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MUSEU NACIONAL
Rio de Janeiro
2014
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
MUSEU NACIONAL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUEOLOGIA
Rio de Janeiro
2014
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
MUSEU NACIONAL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUEOLOGIA
Banca examinadora:
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Agradeço a todos aqueles que me ajudaram a passar por mais esta etapa de
minha vida. Em especial aos meus pais e avós que sempre respeitaram e apoiaram
minhas decisões.
Agradeço à minha orientadora, Claudia, que em meio a tantas atribuições e
responsabilidades conseguiu garantir que meu trabalho se mantivesse nos trilhos.
Agradeço aos membros da banca, Rita e Alejandra, que gentilmente
aceitaram analisar os resultados desta pesquisa.
Agradeço aos colegas de turma pela camaradagem e pelos momentos de
reflexão.
Agradeço ao Diogo e aos professores Andersen e Madu pela preciosa ajuda
nos trabalhos de medição do sítio.
Agradeço à equipe do Museu de Arqueologia de Itaipu e aos servidores do
IPHAN que me auxiliaram no levantamento de dados para a pesquisa.
Agradeço à Vera, ao Mauro e ao Mestre Cambuci que colaboraram com o
trabalho através das sessões de entrevista.
Agradeço aos meus amigos, que estiveram presentes nas horas boas e ruins,
em especial ao Rafael e à Nayara, sem os quais este trabalho não seria possível.
RESUMO
The museum - and the archaeology museum, in particular - has been the main
device of approximation between the general public and archaeological sites.
Usually, this approximation is given through the extraction of archaeological data and
its exhibition in museum galleries. There are, however, few experiences where the
museum appropriates the site as a whole in order to effectively collaborate to the
elevation of its cultural value. This study aims to examine these issues using as a
case study the relationship between the Museum of Archaeology of Itaipu (Niterói -
RJ) and the Duna Grande archaeological site (Niterói - RJ). By conducting interviews,
measuring work of the site, and documentary and photographic survey, and based
on a theoretical leather supported by the concepts of cultural heritage, public
archeology and musealization, we sought to understand how the actions undertaken
by the museum, from the moment of its creation, impacted the state of preservation
and the evolution of the visitor's understanding about the Duna Grande
archaeological site.
8
como o da cidade de Ouro Preto, no estado de Minas Gerais, em que uma
considerável parcela de moradores foi, inicialmente, radicalmente contra o
tombamento do conjunto arquitetônico e urbanístico da cidade, pois tiveram suas
casas ou locais de comércio incluídos no processo – o que afetou diretamente o seu
modo de vida em muitos aspectos, sendo o principal a impossibilidade de realizar
qualquer intervenção arquitetônica sem a prévia autorização do Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
No caso dos sítios arqueológicos, tema central deste trabalho, a população
muitas vezes simplesmente desconhece sua existência, ou a ignora, por não
compreender e/ou não se identificar com os testemunhos culturais ali manifestos. A
presença das ações de educação patrimonial se fazem especialmente importantes
na elevação das pontes que ligam o patrimônio arqueológico à comunidade em seu
entorno, pois nesse tipo de atividade são encontradas as ferramentas necessárias
para promover – e, porque não, criar – o sentido de identificação, apropriação e
pertencimento necessários para garantir a legitimidade e a proteção do bem.
Dentre as principais instituições que lidam diretamente com a salvaguarda, a
pesquisa e a disseminação de informação sobre os bens culturais estão os museus.
O museu pode ser pensado como a ferramenta mais adequada para lançar luz sobre
a cultura material. O museu – e o museu de arqueologia, em especial – tem sido o
principal mecanismo de aproximação do público com os sítios arqueológicos. Essa
aproximação se dá, geralmente, através do registro arqueológico extraído que,
depois de tratado, passa a figurar nas exposições institucionais. Entretanto, em
alguns casos, o próprio sítio arqueológico passa por um processo de musealização
fazendo com que o visitante tenha a possibilidade de encará-lo como uma grande
exposição.
O presente trabalho tem por objetivo analisar como os museus, enquanto
ferramentas de proteção ao patrimônio, têm funcionado no auxilio à preservação de
sítios arqueológicos.
Dentre o panorama nacional de instituições museológicas que se encaixam
em um contexto em que estão diretamente associadas a sítios arqueológicos, a
relação entre o Museu de Arqueologia de Itaipu, em Niterói (no estado do Rio de
9
Janeiro), e o sítio arqueológico da Duna Grande, localizado a cerca de trezentos
metros do museu, foram escolhidos como estudo de caso.
A escolha do sítio arqueológico a ser pesquisado se deu devido à relevância
da Duna Grande no cenário arqueológico nacional e ao seu contrastante estado
precário de preservação. O desconhecimento da importância cultural do sítio, tanto
por moradores da região quanto por frequentadores da Praia de Itaipu (próxima ao
sítio), aliado à precária atuação dos órgãos responsáveis pela atividade de
fiscalização, são alguns dos fatores responsáveis pela degradação da Duna Grande.
Para além dos fatores citados acima, as ações de proteção do sítio em questão
assumem um forte valor político, econômico e social, haja visto o espantoso
crescimento da especulação imobiliária da região e a consequente ocupação
irregular de parte do terreno do sítio como área de moradia.
A outra ponta do estudo de caso, o Museu de Arqueologia de Itaipu, está
ligada à proteção da Duna Grande – através da construção de conhecimento e
disseminação do mesmo – desde a década de 1960, quando o arquiteto do IPHAN,
Edgard Jacintho, apoiado por Renato Soeiro, então diretor do Instituto, começaram a
pensar seu projeto de criação. Instalado nas ruínas de um antigo recolhimento de
mulheres, a cerca de trezentos metros do sítio arqueológico, o MAI se apropria do
sítio através de variados tipos de ações desenvolvidas com o objetivo de cumprir
com sua missão institucional. Ao longo de seus 35 anos de existência o Museu de
Arqueologia de Itaipu é a única instituição que atua – ainda que de modo limitado –
de forma continuada na preservação do sítio Duna Grande.
Com objetivo de analisar e compreender o impacto das atividades dos
museus, e em específico do MAI, no estado de preservação dos sítios
arqueológicos, sendo a Duna Grande o caso em estudo, a fundamentação teórica
deste trabalho, tema focalizado no primeiro capítulo, terá por base um tripé formado
pelos conceitos de patrimônio, arqueologia pública e musealização.
Através de uma rápida discussão sobre o entendimento do conceito moderno
de patrimônio e sobre como ele é utilizado pelo poder estatal no panorama da
preservação cultural brasileira, pretendo delimitar qual é o conjunto de pensamentos
e práticas historicamente associadas a este conceito, principalmente no campo da
arqueologia, quando apropriado pelo estado.
10
Para além da compreensão do que é – e das razões que levam uma
determinada coisa a ser – patrimônio na concepção do estado brasileiro, este
trabalho pretende investigar, através da análise de produções que se dedicam a
pensar o assunto, como é, ou costuma ser, a aceitação da elevação desta
determinada coisa ao status de patrimônio pela população diretamente afetada, seja
ela um pequeno núcleo de indivíduos um uma conjuntura a nível nacional.
A arqueologia pública, segundo item do tripé proposto para a composição da
base conceitual deste trabalho é uma prática diretamente ligada à conexão
estabelecida entre o entendimento do que é patrimônio na visão do estado e a
aceitação desta condição pela parcela da sociedade afetada.
O termo "público", em arqueologia pública, faz referência à utilização da
ciência para desenvolvimento e o benefício das comunidades e segmentos sociais
envolvidos ou afetados pela pesquisa arqueológica. Entretanto, o ponto de partida
para o desenvolvimento das ações que visam retorno direto para a sociedade é a
legitimação do valor cultural de um determinado sítio, monumento, conjunto de
peças, etc. E essa legitimação, de acordo com a nossa legislação voltada para o
campo da arqueologia, parte, necessariamente, do poder estatal.
Pensar arqueologia pública, portanto, é pensar patrimônio. A compreensão do
desenvolvimento das práticas associadas ao primeiro conceito, quando relacionadas
ao poder legitimador e aceitação social do segundo, se faz necessária para o
entendimento do terceiro item que embasa a fundamentação teórica deste trabalho,
a musealização.
A musealização, assim como a patrimonialização, envolve uma mudança
significativa no status de alguma coisa. Entretanto, musealizar algo – apesar deste
ser um dispositivo de caráter seletivo e subjetivo -– independe da ação estatal. A
musealização, aqui entendida como ferramenta típica das instituições museológicas,
assume o papel de instrumento capaz de construir a ponte entre o patrimônio e a
sociedade, de modo a garantir o retorno pretendido pela arqueologia pública.
As ações desenvolvidas pelo Museu de Arqueologia de Itaipu, assim como o
modo como o sítio é apropriado por esta instituição e o impacto deste contexto no
estado de preservação do sítio arqueológico da Duna Grande serão analisados,
portanto, com base no alicerce teórico acima apresentado.
