Você está na página 1de 3

Uma das suas lições consiste em afirmar que a descrição das ’realidades invisíveis’ de uma

cultura depende da compreensão da interdependência das suas instituições. É nos seminários


da London School of Economics, e mais exatamente a partir de 1926, que Malinowski
desenvolve o funcionalismo como sua ’marca distintiva’. Para fazer uma demonstração
teórica a partir de casos empíricos, utiliza quadros sinóticos. Mas além de estabelecer que
todos os elementos culturais, da família à sexualidade, da lei à economia e à política, estão
ligados entre si de forma integrada, a sua tese revela que a finalidade última desses elementos
é a satisfação de necessidades biológicas, para concluir enfim que o homem é um animal
cultural, que faz da cultura o instrumento adequado para responder a esses fins. Em qualquer
caso, o objetivo declarado de Malinowski ao elaborar a sua teoria funcionalista é descobrir
leis e regularidades subjacentes à vida social, o que supõe a existência de universais culturais.

Depois dos Argonautas, Malinowski publica Crime and Custom in Savage Society


(1926), um pequeno livro que descreve os mecanismos quasi-legais das ilhas Trobriand. O seu
olhar analítico sobre o ’poder coercivo da reciprocidade’ nas trocas quotidianas e a sua
utilização inovadora do método de compilação de casos concretos lançam as bases do que virá
a ser a antropologia jurídica e exercem uma influência duradoura. O seu contributo conceptual
para a antropologia é portanto detetável nos domínios do parentesco e do casamento, da magia
e da religião, da economia, da pragmática linguística e do direito comparado, em particular
nas sociedades ’sem códigos, sem tribunais e sem polícia’. Em Crime and Custom in Savage
Society, Malinowski põe de facto a tónica na função da lei, e não na forma, sem esconder ’o
lado sórdido da lei selvagem’.

Inspirado em Durkheim, propôs uma teoria funcionalista das instituições sociais. Era


uma teoria até simplista: para cada necessidade orgânica havia uma instituição sociocultural
que a satisfazia. Com essas instituições, uma dada sociedade funcionava em um idílico
equilíbrio. Indubitavelmente, sua apologia à observação-participante como método da
antropologia seria sua maior contribuição a essa ciência.Argonautas do
Pacífico  Ocidental(Abril Cultural, 1978) introduz a observação-participante como método
de pesquisa, discorrendo e escopo da etnografia. Descreve a geografia do arquipélago de
Trobriand e sua chegada às ilhas. Além de sua tão citada parte metodológica, o livro trata
do kula, a troca ritual entre os ilhéus. Retrata as viagens com as  canoas, a magia e as
cerimônias. Termina com um capítulo reflexivo sobre o significado do kula. Apesar de
recusar a se aventurar em especulações, esse clássico da antropologia fundamentou as
teorias do funcionalismo, da etnografia contemporânea e da antropologia econômica. Crime
and custom in Savage Society (1926) Crime e Costume na Sociedade Selvagem (UnB/
Imprensa Oficial do Estado, 2003). Demonstrou que entre os povos “primitivos” havia o
Direito e não meras instituições de tabus.

Em seu trabalho de campo nas Ilhas Trobriands, Malinowski buscava entender como


instituições culturais particulares funcionavam na manutenção do indivíduo diante de
situações de dificuldade. Malinowski apontava as necessidades fisiológicas do indivíduo
como as de reprodução, de alimentação, de proteção e as instituições sociais para acolher
essas necessidades. Além dessas necessidades, haveria quatro necessidades de ordem
cultural como a economia, o controle social, a educação e a organização política que
resultariam em instituições estáveis com um estatuto fundamentado em normas, atividades e
artefatos. O estudo do funcionalismo para Malinowski seria verificar as funções que esses
elementos ou fatos culturas possuíam tanto em relação com o indivíduo quanto com o todo
social

“A lei não é imposta por nenhum motivo indiscriminado, como o medo da punição
ou submissão geral a todas as tradições, mas por incentivos psicológicos e sociais muito
complexos”. (Pg. 18)

“É a soma de deveres, privilégios e reciprocidades que liga os sócios-proprietários


entre si e ao objeto. Assim, em relação ao primeiro objeto que atraiu nossa atenção – a
canoa nativa – encontramos a ordem, a lei, os privilégios definidos e um sistema de
obrigações bem desenvolvido”. (Pg. 23)

“Importância da simetria da estrutura social de uma tribo como uma forma legal
vinculante”. (Pg. 27)
“Nisso e em todas as diversas atividades da ordem econômica, o comportamento
social dos nativos está baseado num dar e receber bem-avaliado, sempre mentalmente
assinalado e no longo prazo equilibrado. Não há qualquer descarga indiscriminada de
deveres ou aceitação de privilégios, nenhum desprezo “comunista” de cálculo e
desigualdade. A maneira livre e fácil na qual as transações são feitas, as boas maneiras que
atravessam todas as coisas e cobrem quaisquer dificuldades ou maus ajustes tornam difícil
para o observador superficial ver o auto interesse aguçado e o cauteloso cálculo que
atravessa todas as coisas. ” (Pg. 28)

30/91

Você também pode gostar