Você está na página 1de 6

A escola histórica de Friedrich Carl Von

Savigny

Publicado por Camila Machado

1. INTRODUÇÃO

Friedrich Carl von Savigny (fevereiro de 1779 – outubro de 1861) – foi um dos mais
respeitados e influentes juristas do século XIX.

Em 1795, Savigny entrou na Universidade de Marburg para estudar Direito, após, freqüentou
diversas universidades, notadamente a Universidade de Jena, a de Leipzig, a de Göttingen e a
de Halle; e retornou a Marburg, onde se doutorou em 1800.

O nosso trabalho diz respeito à Escola Histórica desenvolvida por Friedrich Carl Von
Savigny. O trabalho tem o propósito de analisar as principais características da Escola
Histórica, bem como os antecedentes, conseqüências e as influências sobre as outras escolas
da interpretação.

Preliminarmente, concluímos a partir de nossas pesquisas que a Corrente Histórica coincidiu


com os movimentos nacionalistas, historicistas e irracionais. Essa corrente teve Savigny
como seu principal representante.

Savigny era contra a codificação e acreditava que o Direito era um organismo vivo, pois o
povo vai modificando o Direito e a sua fonte será fundamentalmente o costume do povo.
Desse modo, a escola histórica desenvolvida por Savigny, valorizou muito a história e o
costume de um povo.

2. ESCOLA DA EXEGESE - ANTECEDENTES E INFLUÊNCIAS À ESCOLA


HISTÓRICA

Sob nome de “Escola da Exegese” entende-se aquele grande movimento nascido na França
que, no transcurso do século XIX, sustentou que na lei positiva, e de maneira especial no
Código Civil, já se encontra a possibilidade de uma solução para todos os eventuais casos ou
ocorrências da vida social. A escola surge sombra do código de Napoleão.

Esta Escola valorizava ao extremo o código, dizendo que ele era perfeito e jamais precisaria
ser modificado, pois as leis foram formuladas de forma correta. Dizia, por exemplo,
Demolombe que a lei era tudo.

Os fundamentos da Escola eram: o dogmatismo do legislador, isto é, a estrita fidelidade a


vontade do legislador; a lei como única fonte do Direito, pois os estudiosos de tal escola não
acreditavam em costumes, analogia ou princípios gerais do direito como fonte do Direito; e o
estado como detentor do monopólio de produzir o Direito.

1
Ela deve ser lembrada por valorizar os estudos da Hermenêutica e por proporcionar um
avanço inegável a tais estudos. Outro elogio também deve ser feito, pois ela também
descobriu que uma norma poderia ser utilizada para vários outros casos.

Seu declínio ocorreu durante o início do Século XIX, com a Revolução Industrial, pois houve
um desajuste entre a lei codificada no início do século, e a vida com novas facetas e novas
tendências. Além disso, a escola sofreu problemas com a sua “plenitude legal”, uma vez que
a todo instante apareciam novos problemas dos quais os legisladores do Código Civil não
haviam cogitado.

2.1. QUADRO COMPARATIVO (EXEGESE X HISTÓRICA)

Enquanto a Exegese valorizava ao extremo o código, a escola Histórica acreditava que as leis
representavam uma realidade histórica, e por isso o significado da lei era mutável e não fixo.
Além disso, a escola histórica defendia que o resultado do Direito advinha do Espírito do
povo (“volksgeist”), isto é, os costumes de um povo, já a Escola da Exegese não se baseava
nos costumes para a formação do Direito.

3. CENÁRIO POLÍTICO DA ALEMANHA NO SECULO XIXA Alemanha foi


um dos países europeus que mais tardiamente formulou um Código Civil, em razão
não apenas do ambiente cultural existente, mas também devido à sua fragmentação
territorial.

Sua situação político-social era obviamente bem diversa da francesa, de modo que
a defesa de princípios como o da igualdade formal entre todos os cidadãos, era uma
postura bastante inovadora para uma sociedade que ainda manifestava
características feudalistas, como a distinção da população entre nobreza, burguesia
e campesinato.

