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museu
nacional
tempo
resgatado
de ao
arqueologia
mar
lisboa 2014
ficha técnica
Achados pré-romanos em ambientes marítimos Os navios da baía de Angra. Séculos xvi-xvii 195
e de águas interiores 160 O navio Faro A. Cerca de 1675-1690 196
Rio Arade. Achados avulsos. Época moderna 197
Uma história trágico-marítima em época romana 161 Os despojos junto ao Baleal. Época moderna 199
Cabo Sardão, ilha Berlenga e mar de Tavira 163 Os canhões da Ponta do Altar B. Após 1606 200
Fundeadouro da ilha Berlenga e mar de Sesimbra 164 Cabo Raso. Época moderna 201
Troia 165 O navio francês L’Océan. 1759 203
Mar de Sesimbra a leste da Fortaleza de Santiago 165
Rio Arade. Achados isolados 166 Juntos e sós: A travessia do azul 208
O navio espanhol San Pedro de Alcantara. 1786 208
As grutas em ambiente excessivamente húmido ou aquático 169
Grutas do Almonda. Idade do Ferro 169 Idade contemporânea:
Gruta do Bacelinho. Época romana 170 Um novo desafio para o património cultural subaquático 213
Costa oeste e mar de Leixões. Século xix 214
O sítio do rio Arade. geo 1. Época romana 171 O vapor britânico SS Dago. 1942 215
Geoarqueologia portuária: À procura das vias O ensino da arqueologia em meio aquático 216
aquáticas esquecidas 172
Organismos internacionais e cooperação:
Os navios da ria de Aveiro. Período medieval-moderno 172 Educação para o património 216
O navio Ria de Aveiro G. Séculos xiv-xv 172
O navio Ria de Aveiro F. Séculos xiv-xvi 173 Bibliografia 217
O navio Ria de Aveiro A. Séculos xv-xvii 174
O sítio Ria de Aveiro B/C. Séculos xv-xvii 176 Créditos fotográficos e de ilustrações 219
Lisboa, o Tejo
e a expansão portuguesa
Os mais recentes achados arqueológicos da zona ribeirinha
Introdução neo da Emparque, e os do quarteirão a su- se planeia assume, desde início2, uma dupla
Na sua autobiografia, Mon Dernier Soupir, deste do cruzamento entre a Rua de D. Luís I componente de rigor científico e divulgação
ditada ao longo de várias conversas a Jean- e o Boqueirão dos Ferreiros, para edificação para um público generalizado: uma história
-Claude Carrièrre, Luis Buñuel recorda a da nova sede corporativa da EDP. Nos dois de todos, contada para todos.
inauguração de uma sala de cinema em Za- casos, a complexidade dos contextos levou Neste texto apresentam-se algumas hi-
ragoza, nos alvores do século xx. Durante as a Era-Arqueologia a associar-se a especialis- póteses relativas às estruturas de época
exibições de filmes mudos, que o futuro ci- tas de diversas áreas da arqueologia terres- moderna detetadas naquelas duas recentes
neasta frequentava com assiduidade, era pre- tre, náutica e subaquática, paleobotânica e intervenções, evidências materiais da ampli-
sença regular, junto da tela, um explicador de geomorfologia, nomeadamente ao Centro tude cultural, social e económica da diáspora
filmes. Os espetadores não estavam familiari- de História de Além-Mar das Universida- portuguesa na Idade Moderna, quando Lis-
zados com a narrativa fílmica, pontuada pela des Nova de Lisboa e dos Açores, numa de- boa assumia no mundo um papel de inequí-
montagem das sequências, planos e dinâmi- sejável parceria entre empresas e academia1. voca importância.
