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o

museu
nacional
tempo
resgatado
de ao
arqueologia
mar
lisboa 2014
ficha técnica

EXPOSIÇÃO Tradução Revisão de texto


Coordenação Geral Carla Ventura, Maria Empis e Maria João Nunes Maria Amélia Fernandes (MNA)
António Carvalho e Maria Amélia Fernandes Cíntia Pereira de Sousa (DGPC/DBC) Carla Negreiros Pato
Comissário Científico Projeto de Comunicação e Design Gráfico Sandra Costa e Susana Toureiro (INCM)
Adolfo Silveira Martins FBA. / Ana Sabino Revisão da Bibliografia
Projeto Museográfico Produção Gráfica Lívia Cristina Coito (MNA)
Maria Manuela Fernandes BRACRIL, Lda Tradução
Filme Execução da Obra Carla Ventura, Maria Empis e Maria João Nunes
Azul Profundo J. C. Sampaio, Lda. Cíntia Pereira de Sousa (DGPC/DBC)
Realização de Nelton Pellenz (Cine Água Filmes) Seguradora Fotografia
instalação do filme Lusitania, Companhia de Seguros, S. A. (seguradora José Paulo Ruas e Luísa Oliveira (DGPC/DDCI)
Balaclava Noir oficial da Direção-Geral do Património Cultural) Matthias Tissot (Archeofactu)
Inventário e montagem Radiografia
Alexandre Moura da Silva, Luís Antunes, Luísa CATÁLOGO Luis Piorro (DGPC/DLJF e UE/LH)
Guerreiro, Paulo Alves e Salvador Baptista (MNA) Autores Desenho
Adolfo Miguel Martins, Barros António, Natalina Adolfo Miguel Martins [AMM] Helena Figueiredo (MNA)
Guerreiro e Pedro Barros (DGPC/DBC/DSPAA) Adolfo Silveira Martins [ASM] Design Gráfico
Serviço Educativo Alexandra Figueiredo [AF] FBA. / Ana Sabino
Maria José Albuquerque (MNA) Alexandre Sarrazola [ASz] pré-Impressão e Impressão
Secretariado e gestão financeira Ana Margarida Arruda [AMA] Imprensa Nacional – Casa da Moeda (INCM)
Adília Antunes e Maria do Céu Araújo (MNA) André Teixeira [AT] Tiragem 2000
Dália Bernardino, Fernanda Garção e Marta Pereira António Carvalho [AC] ISBN 978-972-27-2247-6 (INCM)
(DGPC/DBC/DPGC) António Costa Canas [ACC] ISBN 978-989-8052-63-6 (DGPC)
Conservação e Restauro António Fialho [AF] Depósito Legal 364 880/13
João Coelho, Natalina Guerreiro e Pedro Gonçalves Augusto Salgado [AS] Edição n.º 1019756
(DGPC/DBC/DSPAA) Carlos Fabião [CF] Impresso em fevereiro de 2014
Carlos Gómez-Gil e Juan Luís Sierra Méndez (AR- Fátima Claudino [FC]
QUA) Inês Pinto Coelho [IPC] Todos os direitos reservados ao abrigo do código
Margarida Santos e Rita Matos (MNA) Jacinta Bugalhão [JB] dos direitos de autor e direitos conexos.
Réplica Jean-Yves Blot [J-YB]
Alexandre Cabrita (MM) João Coelho [JC]
Radiografia João Pedro Cardoso [JPC]
Luis Piorro (DGPC/DLJF e UE/LH) Jorge Freire [JF]
Fotografia Jorge Russo [JR]
José Paulo Ruas e Luísa Oliveira (DGPC/DDCI) José Bettencourt [JBt]
Matthias Tissot (Archeofactu) Juan Luís Sierra Méndez [JLSM]
Vídeo (Conceção e Montagem) Filipe Castro [FCi]
Adolfo Miguel Martins (DGPC/DBC/DSPAA) Maria Luísa Blot [MLB]
Escola Técnica de imagem e Comunicação (ETIC) Maria Manuela Fernandes [MMF]
Gustavo Carvalho, Produções Natalina Guerreiro [NG]
Paulo Alves (MNA) Nuno Fonseca [NF]
Revisão de textos Patrícia Carvalho [PC]
Carla Negreiros Pato Vanessa Loureiro [VL]
Maria Amélia Fernandes (MNA) Vasco Gil Mantas [VGM]
ÍNDICE

Apresentação 14 Os navios, as cerâmicas e o porto:


