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Matéria da Prova

Primeiro Bimestre Filosofia Política 2023

Os Primórdios

Será, em Atenas, em meio à efervescência política da formação histórica da


democracia, que o problema político e as reflexões acerca da natureza do
poder se colocaram de forma mais presente.
O meio pelo qual o pensamento sobre o poder e a política se estruturava na
Grécia Antiga e na origem da Filosofia, estava vinculado à reflexão sobre as
formas de governo. Quem, na antiguidade, quisesse compreender o
funcionamento e o princípio regulador da vida política, perguntava qual era a
forma de governo vigente na Polis. Assim a tipologia das formas-de-governo
caracterizou as primeiras reflexões da filosofia política e do poder político.

Platão

Para ele, o Estado tem sua origem pelo fato de o Homem não ser auto-
suficiente, isto é, ninguém pode bastar-se a si mesmo. Nenhum homem pode
ser ao mesmo tempo carpinteiro, pedreiro, médico, professor, técnico de frio
sozinho e ao mesmo tempo. Cada um na sociedade precisa do outro para
sobreviver.

É desse modo em que nasce o Estado segundo Platão. Daí a necessidade de


cada um associar-se aos outros e cada um com tarefas específicas. Portanto, a
origem do Estado em Platão é convencional.

Platão institui estreita correspondência entre as partes da alma (apetitiva,


irascível e racional) e as classes que constituem o Estado ideal (artesãos,
guardas, governantes).
Considerando esses nexos, também o Estado, exatamente como a alma do
homem, terá suas virtudes:

• será "temperante", quando os artesãos-comerciantes souberem pôr um


freio na própria avidez;
• será "corajoso", quando os guardas-soldados souberem moderar seu
ímpeto e enfrentar os perigos como convém;
• será "sábio", quando os governantes agirem em conformidade com a
razão na busca do Bem e na sua aplicação;
• Finalmente, a Cidade - como a alma individual - será "justa" quando
cada classe (ou parte) realizar o papel que Ihe compete, sem usurpar o
das outras.

Para que um Estado permaneça no tempo deve confiar sua ordem a um


programa preciso de educação. Para ele as crianças deviam ser educadas no
mesmo lugar, e o educador devia acompanhá-los no sentido de descobrir em
cada uma delas os seus talentos (dons) e desta forma serviriam melhor a
sociedade.

Portanto, para ele, existiam três almas na sociedade de acordo com o talento
de cada um: Alma de bronze; alma de prata; alma de ouro.

• Até 20 anos deviam ser selecionados os primeiros, os da alma de


bronze. Estes somente têm a capacidade de serem trabalhadores
(lavradores, artesãos, comerciantes) - Alma sensual.
• Depois de 30 anos seguia outra seleção, os da alma de prata (são os
guardas) a função destes é de defender a pátria. A característica destes
é o domínio da força. Têm como virtude a força e a coragem. Alma
irascível.
• E por fim, depois de 50 anos, temos a alma de ouro. Estes são os
magistrados, os governantes. Portanto, o brilho metálico é comparado
ao brilho de inteligência. Isto quer dizer que nesta classe predomina a
alma racional, as pessoas fazem tudo com inteligência. Aqui a virtude é
a sabedoria.
Formas de Governo

Por isso, a melhor forma de governo segundo Platão é a monarquia – O


governo de um só. E sendo que é governo de um, e este é sábio, defende o
que ele chama o governo do filósofo-rei.

Platão era avesso à democracia como forma de governo e acreditava que


a aristocracia chefiada pelo melhor e mais apto (o rei filósofo) deveria ser o
governo adotado na cidade perfeita. Assim, a Cidade ideal é a monarquia
governada pelo mais sábio entre os sábios, o filósofo-rei, que recebe a melhor
e mais completa educação, e que ouve atentamente os outros
filósofos. Contudo é uma Polis ideal, um “lugar no céu” (topos uranos, em
grego), as Polis reais são todas sombras projetadas pela Polis ideal do mundo
inteligível, não passam de degenerações no mundo da sensibilidade. As
análises de Platão são notáveis porque a Cidade ideal (Calipolis) só existe no
mundo das ideias, então poderíamos chamá-la de uma ideia reguladora para
pensar a Cidade, a Polis, ou o Estado:

Um governo sábio e prudente que nunca se corrompe.

Platão fala de certas formas de governar, partindo da monarquia, que ele


considera a ideal, sendo a sua degeneração, o resultado das outras formas,
que são as seguintes:

• A monarquia em que a sua forma degenerada (degradada) é a tirania


(governo de um só e que é mantido pela força),
• aristocracia (Governo de poucos, mas sendo os melhores) e a sua forma
degenerada é oligarquia (governo de poucos, sendo estes os piores).
Mas a fase mais avançada da corrupção da oligarquia é a democracia (o
governo que pertence ao povo).

Assim, todas as formas de governo são más, exceto a monarquia ou a


aristocracia de sábios.
Aristóteles

Para iniciarmos nossa análise ao pensamento político de Aristóteles devemos


salientar que seus escritos foram realizados em meio a uma realidade de
intrigas políticas e disputas entre Impérios.

Dessa forma o seu ponto de vista não é utópico, com sonhos e planos
imaginários sobre como as coisas deveriam ser. Ele começa onde começa
para ele a vida política, na ordem natural da vida humana.

Qual seria a base natural da vida Política?

Aristóteles considera o ponto de partida da sociedade, na união natural entre o


homem e a mulher, ou seja, na família.

Importante:

Segundo Aristóteles, a origem do Estado é natural e não convencional.

Homem é para Aristóteles um animal político. O Homem só pode viver em


sociedade e nunca num Estado de agregação. Diz ele: nosso desejo sexual
para a reprodução nos define como, natural e fundamentalmente, sociais:
desejamos crianças para criar a nossa sociedade natural.
Animal – devido ao fato de fazer parte da nossa natureza e
Político, pois a nossa natureza deseja a vida em sociedade e o bem
daqueles que dela fazem parte, não de maneira autônoma ou meramente por
conveniência.
A sociedade não é algo artificial, alheio à natureza humana, mas fruto dessa
própria natureza, ele quer dizer que por natureza temos necessidade de viver
em sociedade e que precisamos desse convívio. E, por reconhecer essa
necessidade, cada cidadão deve se responsabilizar pela Polis.
A relação entre a pólis e a natureza humana se dá nessa condição da
necessidade humana de uma instituição bem-organizada, que possibilite o
desenvolvimento da natureza política do indivíduo, contribuindo, assim, para o
alcance do bem viver, do bem comum e da autossuficiência.
A constituição, bem como as instituições presentes na pólis, servem como um
guia para que a natureza humana se realize plenamente em uma pólis bem
ordenada.

Homem Animal Político é uma expressão utilizada por Aristóteles:


A “cidade ou a sociedade política” é o “bem mais elevado” e por isso os
homens se associam em células, da família ao pequeno burgo, e a reunião
desses agrupamentos resulta na cidade e no Estado (“Política”, cap.I, Livro
Primeiro).
Aristóteles não vê os homens como “naturalmente” virtuosos;

Política de Aristóteles
O Estado tem origem e caráter natural, não pactual ou artificial:
O Estado é o fim para o qual tende o homem, pois o Estado deriva da célula
familiar;
O homem é animal social e político (exercício da cidadania): busca o bem
comum, não só o individual;

O Cristianismo – Idade Media

Os pensadores medievais se apropriaram da filosofia política desenvolvida na


Antiguidade, na Grécia, para estabelecerem seus pressupostos acerca da
política. A principal ideia dos filósofos gregos, que foi defendida pelos filósofos
medievais, foi que a política era resultado da Natureza e da Razão.
De Platão, os pensadores medievais, especialmente Agostinho, se apropriaram
da ideia da comunidade justa, organizada hierarquicamente e governada por
sábios legisladores.
Já de Aristóteles se apropriaram, em especial o filósofo Tomás de Aquino, da
ideia de que a finalidade do poder era a justiça, isto é, o bem supremo da
comunidade.
Contudo, o pensamento filosófico produzido pelos gregos precisava ser
conciliado com a outra fonte do conhecimento político, que, como vimos, era de
extrema relevância para os medievais: a Bíblia. Não foi uma tarefa das mais
fáceis, pois a Escritura Sagrada não considera o poder como algo natural e
originado da razão, e sim oriundo da vontade de Deus, isto é, um poder
teocrático.
A Bíblia latinizada, fundamentou a filosofia política desenvolvida em toda a
Idade Média, fornecendo critérios para a aceitação ou recusa de parte das
teorias políticas de Platão e Aristóteles, mesclando as concepções filosóficas e
as teocráticas de maneira complexa. A filosofia política da Idade Média, acerca
do poder teológico-político, mesmo com distintas formulações e modificações,
exigidas por conta de condições históricas, caracterizava-se da seguinte forma:

• Poder é Teocrático: o poder pertence a Deus, que escolhe homens que


o representam. Por exemplo, o monarca é rei pela graça de Deus. A
comunidade política se forma pelo pacto de submissão dos súditos ao
rei que foi escolhido por Deus;
• Rei é a fonte da Lei e da Justiça, tendo poder absoluto: no caso de um
rei tirânico e injusto, os súditos não devem resistir nem o depor, pois ele
está no poder pela vontade de Deus, que, para punir os pecados do
povo, o faz sofrer sob um tirano.
• O Papa e o Imperador são o topo da hierarquia: o primeiro exige o
poder espiritual; o segundo, o temporal.

Santo Agostinho
Quando se pensa no pensamento político de Agostinho de Hipona (354–430),
pensa-se na obra: A Cidade de Deus.
A concepção agostiniana da história explica-se com a relação entre duas
Cidades, que derivam de dois "amores" contrapostos: o amor de si (cupiditas),
que é princípio do mal e o amor de Deus (charitas), que é princípio do bem.
O mal é amor a si mesmo (soberba), e o bem é amor a Deus. Isso vale tanto
para o homem como individuo quanto para o homem que vive em comunidade
com os outros.
O conjunto dos homens que amam a Deus forma a Cidade celeste e, ao
contrário, o conjunto dos homens que amam a si mesmos ou ao mundo forma
a Cidade terrena.
Tanto o cidadão da Cidade celeste como o da Cidade terrena ocupam a Terra,
mas o primeiro a ocupa como peregrino, enquanto o segundo como um
dominador. Assim, Santo Agostinho fala de duas cidades e estas partilham
entre si a humanidade.
Santo Agostinho diz que as duas cidades existiram sempre lado a lado desde a
origem dos tempos: Uma tem Caim e outra tem Abel como fundador.
As duas Cidades têm um correspondente no céu, mais precisamente nas
fileiras dos anjos rebeldes e dos que permaneceram fiéis a Deus.
Nesta terra, o cidadão da Cidade terrena parece ser o dominador, enquanto o
cidadão da Cidade celeste é peregrino. Mas o primeiro está destinado a eterna
danação, enquanto o segundo está destinado eterna salvação.
Uma terrena com os seus poderes políticos, a sua moral, a sua história, as
suas exigências (Cidade terrena). A outra, a Cidade Celeste, simboliza os
cristãos participando do ideal divino. As duas cidades permanecerão até ao fim
dos tempos.
A cidade terrena é onde se encontra o Estado, nesta terra onde reina todo o
tipo de males. Na cidade de Deus, reina a paz, o amor, a felicidade. E a
humanidade encontra-se na cidade terrena.
Como construir um Estado de direito na cidade terrena? Santo Agostinho diz
que como nunca existiu, também nunca existirá, a exemplo dos reinos antigos
em que nunca houve Estado de direito.
Compreendendo a distinção que Santo Agostinho faz das duas cidades,
podemos agora adentrar no seu pensamento quanto à atividade política:
Para ele é algo fundamental, para que haja na sociedade a tranquilidade e a
ordem. Através do exercício correto do poder, os governantes poderão prestar
a todos um excelente serviço voltado para o bem comum.
Contudo, a função política para Santo Agostinho não deve se limitar a resolver
apenas problemas de cunho material.
Como o ser humano é um todo, ela deve se esforçar para proporcionar aos
cidadãos da pátria terrena condições para a prática do culto ao Deus
verdadeiro. Do contrário nunca atingirá com autenticidade a concórdia social.