11
No segundo capítulo deste trabalho, trato de fazer uma contextualização
sobre a própria Duna Grande (identificação, registro, pesquisas realizadas, material
coletado, etc.) e sobre o Museu de Arqueologia de Itaipu (criação, apropriação da
duna, missão institucional, etc.). É abordada, ainda, a “tradição Itaipu”, conceito
criado para fazer referência a um determinado grupo cultural cujos vestígios
encontrados na Duna Grande colaboraram para a identificação. A lógica pensada
para esta parte do trabalho foi a de estabelecer uma relação contextualizada entre
as duas pontas do estudo, a Duna e o Museu. Desta maneira, tornou-se possível
perceber a interação dos elementos estudados através de uma perspectiva mais
ampla, com base nos documentos analisados.
No capítulo seguinte, intitulado “Mapeamento das Ações”, tento mapear o
conjunto de ações desenvolvidas pelo MAI – ao longo de seus trinta e seis anos de
existência – no sentido de colaborar para com a preservação do sítio Duna Grande.
Foram levantadas todas as atividades educativas do Museu, com especial atenção
para aquelas que, de alguma maneira, abordassem o sítio arqueológico.
Paralelamente, tento traçar um histórico de degradação do sítio, através da
realização de entrevistas com moradores da região e pesquisadores ligados à Duna
Grande. Realizo, ainda, um levantamento histórico-fotográfico do Canto de Itaipu, na
tentativa de acompanhar, visualmente, a evolução do estado de preservação do sítio
ao longo dos anos. Por fim, no intuito de complementar a análise sobre a
conservação do sítio, descrevo o trabalho de medição realizado e comparo os
resultados com as dimensões anteriores.
O capítulo de número quatro trata da quantificação das ações apontadas no
capítulo anterior e da análise de seus resultados. Os resultados obtidos foram
interpretados associados ao contexto em que se inserem de modo a entender, de
fato, qual o impacto das atividades desenvolvidas pelo Museu de Arqueologia de
Itaipu no estado de preservação do sítio Duna grande.
Ao término, apresento as considerações finais, onde sintetizo os resultados
obtidos, e trato de contextualizá-los com cenários das políticas públicas de cultura
do Brasil.
12
CAPÍTULO 1: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
1.1. Patrimônio
13
1.1.1. Entendimento do conceito moderno de patrimônio e suas políticas de
proteção
1
Ver Anexo I: Quadro da subdivisão dos bens tombados de acordo com a comissão dos
Monumentos (CHOAY, 2006).
14
As políticas de preservação - manifestas através da expedição de decretos e
criação de comissões - ao longo dos primeiros anos da Revolução variam
enormemente de acordo com o cenário político da época. Um olhar desatento
poderia entender as ações empreendidas como sendo um tanto contraditórias.
Quase que paradoxalmente aos esforços por preservar, demonstrados com a
criação da comissão "dos Monumentos" acima citada, o próprio Estado
revolucionário comandou ações destrutivas direcionadas ao patrimônio. Em 1791 a
Assembleia Legislativa decretou a transformação das estruturas metálicas de
catedrais e igrejas em peças de artilharia e a fundição de pratarias e relicários com
objetivo de fundear despesas e equipamentos militares. Um mês depois, contudo,
foram publicadas instruções complementares que trataram de amenizar os danos
causados pelas fundições. Foram estabelecidos critérios que determinavam a
conservação dos bens visados. Os critérios estabelecidos2 tinham relação com a
antiguidade do bem, com sua qualidade artística e seu valor técnico.
Apesar da distância temporal que as separa, algumas das dificuldades vividas
pelos revolucionários na França do fim do século XVIII, assim como algumas de
suas soluções, encontram similaridades na história do pensamento e da criação de
políticas para o patrimônio brasileiro. O enquadramento e categorização dos bens
tombados, a relação patrimônio/desenvolvimento econômico, assim como os
critérios adotados para se realizar o processo de tombamento ainda são alvo de
grandes discussões.
De modo geral, é possível perceber que os critérios utilizados para se definir o
que será ou não elevado à categoria de patrimônio e, portanto, receber atenção
diferenciada do estado, podem passar por transformações de acordo com o contexto
cultural, social, político, econômico de um determinado tempo. Devemos lembrar
que, em última instância, o status de patrimônio é definido por um determinado
grupo de pessoas e que cada uma delas tem diferentes experiências de vida,
diferentes formações, modos de pensar e motivações políticas e ideológicas
distintas.
2
Ver Anexo II: Quadro das instruções complementares de 3 de março de 1791 (CHOAY, 2006).
15
1.1.2. Configuração das leis de proteção ao patrimônio e do estudo sobre a
área no panorama brasileiro
16
25/1937 que o patrimônio passa a integrar as políticas federais, no âmbito do Estado
Novo (entre os anos de 1937 e 1945).
A instalação do Serviço e da legislação de salvaguarda do patrimônio
histórico e artístico nacional se deu em um contexto de expansão da industrialização
e dos centros urbanos, parte de uma política de Estado que visava uma nova
colocação do Brasil no cenário da economia mundial. Frente à crescente
industrialização e as consequentes alterações realizadas por esses processos nos
tecidos urbanos de diferentes partes do país, os intelectuais brasileiros passaram a
ampliar seu envolvimento e, simultaneamente, promover releituras de vanguardas
europeias enquanto apontavam a necessidade de salvaguardar os monumentos
históricos do país.
No cenário autoritário e de caráter centralizador do Estado Novo de Getúlio
Vargas, marcado pela emergência do capitalismo e da burguesia industrial, além de
uma classe média técnico-burocrática (BRESSER-PEREIRA, 2001), esta
preservação do patrimônio se deu, na esfera federal, em duas frentes: pela definição
do patrimônio histórico e artístico nacional como “o conjunto dos bens móveis e
imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse público, quer por
sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional
valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico”, no artigo 1º do Decreto-
Lei nº 25/1937; e pela criação do SPHAN, órgão federal de preservação vinculado
ao Ministério da Educação e Saúde.
Segundo Márcia Chuva, as práticas de preservação cultural definidas pelo
Estado Novo, não somente pela aplicação do Decreto-Lei nº 25/1937, mas também
pelas práticas proteção do patrimônio nacional empreendidas pelo SPHAN:
17
estudos e uma série de publicações; e a sua conservação e restauração,
concretizadas nas inúmeras obras realizadas nos bens tombados.”
(CHUVA, 2009, p. 56).
3
Um destes bens tombados neste período é o Recolhimento de Santa Teresa: remanescentes
(Niterói/RJ), localizado a 200 metros da Duna Grande. O prédio, tombado em 1955, é utilizado
atualmente pelo o Museu de Arqueologia de Itaipu (MAI).
19
obras autênticas da produção artística originária da nação, em que o recorte
privilegiado da arquitetura mineira colonial, especialmente religiosa, foi
consagrado” (CHUVA, 2009, p. 214)
20
administrativo e executivo do período) e também do Ministério da Educação e
Cultura. Sendo o texto datado de 1984, Falcão também apresenta um terceiro
momento, onde realiza projeções para alternativas e dilemas enfrentados pelo órgão
de preservação federal durante a década de 1980, relacionando-os com os dilemas
da redemocratização e da abertura política pós Ditadura Militar (1964-1985). Um dos
pressupostos de Falcão para realizar esse diagnóstico é o de que não existiria
política cultural por parte do Estado brasileiro, mas sim uma política de preservação
(FALCÃO, 1984, p. 24).
Falcão identifica em seu diagnóstico pontos relevantes como: uma chamada
“desimportância relativa” do IPHAN para lutas políticas entre os grupos sociais e a
“inexpressividade relativa” de seus recursos financeiros (FALCÃO, p.29-30); a
continuidade burocrática na gestão do SPHAN – desde a gestão de Rodrigo M. F. de
Andrade (1937-1967) até seu sucessor, Renato Soeiro (1967-1979); a
homogeneidade do corpo técnico formado, em sua maioria, por arquitetos; e as
pressões da década de 1980 por maior participação da sociedade na formulação, na
prática e na distribuição da política de preservação.
José Reginaldo Santos Gonçalves, antropólogo e cientista social, apresenta a
“Retórica da Perda” (1996), uma análise dos discursos utilizados e elaborados por
intelectuais brasileiros sobre o patrimônio nacional, cuja tônica comum se pautava
no conceito de perda. Esses discursos ou narrativas nacionais, segundo Gonçalves,
definiam identidade e memória através da noção que estes intelectuais possuíam
sobre o que seria a nação brasileira. Para Gonçalves, identidade, memória e suas
narrativas se “objetificariam” por sua associação a bens culturais, feita através da
utilização destas narrativas pela política de proteção federal.
