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Capítulo 1 – Uma discussão célebre

Cada forma de governo “clássica” (= democracia – governo de muitos, aristocracia –


governo de poucos e monarquia – governo de um) tinha um defensor entre os três
persas Otanes, Megabises e Dario.

Otanes: o poder deveria ser do povo e nenhum deles deveria ser monarca, pois seria
penoso e injusto e o monarca concentraria tanto poder a ponto de corromper qualquer
homem bom, pois o poder geraria a prepotência e a inveja que alimentam o mal.
Mesmo o monarca possuindo tudo, ele argumenta que ainda seria provido de inveja
daqueles poucos bons que restam e nunca está satisfeito com aquilo que é feito para
ele. Para ele, o mais grave é que o monarca viola as mulheres, mata os cidadãos e
subverte as autoridades do país.

O governo do povo significaria “isonomia”, pois não reflete nenhuma ação que um
monarca teria. Os cargos públicos são distribuídos na “sorte”, é necessário prestar
contas e as decisões devem passar pela aprovação popular. Em resumo, para ele, a
monarquia deveria ser descartada e a democracia deveria ser instaurada.

Megabises: concordava com Otanes sobre descartar a monarquia, mas, discordava


quanto ao governo de todos. Para ele, a melhor saída seria a oligarquia, pois as
grandes massas são prepotentes e obtusas e, em sua visão, não fazia sentido se livrar
da prepotência do monarca para ir para o governo do povo. A crítica dele recai no
pensamento que enquanto o monarca sabe aquilo que faz, o povo nem isso sabe o
que está fazendo, pois não teve a oportunidade de conhecer isso e aprender durante
a vida. Logo, deveria abandonar a ideia do governo democrático e ir para uma
oligarquia, pois então a Pérsia tomaria as melhores decisões pois estaria sendo
comandada apenas pelos melhores.

Dario: concorda com Megabises quanto à democracia, porém, discorda sobre a


oligarquia. Na visão dele, se puséssemos a melhor democracia, a melhor oligarquia e
a melhor monarquia, aquele que melhor governaria seria a melhor monarquia. A
monarquia seria caracterizada pelo melhor homem de todos e, por isso, ele
comandaria o governo de tal forma que nenhuma outra pessoa seria capaz de fazer e
os objetivos políticos estariam seguros contra os adversários. Ele acreditava que
numa oligarquia seria fácil de surgirem conflitos pessoais entre aqueles que visam o
bem público, pois todos querem ser o chefe e ter a sua opinião seguida e, por conta
disso, alguns iriam se odiar, chegando até a formar facções que cometeriam delitos.
Tais delitos culminariam na monarquia, provando que essa é a melhor forma de
governo.

Já quando o povo que comanda, não é possível que não haja corrupção na esfera dos
negócios públicos, porém, nesse caso, não se formam inimigos, mas sim alianças
entre aqueles que praticam o mal, que a partir disso começam a conspirar
conjuntamente. Isso acontece até que chegue alguém que abrace o povo e os defenda
contra os planos subversivos. Ou seja, quando temos um monarca.

O interessante entre o pensamento dos três é que sempre concordam com uma das
formas de governo mas fazem críticas quanto a outra. Entretanto, a classificação
completa abrange 6 formas de governo, já que as 3 boas também são seguidas de 3
más.

Em Heródoto, cada forma boa de governo corresponde a 2 outras más. Em Aristóteles,


cada forma boa corresponde a uma outra má.
A classificação sêxtupla nasce de duas perguntas: 1) “Quem governa?” e 2) “Como
governa?”.

Capítulo 2 – Platão

Vai comentar principalmente o diálogo de “A República”, que tem por finalidade


descrever o que seria uma república ideal e que comenta sobre a justiça ser uma
atribuição a cada pessoa de sua obrigação.

É composta por 3 categorias: os governantes - que são filósofos, os guerreiros e os


que produzem, porém, que não existiu em lugar nenhum na Terra, pois, todos os
Estados que realmente existem são corrompidos em algum nível. Temos apenas um
Estado perfeito e diversos imperfeitos (“A forma da virtude é uma só, mas o vício tem
uma variedade infinita”).