“Onde Deus não está presente a paz temporal torna-se impossível.”

Uma instituição exercida por homens marcados pelo pecado, a política para ser
vivida com autenticidade e justiça, necessita da graça de Cristo. Enfatiza que
só haverá convivência justa nas organizações sociais quando Cristo for o
alicerce e o centro, inspirando e ao mesmo tempo dirigindo as ações humanas.
Sem esta preocupação, é impossível que se concretize o bem comum, pois os
objetivos particulares dos dirigentes políticos prevalecem sempre sobre os
interesses da coletividade, ocasionando as injustiças sociais, violência, as
revoltas populares etc.
Santo Agostinho em nenhum momento deixa de lembrar a soberania que Deus
tem sobre o mundo e o homem. Quando este último reconhece e passa viver
sob o Senhorio do seu Criador, as iniciativas humanas, dentre estas a política,
atingirão seu fim nesta Cidade Terrestre e contribuirão para a felicidade dos
cidadãos aqui e agora, preparando-os para a felicidade completa na Cidade
Celeste.
Agostinho, delineia um caminho teológico para aqueles que se sentem
chamados para exercer cargos de governo, para ele, devem fazê-lo com a
mente e o coração voltados para a eternidade, ou pátria celeste, pois no dizer
de Santo Agostinho eles foram criados e constituídos por Deus. Contudo,
poderão voltar-se contra Deus, o bem Supremo, quando se deixam vencer
pelas paixões desordenadas, passam a buscar sua própria glória e não a do
Criador. Aqui está precisamente a origem do desvirtuamento da função política,
por conseguinte da arte de governar ocasionando daí a idolatria do poder, a
sede de dominar e de massacrar seus semelhantes, o perigo de governar a
sociedade não buscando o bem comum dos cidadãos, mas o proveito pessoal.
As organizações políticas só terão êxito quando seus membros se
conscientizarem que o bem da coletividade deve sempre prevalecer sobre
interesses de grupos particulares que monopolizam a função política
colocando-a apenas em vistas do bem particular.
Os cidadãos devem se sentir amparados por leis e sistemas de governo que
garantam uma vida social digna, com melhores condições de crescimento
humano e espiritual, visando pleno desenvolvimento de todas as dimensões do
ser humano.
A política conseguirá executar seu papel no seio da sociedade, ainda que não
consiga e nem seja sua função tornar este mundo um paraíso se ancorar seus
projetos sobre Deus Bem Absoluto. Para o bispo de Hipona, o exercício de
dominar que significa servir na linguagem cristã só triunfará quando tiver por
origem e fundamento o amor desinteressado.

Santo Tomás De Aquino

Suas ideias políticas aparecem em diversos textos do seu pensamento


analítico e apresentam novidades que, sem dúvida, influenciaram a filosofia
política até os nossos dias, todavia, estão dispersas nos seus diversos escritos,
que somam mais de 150 títulos.
Santo Tomás ocupa uma posição única na história do pensamento político
como o mais ilustres dos aristotélicos cristãos. Sua carreira literária coincide
aproximadamente com a plena repercussão da recuperação ou entrada das
obras de Aristóteles no mundo ocidental.
Tomás, mais do que ninguém, colaborou para que Aristóteles se tornasse a
principal autoridade filosófica no Ocidente.
A melhor maneira de compreender a filosofia política de Tomás de Aquino é
procurar perceber a modificação da filosofia política aristotélica à luz da
revelação cristã ou, mais precisamente, como tentativa de integrar a Aristóteles
uma anterior tradição do pensamento político ocidental, representada pelos
Padres da Igreja, propriamente Santo Agostinho, e os autores medievais que
utilizavam a Bíblia, o direito romano e a filosofia platônico-estóica.
Influenciado pelas obras de Aristóteles, Sto Tomas de Aquino passa a refletir
questões relacionadas à natureza do poder e das leis e à questão clássica do
melhor governo, defendendo que os indivíduos só podem se realizar
plenamente na cidade, e o plano político é a instância possível em que o
governo não tirânico pode aliar ordem e justiça na busca do bem comum.

Mesmo que o poder político tenha origem divina, os indivíduos precisam se


organizar politicamente para alcançar fins terrenos, como o bem comum.
Segundo Aquino, o Estado conduz o homem até um certo ponto, a partir de
então, faz-se necessário o poder da Igreja, que é superior ao do Estado. Cabe
à Igreja cuidar do destino sobrenatural dos indivíduos.

Ao contrário de Santo Agostinho, que defendia que o pecado havia tornado os


indivíduos perversos, injustos e que estes fundaram a Cidade dos Homens,
igualmente perversa e injusta, Santo Tomas de Aquino defendia que os
humanos perderam a inocência original; contudo, não haviam perdido a
natureza original que lhes fora concedida por Deus. Dessa forma, os homens
continuam com senso de justiça, compreendida como o dever de conceder a
cada indivíduo o que lhe é devido. Através da justiça, os indivíduos fundaram a
comunidade política. Segundo Santo Tomás de Aquino, a ordem e a justiça
caracterizam a comunidade política como única ferramenta humana legítima
que pode assegurar o bem comum. Para ele, a função da política é a ordem e
a justiça, ou seja, o inferior deve obedecer ao superior e a cada indivíduo deve
ser dado conforme sua necessidade e seus méritos.

Preocupado com a questão da tirania, Santo Tomás de Aquino considerou que


a paz social é alcançada através da unidade do Estado; ele avalia, no entanto,
que é relevante a virtude do governante. Conforme Santo Tomás de Aquino,
“primeiro, um chefe único, escolhido por sua virtude, que esteja à frente
de todos; em seguida, abaixo dele, alguns chefes escolhidos por sua
virtude[...]” (AQUINO, apud ARANHA; MARTINS, 1993, p. 266). Aquino
prefere a forma de governo monárquica, devendo ser uma monarquia
"temperada"; o poder político do rei é dividido para com um grupo de homens
especiais escolhidos pela maioria.
Lei Natural e Lei do Homem

A Lei Natural é a maneira como seres racionais e livres participam da lei


eterna. A lei natural, igual para todos e para sempre, prescreve o que ajuda a
conservar a vida: fazer o bem, evitar o mal, não prejudicar ninguém,
promover o que realiza as pessoas, educam à disciplina das virtudes,
punem os faltosos, garantem a paz, têm seu fundamento na natureza, a
mesma em todas as pessoas.

As Leis Do Homem derivam de um acordo privado, ou de um pacto


público ou da autoridade. A lei por sua vez, não deve ser finalizada ao bem
de um indivíduo, mas à utilidade da coletividade. As penalidades legais têm
em vista somente os vícios mais graves e aqueles através dos quais os
indivíduos prejudicam os outros.
Santo Tomás, oferece dois argumentos para mostrar que essas leis são
necessárias:

O Primeiro Argumento, lembra que os homens, apesar de terem a razão para


realizar o mesmo fim comum, individualmente utilizam a sua razão de modo
divergente, e podem chegar ao fim comum por caminhos distintos. Assim, é
melhor que aquele que se ordena a um fim se dirija pelo caminho mais curto;
ou seja, os homens devem ser dirigidos para esse caminho por um governo,
isto é, deve existir o dominium ou subordinação política.

O Segundo Argumento, resulta do fato de que os homens que venham a viver


em sociedade para satisfazer as necessidades, não privilegiam o bem de
todos, senão seu bem próprio ou individual. Esse egoísmo destrói a sociedade;
se pelo contrário, todos atendem ao comum, a sociedade se unifica.

Forma ideal do governo


Desenvolve uma teoria em favor da monarquia, considerando os valores
absolutos e históricos, bem como os limites e o problema da resistência ao
tirano.
Trata da prática do rei, abordando as obrigações do rei em geral,
estabelecendo uma analogia entre o governo divino e o governo humano, além
de abordar a monarquia na cristandade.
Define o ofício do rei como conduzir o súdito ao seu devido fim. Uma vez que o
rei governa uma multidão de homens, seu ofício resulta da determinação do fim
dessa multidão, que é o mesmo fim de cada homem individual.
Nesse sentido, afirma que o homem pode alcançar a vida virtuosa no reino, e
reafirma essa posição quando conclui pela necessidade de que exista um
poder (potestas) superior ao poder temporal, que governe ao homem já neste
mundo para conduzi-lo a sua verdadeira felicidade, o fim último sobrenatural.
Ele alerta, para o perigo de o monarca tornar-se um tirano se não for virtuoso.
O rei deverá viver segundo as virtudes, e estas o ser humano não consegue
por si mesmo, mas mediante a graça de Deus. Portanto, o rei precisa ser
encaminhado espiritualmente pela autoridade sacerdotal.

Poder Temporal e Poder Espiritual


A respeito das relações entre poder temporal e poder espiritual, Santo Tomás
propõe que sendo o Estado, no seu âmbito, uma sociedade perfeita, goza de
certa autonomia, pois é capaz de realizar o bem comum ou a felicidade neste
mundo enquanto fim natural do homem. Sendo o fim da Igreja a salvação dos
homens ou bem sobrenatural, é ele superior ao do Estado, que é simplesmente
o bem comum neste mundo.
Portanto, compete ao Sumo Pontífice, orientar espiritualmente aos reis para
que estes possam cumprir sua missão real, que, aliás, é uma missão divina. O
reino, mais do que a antiga polis grega, pertence a Jesus Cristo.

Idade Moderna

Nos últimos séculos da Idade Média (Baixa Idade Média), porém, o humanismo
passa a exercer um maior destaque e posteriormente evolui para um
antropocentrismo: o homem como o centro das reflexões, substituindo
paulatinamente o teocentrismo. O homem (ser humano) passou a reconquistar
seu espaço na filosofia, que havia sido deixada para trás: lá com os gregos. Os
pensadores medievais haviam substituído o homem, como parte central de
suas reflexões, por Deus – nas artes e nas ciências, assim como na política.
Esta recolocação do homem como centro do pensamento marca o advento do
Renascimento Cultural; o pensamento político ganhou novos contornos e
perspectivas com o início da Idade Moderna.

