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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL

CAMPUS TRÊS LAGOAS


CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA GERAL DO ESTADO
PROFESSOR: JOÃO FRANCISCO DE AZEVEDO BARRETTO E
EDMILSON

RESENHA: Montesquieu: sociedade e poder

Júlia Lima Raffa, Fernanda Domingues Barbosa, Beatriz Wanderley Duenhas


e Marcella Sanches Gavioli

WEFFORT, Francisco Corrêa. Os Clássicos da Política:


Maquiavel, Hobbes, Locke, Montesquieu, Rousseau, ‘’O Federalista’’

Montesquieu era membro da nobreza, mas não desejava a restauração do poder de sua
classe, mas sim, utilizar características do poder monárquico para oferecer mais estabilidade aos
regimes, que viriam a resultar das revoluções democráticas. Procurou compreender a razão da
decadência das monarquias e seus anos de vigência. Também destacou que o conceito de
moderação é o que mantem o funcionamento estável dos governos.
Até Montesquieu, estudiosos diziam que as leis tinham influência divina e expressão da
autoridade. Eram legítimas (autoridade), imutáveis (dentro da ordem das coisas) e ideais
(porque visavam uma realidade perfeita). Porém o filósofo apresentou uma definição mais
completa, de que as leis são relações necessárias que derivam da natureza das coisas. Com essa
definição, ele rompeu a submissão da política à teologia.
O estudioso diz também que é possível encontrar uniformidades nos comportamentos e
formas de organizar o homem, assim como nas relações entre os corpos físicos. As leis que
regem instituições políticas são as relações entre as diversas classes em que se divide a
população, as formas de organização econômica, formas de distribuição do poder, etc. O objeto
de estudo de Montesquieu são as leis positivas, estas são criadas pelo homem a fim de reger as
relações entre homens.
Outro grande conceito discutido na obra de Montesquieu é o dos três governos. Antes
dele havia o Contrato Social, o qual pontuava que ao romper com o estado de natureza, o
mesmo devia garantir a estabilidade contra o risco de rebeldia. Já Montesquieu, acreditava em
duas dimensões do funcionamento político: a natureza e o princípio do governo (quem detinha
o poder). Também definiu as leis da natureza do governo, como sendo as relações entre
instâncias de poder e a forma como ele se distribui na sociedade. Ele diz que o povo é movido
por paixão e não deve governar (precisa de um representante).
O filósofo também traçou os princípios de cada governo, sendo eles a monarquia(honra),
república (virtude) e despotismo (medo, movido por instintos de natureza). A honra é uma
paixão social, sentimento de classe, amor aos privilégios e prorrogativas que caracterizam a
nobreza. O governo de um só, funciona somente se os poderes subordinados se orientarem a
partir da honra. A virtude é a supremacia do bem público sobre os interesses particulares.
Ademais, república e despotismo são semelhantes, porém a república o poder do povo é tudo e
no despotismo nada é.
Montesquieu queria procurar naquilo que conferia estabilidade a monarquia, algo que
pudesse substituir o efeito moderador que resultava no papel da nobreza. Com isso estudou
sobre a estrutura do Parlamento britânico e das funções dos três poderes: executivo, legislativo
e judiciário. Na sua teoria dos três poderes ele disse que deve haver a separação, independência
e equivalência entre eles. Trata-se de assegurar a existência de um poder que seja capaz de
contrariar outro poder; para moderar o poder do rei (do executivo). Para que haja moderação, é
preciso que a instância moderadora (instituição que colocará freios e contrapesos da teoria
liberal da separação dos poderes) encontre sua força política em outra base social. Seria
necessário que o funcionamento das instituições permitisse que o poder das forças sociais
contrariasse e moderasse o poder das demais.
