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Apontamentos de Introdução à Filosofia - Filosofia Política 12ª classe 2022
É esta estrutura tripartida da alma humana que é seguida na Cidade ou Estado em termos de
classes.
Existe a classe dos magistrados, a dos guardiões e a dos lavradores e artífices, e
correspondem às partes racional, irascível e sensual da alma, respectivamente.
A primeira classe deve actuar de acordo com a razão ou sabedoria e a sua função principal é
governar.
A segunda, dos guardiões ou militares deve agir de acordo com a coragem e a sua competência é
a defesa e segurança da Cidade ou Estado.
A classe dos lavradores e artífices ou trabalhadores em geral deve agir segundo o desejo, e sua
função é garantir o sustento material da Cidade ou Estado.
harmonia e bem-estar
Magistrados Racional (ouro) razão ou sabedoria governar
geral.
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a oligarquia, que pode ser uma timocracia (o poder pertence aos guardas; predomina o espírito
guerreiro sobre a sabedoria) ou uma plutocracia (governo de uma minoria de ricos interesseiros e
contra os pobres) e a democracia, que é depreciada por Platão, que considera que a maioria é
incapaz de possuir a Verdade, a Razão e a Sabedoria, qualidades indispensáveis para se ser um
bom governante (Amaral, 2008: 101).
Estas formas de governo vão-se deteriorando, da melhor à pior e desta para a melhor. Assim, sai-
se da sofiocracia à timocracia, desta à oligarquia, passando-se da democracia até à tirania e depois
volta-se à sofiocracia.
Platão era convencido de que só enquanto o governante fosse igualmente político e filósofo é que
se podia acabar os males da cidade. O filósofo-rei ou rei-filósofo não busca os seus próprios
interesses, mas os de todos; preza mais a virtude do que a posse dos bens e a concupiscência,
domina a «ciência da navegação» (a política), não confunde as aparências do mundo sensível com
as essências do mundo inteligível, etc.
Aristóteles, também conhecido como Estagirita por ter nascido em Estagira, na Macedónia, é filho
do médico Nicómaco. Aristóteles escreveu várias obras. é conhecido como o fundador da Ciência
Política e disciplinas afins e um dos pioneiros defensores da sociedade pluralista e de valores
eminentes. Por isso, contrariamente a Platão, Ele não projecta uma sociedade ideal, nem se
preocupa muito com a cidade justa; o seu ideal é o bom cidadão. Este é um cidadão virtuoso, justo
e cuja acção tende à felicidade. A sua análise científica da sociedade é realista, baseada na
observação. As suas obras de relevância política são Política e Ética a Nicómaco.
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O Estado regulava até aspectos da vida privada ou afectiva, como os casamentos. Para Aristóteles,
as Cidades são um tipo de associação e, como tal, visa um bem ou alguma vantagem, dado que os
homens agem em vista a um bem ou a algo que como tal lhes parece. Assim, o Estado é a
comunidade perfeita, logo o seu bem é o bem supremo, que é a felicidade (eudaimonia),
entendida no sentido ético – como resultante de uma vida virtuosa – e não hedonista (como
consequente de prazeres).
ALGUNS oligarquia Governo conforme ao interesse dos ricos ou classe privilegiada MAU
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certa paz e segurança exteriores nas relações sociais entre os homens». Assim, o Estado é uma
ordem exterior e coerciva, não tem a ver com o Bem e com a Justiça, mas apenas com a paz e a
segurança possíveis na Cidade Terrena. (Amaral, 2008:159s). O fim supremo da Cidade é a paz;
há uma aspiração universal pela paz. «A paz de todas as coisas é a tranquilidade da ordem».
A autoridade, desde a família até ao Estado, tem três funções: comandar, prover e aconselhar. O
poder não é propriedade nem direito do governante, é antes de mais uma função ou serviço, por
isso deve ser exercido com zelo e evitar vícios como a cupidez (autoridade como comando). O
governante deve prever as necessidades dos súbditos e prover a sua satisfação, sabendo discernir
o que é bom para o povo e evitar males como a corrupção e a luxúria (autoridade como
providência). Em fim, o governante é um conselheiro fraterno dos seus irmãos súbditos. Assim,
governar é exercer a caridade; mandar é servir (autoridade como conselho).