Uma das principais características do Renascimento foi o racionalismo – a


certeza de que tudo podia ser explicado pela razão e pela observação da
natureza na tentativa de compreender o universo de forma calculada e
matemática.

O elemento central do Renascimento foi, portanto, o humanismo, no sentido de


valorizar o ser humano, considerado a obra mais perfeita da criação. Daí surge
o antropocentrismo renascentista, ou seja, a ideia do homem como centro das
preocupações intelectuais, artísticas e, logicamente, políticas.

Tem destaque o filósofo Nicolau Maquiavel, o qual discorreu sobre política no


seu livro O príncipe.

Nicolau Maquiavel

Introdução
Nicolau Maquiavel (1469-1527) foi diplomata e historiador italiano, é
considerado o fundador da ciência política, porque descreveu a política
como efetivamente era na realidade, e não como deveria ser de acordo com os
critérios da moral cristã. Apesar da aparente rispidez de suas teorias, o pensador
é considerado referência em teoria política até hoje.
Maquiavel defende uma separação entre ética e política. Na visão de
Maquiavel, a teoria política funciona como um suporte à manutenção do
governo por parte do governante em seu livro O Príncipe.
Escrita em 1513 e publicada em 1531 marca o início de uma nova época na
filosofia política, ignorando o cristianismo: a pesquisa política se destaca do
pensamento especulativo, ético e religioso.
A política é para a política! Mas sua visão está toda marcada pelo
pessimismo antropológico. Maquiavel foi o primeiro pensador a romper com a
visão idealista sobre política.
Ele enxergava o organismo político como ele é e não como deveria ser.
Deste posicionamento que surgiu a frase “Os fins justificam os meios”.
Embora ela não tenha sido escrita por Maquiavel, define bem o que ele
pensava sobre fazer política. Ele argumenta em sua obra que o sucesso
de uma ação é bem mais importante do que o caminho tomado para
chegar a ela.

Maquiavel é realista. Realismo não interpretado como resignação, mas como


lógica que para mudar a realidade é preciso antes compreendê-la para depois
operar sobre ela. É por isso que analisa o Estado absoluto e detentor de
poder para impor a ordem, não o Estado ideal que proporciona bem estar ao
cidadão. Isto leva-o a examinar a realidade como é, não como gostar-se-ia que
fosse. É a centralidade da política atual, não como instrumento de redenção do
homem de seus vícios e fraquezas, mas meio para governar e dirigir a
história de um país, nunca linear no seu trajeto.

Realismo Político
No que se refere ao realismo político, discute o princípio de que é necessário
se ater a "verdade efetiva das coisas", sem se perder na busca de como as
coisas "deveriam" ser; trata-se, em suma, da separação entre "ser" e "dever
ser".
Maquiavel, portanto, chega às seguintes conclusões:

" Aquele que deixa aquilo que se faz, por aquilo que se deveria
fazer, aprende antes a trabalhar em prol da própria ruína, do que de
sua conservação, porque um homem, que queira em todo lugar parecer
bom, atrai ruína. Daí é necessário, que um príncipe, desejoso de
conservar-se, aprenda os meios de poder não ser bom, e a fazer ou
não uso disso, conforme as necessidades"
Maquiavel chega a dizer que o soberano pode se encontrar em situação de ter
de aplicar métodos extremamente cruéis e desumanos. Quando são
necessários remédios extremos para males extremos, ele deve adotar tais
remédios extremos de forma a evitar o meio termo, que é o caminho do
compromisso, que de nada serve; ao contrário, é sempre e somente de
extremo dano.
Segundo Maquiavel, em si mesmo, o homem não é bom nem mau, mas, de
fato, tende a ser mau.
O ser humano é sempre guiado por seus interesses pessoais e é, por natureza,
um ser ingrato, volúvel, egoísta, vingativo, covarde, traiçoeiro,
independentemente da época e modelo social no qual está inserido.
O político não deve confiar no aspecto positivo do homem (pessimismo), e sim
constatar seu aspecto negativo e agir em consequência disso.
Assim, não hesitar em ser temido e a tomar as medidas necessárias para
tornar-se temível. O ideal para um príncipe seria o de ser ao mesmo tempo
amado e temido. Mas essas duas coisas são muito difíceis de serem
conciliadas e, assim, o príncipe deve fazer a escolha mais funcional para o
governo eficaz do Estado.

O Poder
Com Maquiavel, o pensamento sobre o poder, passa do governo para o
governante, então a relação do governante com seu povo se torna mais
importante do que a forma-de-governo. Do ponto de vista do governante, o
que é preciso fazer para permanecer no poder é o que está exposto na obra
O Príncipe.
Para Maquiavel, o líder político deveria ser uma espécie de estadista
estratégico e populista, procurando sempre o apoio político por parte do
povo.
Características para conseguir o Poder:

Afirma que para um líder conquistar e permanecer no poder, é necessário ser


bem-visto. Para construir essa boa imagem, ele cita algumas características
que o líder deve não necessariamente ter, mas sim parecer ter:

• Integridade;
• Misericórdia;
• Humanidade;
• Sinceridade;
• Religião.

Maquiavel dizia que o príncipe, não precisava de fato ter todas as qualidades,
mas deveria se esforçar ao máximo para “parecer tê-las, devia “disfarçar bem”
sua natureza mais “animal” e ser um “grande simulador e dissimulador”.

Além das qualidades, um bom líder deve se ater a duas constantes: virtude e
sorte

A virtude, nada tem a ver com a "virtude" em sentido cristão, está relacionada
à competência, força, vontade, habilidade, astucia, capacidade de dominar a
situação, conhecimento e a busca da excelência em tudo que está ao seu
alcance como representante do povo.

A sorte significa aquilo que acontece sem que se tenha controle, é


imprevisível, inesperado as ações que provêm do meio externo.

Características para Manter-se no Poder:

I - Maquiavel diz que o príncipe que adquire o poder com a ajuda dos ricos
sofre mais para mantê-lo, do que aquele que o adquire com a ajuda do povo.
“Os primeiros estão sempre cercados de indivíduos que têm consciência de
sua força e se entendem como iguais ao governante.” Daí a dificuldade em
impor seu método de governo.
Por outro lado, se o príncipe se apoia no povo, seu percentual de
desaprovação será mínimo. Ele precisa procurar meios pelos quais o povo se
torne dependente do governo e o seja fiel, pois nos momentos de
adversidade eles o ajudarão a manter-se no poder.

“Qualquer governante, necessita da fidelidade do povo”.

II - Segundo ele, novos administradores, quando assumem o poder, possuem


mais dificuldade em mantê-lo, principalmente porque tendem a realizar
inovações em seus novos domínios, e essas inovações acabam com
benesses de alguns teoricamente mais fortes, transformando-os em
adversários e inimigos, e aqueles que passam a ser beneficiados são mais
fracos.

III - Outro elemento para manter-se no poder, é o apoio das bases. Um


político que possua em suas bases, “mercenários”, ao enfrentar as primeiras
adversidades e ataques do adversário, será abandonado e restará isolado.

De acordo com Maquiavel:

“Os mercenários, querem muito ser soldados enquanto o príncipe


não está em guerra, mas quando esta surge só pensam em fugir ou
ir embora”.

IV – Para manter-se seguro contra inesperadas situações de perigo, o príncipe


precisa de uma fortaleza. Afirma, que a melhor fortaleza é construída com o
afeto dos súditos, pois as fortificações materiais não poderão salvar um
príncipe odiado pelo seu povo. Pouco adianta um governante refugiar-se em
um castelo seguro ou circundar-se de uma milícia armada, pois contra a ira do
povo não existem barreiras. É melhor aliar-se ao povo do que ofendê-lo e estes
lhe tirarem o poder.

V - Deve praticar o bem aos poucos, para sempre ser lembrado pelo povo de
forma positiva. Se for preciso praticar o mal, é preciso que o faça de uma só
vez, de forma que o povo traumatize-se e logo esqueça este ato.

VI – A demora em finalizar obras públicas, em muitos casos propositalmente


procrastinadas até época de campanha eleitoral, serve para que a lembrança
do “bom serviço” em benefício da coletividade, ainda que sem muita presteza,
deixe o governante com aura de quem realiza o prometido, e o torna confiável
aos olhos do eleitor. Logo, se tais obras forem concluídas rapidamente, o
governante também rapidamente será esquecido.

VII – O príncipe deve sempre estar à frente do inimigo, preparando-se para


qualquer tipo de adversidade, pois a sorte pode mudar a qualquer momento e
aquele que se encontra preparado se sobressairá perante o adversário. Deve
sempre estar atento às atitudes dos inimigos, pois quando estes mostrarem
qualquer indício de ameaça faz-se indispensável aniquilá-los o mais cedo
possível, evitando assim uma guerra maior quando estes estiverem mais
preparados com possível derrota do príncipe.

A característica que emerge é a previsão dos possíveis eventos. Um


príncipe não pode preocupar-se apenas com os problemas atuais, mas
prever os que poderão atormentá-lo no futuro. Maquiavel escreve: “as
guerras não podem ser evitadas e, quando adiadas, só trazem benefício
para o inimigo”, afirma que “a boa informação e a prudência do
governante conduzem à decisão acertada, encarando-se logo as
realidades desagradáveis”.

É claro o pensamento de Maquiavel a esse respeito: aquele que governa deve


manter canais de comunicação de mão dupla e possibilitar aos súditos a
manifestação de suas opiniões, inclusive para verificar se o seu projeto está
sendo bem executado e bem assimilado. Resumindo, deve o governante
eliminar o mal antes que apareça em toda sua força.

VIII – A primeira impressão que se tem de um governante e de sua inteligência


é dada pelos homens que o cercam. Quando estes são eficientes e fiéis, pode-
se sempre considerar o príncipe sábio, pois foi capaz de reconhecer
capacidade e de manter fidelidade. Mas, quando a situação é oposta, pode-se
sempre fazer dele mau juízo, porque seu primeiro erro terá sido cometido ao
escolher os assessores.

A escolha dos conselheiros, portanto, é fundamental para a imagem e o


desempenho do governante perante a sociedade.
Estado e Religião:

O Estado deve ser laico, ou seja, a Igreja não deve influenciar as ações do
governo.

Ele acreditava que a separação das organizações era imprescindível para se


construir um Estado justo para todos. Tal separação não significa que o líder
não possa ser religioso, aliás, isso é louvável, mas ele não pode permitir
que o governo seja regido pelos preceitos cristãos e amarras teológicas.

Maquiavel e sua influência

Para Rousseau, filósofo francês e teórico político de prestígio, o escrito de


Maquiavel permitiu que a sociedade identificasse as estratégias utilizadas
pelos príncipes para se defender.

As ideias de Maquiavel são atemporais e adaptáveis a qualquer época porque


contêm aspectos fundamentais da civilização humana. Ao comparar seus
escritos com a política na contemporaneidade, podemos observar o fato de
muitas figuras conseguirem a posição que almejavam aparentando serem
ideais para tal.

Parecendo serem bons, justos, incorruptíveis e fazendo promessas que o


povo quer ouvir, mas dada certas circunstâncias, se mostrarem
totalmente diferentes das promessas que fizeram.

