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1.

Introdução
Neste presente trabalho iremos abordar acerca de dois temas que são, a Filosofia política
na Antiguidade e a Filosofia política na Idade Média.

A Filosofia Antiga corresponde ao período do surgimento da filosofia grega no século


VII a.C. Ela surge da necessidade de explicar o mundo e encontrar respostas para a origem das
coisas, dos fenômenos da natureza, da existência e da racionalidade humana. A filosofia antiga
surge com a substituição do saber mítico ao da razão e isso ocorreu com o surgimento da polis
grega (cidade-estado). Mais tarde, as discussões que ocorriam em praça pública juntamente com
o poder da palavra e da razão (logos) levaram a criação da democracia. Com essa nova
organização social e política pelo qual a Grécia passava foi fundamental para dar lugar a
racionalidade humana e com isso, as reflexões dos filósofos.

A Filosofia Medieval foi desenvolvida na Europa durante o período da Idade Média


(séculos V-XV). Na Idade Média a Igreja Medieval tinha grande força e, portanto, muito temas
explorados pelos filósofos eram de ordem religiosa. Trata-se de um período de expansão e
consolidação do Cristianismo e a Igreja Católica foi no período medieval a mais importante
instituição social e a maior representante da fé cristã.

Assim, muitos filósofos que se desenvolveram dessa época eram membros da igreja.
Nesse momento, os grandes pontos de reflexão para os filósofos estavam associados com a
figura divina, ou seja, a existência de Deus, a fé e a razão, a imortalidade da alma humana, a
salvação, o pecado, a encarnação, a liberdade, dentre outros. Em outras palavras, ainda que
parece paradoxal, a filosofia medieval tentou conciliar a religião com a filosofia, ou seja, a
consciência cristã com a razão filosófica e científica.

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2.A Filosofia política na Antiguidade

2.1.Os Sofistas

Os primeiros filósofos da Grécia antiga preocuparam-se com as questões da Natureza. As


explicações cosmológicas giravam em torno da procura do arché (priníipio) de todas as coisas Os
sofistas foram os primeiros a desviarem a rota tradicional de pensamento dos pré-socráticos, que
se centrava na Natureza, concentrando a sua atenção no Homem e nas questões da moral e da
política.

Na politica, elaboraram e legitimaram o ideal democrático. Á virtude de uma aristocracia


guerreira opõe-se, com eles, a virtude do cidadão: a maior das virtudes passa a ser a justiça.
Postularam igualmente que todos os cidadãos da polis devem ter direito ao exercício do poder e
elaboraram uma nova educação capaz de satisfazer os ideais do homem da polis, e não apenas o
aristocrata, superando assim os privilégios da antiga educação elitista.

Outra obra importante dos sofistas foi a sistematização do ensino: gramática, retórica e
dialéc- tica. É de salientar igualmente que, com o brilhantismo da participação no debate público,
deslumbraram os jovens do seu tempo. Os sofistas mais famosos foram: Protágoras, Górgias,
Trasímaco, Pródico e Hipódamo.

2.2.Platão

O pensamento político de Platão (428-347 a.C.) está contido sobretudo nas obras. A
República e O Político e as Leis. Era ateniense, provinha de uma família aristocrática e tinha um
grande fascínio pela política. Suas principais contribuições para filosofia foram A Teoria das
Ideias, A Teoria da Reminiscência, a Teoria das Três Partes da Alma e os Graus do
Conhecimento. Essas são basicamente as principais formulações teóricas que fazem parte do
sistema epistemológico platônico.

Foi o primeiro a estudar a política sob uma perspectiva "científica". Ele percebia que
a polis estava "contaminada" pelas idéias dos sofistas, e buscou uma maneira de "curá-la"
desse mal, através da racionalidade.

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Um dos seus mais famosos escritos é  A República (politeia), que significa “organização
da cidade” que foi escrito em 373 a.C. divido em dez capítulos. Neste diálogo Platão reflete
sobre como deveria ser constituída uma cidade justa. 

Em seu livro A República, Platão desenvolveu seu pensamento político, através da


descrição do que seria, em sua concepção, a forma ideal de governo. Para Platão, a educação era
a base da vida social, e sua importância era tão grande, que deveria ser assumida exclusivamente
pelo Estado.  

2.2.1.Origem do Estado

Platão defende que os homens formam o Estado não por uma tendência ou inclinação
natural, mas por força das necessidades de se garantirem a si mesmo. Ou seja, o Estado nasce
porque cada um de nós não se basta a si mesmo, não é auto-suficiente (ou autárquico) na medida
em que cada um tem mutuamente necessidades dos serviços de outrem.

