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MONTESQUIEU (1689 – 1755)

A sua mais importante obra é o “Espírito das leis” (1748), trata das instituições e das leis.
Neste livro, o autor francês apresenta uma teoria inspirada em John Locke, bem como seu estudo
das instituições políticas da Inglaterra. Montesquieu expõe seu modelo de liberdade política, o
qual, segundo o próprio autor, dependeria, basicamente, de dois elementos:
1º elemento: a Separação dos Poderes. Isto porque, sem a separação dos poderes, a
liberdade não poderia, de fato, ser garantida, já que somente assim poderíamos assegurar que as
distintas esferas, operando de maneira independente, não interfeririam nas outras esferas.
2º elemento: trata-se de um conjunto de leis civis e criminais bem definidas, a fim de garantir
a segurança de cada cidadão, tanto individualmente quanto coletivamente considerados.

Montesquieu buscava separar religião de política e, com isso, atribuir um caráter mais
científico para a política. A Obra de Montesquieu chegou a incomodar tanto os cleros católicos,
que a Igreja Católica acabou inserindo sua Obra no índice de livros proibidos. Montesquieu
reconhece a importância das leis como um sistema universal, a natureza segue suas leis, a força
divina também tem suas leis, assim também a sociedade. Para o autor, as leis da organização
social têm a ver com Deus, estando ligados pelo vinculo da moral e da religião, bem como pela
natureza – não somos sujeitos apenas às leis do Estado. Obedecemos também às leis divinas, às
leis da natureza física. Desta forma, Montesquieu diferencia os regimes a partir de suas
qualidades, a saber: a natureza da localização da soberania e a relação entre seu princípio
norteador com o respeito às leis estabelecidas, ou seja, o estado de direito.
República: podem ser aristocráticas (soberania de poucos) ou democráticas (soberania do
povo). Ideal para nações pequenas. Fundada sobre o princípio da virtude, a paixão pela
igualdade. O republicano baseia-se na virtude.
“Quando, na república, o povo em conjunto possui o
poder soberano, trata-se de uma Democracia. Quando o
poder soberano está nas mãos de uma parte do povo, chama-
se uma Aristocracia.”

Monarquia: estabelecida sobre a diferenciação desigual, mas sob o controle constitucional


das leis. O monarca tem a última palavra no país, mas está ainda sujeito às leis. Serviria a uma
nação de tamanho médio. Baseia-se no princípio da honra. O monarca baseia-se na honra.
“Os poderes intermediários, subordinados e dependentes, constituem a
natureza do governo monárquico, isto é, daquele onde um só governa com
leis fundamentais.”

Despotismo: situada em uma linha tênue da monarquia, é governada pelo princípio do medo.
Estão todos iguais sob o déspota o qual governa segundo seus caprichos, sem respeito ao estado
de direito. Cabe aos impérios de grandes extensões. O déspota baseia-se no medo.
“Resulta da natureza do poder despótico que o único homem que o exerce faça-o da
mesma forma ser exercido por um só. Um homem para o qual seus cincos sentidos diz
incessantemente que ele é tudo e que os outros não são nada é naturalmente preguiçoso,
ignorante, voluptuoso.”

A questão da liberdade aparece como fundamental na análise de Montesquieu. Para ele,


politicamente a liberdade é o poder de fazer qualquer coisa que a lei permita, como por exemplo,
não ficar sujeito aos caprichos das vontades individuais. Argumenta que ninguém deve ser
forçado a fazer algo a menos que exigido por lei. Tampouco alguém deveria ser forçado a se
abster de fazer algo que a lei permitir. As leis servem para garantir as liberdades.
“Todo homem que tem o poder é tentando a
abusar dele (…). É preciso que, pela disposição das
coisas, o poder freie o poder.”

A partir disso, apresenta sua proposta de separação dos poderes como forma de freios e
contrapesos, elaborando sobre a tripartição dos poderes de Locke. Uma constituição deveria ser
explícita e limitar a atuação de cada poder. Cada esfera do poder teria o poder de estatuir normas
próprias internas e externas de sua competência além de o poder de impedir a interfência de
outras esferas. A competência de cada um seria:
Legislativo: elaborar as leis e residiria no Parlamento.
Executivo: aplicar as leis e executar políticas públicas, representado pelo governo.
Judiciário: garantir o cumprimento das leis, centrado nos tribunais de justiça.

Outros mecanismos também serviriam de restrições aos arbítrios. Por exemplo, a existência
de corpos intermediários, como os partidos parlamentares e a aristocracia, que mediaria os
interesses do povo e do Estado. Essa distribuição difusa do poder evitaria o despotismo. Outro
mecanismo é reconhecer o papel dos costumes e do exercício da liberdade. O que os costumes
regem, não se deve ser regido pelas leis. Desse modo, Montesquieu esposa um liberalismo
aristocrático.
Contrário aos liberais e iluminados da época que consentiam na escravidão, Montesquieu
sentia-se horrorizado com ela. Utiliza um argumento irônico. Em outras partes também defende as
liberdades de pensamento, expressão e reunião.
O objetivo de Montesquieu era encontrar um equilíbrio entre sociedade e governo, de forma
que a liberdade não significa fazer o que quer, já que os homens são livres, mas escolher o que
fazer entre todas as coisas que as leis permitem. Neste sentido, a lei não limita a liberdade, mas
garante fazermos tudo o que ela nos possibilita.
“O princípio da democracia corrompe-se não somente quando se perde o espírito de
igualdade extremo e cada um quer ser igual àqueles que escolheu para comandá-lo. A partir deste
momento, o povo, não podendo suportar o próprio poder que delegou, quer fazer tudo sozinho,
deliberar pelo senado, executar pelos magistrados e despojar todos os juízes. Não pode mais
existir virtudes na república. O povo quer exercer as funções dos magistrados; logo, estes não são
mais respeitados. As deliberações do senado não têm mais peso; logo não há mais respeito pelos
senadores e, consequentemente, pelos velhos. E se não houver mais respeito pelos velhos
também não haverá pelos pais; os maridos não merecem maior deferência, nem os senhores
submissão. Todos chegarão a gostar desta libertinagem; o incomodo do comando cansará tanto
quanto a obediência. As mulheres, as crianças, os escravos não terão mais submissão a ninguém.
Não existirão mais costumes, amor à ordem e, por fim, virtude.”

Segundo Montesquieu, a natureza das leis positivas está diretamente relacionada a diversos
fatos, como o clima da região, os costumes, a forma como determinado povo realiza comércio, e o
tamanho do território. Tudo isso influencia na confecção das leis.
Além disso, ainda segundo Montesquieu, uma legislação criada para um determinado povo e
em uma determinada sociedade, não necessariamente funcionará de maneira apropriada em
outra sociedade, na qual aqueles fatores citados anteriormente sejam diferentes.
Assim, uma sociedade com costumes distintos de outra, muito provavelmente, terá uma
legislação diferente. Terá leis mais apropriadas conforme todos aqueles fatores que compõe
aquela sociedade.

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