Adolfo Silveira Martins A arqueologia da laguna de Aveiro medieval e moderna
nas rotas europeias e atlânticas 105
A arqueologia náutica e subaquática em Portugal: José Bettencourt, Patrícia Carvalho e Inês Pinto Coelho
Breves apontamentos 19
Jacinta Bugalhão Lisboa, o Tejo e a expansão portuguesa:
Os mais recentes achados arqueológicos da zona ribeirinha 111
Um olhar sobre o ensino da arqueologia subaquática 23 Alexandre Sarrazola, José Bettencourt e André Teixeira
Alexandra Figueiredo
O sítio arqueológico de São Julião da Barra (Cascais-Oeiras)
A conservação de artefactos arqueológicos provenientes e a dinâmica marítima do porto de Lisboa na Idade moderna 117
de contextos subaquáticos 29 Jorge Freire, José Bettencourt e Inês Pinto Coelho
João Coelho e Natalina Guerreiro
Nau de São Julião da Barra:
Cooperação internacional no domínio da conservação: Balanço de uma década de investigação 123
A liofilização da piroga monóxila 2 do rio Lima 37 Filipe Castro e Nuno Fonseca
António Carvalho e João Coelho
A navegação astronómica:
Conservación en ARQUA de objetos de madera Os instrumentos náuticos identificados em São Julião da Barra 133
del Museu Nacional de Arqueologia 41 António Canas
Juan Luís Sierra Méndez
Arqueologia de navios de cronologia contemporânea:
Topologias: O caso do SS Dago 137
Vertentes metodológicas em arqueologia do universo náutico 45 Jorge Russo
Jean-Yves Blot (com a participação de Maria Luísa Pinheiro Blot)
Centros interpretativos e divulgação:
Arqueologia do meio aquático e a problemática portuária Os casos do L’Océan e o NE Pedro Nunes 141
em arqueologia do meio húmido: Augusto Salgado (com a colaboração de António Fialho
Um elo de ligação entre dois territórios de investigação 75 e Jorge Freire)
Maria Luísa de B. H. Pinheiro Blot
Organismos internacionais e cooperação:
Navios e portos na Antiguidade 93 Educação para o património 145
Vasco Gil Mantas Fátima Claudino

Uma história resgatada ao mar: A arqueologia náutica e subaquática:


Vestígios das rotas marítimas romanas nas costas portuguesas 99 Uma ideia de futuro 149
Carlos Fabião Adolfo Silveira Martins e Adolfo Miguel Martins
Catálogo Lisboa, o Tejo e o mar: Os mais recentes achados
da zona ribeirinha 180
Azul profundo 154 O navio do Largo do Corpo Santo. Século xv 180
O Tempo Resgatado ao Mar 155 O navio do Cais do Sodré. Séculos xvi-xvii 181
Sítios arqueológicos e respetivas cronologias 156 O navio quinhentista Rio Arade 1 182

A arqueologia náutica e subaquática em Portugal: O complexo arqueológico de São Julião da Barra:


Uma história em construção 157 Quatro séculos de história submersa à entrada de Lisboa 183
A nau da Índia, presumível Nossa Senhora dos Mártires. 1606 183
A conservação de contextos subaquáticos 158
Rio Lima. Lugar da Passagem. Lanheses. A navegação astronómica:
2.ª metade do século vii – final do século ix 159 Os instrumentos náuticos identificados em São Julião da Barra 194

Achados pré-romanos em ambientes marítimos Os navios da baía de Angra. Séculos xvi-xvii 195
e de águas interiores 160 O navio Faro A. Cerca de 1675-1690 196
Rio Arade. Achados avulsos. Época moderna 197
Uma história trágico-marítima em época romana 161 Os despojos junto ao Baleal. Época moderna 199
Cabo Sardão, ilha Berlenga e mar de Tavira 163 Os canhões da Ponta do Altar B. Após 1606 200
Fundeadouro da ilha Berlenga e mar de Sesimbra 164 Cabo Raso. Época moderna 201
Troia 165 O navio francês L’Océan. 1759 203
Mar de Sesimbra a leste da Fortaleza de Santiago 165
Rio Arade. Achados isolados 166 Juntos e sós: A travessia do azul 208
O navio espanhol San Pedro de Alcantara. 1786 208
As grutas em ambiente excessivamente húmido ou aquático 169
Grutas do Almonda. Idade do Ferro 169 Idade contemporânea:
Gruta do Bacelinho. Época romana 170 Um novo desafio para o património cultural subaquático 213
Costa oeste e mar de Leixões. Século xix 214
O sítio do rio Arade. geo 1. Época romana 171 O vapor britânico SS Dago. 1942 215

Geoarqueologia portuária: À procura das vias O ensino da arqueologia em meio aquático 216
aquáticas esquecidas 172
Organismos internacionais e cooperação:
Os navios da ria de Aveiro. Período medieval-moderno 172 Educação para o património 216
O navio Ria de Aveiro G. Séculos xiv-xv 172
O navio Ria de Aveiro F. Séculos xiv-xvi 173 Bibliografia 217
O navio Ria de Aveiro A. Séculos xv-xvii 174
O sítio Ria de Aveiro B/C. Séculos xv-xvii 176 Créditos fotográficos e de ilustrações 219
Lisboa, o Tejo
e a expansão portuguesa
Os mais recentes achados arqueológicos da zona ribeirinha

