Você está na página 1de 30

CONCEITOS BASILARES

DAS CIÊNCIAS SOCIAIS


UNIDADE III
CIÊNCIAS SOCIAIS E TEORIA ANTROPOLÓGICA
Elaboração
Aline Sabbi Essenburg

Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
SUMÁRIO

UNIDADE III
CIÊNCIAS SOCIAIS E TEORIA ANTROPOLÓGICA....................................................................................................................... 5

CAPÍTULO 1
A CIÊNCIA ANTROPOLÓGICA E SUA ESPECIFICIDADE NO CAMPO DAS CIÊNCIAS SOCIAIS.......................... 5

CAPÍTULO 2
OS DESENVOLVIMENTOS CIENTÍFICOS OCORRIDOS NO SÉCULO XIX................................................................. 10

CAPÍTULO 3
CULTURALISMO NORTE-AMERICANO............................................................................................................................... 13

CAPÍTULO 4
ANTROPOLOGIA BRITÂNICA.................................................................................................................................................. 17

CAPÍTULO 5
DEFINIÇÃO E CRÍTICAS AO EVOLUCIONISMO CULTURAL......................................................................................... 22

REFERÊNCIAS................................................................................................................................................26
4
CIÊNCIAS SOCIAIS E
TEORIA ANTROPOLÓGICA
UNIDADE III

Capítulo 1
A CIÊNCIA ANTROPOLÓGICA E SUA ESPECIFICIDADE NO
CAMPO DAS CIÊNCIAS SOCIAIS

A Antropologia caracteriza-se como o estudo dos seres-humanos como seres biológicos,


sociais e culturais, sob diversos vieses. De acordo com Lévi-Strauss (1970, p. 377), a
etnologia corresponde “aos primeiros estágios da pesquisa: observação e descrição,
trabalho de campo”. Já a etnografia seria “um primeiro passo em direção à síntese” e a
antropologia “uma segunda e última etapa da síntese, tomando por base as conclusões
da etnografia e da etnologia”. A Antropologia, portanto, toma as conclusões valendo-se
de ambos os métodos, assim, pode ser compreendida como uma maneira de conhecer
a diversidade cultural e compreender o que é o homem a partir do outro.

A antropologia abarca o estudo do homem enquanto um ser cultural, o investiga no tempo


e no espaço (origens, desenvolvimento, diferenças e semelhanças), assim, se interessa
pelo estudo do comportamento humano, adquirido por meio do aprendizado social.
Enquanto compreende a variedade de ações/produções culturais em cada contexto, auxilia
sobremaneira na erradicação de preconceitos e no respeito à diversidade. Atualmente,
ela está imersa em importantes debates sobre questões internacionais e nacionais, a
exemplo da mediação entre os indígenas e o Estado.

1.1. Evolução e Cultura


Não podemos deixar de lembrar que a antropologia surgiu como um viés da sociologia,
objetivando compreender as diferenças étnicas. Mas ambas eram direcionadas para o
entendimento do capitalismo industrial. Cabe ainda observar que durante as colonizações
– no século XV –, países como Portugal, Espanha e Inglaterra justificavam a dominação
de suas colônias pautados na crença do “atraso” e no paganismo dos povos. Na ocasião,
navegantes fizeram registros, tidos como antropológicos, de uma era tida como pré-
científica, ou seja, quando a disciplina ainda não havia sido edificada, somente alinhavada

5
UNIDADE III | Ciências Sociais e Teoria Antropológica

(nesta seara estavam os escritos de Caminha, Hans Staden, Jean de Léry e Debret). Já
no século XIX, os povos europeus não podiam mais justificar suas ações teologicamente,
mas de modo científico, momento em que aparecem as pesquisas sociais que propunham
analisar e classificar as diferentes etnias. Entretanto, o olhar etnocêntrico vigorava
inicialmente. De todo modo, a antropologia caminha para a análise da cultura dos
homens e se volta para o passado, a fim de compreender as suas ações.

Edward Burnett Tylor e Herbert Spencer lideraram os estudos da antropologia


evolucionista, pautada na teoria de Charles Darwin. Se alguns animais se desenvolveram
biologicamente, ficando mais aptos ao meio, o mesmo era aplicado aos povos e suas
culturas, denotando em uma visão etnocêntrica, acreditavam os pesquisadores. Dessa
maneira, existiam raças superiores a outras, assim como culturas superiores e inferiores,
tendo como referência a europeia. Esta aferição, feita pelos darwinistas sociais ou
evolucionistas, justificaria a dominação. Separamos um capítulo posterior para mais
informações a respeito da referida temática.

A linguagem também é alvo de investigação, denotando a Antropologia Linguística.


Ela dá ênfase para a língua falada e suas manifestações em cada época, afinal, é a
linguagem que possibilita formalizar o conhecimento científico por meio de seus
signos linguísticos. Assim, a língua é uma manifestação cultural.

A Antropologia eclodiu como disciplina investigativa na Alemanha, França e Inglaterra,


entretanto, já observamos nos gregos o interesse por inspecionar os homens com mais
afinco. Mesmo que Heródoto (484 – 424 a.C.) tenha sinalizado o comportamento como
o fundamento da pluralidade e diversidade entre os sujeitos, ainda não se formou ali
uma tradição de ideias e escolas antropológicas, diferente da filosofia.

O contato com o Novo Mundo foi aos poucos também interferindo nas estruturas da
religião e da filosofia (acreditava-se que os índios e escravos não possuíam alma). Uma
nova maneira de apreender o mundo se instaurava, pautado na ciência e reacendendo
indagações que servem de estrutura para antropologia: os povos com os quais agora os
europeus entraram em contato participam da humanidade?

Jean Jacques-Rousseau elaborou um discurso sobre o bom selvagem, amplamente


presente na literatura romântica. Las Casas e Sepulvera ainda cunharam o binômio
bom selvagem/mau civilizado e mau selvagem/bom civilizado. No século XX podemos
ver esses termos serem substituídos por países desenvolvidos e subdesenvolvidos.

No século XVIII, o homem passou a se conceber não somente como sujeito do


conhecimento, mas também como objeto dele. Inicialmente a antropologia vai investigar
as chamadas longínquas sociedades primitivas, entretanto, quando começa o processo
de aculturação, o advento tecnológico e capitalista, a antropologia que recém se edificava

6
Ciências Sociais e Teoria Antropológica | UNIDADE III

indaga a existência de seu objeto e o redefine, primeiramente passando o foco para os


camponeses, em seguida, saindo dele e demarcando os princípios que comporão o ofício
antropológico (QUEIROZ; SOBREIRA, 2016):

I. desnaturalização do social;

II. estranhamento; e

III. aceitação de que a unidade do homem é plural.

Os três elementos interagem entre si, inferindo que a compreensão do homem se inicia
quando há a alteridade. Conforme nos explicam Queiroz e Sobreira (2016, p. 34), “ao
longo do tempo a atribuição de outro a um grupo, a uma sociedade dependeu de forma
restrita do grau de poder de quem está classificando para imputar a designação de outro
àquele que não está incluído no mesmo sistema político e religioso de governo”. No
século XX, a antropologia se solidifica com base em fortes conceitos (dentre os quais
está o homem), em um saber teórico amparado em metodologias e na diferença. Assim,
há conceitos, epistemologia, problemática e indução.

De fato, o método indutivo vigorou no lugar do dedutivo, de modo que são reconhecidas
as múltiplas identidades, as diferenças culturais, políticas, sociais e econômicas. Ao
invés de se estudar um homem específico, a antropologia procurou pela compreensão
das condições históricas e demais variáveis que interferem nas relações de causa e efeito.

De todo modo, tanto a teoria da evolução quanto o conceito de cultura desmantelaram


a noção de natureza sagrada dos homens. Cabe ainda enfatizarmos que as ciências
sociais (humanas) caminharam para o lado oposto das ciências naturais, afinal, “A
ordem da natureza, dizia-se, está submetida ao reino do determinismo, é o universo da
necessidade: mantendo-se constantes as condições, o mesmo fenômeno reproduzir-se-á
indefinidamente” (MELLO, 1982). Leis e teorias explicativas são claramente cunhadas
pelas ciências da natureza, entretanto, há criatividade, liberdade, movimentos espontâneos
na humanidade, sem uma rigidez determinista.