A intenção destas narrativas e processos, segundo Gonçalves, é
salvaguardar os testemunhos materiais do passado do desaparecimento imposto
pela passagem do tempo, o que implica, ao mesmo tempo, um processo de seleção
que leva à preservação de uns e à destruição de outros testemunhos; à
ressignificação e apropriação do passado. Tendo em vista esses pressupostos,
Gonçalves analisa os discursos de dois intelectuais que estiveram à frente da
diretoria do IPHAN. Nos discursos de Rodrigo Melo Franco de Andrade à frente do
órgão de proteção (1937-1967), Gonçalves aponta uma orientação para
21
salvaguardar o patrimônio de uma espécie de perda progressiva e destruição
imposta pelas transformações sofridas pelo país devido à urbanização e o
crescimento da indústria imobiliária. Já as narrativas de Aloisio Magalhães (diretor
do órgão de proteção entre 1979 e 1982) atentam para as ameaças da globalização
e da homogeneização cultural, combatida no caso brasileiro pela proteção de sua
diversidade cultural e utilização desta diversidade como instrumento de
desenvolvimento social. No entanto, para Gonçalves, ambos utilizaram a retórica da
perda em seus discursos, sendo que Rodrigo M. F. de Andrade voltava-se para a
tradição da herança colonial portuguesa e Aloisio Magalhães propunha a valorização
da diversidade cultural.
Outro autor a apresentar periodizações é Maria Cecília Londres da Fonseca,
socióloga e conselheira do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural – antigo
Conselho Consultivo do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional,
instância reguladora e decisória dos tombamentos. Em sua obra “O Patrimônio em
Processo: Trajetória da política federal de preservação no Brasil” (2005), Fonseca
apresenta uma periodização da trajetória do órgão de preservação, dividindo-a em
duas fases.
A primeira fase é chamada por Fonseca de fase Heroica (entre 1936 e 1967),
período entre a criação do SPHAN (atual IPHAN) e a aposentadoria do primeiro
diretor do instituto, Rodrigo de Melo Franco de Andrade. Esta fase seria marcada
pelo já mencionado envolvimento de intelectuais modernistas na elaboração e
aplicação de um modelo hegemônico do conceito de patrimônio nacional, pela
prioridade conferida aos valores histórico e artístico e à arquitetura colonial de
origem portuguesa, em tombamentos realizados mediante as decisões tomadas
caso a caso pelos técnicos do órgão.
A segunda fase identificada por Fonseca é chamada de fase Moderna
(período entre 1970 e 1990), marcada por transformações políticas que
reverberaram no órgão federal, nos contextos pós Estado Novo (1945), durante a
Ditadura Militar (1964-1985) e o período de abertura e redemocratização (final da
década de 1980). Na fase Moderna são feitas inúmeras críticas ao conceito de
patrimônio e identidade nacional definido pelos modernistas; assim, o conceito de
patrimônio cultural dentro do IPHAN foi ampliado neste período, buscando incluir e
22
mobilizar minorias. Nesse período a autora destaca algumas políticas federais de
proteção como a criação do Programa Integrado de Reconstrução de Cidades
Históricas (PCH), em 1973, a criação do Centro Nacional de Referência Cultural
(CNRC), em 1975, incorporado ao IPHAN, posteriormente, e o estímulo para a
criação e desenvolvimento de órgãos estaduais e municipais de proteção ao
patrimônio.
Na fase Moderna, Fonseca aponta a existência de uma dupla orientação da
política de preservação: a linha de „pedra e cal‟ e a linha de „referência‟ (FONSECA,
2005, p. 217), que desembocaria na atual configuração das políticas de proteção
federais empreendidas pelo IPHAN – o tombamento e o registro do de bens culturais
de natureza imaterial, este último instituído pelo Decreto nº 3551/2000. Ao analisar
os tombamentos realizados no período entre as décadas de 1970-1990 (durante a
chamada fase Moderna) Fonseca percebe a persistência da utilização do
tombamento como ferramenta de proteção, ou a sua associação a ferramentas de
preservação complementares como os inventários de Bens Móveis e Imóveis e de
Bens Móveis e Integrados para a salvaguarda.
Assim, considerando o panorama de constituição do campo do patrimônio no
Brasil, consideramos como o patrimônio arqueológico foi tratado pelo órgão de
preservação estatal e quais práticas foram responsáveis pela sua proteção até o
advento da instauração de legislações reguladoras complementares como a Lei nº
3.924, de 26 de julho de 1961 – que proíbe e considera crime a destruição ou
mutilação das jazidas arqueológicas e submete ao poder público do SPHAN os
monumentos arqueológicos e pré-históricos –, a Resolução CONAMA 01/86 – que
lista procedimentos adotados no planejamento e na implantação de
empreendimentos –, os Artigos 225 e 216 da Constituição Federal de 1988 – que
garantem a proteção do meio ambiente e do patrimônio cultural brasileiro, incluindo
aqui a arqueologia –; as Portarias IPHAN/MinC Nº 07, de 01/12/1988 (normas de
intervenção para o patrimônio arqueológico nacional) e Nº. 230, de 17/12/02
(definição de fases e pesquisas para licenciamento de empreendimentos).
O patrimônio arqueológico, como categoria do patrimônio nacional, já era
previsto como categoria de valor desde 1937, com a promulgação do Decreto-Lei nº
25/1937, que previa, dentre os Livros do Tombo definidos para inscrição dos bens, o
23
Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico. No entanto, conforme já
mencionado, os agentes encarregados da seleção e proteção do patrimônio nacional
privilegiaram desde os primeiros tombamentos o patrimônio edificado,
marcadamente, a arquitetura colonial de matriz portuguesa. Sobre a atribuição de
valor de patrimônio, Lia Motta afirma que:
“Trata-se de uma escolha feita pelo poder público, diante de uma demanda
social e do universo da produção cultural. O patrimônio não é preexistente
como tal. Sua escolha, assim como as opções para o seu tratamento, não
são atos desinteressados; dependem do ponto de vista da seleção, do
significado que se deseja atribuir aos produtos culturais e do uso que se
quer fazer deles” (MOTTA, 2003, p. 125).
25
(Rio de Janeiro/RJ) de 1948 também se destaca, pois sua inscrição só realizada
aproximadamente 10 anos depois da abertura do processo, mediante ao envio de
um breve arrolamento da coleção pela instituição portadora, o Museu Nacional/RJ.
O processo do Sambaqui na Barra do Rio Itapitangui (Cananéia/SP) de 1955
é um dos que apresenta o envolvimento de especialistas na solicitação do
tombamento, no caso, a Comissão de Pré-História de São Paulo. Outro ponto é uma
tentativa de cooperação entre o IPHAN, a Comissão de Pré-História de São Paulo e
o proprietário do terreno para uma exploração (científica e comercial) conjunta do
terreno, que se encontra documentada.
A partir do processo de tombamento do sítio da Lapa da Cerca Grande
(Matozinhos/MG), aberto em 1953, mas inscrito no livro do tombo Arqueológico,
Etnográfico e Paisagístico em 1962, percebe-se um maior envolvimento de
especialistas, dentro e fora do órgão de preservação, e das esferas federais,
estaduais e municipais. Como comprovação deste maior envolvimento na
documentação, elaboração de estratégias de proteção e tramitação dos processos
de tombamento, é possível citar os processos do Parque Nacional da Capivara (São
Raimundo Nonato/PI), de 1993, e da Ilha do Campeche: sítio arqueológico e
paisagístico (Florianópolis/SC), de 2001. Nestes processos de tombamento constam
os diálogos entre o IPHAN, o IBAMA, o CONAMA, a UNESCO, pesquisas de
embasamento e apreciação do valor dos sítios, entre outros.
Podemos citar como exemplo de experiências que podem ter contribuído para
diferentes formas de tratamento dos bens arqueológicos dentro o órgão de
preservação – além do advento da Lei nº 3.924/1961 – o Inventário do Patrimônio
Cultural do Piauí, empreendido pela 3ª Coordenação Regional do IPHAN/ Piauí,
durante os anos de 1984 e 1987 (MOTTA; SILVA, 1998, p.119).
Composto por duas fases: histórica e pré-histórica, devido à natureza dos
bens do estado. A fase pré-histórica foi denominada “Cadastramento e mapeamento
dos sítios arqueológicos do Piauí” e contou com envolvimento do Núcleo de
Antropologia Pré-Histórica da Fundação Universidade Federal do Piauí, com 4
arqueólogos, e da Fundação Cultural do Piauí, com 1 arqueólogo. Foram
cadastrados 90 sítios em 25 municípios do estado, bem como a coleta de “dados
relacionados à identificação, propriedade, localização, acesso e estado de
26
conservação de cada sítio em ficha de registro fornecida pelo setor de arqueologia
da SPHAN; [...] sua cobertura fotográfica, em papel P&B e diapositivos coloridos; [...]
fatores responsáveis pela destruição de cada um e [...] mapas regionais (escala
1/200.000), através de coordenadas geográficas” (MOTTA; SILVA, 1998, p.121).
