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Segunda avaliação de Introdução à Ilustração

Aluno: Douglas Maia da Silva Sobrinho Data: 07/11/2019


Professor: Luiz Francisco de Albuquerque Miranda

“Liberdade é fazer tudo o que as leis permitem.”


“O que não for bom para a colmeia também não é bom para a abelha.”
“A corrupção dos governantes que se sempre começa com a corrupção de seus princípios.”
Frases atribuídas ao Barão de Montesquieu

De acordo com Luiz Roberto Salinas Fortes (1981, p.30), uns dos nomes que dominam o
cenário da primeira metade do século XVIII, na dita primeira “geração” do Iluminismo é
Montesquieu. Nome que exercerá considerável influência sobre os seus contemporâneos e
desempenhará o papel de um verdadeiro maìtre à penser, autêntico guia espiritual para os
jovens que virão em continuidade.
Nascido em 1689, Charles Louis de Secondat, senhor de la Brède e barão de Montesquieu, o
que demostra claramente suas origens aristocráticas, foi o autor de uma das obras mais
revolucionárias do período, fato devido talvez a sua educação nos anos iniciais através de
padres oratorianos entusiastas do novo clima cultural. Em Paris fez estudos de Direito,
voltando depois para sua província onde passou grande parte da vida se dedicando à sua
paixão pelas letras. Além de sua obra magna, para qual passou 4 anos recolhendo material O
Espírito da Leis, publicado em 1748, Montesquieu ainda deixou as Cartas Persas, de 1721, O
Templo de Cnido, de 1725 e as Considerações sobre as Causas da Grandeza e Decadência dos
Romanos. (FORTES, 1981, p. 31)
No Espírito da Leis, o autor busca mostrar que as leis, escritas ou não, que governam os povos
não são fruto do capricho ou do arbítrio de quem legisla. Ao contrário, decorrem da realidade
social e histórica própria do povo considerado. São elas que determinam as “relações
necessárias” com a vida desse povo, mostrando qual o sentido, que ele chama de “espírito” da
lei que rege a sociedade. Logo, não existem leis que possam ser aplicadas a todos os povos,
pois leis que são boas para um povo podem ser danosas para outro. Portanto, “boa será a lei
que se adequar à natureza e fortalecer o princípio de cada governo” (FORTES, 1981, p.35).
Uma lei que leva em conta determinadas circunstância de época e lugar. Por isso, para
Montesquieu, todas as formas de governa estão em um mesmo plano, embora suas
preferências vão de encontro à uma Aristocracia moderada.
No entanto, em relação às doutrinas políticas que professa, não é possível dizer que o barão de
Montesquieu seja um “revolucionário”. Ele não se coloca deliberadamente ao lado da
burguesia, pelo contrário, defende um liberalismo aristocrático. É sua obra, que graças a uma
certa ambiguidade em seu texto, que será admirada e usado pelos revolucionários de 89.
(FORTES, 1981, p.39) E, complemento citando a importância que a obra, principalmente pela
teoria da separação dos poderes, teve para se pensar a constituição dos Estados
contemporâneos durante os dois últimos séculos.
Montesquieu, no segundo e terceiro livro na sua magna obra, o Espírito da Leis irá discorrer
sobre as três espécies de governos, a saber: o Republicano (democrático ou aristocrático), o
monárquico e o despótico. Apresenta também as leis relativas à natureza e ao princípio dos
governos. Sendo a natureza o que faz o governo ser como é, e seu princípio o que o faz agir.
(MONTESQUIEU, 1996, 31). No entanto, neste texto, dedicaremos especial atenção as duas
primeiras espécies de governo, as repúblicas e as monarquias. Mas, inevitavelmente, o
governo despótico se fará presente pelas diferenças que possui relação às outras espécies.
Em relação ao governo republicano, o autor começa por fazer a distinção entre uma república
democrática, quando o povo em conjunto possui o poder soberano, e, a república aristocrática,
quando apenas uma parte do povo possui o poder.
Na democracia, o povo é ao mesmo tempo o monarca e o súdito. Exercendo a primeira
posição através de seus sufrágios, que clarificam suas vontades. Montesquieu diz que a
“vontade do soberano é o próprio soberano”. (MONTESQUIEU, 1996, p.20). Logo, as leis
que regulamentam o direito de sufrágio são fundamentais neste governo. Pois neste regime é
importantíssimo deixar bem claro como, por quem, para quem e sobre o que os sufrágios
devem ser dados. É essencial fixar o número de cidadãos que devem formar as assembleias,
pois, sem isto, não saberíamos se o povo falou integralmente, ou apenas uma parte dele.
O que nos leva a outra máxima do governo democrático, que diz que “o povo que possui
poder soberano deve fazer por si mesmo tudo o que pode fazer bem; e o que não puder fazer
bem, deve fazê-lo por meio de seus ministros”. (MONTESQUIEU, 1996, p.20) Em
consequência, é importante que o povo nomeie seus ministros, ou seja, seus magistrados, aos
quais o soberano deve delegar uma parte da sua autoridade(perceba que o povo entrega parte
de sua autoridade, não de seu poder soberano) Pois o povo tem necessidade de ser conduzido
por um conselho ou senado, devido ao fato de que, assim como a maioria dos cidadãos “têm
pretensão para eleger mas não para serem eleitos, o povo que tem capacidade suficiente para
fazer com que se prestem contas da gestão dos outros, não está capacitado para
gerir”.(MONTESQUIEU, 1996, p.21) Mas para que possam ter confiança nesses órgãos o
soberano da democracia deve eleger seus membros ou escolhendo-os por si mesmo, ou por
algum magistrado estabelecido para fazê-lo.
O barão de Montesquieu prossegue dizendo que além deixar bem clara a divisão daqueles que
têm direito ao sufrágio, é preciso também saber de que maneira este se dará. Na democracia
ele acontecerá através do sorteio, “uma maneira de eleger que não aflige ninguém e que deixa
a cada cidadão uma esperança razoável de servir sua pátria.”(MONTESQUIEU, 1996, p.22)
Além disso, na democracia, o sufrágio sempre devem acontecer de maneira pública pois
sempre é necessário que o povo esteja esclarecido e protegido da ação de demagogos, que
podem manobrar o povo em favor de suas vontades individuais, logo contrárias a natureza da