Textos de Montesquieu: Livro Primeiro- Das leis em geral
Montesquieu diz que as leis são relações entre os diversos seres. O mundo não
subsistiria sem as leis e regras. Tanto os seres inteligentes, quanto os não inteligentes sempre
tiveram leis e relações de justiça. Os animais possuem as próprias leis, estão unidos pelo
sentimento e não possuem leis positivas, pois não estão unidos pelo conhecimento. Eles têm as
mesmas características nossas, porém possuem algumas vantagens e desvantagens em relação
a nós. O homem viola as leis impostas por Deus e modifica as que ele mesmo cria. É um ser
limitado sujeito à ignorância e ao erro, e ainda perde os conhecimentos escassos que possui.
Torna-se sujeito a mil paixões. São lembrados o tempo todo a fim de não ignorarem os valores
morais.
O pensador também apresenta o conceito de lei da natureza, que tem esse nome por
derivar unicamente da constituição de nosso ser. O homem no estado natural antes teria a
disposição de conservação do seu ser, do que sua origem. A paz seria a primeira lei natural, pelo
medo derivado do extinto de sobrevivência. Ademais, Montesquieu critica a ideia de Hobbes,
que diz que o desejo é a primeira ideia do homem. Ele diz que não se pode atribuir ao homem
características que ele só teria vivendo em sociedade. Outra lei da natureza seria a busca por
alimento, das suas necessidades, a terceira lei seria a atração entre os dois sexos e por fim, a
quarta lei seria o desejo de viver em sociedade.
Quando os homens se encontram em sociedade surgem conflitos, entram em um estado
de guerra. Isso se dá pelo começo do agir em benefício próprio. Essa espécie de estado de
guerra leva ao estabelecimento das leis entre os homens. O direito político é a relação dos
governos com os governados e, o direito civil é as relações que todos os cidadãos mantêm
entre si. Ademais, o “direito das gentes” é fundado sobre o princípio de que as nações não
podem fazer mal a si próprias e prejudicar seus interesses. Os princípios de guerra, conquista e
conservação são os que regem esse direito.
Montesquieu diz também que o poder político pode ser colocado na mão de muitos ou
de um só e que o poder político compreende a união de várias famílias. O estado civil junta as
forças particulares, com as vontades das pessoas. Além disso, as leis devem ser relativas ao físico
do país, ao modo de vida dos povos, ao grau de liberdade que a constituição pode sofrer, à
religião do povo, maneiras, riquezas, etc.
Livro segundo- Das leis que derivam diretamente da natureza do governo:
Neste livro, Montesquieu destaca as três espécies de governo existentes: republicano,
monárquico ou despótico. O governo republicano é o que todo o povo, ou parte dele, tem o
poder soberano. No governo monárquico somente uma pessoa governa (com leis já
estabelecidas) e o governo despótico é comandado também por uma pessoa, mas sem regras e
leis estabelecidas, pela sua própria vontade.
Ele define democracia quando o povo todo detém o poder soberano, podendo ser
monarca ou súdito. Também dá a definição de aristocracia, quando o poder soberano está nas
mãos de uma parte de povo. Tudo o que o povo, como soberano, não consiga fazer bem, seus
ministros devem fazer. Além disso, o povo deve nomear seus próprios ministros (seus
magistrados). O povo tem muita capacidade para dar conta da gestão dos outros, mas não a
tem bastante para se gerir a si próprio. Em Roma, em vez das pessoas, eram os meios e as
riquezas que davam o sufrágio. Já em Atenas, das quatro classes de povos existentes, somente
as três primeiras podiam ser magistrados (as mais favorecidas).
Montesquieu também explica as leis fundamentais da democracia. A divisão dos que têm
direito ao sufrágio e a maneira de dar esse sufrágio, são leis fundamentais. Outra lei é de que o
sufrágio deve ser público, mas no senado (na democracia) e em aristocracias o voto deve ser
secreto para evitar maquinações. Esta é perigosa em senados, mas não para o povo, pois esse
age por paixão. Outra lei fundamental da democracia é que somente o povo deve fazer as leis,
ou os representantes do povo.
