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PENSAMENTO POLÍTICO

ANTIGO E MEDIEVAL
Ciência Política e Relações Internacionais · 3º ano · 1º semestre
Professor António Amaral · Ano Letivo 2023/24

RELATÓRIO II – ARISTÓTELES (POLÍTICA)


Palavras/ Conceitos-chave: Polis (Cidade-Estado); Politeia (Constituição); Propriedade
Privada; Autarkeia (Auto-suficiência); Oikos (Família); Koinimia (Comunidade Política)
Perguntas que a obra procura responder: Como deve ser uma cidade justa e bem
governada?; A Escravatura é justificável?; Qual a forma mais elevada de Comunidade?
Tópicos a abordar: Natureza da Política; Ética e Virtude; Justiça e Igualdade; Propriedade e
Economia; Tese da Escravatura;
Texto:
A obra "Política" de Aristóteles é um tratado filosófico clássico que oferece opiniões
profundas sobre a teoria política, a ética e a organização das cidades-estado gregas da
antiguidade.
Aristóteles acreditava que os seres humanos são “ZOON POLITIKON” (animais
políticos) por natureza, ou seja, têm uma inclinação inata para viver em comunidades
organizadas politicamente. Uma vez que todas as comunidades procuram um bem, a
comunidade mais abrangente e que engloba todas as outras deve procurar o maior bem de
todos. Essa comunidade é a “cidade”. A cidade-estado (polis) era vista como a unidade básica
da vida política, e a forma mais elevada de comunidade, onde os cidadãos compartilhavam
valores, leis e recursos em busca do bem comum. O autor critica ainda uma noção simplista (a
de que funções de governantes, reis, senhores de escravos, etc.. são essencialmente as mesmas),
considerando que há diferenças qualitativas fundamentais entre diversas funções. A natureza
leva as pessoas a unirem-se em cidades para atender às suas necessidades materiais, intelectuais
e morais. A procura pela autossuficiência é um reflexo da natureza humana e da necessidade
de uma vida boa. Daí que a cidade é anterior ao indivíduo, uma vez que o indivíduo não pode
alcançar a sua plena realização fora de uma comunidade política.
Mais aprofundadamente, podemos observar que, para Aristóteles, as comunidades
formam-se a partir da necessidade natural de associação entre os seres humanos, sendo
divididas em unidades sociais: o Casal e a Família, a Aldeia e a Cidade. A unidade social mais
básica é o casal, que se forma pela união entre o homem e a mulher, sendo por natureza, a
unidade básica de reprodução. A formação de famílias ocorre quando nascem filhos. Na
família, os membros possuem relações de autoridade natural, onde o chefe da família governa
e os outros membros obedecem. As famílias unem-se posteriormente em aldeias, isto é, as
aldeias surgem da necessidade de cooperação para atender a necessidades além das questões
familiares. Neste estágio, as comunidades estão ainda a começar a organizar-se em unidades
maiores, mas mantendo os laços de parentesco entre os seus membros. A cidade (pólis)
representa a forma mais elevada na formação de comunidades humanas e desenvolve-se a partir
da união de várias aldeias e famílias, É caracterizada por uma maior complexidade, diversidade
e procura pela autossuficiência.
Os cidadãos desta última unidade social devem desenvolver virtudes morais e
intelectuais para contribuir para o bem-estar da cidade. A ética desempenha um papel
fundamental na filosofia política de Aristóteles, onde o mesmo argumenta que a busca da areté
(virtude) é essencial para uma vida boa e justa. Todavia, a justiça detém múltiplas formas,
incluindo a justiça distributiva (distribuição justa de bens com base no mérito) e a justiça
corretiva (correção de desigualdades e injustiças). A justiça é o princípio organizacional que
permite que os membros de uma cidade vivam juntos harmoniosamente e alcancem os seus
objetivos em comum. Determina como os recursos e os benefícios da cidade devem ser
distribuídos de maneira equitativa e como os cidadãos devem cumprir as suas
responsabilidades.
A propriedade privada e a economia desempenhavam um papel central na organização
da cidade. Aristóteles argumenta que a propriedade privada está ligada à função da família e à
aquisição de bens essenciais para a vida. A tarefa dos humanos consiste em considerar o papel
do que é chamado de “a arte de adquirir bens”, que é uma parte importante da administração
da casa. Por sua vez, a propriedade é um conjunto de instrumentos (de produção ou de ação),
e se os instrumentos pudessem funcionar de forma autónoma ou prever as necessidades não
seria necessária a existência de mestres, logo, os escravos são considerados propriedade viva.
Os escravos são uma forma de propriedades e desempenham o papel de ajudantes na
administração da casa.
Uma das partes mais controversas de sua obra é exatamente a discussão sobre a
escravatura. Aristóteles considera a mesma como algo natural em algumas situações, embora
sua visão seja amplamente rejeitada nos tempos modernos. O autor acredita que a escravatura
está relacionada à natureza humana. Ele argumentava que, por natureza, algumas pessoas são
mais aptas a serem governantes e outras a serem governadas. Portanto, aqueles que eram
naturalmente inclinados a serem escravos, de acordo com sua visão, estavam a cumprir o seu
papel na ordem social. Aristóteles reconhecia, no entanto, que a escravatura também era uma
questão de convenção social. Ele afirma que a mesma resultava de acordos sociais e políticos
e da lei, e não apenas da natureza. No fundo, o autor, questiona a possibilidade de que os
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homens tenham índole de escravo e se é melhor ou mais justo serem assim, ou se pelo contrário
toda a escravidão é contrária à natureza. Ele argumenta que governar e ser governado são coisas
não só necessárias, mas convenientes, e que é por nascimento que se estabelece a diferença
entre os destinados a mandar e os destinados a obedecer. A natureza expõe a sua intenção na
modelagem de diferentes tipos de corpos: atribuindo a uns a força necessária para os trabalhos
pesados e dando a outros a postura e tornando-os impróprios para esse gênero de trabalhos,
mas tornando-os aptos para a vida de cidadão. No entanto, há escravos com corpos de homens
livres e outros com almas de homens livres.
No tratado podemos ainda observar a descrição de como a constituição política
(Politeia) ideal se trata de uma mistura de diferentes elementos de governo, evitando
perversões. Ele acredita que a constituição adequada deve refletir as circunstâncias e a virtude
dos cidadãos.
A "Política" de Aristóteles é um texto profundo e influente que abrange vários aspectos
da filosofia política. Os seus continuam a desempenhar um papel significativo na teoria política
e na discussão sobre o poder e a autoridade até os dias de hoje. O seu trabalho continua a ser
um recurso valioso para aqueles que procuram compreender as raízes da teoria política
ocidental.

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