Rousseau, afirma que “Maquiavel, fingindo dar lições aos reis, deu-as ele,
e grandes, aos povos”. Permitiu, com esta leitura, que a sociedade
identificasse as estratégias utilizadas pelos príncipes para delas se
defender e tirar proveito.

Assim, é possível afirmar que O Príncipe transformou-se em uma aula


“atualíssima”, por extrair temas e ideias que vão além do tempo e podem
nortear o percurso a ser percorrido pela sociedade no que diz respeito ao fazer
política.
Ética e Política

Primeiro pensador a enxergar o mau como realidade política, em que na


maioria das vezes o detentor do poder o usa de maneira imoral, contra os
anseios do povo.

Maquiavel especula sobre como o governante deve se utilizar da ética na


administração do poder. Basicamente cita duas formas de ética em que um
governante pode seguir: a cristã e a política.

A ética cristã ordena que seja praticada sempre a conduta mais correta,
benigna para o povo, mesmo que o governante se prejudique no poder. O
governante deve ser sempre bom para que após sua morte sua alma seja
salva. É a ética medieval, promovida pela Igreja e ainda em auge na época de
Maquiavel.

Já a ética política, defendida por Maquiavel, sugere que para ser um bom
governante às vezes o mau deve ser a medida a ser tomada para que a
cidade seja salva. O príncipe deve ser bom, mas em certas ocasiões deve usar
‘máscara’, mentir, ser mau quando necessário, para posteriormente obter
sucesso e o respeito do povo. Brota neste contexto a ideia atribuída ao autor
‘os fins justificam os meios’.

Para Maquiavel, a ética política é inconciliável com a ética cristã. As


crueldades deverão ser bem usadas pelo governante. A corroborar esta tese,
cita a atitude de César Bórgia que executa um de seus homens partindo-o ao
meio com uma espada.

Para a ética cristã essa atitude desrespeita o bom senso e qualquer regra de
conduta humana e religiosa. Já para a ética política foi uma atitude boa porque
necessária, uma crueldade bem usada, pois se evitou uma futura guerra civil
em que muito mais pessoas morreriam. O homem assassinado por Bórgia
assombrava a população e esta começava a se rebelar contra César Bórgia.

O maior dever do príncipe é manter o governo, mesmo que para isso seja
necessário contrariar a fé, a religião, as regras morais. Para obter êxito em
seu governo, o príncipe deve sempre que possível ser bom, porém mau
quando necessário. As circunstâncias para Maquiavel justificam
determinadas ações. O príncipe não precisa ser piedoso, fiel, religioso, basta
que aparente possuir tais qualidades.

O agir com maldade na época maquiaveliana, era agir com uma violência
armada. Hoje, em outro cenário, o agir com maldade encarna-se na corrupção,
no descaso, no afastamento da sociedade que elegeu o governante.

Os Contratualistas
Entre os séculos XVI ao XVIII, surgiram correntes filosóficas que refletiam
sobre política e sobre a origem e finalidade do Estado. Buscavam compreender
como provavelmente se deu a criação do Estado, como a sociedade se
comportava antes dele e quando os indivíduos sentiram necessidade de
criar o Estado. .
Alguns filósofos defenderam que o Estado havia sido criado por meio de um
suposto “contrato social”. Esta corrente filosófica passou a ser denominada de
Contratualistas. Entre os Contratualistas mais famosos, estão Thomas Hobbes,
John Locke e Jean-Jacques Rousseau, este último também ficou conhecido
como um dos maiores expoentes do Iluminismo; embora também tenha
refletido sobre o contrato social. Mesmo pertencendo a uma mesma corrente
filosófica e tendo algo que os liga entre si, como é o caso de acreditarem que a
origem do Estado se deu através de um contrato social, esses três filósofos
Contratualistas divergiam, ao compreenderem de forma distinta os motivos que
levaram os indivíduos a firmarem um contrato social, bem como divergiam
sobre o exercício de poder e a finalidade do Estado.

Se o legado de Maquiavel foi dar autonomia ao Estado, defendendo a


separação entre religião e política e criando novas concepções éticas acerca
da política, o maior legado deixado pelos filósofos Contratualistas da Idade
Moderna, cada qual à sua maneira, foi demonstrar como seria possível e viável
um governo autônomo que partisse da vontade e da iniciativa do próprio povo e
que, em troca, deveria governar para o povo.
Contratualismo:
Teoria que pensa que a origem da sociedade e do poder político, está
num contrato, um acordo tácito ou explícito, entre aqueles que aceitam
fazer parte dessa sociedade e se submeter a esse poder.

Para eles, a sociedade política é uma forma de associação, diferente das quais
homens estão desde sempre inseridos de maneira espontânea ou irrefletida
(como a família, por exemplo). Trata-se de uma comunidade em que os
homens resolvem instituir voluntariamente.
A partir dessa noção que existe uma associação natural e espontânea (Estado
de Natureza), e associação artificial firmada em um contrato (Estado Civil),
que que será o ponto central no Contratualismo.
Os contratualistas irão analisar o que aconteceu no Estado de Natureza, que
motivou as pessoas a instituírem através de um contrato o Estado Civil.
A tese contratualista implica que a política se funda sobre uma relação
jurídica (contrato), pela qual as partes contratantes estabelecem direitos e
deveres recíprocos.
O pressuposto comum é o de que o poder político, para que seja legítimo,
possa ser pensado como se tivesse sido instituído por um ato contratual,
mesmo que efetivamente talvez não tenha sido, e é justamente o pressuposto,
que alicerça o Contratualismo.
Ao assumir isso, para os contratualistas, o poder só é propriamente político,
se puder ser legitimado pelo contrato, se puder ser pensado como se tivesse
sido instituído por ele.

• Estado de natureza: caracteriza-se pela relação que existe entre os


indivíduos sem a interferência do Estado, antes do contrato social – o
homem e suas relações político-sociais em seu estado mais puro e mais
natural.
• Estado civil: posterior ao contrato social, é o Estado tal como
conhecemos hoje.
Para podermos entender a filosofia política dos Contratualistas, é
imprescindível começarmos por Hobbes e distinguir o estado de natureza do
estado civil.

Thomas Hobbes (1588-1689)

Filósofo inglês, que desenvolveu sistema filosófico completo e rigoroso.


Ofereceu um importante base metafísica a seu pensamento político, crítico de
Aristóteles tomou a geometria e a homogeneidade do espaço como base para
uma explicação mecanicista da natureza (e, por extensão filosoficamente
estabelecida, da política).

Segundo Hobbes, no estado de natureza, os homens viviam basicamente para


a guerra e autoconservação, uma situação nada confortável, pois viviam o
tempo inteiro com medo do outro e em tensão ininterrupta. Viviam em uma
guerra permanente e o que era autoconservação converte-se em destruição,
medo e insegurança. Hobbes afirma que:

Considerando então a ofensividade da natureza dos homens uns


com os outros, deve-se acrescentar um direito de todos os
homens a todas as coisas, segundo o qual um homem invade com
direito, e outro homem com direito resiste, e os homens vivem
assim em perpétua difidência, e estudam como devem se
preocupar uns com os outros. O estado dos homens em sua
liberdade natural é o estado de guerra (2002, p. 96).

Para Hobbes, na base da sociedade e do Estado há dois pressupostos:


1) o bem relativo originário, isto é, a vida e a sua conservação ("egoísmo");
2) a justiça, que é uma convenção estabelecida pelos homens e cognoscível
de modo perfeito e a priori ("convencionalismo").

Nesse sentido, a concepção política de Hobbes constitui a inversão mais


radical da clássica posição aristotélica, segundo a qual o homem é um "animal
político"; Hobbes considera ao contrário o homem como um átomo de
egoísmo, razão pela qual nenhum homem está ligado aos outros homens
por consenso espontâneo.
A condição em que todos os homens naturalmente se encontram é para
Hobbes a da guerra de todos contra todos (homo homini lupus); o homem
arrisca-se, deste modo, a perder o bem primário, que é a vida, e pode sair
desta situação fazendo apelo a dois elementos fundamentais:

a) o instinto de evitar a guerra continua e de providenciar aquilo que é


necessário para a subsistência;
b) a razão, no sentido de instrumento apto a satisfazer os instintos de
fundo.

Nascem assim as leis de natureza, que constituem na realidade a


racionalização do egoísmo, as normas que permitem realizar de modo
racional o instinto da autoconservação.

No Leviatã, Hobbes elenca 19 leis naturais, das quais as mais importantes


são as três primeiras:
1) procurar a paz e alcançá-la, defendendo-se com todos os meios possíveis;
2) renunciar ao direito sobre tudo, quando também os outros renunciam;
3) respeitar os pactos estipulados, isto é, ser justos.

Para constituir a sociedade, todavia, além dessas leis, é preciso também um


poder que obrigue a respeitá-las: é preciso, portanto, que todos os homens
deputem um único homem (ou uma assembleia) a representá-los.
Nasce assim o pacto social, que é feito pelos súditos entre si, enquanto o
soberano permanece fora do pacto e é o único depositário dos direitos
dos súditos.
Para Hobbes, o homem é lobo do homem, todos contra todos. A humanidade,
durante o estado de natureza, foi definida por Hobbes da seguinte forma:
“cada um é lobo para o outro, em guerra de todos contra todos”.
Esta realidade de violência e guerra, de medo e pavor só será combatida e
superada com a passagem do estado de natureza para o Estado civil.
Conforme Hobbes, a humanidade opta por viver na vida em sociedade a partir
do momento em que começa a sentir que suas vidas estão ameaçadas. Em
busca de segurança e de preservação, os indivíduos renegam suas liberdades
individuais em detrimento de um governo que seja capaz de manter a paz e a
vida de todos, dando origem ao Estado, o qual Hobbes denomina de Leviatã
(daí o nome de seu livro).
Porém, para a criação desse Estado e para que ele seja reconhecido e
legitimado por todos, faz-se necessário o contrato social.
Surge, assim, a sociedade civil, ou seja, o estado civil dos homens. A
segurança, portanto, é o maior bem, dentre todos os bens que o soberano
pode oferecer aos súditos.

“A causa em geral que move um homem a se tornar súdito de outro é o


medo de não preservar a si mesmo por outros meios”

O poder do soberano (ou da assembleia) é indiviso e absoluto: ele está


acima da justiça, pode intervir em matéria de opinião e de religião,
concentra em si todos os poderes. Trata-se da mais radical teorização do
Estado absolutista e, para designá-lo, Hobbes retoma a imagem do Leviatã,
um monstro da Bíblia, mas emprega também a expressão "deus mortal", ao
qual devemos a paz e a defesa de nossa vida: o Estado absolutista é,
portanto, metade monstro e metade deus mortal.