cas de campo/contracampo, o que justificava O interesse do tema suscitou, aliás, a formu-
a indispensável presença do explicador. Este lação de um projeto de investigação sobre a Os cais, o forte de São Paulo
episódio, que hoje nos pode parecer anedó- Lisboa Ribeirinha, com uma abordagem que e a grade da Praça de D. Luís I
tico, não deixa de estar presente na condição se pretende holística e interdisciplinar, arti- Na sequência dos diferentes trabalhos ar-
do arqueólogo. Face a uma série de aspetos culando os meios terrestre e aquático, já que queológicos realizados na Praça de D. Luís I
conceptuais, taxionómicos e a um jargão que «o estudo dos centros portuários e da origem foi possível identificar 10 grandes fases de for-
o público em geral não domina (nem disso dos centros urbanos situa-se na charneira mação estratigráfica, das quais destacaremos
tem certamente obrigação), compete aos entre duas vertentes da arqueologia» (Blot, aqui as mais significativas e que revelaram
produtores de conhecimento arqueológico 2003, p. 27). O trabalho de investigação que contextos marítimos do período moderno.
desempenhar papel idêntico ao do explicador
de filmes de Zaragoza. Expor narrativas da his-
tória de Lisboa e da sua relação com o rio a 2 Durante os trabalhos de terreno de 2012 realiza-
partir de evidências arqueológicas vale bem 1 Refiram-se os colegas que participaram nos trabalhos ram-se inúmeras visitas aos dois estaleiros referidos,
esse esforço, e a audiência merece-o, já que, arqueológicos da Era-Arqueologia, S. A., Teresa Freitas, incluindo investigadores, académicos, profissionais
para o caso, este filme é de todos. Marta Macedo, Joana Lima, Rita Souta, José Pedro Ma- do património cultural, agentes dos meios de comu-
Nos últimos anos, muito particularmente chado e Pedro Braga, e do Centro de História de Além- nicação social, de âmbito local, nacional e internacio-
a partir de 2012, a empresa Era-Arqueologia -Mar, Ana Catarina Garcia, Cristóvão Fonseca, Gonçalo C. nal. Houve também uma preocupação de cidadania e
realizou uma série de intervenções arqueoló- Lopes, Inês Pinto Coelho, Jorge Freire, Patrícia Carvalho divulgação contínua, de que são exemplos as comuni-
gicas de minimização de impactes de obras na e Tiago Silva. Agradece-se a Sara Ferreira e a Alexandra cações apresentadas ao público no Museu da Cidade
zona ribeirinha de Lisboa, reveladoras de frag- Gomes, com quem debatemos alguns destes temas, de Lisboa, no Padrão dos Descobrimentos, no Gabinete
mentos pouco conhecidos da vida marítima que esperamos possam vir a aprofundar alguns deles de Estudos Olisiponenses, no Museu do Carmo e no 11.º
da capital portuguesa. Destaquem-se os tra- nas suas dissertações de mestrado em Arqueologia na Colóquio da Era-Arqueologia, realizado já em 2013 na
balhos da Praça de D. Luís I, para construção Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universi- Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universi-
de um parque de estacionamento subterrâ- dade Nova de Lisboa. dade Nova de Lisboa.
O fundeadouro e as
embarcações da Boavista
Na intervenção arqueológica realizada a su-
deste do cruzamento entre a Rua de D. Luís I
e o Boqueirão dos Ferreiros foram reconhe-
cidas três realidades cronológicas distintas: a
Fábrica de Gás da Boavista, que laborou entre
a década de 1840 e os primeiros decénios da
centúria seguinte; o aterro da Boavista, uma
das maiores obras públicas de Oitocentos a
nível nacional, já aqui referida; e os vestígios
associados à frente fluvial da antiga praia da
Boavista, nos quais se englobam duas embar-
cações da 2.ª metade do século xvii ou de iní- Fig. 5 – Vista geral de norte para sul do navio Boa Vista 1 Fig. 6 – Extremidade de popa do navio Boa Vista 1
cios da centúria seguinte. No presente texto, (© ERA / CHAM). (© ERA / CHAM).