Na aristocracia o poder soberano está nas mãos de um certo número de pessoas, estás
fazem e executam as leis, o resto do povo está em face destas pessoas como os súditos estão
em face do monarca em uma monarquia. Quando há um grande número de nobres é preciso de
um senado, neste caso pode-se dizer que a aristocracia está no senado, a democracia no corpo
dos nobres e que o povo não é nada. A melhor aristocracia é aquela onde a parte do povo que
não tem nenhuma parte do poder é tão pequena e tão pobre que a arte dominante não tem
nenhum interesse em oprimi-la. As famílias aristocráticas devem então ser povo tanto quanto
possível. Tanto mais uma aristocracia se aproxima da democracia, tanto mais ela será perfeita,
ela o será menos á medida que se aproxima da monarquia. A mais imperfeita de todas é aquela
onde a parte do povo está na escravidão civil, como a aristocracia da Polônia, onde os
camponeses são escravos da nobreza. Assim como a virtude é necessária no governo popular,
do mesmo modo o é na aristocrático, porém neste ela não é requerida de maneira tão absoluta.
Os que devem executar as leis contra seus colegas sentirão, de início, que agem contra si
mesmos. Portanto é necessária a virtude nesse corpo, pela própria natureza da constituição. Os
nobres formam um corpo que, pela prerrogativa que possui e por seu interesse particular,
reprime o povo: basta que haja leis para que elas sejam executadas. Porém, tanto quanto é fácil
a esse corpo reprimir os outros, difícil é que ele próprio se reprima. Um corpo como esse não
pode reprimir-se senão de duas maneiras: ou por uma grande virtude, que faz com que os
nobres se julguem de algum modo iguais a seu povo, ou por uma virtude menor, que é uma
certa moderação, que torna os nobres pelo menos iguais entre si, o que resulta em sua
conservação. A moderação é a alma desses governos, a que se fundamenta na virtude. Em
Roma a aristocracia era defendida contra o povo enquanto Veneza a aristocracia era contra os
nobres. Portanto em Roma a ditadura devia durar pouco tempo porque o povo age por seu
ímpeto e não por seus desígnios, já em Veneza ao contrário, seria permanente. Esta última é
estabelecida para vingar os crimes que ela suspeita enquanto a primeira empregava mais as
ameaças que as punições para os crimes, mesmo quando estes eram confessados por seus
autores.
Na monarquia as leis vieram da constituição, o princípio do governo paralisa o monarca.
A natureza do governo monárquico são os poderes intermediários subordinados e
dependentes, ou seja, uma única pessoa governa por meio de leis fundamentais, estas supões
necessariamente canais intermediários por onde flui o poder. O príncipe é a fonte de todo
poder político e civil. O poder intermediário subordinado mais natural é o da nobreza, ela
participa da essência da monarquia, cuja máxima fundamental é: sem monarca, não há nobreza,
sem nobreza, não há monarca, mas tem-se um déspota. Numa monarquia, além de postos
intermediários é preciso haver um depósito de leis, já que a ignorância natural da nobreza e seu
menosprezo pelo governo civil exigem que haja um corpo que, incessantemente, faça as leis
saírem da poeira em que estariam envoltas. A natureza do governo monárquico é que o
príncipe detenha o poder soberano, mas o exerça de acordo com leis estabelecidas. Nas
monarquias há a mínima virtude possível, o Estado subsiste independentemente do amor pela
pátria. As leis tomam o lugar de todas essas virtudes, de que não se tem necessidade alguma, o
Estado delas vos dispensa. Nesta, os crimes públicos são mais privados, atingem mais as
fortunas particulares do que a constituição do Estado. A ambição no ócio, o desejo de
enriquecer-se sem trabalho e o desdém pelos deveres do cidadão constituem o caráter da
grande maioria dos cortesãos. Senão a virtude a honra supre a necessidade do governo
monárquico, baseada no prejulgamento de cada pessoa e de cada condição ela pode inspirar as
mais belas ações, pode conduzir ao objetivo do governo do mesmo modo que a virtude. O
governo monárquico supõe preeminências, categorias e até mesmo uma nobreza de origem. A
honra exige preferências e distinções, por isso mesmo, ela tem lugar nesse governo, faz mover
todas as partes do corpo político, une-as por sua própria ação. É uma falsa honra que conduz
todas as partes do Estado, mas é tão útil ao público quanto seria a verdadeira honra para os
particulares que a pudessem ter. A ambição tem bons resultados na monarquia, não é perigosa,
porque pode ser reprimida incessantemente. Na monarquia o príncipe é instruído e seus
ministros são infinitamente mais hábeis e mais afeitos aos negócios públicos do que no Estado
despótico por exemplo.