John Locke (1632-1704)


Filósofo inglês, considerado pai do liberalismo, foi adversário da Monarquia
Absoluta e das ideias de Hobbes, considerava que o rei deve dividir seu poder
com o parlamento. Defendia que a fonte da riqueza é a propriedade e que o
Estado que quer enriquecer deve proteger a propriedade. Contra o
cartesianismo, era empirista, isto é, a fonte do conhecimento é a sensibilidade,
não há ideias inatas.
O ponto de divergência com Hobbes, reside no entendimento de Locke a
respeito do estado de natureza, pois:
Estado De Natureza os seres humanos expressam tudo aquilo que possuem
de mais positivo, uma vez que a liberdade é da natureza humana.
Posicionamento bem diferente do de Hobbes, que julgava o homem mal, e o
estado de natureza era pura barbárie, todos contra todos. Nas palavras do
próprio Locke, o estado natural é “um estado de perfeita liberdade para
ordenar-lhes as ações e regular-lhes as posses e as pessoas, conforme
acharem conveniente, dentro dos limites da lei de natureza, sem pedir
permissão ou depender da vontade de qualquer outro homem” (1978, p.
35).

I Natureza Humana (Estado de Natureza)


Ao contrário de Hobbes, Locke pode ser visto como um otimista em relação à
natureza humana e ao convívio entre os indivíduos, considerando como
princípio básico da existência da sociedade o entendimento racional entre
os homens.
Para ele, quem organiza o conhecimento, são as sensações, ou seja, o
homem é uma tabula rasa, um quadro vazio, que é preenchido ao longo de
sua vida, tudo o que sabe ou pensa não é próprio da sua natureza.
Segundo Locke, ninguém nasce com um status acima ou abaixo do resto.
Esta lei natural é inata às mentes e aos corações de todas as pessoas.

Como ele escreveu:

Toda a humanidade, que apenas a consultará, que sendo todos iguais e


independentes, ninguém deve prejudicar outra pessoa em sua vida, saúde,
liberdade ou bens.

Isso não quer dizer que esta condição fosse de forma alguma, perfeita. Afinal,
as pessoas transgrediriam os direitos umas das outras, resultando em
conflito. No estado de natureza, portanto, se os direitos de alguém fossem
violados, seria perfeitamente permissível usar a violência em legítima
defesa, como afirma Locke.
Assim, todos seríamos nosso próprio juiz, júri e carrasco; teríamos o
direito de decretar a lei da natureza, punindo outras pessoas quando elas
infringissem nossos direitos.

Mas, em geral, Locke acreditava que os habitantes do estado de natureza


seriam principalmente pacíficos e cooperativos. Isso porque eles seguiram
o guia da lei natural, que “deseja a paz e a preservação de toda a
humanidade”. Além disso, Locke acreditava que, no estado de natureza,
respeitaríamos até a propriedade privada uns dos outros.

Nasce assim outra visão política:

• É a partir do corpo que o homem sente, então o homem adquire uma


noção de propriedade, pois o homem é dono do próprio corpo.
• Da mesma forma, é dono dos bens que produz, ou seja, daquilo que
produz com seu próprio corpo enquanto instrumento de sua liberdade.

Se o homem pode produzir o que precisa, então não há por que brigar com
outros homens, logo, a natureza humana é pacífica. Contudo, eventualmente
surgem conflitos.
Nessa situação, vence o mais forte, não o mais justo, por isso o homem forma
a sociedade por meio de um contrato, para que a justiça tenha mais força do
que a injustiça. O Estado é assim formado para regular conflitos, equilibrar as
forças e proteger os bens de cada um.

Propriedade

Locke acreditava que Deus havia dado a terra para toda a humanidade. Isso
leva a uma questão paradoxal: se todos possuem tudo, como alguém possui
alguma coisa?

Locke queria enfatizar que as pessoas podem possuir coisas privadas sem o
consentimento universal de todos.

Em vez disso, ele acreditava que “todo homem tem uma propriedade em sua
própria pessoa”, a qual “nenhum corpo tem direito a não ser ele mesmo”.
Cada pessoa possui seu próprio corpo e, portanto, cada pessoa possui seu
próprio trabalho, que é o resultado natural de usar seu corpo de forma
produtiva.

Quando uma pessoa mistura seu trabalho com a terra, arando, cercando ou
melhorando a terra, eles se apropriam do que antes era o estoque comum da
natureza.

Locke acreditava que, sem trabalho, a maioria dos produtos da vida


humana não existiriam, “pois é realmente o trabalho que coloca a
diferença de valor em todas as coisas.”

Mas Locke impõe alguns limites à apropriação de propriedade, uma vez que
devemos deixar o suficiente para que outros se apropriem no futuro e devemos
evitar de acumular bens que se estraguem. Essas limitações naturais à
propriedade, contudo, foram contornadas pela invenção do dinheiro.

II Estado Civil
Nasce assim, o liberalismo: o Estado deve proteger a vida, a liberdade e a
propriedade. Para proteger a liberdade, é preciso preservar a lei da maioria,
ou seja, o governo deve estar a cargo do poder legislativo, a Monarquia
não deve ser absoluta (pois tenderia à tirania) e sim parlamentar, de forma a
dividir e equilibrar os poderes.
É em nome dos direitos naturais do homem que o contrato social entre os
indivíduos que cria a sociedade, e o governo deve, portanto, comprometer-
se com a preservação destes direitos.
Para proteger os bens, o Estado deve proteger os ricos, e os ricos por sua vez
devem ser generosos com os pobres, uma espécie de contra-partida ética para
compensar o privilégio político.

No Segundo tratado (cap. VIII, seç.97), diz Locke a propósito da constituição e


legitimação do Estado, na mesma linha de Hobbes:

E, assim, cada indivíduo, ao consentir com os outros em formar um


corpo político com um governo, coloca-se a si próprio sob a
obrigação em relação a todos os demais membros dessa sociedade
de se submeter à determinação da maioria e de aceitar suas
decisões. Caso contrário, esse pacto original, pelo qual ele e os
outros formam uma sociedade, não significaria nada, e não seria um
pacto se ele permanecesse tão livre e tão sem obrigações quanto
quando se encontrava no estado de natureza.

Jean-Jacques Rousseau (1712-78)

Nascido em Genebra, foi um dos mais importantes pensadores franceses do


séc. XVIII no campo da política, da moral e da educação, influenciando os
ideais do Iluminismo e da Revolução Francesa (1789).

Contra Hobbes: o que este atribui aos homens naturais são características do
homem civilizado.
Contra Locke: a propriedade é própria do homem civilizado, não um direito
natural.

Estado de Natureza
O ponto de partida de sua filosofia é uma concepção de natureza humana
representada pela famosa ideia segundo a qual:
“O homem nasce bom, a sociedade o corrompe”
À qual se acrescenta a ideia de que:
“O homem nasce livre e por toda parte se encontra acorrentado”.
O homem nasceu livre e está por toda parte acorrentado; Nostalgia da vida
primitiva, a igualdade originária inverteu-se em estruturas de domínio e de
opressão; dos ricos perante os pobres.
De onde provêm as desigualdades da civilização, se os homens no estado
natural eram bons?

O estado de natureza era bom e adequado à paz. Para que sair dele? Sair
dele não é necessário! Não é necessário criar a Sociedade Civil.
Sua resposta se encontra fundamentalmente no Contrato social, onde a
soberania política pertence ao conjunto dos membros da sociedade, ou seja,
da vontade geral, que não resulta apenas na soma da vontade de cada um.
A vontade particular e individual de cada um diz respeito a seus interesses
específicos; porém, enquanto cidadão e membro de uma comunidade, o
indivíduo deve possuir também uma vontade que se caracteriza pela defesa
do interesse coletivo, do bem comum.
Com Rousseau se tem a valorização da igualdade na participação dos
indivíduos no bem comum: não somente igualdade política perante a lei, mas
igualdade social no acesso aos bens: primeira formulação da democracia e
do socialismo: “Tudo vai para o povo e vem do povo”, a revolução de
Rousseau produz um Estado ético e totalitário.

Contrato social.
O único caminho para remediar a decadência da humanidade e a relativa falta
de liberdade e, para Rousseau, é a estipulação de um novo contrato social, em
vista de um renovado "estado civil".
No Contrato social, Rousseau começa com a frase: "O homem nasceu livre e,
todavia, em todo lugar encontra-se em cadeias". O objetivo do novo contrato
social delineado por Rousseau é o de libertar o homem das cadeias e restitui-lo
a liberdade.
lsso comporta a construção de um modelo social fundado sobre a voz da
consciência complexiva do homem, aberto a comunidade.
Contrato se exprime nos seguintes termos essenciais:

"Cada um de nós põe em comum sua pessoa e todo seu poder, sob
a direção suprema da vontade geral". Trata-se da alienação total de
cada associado, com todos os seus direitos, a toda a comunidade,
por meio da qual "se produz imediatamente um corpo moral e
coletivo unitário", cujos associados "tomam coletivamente o
nome de povo, e singularmente se chamam cidadãos, enquanto
participantes da autoridade soberana, e súditos, enquanto
submissos as leis do Estado".

Estado Educador:
O Estado educador ensina a encontrar a felicidade na superação dos
desejos individuais através da luta contra os instintos naturais para se
comprazer no todo da razão social.
É papel da educação a formação dessa vontade geral, transformando assim
o indivíduo em cidadão, em membro de uma comunidade.
Em uma palavra, é preciso que se destitua o homem de suas próprias forças

para lhe dar outras, não próprias, das quais não possa fazer uso sem
socorro alheio.

Vontade geral
É o princípio que legitima o poder e garante a transformação social,
inaugurada pelo "novo contrato".
Enquanto a vontade particular tem sempre como objeto o interesse privado, a
vontade geral, ao contrário, é amante do bem comum, e se propõe ao interesse
comum: ela não é, portanto, a soma das vontades de todos os componentes,
mas uma realidade que brota da renúncia de cada um aos próprios
interesses em favor da coletividade.
Filosofia Política na Pós Modernidade

Como vimos, os filósofos que refletiram sobre política no Ocidente, durante a


Idade Moderna, buscaram racionalizar sobre a origem do Estado e a finalidade
da política, separando-a da questão religiosa, dentre outras reflexões e
questionamentos.

A partir desses processos históricos, uma série de mudanças sociais, culturais,


políticas e econômicas se estabeleceram em todo o mundo, instaura-se o
Capitalismo moderno.
Foi somente após as revoluções liberais, as Revoluções Burguesas da Idade
Moderna, que o Capitalismo se estabeleceu como sistema econômico
predominante pela primeira vez na história, especialmente nos países da
Europa Ocidental. O sistema capitalista emergiu tendo como protagonistas,
segundo historiadores e economistas, a nascente burguesia, os banqueiros e
os cambistas. O que caracterizou esse novo sistema foi o controle dos
sistemas de produção, o lucro, o acúmulo de riquezas.

Agora, iremos ver as concepções filosóficas sobre política que se


desenvolveram a partir dos pressupostos estabelecidos pelos filósofos da
Modernidade e que influenciaram a construção política, nos séculos XIX e XX,
chegando até os dias atuais.

O Liberalismo Político

Liberalismo Político: corrente política filosófica que defende a maior


participação dos indivíduos no processo político, de modo que o Estado não se
sobreponha aos cidadãos. O Estado deve ser a máxima expressão, mas que
seja a expressão da vontade geral – da vontade do povo.