Ninguém pode exercer todas as profissões ao mesmo tempo e, por isso, não pode prover a
si mesmo todos os serviços que tais profissões propocionan. Para suprir essa necessidade de
serviços de outrem, os homens decidem associar-se e criar o Estado. Por isso, para Platão, o
Estado tem uma origem convencional, isto é, é fruto de acordo mútuo dos homens.

2.2.2.Comunismo/Idealismo

Comunismo é uma doutrina social, segundo a qual se pode e deve "restabelecer" o que


se chama "estado natural", em que todos teriam o mesmo direito a tudo, mediante a abolição da
propriedade privada. Nos séculos XIX e XX, o termo foi usado para qualificar um movimento
político. Esta palavra tem origem no latim comunis, que significa comum. O comunismo
procurou uma fundamentação teórica nas teorias do estado dos sofistas gregos e na obra
"República" de Platão. No entanto, o comunismo encontrou bem cedo críticos severos, como
Aristóteles.

Em A República, Platão imagina que todas as crianças devem ser criadas pelo Estado e
que até aos vinte anos todos devem receber a mesma educação. Nessa altura, ocorre o primeiro
corte e definem-se as pessoas que, por possuírem «alma de bronze», têm uma sensibilidade

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grosseira e por isso devem dedicar-se á agricultura, ao artesanato e ao comércio. Os outros
prosseguem os estudos durante mais dez anos, momento em que acontecerá um segundo corte.
Os que têm «alma de prata» dedicar-se-ão á defesa da cidade. Os mais notáveis, por terem «alma
de ouro», serão instruídos na arte de pensar a dois (dialogar).

Aos cinquenta anos, aqueles que passaram com sucesso por essa série de provas estarão
aptos a ser admitidos no corpo supremo dos magistrados. Caberá a estes o exercício do poder,
pois apenas eles têm a ciência política. Como são os mais sábios, também serão os mais justos,
uma vez que justo é aquele que conhece a justiça. A justiça constitui a principal virtude, a
condição das outras virtudes.

2.2.3.Classes Sociais
A partir do comunismo de Platão podemos antever a sua organização social. Platão baseia
a sua concepção de estado-ideal na razão não só porque os governantes devem ser filósofos, mas
também porque toda a sua estrutura e funcionamento sociais assentam na ordem e disciplina.
Para que o Estado ou sociedade se mantenha una, é preciso que tudo esteja submetido á
autoridade do Estado e sobretudo que cada membro desempenhe a função para a qual está, por
natureza, apto.
Platão divide o Estado-ideal em três classes sociais hierarquizadas. Cada classe será
permeada por duas características: a aptidão natural dos seus cidadãos e o metal que indica o tipo
de alma ou temperamento.

Critério de distinção Classes dos Classe dos Classe dos


lavradores, guerreiros magistrados
comerciantes e
artesãos
Aptidão natural Satisfação dos apetites Força Irascível ou Razão.
sensuais (o aspecto volitiva- homens
concupiscível). semelhantes aos cães

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de raça ferozes e
mansos.
Função Prover a subsistência Garantir a defesa da Governar e amar a
de toda a sociedade, Cidade dos perigos do Cidade acima de tudo.
especialmente das interior. Produzir leis baseadas
classes superiores. Evitar excesso de na justiça e no bem.
riqueza e de pobreza;
grandeza ou pequenez
excessiva do Estado.
Metal da Alma Na alma contém o Na alma contém a Na alma contém o
Bronze ou Ferro. Prata. Ouro.
A virtude típica Temperança, Fortaleza e Coragem. A Sabedoria.
entendida como
domínio, ordem e
disciplina dos
prazeres.

2.2.4.Formas de governo segundo Platão

 Sofocrática: é um governo guiado pelo bem e justiça. O poder está nas mãos de um (=
monarquia) ou grupo (= aristocracia) de sábios. Por isso, trata-se de uma Aristo-
monarquia ( monarquia permeada pela aristocracia), enfim, baseia-se no culto de sábio.
 Aristo-Democracia: é uma forma de governo exercida por poucos, mais inspirando-se
numa democracia ponderada por várias instituições aristocráticas, trata-se de um governo
misto, uma Aristo-democracia.
 A igualdade perante a lei (isonomia) e no uso da palavra (isegoria) vigentes na
democracia são temperados por aspectos aristocráticos como: o controle e proibição das
inovações da juventude, a censura exercidos pelos anciões (gerontes). Enfim, trata-se de
uma gerontocracia, forma de governo que Platão importa da constituição de Esparta que
ele admirava.