No despotismo o poder é exercido por um só homem, que é naturalmente preguiçoso e
que abandona os negócios públicos, por isso é comum que ele entregue o poder a um vizir. A
instituição de um vizir é, nesse Estado, uma lei fundamental. O despotismo ocorre quando em
uma monarquia se aboli as prerrogativas dos senhores, do clero, da nobreza e das cidades,
assim formando ou um Estado popular, ou um estado despótico. Não existem leis fundamentais
e não há depósito de leis, por isso, nesses países, a religião comumente tenha tanta força, é que
ela constitui uma espécie de depósito e de permanência: e, se não é a religião, o que aí se
venera são os costumes, em vez das leis. A natureza do governo despótico é que uma só pessoa
governe segundo suas vontades e seus caprichos. Nos Estados despóticos os homens são todos
iguais, ninguém pode antepor-se aos demais, sendo os homens todos escravos, assim a honra
não é o princípio deste governo, já que ela também não pode encontrar-se a não ser em
Estados em que a constituição seja fixa e que tenha leis certas. No governo despótico o temor é
necessário, tendo em vista que pessoas seguras de si teriam condições de fazer revoluções, é
preciso então que o temor deite por terra todas as coragens e aniquile até mesmo o menor
sentimento de ambição. Quando o príncipe cessa por um momento erguer o braço, quando não
pode aniquilar de imediato os que detêm os primeiros postos, tudo está perdido: pois não
havendo mais a mola do governo, que é o temor, o povo já não terá protetor. No despotismo o
grande senhor não era obrigado a manter sua palavra, já que isso limitava a própria autoridade,
além disso este tipo de estado exige extrema obediência. Não há moderação, modificações,
acomodações, relações recíprocas, entendimentos. Há uma coisa que pode ser oposta à
vontade do príncipe: a religião, já que as leis de religião são de preceito superior, porque são
impostas à cabeça do príncipe.
Na república haja vista que um cidadão conquista um poder exorbitante há um maior
abuso do poder. O poder do clero é tão perigoso numa república, quanto é conveniente numa
monarquia, sobretudo naquelas que caminham para o despotismo, o objetivo não é censurar
magistrados tão sábios, mas até que ponto a constituição pode ser alterada quanto a isso. A
natureza do governo republicano é que o povo possua o poder soberano. Num estado popular
é preciso alguma coisa mais, da virtude. Pois claro está numa monarquia, onde quem faz
executar as leis julga-se acima delas, há necessidade de menos virtude do que num governo
popular, onde quem faz executar as leis sente que, ele próprio, está sujeito a elas, e que sofrerá
seu peso. Quando, num governo popular, as leis deixam de ser executas, não pode provir senão
da corrupção da república, o Estado já está perdido. A república é uma presa, e sua força não
passa do poder de alguns cidadãos e da licença de todos. Nas repúblicas, os crimes privados
são mais públicos, atingem mais à constituição do Estado do que aos particulares. A virtude,
aqui, é o amor pela república, este numa democracia, é o amor à democracia, o amor à
democracia é o amor à igualdade. As boas democracias, ao estabelecer a frugalidade doméstica,
abriram caminho às despesas públicas, como se fez em Atenas e em Roma. Ainda que, na
democracia, a igualdade real seja a alma do Estado, ela é, no entanto, muito difícil de ser
estabelecida, a ponto de que uma extrema exatidão a esse respeito nem sempre seria
conveniente. Basta que se estabeleça um censo que reduza as diferenças num determinado
ponto.
