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Direito e história têm uma relação marcadamente próxima, portanto, no que diz respeito aos fatos

registrados durante o desenvolvimento da ciência jurídica, que integra a grade curricular de inúmeros
cursos da área do conhecimento jurídico espalhados pelo Brasil, evidenciando a influência exercida por
um sobre o outro . Nesse sentido, história jurídica e história humana são complementares, e muitas
vezes a primeira se torna a segunda, pois as mudanças observadas na sociedade são, na verdade,
mudanças no direito, mostrando a estreita ligação entre história e direito.

Por esse fato inerente à ciência jurídica, a história, como parte do currículo, é considerada de
fundamental importância para a formação dos futuros operadores do direito, pois a história imbui o direito
de seus fatos inerentes. , estabelece com ele uma relação dialética, levando à constatação de que a
compreensão do direito penetra na compreensão do meio social em que o direito foi feito.

O estudo e a compreensão da ciência jurídica baseia-se na história do direito na medida em que tenta
compreender os processos evolutivos e as constantes mudanças registradas pela civilização humana no
processo histórico de diferentes povos e até diferentes culturas, perspectivas jurídicas, razão pela qual o
direito pode ser definido como um comum A ciência da vida.

A História do Direito necessita, concomitante ao exame da legislação mais antiga, realize diligências
sobre os documentos históricos do mesmo período, recorrendo a fontes jurídicas possíveis, tais como
contratos, sentenças judiciais, obras doutrinárias, além de fontes não jurídicas propriamente ditas, cartas
e outros documentos, em razão de, conforme já registrado, ser o Direito fruto da sociedade, o que enseja
que as produções sociais sirvam de elementos para que a História do Direito seja transmitida ao longo
do tempo.

Em termos generalistas, não há como se falar em História do Direito, particularizando a questão,


considerando que a expressão que deve ser usada seria histórias dos direitos, haja vista que cada forma
de direito manifestada possui uma história, a qual é diversificada e distinta em cada núcleo social,
desvelando e retratando as estruturas basilares da mesma. (NASCIMENTO, 2008).

Segundo estudos realizados sobre a história sócio-antropológica e mesmo historiográfica do Direito,


encontram-se tradições culturais inseparavelmente ligadas e particulares de cada núcleo social,
registrando exercícios rituais aplicados à solução de conflitos, e de regulação das relações sociais e das
relações das pessoas com os elementos essenciais da estrutura social, sem levar em conta a priori, o
aspecto formal, ou seja, se codificadas ou não, se escritas ou não. (AZEVEDO, 2005)

Segundo Pedrosa (2006), o que existe em termos de História não é universal, mas sim, a retratação das
diferentes histórias das civilizações e povos que já habitaram a Terra, cada uma contada da maneira
particular de cada povo, além de possuir modo próprio de registrar a história dos outros, o que leva à
conclusão de que, se a História do Direito tem íntima relação com a História da Humanidade, tem-se
condições de afirmar a não existência de uma História do Direito, mas vertentes diversificadas que
tratam as diferentes Histórias do Direito.
Assim, a História do Direito pode ficar limitada a disposições nacionais ou regionais, situação em que
contem registros históricos de povos que se identificam pela mesma linguagem ou tradições culturais,
circunstância que tornaria mais fácil o estudo da História desse Direito, em razão da existência de
elementos semelhantes que permitiriam aprofundar esse estudo. Esta assertiva pode ser exemplificada
com a referência à História do Direito Romano e suas instituições, ou, ainda, do Direito Português, de
formas de aplicação do Direito como a common-law, do Direito Brasileiro, abordando o Direito por
intermédio de correntes de pensamentos ou de ideias.

A importância significativa da História do Direito romano e de suas instituições pode ser visualizada ao se
estudar a tradição europeia continental, o que, também, é possível perceber em relação ao Direito Latino
Americano. Entretanto, no que diz respeito ao Direito Norte Americano, sente-se com mais ênfase a
tradição anglo-americana da common-law. Da mesma forma, ao se pesquisar as Histórias do Direito dos
povos de tradição islâmica, apreende-se que não levam em conta as tradições já referenciadas,
sentindo-se que entre eles tem prevalência estreita relação com a História da Religião, o que é
compreensível, dado que, também a religião, da mesma maneira que o Direito, tem sua origem radicada
nas relações humanas. (CASTRO, 2007).

