdade dos súditos através de pactos firmados
por todo o corpo político de um Estado, para garantir que as leis naturais sejam cumpridas e
que haja um convívio harmônico entre os homens.

Bibliografia

HOBBES, Thomas. Leviatã. Tradução: Guzman Agustin. 2022. Edição do Kindle;

MOSCATELI, Renato. Disciplina de Filosofia Política – Universidade Federal de


Goiás. 2023. Notas de Aula.

Você também pode gostar