1.2. Raça e Gênero


Joseph Arthur de Gobineau (1816 – 1882) foi expoente a discorrer sobre raças, sobretudo a
respeito da superioridade da raça branca. As teorias raciais objetivavam justificar a ordem
social sob o imperialismo. Até a Segunda Guerra Mundial, esse conceito foi amplamente
utilizado, mas os estudos científicos que tratavam da diferenciação entre os povos
provaram que as diferenças genéticas de um mesmo grupo (com características físicas
semelhantes) eram as mesmas que existiam entre os que possuíam diferentes fenótipos.

7
UNIDADE III | Ciências Sociais e Teoria Antropológica

A partir de então, a ideia de raça caiu em desuso, tendo em vista que, biologicamente,
não há raças específicas, mas inúmeras variações entre os seres humanos.

Sergio Danilo Junho Penha e Telma de Souza Birchal contestaram o termo raça no
trabalho intitulado A inexistência biológica versus a existência social de raças humanas:
pode a ciência instruir o etos social? Disponível em:

https://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/13479/15297.

Teóricos comungam que a palavra raça é, portanto, socialmente edificada e utilizada em


estudos que abordam problemáticas tangentes à diferença, ou melhor, ao valor atribuído
por um grupo a alguma características físicas. Esta categorização pelas suas qualidades
biológicas relaciona-se com a desigualdade e alguns outros fenômenos sociais. Cabe
enfatizar que, diferente da raça, a qual equivocadamente estava atrelada aos traços
biológicos, a etnicidade refere-se ao social, ou seja, às construções culturais de um
grupo, à sua identidade. Mas isso não quer dizer que ela seja inalterada, pelo contrário,
há a tentativa de manter as tradições e memórias, mas há a sujeição às mudanças do
circundante.

O termo gênero é costumeiramente utilizado nas ciências sociais objetivando a ênfase ao


caráter cultural das diferenças entre homens e mulheres. Marcel Mauss (1872 – 1950) e
Margaret Mead (1901 – 1971) já sinalizavam que algumas condutas não se relacionavam
à natureza das pessoas, mas aos diversos processos culturais e sociais.

Entre os anos 1920 e 1930, na Europa e na América do Norte, as mulheres lutaram


contra as desigualdades, fato que culminou no pensamento feminista de 1960, que
questionava o caráter natural das subordinações, afirmando ser este fruto do que fora
edificado socialmente. O corpo passou, então, a ser a causa fundamental das opressões
e desigualdades. Nas décadas pós-60, destacam-se Betty Friedam (1921-2006) e Bell
Hooks (1952) nas discussões acerca de gênero, colocando a dominação masculina como
histórica, política e universal.

As feministas inglesas e estadunidenses se apoderaram da expressão “gênero”, a qual


foi pioneiramente empregada por Robert Stoller (1924-1991) durante um Congresso em
Estocolmo, em 1963. Na ocasião, o psicanalista fez uso do vocábulo para diferenciar cultura
e natureza, apresentando ‘identidade de gênero’ como o conceito social, distinguindo a
sexualidade natural e inscrito no corpo fisiológico.

Gayle Rubin é a antropóloga responsável pelo clássico ensaio O tráfico de mulheres: notas
para uma economia política do sexo (1975) e passou a ser uma referência para a causa
feminista e para a antropologia. A partir das leituras de Freud, Lacan e Lévi-Strauss, ela
elaborou o conceito “sistema sexo/gênero” como um composto de esquemas moldados

8
Ciências Sociais e Teoria Antropológica | UNIDADE III

pela interferência social, os quais se refletem na matéria prima biológica da procriação


e do sexo humano. O fundamento conceitual para a preservação desse sistema consiste
no constrangimento da sexualidade feminina, o tabu do incesto e a heterossexualidade.
Cabe ainda enfatizar que Rubin assentou sua análise no princípio da igualdade marxista.

Mais tarde, pesquisas antropológicas se debruçaram em observações de contextos


particulares nos quais o foco estava nos processos sociais que estruturam a diferença entre
os sexos, almejando refletir e questionar, epistemologicamente, uma suposta subordinação
da mulher. A obra Nature, culture and gender? a critique, de Carol MacCornack, realça a
oposição natureza/cultura. Segundo MacCornack, essa dicotomia é um espelhamento de
crença cultural intrínseca e não uma propriedade absoluta. Sendo assim, para a autora, é
mister ponderar o conceito de dominação, pois existe uma arbitrariedade nas definições
do que seja macho e fêmea e, também, no que se refere às concepções de natureza e
de cultura. Marilyn Strathern, em sua obra No Nature, no Culture: the Hagem case
(1980), segue a mesma linha de raciocínio para utilizar a etnografia na Melanésia, mais
especificamente no monte Hagen, e apresenta a impossibilidade de aplicar definições
ocidentais em culturas diversas, pois, entre os Hagen, encontrou conceitos divergentes
para as relações homens/mulheres e natureza/cultura.

O ensaio de Joan Wallace Scott inaugura um novo paradigma teórico quanto ao gênero
analisado universalmente, e o insere em classe de exame relacional e dinâmico. Em
Gênero: uma categoria útil para a análise histórica (1986), a autora subentende gênero
como categoria histórica que possibilita a reflexão acerca dos conceitos de homens e
mulheres oriundos de conceitos sociais em suas origens. A autora apresenta a ideia de
que nenhuma vivência física pode ser entendida distante do desenvolvimento histórico
e social. Com Judith Butler, temos que a totalidade dos corpos é sexuada, generificada
e racializada através de um sistema ordenado de discursos reiterados. Gênero se define
mais como “O ato de fazer do que de ser”.

Não deixe de ler Fundamentos Antropológicos, disponível em:

https://issuu.com/nildatereza/docs/239746772-fundamentosantropologicos.

9
Capítulo 2
OS DESENVOLVIMENTOS CIENTÍFICOS OCORRIDOS
NO SÉCULO XIX

Com a ascensão do imperialismo (controle político e econômico sobre terras estrangeiras)


nos séculos XVIII e XIX, os europeus passaram a ter um contato cada vez maior com
outros povos ao redor do mundo, despertando um novo interesse no estudo da cultura. As
nações imperialistas da Europa Ocidental – como Bélgica, Holanda, Portugal, Espanha,
França e Inglaterra – estenderam seu controle político e econômico às regiões do Pacífico,
Américas, Ásia e África.

O crescente domínio do comércio global, das economias capitalistas (orientadas para o


lucro) e da industrialização na Europa do final do século XVIII levou a grandes mudanças
culturais e convulsões sociais em todo o mundo. As indústrias europeias e as ricas classes
de elite de pessoas que as possuíam procuravam terras estrangeiras exóticas em busca
de fontes de trabalho e bens para a manufatura. Além disso, os europeus mais pobres,
muitos dos quais foram deslocados de suas terras pela industrialização, tentaram
construir novas vidas no exterior. Vários países europeus assumiram a administração
de regiões estrangeiras como colônias. 

Os europeus receberam um montante de novas informações sobre os povos estrangeiros


encontrados nas fronteiras coloniais. As nações colonizadoras também queriam explicações
científicas e justificativas para seu domínio global. Em resposta a esses desenvolvimentos,
e por interesse em novas e estranhas culturas, os primeiros antropólogos amadores
formaram grupos em muitos países da Europa Ocidental no início do século XIX, que
posteriormente tornou-se profissional.

As sociedades antropológicas se dedicaram a estudar cientificamente as culturas de


territórios colonizados e inexplorados. Os pesquisadores encheram museus etnológicos
e arqueológicos com coleções obtidas nos novos impérios da Europa por exploradores,
missionários e administradores coloniais. Médicos e zoólogos, agindo como antropólogos
físicos, mediram os crânios de pessoas de várias culturas e escreveram descrições
detalhadas de suas características.

No final do século XIX, os antropólogos começaram a assumir posições acadêmicas em


faculdades e universidades. As associações antropológicas também se tornaram defensoras
do trabalho dos antropólogos em cargos profissionais, promovendo o conhecimento
antropológico por seu valor político, comercial e humanitário. A antropologia moderna
surgiu junto com o desenvolvimento e a aceitação científica das teorias da evolução
biológica e cultural. No início do referido século, uma série de observações científicas,

10
Ciências Sociais e Teoria Antropológica | UNIDADE III

especialmente de ossos desenterrados e outros vestígios, como ferramentas de pedra,


indicaram que o passado da humanidade havia coberto um período de tempo muito
maior do que o indicado pela Bíblia (Criacionismo).