Comparando-se as diferentes escolas jurídicas, constata-se que estas influenciam cada sociedade ou
região, o que leva à conclusão de não haver possibilidade de se atribuir classificação como arcaico,
incompleto ou retrógrado, a nenhum sistema jurídico, haja vista que cada um deles é resultante do grupo
social que o criou ou adotou, significando que esse ordenamento é o que melhor soluciona os conflitos e
regula as relações naquela comunidade, num dado momento. (AGUIAR e MACIEL, 2007)

Analisando-se o Direito como resultado das interações entre os seres humanos, chega-se à conclusão
de que, no momento em que houver um contato mais próximo entre os componentes de um dado grupo
social, ai serão utilizadas normas de convivência, que são o germe do Direito, haja vista não ser possível
se conceber ciência jurídica, direito, costume, sem que o substrato básico desse pensamento sejam as
relações entre seres humanos.

A definição da lei se verifica no âmbito do Direito positivo, personificado na linguagem e dotado de poder
absoluto. Assim sendo, o direito do povo antecede à formalização da lei, haja vista ser esse direito o seu
conteúdo, conferindo-lhe eficácia e eficiência. Assim, entende-se que a lei se configura no órgão do
direito do povo, entendimento confirmado pela concepção de Savigny quando afirma que o jurista tem
como objeto de ocupação a convicção comum do povo, isto é, o “espírito do povo”, fonte de onde se
origina o Direito, atribuindo sentido histórico ao Direito, evidenciando como Direito e sociedade evoluem
juntos, em uma relação mútua de influência e transformação, um refletindo o anseio do outro.

Ainda que houvesse grupo social no qual o mais forte era quem detinha o poder, neste havia, também,
uma norma que regulava, e até condenava as relações então existentes, demonstrando, dessa forma,
que o Direito, ou um sistema jurídico, não é algo isolado, característica que direciona para uma relação
complexa com outras ciências e com os mais diversos elementos que compõem o corpo social,
posicionamento esse que se harmoniza com a manifestação de Wolkmer (2006), quando afirma:

Trata-se de pensar a historicidade do direito, no que se refere à sua evolução histórica, suas ideias e
suas instituições, a partir de uma reinterpretação das fontes do passado sob o viés da
interdisciplinaridade (social, econômico e político) e de uma reordenação metodológica, em que o
fenômeno jurídico seja descrito sob uma perspectiva desmistificadora.

A segunda questão é mais simples, configurada no questionamento sobre a possibilidade de se estudar


o Direito sem conhecer as suas origens. Nesse caso, considera-se patente que, para se estudar o
Direito, é fundamental que se conheça sua origem e evolução ao longo do tempo, forma pela qual se
pode chegar a compreender o estágio atual. Mas, para se evitar incorrer no erro corriqueiro de pensar o
Direito tão somente como norma positivada ou codificada, eis que ele está inserto nas relações
humanas, independentemente delas serem mais ou menos complexas. Assim sendo, Direito não é
apenas norma escrita, sendo qualquer regra de convívio que pauta a relação entre indivíduos.

Assim, a partir das considerações tecidas, chega-se à conclusão de que a origem dos sistemas jurídicos
são as relações entre os indivíduos, cuja complexidade depende da complexidade das interações sociais
que ocorriam, entendimento alicerçado na assertiva de Wolkmer (2006, p. 2) de que: “Certamente que
cada povo e cada organização social dispõem de um sistema jurídico que traduz a especialidade de um
grau de evolução e complexidade.”
Concluindo, considera-se que não se deve classificar um sistema jurídico de arcaico, devido este não
dispor sobre relações complexas, ou, por não ter uma complexidade no seu conteúdo, dado que ele é
reflexo de uma sociedade, por isso não poderia refletir ou prever algo que, socialmente, não existia.
Nesse sentido, não é possível se conceber um sistema de leis não consubstanciado nas relações
sociais, pois o direito antes de tudo é norma para regular a relação entre os indivíduos, e destes com os
elementos naturais.

Do que foi explanado, entende-se que a História do Direito, na condição de fonte de informação, deve
abranger não só as leis escritas, ou sistemas jurídicos que tiverem uma positivação, não devendo, nem
mesmo, fazer um certo juízo de valor a respeito dos conjuntos de leis mais antigas, que foram reflexo do
seu tempo e da complexidade que a sociedade que as gerou ou adotou atingiu, constituindo-se, portanto,
em soluções e regramentos para as suas relações. Dessa forma, não deve sofrer uma valoração, mas
sim, serem estudadas com o afã de se buscar as relações sociais inerentes a todo o direito.

Portanto, a História do Direito deve incumbir-se de “ler” o Direito, distinguindo e correlacionando suas
mudanças com as transformações sofridas pela sociedade, estando alerta para os seus elementos
formadores, e como eles interferem e influenciam o mundo jurídico, buscando perceber se os
ordenamentos passados foram suficientes, ou melhor, se as premissas postas por estes ordenamentos
contemplavam a complexidade de suas sociedades.

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