Basicamente, o Estado liberal possui um corpo de militares profissionais que


formam as forças armadas (exército e polícia), encarregadas da ordem interna,
da defesa do território e responsáveis por atacar inimigos externos; dispõem
também de um corpo de servidores ou funcionários públicos, que formam a
burocracia, encarregada de cumprir as decisões dos três poderes perante os
cidadãos. Isso porque o Estado liberal é constituído da seguinte forma: uma
república representativa em que o poder político é dividido em três, são eles:

• Executivo: encarregado da administração dos negócios e serviços


públicos;

• Legislativo: parlamento encarregado de instituir as leis;

• Judiciário: magistraturas de profissionais do direito, encarregados de


aplicar as leis.
Em meados do século XVIII, enquanto os reis detinham o poder político, a
burguesia desfrutava de um crescente poder econômico já em consolidação.
Para consolidar de uma vez por todas seu poderio econômico e conquistar o
poder político, a burguesia precisava anular o Estado absolutista, defensor da
nobreza decadente e associado à Igreja, que representava um obstáculo aos
interesses burgueses. Desta forma, os ideais liberais (advindos do Iluminismo)
caíram como uma luva para os interesses da burguesia, uma vez que as ideias
Iluministas representavam os anseios políticos dessa nova classe em
ascensão.

O Estado liberal caracterizou-se, então, pelo declínio do Estado Absolutista


(absolutismo monárquico). Em tese, defendiam regimes políticos que fossem
capazes de preservar a liberdade e a soberania popular, além de constituírem
governos laicos, isto é, sem interferência de qualquer instituição religiosa.
Contudo, essa liberdade amplamente defendida pelo liberalismo, na prática, foi
um sonho distante de se concretizar para todos de forma integral.

Um outro aspecto essencial do liberalismo político é a presença de uma


Constituição, de um conjunto de leis que manifestem vontade e soberania
popular, que representem a vontade geral, tendo como finalidade o bom
funcionamento da sociedade.

Os primeiros países que adotaram o liberalismo político foram: Inglaterra (final


do século XVII, após a Revolução Gloriosa), Estados Unidos da América
(depois da independência obtida em relação à Inglaterra, a partir de 1776) e a
França (a partir da Revolução Francesa, iniciada em 1789). A Constituição dos
Estados Unidos da América, promulgada em 1787, refletiu toda a influência do
Iluminismo sobre o processo de independência das Treze Colônias inglesas.

Socialismo

No século XIX, quando houve um aumento significativo do número de


trabalhadores das fábricas, consequência do próprio crescimento industrial, o
Estado liberal teve de voltar sua atenção, também, para esse grupo social,
teve que se preocupar com o povo e seu maior engajamento em questões
referentes à política. Pois surgem os primeiros sindicatos, símbolo da nova
força e organização dos operários.

Diversos pensadores europeus do século XIX discordavam do fato de o Estado


liberal poder ser mais democrático e representar a soberania popular.
Preocupavam-se com a precariedade e as péssimas condições de vida dos
trabalhadores das fábricas.

Esses pensadores do século XIX, contrários ao liberalismo, começaram a


questionar se a liberdade e a igualdade, tão difundidas pelo liberalismo político-
econômico, de fato conseguiam atender a todos os indivíduos. Para eles, a
sociedade resultante do processo de Revolução Industrial era contraditória e
desigual.

Esta filosofia política, no século XIX, visava refletir sobre o papel do Estado e
sobre as políticas adotadas acerca de questões sociais. Surge, assim, uma
diversidade de posicionamentos filosóficos, acerca da política, que teorizam a
respeito do papel do Estado, de questões sociais, agentes políticos etc., tais
como:

• Socialismo utópico,
• Socialismo científico,
• Anarquismo,
• Socialdemocracia,
• Regimes totalitários,
• Estado do bem-estar social e
• Neoliberalismo.

A corrente e/ou filosofia política que busca substituir o capitalismo por um


sistema econômico planificado que conduza a resultados mais equitativos e
mais favoráveis ao pleno desenvolvimento do ser humano é o que
denominamos de forma genérica de doutrinas socialistas, de Socialismo:

correntes e movimentos políticos da classe operária que visam à


propriedade coletiva dos meios de produção.
Socialismo Utópico

O socialismo utópico nasce no século XIX em um cenário em que eram


abundantes as crises provocadas pelo avanço do sistema liberal e,
consequentemente, repleto de desigualdades sociais, de acentuada miséria, de
precarização das condições de vida dos cidadãos que chegavam do meio rural
em busca de melhores condições de vida nas cidades, onde encontravam
jornadas de trabalho absurdas, além do uso de mão de obra infantil.

A primeira corrente do pensamento filosófico socialista foi denominada, pelos


socialistas posteriores, de Socialismo Utópico.

O uso desse termo foi justificado pelo fato de esses socialistas (os utópicos)
defenderem a possibilidade da transformação da sociedade sem que fosse
necessária a luta de classes, isto é, sem que ocorresse um conflito entre
burgueses e proletários.

Eram pensadores fortemente moldados nas ideias do pensamento iluminista,


ainda muito influenciados pelo liberalismo. Eles se mantiveram buscando no
racionalismo a saída para as contradições geradas pelo advento do
Capitalismo.

Porém, não construíram uma crítica radical ao capitalismo, uma vez que ainda
defendiam a manutenção de suas práticas mais básicas. Vale salientar,
entretanto, que os socialistas utópicos foram os primeiros pensadores que
criticaram a sociedade industrial, a capitalista. Esses pensadores deram os
primeiros passos rumo ao desenvolvimento das teorias socialistas tal como as
conhecemos hoje.

Entre os socialistas utópicos, havia uma preocupação com o modelo de


sociedade onde não houvesse exploração de um indivíduo sobre o outro.
Todavia, suas teorias sobre igualdade eram consideradas um tanto infantis,
sem a devida fundamentação teórica, caracterizava-se por uma visão
romantizada de uma sociedade idealizada. Em função disso, pensadores como
Karl Marx e Friedrich Engels os denominaram por socialistas utópicos, uma vez
que seus argumentos e teses sobre o socialismo necessitavam de uma análise
científica que fosse além do desejo de uma sociedade ideal.

Os seus principais representantes são Robert Owen, Saint-Simon e Charles


Fourier. Ambos defendiam uma sociedade ideal, na qual as classes sociais
vivessem em harmonia, a partir de interesses comuns que estivessem acima
da exploração ou da busca incessante pelo lucro.

O socialismo científico

Karl Marx
Marx e Engels, na obra Manifesto do Partido Comunista, publicado em 1848,
discorreram sobre os fundamentos do socialismo científico.
Defenderam que a classe social explorada e oprimida teria a responsabilidade
de superar as contradições e desigualdades da sociedade capitalista e
substituí-la por uma Sociedade Justa e Igualitária:

A Sociedade Comunista, isto é, uma organização social em que não


existisse a exploração entre os indivíduos – pois as condições sociais que
possibilitam a exploração desapareceriam – e que tivesse como fundamento
essencial a igualdade entre todos.
Segundo Marx, os filósofos tinham a preocupação de compreender a realidade,
porém, o mais importante era transformá-la.

O Advento do Comunismo

Para Marx, o comunismo é "o retorno completo e consciente do homem a si


mesmo, como homem social, isto é, como homem humano".
Essa não é passagem que se faz através de "pregações moralizadoras", que
para nada servem. Trata-se de passagem necessária para uma sociedade sem
propriedade privada e, portanto, sem classes, sem divisão do trabalho, sem
alienação e, sobretudo, sem Estado.
As Fases do Comunismo

O Socialismo

Para Marx, o socialismo é a primeira fase revolucionária após a destruição do


Estado burguês e supõe ainda a existência de um aparelho estatal; após essa
fase, deveria surgir o comunismo propriamente dito.

• O socialismo é um processo de transição, no qual ocorre a tomada do


poder pelo proletariado – pelo povo.
• O comunismo constitui-se numa distribuição igualitária, todos são
produtores indistintamente e não há excedente em mãos privadas,
desaparecendo o Estado e as classes sociais.

No início (socialismo), ainda haveria certa desigualdade entre os homens. Mas


depois, mais tarde, quando desaparecer a divisão entre trabalho manual e
trabalho intelectual, e quando o trabalho se houver tornado necessidade e não
meio de vida, então, a nova sociedade "poderá escrever em sua bandeira: de
cada qual segundo sua capacidade, a cada qual segundo suas
necessidades".
Esse seria o comunismo autêntico, que não consiste na abolição da
propriedade privada e sim na atribuição da propriedade privada ao Estado, o
que reduziria todos os homens a proletários e negaria "a personalidade do
homem" em toda parte.

Estado e sociedade

Para Marx, o Estado não supera as contradições da sociedade civil, mas é o


reflexo dela, e está aí para perpetuá-la. Por isso, só aparentemente visa ao
bem comum, estando de fato a serviço da classe dominante. Portanto, o
Estado é um mal que deve ser extirpado.
Ao lutar contra o poder da burguesia, o proletariado deve destruir o poder
estatal, o que não será feito por meios pacíficos, mas pela revolução.
No entanto, Marx não considera viável a passagem brusca da sociedade
dominada pelo Estado burguês para a sociedade sem Estado, havendo a
necessidade de um período de transição.
A classe operária, organizando-se num partido revolucionário, deve destruir o
Estado burguês, e criar um novo Estado, capaz de suprimir a propriedade
privada dos meios de produção.
A esse novo Estado dá-se o nome de Ditadura do Proletariado, uma vez que,
segundo Marx, o fortalecimento contínuo da classe operária é indispensável,
enquanto a burguesia não tiver sido liquidada como classe no mundo inteiro.

A ditadura do Proletariado (Socialismo)


O que logo teremos será, uma ditadura do proletariado, que usará seu domínio
"para concentrar todos os instrumentos de produção nas mãos do Estado, isto
é, do proletariado organizado como classe dominante".
A revolução burguesa torna todos iguais politicamente, mas não suprime a
desigualdade social:

• A contradição entre igualdade política e desigualdade social somente


pode ser superada através de uma democracia integral que instaure a
comunidade humana, a partir do trabalho e da efetiva reprodução da
vida, e não só num ambiente político, abstrato e posto ao lado das
desigualdades reais, contra as quais não tem poder algum;
A revolução burguesa faz a distinção entre os direitos do homem (segurança,
liberdade, propriedade), membro da sociedade civil, e os direitos do cidadão
que participa do poder público e instituem a comunidade política;
A revolução suprime a antítese entre sociedade civil e Estado político, para
refundar a comunidade humana a partir da livre associação dos
produtores: o poder político é extinto como dimensão separada da vida
real dos indivíduos:

• O proletariado conquista o poder público através da democracia;


• Suprime a propriedade capitalista dos meios de produção, as diferenças
de classe: mantém permanente a revolução democrática na revolução
social;
• Supera-se a fase de conflitos e de intervenções despóticas com o
retorno da produção às mãos dos indivíduos associados,
• O poder público perde o caráter político separado da sociedade, pois
tem sido um poder organizado de uma classe para a opressão da outra:
não haverá mais necessidade de um poder político separado da
sociedade;
• O Estado cessa de ser um órgão que pesa sobre a sociedade, com sua
burocracia, seus custos e seus privilégios, e se faz subordinado à
sociedade, organizada o mais possível na forma do autogoverno;

Levarão a procedimentos como os seguintes:


1) desapropriação da propriedade fundiária e emprego da renda fundiária para
as despesas do Estado;
2) impostos fortemente progressivos;
3) abolição do direito de sucessão;
4) confisco da propriedade de todos os emigrados e rebeldes;
5) concentração do crédito nas mãos do Estado, mediante um banco nacional
com capital do Estado e monopólio exclusivo;
6) concentração de todos os meios de transporte nas mãos do Estado;
7) multiplicação das fabricas nacionais e dos instrumentos de produção,
desbravamento e melhoria das terras segundo um plano coletivo;
8) obrigação de trabalho igual para todos; constituição de exércitos industriais,
especialmente para a agricultura;
9) unificação do exercício da agricultura e da indústria, medidas adequadas
para eliminar gradualmente o antagonismo entre cidade e campo;
10) instrução pública e gratuita de todas as crianças. Eliminação do trabalho
das crianças nas fabricas em sua forma atual. Combinação da instrução com a
produção material e assim por diante".