Alexandre Sarrazola José Bettencourt André Teixeira


Era-Arqueologia, S. A. Centro de História de Além-Mar da Universidade Faculdade de Ciências Sociais e Humanas
Nova de Lisboa e da Universidade dos Açores da Universidade Nova de Lisboa, Centro de História
bolseiro de doutoramento da fundação de Além-Mar da Universidade Nova de Lisboa
para a ciência e a tecnologia e da Universidade dos Açores

Introdução neo da Emparque, e os do quarteirão a su- se planeia assume, desde início2, uma dupla
Na sua autobiografia, Mon Dernier Soupir, deste do cruzamento entre a Rua de D. Luís I componente de rigor científico e divulgação
ditada ao longo de várias conversas a Jean- e o Boqueirão dos Ferreiros, para edificação para um público generalizado: uma história
-Claude Carrièrre, Luis Buñuel recorda a da nova sede corporativa da EDP. Nos dois de todos, contada para todos.
inauguração de uma sala de cinema em Za- casos, a complexidade dos contextos levou Neste texto apresentam-se algumas hi-
ragoza, nos alvores do século xx. Durante as a Era-Arqueologia a associar-se a especialis- póteses relativas às estruturas de época
exibições de filmes mudos, que o futuro ci- tas de diversas áreas da arqueologia terres- moderna detetadas naquelas duas recentes
neasta frequentava com assiduidade, era pre- tre, náutica e subaquática, paleobotânica e intervenções, evidências materiais da ampli-
sença regular, junto da tela, um explicador de geomorfologia, nomeadamente ao Centro tude cultural, social e económica da diáspora
filmes. Os espetadores não estavam familiari- de História de Além-Mar das Universida- portuguesa na Idade Moderna, quando Lis-
zados com a narrativa fílmica, pontuada pela des Nova de Lisboa e dos Açores, numa de- boa assumia no mundo um papel de inequí-
montagem das sequências, planos e dinâmi- sejável parceria entre empresas e academia1. voca importância.
cas de campo/contracampo, o que justificava O interesse do tema suscitou, aliás, a formu-
a indispensável presença do explicador. Este lação de um projeto de investigação sobre a Os cais, o forte de São Paulo
episódio, que hoje nos pode parecer anedó- Lisboa Ribeirinha, com uma abordagem que e a grade da Praça de D. Luís I
tico, não deixa de estar presente na condição se pretende holística e interdisciplinar, arti- Na sequência dos diferentes trabalhos ar-
do arqueólogo. Face a uma série de aspetos culando os meios terrestre e aquático, já que queológicos realizados na Praça de D. Luís I
conceptuais, taxionómicos e a um jargão que «o estudo dos centros portuários e da origem foi possível identificar 10 grandes fases de for-
o público em geral não domina (nem disso dos centros urbanos situa-se na charneira mação estratigráfica, das quais destacaremos
tem certamente obrigação), compete aos entre duas vertentes da arqueologia» (Blot, aqui as mais significativas e que revelaram
produtores de conhecimento arqueológico 2003, p. 27). O trabalho de investigação que contextos marítimos do período moderno.
desempenhar papel idêntico ao do explicador
de filmes de Zaragoza. Expor narrativas da his-
tória de Lisboa e da sua relação com o rio a 2 Durante os trabalhos de terreno de 2012 realiza-
partir de evidências arqueológicas vale bem 1 Refiram-se os colegas que participaram nos trabalhos ram-se inúmeras visitas aos dois estaleiros referidos,
esse esforço, e a audiência merece-o, já que, arqueológicos da Era-Arqueologia, S. A., Teresa Freitas, incluindo investigadores, académicos, profissionais
para o caso, este filme é de todos. Marta Macedo, Joana Lima, Rita Souta, José Pedro Ma- do património cultural, agentes dos meios de comu-
Nos últimos anos, muito particularmente chado e Pedro Braga, e do Centro de História de Além- nicação social, de âmbito local, nacional e internacio-
a partir de 2012, a empresa Era-Arqueologia -Mar, Ana Catarina Garcia, Cristóvão Fonseca, Gonçalo C. nal. Houve também uma preocupação de cidadania e
realizou uma série de intervenções arqueoló- Lopes, Inês Pinto Coelho, Jorge Freire, Patrícia Carvalho divulgação contínua, de que são exemplos as comuni-
gicas de minimização de impactes de obras na e Tiago Silva. Agradece-se a Sara Ferreira e a Alexandra cações apresentadas ao público no Museu da Cidade
zona ribeirinha de Lisboa, reveladoras de frag- Gomes, com quem debatemos alguns destes temas, de Lisboa, no Padrão dos Descobrimentos, no Gabinete
mentos pouco conhecidos da vida marítima que esperamos possam vir a aprofundar alguns deles de Estudos Olisiponenses, no Museu do Carmo e no 11.º
da capital portuguesa. Destaquem-se os tra- nas suas dissertações de mestrado em Arqueologia na Colóquio da Era-Arqueologia, realizado já em 2013 na
balhos da Praça de D. Luís I, para construção Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universi- Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universi-
de um parque de estacionamento subterrâ- dade Nova de Lisboa. dade Nova de Lisboa.

