Apesar de ser um homem das ciências, Montesquieu não se
dedicou aos abstratos estudos racionalistas e empiristas comuns no século XVII. Seu interesse voltou-se para aquilo que o ser humano faz na coletividade: moral, costumes e política. Montesquieu e outros franceses de sua época, como Voltaire e Rousseau, dedicaram-se a fundamentar novas visões políticas, absolutamente contrárias ao absolutismo, ainda imperioso na França e em boa parte da Europa no século XVIII e já obsoleto na Inglaterra e nos Estados Unidos.
Apesar de nobre, Montesquieu era completamente contrário ao
absolutismo. Ele era a favor de um Estado politicamente liberal, onde houvesse um corpo de leis que regesse a atuação daqueles que cuidam do Estado e dos cidadãos em geral. Para que não houvesse abusos, o Estado deveria ser repartido em três esferas de poder. Ele era completamente contra o poder despótico (o poder absoluto concentrado nas mãos de um tirano). Seu modelo defendia o respeito à liberdade e à vida, além dos direitos políticos dos cidadãos. Havia, para Montesquieu, três formas de governo centrais, sendo duas legítimas e uma ilegítima.
República: as repúblicas poderiam variar de acordo com a
amplitude da participação cidadã. As repúblicas democráticas são aquelas em que a cidadania e a participação política são estendidas a todos. As repúblicas aristocráticas têm uma restrição do conceito de cidadania, que fica atribuída a um pequeno grupo. De qualquer forma, é marca da república a divisão de poderes e a atribuição de um corpo de leis que regulamente a atuação de agentes públicos e de civis. Monarquia legítima: são regidas por um monarca (um rei), mas o poder desse rei não é irrestrito e absoluto. O monarca está submetido ao poder das leis e existe um corpo legislativo (um Parlamento) que cria as leis. Esse corpo, apesar de atuar em conjunto com o monarca, não pode ser por ele destituído, corrompido, dissolvido ou atacado, a menos que por justa causa.
Despotismo: é a monarquia ilegítima, a monarquia absoluta. Os
poderes do monarca nesse regime são irrestritos. O monarca despótico é, como disse o rei da França Luís XIV, o Estado. Ele quem faz as leis e age como se estivesse acima delas.
Existiram pensadores, como o teórico político francês Jean
Bodin e o filósofo inglês Thomas Hobbes, que defenderam o absolutismo como forma legítima de governo. Os iluministas em geral defendiam maior liberdade e respeito ao poder soberano do povo, o que implicaria quase que necessariamente a queda do absolutismo. Houve exceções de monarcas despóticos que tentaram aplicar os ideais iluministas na Europa, como o rei Frederico II da Prússia.
Veja também: Formas de governo – modo como um governo
organiza seus poderes Tripartição do poder
Para Montesquieu, um governo legítimo e bem estruturado deveria
er um corpo de leis, e o poder estatal deveria ser separado em três esferas. A defesa da separação dos poderes estava assentada na necessidade de um poder vigiar o outro (verificar se a Constituição é cumprida) e garantir que não haja abusos de poder. Um poder é complementar ao outro e nenhum pode se sobrepor ao outro. Para fazer uma analogia didática, a tripartição do poder é como um triângulo equilátero, onde não há um lado maior que o outro e os três pontos de ligação entre as arestas do triângulo têm tamanho igual e igual distância entre si|2|.
Vista aérea da Praça dos Três Poderes, em Brasília.
Vista aérea da Praça dos Três Poderes, em Brasília.
Os poderes do Estado e suas atribuições são os seguintes:
Legislativo: composto por legisladores (vereadores,
deputados e senadores), o Poder Legislativo é aquele que cria as leis, coloca os projetos de lei em discussão e em votação e fiscaliza a atuação dos outros poderes.
Executivo: é aquele que governa. É representado por
prefeitos, governadores, primeiro-ministro (em repúblicas parlamentares), presidente (em repúblicas presidencialistas), imperadores (em impérios) e reis (em monarquias). Esse poder deve atuar em concordância com a legislação, implementando ações que sejam liberadas pelo Poder Legislativo. Vez ou outra o Poder Executivo pode vetar a sanção de leis.
Judiciário: é composto pelo corpo de magistrados. O Poder
Judiciário deve julgar aqueles que atentam contra a lei e fiscalizar a atuação dos outros dois poderes.
Principais obras de Montesquieu
O filósofo escreveu dezenas de tratados, ensaios e artigos, que
versam, em sua maioria, sobre política. No entanto, podemos destacar duas publicações como principais dentro de sua vasta obra.
Cartas Persas: nessa obra literária epistolar, Montesquieu criou
dois personagens persas, Usbek e Rica, que viajam pela Europa e chegam a Paris. Vivem aventuras e desventuras e trocam cartas com conterrâneos contando seus feitos. Cartas Persas foi escrito em tom cômico e satírico. É uma forte sátira política, social e religiosa da França dos séculos XVII e XVIII e tornou o filósofo Montesquieu conhecido na França.
Do Espírito das Leis: o título dessa obra é um pouco maior do
que essa redução. O título completo é “O Espírito das Leis: Ou das Relações que as Leis devem ter com a Constituição de cada Governo, com os Costumes, o Clima, a Religião, o Comércio etc.”. Esse livro condensa toda a teoria política de Montesquieu. Ele fala das leis e da necessidade de criação de um corpo de leis para garantir, inclusive, a liberdade. Fala também da importância do governo e do Estado, além de expor a teoria da tripartição do poder.
Acesse também: Valores morais e sua importância para a
sociedade Frases de Montesquieu
“Liberdade é o direito de fazer tudo o que as leis permitem.”
“Não há mais cruel tirania do que aquela que exerce à sombra das leis e com as cores da justiça.”
“A liberdade, esse bem que nos permite desfrutar dos outros bens.”
“É uma infelicidade que existam tão poucos intervalos entre o tempo
em que somos demasiado novos e o tempo em que somos demasiado velhos.”
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