Em 1836, o dinamarquês Christian Thomsen propôs que três longas eras de tecnologia
precederam a era atual na Europa: Idade da Pedra, Idade do Bronze e Idade do Ferro. O
conceito de idade tecnológica de Thomsen se encaixa bem nas opiniões do geólogo escocês
Sir Charles Lyell, que propôs que a Terra era muito mais antiga do que se acreditava,
ademais, já havia passado por vários estágios.

Foi, de fato, um período crucial para a humanidade. Invenções que dependiam de


meios recentemente aproveitados de colocar eletricidade, aço e petróleo em uso
estimularam o crescimento de ferrovias e navios a vapor, e transformaram tudo, da
agricultura à manufatura. Foi a era das máquinas-ferramentas – ferramentas que
faziam ferramentas e máquinas que faziam peças para outras máquinas, incluindo peças
intercambiáveis. O século XIX trouxe a linha de montagem e deu origem à noção de um
cientista profissional. Na verdade, a palavra “cientista” foi usada pela primeira vez em
1833 por William Whewell. Invenções incluindo o telégrafo, a máquina de escrever e o
telefone levaram a meios de comunicação mais rápidos e mais amplos.

O que ocorria na sociedade influenciou também no conceito de cultura que, ao final


do século XIX, se uniu ao sentido de civilização, considerando a articulação do projeto
europeu de imperialismo, atrelado à produção capitalista em ascensão nas comunidades
fora da Europa. Assim, a antropologia como disciplina, em termos históricos, surgiu pela
oposição entre o entendimento de cultura vista como sinônimo de civilização assentada
na tradição iluminista francesa, e a visão de cultura surgida na tradição romântica alemã.

Neste sentido de civilização, o conceito está presente nas pesquisas de Edward Burnet
Tylor, na Inglaterra; Henry Morgan, nos Estados Unidos e James George Frazer, também
na Inglaterra. O interesse era que a disciplina partisse de uma perspectiva evolucionista
para reconstruir as origens, a história. Nitidamente esse conceito elabora um conceito
universal e etnocêntrico. Em outra perspectiva a tradição romântica alemã apresenta a
definição de cultura relacionada aos valores nacionais que se opõem às forças do progresso.

Nos Estados Unidos a antropologia surgiu com o artigo: As limitações do método


comparativo em antropologia social, do livro Raça, linguagem e cultura no ano de
1896, de autoria de Franz Boas. Cultura se apresenta como particularidade, o todo
absorvido harmonicamente para a manutenção social. E o pensamento evolucionista
de Herbert Spencer e a seleção natural de Charles Darwin estabelecem a Antropologia
como disciplina científica no final do século XIX.

11
UNIDADE III | Ciências Sociais e Teoria Antropológica

Assim, ela ganha espaço na era vitoriana, após as guerras napoleônicas e políticas
expansionistas da Grã-Bretanha; sendo que as teorias freudianas e de Einstein também
direcionaram para a abertura do pensamento. O relativismo cultural, outrora rechaçado
pelos pesquisadores do século XIX se enfatizaram com a filologia germânica e os estudos
das línguas indo-europeias. Ademais, as campanhas neocolonialistas auxiliaram a
expansão dos trabalhos antropológicos.

É importante também identificar três outras tendências de pensamento que influenciaram


todas as ciências sociais: positivismo (apelo à ciência), humanitarismo e teoria evolucionista.
O apelo positivista da ciência podia ser visto em toda parte; houve a institucionalização
desse ideal. O grande objetivo era lidar com valores morais, as instituições e todos os
fenômenos sociais por meio dos mesmos métodos fundamentais que podiam ser vistos na
física e na biologia. Anterior a isso, nenhuma distinção muito clara tinha sido feita entre
filosofia e a ciência, e o termo filosofia era até preferido por aqueles que trabalhavam
diretamente com materiais físicos, buscando leis e princípios à maneira de Newton
ou Harvey, ou seja, os profissionais hoje denominados cientistas. Cabe enfatizar que o
impacto de A Origem das Espécies, de Darwin, publicado em 1859 fomentou inúmeras
pesquisas científicas e contribuiu para a especificidade das disciplinas.

12
Capítulo 3
CULTURALISMO NORTE-AMERICANO

O culturalismo norte-americano vigorou nos anos de 1930, pautado na metodologia


comparativa, à procura da normatividade (padrões) no caminhar das culturas; assim,
foca nas relações entre a cultura e a personalidade. Franz Boas, Margaret Mead e Ruth
Benedict são grandes expoentes.

Franz Boas se opunha ao método dedutivo, defendendo a indução empírica e objetivando


o não enquadramento de fenômenos a conceitos que não lhes eram concernentes. Ele
fez a análise de costumes análogos entre tribos próximas, traçando paralelos tendo em
vista o contexto social sob o viés histórico e geográfico. Boas, assim, elucidou o conceito
de cultura de maneira plural e integrada, segundo determinadas regiões culturais, para,
depois, cunhar leis e possíveis generalizações teóricas.

Benedict e Mead seguiram Boas em seus estudos de culturas particulares a partir da


década de 1920, de acordo com a ideia de cultura como transmitida em gênese e a
formação da personalidade dada na relação entre o sujeito e seu grupo. Benedict publicou
Padrões de Cultura em 1934, no qual trata das configurações das feições das culturas para
entender seu papel na definição a personalidade. No ano seguinte, Sexo e Temperamento
é publicado por Mead, apresentando a relação existente entre o temperamento e os
diversos papéis sexuais no que concerne aos padrões dominantes.

Acesse o link abaixo e confira um documentário de Mead:

https://goo.gl/SbMweA.

3.1. Franz Boas


Boas se interessa pelos estudos culturais (cerca de 1883) após a leitura de O Ramo de Ouro,
de James Frazer. Assim, participa de uma Expedição na Ilha do Baffin, que objetivava
estudar a relação do espaço físico com os hábitos de migração dos esquimós. Após um
ano, o antropólogo se torna incrédulo das causalidades geográficas nas orientações
genéticas e se volta para a cultura, ou seja, para as tradições, costumes e migrações
segundo preceitos históricos e psicológicos de cada povo.

Houve uma verdadeira mudança na prática antropológica a partir dos conceitos de


Franz Boas (1858 – 1942). Pioneiro em seu método, iniciou suas pesquisas no final do
século XIX, particularmente entre os Kwakiutl e os Chinook de Columbia Britânica,
no Canadá. Conduzia suas investigações a partir de uma visão científica atualmente
denominada microssociológica.

13
UNIDADE III | Ciências Sociais e Teoria Antropológica

Segundo Boas, no trabalho de campo, toda e qualquer informação deve ser registrada
detalhada e meticulosamente, seja a matéria-prima usada nas construções de moradias
e alimentos, as notas das melodias proferidas ou as diversas versões de um mito.

O referido antropólogo procura mostrar que os costumes somente possuem significados se


estiverem relacionados com seu contexto, ideia esta já indicada por Morgan e Montesquieu,
quando proferiram sobre a totalidade das relações sociais e seus constituintes serem o
foco a se debruçar. Entretanto, Boas sugere que, para entender o lugar exato em que um
costume reside, não se deve recorrer a investigadores ou hábitos da metrópole. Sendo
assim, somente o antropólogo consegue fazer esse trabalho, ou seja, abarcar de modo
científico uma microssociedade, apreendendo-a em sua totalidade e a considerando em
sua autonomia teórica. Observador e teórico compreendem, portanto, em um mesmo
sujeito, fazendo surgir uma verdadeira etnografia que não mais simplesmente coleta
elementos, mas detecta a unidade cultural que se manifesta/expressa por meio deles.