alexandre sarrazola | josé bettencourt | andré teixeira 111


Nos depósitos jazentes sobre o substrato
geológico, foi detetada uma concentração de
materiais arqueológicos de cronologia exclu-
sivamente romana, como ânforas Dressel 14,
Almagro 50 e Almagro 51c, entre outros tipos
de menor expressão numérica, terra sigillata
hispânica, itálica e africana e cerâmica de pa-
redes finais, balizando-se o conjunto entre os
séculos i a. C. e o século v d. C. Foi encontra-
da também uma peça de navio, um elemento
longitudinal com 8,65 m, evidenciando o sis-
tema de ligação a outras peças, constituído Fig. 1 – Base em madeira do cais do século xvii na Praça Fig. 2 – Vista geral da grade descoberta na Praça de
por entalhes, mechas e cavilhas em madeira, de D. Luís I (© ERA ). D. Luís I. (© ERA / CHAM).
utilizado na Antiguidade em navios mediter-
rânicos. O contexto, obviamente merecedor çados com extremidade de base em V, sobre mais bem preservado, detetando-se uma
de análise detalhada noutro lugar, foi inter- os quais se implantavam toros horizontais cofragem com tábuas de madeira em cutelo,
pretado como espaço portuário. maioritariamente de secção circular, apenas fixas com pregos de ferro a um pequeno toro
Sobre um estrato formado por restos de rudemente descascados e desbastados, dis- de secção semicircular e a estacas afiladas de
moluscos e argilas (banco de ostras) que sela postos numa planta reticulada. Os espaços secção retangular e semicircular. A cota mé-
este estrato romano, detetou-se uma sequên- formados pela grelha de madeira estavam dia do topo da estrutura encontra-se ao nível
cia de depósitos argilosos com diversos ele- preenchidos por sedimentos contendo blo- médio do mar, tendo contudo uma pendente
mentos antrópicos ligados ao descarte de cos calcários de várias dimensões, cerâmica de meio metro, orientada de norte para sul,
atividade náutica, como blocos associados a de construção, argamassas, cascalho e areia, com 2,75 % de inclinação. A estrutura estava
cabos de fibras vegetais, toros de madeira e colmatados parcialmente por grandes lajes truncada por uma vala longitudinal e possuía
cerâmica rolada, intercalados entre os níveis retangulares de calcário branco justapostas, nos seus interstícios espólio maioritariamen-
de aluvião, sugerindo utilizações como vara- toscamente cortadas e afeiçoadas. Este cais te datável do último quartel do século xvii,
douro. De facto, até ao século xvi esta zona de deverá datar do século xvii, época em que o como faianças portuguesas e cachimbos em
Lisboa permaneceu pouco povoada, devendo povoamento para ocidente da cidade já se caulino.
a zona de escavação corresponder ao raso de estendera às colinas das Chagas e de Santa As características desta estrutura, nomea-
maré do Tejo. Só nos começos desta centúria Catarina até Santos, tendo-se criado as respe- damente a sua cota, sugerem que se trata de
se iniciou a urbanização do espaço ribeirinho tivas paróquias. Em 1566 fora instituída a de uma grade de maré, utilizada na reparação
a este da velha cerca fernandina, inicialmen- São Paulo, correspondente à orla ribeirinha de navios. Nesta fase da investigação, não se
te no bairro do Cata-que-Farás, no âmbito de no sopé daquelas elevações, uma zona «espe- pode, contudo, excluir a hipótese de terem
um programa de D. Manuel I de recentragem cialmente procurada por pilotos e marean- existido estruturas acima da grade, que per-
da cidade para a frente ribeirinha, assente tes» (Moita, 1994, p. 141-142). Desde o último mitiriam a construção de embarcações. Tem
na própria construção do Paço da Ribeira e quartel do século xvi que surgem referências paralelos, embora em número reduzido, nos
de uma série de estruturas administrativas aos cais da praia da Boavista e do secretariado estaleiros navais dos séculos xvii e xviii, no-
neste setor ligadas à navegação e ao comércio, a São Paulo, associados a áreas de construção meadamente em Hogendijk e Oostenburg,
além da dinamização das atividades da Ribei- e reparação naval improvisadas nas praias Amesterdão (Moser, 2011). De um modo ge-
ra das Naus (Carita, 1999, p. 91-92; Caetano, (Moita, 1994, p. 162). ral, a construção destas estruturas é carac-
2004, p. 111-124). A aproximação de Lisboa ao A poente deste cais registou-se uma es- terizada pela utilização de várias camadas
Tejo remonta, contudo, à tardo-medievalida- trutura de grande relevo, uma grade de maré de madeira horizontais, que regularizavam
de, como também parece ser comprovado ar- com cerca de 315 m2, com uma orientação a topografia das áreas de implantação, fixas
queologicamente nos vestígios náuticos da aproximadamente norte/sul (fig. 2). Era entre si a estacaria vertical. Nalguns casos,
Praça do Município e no Corpo Santo (Alves, constituída por três camadas de barrotes de como em Hogendijk e na Praça de D. Luís I,
Rieth, Rodrigues, 2001, p. 405-426). madeira sobrepostos, em número de cerca eram reutilizados elementos provenientes
O terceiro momento registado estratigra- de três centenas, com diferentes caracte- de navios desmantelados, sobretudo nas ca-
ficamente na Praça de D. Luís I corresponde rísticas e orientações, formando um padrão madas inferiores.
à implantação de um cais em jangada for- reticulado. Estes estavam fixos entre si por No estado atual dos nossos conhecimen-
mando um L (fig. 1). Este compunha-se pela pregaduras de metal e entalhes, reaprovei- tos, esta grade deve estar associada ao funcio-
cravação no solo de toros verticais com sec- tando, sobretudo na camada de base, mais namento da Companhia Geral do Comércio
ção circular, descascados, aplainados e agu- de 70 peças náuticas. O limite a este era o do Brasil, empreendimento mercantil mo-