Inventários como esse, bem como ações como o cadastramento de sítios
arqueológicos e estudos de impacto ambiental são exemplos de práticas de
proteção do patrimônio arqueológico que podem complementar ou até mesmo
substituir a ferramenta do tombamento, já que esta praticamente caiu em desuso no
âmbito dos sítios arqueológicos devido a seu caráter de estagnação do espaço
tombado, o que dificulta a realização de pesquisas arqueológicas em razão de seu
caráter destrutivo.
27
um conjunto de lembranças de modo a reconhecê-lo. O fato de nossa impressão
poder ser auxiliada por lembranças alheias aumenta nossa confiança na exatidão de
nossa evocação, como se o que desse início à experiência provocada pelo estímulo
informacional fosse produto não só da versão de um sujeito, mas sim, de vários.
Ainda segundo Halbwachs, mesmo que as lembranças tratem de acontecimentos
que somente nós tenhamos presenciado, vivido e com objetivos próprios, elas
permanecem coletivas, porque nunca estaríamos sós. Carregamos conosco
lembranças que podem ser transformadas em conceitos previamente estabelecidos,
ainda que de maneira involuntária. (HALBWACHS, 2004)
O entendimento acerca da coletividade da memória presente nos textos de
Halbwachs é interessante para que possamos considerar todas as etapas que
permeiam o processo de atribuição de valores e musealização de um determinado
bem.
Uma das teóricas que mais se debruçou sobre a ideia e o processo de
musealizar foi Waldisa Russio Guarnieri. Numa de suas publicações mais
conhecidas, ao traçar um paralelo com o conceito de fato social, objeto central da
teoria sociológica de Émile Durkheim, a autora propõe que o objeto de estudo da
Museologia é o Fato Museal, que, em poucas palavras, é a relação entre o homem,
sujeito que conhece, e o objeto, que por sua vez faz parte da realidade à qual o
homem também pertence, num determinado espaço institucionalizado.
(GUARNIERI, 1990)
Para Guarnieri, o Museu seria, por definição, o espaço onde ocorre essa
relação entre o homem e o objeto, objeto de estudo da Museologia. Os objetos que
passam pelo processo de musealização - aqueles escolhidos para figurar no espaço
institucionalizado, o museu –, são selecionados devido à seu caráter de
testemunhalidade, documentalidade e fidelidade.
Marilia Xavier Cury apresenta uma visão mais processual do processo de
musealização, para a autora o processo de musealização deve ser entendido da
seguinte maneira:
“[...] uma série de ações sobre os objetos, quais sejam: aquisição, pesquisa,
conservação, documentação e comunicação. O processo inicia-se ao
selecionar um objeto de seu contexto e completa-se ao apresentá-lo
28
publicamente por meio de exposições, de atividades educativas e de outras
formas. Compreende, ainda, as atividades administrativas como pano de
fundo desse processo” (CURY, 2005, p. 26)
Figura 1 – Representação gráfica do “processo de musealização”, por Marilia Xavier Cury (2005).
29
algumas coisas a que se atribuem qualidades distintas, serão destacadas
e musealizadas.” (CHAGAS, 2003).
4
Informações extraídas do conteúdo do site do Instituto Brasileiro de Museus.
5
A listagem completa, de acordo com o conteúdo disponível no site do Instituto Brasileiro de Museus,
é: “Os sítios e monumentos naturais, arqueológicos e etnográficos; Os sítios e monumentos históricos
de caráter museológico, que adquirem, conservam e difundem a prova material dos povos e de seu
entorno; As instituições que conservam coleções e exibem exemplares vivos de vegetais e animais –
como os jardins zoológicos, botânicos, aquários e vivários; Os centros de ciência e planetários; As
30
Obviamente, para que estes espaços se configurem como museus perante a
definição do Conselho é necessário que haja um processo de musealização dos
mesmos, de modo a possibilitar as práticas de pesquisa, conservação e
comunicação. A experiência de dar tratamento museológico a determinados espaços
e territórios têm sido uma prática comum e pode ser vista em experiências mais
recentes como no caso de museus de percursos em favelas e trilhas interpretativas
em parques e outras unidades de proteção ambiental.
A concepção de museu vem, gradualmente, deixando de ser uma ideia
cristalizada onde o foco se encontra na relação acervo, prédio e visitante, para ser
entendida como uma ferramenta de transformação social cujo tripé basal seria os
conceitos de patrimônio, território e comunidade.
Foi principalmente a partir da década de 60 – num contexto em que o
continente europeu vive um movimento para a democratização da cultura – que as
diversas instituições culturais, dentre elas o museu, passam por mudanças
substanciais em seus discursos e formas de atuação. (SANTOS, 1996).
Essa nova museologia, portanto, olha para fora dos limites do museu. Ou
melhor, os amplia, de modo a trabalhar não só o acervo, mas também problematizar
questões acerca do espaço em que se localiza e a condição dos que ali vivem.
Desse movimento de expansão, surgem indagações sobre o tratamento dado aos
acervos, já que, para o novo museu, as coleções podem adquirir dimensões (ruas,
bairros, sítios) que fogem aos fazeres inerentes aos pressupostos técnicos de
catalogação, conservação e exposição.
O conceito de acervo operacional surge nesse contexto de ampliação da
área de atuação dos museus e da premissa de comprometimento destas instituições
para com o espaço onde estão inseridas. Este conceito (acervo operacional) é de
extrema importância para o presente trabalho pois trata-se da linha de pensamento
que parece melhor definir a abordagem do Museu de Arqueologia de Itaipu perante
o sítio arqueológico Duna Grande. Marlene Suano, ao fazer alusão ao museu-fórum
de Cameron, define o conceito de acervo operacional ao diferenciá-lo do que chama
32
de “acervo institucional” e aponta a necessidade de que os museus trabalhem com
uma combinação das duas tipologias:
“O museu fórum deveria, antes de mais nada, saber trabalhar com dois
tipos de acervo: o acervo institucional e o acervo operacional. Por acervo
institucional entenda-se tudo aquilo que o museu aloja, pela propriedade ou
pela posse (objetos e coleções). O acervo operacional, ao contrário,
significa todo o patrimônio cultural e ambiental da região onde se insere o
museu: meio ambiente físico, estruturas urbanas, monumentos, edifícios,
festas e jogos e tudo o mais produto da ação da sociedade.” (SUANO,
1986, p. 92-93)
6
Algo parecido com as exigências do governo brasileiro para a prática da chama “arqueologia de
contrato”.
34
estava ligado às providências e requerimentos do estado para se trabalhar com
pesquisas arqueológicas. Com o passar do tempo e a profissionalização da
arqueologia, entretanto, o elemento „publico‟ dessa arqueologia passou a consistir
em arqueólogos e agentes do estado administrando bens culturais para o público e
não somente os bens do público. O autor, entretanto, comenta a maneira como o
estado se apropria dos bens culturais e aponta para o pouco envolvimento do
público com a disciplina:
35
CAPÍTULO 2: REVISÃO DE LITERATURA E CONTEXTUALIZAÇÃO
7
Consultada no website www.iphan.gov.br, em outubro de 2013.
8
Este assunto será retomado no Capítulo 3.
36
Atualmente, o espaço no entorno do sítio arqueológico Duna Grande
encontra-se totalmente urbanizado e é utilizado à exaustão por frequentadores da
Praia de Itaipu. A frequência desordenada da Praia aliada à inexistência de qualquer
tipo de cercamento ou sinalização nos limites do sítio geram sérios problemas para
sua conservação.
É comum ver pessoas circulando a pé pelo sítio e recolhendo pequenas
“lembranças” (geralmente lascas de quartzo), o que pode ser altamente danoso para
o registro arqueológico tendo em vista as características do solo e os constantes
afloramentos provocados pelo vento. Com menor frequência, mas com igual
importância devido ao potencial destrutivo da atividade, pode-se observar
quadriciclos, bugres e motocicletas transitando pela duna. É possível notar, ainda,
que nos dias de maior movimento de turistas, o espaço da Duna é usado como
estacionamento de veículos de passeio. Estes veículos podem, obviamente,
provocar grandes danos físicos ao registro arqueológico e certamente já foram
responsáveis pelo deslocamento de grandes massas de areia, fato este que pode vir
a influenciar o resultado de uma eventual pesquisa arqueológica no sítio.