Boas ainda afirma que não existem objetos nobres ou aqueles que não são dignos de uma
investigação científica; assim, também devem ser escutadas as vozes dos mais humildes.
Neste viés, ele cunha a etnociência e coloca como sendo de extrema importância conhecer
a língua da cultura a ser estudada. Se Boas tinha a preocupação com os pormenores e a
precisão descritiva, também o tinha sobre a conservação do patrimônio. Inclusive, ele
foi conservador no Museu de New York e formou a primeira geração de profissionais
americanos: Kroeber, Lowie, Sapir, Herskovitz, Linton, Benedict e Mead. Dentre seus
alunos também estava Gilberto Freyre, expoente da sociologia e antropologia brasileiras,
que deslocou a discussão em torno da identidade nacional que se pautava em questões
raciais, para a cultura.

3.2. Margaret Mead


Margaret Mead focou seus estudos nas maneiras como as culturas ratificam hábitos
segundo a socialização infantil. Sendo assim, realizou pesquisas na Melanésia acerca
de vivências geracionais e comportamentos cunhados socialmente para jovens meninos
e meninas.

Em Adolescência, Sexo e Cultura em Samoa, ela investiga a Ilha Tau, e mostra que seus
jovens não têm as mesmas vivências e ciclos geracionais que os da América do Norte.
Na Ilha, a adolescência não recebe a denominação como sendo um momento especial da
vida, com mudanças psíquicas e corporais, assim, os sujeitos passam por esse momento
sem grandes angústias. Ademais, as moças tinham uma certa liberdade sexual, não
permitida após o casamento.

14
Ciências Sociais e Teoria Antropológica | UNIDADE III

Em suas pesquisas na Melanésia acerca de homens e mulheres, denominada Sexo


e Temperamento, Mead faz a comparação entre três sociedades e verifica que os
temperamentos femininos e masculinos não se vinculam a determinantes biológicos.

Ao descrever os Arapesh (residentes nas montanhas), os Mundogumor (nos rios) e os


Tchambulli (nos lagos), povoados da região do rio Sepik, ela sinaliza que os primeiros
(tanto homens quanto mulheres) atuavam sensível e amavelmente; os segundos eram
agressivos, enquanto nos terceiros ocorria um comportamento contrário ao esperado
pelos ocidentais, assim, as mulheres eram dominadoras e os homens, submissos. Mead,
assim, nega a determinação biológica e enfatiza os hábitos culturais repassados na
socialização que ocorre desde a infância.

A antropóloga ainda indica que em toda comunidade há os chamados desajustados


culturais (sujeitos em dissentimento aos valores), mas se o comportamento de gênero
é apreendido (não inato) e não se manifesta igualmente em todas as culturas, a própria
socialização também não ocorre homogeneamente. Assim, uma sociedade deveria,
segundo Mead, edificar padrões que privilegiam as inúmeras personalidades, justamente
para que não haja os que não se adequam à cultura. A sociedade, portanto, se pautaria
nas diferenças reais dos sujeitos ao invés de nas arbitrárias.

Apesar de consideráveis críticas ao determinismo biológico, os estudos de Mead


também foram alvo de duras considerações pelo fato de ela ter se valido de intérpretes
e de sua perspectiva relativista, tendo em vista que, mesmo que estejam invertidos,
existem padrões ocidentais verificados.

3.3. Ruth Benedict


Ruth Benedict, em Padrões de Cultura, separa uma seção especialmente para alertar o
leitor sobre a cegueira a que somos acometidos diante de outras culturas, ou seja, ela nos
atenta sobre o etnocentrismo. Postura esta adotada por antropólogos contemporâneos
e levou a disciplina a discutir o relativismo cultural enquanto método de observação
no trabalho de campo, no qual há mais compreensão do que análise diante do objeto
investigado. Ela fala:

Interessa para o antropólogo a vasta gama de costumes que existem em


culturas diferentes, e o seu objeto é compreender o modo como essas
culturas se transformam e se diferenciam, as formas diferentes por que se
exprimem, e a maneira como os costumes de quaisquer povos funcionam
nas vidas dos indivíduos que os compõem (BENEDICT, 1934, p. 13).

15
UNIDADE III | Ciências Sociais e Teoria Antropológica

Ocorre, assim, a edificação de um olhar que relativiza a cultura, ao invés de fazer


enquadramentos muitas vezes distorcidos/estereotipados. Aqui há flexibilidade analítica
e compreensão das dinâmicas dentro dos contextos, reconhecendo as peculiaridades de
cada grupo, ou melhor, passa a vigorar um movimento que procura entender a cultura
e seus sujeitos por meio do seu circundante, não mais segundo conceitos. A visão de
cultura de Benedict é dinâmica e totalizadora.

16
Capítulo 4
ANTROPOLOGIA BRITÂNICA

Durkheim influenciou sobremaneira a primeira geração de antropólogos, sobretudo


a escola britânica, com Radcliffe-Brown e Malinowski. Evans-Pritchard, marcando a
segunda geração, conseguiu conciliar de maneira eficaz teoria e metodologia, modelo
que teve continuidade nos trabalhos de Mary Douglas e demais pesquisadores da terceira
geração.

Durkheim discorreu sobre a teoria das representações coletivas (símbolos), tendo-


as como comuns aos grupos, tendo em vista que eles seriam socialmente edificados,
portanto, considerados reais assim como o mundo material. Segundo ele, é no âmbito
religioso que essas representações se fortalecem e possibilitam a coesão social, por isso
o ritual ganha ênfase, modo também pelo qual o homem se liga com o sagrado. De todo
modo, a inevitabilidade de compreensão dos costumes e dos símbolos de outros povos
fomentou muitas pesquisas da antropologia inglesa do começo do século XX. Assim,
Durkheim é tido como o fundador do estruturalismo-funcionalista, desenvolvido depois
por Radcliffe-Brown.

Na época da Primeira Guerra Mundial, a Antropologia se consolidava com Franz Boas


(EUA), Marcel Mauss (França), Malinowski e Radcliffe-Brown (Inglaterra). Cabe enfatizar
que todos lutavam em prol do rompimento com os parâmetros evolucionistas, a exemplo
de Morgan e Tylor.

Na França, os estudos de povos não europeus de Durkheim, foi à abertura


que Maus encontrou para fundamentar sua entrada acadêmica e dar
continuidade à obra de seu tio. Nos Estados Unidos da América, Boas
encontrou respeito na transição acadêmica e se tornou ponto de referência
na antropologia. Na Inglaterra, porém essa transição acabou ocorrendo
com mais força – sendo vista como uma revolução intelectual e ruptura,
diferente da França e Estados unidos da América onde uma visão de
continuidade vigorou – já que a influência dos evolucionistas foi criticada
por Malinowski e Radcliffe- Brown (MAIA, 2014, p. 43).

4.1. O Funcionalismo de Malinowski


Malinowski tem um olhar holístico, em que há um entrelaçamento do todo sincrônico.
Sua obra Os Argonautas do Pacífico Ocidental, publicada logo depois da Primeira
Guerra Mundial, é tida como uma grande revolução na área antropológica, constando ali
suas principais qualidades teóricas e metodológicas. Malinowski descreve o sistema de
comércio de Kula e a relação entre demais instituições de habitantes da ilha de Melanésia
(sistema político, economia doméstica, parentesco, posição social).

17
UNIDADE III | Ciências Sociais e Teoria Antropológica

O kula é, portanto, uma instituição enorme e extraordinariamente


complexa, não só em extensão geográfica mas também na multiplicidade
de seus objetivos. Ele vincula um grande número de tribos e abarca em
enorme conjunto de atividades interrelacionadas e interdependentes
de modo a formar um todo orgânico (MALINOWSKI, 1978, pp. 71-72)

No período de dois anos (entre guerras), o antropólogo esteve dentre os Tobriand,


acarretando um estudo sistemático e em pormenores, denominado observação participante
(participar ao máximo das atividades cotidianas dos “nativos”). Esse método é relevante,
pois concebe fidelidade e veracidade, dispensando intérpretes (fato nocivo ao trabalho).
A observação participante cunhou um novo manancial para o trabalho etnográfico, tendo
em vista que todos os detalhes e especificidades, seja da produção seja até mesmo dos
conflitos, deveriam ser registrados, de modo a descortinar o universo multifacetado e
complexo, indo em um caminho oposto aos evolucionistas.

Malinowski sugere que os estudos e análises sejam feitos pautados na interrelação,


sendo assim, seu funcionalismo – diverso do durkheimiano – coloca o sujeito como o
objetivo do sistema, ao invés de a sociedade, afinal, todo organismo institucional existe
para os cidadãos.