A realização dessas medidas deveria ser a fase intermediaria da transição da


sociedade burguesa para a sociedade comunista.
Posteriormente, ter-se-ia o "salto para a liberdade"; então, "a velha sociedade
burguesa, com suas classes e antagonismos entre as classes, sucede uma
associação em que o livre desenvolvimento de cada um é condição para o livre
desenvolvimento de todos".

A utopia comunista
Socialismo
A primeira fase, de vigência da ditadura do proletariado, corresponde ao
Socialismo, que supõe a existência do aparelho estatal, da burocracia, do
aparelho repressivo e do aparelho jurídico. Nessa fase persiste a luta
contra a antiga classe dominante, a fim de evitar a contra-revolução.

O princípio do socialismo é:
"De cada um, segundo sua capacidade, a cada um, segundo seu trabalho".

Comunismo
A segunda fase, chamada Comunismo, tem como princípio:

"De cada um, segundo sua capacidade, a cada um, segundo suas
necessidades".
O Comunismo se define pela supressão da luta de classes e,
consequentemente, pelo desaparecimento do Estado. Na "anarquia feliz" o
desenvolvimento prodigioso das forças produtivas levaria à "era da
abundância", à supressão da divisão do trabalho em tarefas subordinadas
(materiais) e tarefas superiores (intelectuais), à ausência de contraste entre
cidade e campo e entre indústria e agricultura.

Resumindo o Pensamento de Marx

Primeira Fase – sociedade coletivista – propriedade comum dos meios de


produção – a distribuição dos bens segue o princípio: “a cada um segundo seu
trabalho”; intervenções despóticas: aumento dos impostos, confisco dos bens,
abolição do direito de sucessão, eliminação do antagonismo entre o campo e a
cidade, obrigação do trabalho para todos, instrução obrigatória (reeducação).

Segunda Fase – mais madura (comunismo), com o desenvolvimento


extraordinário da riqueza coletiva, o princípio será: “de cada um conforme as
suas capacidades, a cada um conforme as suas necessidades”.

O Marxismo Na União Soviética


Introdução
A convocação feita por Marx, para que os trabalhadores construíssem um
processo revolucionário, parecia ser uma possibilidade remota em face do
desenvolvimento dos Estados liberais enriquecidos pelo favor dado às classes
burguesas. Contudo, em 1871, ocorreu a primeira organização político-social
fundamentada no socialismo científico de Marx e Engels: a Comuna de Paris.
Na França, instaurou-se o primeiro governo operário da história, por ocasião da
resistência popular ante à invasão por parte do Reino da Prússia; os proletários
(operários das fábricas) de Paris conquistaram o poder político da cidade e
implantaram um governo que só resistiu por cerca de dois meses. Apesar da
curta duração, a Comuna de Paris influenciou movimentos socialistas
posteriores, como a Revolução Russa. Em novembro de 1917 as forças
bolcheviques, constituídas por soldados e operários armados, tomaram o poder
na Rússia e implantaram o Estado socialista.

Comunismo Soviético Ou Comunismo Marxista.


Crise da Monarquia – fome – guerra – governo autoritário – mais guerra
Os oposicionistas burgueses se mobilizaram em prol de reformas políticas
constitucionais por liberdades básicas, ao mesmo tempo que soldados se
revoltam e greves operárias de massa eclodem durante 1905, quando surgem
conselhos políticos formados por trabalhadores, conhecidos como soviets.
Nessa época, a social-democracia russa se encontrava dividida entre duas
facções:
• os bolcheviques (o que significa “maioria” em russo) e
• os mencheviques (“minoria”).
O grande protagonista desse racha será Vladimir Ilyich Lenin (1870-1924).
Integrante da intelectualidade russa, ele começa a participar da organização da
classe operária russa e defende em O que fazer? que existe um abismo
intransponível entre a luta econômica e a luta política do movimento operário.
Seria necessário que intelectuais radicais oriundos da burguesia liderassem e
esclarecessem os trabalhadores das tarefas revolucionárias e da necessidade
de se abolir a relação salarial, pois sozinhos eles não seriam capazes de
ultrapassar reivindicações reformistas.
Daí resulta uma concepção de socialismo, cujo núcleo é uma teoria do partido-
vanguarda, no qual um pequeno número de revolucionários profissionais
deve organizar secretamente uma tomada do Estado.
Enquanto os bolcheviques adotam a linha formulada por Lenin, os
mencheviques defendem uma noção ampliada e pluralista do que deveria ser
um partido operário, voltado mais para a luta sindical e os meios legais de
participação política.
Uma diferença fundamental entre essas duas frações estava justamente nas
classes sociais que eles apostavam como capazes de liderar essa etapa
republicana pró-capitalista:
• Mencheviques (em russo: minoria) – não aceitavam a revolução
violenta como meio para instaurar o socialismo na Rússia, constituíram
em 1902 a linha oposta aos bolcheviques (maioria) de Lenin, eles
advogavam uma aliança dos operários com setores progressistas da
burguesia,
• Bolcheviques – os radicais, defendiam a liderança da classe operária
apoiada pela classe camponesa, pois desconfiavam dos laços da
burguesia russa com o absolutismo tzarista.

A ESTRATÉGIA DAS TESOURAS


Um dos primeiros passos para estabelecer essa ordem necessária foi dado
com a criação dos partidos menchevique e bolchevique. Em russo, bolchevique
quer dizer maioria e menchevique, minoria. Os mencheviques eram adeptos do
socialismo por etapas, exatamente como pregava Karl Marx. Eles acreditavam
que a Rússia, por ser um país camponês e feudal, ainda precisava se
industrializar antes de se tornar socialista e que, portanto, outras nações a
precederiam nessa jornada.
Os bolcheviques, por sua vez, defendiam o leninismo: uma revolução armada
que deveria ser feita a todo custo, sem esperar qualquer amadurecimento. Eles
entendiam que o caminho menchevique era um dogmatismo teórico burro, que
nada tinha a ver com abrir mão do poder.
Lênin resolveu tirar proveito dessa discordância e criou a famosa estratégia das
tesouras. Ele sugeriu que fossem constituídos dois partidos. A divisão serviria
para produzir uma ideia de oposição quando, na verdade, ambos trabalhariam
juntos.
Inicialmente, houve certa resistência a esse projeto, mas Lênin conseguiu uma
vitória por maioria, o que concedeu ao seu partido o nome bolchevique.
Embora estivessem fragmentados, havia um plano central: tornar a Rússia um
país comunista.
A proposta política dos mencheviques de que, antes de estabelecer o
socialismo na Rússia, era preciso uma constituição, a redistribuição de renda e
a igualdade de classe, tornou-se a concepção majoritária entre a população.
Uma ideia que não havia sido amplamente discutida, uma sociedade socialista,
em extremo contraste com a Revolução Industrial que ocorria na Inglaterra, foi
tomada como o único caminho possível.
Neste período, os bolcheviques eram vistos como revolucionários radicais e
não gozavam de boa reputação junto ao povo. Com a fundação dos dois
partidos, houve uma intensificação dos atentados, perpetrados principalmente
pelos bolcheviques, que estavam responsáveis por fazer a frente de guerra. A
separação funcionou e o governo entendeu que os mencheviques eram uma
ameaça menor, enquanto os bolcheviques eram percebidos como os
extremistas. Essa atmosfera de indignação vai se acentuando até estourar a
chamada “Revolta de 1905”, e a Revolução de 1917.

Lenin (1870, Simbirsk -1924):

Instaura o bolchevismo, o comunismo marxista soviético leninista; líder da


versão totalitária e crítico radical dos dissidentes, dos desviacionistas, dos
reformistas e revisionistas, traidores e renegados, combateu os populistas, os
niilistas e os mencheviques.

Características Gerais:

Revolução levada adiante pelo Partido e partidos afiliados mundo afora, não
pelo proletariado, pois este é capaz de fazer reivindicações, não de iniciar a
revolução.
Partido dotado de poder absoluto instruído pelos intelectuais burgueses e
formado por militantes dispostos a qualquer sacrifício, sob férrea
disciplina de tipo militarista, para derrubar o domínio da classe burguesa
através da violência e da luta armada.
A ética do partido: subordinar todos os interesses à luta de classes do
proletariado.
Coletivização econômica: é o socialismo de Estado, o coletivismo estatal,
com abolição da propriedade privada que passa a ser socializada por
imposição.
Atribui-se a Lenin frases muito expressivas de sua real atuação, como:
“O melhor revolucionário é um jovem desprovido de toda e qualquer moral”;
• A respeito dos adversários do marxismo:
“Acuse-os do que você faz, xingue-os do que você é”;
• A respeito dos que o seguiam sem conhecer suas reais intenções:
“São idiotas úteis”.

Entre os 10 princípios que lhe são atribuídos como seu decálogo por espelhar o
que ele buscava:
“Corrompa a juventude e dê-lhe liberdade sexual; divida a população em
grupos antagônicos; desarme a população; infiltre-se na Mídia para
depois controlá-la”.

Lenin foi coadjuvado por Willi Münzenberg (1899-1940), expert em farsas


duráveis da propaganda e recrutador de ocidentais para a causa marxista; e
por Karl Radek (1885-1939), que na implantação da revolução sexual
formou jovens devassos e desajustados que depois o surraram até à
morte na prisão.
A Tese de Lênin sobre a democracia burguesa e a ditadura do proletariado (Os
quatro primeiros congressos da Internacional Comunista) defende o seguinte:

“A ditadura do proletariado é o esmagamento pela força, da


resistência dos exploradores, isto é, de uma ínfima minoria da
população: os latifundiários e os capitalistas. Daí se deriva,
inevitavelmente, não só de uma mudança das formas e das
instituições democráticas em geral, mas também de uma tal
mudança que desemboque em uma expansão desconhecida,
até agora, do princípio democrático, a favor das classes
oprimidas pelo capitalismo, a favor das classes trabalhadoras
[...] Uma possibilidade real da grande maioria da população de
desfrutar de direitos e liberdades como nunca se fez nem de
perto, nas melhores e mais democráticas repúblicas
burguesas”.
Jósif Stálin (1879-1953). 1938:

O stalinismo é definido como um regime totalitário que existiu na União


Soviética, entre 1927 e 1953, e foi construído Josef Stalin.
Esse governo realizou transformações profundas, na URSS, e realizou uma
implacável perseguição aos seus opositores.