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 Tirania: é governo de um só homem, mas estúpido ou mau, é um poder brutal, opressivo
e o mais insuportável, todavia susceptível de se transformar na monarquia Sofocrática,
bastando que o tirano se deixe aconselhar e ensinar pelo sábio e oriente o seu poder pela
justiça e pelo bem.
 Timocracia: governo exercido por pessoas afortunadas, governo censitário; ou por
pessoas ambiciosas. Baseia-se no culto ao guerreiro.
 Oligarquia: governo de pequeno número de pessoas, assente na posse da riqueza e
procura o bem próprio; mau governo pois a vida do rico não tem inclinação para a
sabedoria, exclui os pobres.
 Democracia: é um governo exercido pela multidão ou por muitos e, como a multidão é
incapaz de adquirir a sabedoria da ciência política, é um mau governo, isto é, nunca pode
se guiar pela sabedoria. É um regime sem lei, sem autoridade reconhecida pois nela cada
cidadão age como quer, julga-se apto para todas as funções e fazo que quer. É um regime
superior e preferível á tirania pois é incapaz de fazer grandes males e nela a liberdade dos
cidadãos está garantida; mas também é um regime incapaz de grandes bens, por isso é
inferior que a república do estado-ideal.

2.3.Aristóteles

Aristóteles (384-322 a.C.), é tido como o mais erudito e sábio dos filósofos gregos.
Familiarizou-se com todo o desenvolvimento do pensamento grego anterior a ele. Em seu
livro Política, Aristóteles tentou reaproximar o exercício da política ao exercício da ética, na
busca de restaurar a moral política grega.

 Para Aristóteles, o grande objectivo da vida do homem era ser feliz; para isso, deveria
desenvolver suas aptidões. A natureza, não permitia que um homem isolado se desenvolvesse
plenamente. Por essa razão, os homens se uniam para a realização de um bem maior e mais
importante: a constituição e manutenção da polis.

Sua reflexão política desenvolveu-se quando questionou os motivos para os seres


humanos se organizarem em comunidades. De acordo com o pensador, a necessidade de
reprodução e protecção fez com que surgissem os primeiros modelos de família. Com o tempo as
famílias necessitaram se juntar, surgiram então as Vilas, comunidades, cidades etc. Para esse

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filósofo, não bastava nascer na cidade ou ser filho de um cidadão para ser um cidadão, para ser
considerado assim o indivíduo deveria participar da vida política da cidade.

2.3.1.Origem do Estado

O Estado, segundo Aristóteles, é produto da Natureza: «é evidente que o Estado é uma


criação da Natureza e que o Homem é, por natureza, um animal político». Historicamente,
explica Aristóteles, o Estado desenvolveu-se a partir da família: ao unirem-se, as famílias deram
origem a aldeias, estas desenvolveram-se e formaram as cidades (Estado). Este, apesar de ter
sido o último a criar-se, é superior ás anteriores uniões da sociedade, pois Estado é auto-
suficiente. O objectivo do Estado é proporcionar felicidade aos cidadãos.

Aristóteles submete o individuo á cidade no sentido de que o homem é feito para a vida
social, por conseguinte, é inconcebível para este filósofo que o homem viva fora da cidade.
«Quem não pode fazer parte de uma comunidade, quem não tem necessidade de nada, bastando-
se a si mesmo, não é parte de uma cidade, mas é fera ou Deus».

2.3.2.Formas de governo segundo Aristóteles

 Monarquia (governo de um homem): é teoricamente a melhor forma de governo,


porque preserva a unidade do Estado, contudo, facilmente se pode transformar em tirania
– governo de um só homem, que se move por interesse próprio. As sociedades bárbaras,
na óptica de Aristóteles, precisam da autoridade centralizada da monarquia.
 Aristocracia (governo de poucos homens): governo de um grupo de cidadãos virtuosos,
os melhores, que cuidam do bem de todos. A sua forma corrupta é a oligarquia, que é o
governo dos ricos, os quais procuram o bem económico pessoal.
 República (governo de muitos homens): trata-se de um tipo de governo constituído
pelo povo, que cuida do bem de toda pólis. Quando o povo toma o poder e suprime todas
as diferenças sociais em nome da igualdade, este tipo de governo chama-se democracia e
é a forma corrupta da república.