112 lisboa, o tejo e a expansão portuguesa


nopolista criado em 1649 para dinamizar as
ligações àquela colónia sul-americana, que
se libertava da ameaça neerlandesa e se ia
tornando o cerne da expansão portuguesa
além-mar (Costa, 2002). A companhia afo-
rou aqueles terrenos na década de 1670 «ao
longo da praia da Boavista», constituindo a
denominada «Ribeira da Junta do Comér-
cio», portanto uma zona de construção e re-
paração naval (Castilho, 1893, p. 537), na qual
se deverá integrar o achado agora realizado.
Estas instalações definiam a sul e a oeste a Fig. 3 – Vista geral do Forte de São Paulo e do Cais da Fig. 4 – Pormenor do paredão sul do Forte de São Paulo
primitiva Praça de São Paulo, localizada a Moeda (© ERA ). (© ERA).
poente da atual, quando a respetiva igreja se
implantava a nascente e com a fachada vol- praia da Boavista em caso de acometimento da construção da praça atual, quando ainda
tada a oeste, ao contrário do que se verifica marítimo, protegendo igualmente as mencio- era bem visível o potentoso portal virado a
hoje, depois da reconstrução pós-1755 (Cas- nadas estruturas da Companhia Geral do Co- nascente, não obstante o estado geral de ruí-
tilho, 1893, p. 526). A Companhia foi extinta mércio do Brasil. A necessidade defensiva foi na (Castilho, 1893, p. 534-535; Araújo, 1938, xiii,
em 1720, transferindo-se a Casa da Moeda efetivamente o aspeto prioritário da nova di- p. 58).
para os seus edifícios, então considerados nastia após a Restauração, realizando-se para Finalmente, destaque-se o reconheci-
«de muita largueza e comodidade» (Castilho, isso os primeiros levantamentos rigorosos mento, junto ao limite norte da intervenção,
1893, p. 536), capazes de obviar a pequenez da cidade. O forte localizava-se em zona de de um cais interpretado como correspon-
das instalações prévias na base do morro de «aterro sem plano ou sequer ordem, semeado dendo ao cais da Casa da Moeda, portanto
São Francisco, no próprio Paço da Ribeira organicamente de infraestruturas náuticas erguido após a década de 1720 (fig. 3). A es-
e, antes ainda, na Rua Nova e em São Tomé e portuárias» (Rossa, 2002, p. 91), imedia- trutura era constituída por quatro fiadas de
(Araújo, 1938, xiii, p. 64). Assim, a grade de tamente a sul da Praça de São Paulo, na sua toros horizontais de secção semicircular com
maré deverá ter estado em funcionamento primitiva posição, já mencionada (Castilho, orientação noroeste/sudeste, sobre os quais
até aos inícios do século xviii. 1893, p. 534). encaixavam sete fiadas de toros com orien-
Outro momento de deposição neste local Os vestígios da fortificação compõem- tação norte/sul, escorados e suportados por
corresponde à implantação de quatro alinha- -se de dois paredões perpendiculares, um de estacas verticais. O reticulado interno estava
mentos de estacas verticais com diferentes orientação nordeste/sudoeste, outro noroes- preenchido por uma amálgama de blocos mé-
orientações, correspondentes a paliçadas, te/sudeste, constituídos por uma face exte- dios sobre uma base de argamassa, cobertos
num conjunto de sedimentos com fragmen- rior aparelhada com silhares retangulares de por uma fina camada de argila. Sobre esta es-
tos avulsos de barrotes de madeira e matéria calcário, com as superfícies de paramento trutura de madeira construiu-se um paredão
vegetal. Esta, observável amiúde em diferen- muito desgastadas, associados a um intrador- em silhares de calcário cinzento claro, retan-
tes depósitos, pode ser interpretada como so em amálgama de blocos de margas ligados gulares e de superfícies finamente bojarda-
resultado de despejos de material orgânico, por argamassa esbranquiçada, imbricando- das, que encostava diretamente ao paredão
a que se poderiam associar resíduos de ativi- -se de modo a formar uma estrutura angular, sul do forte de São Paulo, reaproveitando-o
dades de preparação de madeiras. Provisões grosso modo, de planta em cunha. Estavam- e prolongando-o para noroeste. As estru-
da época do terramoto de 1755 referem área -lhe associados dois pavimentos sobrepostos turas tinham espessos depósitos arenosos
próxima como o local «onde se lançam os e uma caleira central com blocos calcários, encostados, que poderão corresponder ao
estrumes das cavalheirices» (Castilho, 1893, além de uma escadaria. assoreamento da área a sul dos paredões do
p. 516), uma prática com antecedentes na O forte não terá sofrido consideravelmen- forte de São Paulo e do cais da Casa da Moeda,
zona e que continuou nos decénios seguintes, te no grande terramoto, a exemplo do que su- tal como registado no levantamento de Fili-
sendo um dos motivos do aterro Oitocentista. cedeu com a vizinha Casa da Moeda (Araújo, pe Folque de 1856-1858, onde se observa uma
Uma das descobertas mais expressivas 1938, xiii, p. 65), mas na iconografia posterior extensa área de «praia arenosa» (Almeida e
desta intervenção foi também a da extremi- àquele evento é referido como «torre de em- Ramalho, 2000).
dade sudoeste do forte de São Paulo (figs. 3 barque da artilharia», o que poderá corres- As restantes fases de formação estrati-
e 4), que já havia sido detetada em interven- ponder a um redesenho da estrutura e, de gráfica na Praça de D. Luís I já dizem respei-
ção arqueológica contígua (Pinto, Filipe, Mi- alguma forma, de função. O corresponden- to a deposições da época contemporânea,
guel, 2011, p. 42). Trata-se de uma fortificação te terreno com 1600 m2 foi vendido em 1864, destacando-se a concretização do aterro da
abaluartada erguida em 1672, para defesa da sendo demolido no ano seguinte no âmbito Boavista. Este fora projetado já nos inícios