Não basta, numa boa democracia, que as porções de terra sejam iguais; é preciso que
sejam pequenas. A igualdade mantém a frugalidade do mesmo modo em que a frugalidade
mantém a igualdade – não podem subsistir uma sem a outra.
A democracia se fundamenta no espírito de comércio, pois ele traz consigo frugalidade,
economia, moderação, trabalho, sabedoria, tranquilidade, ordem e regra. Quando a riqueza
demasiada destrói o espírito de comércio o mal chega, desse modo vê-se nascerem as
desordens da desigualdade. As leis precisam favorecer este comércio, dessa maneira dividindo
fortunas e colocando pobre em boa situação e rico em uma medíocre – uma lei boa distribui
uma igual parte da herança dos pais a todos os filhos.
Na aristocracia, o povo é virtuoso e o Estado poderoso, além disso é necessário leis que
tendam a fornecer moderação e igualdade. A modéstia e simplicidade fazem a força dos
aristocráticos, pois quando eles se confundem com o povo, o povo esquece sua própria
fraqueza.
No governo aristocrático, há duas fontes de desordem, são elas: desigualdade entre os
que governam e os que são governados, e desigualdade entre membros do governo. As leis,
devem cessar esse ódio criado pela desigualdade. A Roma lidou bem com esses inconvenientes,
já que lá os principais da República foram taxados como os demais. Sobretudo, é essencial que
na aristocracia os nobres não arrecadam impostos, pois se arrecadarem, os particulares estariam
à mercê dos homens de negócio, desse modo não haveria tribunal que os corrigissem – seriam
como o príncipe despótico. Leis devem empregar meios eficazes para que nobres façam justiça.
Toda a espécie de amparo contra leis faz com que a tirania esteja próxima.
Há perniciosidades na aristocracia, como: a pobreza dos nobres, e suas enormes
riquezas. Para evitar ambos, é necessário obrigá-los a pagar suas dívidas, e também medidas
sábias e insensíveis. Leis devem eliminar o direito de primogenitura a fim de que as fortunas se
mantenham iguais, elas devem igualar as famílias e manter a união entre elas, para assim a
disputa dos nobres acabar.
O governo monárquico tem certa vantagem sobre o republicano, pois já que uma só
pessoa gerencia os negócios públicos, há mais presteza na execução. Teria sido da mais bela
monarquia se magistrados não houvessem retido o curso das virtudes de seus reis. Além disso,
esse tipo de governo também tem certa vantagem sobre o despótico, pois o Estado é mais
estável, a constituição mais inquebrantável, pessoa que os governam mais segura e raramente
as coisas são levadas ao extremo – ao contrário do despóticos, onde todas as desordens que
promove são extremadas.
O temor é o princípio do governo despótico. Nesse caso, o príncipe desacostumado a
encontrar resistência indigna-se com aquela que lhe é feita de armas na mão. Ele possui muitos
defeitos, é escondido e ignora-se o estado em que se encontra. A política, suas forças e suas leis
devem ser limitadas.
O objetivo do governo despótico é a tranquilidade, o silêncio que o inimigo está prestes
a ocupar. A força desse Estado é o exército, porém ele é amedrontador para o príncipe. É da
religião que os povos extraem em parte o espantoso respeito que têm pelo governante. O
príncipe que se declara proprietário de todas as terras e herdeiro dos súditos, é o que mais
arruína seu governo, pois se resulta no abandono de terras e de indústrias – nada se repara e
nada se melhora. O sucessor desse governo é designado pelo próprio príncipe.
Nos Estados despóticos, os irmãos do príncipe são seus escravos e rivais. Em Estados em
que príncipes de sangue serão aprisionados ou executados se não subirem ao trono, a ambição
é mais estimulada.
Príncipes de governos despóticos sempre abusaram do casamento, tomam diversas
mulheres e tem tantos filhos que sequer podem ter afeição por eles. A família reinante
assemelha-se ao Estados: é fraca e seu chefe, forte; parece extensa porém reduz-se a nada.