democracia, o bem comum.
Na democracia é somente o povo e, em alguns momentos o senado, que elaboram as leis.
Porém, quando o senado legisla, as leis devem passar por experimentação e serem julgadas
pelo povo para que possam se tornar perpétuas. Nenhum órgão deve estabelecer leis que não
possam ser submetidas ao juízo do povo, e que sendo vetadas por ele, sejam instituídas.
Na aristocracia o poder soberano está nas mãos de certo número de pessoas, responsáveis por
elaborar as leis e mandar executá-las. O resto do povo está para essa parcela, no máximo,
como os súditos estão para o monarca. (MONTESQUIEU, 1996. p.24). Porém, o autor
(MONTESQUIEU, 1996, p.26) diz que as famílias aristocráticas devem ser tão populares
quanto possível e que a melhor aristocracia é aquela na qual a parte do povo que não têm
participação no poder é tão pequena e tão pobre, que a parte dominante não tem nenhum
interesse em oprimi-la. Pois, quanto mais próxima uma aristocracia estiver da democracia,
mais perfeita será, e será cada vez mais imperfeita a medida em que se aproximar da
monarquia sem devidamente ser uma, fazendo com que a parte do povo que obedece se
encontra em uma escravidão civil. Montesquieu não diz com todas as palavras, mas me
arrisco a concluir que quando uma aristocracia se aproxima cada vez mais de uma monarquia
sem ser de sua natureza, se aproxima cada vez mais do despotismo. Identifico isso porque,
assim como a monarquia, o despotismo é o governo de um só, porém ao contrário do
primeiro, é um governo sem lei e sem regra, que impõe tudo por força de sua vontade e de
seus caprichos. (MONTESQUIEU, 1996, p.23) Um regime onde o princípio, a mola
propulsora, é o Temor, que leva a servidão, que o príncipe desperta no povo.
No governo republicano aristocrático o sufrágio não deve se dar por sorteio, mas sim pela
escolha dos nobres, que quando em grande número precisam de um senado que regulamente
as questões sobre as quais esse corpo não seria capaz de decidir e prepare as questões sobre as
quais ele decide. Montesquieu (1996, p.24) diz que, neste caso, a aristocracia está no senado,
a democracia no corpo dos nobres e o povo não é nada. E mais, em toda magistratura, a
grandeza de seu poder deve ser compensada pela brevidade de sua duração. Um ano é um
tempo adequado, logo que, um tempo curto é contrário a natureza da coisa e um tempo mais
longo é perigoso pois o magistrado pode adquirir uma autoridade exorbitante em um governo
que não possui leis que previam tal situação, e, por isso não podem freá-lo, aproximando o
governo do despotismo, como havia dito acima.
Fato incontestável, na república, seja democrática ou aristocrática, é que o princípio do
governo, ou seja, seu motor deve ser a Virtude, sendo mais necessária na democracia. Na
aristocracia, “o povo, que está para os nobres como os súditos estão para o monarca é contido
por suas leis.” (MONTESQUIEU, 1996, p.34) A Virtude está contida apenas no corpo dos
nobres e o que fica mais evidente neste governo é a moderação, advinda da virtude, que
regula a relação entre o nobres, que devem reprimir a si mesmos. A igualdade tange apenas a
relação entre os nobres, que como dito acima, são a “democracia” na aristocracia. O autor
(MONTESQUIEU, 1996, 34), diz que a igualdade não está presente nas relações entre os
aristocratas e o povo, porque os nobre formam um corpo que, por sua prerrogativa e pelo seu
interesse particular, reprime o povo.
Já democracia requer probidade de todos, simplesmente porque aquele que faz executar as leis
sente que a elas está submetido e que suportará seu peso. (Montesquieu, 1996, p.32) Aqui
deve ficar bem claro que o cidadão deve buscar servir a sua pátria, ser amante fidelíssimo da
verdade e da igualdade, incorruptível, imparcial e diplomático, colocando o interesses do
Estado acima dos interesses pessoais. É preciso que saiba que legisla em nome do corpo do
povo através da autoridade cedida pelo povo. É preciso que defenda os interesses da república
e busque a glória do Estado, seja nos negócios ou na guerra, sem contaminá-los com seus
negócios particulares. Porque, quando “cessa esta virtude, a ambição entra nos corações que
estão prontos para recebe-la, e a avareza entra em todos. Os desejos mudam de objeto.”
(MONTESQUIEU, 1996, p.33). O que se amava antes, ou seja, o bem público, não se ama
mais. Antes era-se livre com as leis pois todos as respeitavam e concordavam com elas,
porém agora querem se livrar delas pois estas fustigam a manifestação dos desejos
particulares. O homem não dedica mais sua vida ao bem comum, chegando a ser capaz de
sacrificá-la se preciso fosse pela democracia. Quanto menos virtuoso é o cidadão no
democracia mais buscará seus interesses pessoais e menos vontade terá de defender e se
submeter aos públicos, pois nos governos populares, desde a Grécia (mais especificamente,
Atenas) não deve haver outra força que possa sustentar os políticos além da virtude.
Passemos agora a analisar o governo monárquico, onde um só governa com leis fundamentais
fixas, das quais está acima. Que tem em sua natureza a existência de poderes intermediários,
subordinados e dependentes, porque apesar do príncipe ser a principal fonte de todo o poder
político e civil, precisa de canais médios por onde o poder possa fluir. O autor (1996, p. 26),
diz que o poder intermediário mais natural é o da nobreza, pois “sem monarca, não há
nobreza; sem nobreza, não há monarca; mas tem-se um déspota.” Quando se busca acabar
com os poderes intermediários o Estado acaba por se transformar, ou em popular quando o
povo adquire o poder, ou despótico, quando o príncipe reina sem nada que contrabalanceie
seu poder e decisões. Tudo isso pode ser resumido neste parágrafo escrito por Montesquieu:
“Assim como o mar, que parece querer cobrir toda a terra, é
detido pelas ervas e os menores pedregulhos que se encontram
na orla, assim também os monarcas, cujo poder parece sem
limites, são detidos pelos menores obstáculos e submetem seu
orgulho natural às queixas e aos pedidos.” (MONTESQUIEU,
1996, p.27)