A coletivização das terras soviéticas, a industrialização do país,


a perseguição aos opositores por meio dos expurgos e a resistência
ferrenha contra os nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, foram
acontecimentos marcantes durante esse período. Os crimes cometidos durante
o stalinismo só foram denunciados após a morte de Stalin.

Características do stalinismo
Algumas das características básicas desse governo são:
1 - Economia controlada inteiramente pelo Estado;
2 - Governo discricionário, baseado unicamente nas vontades do líder;
3 - Culto à personalidade de Stalin;
4 - Criação de um grande aparato de propaganda política;
5 - Criação de um regime de terror que impôs perseguição aos opositores do
regime;
6 - Perseguição à religião;
7 - Militarização da sociedade;
8 - Burocratização do serviço público;
9 - Imposição de censura etc.

Stalin percebeu que a identificação do elo entre os russos e da tradição da


grande Mãe Rússia como a potência do movimento, e não os trabalhadores,
levou à exclusão dos demais grupos étnicos da revolução.

Consequentemente, a Internacional Comunista, que coadunava diversas


nacionalidades, passou a ser vista como possível pecadora para os objetivos
revolucionários e perdeu força. O novo homem marxista deixava de advir da
união de trabalhadores do mundo inteiro e surgia de um país: a Rússia.
Portanto, deu luz para toda uma teoria de nacional-socialismo desenvolvida a
partir de então.

Plano Quinquenal
Quando Stalin assumiu o poder, em 1927, a indústria soviética ainda era frágil
e, por isso, Stalin impôs um plano que cobrava um grande esforço de todo o
país para promover uma industrialização em escala acelerada.
O plano de industrialização da União Soviética ficou conhecido como Plano
Quinquenal, um plano que criava metas que o país deveria alcançar a cada
cinco anos.
Plano Quinquenal priorizou o desenvolvimento de áreas relacionadas
à indústria pesada, como a metalurgia e siderurgia, além de dar grande
atenção para a extração de combustíveis fósseis e para a produção de
energia elétrica. O Estado soviético passou a cobrar que metas extremamente
exigentes fossem alcançadas e isso exigiu um esforço enorme dos
trabalhadores.
O Plano Quinquenal estava alicerçado em três pilares:
• Tudo é do Estado,
• Trabalho forçado e
• Estabelecimento, pelo Estado, da meta de tudo que deve ser
produzido.

Quando o anunciou, Stalin prometeu que sua instauração promoveria um


crescimento de mais de 100% nas indústrias e de mais de 50% no campo.
Revolucionou-se a forma como a produção agrícola acontecia e atacou-se as
classes de camponeses ricos que existiam no interior soviético. A coletivização
da terra foi feita à força, e a resistência a esse processo foi tratada com
brutalidade.
A coletivização da terra foi imposta junto do primeiro Plano Quinquenal, em
1929, e pode ser definida, basicamente, como processo de expropriação de
terra, abolindo a propriedade privada no campo e transformando tudo em
propriedade do Estado.
As terras tomadas eram transformadas em fazendas coletivas e tudo que
existia nelas, como as ferramentas, as sementes e o gado, pertenciam ao
Estado.
A tomada de terras gerou resistência, sobretudo dos camponeses ricos.
Neste momento, Stalin deveria estar enfraquecido, correndo o risco de perder o
controle. Entretanto, ele deu um segundo passo que o fortaleceu. Stalin
determinou que, caso as cotas não fossem cumpridas, as pessoas estavam
proibidas de retirar qualquer quinhão da produção, mesmo que para sua
alimentação.
Impôs uma lei antifurto para condenar as pessoas que desobedecessem à
nova norma, com finalidades pedagógicas, mais de duas mil pessoas são
condenadas em praça pública, para que os demais aprendessem que não
poderiam mais roubar do povo. Apesar das rígidas regras, a produção
continuava inatingível, pois as metas eram extremamente audaciosas. O
crescimento exigido era muito elevado.
A coletivização foi, no entanto, desastrosa. As metas estipuladas eram tão
altas que, frequentemente, os camponeses tinham suas sementes tomadas
pelo Estado. Além disso, as fazendas coletivas mostraram-se, em grande
parte, não tão produtivas quanto se esperava. O resultado óbvio disso foi
a fome.

Plano Quinquenal
• a indústria soviética ainda era frágil
• industrialização em escala acelerada.
• criava metas que o país deveria alcançar a cada cinco anos.
• priorizou o desenvolvimento de áreas relacionadas à indústria pesada
• passou a cobrar que metas extremamente exigentes fossem alcançadas
• três pilares:
• 1 tudo é do Estado
• 2 trabalho forçado
• 3 estabelecimento, pelo Estado, da meta de tudo que deve ser
produzido.
• sua instauração promoveria um crescimento de mais de 100% nas
indústrias e de mais de 50% no campo.
• atacou-se as classes de camponeses ricos
• foi feita à força, e a resistência a esse processo foi tratada com
brutalidade.
• fazendas coletivas e tudo que existia nelas, como as ferramentas, as
sementes e o gado, pertenciam ao Estado
• A coletivização foi, no entanto, desastrosa
• as fazendas coletivas mostraram-se, em grande parte, não tão
produtivas quanto se esperava
• O resultado disso foi a fome.

Perigo da Fome
Como a população estava passando fome, a opinião pública, em certa medida,
apoiou as execuções; o segundo grupo foi preso e as suas terras foram
confiscadas; o terceiro grupo teve somente as terras confiscadas. Essas
sentenças provocaram a morte de duzentas mil pessoas e enviaram um milhão
e oitocentas mil pessoas para prisão nesse momento. Isso era apenas um
vislumbre do que viria a ser o regime de Stalin.
A principal fonte de riqueza não vinha do trabalho forçado, mas sim da
expropriação completa de toda população, que fornecia uma reserva de
recursos. Por isso, a severidade das políticas continuou se acentuando sem
alcançar os resultados intencionados.
Sem as metas cumpridas, o problema da fome persistia. O Partido Comunista
estava desesperado para resolvê-lo, pois tinha consciência que sua
permanência poderia comprometer a confiança da população no regime,
levando-o à queda. Seus temores estavam fundados no fato de terem
derrubado a Dinastia Romanov exatamente desse jeito em 1917.
O primeiro campo de exílio foi inaugurado. O número de prisioneiros crescia
drasticamente: de um milhão e oitocentos mil para dois milhões e trezentas mil
pessoas, e desse patamar para três milhões e duzentas mil pessoas. Nessas
prisões, o trabalho forçado também era obrigatório e muitos morriam por maus-
tratos.

“A Solução” – Holodomor
Stalin se isolou e identificou uma nova alternativa para sanar a subalimentação
do povo russo. A Ucrânia apresentava uma relevante produção de milho e soja,
sendo um dos principais exportadores do capital para produção agrícola. Stalin
percebeu que podia se apoderar da produção do país para dar fim à
subalimentação do povo russo. Inicialmente, impôs que 35% da produção
deveria ser entregue.
Por Stalin acreditar que os ucranianos estavam roubando os rendimentos, o
percentual aumentou para 65%. Em face da insuficiência, a cifra subiu para
92%. Até atingir a impressionante marca de 170% da produção.
Em outras palavras, os ucranianos estavam devedores. Além de toda sua
produção confiscada, precisavam entregar mais 70%.
A fim de reparar os supostos desvios cometidos pelos ucranianos, Stalin enviou
a polícia para realizar uma fiscalização. Ao chegar lá, os policiais localizaram
pequenos armazéns com comida estocada e algumas pessoas afanando uma
parcela da produção. Essas eram tentativas de sobreviver. No entanto, Stalin
as encarou como provas de que os ucranianos não estavam entregando a
comida.
Para garantir que suas ordens seriam respeitadas, condenou vários indivíduos
e endureceu e reforçou a vigilância. Os ucranianos, em um contexto de fome
crescente, emigraram para Moscou, onde uma ração distribuída pelo governo
despertava esperança.
Os milhões de ucranianos chegados à Moscou causaram uma perturbação no
governo, incapaz de fornecer víveres a todos. Como saída, o governo decretou
a necessidade de portar um passaporte urbano, inacessível aos ucranianos. As
punições para quem era pego sem ele variavam entre a morte e a prisão.
Assim os ucranianos começaram a retornar para sua pátria. Com intenção frear
novas debandadas, Stalin ordenou aos policiais que cercassem as fronteiras da
Ucrânia. Junto a isso, as linhas de trem foram canceladas e a rigidez para
obtenção do passaporte aumentou exponencialmente. Já não era mais
possível entrar ou sair da Ucrânia.
As pessoas, famélicas, começaram a morrer nas ruas, em uma completa
inanição. Em 1930, mais de setenta mil pessoas haviam morrido de fome. Em
1931, com a queda nas cotas, quinhentas mil pessoas morrem. Stalin restringiu
a cota ainda mais, mas em 1932, um milhão e duzentas mil pessoas morrem,
sem saúde, sem incentivo, sem esperança, sem autoestima.
Em 1933, um milhão e oitocentas mil toneladas de comida foram exportadas da
Ucrânia para a Rússia. Justamente nesse ano, sem conseguir produzir
alimentos em demasia para si, os ucranianos morreram nas fábricas, nos
campos. Oito milhões de ucranianos, 83% da população, foram vitimados pela
fome.
Foi o primeiro genocídio da ditadura de Stalin, episódio que ficou conhecido
como Holodomor. Essa hecatombe é tão alarmante, que foi denunciada dentro
do partido. Marxistas favoráveis à revolução, dotados de uma ética bem
flexível, por já terem matado pessoas, reconhecem nesse evento um exagero.

• Holodomor
• A Ucrânia apresentava uma relevante produção de milho e soja um dos
principais exportadores do capital para produção agrícola
• Se apoderou da produção do país para dar fim à subalimentação do
povo russo
• Acreditava que os ucranianos estavam roubando os rendimentos
• Stalin enviou a polícia para realizar uma fiscalização
• Policiais localizaram pequenos armazéns com comida estocada
• Essas eram tentativas de sobreviver
• Stalin condenou vários indivíduos e endureceu e reforçou a vigilância
• Os ucranianos, em um contexto de fome crescente, emigraram para
Moscou, onde uma ração distribuída pelo governo despertava
esperança.
• Estes causaram uma perturbação no governo, incapaz de fornecer
alimentos a todos
• Declara a necessidade de portar um passaporte urbano, inacessível aos
ucranianos
• Stalin ordenou aos policiais que cercassem as fronteiras da Ucrânia Já
não era mais possível entrar ou sair da Ucrânia.
• Sem conseguir produzir alimentos em demasia para si, os ucranianos
morreram nas fábricas, nos campos.
• Oito milhões de ucranianos, 83% da população, foram vitimados pela
fome.
• Torna-se o primeiro genocídio da ditadura de Stalin

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