Boa parte dos problemas relacionados à degradação da Duna Grande está
ligada à dúvida do próprio poder público sobre a incumbência legal de fiscalização e
proteção do espaço. O sítio arqueológico em questão, por natureza, encontra-se sob
a proteção da lei 3.924, de 1963. À proteção e fiscalização sugeridas pela lei, soma-
se o fato de a Duna Grande estar em processo de tombamento pelo IPHAN desde o
ano de 1986. Para além dos dois dispositivos federais (Lei 3.924 de 1961, que trata
especificamente da proteção de sítios arqueológicos e Decreto-lei n° 25 de 1937,
que estabelece o tombamento como ferramenta de proteção ao patrimônio histórico
e artístico nacional) que supostamente garantiriam a proteção do sítio, a Duna ainda
está inserida na área de proteção ambiental do Parque Estadual da Serra da Tiririca,
unidade de conservação gerida pelo Instituto Estadual do Ambiente, por sua vez
vinculado à Secretaria de Estado do Ambiente. Por fim, a regulamentação de
trânsito, a manutenção da ordem pública e gerência sobre questões de urbanismo e
mobilidade do município cabem à prefeitura.
O acúmulo de dispositivos e agentes de proteção que, independentemente do
interesse – seja ele histórico, cultural, arqueológico, paisagístico, ambiental, etc. –,
37
deveriam servir para garantir a conservação de um bem, acabam por colaborar para
sua degradação. Pois onde a gerência do problema é compartilhada, as obrigações
acabam não sendo tão claras no sentido em que a responsabilidade, quando
dividida, parece gerar consequências mais brandas e bem menos comprometedora
para as figuras públicas.
9
Não constam no conjunto de arquivos que compõem o processo de tombamento do sítio Duna
Grande quaisquer registros documentais que indiquem a realização de pesquisa arqueológica
aprofundada no sítio.
10
Destaque para o próprio Ondemar Dias Jr. e para a antropóloga Eliana Carvalho.
11
O Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas esteve ativo de 1965 a 1970. Tratou-se de uma
parceria empreendida entre o governo militar brasileiro, através da SPHAN (Secretaria de Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional), e o Smithsonian Institution. Treinados e coordenados pelos
arqueólogos americanos Clifford Evan e Betty Meggers, diversas equipes de arqueólogos brasileiros
– dentre elas a equipe técnica do IAB – realizaram um levantamento em busca de vestígios
arqueológicos em várias partes do país.
38
A Tradição Itaipu foi “oficializada” na reunião final do PRONAPA, em 1973. À
esta tradição foram associados os sítios “de caçadores-coletores-pescadores do
litoral, cuja dieta não era predominantemente de moluscos e que abandonavam a
economia sambaquiana” (DIAS e CARVALHO, 1983-84).
Dias e Carvalho percebem a Tradição Itaipu ao traçar um panorama de
permanências e mudanças dos grupos associados à esta tradição em comparação
daquelas chamados de “sambaquianos”. A percepção de mudança cultural é
diretamente associada a uma resposta adaptativa às questões ambientais:
39
perdendo peso no cenário da arqueologia nacional pois percebeu-se que aqueles
elementos utilizados na categorização e diferenciação destas ocupações não eram
suficientes para afasta-la de uma percepção mais geral sobre a cultura
sambaquieira. Em sua publicação intitulada Sambaquis: Arqueologia do Litoral
Brasileiro, a arqueóloga Madu Gaspar demonstra sua percepção acerca dos estudos
de sambaquis na pré-história brasileira:
40
2.2. O Museu de Arqueologia de Itaipu (MAI)
41
“A Duna constitui por si mesma a contemplação didática necessária à
divulgação das atividades científico-culturais previstas para este
estabelecimento. Há, portanto que, em tempo, se reponha no devido lugar
as premissas deste projeto, concebidas com propósito voltado
exclusivamente no interesse comum da difusão da cultura popular,
mediante o conhecimento e mostragem de todo o encadeamento dos fatos
relacionados com a pré-história nacional.” (Arquivo MAI)
Após sua abertura em 1977, o museu, que contava com três exposições
organizadas por pesquisadores do Museu Nacional/Universidade Federal do Rio de
Janeiro, foi fechado, em 1980, por motivo de obras. Após dois anos, o museu foi
reaberto com o apoio da Empresa Niteroiense de Turismo (Enitur/Prefeitura
Municipal de Niterói). No início da década de oitenta, foi montada a exposição
Aspectos da pré-história do litoral do Estado do Rio de Janeiro, cujo acervo
pertencia, quase em sua totalidade, ao Museu Nacional e ao Instituto de Arqueologia
Brasileira (IAB).
Nas décadas seguintes, o museu passou por novos fechamentos e
reaberturas devido à realização de obras de infraestrutura, incluindo as de
readequação do espaço para a construção de uma nova sede administrativa. No
final doas anos noventa, o museu buscou a implementação de um projeto de
revitalização da instituição que não veio a se concretizar em sua plenitude.
Algumas ações visando ao cumprimento da missão institucional do museu e,
consequentemente, de expansão de sua divulgação e da atuação do IPHAN foram
encampadas através da organização de cursos e palestras destinados à
comunidade e a profissionais variados, bem como pelo estabelecimento de parcerias
com instituições da área de cultura, a Colônia de Pescadores Z-7, o Conselho
Comunitário da Região Oceânica de Niterói, o Parque Estadual da Serra da Tiririca
42
(PESET), artistas e comerciantes da cidade, que colaboram na realização de
eventos e exposições do Museu. Cabe destacar a parceria com a Faculdade de
Educação da UFF, através do Laboratório de Educação Patrimonial (LABOEP), que
rendeu ao museu o projeto Caniço & Samburá. Trata-se de um programa de ação
educativa baseado no empréstimo de material para as escolas, visando maior
proveito quando da realização de visitas agendas e oficinas com os estudantes. Este
projeto funciona até os dias de hoje e foi, durante muito tempo, a ação mais bem
sucedida do MAI em termos de criação de vínculos com as instituições de ensino da
região.
Em 2010, o MAI inaugurou a exposição Percursos do Tempo - Revelando
Itaipu. A nova exposição de longa duração do museu contou com a curadoria da
então diretora da instituição Maria De Simone Ferreira e com o apoio de técnicos e
professores do Museu Nacional/UFRJ e da Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro (UFRRJ) para a seleção do acervo. Esta exposição apresenta uma
linguagem musográfica mais moderna e alcançou grande sucesso em apresentar ao
visitante um resumo de todos os temas trabalhados pelo MAI em um único espaço.
43
partir desta última informação, não se tem mais documentos que mencionem o
Recolhimento de Santa Teresa de Itaipu, havendo, portanto, um hiato na pesquisa
histórica da instituição durante o restante do século XIX.
O século XX é marcado, em termos da história do prédio, por ocupações,
disputas de posse, pelo tombamento do bem e a criação do museu. Abandonado
desde o século XIX, o prédio foi ocupado por pescadores da região que passaram a
habitá-lo e a utilizá-lo como espaço para tingimento das redes de pesca. Passa a
existir, no entorno da muralha, uma aglomeração de residências de pescadores.
Após o tombamento do antigo recolhimento, as sucessivas correspondências
expedidas por parte da Colônia de Pescadores da região demonstram uma
preocupação com a conservação do monumento, solicitando ao Governo do Estado
e à Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (DPHAN) que retirassem
dali a casa de motor da Companhia Territorial Itaipu, proprietária do terreno, para
que o bem viesse a servir de sede à Colônia. A Cia. Territorial Itaipu, por sua vez, se
dirige à DPHAN acusando o interventor da Colônia de ocupar indevidamente os
remanescentes do recolhimento, se propondo, inclusive, a restaurar o prédio sob
orientação do Patrimônio Histórico.
Em 1968, iniciam-se as obras de consolidação e conservação-restauração da
capela e das paredes de rocha das muralhas, sob coordenação de Edgard Jacintho,
chefe do Departamento de Conservação e Restauração da DPHAN. As aberturas
em suas paredes foram vedadas e a desocupação de seu interior efetuada. Deste
período adiante, iniciou-se o projeto de criação de um museu a ser instalado no
monumento.
O acervo institucional do MAI é composto por quatro coleções, a saber: a
Coleção Hildo de Mello Ribeiro, a Coleção Blocos Testemunhos do Sambaqui de
Camboinhas, a Coleção Aureliano Mattos de Souza e a Coleção Remanescentes do
Recolhimento de Santa Teresa. Para além das coleções acima citadas, o acervo do
MAI inclui uma canoa de jequitibá do século XIX, artefatos arqueológicos
encontrados nas redondezas do museu e para ele encaminhados por pessoas da
região ou usuários da praia, além de objetos doados pelo Parque Estadual da Serra
da Tiririca (PESET).
44
A Coleção Hildo de Mello Ribeiro constitui o núcleo inicial do acervo
institucional. Esta coleção foi formada durante as décadas de 1960 e 70 através da
realização de coletas no sítio arqueológico Duna Grande realizadas pelo agente
federal de fiscalização da pesca e morador de Itaipu, Hildo de Mello Ribeiro.