Ele inclui apenas 3 formas más no debate, pois essas não se enquadram na
constituição ideal. A ideia predominante é que os governos alternam entre uma forma
boa e uma má (+-+-...). Porém, para Platão, temos uma sucessão de formas más, que
vão piorando com o passar do tempo [+ ) - - - - ( +]. A história, para Platão, trata-se de
uma regressão indefinida: vai do mal ao pior com o passar do tempo e, para atingir o
bom novamente, deveria haver um processo radical (a ponto de acreditar que isso não
possa acontecer e ser suportado).

Ele analisa 4 constituições no oitavo livro: timocracia, oligarquia, democracia e tirania.


Na visão dele, a monarquia e a aristocracia são consideradas como indiferentes, pois
tanto faz se são poucos que governam ou se são muitos, o que é necessário é o
treinamento e educação seguirem aquilo necessário para a constituição ideal.
Ele divide as 6 constituições: 2 são reservadas para a constituição ideal enquanto as
outras 4 são formas reais.

• A oligarquia é a forma corrompida da aristocracia;


• A democracia é a forma corrompida da politeia;
• A tirania é a forma corrompida da monarquia;
• A timocracia é a transição entre a constituição ideal e as três formas más
tradicionais.

E o Estado iria se degenerando com o passar do tempo. A aristocracia (seria a forma


ideal) passaria para a timocracia, e, depois, para a oligarquia, e por aí vai, até chegar
na tirania, que é considerada a pior forma de constituição, onde o processo de
degeneração atinge seu máximo.

• Homem timocrático: é severo com o povo, mas tem consciência também.


Ambicioso e amante das honrarias. Comanda não pela virtude de suas
palavras, mas pela atividade bélica e pelo talento militar.
• Homem oligárquico: tem fome de riqueza. Quanto mais começa a se importar
com a acumulação de dinheiro e mais recebe honrarias, menos se importam
com a virtude. A virtude e a riqueza sempre pesam em sentidos contrários.
• Homem democrático: desejo pela liberdade. O problema está que com tanta
liberdade, permite-se que cada um viva da maneira que melhor convenha.
• Homem tirânico: percebe que o povo está sempre a postos para obedecê-lo
e, assim, não consegue medir sua violência e evitar o derramamento de sangue
do povo.

O motivo que explicaria a mudança repentina das formas de governo está no excesso.
O homem timocrático é corrompido quando almeja em excesso a ânsia por poder. O
oligárquico quando transforma a riqueza em avidez, avareza e ostentação. O
democrático quando se torna licencioso, agredindo a liberdade ao pensar que tudo é
permitido. O tirano quando se transforma em puro arbítrio e torna-se violento.

A corrupção do Estado é manifestada pela discórdia, sobretudo pela ótica daqueles


que tem o poder e devem conservá-lo. Da discórdia que começa a fragmentação da
estrutura social, a divisão de partidos, choque entre grupos e por fim a anarquia, que
é a situação mais favorável ao nascimento de uma tirania.
Existem duas formas de discórdia que levam um Estado à ruína:

1) Na classe dirigente;
2) Entre dirigentes e dirigidos (governantes e governados).

E essas formas são observadas na passagem de constituições. Da aristocracia para


a timocracia e da timocracia para a oligarquia temos 1). Da oligarquia para a
democracia temos 2).

A constituição ideal é comandada pela alma racional. A timocracia, pela alma


passional (mesmo que não seja perfeita, ainda é menos imperfeita que o restante). E
as outras três formas, pela alma apetitiva. O homem oligárquico é definido como o que
tem desejo pelas necessidades essenciais (= desejos que não são possíveis de
desprezar ou satisfazer). O democrático tem desejo pelas necessidades supérfluas (=
aqueles que podemos nos livrar se nos dedicarmos a isso desde a juventude, e que
não nos trazem benefício nenhum, porém, podem causar malefícios). Já o tirânico,
pelas necessidades ilícitas (= se assemelham aos supérfluos, entretanto, os desejos
são ilícitos ou tumultuosos, como a violência).

Exemplo: se alimentar é essencial, mas, comer alimentos refinados é supérfluo.

