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HISTÓRIA DO DIREITO

Prova M1

1) Explique o que Paolo Grossi apresenta como 'sociedade de sociedades'.

Na concepção de Paolo Grossi em Sociedade de Sociedades, começa com um grande


jurista francês que é o principal protagonista da história do Code civil napoleônico, satisfeito
com a revolução francesa, que tinha reduzido a um Estado efetivamente unitário, onde ao
contrario de uma realidade social e juridicamente complexa apresentando uma autentica
“société de sociétés”com esta expressão feliz, o Ilustríssimo autor francês Jean-Etienne-
Marie PORTALIS, foi muito preciso e saliente a respeito da situação francesa que tinha se
arrastado até o século XVIII, e que já se achava bem no meu do mundo moderno e ainda se
espelhando em um Estado incapaz de se libertar de mal-grado e progredir da estabilidade
da frança.

2) O que é o Estado, para Paolo Grossi, e como ele surge na transição da Idade Média para
a moderna?

A partir da centralização do poder, condição e resultado da formação dos Estados. O marco


da pré-modernidade é a descentralização política e a diversidade cultural. A sociedade
medieval caracterizava-se por múltiplos centros internos de poder político, distribuídos a
nobres, bispos, universidades, reinos, entidades intermediárias, estamentos, organizações e
corporações de ofício. Era uma sociedade que tinha sob influência a cultura, que fazia das
diferenças e das hierarquias o fundamento das suas estratégias de representação.

Reduziu gradativamente o pluralismo político, então surge uma nova ordem política
centralizada, que passou a representar e exercer toda a autoridade anteriormente disposta
pelas ordens da sociedade medieval. A autoridade que estava assente nas relações sociais,
religiosos, econômicos, passou ao ente estatal moderno.

Assim como Grossi cita “em um medievo que é plenamente sociedade de sociedades, em
uma modernidade política e jurídica a ser identificada em um processo liberador do Estado,
que sempre mais se esforça para retirar dos próprios ombros um pesado manto de
complexidade social, para se simplificar, para se constituir em entidade compactíssima até
se encarnar na perfeita unidade”.

3) Apresente a conexão entre ascensão do Estado e o direito moderno.


4) Discorra acerca da importância do estudo da história do direito para a formação do
operador jurídico.

RESPOSTA: De acordo com Palma (2019, p.29 a 33), História do Direito é uma disciplina
jurídica autônoma que se destina a estudar as diferentes dimensões culturais assumidas
pelo fenômeno jurídico através dos tempos, investigando o significado do início e do
declínio/fim das instituições jurídicas fundamentais entre seus inúmeros mestres.

Isto porque o direito contemporâneo não é uma nova versão do direito romano ou uma
evolução do direito medieval, mas sim uma criação humana complexa, construída ao longo
do tempo: o direito se relaciona com seu tempo e seu contexto (político, moral e social).

Ainda conforme o autor, a falta de conhecimento acerca da história do direito gera uma
lacuna no processo metodológico, uma vez que tal disciplina apresenta estreita vinculação
com outras disciplinas básicas de Ciências Jurídicas.

Dessarte, podemos entender que o estudo da história do direito surge junto com a história
da própria sociedade. Ou seja, ele é de grande importância para entendimento de como o
direito se apresenta nos dias de hoje e de como se molda conforme os acontecimentos e as
mudanças ocorridas nas sociedades.

Conforme explicam Maciel e Aguiar (2019, p.20-2), entender a história do direito se faz
necessário para se entender os conceitos operacionais, os quais são de fundamental
importância para a construção de conceitos amplos, que abarquem as diversas relações do
ser humano com os institutos jurídicos e suas práticas.

Derivada do latim “Directum”, que significa, “conforme a regra”, a palavra “Direito” tem a sua
criação desde os princípios da humanidade, sendo assim, um conjunto de regras e normas
que visam regulamentar e apaziguar o convívio em sociedade. Por se tratar de
acontecimentos históricos, é de suma importância a ciência e o entendimento de como
eram solucionados os conflitos da antiguidade e como foi a evolução dos mesmos.

Sendo assim, a importância da história do direito na formação do operador jurídico torna-se


irrecusável, uma vez que, tal matéria é responsável por descrever e revelar todos os
acontecimentos ocorridos em determinado local, determinada época e a reação do seu
processo evolutivo. Para isso, torna-se necessário o estudo e análise dos institutos
jurídicos, como por exemplo, o casamento, a propriedade privada, o direito penal etc.
5) O que é o direito consuetudinário? Discorra sobre sua manifestação nas sociedades
tradicionais.