Por décadas, a referida teoria foi acusada de ser uma espécie de individualismo
metodológico, entretanto, ela retorna com Radcliffe-Brown, que defende sobremaneira
a importância do olhar do nativo (campanha denominada anti-histórica). Malinowski
acreditava ser um funcionalista, embora ele tenha sido reconhecido como o fundador
das ideias estruturais-funcionalistas (ERIKSEN, 2007, p. 58).

O antropólogo concebia o sujeito como o fundamento da sociedade, ou seja, o seu


criador; enquanto que para o estrutural-funcionalista, ele era visto como um fenômeno
da sociedade. Ambas as teorias foram tidas como opostas, até que Evans-Pritchard as
unificou de modo inovador.

Para o polonês nascido em 1884, o comportamento dos povos “primitivos” não


é nem incoerente nem irracional, apenas incompreendido, necessitando que o
investigador busque a lógica para tais comportamentos. A preocupação central do
autor é a preservação da especificidade de cada cultura, pois só assim é possível
entender o comportamento de realidades diferentes das nossas.

Cabe ao pesquisador compreender o nexo para o comportamento dos povos primitivos, pois
não há que se julgar que seja irracional nem incoerente. É preservando as particularidades
culturais que se alcança o entendimento das culturas que diferem das nossas.

18
Ciências Sociais e Teoria Antropológica | UNIDADE III

No período entre guerras, dois teóricos tiveram grandes atuações, “enquanto


Malinowski preparava seus alunos para irem a campo e procurarem as motivações
humanas e a lógica da ação, Radcliffe-Brown pedia aos seus que descobrissem
princípios estruturais abstratos e mecanismos de integração social” (ERIKSEN,
2010, p. 59).

4.2. Radcliffe-Brown e o estrutural-funcionalismo


Como um estrutural-funcionalista, Radcliffe-Brown concebia os homens como produtos
da sociedade, seguindo as ideias de Durkheim. Suas pesquisas iniciais acerca dos
habitantes das ilhas Andaman foram tidas como difusionistas, depois de adentrar as
ideias durkheimianas, e se direcionaram para a etnografia. Foi nas ilhas de Andman que
ele começou a coletar dados para a elaboração de sua tese. A versão final foi intitulada
The Andaman Islanders e examina a organização social, as cerimônias, crenças e mitos
dos habitantes da ilha. É aqui que o autor inclui dois conceitos básicos da antropologia:
o de significado e o de função social.

Radcliffe-Brown estava à procura das representações coletivas de Durkheim, tendo em vista


que, para ele, há estruturas coletivas independentemente dos protagonistas individuais.
Ademais existem instituições justamente porque elas podem manter o social. Morgan,
um de seus seguidores passou a conceber o parentesco como o mote da organização
social em grupos menores. Esse sistema de parentesco foi relacionado como o parentesco
tido como sistema jurídico em Malinowski (interação social complexa essencial para a
estrutura da sociedade, contendo direitos e deveres). Assim, os estrutural-funcionalistas
“passaram a estudar outras instituições em sociedades primitivas: política, economia,
religião, adaptação ecológica e etc” (ERIKSEN, 2010, p. 60), em que o parentesco teria
a função de verificar como as corporações e grupos se organizam e funcionam.

Os anos de 1940 foram frutíferos para o estrutural-funcionalismo, quando Radcliffe-


Brown e Evans-Pritchard focaram nos mecanismos e nos fundamentos que estruturavam
as sociedades, momento que o primeiro pesquisador considerou o parentesco como o
sistema motor de grupos “primitivos”.

4.3. A etnografia de Evans-Pritchard


Evans-Pritchard propôs um efetivo diálogo entre a teoria e a prática (trabalho de campo),
conciliando, respectivamente, Radcliffe-Brown e Malinowski. Ainda desenvolveu uma
original e particular edificação intelectual a partir do funcional-estruturalismo, em
direção da “função para o significado” (TEIXEIRA, 2010, p. 126). Em suma, a observação
participativa e os relatos que demonstram a estrutura foram unidos para realizar uma

19
UNIDADE III | Ciências Sociais e Teoria Antropológica

“abstração estrutural na análise etnográfica, que só Evans-Pritchard souber relacionar


e fazer” (KUPER, 1999, p. 89)

Às vezes ouço dizer que qualquer pessoa pode observar e escrever um


livro sobre um povo primitivo. Talvez qualquer pessoa possa, mas
não vai estar necessariamente acrescentando algo à antropologia. Na
ciência como na vida só se acha o que se procura. Não se podem ter
respostas quando não se sabe quais são as perguntas. Por conseguinte,
a primeira exigência para que se possa realizar uma pesquisa de campo
é um treinamento rigoroso em teoria antropológica, que dê as condições
de saber o que e como observar, e o que é teoricamente significativo. É
essencial percebermos que os fatos em si não têm significado. Para que
o possuam devem ter certo grau de generalidade. É inútil partir para
campo as cegas (EVANS-PRITCHAD, 1962, p. 243).

Em um primeiro estágio de sua teoria, Evans-Pritchard procura pelo entendimento


da sociedade e suas tradições em um nível complexo, com o foco nas qualidades mais
salientes. Isto feito, é necessário traduzir para a cultura do antropólogo (ponto alvo de
críticas por parte de alguns comentadores). No segundo estágio, o autor indica analisar/
decodificar as formas/estruturas subjacentes da cultura. Cabe lembrar que não é possível
visualizar de modo imediato essa estrutura; assim, demanda que o pesquisador relacione
“logicamente essas observações entre si de forma que venham a compor um modelo,
torna-se possível ver a sociedade em seus elementos essenciais, como um todo” (EVANS-
PRITCHARD, 1962, p. 23). Finalmente, dá-se o terceiro estágio, quando o pesquisador
compara as estruturas sociais de diferentes grupos, explícita ou implicitamente.

Em Bruxaria, Oráculos e magia entre os Azande, a feitiçaria é vista tanto como uma
espécie de segurança (válvula de escape) – que coloca os conflitos sociais como inócuos,
sustentando a interação social – quanto modo de compreender o mundo do outro de forma
coerente. Verificamos com isso, a tentativa de não desconsiderar os sistemas complexos e
racionais de um grupo, estes só passíveis de entendimento se inseridos nos acontecimentos,
sem cisões. Alguns comentadores vão dizer que sua análise estrutural-funcionalista vai
reduzir a feitiçaria em as funções sociais e outros (DOUGLAS, 1980) vão dizer que Evans
vai ver a feitiçaria como “produtos sociais em toda a parte” (ERIKSEN, 2007, p. 89). No
entendimento de alguns analistas, a abordagem essencialmente funcionalista reduz a
feitiçaria em funções sociais e, ainda outros, dirão que Evans compreende a feitiçaria
como “produtos sociais em toda a parte” (ERIKSEN, 2007, p. 89).

Já em Os Nuer, o antropólogo pesquisa a organização política patrilinear do povo Azande.


Tinha o interesse em saber como seria possível uma estrutura política grande neste povo
sem Estado, sem a centralização da liderança. O livro é o relato da sua prática com essa

20
Ciências Sociais e Teoria Antropológica | UNIDADE III

sociedade, e o pesquisador apresenta, no último capítulo, um olhar de tal estrutura


política similar à de Radcliffe-Brown. 0.

Os ritos mágicos não formam um sistema coerente e não há nexo entre


um rito e outro. Cada um é uma atividade isolada de modo que eles todos
não podem ser descritos de forma ordenada. [...] Com efeito, ao considerá-
los juntos conferi-lhes uma unidade por abstração que não possuem na
realidade. Espero ter persuadido o leitor de uma coisa — da consistência
intelectual das noções Azande. Elas só parecem inconsistentes se dispostas
como se fossem objetos inertes de museu. Quando vemos como um
indivíduo as emprega, podemos dizer que são místicas, mas nunca que
são acionadas de forma ilógica ou acrítica (EVANS-PRITCHARD,1992,
p. 225).

Em sua perspectiva não reducionista, a autora pretende demonstrar que o sistema


religioso não é autônomo. Ao contrário, ele é bastante elaborado e categorizado em
hierarquias, sendo mais uma consequência que a causa.