A Coleção é composta por cerca de mil objetos, testemunhos da ocupação
da região antes da chegada dos portugueses. Dentre as peças é possível encontrar
machados de pedra, pontas de ossos, restos esqueletais humanos, lascas de
quartzo, polidores, adornos e restos alimentares. Devido a maneira como foi
composta, a coleção apresenta pouco valor científico, pois faltou ao arqueólogo
amador Hildo de Mello Ribeiro os métodos adequados12 para a realização da coleta
e para o registro das peças. A coleção, portanto, não serve para fins de pesquisa
arqueológica e é usada pelo museu com objetivo puramente didático no sentido de
ilustrar para o visitante as características de cultura material de uma cultura coletora,
caçadora e pescadora que um dia habitou a faixa litorânea da Região Oceânica de
Niterói.
A Coleção de Blocos Testemunhos do Sambaqui de Camboinhas pertencente
ao museu é fruto da Pesquisa de Salvamento em Itaipu, ocorrida em 1979, quando
da construção da estrada de Camboinhas e do projeto de urbanização da orla de
Itaipu, episódio que viria a deteriorar os sítios arqueológicos Duna Pequena e
Sambaqui de Camboinhas ali localizados. Tendo em vista a preservação deste
valioso patrimônio, cuja datação aproxima-se de 6 mil anos a.p. (KNEIP et al, 1981,
p.137), uma equipe de pesquisadores, coordenada pela Prof. Dr. Lina Kneip do
Museu Nacional, foi enviada ao local com o intuito de reconstituir o quadro
arqueológico e ecológico do litoral de Itaipu e estudar a adaptação de culturas
caçadoras, pescadoras e coletoras litorâneas e a evolução do meio natural, obtendo
como um dos resultados da pesquisa a preservação de blocos testemunhos do
sambaqui.
Em 2008, a Superintendência do IPHAN no Rio de Janeiro transferiu para o
museu a Coleção Remanescentes do Recolhimento de Santa Teresa. Trata-se de
uma coleção composta por 178 itens, formada por registros de cultura material
12
Não é possível, devido à falta de registros imagéticos e técnicos – como nível de profundidade e
localização geográfica dos artefatos – extrair informações mais aprofundadas sobre a ocupação do
sítio.
45
encontrados no próprio Recolhimento de Santa Teresa durante as várias obras de
infraestrutura do museu. Esta coleção apresenta fragmentos cerâmicos de diferentes
tipos e formatos e é de grande importância para a história do antigo recolhimento
feminino, visto se tratar dos únicos vestígios do cotidiano no recolhimento até então
pesquisados, além das próprias ruínas.
A mais recente coleção do Museu de Arqueologia de Itaipu é um reflexo da
tentativa de aproximação do MAI com os moradores do seu entorno. A Coleção
Aureliano Mattos de Souza é composta por artefatos ligados a pesca artesanal
secular, praticada no Canto de Itaipu. São agulhas para tecer rede de pesca, pesos
para rede e uma miniatura de canoa doados, em sua maioria, pelo pescador que dá
nome à coleção.
O museu conta, ainda, com uma canoa “de um só tronco”, feita de jequitibá,
doada em 1979, pela Colônia de Pescadores local. Até aquela data, a canoa do
século XIX fora utilizada como cocho para tingimento das redes de pesca e
pertencera a Seu Vavá, um pescador da região. Considerando a prática local de
doação de peças de relevante significado sociocultural e afetivo por parte dos
moradores da região ao museu, em 2009, por ocasião da montagem da exposição
Percursos do Tempo, uma série de objetos, já adicionados ao Inventário de 2010, foi
incorporada ao acervo institucional.
46
CAPÍTULO 3: MAPEAMENTO DAS AÇÕES
47
desenvolvidas pelo MAI na evolução do estado de preservação do Sítio
Arqueológico Duna Grande.
13
Os arquivos relacionados a algumas atividades não apresentaram títulos definidos. Nesses casos
os títulos são apresentados sem o emprego de aspas e foram criados pelo autor. Para a criação dos
títulos foram levados em conta o Tipo de atividade e o Resumo da atividade.
48
Através da metodologia empregada na elaboração do quadro é possível
entender, de maneira rápida e objetiva, que tipos de ação eram mais comumente
realizadas, quais eram as principais características dessas ações – sejam elas
exposições ou atividades educativas de diferentes moldes –, e se essas ações
trabalhavam, ou não, o tema da arqueologia.
Suporte ao Rosana
Trabalho Elaboração de textos de apoio
Setor educativo Najjar SIm
Educativo às visitas orientadas
do Museu
Solicitação à fundação de pesca
Solicitação de do RJ de pesquisa sobre uma
Pesquisa - Não
pesquisa canoa, peça integrante do
acervo do MAI
“Arte na pedra: Rosana
Exposição utilizando acervo
Exposição Coleção Hildo Najjar Sim
advindo da Duna Grande
de Mello Prefeitura
51
QUADRO 1 – Quadro das atividades realizadas pelo Museu de Arqueologia de Itaipu
52
QUADRO 1 – Quadro das atividades realizadas pelo Museu de Arqueologia de Itaipu
53
QUADRO 1 – Quadro das atividades realizadas pelo Museu de Arqueologia de Itaipu
Universida
“Figuras, Exposição contendo trabalhos
de Federal
Exposição gravuras e artísticos de alunos e ex-alunos Não
do Rio de
ilustrações” da Escola de Belas Artes
Janeiro
Apresentação Coral
Evento Apresentação de coral Não
musical Marearte
Exposição apresentando os
principais tipos de sítios
2000 “Arqueologia João
Exposição arqueológicos encontrados em Sim
em maquetes” Gomes
território nacional, assim como
variadas técnicas de escavação
Passeio pelo canto de Itaipu
“Passeio (Duna Grande inclusa) em
Evento - Sim
Cultural” comemoração aos 427 anos da
cidade de Niterói
Exposição de trabalhos de
Exposição “Explorações” Variados Não
pintura em seda
Premiação do concurso de
desenho livre promovido pelo
Evento/Expo Concurso “Não CCRON com o objetivo de
CCRON Não
sição aos espigões” combater o surgimento de
prédios altos na Região
Oceânica de Niteró
Trabalho Visitas Durante o ano foram recebidos
- Sim
Educativo Orientadas 2794 alunos
Passeio pelo canto de Itaipu
“Passeio (Duna Grande inclusa) em
Evento - Sim
Cultural” comemoração aos 428 anos da
cidade de Niterói
Exposição de trabalhos dos
“Linhas da participantes da oficina de
Exposição UFF Não
Vida” Arteterapia da Universidade
2001
Federal Fluminense
Exposição contendo as obras
vencedoras do concurso que
“2º Concurso Instituto
propôs a representação da fauna
Exposição Itaipu de Eco- Lagoa de Não
da Lagoa de Itaipu através da
Esculturas” Itaipu
utilização de materiais
recicláveis
54
QUADRO 1 – Quadro das atividades realizadas pelo Museu de Arqueologia de Itaipu
55
QUADRO 1 – Quadro das atividades realizadas pelo Museu de Arqueologia de Itaipu
56
QUADRO 1 – Quadro das atividades realizadas pelo Museu de Arqueologia de Itaipu
57
QUADRO 1 – Quadro das atividades realizadas pelo Museu de Arqueologia de Itaipu
58
No caso das imagens obtidas junto ao IPHAN, não foi permitida a retirada dos
documentos fotográficos das pastas em que estavam acondicionados, o que
comprometeu a qualidade de digitalização dos mesmos. As cópias aqui
disponibilizadas são, portanto, fotografias dos documentos imagéticos originais que,
por sua vez, encontravam-se armazenados em uma pasta de processo sob uma
película de acetato.
O objetivo deste levantamento é tentar entender o impacto das intervenções
urbanas ao redor do sítio arqueológico nas mudanças do aspecto físico da Duna
Grande ao longo dos últimos 50 anos. Por outro lado, cabe analisar se as ações
desenvolvidas pelo Museu de Arqueologia de Itaipu influenciam - de modo
visualmente perceptível - positivamente no estado de preservação da Duna.
Para tanto, foram elaboradas fichas técnicas para cada uma das imagens
com o intuito de organizá-las a partir dos seguintes critérios: posição de observação
do fotógrafo (que parte do sítio foi capturada), ano da fotografia e contexto social e
urbano do entorno.
Apesar de não haver um referencial padrão para a compreensão da evolução
do estado de preservação do sítio, as imagens possibilitam uma compreensão geral
das variações ocorridas na dimensão espacial da Duna Grande, assim como a
comprovação visual de eventos diretamente relacionados ao sítio, como no caso da
abertura do canal que separa as praias de Itaipu e Camboinhas.
59
Figura 2
Ano: 1960~1975
Posição: Face Norte da Duna
Esta imagem mostra a prática de abertura da laguna
Contexto: antes do canal de Camboinhas ser construído de
modo permanente.