3.A Filosofia Política na Idade Média

3.1.1.Santo Agostinho

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A doutrina política de Santo Agostinho encontra-se na obra A Cidade de Deus. Para ele,
o mundo divide-se em duas cidades: a Cidade de Deus e a Cidade terrena. A Igreja é a
encarnação da cidade de Deus, apesar de isto não se aplicar a todos os seus membros, nem a
todos os seus ministros sagrados.

O Estado é a encarnação da cidade terrena, uma necessidade imposta ao pelo pecado


original. Santo Agostinho acredita que o Homem é mais divino do que o Estado, porque o
Homem tem um fim natural que transcende o fim do estado terrestre. Para este padre, a Igreja é
superior ao Estado. Ele defende a existência da autoridade política para que se mantenha a paz, a
justiça, a ordem e a segurança da autoridade política é entendida como uma dádiva divina aos
seres humanos. Por isso, os cidadãos devem obedecer aos governantes e não é da sua
competência (dos homens) distinguir entre governantes bons e maus, ou formas de governo
justas ou injustas.

3.1.2.Origem do Estado

Segundo Santo Agostinho, o Estado teve a sua origem quando o homem começou a viver
em sociedade, pois o conceito e a finalidade do Estado está radicado no próprio homem. Para ele,
o Estado será bom, justo e correcto se os homens que o compõe forem movidos pela verdadeira
justiça que se encontra somente em Deus. Esta é a condição necessária para que o Estado
desempenhe com eficácia sua função de salvaguardar a segurança, a paz e a concórdiados
cidadãos. 

3.2.São Tomás De Aquino

A obra De Regimine Principum (Do Governo dos Príncipes) espelha o pensamento


político de São Tomás de Aquino fala sobre a origem e a natureza do Estado, as várias formas
de governo e as relações entre o Estado e a Igreja.

Para São Tomás há também duas naturezas no Homem, as quais são comparadas à
diferença entre corpo e alma. « Há no Homem duas naturezas, dois fins, duas ordens de virtude,
dois graus de Felicidades». São Tomás, ao defender a bipolaridade como forma de estar do
Homem acaba por desaguar na teoria dos dois poderes defendido antes pelo Santo Agostinho.

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Para ele os poderes são temporal e religioso, sendo o religioso superior ao temporal, assim como
a alma se sobrepõe ao corpo.

3.2.1.Origem do Estado segundo São Tomás De Aquino

Quanto à origem do Estado, Tomás de Aquino recusa-se a aceitar a concepção


augustiniana, segundo a qual a origem do Estado se deve ao pecado original, e concorda com
Aristóteles este nasce da natureza social do Homem e não das limitações do indivíduo. O Estado
é uma sociedade porque consiste na reunião de muitos indivíduos que pretendem fazer alguma
coisa em comum, porque tem um fim próprio: o bem comum e os meios suficientes para o
realizar. O Estado tem os meios suficientes para proporcionar um modo de vida que permita a
todos os cidadãos ter aquilo que necessitam para viver como homens.

3.2.2.Formas de governo segundo São Tomás De Aquino

No que se refere às formas de governo, Tomás de Aquino não é original, conquanto


retorna a divisão aristotélica e considera como governo ideal a monarquia absoluta. Porém, na
prática, considera a monarquia constitucional a melhor forma de governo.

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4.Conclusão
Pode-se concluir que A Filosofia política investiga as relações humanas em sentido coletivo. A
Filosofia é fruto da Antiguidade Clássica, foi criada pelos gregos, o primeiro povo a tentar
solucionar seus próprios problemas. Os gregos refletiam sobre as inquietações de suas vidas e
buscavam soluções que acreditavam ser eternas e aplicáveis a todas as sociedades.

A Idade Média caracterizou-se pela predominância da Divindade na ordenação da coisas


terrenas: primeiro os clérigos; depois os reis. Essas ordenações foram, inicialmente, extraídas do
pensamento de Santo Agostinho que, em A Cidade de Deus, dá-nos a impressão que somente os
padres seriam capazes de interpretar a vontade divina acerca da boa administração terrena.

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5.Referências Bibliográficas

 CHAMBISSE, Ernesto Daniel, NHUMAIO, Alcido Moniz Godi, Filosofia 12ª.Classe,

2ª.Edição, Maputo, Textos Editores, 2017, PP(44-53).

 BIRIATE, Manuel Mussa, GEQUE, Eduardo R. Graciano, Pré-Universitário-Filosofia

12ª., 1ª.Edição, Maputo, Longman, 2010, PP(45-50).

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