RESPOSTA: O direito consuetudinário é uma construção jurídica baseada em um conjunto


de costumes e práticas sociais que são aceitos e consolidados como norma jurídica (regras
obrigatórias de conduta), embora não estejam positivados (com códigos e leis escritas),
sendo parte intrínseca dos sistemas sociais, econômicos e modos de vida de determinada
sociedade.
Importante ressaltar que o termo tradicional não deve guardar correspondência com o
atraso ou com a ideia de antigo, mas deve ser interpretado no sentido de algo que se
projeta para o futuro e que guarda suas especificidades, dando a ele o sentido de oposição
à lógica dominante de assimilação cultural. Dessa forma, é possível que os grupos se
autodefinam como tradicionais e reivindiquem os direitos inerentes a essa categoria
(VIERIA, 2006).

Como explica Vieria (2006), as normas de coesão e organização social criadas pelos povos
e comunidades tradicionais são atreladas às situações históricas e sociais vivenciadas por
eles (e, sem esse arcabouço jurídico dificilmente o sujeito coletivo se sustentaria frente a
seus opositores). Assim sendo, perceber como o sistema jurídico trata essas normas ganha
grande importância quando se tem em vista que a manutenção delas garante a identidade e
a reprodução do grupo.

Ainda conforme a autora, o direito costumeiro, por não se propor universal, tem no seu
âmago o debate intenso e frequente sobre a verdade que se estabelece no grupo, pois é o
grupo que justifica o seu modo de vida e o reconhece enquanto legítimo. Conforme explica
Grossi, “o direito consuetudinário apresenta plena disponibilidade a se abrir à incessante
mutação sócio-econômica, flexibilizando e particularizando as várias conclusões conforme
os tempos, os lugares e as exigências deles”.

Em geral, para esses povos, tantos as regras quanto as sanções encontram-se de tal forma
entrelaçadas nas diversas faces e expressões da cultura local (tradições, crenças), que não
é possível fazer uma separação clara entre os fenômenos, uma vez que a mesma norma
que impõe obrigações entre os indivíduos, além de sua fórmula jurídica, mescla-se a
obrigações religiosas e morais. A necessidade de seu cumprimento denota toda a
construção racional na qual a obrigação se fundamenta.

Tal forma de direito contrasta com as leis escritas que emanam de uma autoridade política
constituída, cuja aplicação está nas mãos desta própria autoridade (geralmente o Estado).
Assim, as reivindicações dos grupos sociais frente ao Estado consistem em verem
formalmente reconhecidas suas formas particulares de organização social, onde são
construídas regras jurídicas que guardam maior concordância com a realidade dinâmica e
específica da qual fazem parte, e que o Direito tem dificuldade de assimilar devido ao seu
caráter universalizante (VIERIA, 2006).

O direito consuetudinário também pode ser um elemento de auto organização de povos que
não possuem Estado. Como exemplo podemos citar o povo curdo (Revolução de Rojava) -
a maior nação do mundo sem Estado -, o qual não teve um Estado reconhecido após a
dissolução do Império Otomano ao final da 1ª Guerra Mundial, e hoje ocupa territórios da
Armênia, Azerbaijão, Irã, Iraque, Síria e Turquia.

Ressalta-se que mesmo em sociedades que apresentam o direito positivado,


também é possível se admitir o uso do direito consuetudinário como mecanismo de
interpretação daquele, objetivando resolver um caso concreto quando há alguma lacuna na
lei estatal (desde que a norma costumeira esteja perfeitamente adequada aos pressupostos
legislativos).

Em termos históricos, o Império Romano influenciou profundamente no direito


consuetudinário, especialmente dos povos germânicos. Após a desintegração do Império,
as leis germânicas foram pouco a pouco redigidas em latim (percebeu-se a importância da
lei escrita para a manutenção da estabilidade do grupo social). Essa simbiose entre as leis
germânicas e as do Império Romano deu origem à construção do Sistema Romano-
Germânico de Direito - a Civil Law (PALMA, 2019 p.383-5).

Entre os séculos XVI e XVII o direito tornou-se cada vez mais escrito (resultado direto do
fortalecimento dos Estados), passando-se a dar redação oficial para a maior parte das
regras costumeiras (MACIEL; AGUIAR, 2019 p. 371).

REFERÊNCIAS

MACIEL, J. F. R.; AGUIAR, R. Manual de História do Direito. São Paulo: Saraiva, 2019. E-
book.

PALMA, Rodrigo Freitas. História do Direito. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2019. E-book.

VIEIRA, Judith Costa. Direito consuetudinário: distinções e implicações no campo jurídico.


XV Congresso Nacional do CONPEDI - Manaus: de 15 a 18 de Novembro de 2006. ISBN:
978-85-87995-80-3. Disponível em
<http://www.publicadireito.com.br/conpedi/manaus/arquivos/anais/manaus/
estado_dir_povos_judith_costa_vieira.pdf>. Acesso em 27/10/2021.

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