É assim que o poder dos governantes é absoluto e a obediência dos súbditos é um dever, sendo
que só se pode desobedecer a leis injustas, as que contrariam a lei de Deus. Aliás, esta é uma das
consequências da concepção de origem divina do poder.
Relação entre Igreja e Estado
Santo Agostinho, embora defendendo, como São Paulo e outros, a origem divina de todo o poder,
distingue o poder temporal ou civil do poder espiritual ou eclesiástico. Amaral advoga que o
Bispo de Hipona é a favor de uma independência entre estes dois poderes. Entretanto, alguns
seguidores de Santo Agostinho inventaram o «agostianismo político», segundo o qual há
supremacia da Igreja sobre o Estado. Dois factores concorreram para isso: 1) a defesa de Santo
Agostinho da intervenção do Estado contra as seitas heréticas para puni-las, subordinando, assim,
o Estado à Igreja; 2) a concepção da Cidade Celeste como superior à Cidade Terrena, porquanto
esta última ergue a cabeça enquanto a primeira tem a sua glória em Deus.
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espirituais e materiais, que ele precisa de Estado, entendido como uma sociedade «perfeita», no
sentido em que se basta a si própria. Todo o poder provém de Deus (omnis potestas a Deo), diz o
Doutor Angélico seguindo São Paulo e fundamentando com recurso à lógica.
A sociedade e a autoridade são uma exigência da natureza e, à semelhança de todas as exigências,
provêem de Deus. São Tomás concilia, portanto, a lição paulina com a doutrina de ordem popular
do poder, mais tarde conhecida por doutrina da soberania popular: «todo o poder vem de Deus
através do povo». Assim, São Tomás nega a doutrina do direito dos reis (que defende que o poder
vem directamente de Deus para os reis), em voga na altura, pela defesa de que a titularidade do
poder é do povo; o exercício do poder poderá caber ao povo colectivamente ou a governantes por
ele escolhidos (Amaral, 2008: 178). Esta ideia revolucionária coloca São Tomás como uma das
fontes da concepção democrática do poder na Europa Ocidental.
A finalidade do Estado é a realização da justiça e do bem comum dos seus membros. Este bem
comum pressupõe não apenas viver, mas viver bem, e diz respeito ao interesse colectivo do povo
e o bem-estar individual bem como a felicidade material.
Formas de governo
Seguindo Aristóteles, São Tomás defende que há três formas justas de governo ou regimes
políticos, a monarquia, a aristocracia e a república, e igual número de regimes injustos,
nomeadamente, tirania, oligarquia e democracia. O melhor governo será uma mistura de
monarquia (um dirigente), aristocracia (muitos participantes do governo conforme as suas
virtudes) e democracia (sistema de eleição). O pior governo é a tirania, seguida da oligarquia e da
democracia. Se a tirania for tal e não se poder mais tolerar, deve-se procurar transformar o tirano
humanamente e se isso não resultar, deve-se recorrer a Deus. O direito à desobediência do povo
cristão ao rei é reservado a casos particulares. A Igreja pode depor o rei, casoeste seja considerado
herético, cismático ou excomungado.
Relação entre Estado e Igreja
Como vimos, São Tomás é defensor da origem sobrenatural ou divina do poder (tanto espiritual
como temporal) e da subordinação indirecta do Estado em relação à Igreja. Para ele, não é
justificável o antagonismo entre Estado e Igreja. Aliás, ambos constituem sociedades perfeitas. O
que justificará que o Estado se subordine, indirectamente, à Igreja é a superioridade desta última
quanto à sua finalidade, que é a salvação eterna do ser humano. Bem dito, a primazia do poder
espiritual sobre o poder temporal é exclusiva ao que se refere, necessariamente, à salvação das
almas. Dito de outro modo, ele defende que se dê a César e a Deus o que a cada um diz respeito:
deve-se obedecer mais ao poder espiritual no respeitante à salvação das almas, e ao poder
temporal ao concernente ao bem civil. São Tomás defende a origem sobrenatural ou divina do
poder e a subordinação indirecta do Estado em relação à Igreja.
a. Diga em que consiste a origem sobrenatural ou divina do poder defendida por São Tomás.
b. Analise as implicações da subordinação indirecta do Estado à Igreja.
15.A filosofia política medieval debateu dois grandes problemas.