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da centúria anterior, quando D. João V con- aborda-se apenas este último momento de lhantes, dispostos em fileira ao longo do rio
cebeu uma ligação entre a zona central da ocupação do sítio. (Caetano, 2004, p. 111-124). A partir de mea-
cidade e Belém através de «uma festiva e ar- Antes de mais importa referir que esta dos de Setecentos instalaram-se na área dois
borizada alameda em cais contínuo ao longo área tem uma tradição histórica de margina- empreendimentos lançados pelo marquês de
do rio», de que ficaram registos gráficos e de lidade que chegou à época contemporânea, Pombal vocacionados para o comércio brasi-
que terão sido construídos alguns troços, no o que naturalmente teve como efeito uma leiro, a Companhia Geral de Grão-Pará e Ma-
âmbito do seu plano de monumentalização menor atenção por parte da historiografia. ranhão e a Companhia Geral de Pernambuco
da parte ocidental de Lisboa, sede patriarcal Atente-se ao trecho lapidar do incansável e Paraíba, responsáveis por uma estabiliza-
e real (Rossa, 2002, p. 113-114). O terramo- olissipógrafo Júlio de Castilho, um dos pou- ção das entradas de navios no porto de Lisboa
to de 1755 implicou uma reestruturação do cos que se ocupou desta parte de Lisboa, bem nestes decénios (Frutuoso, Guinote, Lopes,
bairro de São Paulo, que dos seus 1080 fogos revelador daqueles factos: «toda essa praia 2001, p. 33). Estas instalaram-se a poente da
passou para 723 poucos anos depois da catás- chamada ‘da Boa Vista’ se pudesse contar sua antecessora, portanto confinando com a
trofe (Santana, 1976, p. 19 e 148), embora os a sua crónica tinha para volumes. Por aqui, nova Casa da Moeda, ali implantada décadas
edifícios públicos referidos se tenham man- em inumeráveis tavolagens, teve aula o deus antes. Embora perdendo o estatuto monopo-
tido. Em 1771 foi criado mais um na área, o Baco e os seus cortesãos não são por via de lista ainda no 3.º quartel do século xviii, estas
mercado de São Paulo, também denominado regra os mais pacíficos». O autor destaca a instituições mantiveram-se por mais alguns
por Ribeira Nova (Castilho, 1893, p. 530-531). volumosa documentação que localiza inúme- decénios, encontrando-se em liquidação em
Quedou por fazer, contudo, a cogitada via de ras tabernas nestas paragens durante a Idade 1840, no «pátio das companhias à moeda».
circulação ribeirinha, também vista como Moderna e até aos seus tempos, bem como Sucedeu-se uma construção mais densa da
uma oportunidade para sanear a área. alguns episódios de «brigas ferozes» (1893, área, pouco antes da concretização do aterro
O aterro só se veio a concretizar, então, a p. 532-533). Tratava-se de uma área «cuja mar- da Boavista (Castilho, 1893, p. 539 e 541).
partir de meados do século xix, primeiro en- gem se edificava rudimentarmente», pelo Os achados mais significativos desta in-
tre Santos e a Casa da Moeda, a partir de 1864 que «a sua fisionomia não chegava a adquirir tervenção referem-se, porém, a vestígios de
estendendo-se também para nascente do for- feição urbana» (Araújo, 1938, xiii, p. 76). um provável fundeadouro/desembarcadou-
te de São Paulo, que acabou por ser demolido Os testemunhos históricos referem que ro, onde surgiram materiais cerâmicos com
para a construção da Praça, como menciona- desde meados do século xvii existiam «pré- cronologias que vão deste à época romana ao
do (Castilho, 1893, p. 530-531). Este processo dios, casas, barracões, cais e armazéns da Jun- século xviii, várias âncoras em ferro de época
foi observado na intervenção arqueológica ta do Comércio na praia da Boavista» (Araújo, moderna e dois navios de madeira. O navio
através de um conjunto de depósitos sobre- 1938, xiii, p. 75), uma referência à companhia Boa Vista 1 conservava-se sobre o bordo de es-
postos às derradeiras estruturas atrás refe- monopolista acima mencionada. Mais subs- tibordo ao longo de 12 m no sentido sul-norte
ridas. Detetaram-se ainda construções em tancial deve ter sido a ocupação na centúria e 5 m no leste-oeste (figs. 5 e 6). Está orien-
alvenaria grosseira ligadas por argamassa que seguinte, sendo as margens do Tejo então tado com a popa a sul, tendo sido profunda-
parecem corresponder a fornos de planta re- dominadas por tercenas, armazéns cobertos mente perturbado pela ocupação posterior
tangular e extremidades arredondadas, além com características arquitetónicas seme- do espaço, nomeadamente pela estacaria do
de forjas ou fornalhas, correspondentes aos
restos da Fundição do Arsenal Real.

