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THOMAS HOBBES E O LEVIATÃ sociedade quando a preservação da vida está ameaçada.

E
estaria ameaçada pelos próprios indivíduos, se cada qual
Thomas Hobbes foi um filósofo e tradutor inglês (falava tudo fizer para exercer seu poder sobre os outros. A paz é a
italiano, francês e grego), cuja principal obra foi o “Leviatã”, melhor solução para o instinto de conservação.
de 1651, obra considerada como umas maiores do
pensamento político. A VIRTUDE DO MEDO

A CONDIÇÃO HUMANA: COMPETIÇÃO E PODER Para Hobbes, há três formas que podem levar os homens a
Para Hobbes, a natureza humana é voltada para o desejar a paz: a) o medo da humilhação infligida pelos
prazer, impulso original voltado para nos aproximar do que é inimigos ou pela morte (era preferível morrer a ser
bom e fugir do que é ruim. Esse impulso leva o homem a humilhado), b) o desejo de ter os bens necessários para uma
querer vencer sempre. Como vivemos em sociedade, é vida confortável; c) a esperança de obtê-los por meio do
inevitável a concorrência, onde ultrapassar o outro é fonte de trabalho. Dessa maneira, o que leva os homens a instituir um
satisfação e de sensação de poder, enquanto ser contrato comum a todos é o medo, que é entendido como a
ultrapassado é frustração, ira, tristeza, etc. É da natureza virtude cívica por excelência: esse medo faz os homens
humana o egoísmo, que nada mais é do que "um perpétuo e abrirem mão de sua condição natural de violência e aceitem a
irrequieto desejo de poder e mais poder que só termina com ordem moral de um soberano, portanto o medo é que faz com
a morte". que os homens saiam do estado de natureza para o estado
social. Hobbes conclui que o que leva os homens a se
O poder para Hobbes é definido em dois propósitos: formarem em sociedade não é de forma alguma a boa
vontade recíproca, mas o medo que cada um tem do outro.
a – o poder da aparência natural: são virtudes como força,
eloquência, beleza, prudência, capacidade, liberdade, etc. A SOLUÇÃO É O LEVIATÃ:

b – o poder instrumental: refere-se à riqueza, reputação, Os homens, segundo Hobbes, devem agir segundo a razão e
amizades e os secretos desígnios de Deus, que os homens não segundo as paixões; No estado da razão, há segurança,
chamam de boa sorte. paz, riqueza, decência e sociabilidade. A razão e a paixão
Para Hobbes a competição pela riqueza, honra, e outras para Hobbes, são as mesmas em todos os homens, a razão
formas de poder é que levam à luta, inimizade e à guerra, não é o ato de conhecer, mas na verdade é o ato de
pois a forma do competidor adquirir o que deseja é matar, raciocinar, saber quais são os meios mais adequados para
subjugar, suplantar ou repelir os outros. Não somente em ter atingir os fins que deseja. Portanto, as leis da natureza tão
bens está o orgulho humano, mas também na vitória e necessárias são as de paz, porque são normas ditas pela
humilhação dos adversários: para Hobbes, o homem não se razão, onde os homens chegam ao acordo comum e ao fim
contenta em vencer os inimigos, mas em humilha-los. do estado de guerra. As leis especiais de natureza são leis
morais, que levam os homens a fazerem a paz, através da
A MORAL RELATIVA DOS HOMENS: Hobbes relativiza a obediência às leis.
moral, pois as pessoas e os povos diferem em Para Hobbes, mesmo os homens mais ignorantes são
comportamento, costume e opinião; dessa forma o que é capazes de conhecer as leis morais pelo simples fato de um
aprovado por uma pessoa é desaprovado por outra, a colocar-se no lugar do outro. O fato que leva as leis morais a
primeira vê como bem a segunda vê como mal. não serem leis de fato é porque não há garantias de que
serão cumpridas, se não houve um poder superior que as
O DESEJO DE TER E OSTENTAR: O desejo de ter não tem faça cumprir.
limites para a maioria dos homens: Muitos que já tem o
suficiente para viver, querem ter mais, não por necessidade, Em resumo: para Hobbes, a única forma de instituir um poder
mas para ostentar o poder de ter algo que os outros não tem comum a todos, que possa defender tal sociedade, onde os
ou demorarão a ter, ou jamais terão. cidadãos possam viver satisfeitos, é abdicar do seu direito de
violência e entrega-la a um único homem (monarquia
ESTADO NATURAL: A GUERRA absolutista), ou a uma Assembleia de homens (república), ou
seja, uma espécie de pacto ou contrato social e político entre
os homens, onde abdicariam da violência, delegando-a ao
O desejo humano voltado para o prazer leva-o ao desejo de Estado para arbitrar as diferenças e fazer justiça. Para
ter poder. Este desejo de poder acaba levando os homens a Hobbes, era melhor o pior dos governos do que a ausência
concorrência e a luta entre si, ou seja, o estado natural do de governo; é preferível ter o pior governo despótico do que a
homem é a guerra. É a guerra de todos contra todos; esse ausência e a permanente anarquia, a violência generalizada.
era o estado natural do homem antes da vida em sociedade. O Estado seria a união de todos em uma única pessoa, um
O homem é governado por suas paixões e acha-se no direito pacto de cada homem com todos os homens, concluindo a
de conquistar o que lhe apetecer. Como todos os homens união de todas as pessoas numa só: chama-se Estado, o
seriam dotados de força igual (pois o fisicamente mais fraco grande LEVIATÃ, criado pela arte humana, que passa a ser
pode matar o fisicamente mais forte, lançando mão de um homem artificial, maior que o homem natural, poderoso
astúcia ou unindo-se a outros), e como as aptidões ao ponto de promover a justiça, a paz, a segurança e o
intelectuais também se igualam, o recurso à violência se castigo dos infratores. Para Hobbes, onde não há Estado
generaliza. nada pode ser injusto: A natureza da justiça consiste no
cumprimento dos pactos válidos, mas a validade dos pactos
O INSTINTO DE CONSERVAÇÃO: Mas, além dessa só existe onde há um Estado poderoso para obrigar os
natureza ruim, o homem tem o instinto de conservação e este homens a cumpri-los.
leva ao desejo da paz. Por si só, o instinto de conservação
usa a violência enquanto esta não for um risco; quando torna-
se arriscado, o homem busca a paz com seus inimigos.
Assim é a lei natural de sobrevivência. Por isso o instinto de
conservação é fundamental, porque, ao contrário do
pensamento aristotélico que tem o homem como um animal
social, os indivíduos, segundo Hobbes, só entram em
ATIVIDADES 4) O fim último, causa final e desígnio dos homens, ao
introduzir uma restrição sobre si mesmos sob a qual os
Thomas Hobbes acreditava que o “homem era o lobo do vemos viver nos Estados, é o cuidado com sua própria
homem”. O que Hobbes queria dizer com isso? conservação e com uma vida mais satisfeita; quer dizer, o
desejo de sair da mísera condição de guerra que é a
a) Que o homem, assim como os lobos, relacionavam-se em consequência necessária das paixões naturais dos homens,
alcateias, formando uma hierarquia em que o objetivo comum como o orgulho, a vingança e coisas semelhantes. É
era a obtenção de alimento. necessário um poder visível capaz de mantê-los em respeito,
forçandoos, por medo do castigo, ao cumprimento de seus
b) Que o ser humano passou a ver na figura do lobo um pactos e ao respeito às leis, que são contrárias a nossas
espelho de suas atividades sociais, de forma que, em paixões naturais.
algumas sociedades, o lobo ainda é uma figura simbólica. HOBBES, T. M. Leviatã. São Paulo: Nova Cultural, 1999
(adaptado).
c) Que o homem é capaz de agir como predador de sua Para o autor, o surgimento do estado civil estabelece as
própria espécie, podendo ser cruel, vingativo e mau quando condições para o ser humano
lhe fosse conveniente em seu estado de natureza.
A) internalizar os princípios morais, objetivando a
d) Que a amizade entre os seres humanos era comparável à satisfação da vontade individual.
relação próxima que os lobos possuem em uma alcateia.
B) aderir à organização política, almejando o
2) (Enem 2015) estabelecimento do despotismo.