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a. Apresente-os.
b. Sintetize as principais respostas dos dois problemas ora apresentados.
17.Para Santo Agostinho, o poder não é propriedade nem direito do governante. É antes de mais:
a. Comando, providência e conselho.
b. Comando, cidade celeste e Confissões
c. Providência, Cidade de Deus e teologia
d. Teologia, filosofia e conselho.
18.A sociedade e a autoridade, para São Tomás, são uma exigência da natureza e têm a sua origem…
e. … em Deus.
f. … Na Idade Média.
g. … No pensamento de Aristóteles.
h. … em tudo o que foi mencionado nas alíneas anteriores.
A filosofia contemporânea, que vai desde o Iluminismo e as revoluções americana e francesa até
hoje, é vasta e complexa, não sendo fácil caracterizá-la nem sintetizá-la. Do ponto de vista da
Filosofia Política, problemas como a origem do estado, a estruturação do Estado e a melhor forma de
governo voltam a ser debatidos. Entretanto, é o problema das relações entre o Estado e os partidos
políticos bem como com os seus membros que está no centro. Georg Wilhelm Friedrich Hegel, Karl
Marx, Friedrich Engels, Vladimir Lenine, Jacques Maritain, Hannah Arendt, entre outros, são apenas
alguns dos principais autores. Não abordaremos todos eles, mas apenas alguns.
Georg Wilhelm Friedrich, que foi jornalista, seminarista protestante e preceptor, é considerado uma
das grandes mentes filosóficas da contemporaneidade. Dos seus livros, os mais conhecidos entre nós
são: Princípios da Filosofia do Direito; Lições de Filosofia da História e A Razão na História.
Ele defende o idealismo absoluto; considera o conceito como sendo a própria vida das coisas. Tudo
o que acontece é manifestação ou realização do Espírito absoluto. Esta ideia influencia todo o
pensamento de Hegel.
Quanto à filosofia política, como muitos outros contemporâneos, Hegel aborda a questão sobre a
origem do Estado e a relação entre o Estado e os seus membros. Para ele, na linha de Aristóteles, o
Estado tem uma origem natural. O Estado originou-se pela vontade do Espírito Absoluto (a
natureza de Aristóteles), que se expressa e se desenvolve na história do homem evolutivamente. Os
seres humanos unem-se em sociedade não necessariamente, mas espontaneamente.
Dado que o Estado é a manifestação externa da ideia do Espírito Absoluto, a Filosofia política trata
como o Espírito, finalmente, descobre a realização efectiva da liberdade concreta no Estado
moderno. Daqui se pode depreender a resposta quanto à questão da relação entre o Estado e o
indivíduo. Este, perante o Estado, subordina-se e dissolve-se. O Estado impõe completamente a sua
vontade, anulando a vontade do indivíduo e transformando-o num simples objecto do seu destino.
Por isso se diz que Hegel é o pai dos regimes ditatoriais que proliferaram no Século XIX.
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A importância de Hegel é tal que dividiu a história da filosofia contemporânea entre os seguidores e
os críticos, entre o que David Strauss chamou de esquerda hegeliana, reformista, e a direita
hegeliana, de carácter mais conservador, duas tendências apropriadas pela política para opor os
esquerdistas socialistas ou comunistas dos dextras capitalistas liberais.
John Rawls nasceu em Baltimore, estudou em Princeton e em Oxford. Das suas obras, a mais famosa
e mais debatida é Uma Teoria da Justiça, publicada em 1971. Rawls desenvolveu o seu pensamento
na linha do contratualismo (Locke, Rousseau, Kant) e em contraposição com o utilitarismo (Hume,
Bentham Mill). Rawls não concorda com o objectivo do utilitarismo de «maior bem-estar ao maior
número de pessoas», porque considera que nenhum homem deve sofrer privações a favor de «algum
outro» ou da «maior parte da sociedade» e considera que a justiça deve ser o primeiro requisito das
instituições da mesma forma que a verdade é o primeiro requisito de um sistema de pensamento
(Reale; Antiseri: 2006, 237). Assim como os erros devem ser corrigidos, as instituições injustas
devem ser reformadas.
