Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
INTRODUÇÃO
CONTEXUALIZAÇÃO
Thomas Hobbes (1588 – 1679)
Em seu livro Leviatã, Hobbes afirma que a “natureza fez os homens tão iguais, quanto às
faculdades do corpo e do espírito”. Esta igualdade entre os homens é independentemente da
existência da sociedade civil, uma vez que este estado de natureza é aquele em que “os homens
vivem sem um poder comum capaz de os manter a todos em respeito”. Esta condição de igualdade
natural de direitos entre os indivíduos é tida como pressuposto de sua construção teórica (Gamba,
2019).
Na perspectiva de Hobbes, pessimista quanto à natureza humana, o homem é um ser
perverso, essencialmente egoísta e inclinado à agressividade. Guiado por sua tendência natural à
violência, existiria no homem um desejo de destruição e de manter o domínio sobre o seu
semelhante, o que resultaria em um constante estado de competição, estado de guerra de todos
contra todos (GAMBA, 2019; SCALABRIN, 2017; CUNHA, 2018).
Esta natureza perversa e egoísta tem sua origem no princípio de que o ser humano é guiado
pela ideia do benefício próprio, pois “todo homem é desejoso do que é bom para ele, e foge do que
lhe é mau”, existindo um impulso natural de autopreservação. Assim sendo, o objetivo humano
primário não é o de se associar aos demais, mas de garantir sua sobrevivência e realizar seus desejos
(GAMBA, 2019).
Desta forma, inicialmente o homem viveria em um estágio primitivo no qual estaria em
constante insegurança e temor. Isso porque, nesse estágio, qualquer um poderia tomar do outro,
pela força, o que fosse do seu interesse, uma vez que os homens se encontram em uma condição
de igualdade de direitos
Com isto, nasce uma necessidade de superar esse estágio inicial e avançar para uma fase na
qual possa existir segurança e paz. Esta fase somente poderia ser alcançada se os homens
celebrassem um pacto de preservação, um contrato social, em que cada um concorda em abdicar
da sua liberdade natural, do direito a tudo, e aceita o direito limitado à liberdade conferida a cada
um (GAMBA, 2019; SCALABRIN, 2017).
Ou seja, que houvesse a submissão de todos à vontade de um homem, que existisse um
poder que estivesse acima dos homens individualmente para que o estado de guerra fosse
controlado. Surge, assim, o estado social; um meio artificialmente arquitetado para a busca por
sobrevivência, natural no ser humano; uma etapa de formação racional da sociedade, na qual o
homem se engaja em manter a paz e a segurança (GAMBA, 2019; SCALABRIN, 2017; CUNHA, 2018).
Todavia, em virtude da natureza perversa do homem, da fragilidade e ameaça permanente
do estado de natureza, para a manutenção do estado social, a sociedade civil organizada é sempre
dependente de um poder coercitivo capaz de manter o indivíduo dentro dos limites definidos no
contrato social. Tem-se, então, o surgimento do Estado como manifestação real de poder
(SCALABRIN, 2017).
Desta forma, diante da relevância do papel do Estado, em que mesmo um governo ruim seria
melhor do que o retorno ao estado de natureza, o poder do Estado não deveria sofrer limitações,
sendo ilimitado. Do contrário, poderia surgir alguém disposto a julgar as ações do Estado, se
tornando, então, o próprio detentor do poder pleno. Assim sendo, todos os indivíduos deviam total
obediência ao Estado e em troca este, com um poder coercivo, lhes garantiria a paz (GAMBA, 2019;
SCALABRIN, 2017).
CONSIDERAÇÕES
De forma geral, as teorias contratualistas apresentam-se muito mais como forma de
justificar filosoficamente o Estado do que de explicar sua origem histórica, uma vez que poucos são
os teóricos contratualistas que a apresentam como possibilidade histórica e não meramente
hipotética como forma de apresentar a origem de fato da sociedade. Assim, ainda que apresente
inegável valor filosófico e racional, a hipótese de trabalho da teoria contratualista parte de uma
premissa não confirmada na prática (GAMBA, 2019, SCALABRIN, 2017).
Entretanto, notadamente, as teorias contratualistas influenciaram diversos movimentos e
constituições em todo mundo. Tais ideias marcam o início da modernidade na filosofia política, uma
vez que passaram a substituir as teorias teológicas, por teorias racionais plenamente laicas.
Como já dito anteriormente, apesar das distinções entre as teorias contratualistas, é possível
determinar alguns pontos em comum entre elas, a saber:
• Partem de um modelo teórico que propõe um estado de natureza, os seres humanos são
compreendidos como livres e iguais;
• Há o surgimento de alguns fatores que induzem os indivíduos a abandonarem o estado de
liberdade natural e firmarem, de forma consensual, o contrato social;
• O contrato é o meio para operacionalizar a transferência mútua de direitos - a liberdade
natural é substituída pela liberdade civil;
• É através do contrato social que se dá origem à sociedade;
• O surgimento do Estado submete os indivíduos a um poder superior, que se manifesta
através das leis que asseguram que as vontades de um não subjuguem as vontades do
outro, visando a regulação das interações sociais.
Dois dos importantes pontos a serem ressaltados a respeito das teorias contratualistas diz
respeito direito à liberdade e à racionalidade dados ao homem. Sendo ele considerado livre por
natureza, a organização da sociedade civil passa a ser considerada um imperativo da razão humana,
independentemente do contexto que o induz a firmar o contrato social para sair do seu estado
natural de direitos. É ele quem escolhe, por opção, a viver em sociedade por perceber
racionalmente que isto é o melhor para ele.
Ao se levar em consideração o contexto histórico vivido por cada um dos pensadores
abordados, é possível traçar um paralelo mais aprofundado entre as suas teorias, sendo possível
compreender, inclusive, as formas de governo que elas buscaram justificar.
REFERÊNCIAS
Gamba, João Roberto Gorini. Teoria geral do Estado e ciência política. São Paulo: Atlas, 2019. p. 72
a 90.
Scalabrin, Felipe; Débora Sinflorio da Silva Melo. Ciência política e teoria geral do Estado. Porto
Alegre: SAGAH, 2017. p. 16 a 18.
Cunha, Paulo Ferreira da. Teoria geral do Estado e ciência política. São Paulo: Saraiva Educação,
2018. p. 49 a 52