A natureza fez os homens tão iguais, quanto às faculdades C) aprofundar sua religiosidade, contribuindo para o
do corpo e do espírito, que, embora por vezes se encontre fortalecimento da Igreja.
um homem manifestamente mais forte de corpo, ou de
espírito mais vivo do que outro, mesmo assim, quando se D) assegurar o exercício do poder, com o resgate da
considera tudo isto em conjunto, a diferença entre um e outro sua autonomia. Excluir alternativa
homem não é suficientemente considerável para que um
deles possa com base nela reclamar algum benefício a que E) obter a situação de paz, com a garantia legal do seu
outro não possa igualmente aspirar. bem-estar.
HOBBES, T. Leviatã. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
5) (Enem – MEC)
Para Hobbes, antes da constituição da sociedade civil,
quando dois homens desejavam o mesmo objeto, eles: I. Para o filósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679), o
estado de natureza é um estado de guerra universal e
A) entravam em conflito. perpétua. Contraposto ao estado de natureza, entendido
B) recorriam aos clérigos. como estado de guerra, o estado de paz é a sociedade
C) consultavam os anciãos. civilizada.
D) apelavam aos governantes.
E) exerciam a solidariedade. Dentre outras tendências que dialogam com as ideias de
Hobbes, destaca-se a definida abaixo.
3) Por outro lado, os homens não tiram prazer algum da
companhia uns dos outros (e sim, pelo contrário, um enorme II. Nem todas as guerras são injustas e, correlativamente,
desprazer), quando não existe um poder capaz de manter a nem toda paz é justa, razão pela qual a guerra nem sempre é
todos em respeito. um desvalor, e a paz nem sempre um valor.
HOBBES, Thomas. O Leviatã. São Paulo: Abril Cultural.
Coleção Os Pensadores. 1973, p. 78. BOBBIO, N. MATTEUCCI, N. e PASQUINO, G. Dicionário de
Política. 5ed. Brasília: Universidade de Brasília. São Paulo:
Thomas Hobbes (1588-1679), filósofo Inglês, defende o Imprensa Oficial do Estado, 2000.
contrato como alternativa política para um Estado forte e
eficaz. Dessa maneira, a partir da assertiva acima, marque a Comparando as ideias de Hobbes (texto I) com a tendência
alternativa correta: citada no texto II, pode-se afirmar que:

A) A assertiva reflete o caráter bondoso do homem em seu a) em ambos, a guerra é entendida como inevitável e injusta.
estado de natureza;
b) para Hobbes, a paz é inerente à civilização e, segundo o
B) A assertiva busca reafirmar, semelhante a filosofia texto II, ela não é um valor absoluto.
aristotélica, a natureza política do homem em seu estado de
natureza. c) de acordo com Hobbes, a guerra é um valor absoluto e,
segundo o texto II, a paz é sempre melhor que a guerra.
C) A assertiva faz uma radical oposição ao pensamento
aristotélico, a saber, o homem é um animal político. d) em ambos, a guerra ou a paz são boas quando o fim é
justo.
D) A teoria hobbesiana de política é articulada com vistas
ao fortalecimento do estado de natureza. e) para Hobbes, a paz liga-se à natureza e, de acordo com o
texto II, à civilização.
E) Nenhuma das alternativas.

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