Mas na monarquia não é suficiente que existam só grupos intermediários. É necessário que
exista um depósito das leis. A nobreza vive em estado natural de ignorância e desprezo pelo
governo civil. Jamais o Conselho do príncipe pode ser um depósito conveniente porque é por
natureza lugar da vontade momentânea do monarca e é um órgão que muda sem parar, logo
uma instância que não inspira a confiança do povo. Então, o depósito só pode estar nos corpos
políticos, nas instâncias burocráticas, que anunciam as leis quando elas são elaboradas e as
lembram quando são esquecidas.
O governo monárquico, a política promove as grandes coisas com a menor virtude possível.
“O Estado subsiste independente do amor à pátria, do desejo da verdadeira glória, da renúncia
de si mesmo, do sacrifício de seus interesses mais caros e de todas virtudes heroicas”.
(MONTESQUIEU, 1996, p.35) Nesse governo as leis ocupam o lugar de todas as virtudes,
das quais não se tem necessidade. O autor deixa claro que não é raro que existam príncipes
virtuosos, mas que numa monarquia, é raríssimo que o povo o seja. A Corte está mergulhada
em interesses particulares, bajulação, traição, desprezo pelos deveres de cidadão e aversão
pela verdade.
Porém, na monarquia, se lhe falta a Virtude lhe esbanja a Honra. Que “reina como um
monarca acima do príncipe e do povo”. (MONTESQUIEU, 1996, p.39) Encontraremos mais
ou menos bons cidadãos, porém raramente acharemos verdadeiros homens de bem porque não
têm a intenção de sê-lo. Em busca mais da glória própria do que a do Estado, os indivíduos
são capazes das mais belas ações, buscam o objetivo do governo, como a própria virtude
inspira o Estado democrático. Neste governo a igualdade é substituída pela superioridade.
Então todos procuram seu lugar ao sol, buscando se inserir no corpo do Estado e fazer o
possível para que o mesmo seja prospero e forte visando serem benquistos e obterem a
predileção do príncipe. É por isso que os ministros na monarquia são infinitamente mais
habilidosos e mais calejados nos negócios de Estado
A ambição é extremamente danosa numa república, e inviável em um governo despótico, pois
todos os homens são escravos e não podem ser preferidos a nada. Em contrapartida, tem bons
efeitos na monarquia, por dar vida a este governo e não ser perigosa porque pode ser
incessantemente reprimida. Porque a honra move todas as partes do corpo político. Fazendo
com que todos caminhem no sentido do bem comum, pensando ir em direção a seus interesses
particulares. (MONTESQUIEU, 1996, p.36)

Referências bibliográficas

MONTESQUIEU. O Espírito da Leis. São Paulo: Martins Fontes, 1996. P. 19-40.


FORTES, Luiz Roberto Salinas. O Iluminismo e os Reis Filósofos. São Paulo; Brasiliense

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