Desse modo, ambas as obras demonstram modelos de análises e propósitos distintos,


entretanto, contêm problemáticas que passaram a ser clássicas na antropologia. No viés
de Malinowski, primeiramente Evans-Pritchard procura esclarecer o sistema de crenças
dos Azande (Sudão), o qual é dotado de coerência interna, qualificado para explicar a
existência humana e conceder soluções para os infortúnios diários. Em um segundo
momento, já no trabalho etnográfico sobre os Nuer, expõe os diálogos estabelecidos com
Meyer Fortes e Radcliffe-Brown, portanto, descreve “uma estrutura social que contém
em sua própria constituição a tensão entre grupos cuja “oposição segmentar” acaba
garantindo a manutenção do sistema como um todo” (MAIA, 2014, p. 47).

21
Capítulo 5
DEFINIÇÃO E CRÍTICAS AO EVOLUCIONISMO CULTURAL

Foi durante o período das relações entre colonizados e colonizadores que surgiu a teoria
do evolucionismo cultural, entre metade do século XIX e o início dos anos 1900. Afinal,
a fim de lograr êxito no empreendimento era necessário compreender as crenças e
estruturas sociais dos grupos, o que denota, de acordo com Thomas Peterson (2001),
entender as práticas sociais para que se pudesse administrá-las e explorá-las.

Para saber mais sobre as relações de poder que tangem a antropologia, sugerimos
a obra abaixo:

ABU-LUGHOD, Lila.  “Writing against Culture”. In R. Fox (ed.) Recapturing Anthropology.


Santa Fe: School of American Research, 1991. Disponível em (língua inglesa): http://
xcelab.net/rm/wp-content/uploads/2008/09/abu-lughod-writing-against-culture.pdf.

A teoria evolucionista clássica foi influenciada por Herbert Spencer, e postula que a
sociedade se desenvolve segundo a continuidade de estágios em um caminho unilinear.
Allan Barnard sugere que a referida teoria pode ser compreendida como “uma perspectiva
antropológica na qual enfatiza a crescente complexidade da cultura através do tempo”
(BARNARD, 2004, p. 15). Para os evolucionistas, as demais sociedades não europeias
são inferiores socialmente, mas podem alcançar o patamar “evoluído” com o passar
dos anos.

O que as diferentes culturas representavam para a teoria evolucionista


era um espelho de seu passado, ou seja, grupos distintos estavam em
uma escala evolutiva em vias de se tornarem como a sociedade europeia,
que, por se auto-determinar a sociedade mais evoluída, já havia passado
por todos os estágios culturais anteriores (SOILO, 2014, p. 253).

O pensamento desse período recaía sobre a unidade psíquica dos seres-humanos e


a noção de sobrevivência. Mesmo estando em defesa pela evolução cultura de modo
ascendente, os evolucionistas não criam na existência de desigualdades psíquicas entre
os sujeitos e civilizações, somente em unidade.

A ideia de sobrevivência, trabalhada por Edward Tylor tinha a finalidade de buscar uma
explicação de como algumas tradições de outrora – não compreensíveis pelas sociedades
“desenvolvidas – ainda vigoravam justamente nas civilizações contemporâneas. Essa
permanência, portanto, atestava a evolução cultural a partir da ligação que tinha com
o passado, tendo em vista que essas práticas mostravam o caminho traçado na linha
da evolução.

22
Ciências Sociais e Teoria Antropológica | UNIDADE III

[...] processos, costumes, opiniões, e assim por diante, que, por força do
hábito, continuaram a existir num novo estado de sociedade diferente
daquele no qual tiveram sua origem, e então permanecem como provas
e exemplos de uma condição mais antiga de cultura que evoluiu em uma
mais recente (TYLOR, 1871 apud CASTRO, 2005, p. 15).

O evolucionismo cultural valia-se do método comparativo, o qual consistia em encontrar


similaridades entre várias sociedades e fazer a comparação com a europeia, com o intento
de verificar em qual patamar da escala civilizatória o outro residia. As equivalências
também conferiam legitimidade à noção de sobrevivência, afinal, se existisse alguma
simetria entre os povos que estavam em diferentes estágios civilizatórios, fortificaria a
ideia de que o passado da Europa estava presente em outros grupos.

O método comparativo fundamentou a ideia de uma história unilinear


acreditando que fenômenos semelhantes se dariam no mundo em razão
de causas semelhantes, desconsiderando os processos históricos internos
de cada sociedade e mesmo negligenciando a investigação dessas causas.
Assim, toda a humanidade faria a mesma trajetória na história e as
mesmas causas naturais implicadas ao homem resultariam em efeitos
idênticos (SOILO, 2014, p. 254).

Esse método edificava-se segundo os relatos de missionários, viajantes e jesuítas, e a


credibilidade das descrições estava na parecença das falas/escritos entre eles, sobretudo
quando esses o faziam estando em regiões geográficas diferentes.

Lewis Morgan, autor de Systems of Consanguinity and Affinity of the Human Family,
abordou os sistemas de classificação de linhagens, no qual trata das correspondências
das sociedades asiáticas e os índios americanos em suas relações parentais. Morgan
também conectou as estruturas de propriedades e o desenvolvimento da sociedade,
fazendo, assim, uma relação com o surgimento da civilização. Tal abordagem acarretou
o interesse dos seguidores do marxismo em razão da equivalência com o materialismo
histórico. Cabe enfatizar que ele foi um dos poucos pesquisadores do século XIX que
conduziu a pesquisa de campo, sendo que esta ainda não estava metodologicamente
estruturada, fato que ocorreria somente em 1920 por Malinowski (BARNARD, 2004).

Morgan, como evolucionista, também compreendia a história humana como unilinear, ou


seja, todos os grupos sociais passariam pelos mesmos estágios, que para ele seriam três:
a selvageria, a barbárie e a civilização, respectivamente em ordem de desenvolvimento
social, atingindo o ápice na fase de civilização tendo a europeia como modelo.

23
UNIDADE III | Ciências Sociais e Teoria Antropológica

A obra Ancient Society influenciou o livro Friedrich Engels intitulada A Origem da


Família, da Propriedade Privada e do Estado, de Friedrich Engels.

Tylor se consagrou a pesquisar as leis naturais e as causas/efeitos considerando a


arbitrariedade do homem em momentos análogos, analisando os eventos para demonstrar
o evolucionismo e sua ordenação. Foi pioneiro na concepção da antropologia cultural
dando uma definição formal à cultura:

Cultura ou Civilização, tomada em seu mais amplo sentido etnográfico, é


aquele todo complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, lei,
costume e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem
na condição de membro da sociedade (TYLOR, 1871 apud CASTRO,
2005, p. 56).

As teorias seguintes à teoria evolucionista, portadoras de argumentos relativistas,


impuseram fortes críticas aos conceitos formais expostos acima. Especialmente pelo
fato de a civilização e a cultura serem abordadas como sinônimos. Tal definição entendia
que os grupos não civilizados seriam grupos sem cultura.

James Frazer, em sua única palestra O escopo da antropologia social (1908), preconizou
que a análise do homem comparativamente com fatos antropológicos acarretou leis
gerais acerca do pensamento do homem desde tempos remotos até a contemporaneidade.

É neste contexto, no qual o homem é categorizado relativamente à linha evolutiva que


a importância do nosso já conhecido Franz Boas se faz presente. Nascido na Prússia
em 1858, dedicou-se a física, filosofia, geografia e psicologia. Deslocou-se para os EUA
por causa dos conflitos antissemitas durante o governo de Bismark. Suas pesquisas
mais relevantes ocorreram junto aos Inuit, avivando seus pensamentos neokantianos.
Estudos mais elaborados se deram com disposição etnográfica entre as tribos do Kwakiut
(PETERSON, 2001, p. 50).

Divergindo dos evolucionistas, Boas cria que a sistematização das ciências sociais
precisaria se apoderar dos princípios das sociedades analisadas, afastando-se do modelo
eurocêntrico. O antropólogo também dissociava a existência ou ausência de cultura em
determinado grupo social em relação à correspondência com etapas civilizatórias, as
sociedades europeias. Afinal, para ele, civilização e cultura são conceitos diferentes entre
si, e cada grupo possuía suas particularidades às quais estavam submetidos.