Arquivo Pessoal da Sra. Eliana Leite / Fotógrafo
Fonte/Fotógrafo:
desconhecido
60
Figura 3
Ano: 1965~1970
Posição: Face Sudoeste da Duna
Pode-se perceber a presença de pouquíssima
Contexto:
vegetação na face capturada.
Fonte/Fotógrafo: Acervo MAI / Rui Lopes
61
Figura 4
Ano: 1965~1970
Posição: Face Oeste
A fotografia tirada de dentro do mar nos dá a
perspectiva total da face oeste da Duna. Nota-se
Contexto: que a face oeste (virada para o mar) é a face
menos coberta por vegetação devido à ação dos
ventos.
Fonte/Fotógrafo: Acervo MAI / Rui Lopes
62
Figura 5
Ano: 1976
Posição: Face Noroeste
Percebe-se claramente que a vegetação de restinga
que abrange parte da areia da praia (plano inferior) foi
Contexto: abruptamente interrompida para a criação de uma
estrada para circulação de veículos, comprometendo,
deste modo, a proteção do sítio arqueológico.
Arquivo Central do IPHAN (Seção Rio de Janeiro)/ Dr.
Fonte/Fotógrafo:
Edgard Jacintho
63
Figura 6
Ano: 1976
Posição: Face Noroeste da Duna
Esta face da Duna apresenta-se quase totalmente
descoberta de vegetação apesar da incidência indireta do
vento. Moradores da região afirmam que, em algum
momento na década de setenta, foram retiradas e
Contexto:
transportadas toneladas de areia da Duna para uso em
obras de infraestrutura na região. Já a face Oeste – a parte
direita da imagem – está razoavelmente coberta pela
vegetação.
Arquivo Central do IPHAN (Seção Rio de Janeiro)/ Dr.
Fonte/Fotógrafo:
Edgard Jacintho
64
Figura 7
Ano: 1976
Posição: Topo; mirando a face norte; e o canal de Itaipu.
Contexto: Pode-se perceber que o canal ainda não havia
sido aberto de modo permanente. E mediante à
conversa com os pescadores mais antigos
descobre-se, entretanto, que a ligação entre a
lagoa e o mar era uma atividade recorrente
realizada pelos próprios pescadores através
utilização de ferramentas manuais.
Fonte/Fotógrafo: Arquivo Central do IPHAN (Seção Rio de Janeiro)/
Dr. Edgard Jacintho
65
Figura 8
Ano: 1978
Posição: Face Norte da Duna
Com a exceção das faces norte e Oeste, pode-se
perceber que boa parte da Duna está protegida por
vegetação. Aqui, percebe-se que o canal ainda não
havia sido aberto de maneira permanente,
Contexto:
entretanto, parte das pedras posicionadas nas
laterais, responsáveis pelo direcionamento e fixação
do canal, já haviam sido depositadas. O canal seria
aberto no ano seguinte, em 1979.
66
Figura 9
Ano: 1979~1989
Posição: Topo; mirando a face norte e canal de Itaipu.
Percebe-se o Canal de Itaipu recém-inaugurado.
Contexto: Nota-se, ainda, que a subida na Duna continua
desimpedida.
Fonte/Fotógrafo: Acervo MAI / Rui Lopes
67
Figura 10
Ano: 1982
Posição: Face Sudoeste da Duna
A fotografia mostra a preocupação do IPHAN com os
ônibus de turismo e sua relação com a degradação
do sítio. É possível perceber, ainda, a inexistência de
Contexto: qualquer barreira responsável pelo impedimento da
entrada de pedestres e veículos na Duna, assim
como a ausência de qualquer tipo sinalização que
informe ao transeunte o aspecto cultural do espaço.
Arquivo Central do IPHAN (Seção Rio de Janeiro)/
Fonte/Fotógrafo:
Fotógrafo desconhecido
68
Figura 11
Ano: ~1986
Posição: Topo da Duna
Um pescador da região e sua filha “brincam” de
Contexto:
coletar ossos na duna
Acervo Pessoal do Sr. Jorge Nunes / Fotógrafo
Fonte/Fotógrafo:
desconhecido
69
Figura 12
Ano: 2003
70
Figura 13
Ano: 2010
Área do salvamento realizado pela
Posição: equipe do Museu Nacional e do Museu
de Arqueologia de Itaipu
Em setembro de 2010 foram retirados
restos esqueléticos pertencentes a quatro
Contexto: indivíduos, assim como elementos de
cultura material associados ao
sepultamento.
Fonte/Fotógrafo: Acervo MAI / Fotógrafo desconhecido
71
3.3. Entrevista com moradores e pesquisadores
14
A análise de conteúdo das entrevistas realizadas consta no Capítulo 4. A transcrição dos
conteúdos destas entrevistas pode ser encontrada nos Apêndices I a III deste trabalho.
72
Assim como no levantamento histórico-fotográfico, através da utilização das
entrevistas pretendeu-se identificar os principais movimentos e atividades que
afetaram o estado de preservação da Duna Grande além da percepção dos
entrevistados sobre estas ações.
Idealizou-se que todos os entrevistados respondessem a um grupo de
perguntas predefinidas (Quadro 2) que se relacionavam, de maneira objetiva, ao
tema desta dissertação. Em outras palavras, o conjunto de questões-chave está
ligado ao estado de conservação do Sítio Arqueológico Duna Grande e às ações
empreendidas pelo Museu de Arqueologia de Itaipu que vieram a impactar sobre
este aspecto. Entretanto, visando o enriquecimento do material coletado, foi feita a
opção por possibilitar a abertura das entrevistas, no sentido de captar impressões
diversas dos entrevistados, com a esperança de que aquelas falas que terminam por
fugir um pouco do conjunto preestabelecido de perguntas - inexoravelmente
acompanhadas de suas diferentes perspectivas e ângulos de visão - pudessem
colaborar para uma percepção mais global sobre o assunto.
Para tanto, adotou-se uma metodologia de realização de entrevistas
semiestruturadas15 – com um roteiro básico predefinido, mas sujeito a adaptações
para melhor aproveitamento da sessão e maior exploração do tema – que teve por
base os seguintes questionamentos:
Questionamento Relevância
15
Para Manzini (1990/1991, p. 154), a entrevista semi-estruturada está focalizada em um assunto
sobre o qual confeccionamos um roteiro com perguntas principais, complementadas por outras
questões inerentes às circunstâncias momentâneas à entrevista. Para o autor, esse tipo de entrevista
pode fazer emergir informações de forma mais livre e as respostas não estão condicionadas a uma
padronização de alternativas.
73
QUADRO 2 – Roteiro Básico das Entrevistas
Questionamento Relevância
74
QUADRO 2 – Roteiro Básico das Entrevistas
Questionamento Relevância
Com base nas normas acima apresentadas, o conteúdo das entrevistas foi
transcrito para ser analisado com o objetivo de extrair a impressão dos entrevistados
76
acerca do impacto das ações do Museu de Arqueologia de Itaipu no estado de
conservação do sítio arqueológico da Duna Grande.
77
A estação total foi plantada em um ponto (i0) onde foi possível mirar vários
spots de interesse, não só para obter as alturas relativas, mas também para facilitar
a localização dos locais mirados em imagem de satélite. Em um segundo momento,
a estação total foi planta em outro ponto (T0), para que novos spots pudessem ser
mirados na face leste da duna.
As imagens 14 e 15 apresentam os spots mirados (i) e (T), e sua altura
relativa:
Figura 14
Pontos Mirados
78
Tomou-se o cuidado de selecionar pontos que pudessem gerar informações
embasadas em diferentes referenciais: o ponto i10, por exemplo apresenta a altura
relativa do nível do mar; já o ponto i316 indica a altura relativa do marco da praça de
Itaipu e tem por função informar sobre o nível em que se encontra a rua e a maior
parte da região urbanizada no entorno da duna; os pontos i5, i6, i7, i8, i9, T1, T2 e
T3 indicam a altura relativa da base do sítio arqueológico em diferentes pontos; os
spots i11, i12, i13 e i14 fornecem dados à respeito da altura relativa da parte mais
elevada da Duna Grande.
Figura 15
Alturas relativas (Base i0)
16
Os anexos III e IV tratam da representação das medições de altura relativa do Sítio Duna Grande com base
nos pontos i3 e i8, respectivamente.
79
A tabela abaixo mostra a localização e a altura relativas de cada um dos
pontos mirados. Aqueles com a maior diferença positiva em relação às alturas
tomadas como base de comparação foram destacados, conforme o valor diferencial,
na cor verde. Já aqueles com a maior diferença negativa em relação às alturas
tomadas como base de comparação foram destacados, seguindo o mesmo critério,
na cor vermelha.