A corrupção de cada governo começa pela dos princípios. O princípio da democracia se
corrompe, não só quando se perde o espírito de igualdade, mas também quando assume o de
igualdade extrema – nesse caso, o povo quer fazer tudo por si mesmo, já que não pode
suportar o próprio poder em quem confia. Não pode mais haver virtude na república, o povo
quer desempenhar funções dos magistrados, desse modo, eles não são mais respeitados. A
corrupção aumentará no seio dos corruptores e aumentará entre os que já estão corrompidos.
Cedo se tornará insuportável o que resta de liberdade e surgirá um tirano.
Dois excessos que a democracia deve evitar: a desigualdade, que conduz à aristocracia
ou à um governo de um só; e a igualdade extrema, que leva ao despotismo de um só.
A igualdade está distante da igualdade extrema. O primeiro consiste em obedecer e em
comentar a seus iguais. A sociedade faz perder a igualdade que os homens nascem e só voltam
a tornar-se iguais perante as leis.
A aristocracia se corrompe quando o poder dos nobres se torna arbitrário: não pode
mais haver virtude entre os que governam, nem nos que são governados. Quando reinantes
observam as leis, é uma monarquia boa; quando não as observam, é um Estado despótico.
A corrupção se dá quando os nobres se tornam hereditários, o poder vai crescendo e a
segurança diminuindo, até chegar ao déspota, cuja cabeça está em excesso do poder e do
perigo. A aristocracia pode manter a força se as leis façam com que os nobres sintam mais as
fadigas do que suas delícias.
Democracias se perdem quando o povo despoja de suas funções o senado, magistrado e
juízes – chega-se ao despotismo de todos. Monarquias se corrompem quando eliminam as
prerrogativas dos corpos ou os privilégios das cidades – chega-se ao despotismo de um só. A
monarquia se perde, quando o príncipe, liga tudo a si mesmo, chama o Estado para sua capital,
a capital para sua corte, e a corte para sua só pessoa.
O inconveniente está quando o Estado cai e se precipita do governo moderado para o
despotismo.
O governo despótico corrompe-se incessantemente, pois é corrompido pela própria
natureza. Ele não se mantém, porque, senão quando circunstâncias extraídas do clima, religião,
situação ou gênio do povo, forçam-no a seguir alguma ordem e a suportar alguma regra. Essas
coisas forçam sua natureza sem alterá-la; sua ferocidade permanece; por algum tempo ela é
freada.
Sobre os feitos da corrupção, quando os princípios dos governos são corrompidos, as
melhores leis tornam-se más e voltam-se contra o Estado. Essas pequenas ações, interferem a
Constituição e a enfraquecem, além de abrirem brecha para maior corrompimento. Entretanto,
quando o Estado não perde seus princípios, são poucas as leis que não são boas. Por exemplo: a
execução da política entre os gregos, dependiam da bondade dos valores do governo, para
Platão, as instituições eram admiráveis, pois tinham como objetivo a arte militar e desciam à
arena pela honra, porém, os gregos deixaram de ter virtude e destruíram a própria arte, pois
passaram a lutar para se corromperem.
As repúblicas, normalmente possuem um pequeno território. O príncipe de Estado
pequeno, procuraria oprimir seu povo, já que possuiria grande poder e poucos meios para
desfrutá-los, por outro lado, seria facilmente oprimido por forças estrangeira ou internas. Caso
fosse uma república grande, não iria subsistir por tanto tempo, pois há muita falta de
moderação, além disso, o bem comum é sacrificado.
O Estado monárquico, deve possuir tamanho mediano, assim, o príncipe detém maior
controle sob seu território e as ordens seriam mais obedecidas. Nesse sentido, as monarquias
que conhecemos não possuem a liberdade como objetivo imediato, tendem apenas para a
glória dos cidadãos, do Estado e do príncipe. Nesses governos, distribuem os três poderes de
modo particular, aproximando-se da liberdade política, caso contrário, a monarquia degradaria
em despotismo.