A Alemanha encontrava-se em uma época juridicamente primitiva, na qual o


direito estava ainda em vias de formação. Em uma época de declínio cultural a
codificação jurídica que refletia o pensamento naquela época, poderia ser danosa
por firmar ainda mais uma cultura já decadente.

A Alemanha na época era atrasada e sua economia era essencialmente baseada em


uma agricultura de baixa produtividade, aonde a tecnologia praticamente não
existia, o que acabou por gerando crises de escassez contínuas entre a população.

Sendo a Inglaterra o berço do industrialismo, era uma nação politicamente e


economicamente destacada por sua doutrina liberal e que, pela sua soberania,
conduzia as demais nações de acordo com o seu interesse a fim de ditar as regras
de sua política econômica.

Nesse contexto, o que era válido para a Inglaterra não necessariamente deveria ser
para os alemães.

2
Portanto, pode-se afirmar que a Alemanha encontrava-se em grande fragmentação
política (Prússia, Baviera e assim por diante) e particularismos regionais.

4. A ESCOLA HISTÓRICA

Foi desenvolvida por Savigny (discípulo de Gustav Hugo), no século XIX, na


Alemanha, a qual se encontrava em grande fragmentação política e particularismos
regionais.

A escola histórica do direito surgiu em contra-movimento ao pensamento


jusnaturalista racional, ou seja, se opunha ao jusnaturalismo iluminista, que tinha
como base o pensamento de que o direito é um fenômeno independente do tempo e
do espaço, cujas bases seriam encontradas na razão e na natureza das coisas.

A escola histórica acreditava que o direito nasceria do “espírito do povo”


(Volksgeist) e que a essência da norma jurídica estaria contida nos usos, costumes
e nas crenças dos grupos sociais e, procurava compreender o direito e não apenas
reconhece-lo. Para Savigny, o direito teria suas origens “nas forças silenciosas e
não no arbítrio do legislador.

Para Savigny, que era contra a codificação, “Os códigos eram a fossilização do
direito”, ou seja, a codificação era o engessamento do direito, impedindo as forças
históricas e a consciência coletiva para “acompanhar” o ordenamento jurídico,
portanto, para Savigny a codificação seria prejudicial à evolução do direito.

O direito, na visão de Savigny era um organismo vivo e se modificaria de acordo


com as modificações sociais e históricas, ou seja, “o povo modifica o direito”.

Por conseguinte pode-se afirmar que a escola histórica obteve sucesso em


“derrotar” o movimento jusnaturalismo iluminista, o qual se opunha. A escola de
Savigny foi de suma importancia para alemanha, pois demonstrou um vínculo
entre o direito válido e as correntes sociais, econômicas, intelectuais e políticas, a
escola histórica do Direito demonstrou também, que as ordens jurídicas são
produtos culturais.

4.1. A BATALHA ENTRE THIBAUT E SAVIGNY - KODIFIKATIONSSTREIT

Para o filósofo Thibaut a Alemanha estava há muitos séculos paralisada, e os


alemães estavam separados por um labirinto de costumes heterogêneos. Por esse
motivo, uma codificação civil se apresentaria como uma forma de unir todo o país,
fugindo das regras do direito natural e dando maior segurança jurídica ao povo.

Esse pensamento polêmico expremia a posição da chamada “escola filosófica do


direito”, e provocou especialmente em Savigny uma posição contrária, a qual
também foi devidamente exteriorizada.

3
Para sustentar seu pensamento, Thibaut enunciava a importância de normas
jurídicas claras e precisas, e que regulassem todas as relações sócias, e isso só seria
possível com uma legislação geral, ou seja, uma codificação propriamente dita,
significando um impulso decisivo à unificação da Alemanha.

Finalmente, para Thibaut não seriam esquecidos os princípios do direito natural,


absolutamente tradicional, mas a codificação traria a necessária segurança jurídica.

Savigny, por seu turno, adotou uma posição contrária a de Thibaut, não quanto a
ser contrário a uma codificação do direito em geral, mas devido ao momento
histórico particular em que se encontrava a Alemanha. Entendia Savigny que um
novo sistema jurídico deveria ser adotado em um tempo em que houvesse
maturidade na Alemanha, inclusive nos aspectos culturais.