A teoria que Rawls propõe chama-se «justiça como equidade» e visa sustentar uma sociedade livre e
justa, ou seja, bem ordenada. Numa tal sociedade não haverá, como onde impera o utilitarismo,
submissão do indivíduo à sociedade em nome da justiça. Aqui está implícita a ideia kantiana de se
tomar a pessoa sempre como um fim em si mesma e nunca simplesmente como um meio. A teoria de
justiça rawlseana gira em torno dos conceitos «posição original», «véu de ignorância» e «princípios
de justiça».
A posição original ou originária é uma situação imaginária e ideal, cuja característica principal é um
«véu de ignorância», em que se devem definir princípios da justiça.Véu de ignorância significa uma
situação em que ninguém, dos indicados para determinação do contrato social, sabe antecipadamente
de nada sobre o que será a sua posição, dos seus amigos e inimigos, na sociedade em criação. A
convicção de Rawls é de que na posição original, sob véu de ignorância, os seres humanos livres,
racionais e iguais só podem escolher princípios universais de justiça e não princípios heterónimos, já
que estes desfavoreceriam uns e favoreceria outros.
Rawls defende que são dois os princípios morais de justiça que constituem o contrato, sob cujos
fundamentos se assenta a sociedade. Primeiro princípio: «Toda a pessoa tem igual direito à mais
extensa liberdade fundamental, comparativamente com uma liberdade semelhante para
outros».Segundo princípio: «As desigualdades económicas e sociais, como as da riqueza e do
poder, são justas apenas se produzem benefícios compensatórios para cada um, e em particular para
os membros menos favorecidos da sociedade».
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O primeiro princípio é o princípio de igualdade: impõe igualdade quanto aos direitos e deveres
fundamentais, fundamenta as liberdades individuais. O segundo é o princípio da diferença: defende
as desigualdades que maximizam o mínimo (maxmin = maximum minimorum). Aplica-se este
princípio, por exemplo, quando se dá prioridade a aleijados, mulheres grávidas, etc. nos assentos de
automóveis.
Karl Raimund Popper, filósofo judeu nascido em Viena, Áustria, e falecido em Londres, Inglaterra,
estudou na Universidade de Viena e foi professor na Universidade de Canterbury (Nova Zelândia) e
na London School of Economics (Inglaterra). Incontornável em filosofia da ciência ou
epistemologia, Popper é igualmente um filósofo político.A Sociedade Aberta e seus Inimigos (1943),
em dois volumes, e Pobreza do Historicismo(1944) são dos seus principais trabalhos de Filosofia
Política.
A história humana não é linear e evolutiva, como se tivesse um sentido além do que lhe é dado pelos
seres humanos. A razão humana é, por essência, falível; não é absoluta. Daí resulta a necessidade de
diálogo pacífico e a capacidade de aceitar a própria verdade como uma hipótese falseável pela
experiência e pela opinião diferente.
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A ideologia política chamada «nacionalismo» tem a ver com a defesa e glorificação da nação, graças
ao sentimentopartilhado de identidade e pertença dos cidadãos. O nacionalismo africano deveu-se,
sobretudo, às vicissitudes históricas por que passavam os africanos, durante cerca de cinco séculos,
relacionadas com a escravatura, colonização, discriminação, etc. Ele tem alguma relação com as
transformações ocorridas entre as duas grandes guerras ditas mundiais, mas foi sobretudo obra de
intelectuais e políticos africanos e afrodescendentes, defensores de movimentos como o Pan-
Africanismo e a Negritude.
O Pan-africanismo e a Negritude são dois dos principais movimentos de defesa da causa negra no
mundo e, por isso, incontornáveis na abordagem sobre a filosofia política africana. O Pan-
africanismo pode ser entendido como um movimento aglutinador de todos os povos africanos e
afrodescendentes com vista a potenciá-los para o resgate da sua dignidade, oposição ao sistema
imperial e defesa da causa africana no geral.
O Pan-africanismo data do Século XIX. Inspira-se em anteriores lutas pela emancipação negra,
como a revolução Haitiana (1791 – 1804). Os seus principais pioneiros foram Edward Blyden (1832
– 1912), Joseph Antenor Firmin (1850 – 1911), Henry Sylvester Williams e Benito Sylvain. Os mais
importantes representantes do movimento, porém, são W. E. B. DuBois, Marcus Garvey e Kwame
Nkrumah.