O fundeadouro e as
embarcações da Boavista
Na intervenção arqueológica realizada a su-
deste do cruzamento entre a Rua de D. Luís I
e o Boqueirão dos Ferreiros foram reconhe-
cidas três realidades cronológicas distintas: a
Fábrica de Gás da Boavista, que laborou entre
a década de 1840 e os primeiros decénios da
centúria seguinte; o aterro da Boavista, uma
das maiores obras públicas de Oitocentos a
nível nacional, já aqui referida; e os vestígios
associados à frente fluvial da antiga praia da
Boavista, nos quais se englobam duas embar-
cações da 2.ª metade do século xvii ou de iní- Fig. 5 – Vista geral de norte para sul do navio Boa Vista 1 Fig. 6 – Extremidade de popa do navio Boa Vista 1
cios da centúria seguinte. No presente texto, (© ERA / CHAM). (© ERA / CHAM).

114 lisboa, o tejo e a expansão portuguesa


aterro e pelas estruturas da fábrica do gás,
que destroçaram a maior parte da estrutu-
ra. As estruturas correspondem a porção da
popa, desde a quilha até à fiada 11/12 do tabua-
do, na zona de ligação entre os primeiros e
segundos braços. Não se conservavam caver-
nas em conexão, embora estas tenham sido
localizadas entre os elementos destroçados
do navio. Dos pormenores mais relevantes
registados na fase de campo encontra-se: a
utilização de uma quilha compósita, com
diversos troços ligados topo a topo, num Fig. 7 – Vista geral de SE para NE do navio Boa Vista 2 Fig. 8 – Aspeto da quilha e do lançamento da roda de
processo semelhante ao identificado no na- (© ERA / CHAM). proa do navio Boa Vista 2 (© ERA / CHAM).
vio do Cais do Sodré (Rodrigues, et al., 2001,
p. 354-357); a transição entre a quilha e o ca- toriais de arqueografia o registo da estrutura claros em nenhum vestígio publicado até ao
daste com um couce; a utilização de escarvas dos navios e a sua integração cultural. A com- presente. O navio Boa Vista 2, de maior porte,
de dente nas ligações das cavernas aos braços ponente material associada aos níveis sedi- também não encontra analogias na bibliogra-
com pregadura em ferro e a utilização de um mentares que os protegeram (cachimbos de fia disponível. Ambos constituem, por isso,
sobrecostado, que protegia a quilha e o forro caulino, faianças e vidros) permite datá-los fontes essenciais e únicas para o estudo da
exterior do navio. Durante a intervenção fo- da transição do século xvii para o século xviii. construção naval pós-medieval na Europa.
ram registados numerosos artefactos sobre Mas a natureza dos depósitos onde foram en-
e na periferia da estrutura, embora apenas contrados não permite sequer determinar a Conclusão
se possa associar ao navio Boa Vista 1, nesta origem arqueológica dos contextos (abando- As intervenções de salvamento arqueológi-
fase, um fragmento de peça de poleame em no ou naufrágio), embora ambos se encon- co realizadas na zona ribeirinha de Lisboa,
madeira. trem em espaço submerso até ao século xix. na Praça e na Rua de D. Luís I, vieram reve-
A estrutura do navio Boa Vista 2, também De facto, a área intervencionada surge nas lar dados de notável importância para o co-
profundamente perturbada pelas ocupações plantas de Cardos Mardel (1756), na Planta nhecimento da dinâmica urbana, marítima e
posteriores, mede 16 m no sentido sul-norte Topográfica de Lisboa (1780) e no Mapa de portuária da cidade ao longo dos tempos. Os