Os grandes impérios, supõem uma autoridade despótica, já que é preciso que a
agilidade das resoluções supra a distância dos lugares, assim, o temor impede a negligência de
governador e magistrados distantes.
A liberdade tem diversos significados. Cada qual a chama de acordo com o governo que
está conforme seus valores, costumes e inclinações. Entretanto, num Estado que existem leis, a
liberdade é o direito de fazer tudo o que as leis permitem. Ela encontra-se em governos
moderados, mas apenas quando não há abuso de poder e é preciso que o poder contido para
que isso não aconteça.
Para que ocorra em sociedade, a liberdade política num cidadão, é preciso que o
governo possua tal controle, que um cidadão não tema o outro. Além disso, quando a mesma
pessoa contém o poder legislativo e executivo ou se o poder de julgar não estiver separado do
poder legislativo e executivo, nesses casos, não há liberdade política. O primeiro explica-se pelo
temor que o monarca ou o próprio senado possa fazer e executar leis tirânicas, já o segundo,
caso ligado ao legislativo, este juiz seria o legislador ou caso ligado ao poder executivo, o juiz
poderia ter força de opressor. Assim, poderia destruir os cidadãos por suas vontades
particulares.
Todos os Estados possuem um objetivo, manter-se. Porém, cada Estado tem um
objetivo que lhe é peculiar. A partir disso, resulta a opressão de todos. Há em cada um, três
poderes: legislativo, o príncipe ou magistrado elabora as leis, as corrige ou revoga as existentes;
executivo e o terceiro, possui o poder de julgar e punir.
O corpo legislativo, de modo geral, não tem dever de julgar, sendo assim, não é possível
ocorrer o julgamento da pessoa que executa a lei, para que o poder não se torne tirânico.
Entretanto, ocorre algumas exceções quanto ao momento que o legislativo poderá exercer tal
função de juiz. A primeira exceção, ocorrerá quando os nobres estiverem em posição de
julgado, pois estes, os grandes, estão expostos à inveja e caso julgados pelo povo, poderiam
correr perigo. A segunda exceção, contribui para amenizar leis que se tornam rigorosas em
certos momentos, apenas a autoridade possui o direito de moderá-la.
O poder executivo deve estar nas mãos de um monarca, pois sempre há necessidade de
ação instantânea, enquanto isso, o poder legislativo, se ordena melhor com diversos do que
apenas um. É preciso que este poder tenha o direito de refrear as ações do legislativo e regular
o momento da reunião, caso contrário, o governo seria despótico.
O poder de julgar não deve ser atribuído a um senado permanente, mas sim, exercida a
partir da escolha de um povo para formar um tribunal temporário, principalmente nas grandes
acusações. Os criminosos, de conformidade com a lei, devem escolher os próprios juízes, é
preciso que este, seja da condição do acusador, para que não haja abuso ou violência por
vingança.
O poder legislativo e executivo, podem ser permanentes, já que não exercem sobre
nenhum indivíduo. Ambos, possuem necessidade de poder regulador para equilibrá-los. Ocorre
por meio da faculdade de estatuir e faculdade de vetar, o primeiro, tem o direito de ordenar por
si mesmo ou corrigir algo ordenado por outrem, já o segundo, possui o direito de tornar nula
uma resolução tomada. O corpo executivo, deve participar da legislação pela faculdade de vetar,
mas se o legislativo também participa da execução, o poder executivo estará perdido. Se o
monarca desempenhasse a função legislativa pela faculdade de estatuir, não haveria mais
liberdade. No entanto, como é preciso que tome parte da legislação para defender-se, é
necessário que faça através da faculdade de vetar. Já o corpo legislativo é composto de suas
partes, ambas iram se subjugaram pela faculdade de vetar.
Contudo, a fim de que aquele que executa não possa oprimir, é preciso que o exército a
ele confiado seja o povo. Uma vez constituído o exército, ele não deve depender imediatamente
do poder legislativo, mas do poder executivo, já que sua existência consista mais em ação do
que deliberação. Sendo assim, o exército deverá sempre desprezar o senado e respeitar seus
oficiais.

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