Na realidade, essa maturidade jamais seria alcançada. Savigny acreditava que a


codificação agravaria e até mesmo perpetuaria os males da Alemanha, e defendia a
adoção das fontes do direito, especialmente o direito natural, como base de
controle social.

Para Savigny, portanto, a única forma de reverter a decadência jurídica instalada na


Alemanha estava em promover um direito científico mais rigoroso, através do
trabalho dos juristas, como meio de equilíbrio entre o direito popular e o direito
legislativo, este último representado pela codificação.

Instaurada a polêmica, Thibaut acabou tendo sua tese vencedora, com a


promulgação do BGB (Livro de Leis do Cidadão).

5. A ESCOLA HISTÓRICO-EVOLUTIVA - SURGIMENTO E INFLUÊNCIAS

A Escola Histórico-Evolutiva surgiu logo após a Escola Histórica. Sendo seu


surgimento influenciado pelo da Escola Histórica, essa defendia que o verdadeiro
direito residia nos usos e costumes e na tradição popular e que não deveria existir
um código. Contudo, a outra, atribuía ao intérprete um papel importante, esse
manteria o direito sempre atual, de acordo com as exigências sociais, e essa escola
defendia que deveria existir um código.

Depois da batalha entre Savigny e Thibaut, vencida por Thibaut, houve o


surgimento da chamada escola histórico-evolutiva, que manteve muitas
características da escola histórica, como por exemplo, se basear nos usos e
costumes para criação das leis e visar também a tradição popular, porém a escola
histórico-evolutiva não apresentava soluções para os casos apresentados.

5.1. QUADRO COMPARATIVO (HISTÓRICA X HISTÓRICO-EVOLUTIVA)

4
A escola histórica, de Savigny, era completamente contra a codificação, dizendo
que os códigos eram a fossilização do direito, já a escola histórico-evolutiva
acreditava na codificação, defendia que deveria existir um código, porém a leis
nele poderiam ser modificadas quando necessário, portanto a escola histórica se
opunha a escola da exegese, enquanto a escola histórica evolutiva combateu o
formalismo da escola exegética, utilizando alguns pressupostos da escola histórica.

6. CONCLUSÃO

Diante de todo o exposto, vale lembrar que a escola de Savigny apontou de uma
maneira positiva que os Códigos envelhecem e que o Direito é uma realidade viva.
Isto é, diante da frase de Savigny, “Os Códigos são a fossilização do Direito”,
percebemos, mais uma vez, a valorização dos costumes, pois para ele o costume é
a fundamentação do Direito, sendo este modificado a todo o momento pela
evolução social.

Desse modo, concluí que a Escola Histórica desenvolvida por Savingy foi um
grande avanço nas escolas da interpretação, pois destacou o vínculo que existe
entre o Direito e as correntes sociais, econômicas, intelectuais e políticas da
sociedade, demonstrando, desse modo, que as ordens jurídicas são produtos
culturais, ou seja, espelham as estruturas sociais dos grupos a que servem e, ao
mesmo tempo, são resultados dessas estruturas sociais. Além disso, a Escola
Histórica foi de suma importância para o surgimento e desenvolvimento de outras
escolas da interpretação.

7. REFERÊNCIAS:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Friedrich_Carl_von_Savigny

http://direitoemdebate.net/index.php/direito-civil/138-as-teorias-de-
savignyeiheringea-natureza-juridica-da-posse

http://ofogodavontade.wordpress.com/2007/04/13/o-direito-contra-as-abstraccoes-
universalistas-fk-von-savignyea-escola-historica-do-direito/

http://pt.wikipedia.org/wiki/Escola_Hist%C3%B3rica_do_Direito

http://pt.wikipedia.org/wiki/Escola_historicista_alem%C3%A3

http://arthurlacerda.wordpress.com/2007/04/21/justnaturalismoeescola-historica/

http://pt.scribd.com/doc/6792179/Escola-Historica

http://www.arcos.org.br/livros/hermeneutica-juridica/capitulo-iiiopositivismo-
normativista/2-do-historicismo-ao-conceitualismo-savigny/

5
http://www.oocities.org/flavioriche/Savigny.htm

Você também pode gostar