e 5 m no leste-oeste (figs. 7 e 8). O navio tinha Duarte Fava (1807) como imersa no leito do achados arqueológicos constituem-se igual-
a proa orientada a norte e estava conservado Tejo ou, quanto muito, no raso de maré (Ma- mente como fontes importantes para o co-
ao longo do bordo de bombordo, embora a galhães, 1997)3. Testemunhos posteriores nhecimento de aspetos relativos à navegação
quilha só subsistisse junto ao troço de proa. dão ainda uma imagem de ambiente ribeiri- e aos contactos a longa distância, ao cosmo-
Tal como acontecia com o navio Boa Vista 1, nho, afirmando-se que as faluas encalhavam politismo e às trocas comerciais, à comple-
as balizas encontravam-se em mau estado no fundo dos boqueirões, como o dos Fer- xidade social e aos encontros culturais no
de conservação, só surgindo algumas picas reiros ou da Moeda (Araújo, 1938, xiii, p. 76). território atualmente português.
em conexão sobre o maciço de proa e alguns Apenas na citada cartografia de Filipe Folque, No que concerne à Idade Moderna, os
fragmentos de braços ao longo da estrutu- posterior ao início do aterro da Boavista, é dados arqueológicos documentaram zonas
ra. Entre os pormenores mais relevantes do que esta área de escavação é representada já de descarte de atividade náutica, em zonas
navio registe-se a utilização de uma quilha em terra, figurando a fábrica do gás (Almeida de desembarcadouro ou fundeadouro, e de
compósita, com o último troço ligado à roda e Ramalho, 2000). despejo de dejetos urbanos, uma prática co-
de proa com uma escarva lisa horizontal; a As mesmas dificuldades relacionadas com mum nas cidades marítimas históricas. Loca-
utilização de terços de chumbo na calafeta- a formação e cronologia destes contextos lizaram e caracterizaram os cais de diversos
gem das juntas das tábuas e a existência de são encontradas quando tentamos filiar os contextos dos séculos xvii e xviii, testemu-
um sobrecostado a proteger a quilha e o forro navios numa tradição de construção naval. nhos frágeis e poucas vezes abordados por
exterior. Entre os materiais registados sobre De referir, todavia, que o navio Boa Vista 1, outras fontes históricas da relação da cidade
e na periferia da estrutura apenas podem ser de pequeno porte, apresenta «assinaturas com o rio e, numa perspetiva mais lata, com
associados a este navio vários cocos arruma- arquiteturais» comuns ao espaço mediter- as longínquas regiões tocadas pela expansão
dos no seu fundo, sobre ramagens de espécie rânico, embora não se encontrem paralelos portuguesa. Neste âmbito, abordou-se uma
arbórea ainda não identificada. área claramente relacionada com os contac-
O estado de conservação de ambos os 3 Utilizou-se a cartografia georreferenciada da plata- tos e a presença portuguesa no Brasil, gigante
contextos dificultou a sua intervenção e in- forma Lisboa Interativa da Câmara Municipal de Lisboa. da colonização europeia na América e nervo
terpretação, remetendo para as fases labora- Disponível em: http://lxi.cm-lisboa.pt/lxi/. do império português nestas centúrias. Em

alexandre sarrazola | josé bettencourt | andré teixeira 115


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116 lisboa, o tejo e a expansão portuguesa


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