O Pan-africanismo procurou protestar contra o roubo de terras nas colónias inglesas, a discriminação
racial do negro, a escravatura e todo o sistema de opressão, etc. Os valores a defender eram o direito
de autodeterminação racial, política, social e económica; a igualdade jurídica e política entre as
raças, o direito de uso e aproveitamento de terras africanas por africanos, a unidade, a independência
e a liberdade dos africanos e seus países.
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O Quarto Congresso decorreu em Nova Iorque (21 – 24/08/1927). Debateu as relações entre o
movimento comunista internacional e o pan-africanismo.
O Quinto Congresso, Manchester (13 – 21/10/1945),éo mais importante de todos, porque condenou
o imperialismo europeu e exigiu abertamente e com determinação as independências nacionais dos
países africanos, representou a passagem do pan-africanismo de fora da África para o Continente
bem como o despertar da consciência política africana.
A negritude foi criada por Aimé Césaire, Leopold S. Senghor e Leon Damas, na primeira metade do
Século XX. O conceito como tal foi cunhado por Césaire, nos anos 1932-1934. Alguns das fontes
do Negritude vêem do Movimento de «Regresso à África» de Marcus Garvey, «desenvolvimento
segregado» de Booker Washington e, sobretudo, de W.E.B. DuBois e do movimento do
Renascimento Africano (Neves, 1974: 30). Igualmente, inspira-se na Revolução haitiana liderada por
Toussaint Louverture. Aimé Césaire afirma que a Negritude pôs-se em pé no Haiti.
A negritude, desde os seus fundadores, apresentava três tendências: a) negritude como negação da
assimilação e defesa da própria qualidade de negro (Damas); b) negritude como constatação de um
facto que se resolve no regresso e na assunção do destino da raça (Césaire); e c) negritude como
descoberta, defesa e ilustração do próprio património racial e do espírito da própria criação
(Senghor) (Ngoenha, 2014: 64). Ela não foi somente um movimento cultural, ou melhor, artístico;
não se resumiu a ser expressão de sofrimento e revolta, cultura e humanismo; teve, igualmente, uma
dimensão política. Neste sentido, defendeu, sobretudo nos anos 1960, a independência política,
cultural, económica e cultural dos povos negro-africanos. Propulsionou a vontade de
autodeterminação e autogoverno dos africanos, ideais mais concretamente expressos pelo Pan-
africanismo.
O conceito «renascimento», que significa «voltar a nascer»; «nascer de novo», não é uma novidade
africana, sendo que se fala, por exemplo, do renascimento europeu iniciado na Itália e do
renascimento do Sudeste asiático. O Renascimento Africano parte, praticamente, dos mesmos
problemas que estão na origem do Pan-africanismo e da Negritude. Procura defender a dignidade
dos africanos, a sua história e sua cultura, promovendo a consciência e sentimento de igualdade
perante outros povos.
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Segundo Ndongo (2006: 12ss), a expressão «Renascimento Africano» foi primeiramente usada como
slogan de UNIA (Associação Universal para o Avanço dos Negros) fundada por Marcus Garvey, nos
anos 1920. Depois foi usada por Cheikh Anta Diop, em 1948, no contexto de busca de restauração
da verdadeira história da África e dos africanos. Em resumo, por Renascimento Africano se entende
a escolha dos africanos de se renovarem com base nas suas próprias raízes e contando consigo
mesmos bem como escolha de se unirem pela história, espaço e destino, de forjar uma África nova.
Thabo Mbeki é um dos principais impulsionadores do Renascimento Africano do momento.
Como continuação dos ideais Pan-africanistas e renascentistas, os líderes africanos têm investido em
prol da melhoria das condições dos Estados Africanos, procurando garantir mais unidade, mais
independência e mais desenvolvimento. É deste modo que foi criada a Organização da Unidade
Africana (OUA), em 1963, em Adis Abeba (hoje transformada em UA – União Africana), a SADCC
hoje SADC e a NEPAD (Nova Parceria para o Desenvolvimento de África). Estas instituições
procuram dinamizar o desenvolvimento do Continente, melhorando a vida dos africanos. A UA, na
linha dos ideais pan-africanistas, sobretudo de Nkrumah, criou a NEPAD em vista à promoção do
desenvolvimento sustentável do Continente, da paz, da estabilidade, da democracia e da interajuda
entre as diferentes nações africanas, incluindo africanos na diáspora.
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