Capítulo 3 – Aristóteles

Forma de governo = politeia, para Aristóteles.

“A constituição é a estrutura que dá ordem à cidade, determinando o funcionamento


de todos os cargos públicos e sobretudo da autoridade soberana.”

Na visão dele, como constituição = governo, esse poder soberano deve estar
concentrado em ‘um só’, em ‘poucos’ ou em ‘muitos’. Quando exercem o poder
visando o bem público, as constituições são retas, mas, quando há a interferência
visando o interesse privado, temos desvios.

Aqui as formas de governo também derivam do “quem governa?” e “como governa?”.

• Quem governa? Uma pessoa é a monarquia. Poucas, a aristocracia. Muitas é


a ‘politia’ (que é uma mistura de oligarquia e de democracia. Quando ela se
inclina mais para a democracia, são chamados de politia, mas, quando inclinam
mais para as oligarquias, são chamados de aristocracias. Hoje em dia seria a
‘poliarquia’).
• Como governa? Pode ser de forma boa ou má. As más englobam a tirania, a
oligarquia e a democracia.

A monarquia, por exemplo, na visão aristotélica, é o “governo bom de um só”. Já a


oligarquia seria o “governo mau de poucos”.

Aqui, a ordem das formas de governo é: monarquia (melhor entre as boas),


aristocracia, politia, democracia, oligarquia e, por fim, a tirania (pior entre as más).

As formas boas são definidas quando o governante visa o interesse comum, enquanto
as más nascem quando visam o interesse próprio. Isso está ligado com a polis: as
pessoas se reúnem em cidades não somente para viver, mas para viver bem.

3 tipos de poder para Aristóteles:

1) Poder do pai sobre o filho: poder exercido visando o interesse dos filhos
2) Poder do senhor sobre o escravo: poder exercido visando o interesse
próprio;
3) Poder do governante sobre o governado: poder exercido visando o interesse
comum entre governantes e governados.

Algo diferente para Aristóteles é que dentro de uma das formas de governo podemos
ter diversas subdivisões. Exemplo: a monarquia para ele poderia ser subdivida entre
a ‘monarquia dos tempos heroicos, que era hereditária e baseava-se no
consentimento dos súditos’, na monarquia ‘de Esparta, onde o poder supremo se
identificava com o poder militar’, etc.

A dúvida que surge é sobre a ‘politia’. Por ser um modelo intermediário entre a
democracia e a oligarquia, que são ambos corrompidos, deveria ela ser corrompida
também? Para Aristóteles, justamente por ser um intermediário entre democracia e
oligarquia, o maior problema entre os dois seria sanado. A democracia é o governo
onde dominam os pobres e pouco importa a quantidade deles. Já a oligarquia é onde
dominam os ricos e igualmente não importa a quantidade deles. A politia, por ser uma
mescla entre as duas, seria o poder dividido entre os ricos e os pobres e, por conta
disso, o problema de tensão da luta contra o poder seria solucionado. Seria a politia o
regime mais propício para assegurar a paz social.

Por fim, Aristóteles vai apresentar como que podemos fundir dois regimes para criar
um terceiro melhor que os anteriores.
1) Conciliar procedimentos que seriam incompatíveis: chegar a algo
intermediário e comum. As oligarquias penalizam se os ricos não participam da
vida pública e não concede prêmio aos pobres que participam. Nas
democracias se penaliza o rico e, também, não concede prêmio aos pobres. A
conciliação viria, por exemplo, por uma lei que penaliza os ricos que não
participam e premiar os pobres que participam;
2) Adotar um meio-termo entre as disposições extremas dos dois regimes:
no exemplo da oligarquia-democracia, o meio termo seria por exemplo diminuir
o limite de renda proposto pela oligarquia para que abranja mais pessoas, se
assemelhando mais com a democracia;
3) Recolher o melhor dos dois sistemas legislativos: na oligarquia temos
eleições para os cargos públicos, mas só para aqueles com certa renda. Na
democracia eles são distribuídos por sorteio entre todos. O melhor dos dois
seria manter as eleições, mas retirar o requisito da renda.

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