24
Ciências Sociais e Teoria Antropológica | UNIDADE III

Precursor da antropologia norte-americana, seu legado é visto com um questionamento


profundo à forma com que o estudo sobre o homem em sociedade era feito, especialmente
dos pensamentos sobre raça. Em Raça e progresso (1930), Boas apresenta o tema racial
como uma construção social, desvinculando da questão biológica a pretensa superioridade
de grupos específicos sobre outros. De acordo com Trouillot (2003), Boas frustrou a
antropologia ao desvincular raça de cultura. Não existindo no plano biológico, existiria
no plano político e social como racismo. Nos EUA, existia a legislação que, juridicamente,
rebaixava quem tivesse qualquer nível de ascendência africana (o chamado one-droup
rule), e separar raça de cultura neste cenário levou a cultura a fracassar no seu contexto de
analisar as relações entre brancos e negros e suas desigualdades socialmente elaboradas.

Boas refuta o método comparativo e sugere o método histórico de investigação cultural que
ficou mais famoso com a denominação ‘particularismo histórico’. Para ele, fatores diferentes
poderiam proporcionar resultados iguais. Por outro lado, o etnólogo evolucionista Otis
Mason afirmava que as causas semelhantes, na natureza, geram consequências similares
(STOCKING JUNIOR, 2004).

O particularismo histórico censurou a forma arbitrária na qual se assentava o método


comparativo evolucionista. A questão do modelo eurocêntrico como balizador das demais
culturas também era visto como inadequado para análise cultural. Práticas parecidas
em sociedades diversas serem oriundas das mesmas causas deveriam ser investigadas,
mas não ser tomadas como ponto de partida. O abandono da reflexão sobre a história
de cada sociedade também era questionado. E, por fim, o método indutivo deveria se
sobrepor ao dedutivo.

A transmissão de significados influencia os indivíduos e, ao mesmo tempo, o grupo


do qual participam, onde um altera o outro e vice-versa, segundo a visão boasiana.
Da mesma forma, o encontro entre culturas pode modificá-las, ainda que de forma
limitada. No particularismo histórico, tem como objetivo antropológico a “tentativa
de compreender os passos pelos quais o homem tornou-se aquilo que é biológica,
psicológica e culturalmente” (BOAS, 1932 apud CASTRO, 2004, p. 88). Ao contrário do
evolucionismo, para o particularismo histórico as trajetórias devem ser relativizadas e
afastadas de um caminho uno, e devem ser analisadas particularmente.

25
REFERÊNCIAS

ABU-LUGHOD, Lila.  Writing against Culture. In: R. Fox (ed.) Recapturing Anthropology. Santa Fe:
School of American Research, 1991. Disponível em (língua inglesa): http://xcelab.net/rm/wp-content/
uploads/2008/09/abu-lughod-writing-against-culture.pdf. Acesso em: 25 mar. 2021.

ALESSANDRI, Ana Carlos. A cidade. São Paulo: Contexto, 1992.

ALMEIDA, G. A. et al. Direito internacional dos direitos humanos: instrumentos básicos. São
Paulo: Atlas, 2002.

ARISTÓTELES. Política. Editora da Universidade de Brasília, Brasília, 1985.

ARON, Raymond. As etapas do pensamento sociológico. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

ASSIS, J. Carlos de. A razão de Deus: ciência e fé, criacionismo e evolução, determinismo e liberdade.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012.

BAIARDI, Amilcar. Sociedade e estado no apoio à ciência e à tecnologia: uma análise histórica.
São Paulo: Hucitec, 1996.

BALDUS, Herbert. Ensaios de Etnologia Brasileira. São Paulo: Ed. Nacional, 1979.

BARNARD, Alan. History and Theory in Anthropology. Cambridge: Cambridge University Press:
2004.

BASTOS. Casa-grande & senzala. In: Introdução ao Brasil. Um banquete no trópico, 2004.

BENEDICT, Ruth. Anthropology and the Abnormal. The Journal of General Psychology, vol. 10,
nº1, 59-82, 1934.

BIRCHAL, T; KAUARK, P; MARQUES, M. Filosofia: proposta curricular. Secretaria de Estado de


Educação – Minas Gerais.

BOBBIO, N. A. Teoria das formas de Governo. Brasília: Ed. Universidade de Brasília, 1980.

BOBBIO, N. Filosofía y derecho en Norberto Bobbio. Madrid: Centro de Estudios Constitucionales,


1983.

BOBBIO, Norberto. O futuro da democracia. Tradução de Marco Aurélio Nogueira – São Paulo: Paz
e Terra, 2000.

BONAVIDES, P. Ciência política. 16. ed. São Paulo: Malheiros, 2009.

BRANDÃO, C. Vocação de Criar. Cadernos de Pesquisa, v.39, n.138, pp. 715-746, set./dez. 2009.

BRASIL. Lei n. 5.692, de 11 de agosto de 1971. Lei de Diretrizes e Base de 1971. Disponível em: https://
presrepublica.jusbrasil.com.br/legislacao/128525/lei-de-diretrizes-e-base-de-1971-lei-5692-71. Acesso
em: 26 mar. 2021.

BUCKINGHAM, Will. et al. O livro da filosofia. São Paulo: Globo, 2011.

BUSTAMANTE, Regina Maria da Cunha. Entre a cidade e o campo. Rio de Janeiro: Mauad. UFRJ.
leção Phoenix. 2002.

26
Referências

CANDIDO, Antonio. Prefácio. In: HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia
das Letras, p. 9 – 20, 1995.

CASTRO, Celso (Org.). Evolucionismo cultural: textos de Morgan, Tylor e Frazer. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 2005.

CASTRO, Celso (Org.). Franz Boas: Antropologia Cultural. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.

CHEVALIER, Jean-Jacques. As grandes obras políticas: de Maquiavel a nossos dias. Rio de Janeiro:
Agir, 1989.

CHEVALLIER, Jacques. O Estado Pós-Moderno. Tradução: Marçal Justen Filho. 1. ed. Belo Horizonte:
Editora Fórum, 2009.

CHINOY, Ely. Sociedade: uma introdução à sociologia. São Paulo: Cultrix, 1967.

CÍCERO, Marco Túlio. Coleção Os Pensadores: A República. São Paulo: Abril Cultural, 1973.

COMTE, Auguste. Sociologia como ciência enciclopédica. In: NETO, Nello Andreotti. Biblioteca de
sociologia geral. 1. Ed (vol. 1). Editora Rideel, 1976.

COSTA, Cristina. Sociologia: Introdução à Ciência da Sociedade. 3ª ed. São Paulo: Ed. Moderna, 2005.

CUCHE, Denys. A noção de cultura nas ciências sociais. Bauru: EDUSC, 1999.

DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do estado. 32. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.

DELUMEAU, Jean. A civilização do renascimento. Vol. I. Lisboa: Editorial Estampa, 1994.

DIAS, R. Ciência política. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2013.

DOUGLAS, Mary. Evans-Pritchard. Londres: Fontana Paperbacks, 1980.

EIDE, M. C. O pensamento vivo de Maquiavel. São Paulo: Martim Claret, 1986.

ERIKSEN. T. H. História da antropologia da religião. Editora Vozes, 2010.

EVANS-PRITCHARD, E.E. Essays in Social Anthropology, Londres: Faber, 1962.

EVANS-PRITCHARD. E. EVANS-PRITCHARD, E. E. Nuer religion. Oxford University Press, 1956. (trad.


Eduardo Viveiros). Em espanhol: La religión de los nuer. Barcelona: Anagrama, 1992.

FALCON, Francisco. “A identidade do historiador. Estudos Históricos. Rio de Janeiro, v. 9, n. 17,


pp. 7-30, 1996.

FERNANDES, Eusebio. Teoria de La Justicia y Derechos Humanos. Madrid: Editorial Debate, 1984.

FORACCHI. M. M.; MARTINS, J. S. Sociologia e sociedade: leituras de introdução à Sociologia. Rio de


Janeiro: LTC, 2004 [Original publicado em 1977].

FREIRE, Paulo. Educação e mudança. 7ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.

GADOTTI, Moacir. Diversidade Cultural e Educação para Todos. Rio de Janeiro: Editora Graal
Ltd., 1992.

27
Referências

GANEM, Angela. Karl Popper versus Theodor Adorno: lições de um confronto histórico. Rev. Econ.
Polit., São Paulo, v. 32, n. 1, pp. 87-108, Mar. 2012.

GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1989.

GERMANI, Gino. La Sociología em America Latina. Problemas y perspectivas. Buenos Aires:


EUDEBA, 1964.

GOMEZ, Ricardo P. ¿El capitalismo es insuperable?: crítica a la tesis del fin de la historia en la
versión de Hayek-Popper. Revista Herramienta, v. 9 n.29, pp. 89-101, junio 2005.

HOBBES, T. Do cidadão. São Paulo: Martins Fontes, 1992.

HOBBES, T. Leviatã, ou matéria, forma e poder de um Estado eclesiástico e civil. Tradução de


J. P. Monteiro e M. B. Nizza da Silva. 1a Edição em português. São Paulo: Abril Cultural, 1974.

HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 26.ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

KUPER, A. Culture: The Anthropologists’ Account. Cambridge e Londres, Harvard University Press, 1999.

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Maria de A. Sociologia geral. São Paulo: Atlas, 2010.

LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2005.

LÉVI-STRAUSS, Claude. Antropologia estrutural. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1970.

LOCKE, John. Segundo tratado sobre o governo In: Carta acerca da tolerância: Segundo tratado sobre
o governo e Ensaio acerca do entendimento humano. Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1989

MAIA, Cleiton Machado. Lords anthropologists - debate sobre a origem da teoria clássica britânica e suas
influências teóricas metodológicas na obra de Evans – Pritchard. In: Revista Digital Simonsen. Rio
de Janeiro, n.1, Dez. 2014.

MALINOWSKI, B. Argonautas do Pacífico Ocidental. São Paulo: Abril Cultural, 1978.

MALINOWSKI. B. Argonautas do pacifico ocidental. São Paulo: Editora Abril, 2° edição, 2005.

MAQUIAVEL, N. O Príncipe. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1983.

MARTINS, José Antônio. Da Politeia Mixis à Res Publica: notas sobre o regime misto no pensamento
antigo. In: MARTINS, José Antônio (org.). Republicanismo e democracia. Apresentação de Carla
Cecília Rodrigues Almeida, José Antônio Martins. Maringá: Eduem, 2010.

MELLO, Luiz Gonzaga de. Antropologia Cultural. Petrópolis: Vozes, 1982.

MILL, John Stuart. Da Liberdade. São Paulo: IBRASA, 1963.

MONTAGU, Ashley. Introdução à Antropologia. São Paulo: Cultrix, 1969

NETO, Nello Andreotti. Biblioteca de sociologia geral. 1. ed. vol. 1. Editora Rideel, 1976.

OLIVEIRA, Admardo Serafim. Introdução ao Pensamento Filosófico. São Paulo: Loyola, 1983.

PERRENOUD, P. et al. As competências para ensinar no século XXI: a formação dos professores
e o desafio da avaliação. Porto Alegre: Artmed, 2002.

28
Referências

PETERSON, Thomas. A Social History of Anthropology in the United States. New York: Berg, 2001.

PLATÃO. Diálogos. São Paulo: Abril Cultural, 1979.

POPPER, K. Autobiografia intelectual. 2. ed. São Paulo: Cultrix, 1986.

POPPER, K. O realismo e o objectivo da ciência. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1987.

POPPER, K. Realism and the aim of science. From the postscript to the logic of scientific discovery.
Edited by W.W. Bartley, III. New Jersey: Rowman and Liettlefield, 1983.

POPPER, Karl. Autobiografia Intelectual. Tradução de Leônidas Hegenberg e Octanny S. da Motta.


São Paulo: Cultrix, Ed. da USP, 1977.

PRZEWORSKY, Adam. Estado e economia no capitalismo. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1995.

QUEIROZ, P; SOBREIRA, A. Antropologia Geral. Sobral: INTA, 2016.

RADCLIFFE-BROWN. A. R. Estrutura e função na sociedade primitiva. Editora Vozes, 1973.

RAMOS, Graciliano. Memórias do Cárcere. São Paulo: Livraria Martins, 1969.

REIS, José Carlos. O Historicismo: a Redescoberta da História. Locus: Revista de História. Juiz de
Fora, v. 8, n. 1. jan.-jul. 2002.

RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das
Letras, 1995.

RITZER, George. Teoría sociológica clássica. 3ª ed. Madrid: McGraw-Hill, 1993.

SABINI, George H. História das Teorias Políticas. Rio de Janeiro: Editora Fundo de Cultura, 1961.

SANTOS, Nelson Pereira dos. O sonho possível do cinema brasileiro. Editora Nova Fronteira, 1987 a.

SARTORI, Giovanni. A política. Brasília: UnB, 1981.

SCHWARCZ, L; BOTELHO, A. Pensamento social brasileiro: um campo vasto ganhando forma. Lua
Nova Revista de Cultura e Política. no. 82, São Paulo,  2011.

SICERONE, D. El marxismo des-colonizado como detracción a la crítica de Popper al historicismo.


Venezuela: Collectivus Revista de Ciências Sociales.v. 2, n 2, 2015.

SOILO, Andressa Nunes. Do evolucionismo clássico ao particularismo histórico na antropologia:


principais ideias. Tessituras, Pelotas, v. 2, n. 1, pp. 251-261, jan./jun. 2014.

STOCKING Jr, George W. Os pressupostos básicos da antropologia de Franz Boas. In: Franz Boas: a
formação da antropologia americana 1883 – 1911. Rio de Janeiro: Contraponto e editora UFRJ, 2004.

STRAUSS, Leo; CROPSEY, Joseph. História da Filosofia Política. Rio de Janeiro: Forense, 2019.

STRECK, Lenio Luiz; MORAIS, José Luis Bolzan de. Ciência Política e Teoria do Estado. 7. ed. Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 2010.

TANURI, Leonor M. O ensino normal no estado de São Paulo: 1890-1930. São Paulo: Faculdade
de Educação da USP, 1979.

29
Referências

TAVARES, Júlia Meyer F. A Filosofia da Justiça na obra de Marco Túlio Cícero. Dissertação
(Mestrado em Direito). Programa de Estudos Pós-Graduados em Direito, Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo, São Paulo. 2012. TEIXEIRA. F. A sociologia da Religião. Editora Vozes, 3° edição, 2010

TOCQUEVILLE, Alexis de. Democracia na América. São Paulo: Nacional, 1969.

TROUILLOT, Michel-Rolph. Adieu, Culture: A new duty arises. In: Global Transformations:
anthropology and the Modern World. New York: Palgrave, 2003.

WALSH, W. H. Introdução à Filosofia da História. Tradução de Waltensir Dutra. Rio de Janeiro:


Zahar Editores, 1978.

WEBER, Max. Ciência e Política: duas vocações. São Paulo: Cultrix, 1970.

Sites
https://www.historiadahistoriografia.com.br/revista/article/view/1483. Acesso em: 24 mar. 2021.

https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-20702010000100005&script=sci_arttext. Acesso em: 25


mar. 2021.

https://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/13479/15297. Acesso em: 25 mar. 2021.

https://issuu.com/nildatereza/docs/239746772-fundamentosantropologicos. Acesso em: 25 mar. 2021.

https://goo.gl/SbMweA. Acesso em: 25 mar. 2021.

https://sagres.org.br/artigos/2.%20Reconstru%C3%A7%C3%A3o%20da%20Na%C3%A7%C3%A3o%20
no%20Brasil.pdf. Acesso em: 25 mar. 2021.

https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/2591278/mod_resource/content/1/CHIARAMONTE_JC_
metamorfoses_conceito_nacao.pdf. Acesso em: 25 mar. 2021.

https://youtu.be/97E7i4BM85s. Acesso em: 25 mar. 2021.

http://portal.mec.gov.br/component/tags/tag/32546 Acesso em: 25 mar. 2021.

https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/histedbr/article/view/8639868/7431. Acesso em: 25


mar. 2021.

https://goo.gl/sqAVQN. Acesso em: 24 mar. 2021.

https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-20702010000100005&script=sci_arttext . Acesso em:


24 mar. 2021.

http://portal.mec.gov.br/component/tags/tag/filosofia-e-sociologia-no-ensino-medio. Acesso em: 26


mar. 2021.

https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11684.htm. Acesso em: 26 mar. 2021.

30

Você também pode gostar