QUADRO 5 – Tabela de localização topográfica dos pontos mirados
Altura Altura Altura Altura
Altura Altura
(i10) (i8) (i11) (i3)
E N H (i0) (T1)
Nível do Base Topo da Base
1ª localização Base leste
mar oeste duna praça
I0 700000 300000 20000 15,1 8,5 0,0 -8,6 10,7 13,0
I1 700000 293623 19515 14,7 8,0 -0,5 -9,1 10,3 12,5
I2 858396 91317 9011 4,2 -2,5 -11,0 -19,6 -0,2 2,0
I3 838786 64910 9252 4,4 -2,2 -10,7 -19,3 0,0 2,3
I4 830037 91540 9650 4,8 -1,8 -10,4 -18,9 0,4 2,7
I5 778178 143521 10759 5,9 -0,7 -9,2 -17,8 1,5 3,8
I6 772507 153234 10958 6,1 -0,5 -9,0 -17,6 1,7 4,0
I7 752860 186710 11155 6,3 -0,3 -8,8 -17,4 1,9 4,2
I8 701241 240679 11474 6,6 0,0 -8,5 -17,1 2,2 4,5
I9 668490 263265 11785 6,9 0,3 -8,2 -16,8 2,5 4,8
I10 605099 232277 4856 0,0 -6,6 -15,1 -23,7 -4,4 -2,1
I11 751094 310296 28569 23,71 17,10 8,57 0,00 19,32 21,59
I12 753936 320513 27934 23,1 16,5 7,9 -0,6 18,7 21,0
I13 750858 299050 24692 19,8 13,2 4,7 -3,9 15,4 17,7
I14 750268 308480 28542 23,69 17,07 8,54 -0,03 19,29 21,56
I15 779226 228267 17216 12,4 5,7 -2,8 -11,4 8,0 10,2
I16 779184 228191 17215 12,4 5,7 -2,8 -11,4 8,0 10,2
T0 1000000 500000 23954 19,1 12,5 4,0 -4,6 14,7 17,0
I2 1000000 496253 24181 19,3 12,7 4,2 -4,4 14,9 17,2
T1 1043083 562667 6980 2,1 -4,5 -13,0 -21,6 -2,3 0,0
T2 1063119 533515 7347 2,5 -4,1 -12,7 -21,2 -1,9 0,4
T3 1082124 505944 7871 3,0 -3,6 -12,1 -20,7 -1,4 0,9
T4 1021188 548125 7474 2,6 -4,0 -12,5 -21,1 -1,8 0,5
T5 937739 475998 19172 14,3 7,7 -0,8 -9,4 9,9 12,2
T6 =
936409 474835 11474 6,6 0,0 -8,5 -17,1 2,2 4,5
I8
80
CAPÍTULO 4: RESULTADOS OBTIDOS
81
nas imagens é consequência provável da retirada de grande volume do solo que
compõe a duna justamente nas áreas mais próximas às intervenções urbanas.
Ainda de acordo com a fala do Mestre Cambuci, as atividades de retirada de
areia da duna teriam cessado no fim da década de 1970, que coincide com a criação
do Museu de Arqueologia de Itaipu, no ano de 1977, e com o salvamento de blocos -
testemunho de outro sítio próximo, o sambaqui de Camboinhas, realizado por equipe
coordenada pela professora do Museu Nacional, Lina Maria Kneip. Os dois fatores
fizeram com que o poder público voltasse seus olhares para a região que, após a
construção da ponte Presidente Costa e Silva – conhecida como Ponte Rio-Niterói –,
passou a sofrer acelerado processo de urbanização.
Através da atividade de medição, cuja metodologia encontra-se descrita no
capítulo anterior, empreendida no sítio arqueológico, é possível entender os
aspectos físicos da degradação do sítio através de dados absolutos. A ficha de
cadastro da Duna Grande no sistema de Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos,
preenchida no ano de 1997 e disponível no website do IPHAN, informa que a altura
da Duna seria de trinta metros contados a partir do nível do solo. Considerando a
possível alteração do nível da base, em virtude da retirada de areia da Duna e do
consequente deslizamento do solo, foram utilizados dois pontos de referência para
medir a altura atual da Duna: o nível do marco da Praça de Itaipu (i3), que tem
menor probabilidade de ter sofrido maiores alterações, e o nível da base atual do
terreno na face oeste do sítio (i8), que, devido à dinâmica do solo, passou por uma
provável alteração devido ao acúmulo de areia. Ao se utilizar o ponto i3 (marco da
Praça de Itaipu) como referência para a base, o ponto mais alto da Duna Grande
mede 19,3 metros. Já quando o ponto i8 (base imediatamente próxima ao limite do
sítio) foi utilizado como referência, o ponto mais alto da Duna Grande mede 17,1
metros.
A medida de altura do sítio apresentada no cadastro do IPHAN, entretanto,
não é unânime. Em publicação intitulada Monumento símbolo da arqueologia pré-
histórica brasileira: o sítio Duna Grande de Itaipu. Uma contribuição, a antropóloga
Eliana Carvalho afirma que as dimensões da duna seriam “100m de extensão,
quase igual a largura e, na ocasião de sua descoberta, aproximadamente 20m de
altura”. Se por um lado as dimensões apresentadas por CARVALHO parecem mais
82
críveis por aproximarem-se mais das medidas atuais, por outro lado, essa suposta
proximidade difere da fala do Mestre Cambuci quando afirma que “[...] se a duna
fosse medida radialmente, TODA a duna, eu diria para você que ela não tem a
metade”.
De qualquer modo, tomando os pontos i3 e i8 como referência, assim como
as dimensões de largura e comprimento apresentadas tanto no cadastro do IPHAN
quanto por CARVALHO e com base na fórmula de cálculo para volume de
pirâmides17 é possível mensurar, aproximadamente, a diferença no volume total da
Duna Grande.
17
Formula que melhor se aproxima para a medição de volume devido à sua base retangular.
18
Os valores são aproximados devido à fórmula utilizada.
19
Idem.
20
As medidas oficiais de uma piscina olímpica são: 50 metros de comprimento, 25 metros de largura
e 2 metros de profundidade, que somam um total de 2.500 metros cúbicos.
83
percebe-se que as dimensões da Duna são de, aproximadamente, 200m de
extensão no eixo norte-sul e 130m no eixo leste-oeste.
A diferença de largura e comprimento do sítio sugere duas possibilidades: em
hipótese menos provável, as dimensões da Duna foram tomadas de maneira errada
em sua medição inicial e repetidas no cadastro do IPHAN. Em uma segunda
hipótese, as dimensões da base duna teriam medido, de fato, 100 m², mas, com as
sucessivas ações de destruição do sítio relatadas no depoimento do Mestre
Cambuci, teria havido um grande deslizamento da areia que compõe o solo do sítio
de maneira que a dimensão de sua base fosse consideravelmente aumentada. De
acordo com esta hipótese, é mais provável que a altura inicial que consta no
cadastro do IPHAN (30 metros) esteja correta, devido ao volume de areia necessário
para dar vazão ao aumento da base. Sendo assim, parte do volume indicado na
tabela acima não teria sido, de fato, perdido, mas sim, deslocado, o que justificaria
não só a diferença das dimensões da base, mas também a diferença de 2,2 metros
de altura entre os pontos i3, que diz respeito ao nível da praça de Itaipu e i8, que
representa a base da face oeste da Duna Grande.
Conclui-se, portanto, que o sítio arqueológico Duna Grande sofreu,
principalmente nas décadas de 1960 e 1970, uma degradação irrecuperável, cuja
extensão dos danos pode ser mensurada, por diferença volumétrica, em até 43000
metros cúbicos. Mais crítico que a perda de volume do sítio é, sem dúvida, o dano
em termos científicos e culturais, pois não há como medir a quantidade e qualidade
das informações perdidas.
84
viés da comunicação e da educação, foi criado o Museu de Arqueologia de Itaipu.
Entretanto, apesar da visão de vanguarda do arquiteto Edgard Jacintho, que propôs
proteger o espaço através da informação, e não através da criação de barreiras
físicas, o Museu recebeu pouquíssimos investimentos do instituto principalmente no
que se refere a seu quadro de servidores que até o ano de 2010, quando o MAI já
havia sido transferido para o IBRAM, jamais havia somado cinco funcionários.
Em teoria, o governo do Estado do Rio de Janeiro também é responsável pela
proteção da Duna Grande, haja visto o disposto na Lei Estadual nº 1.807, de 03 de
abril de 1991, que determina ao Poder Público o dever de proteger todas as dunas
do Estado do Rio de Janeiro, e também o que regula o decreto estadual de número
41.226, de 16 de abril de 2008, que dispõe sobre a ampliação do perímetro do
Parque Estadual da Serra da Tiririca e trata de incluir a Duna Grande em sua área
de proteção. O governo do estado, portanto, deve proteger a Duna Grande por seu
valor geomorfológico e ambiental.
Para além da Federação, representada pelo IPHAN, e do Estado,
representado pelo Instituto Estadual de Florestas, a prefeitura de Niterói – cidade
onde o sítio está localizado – considera o sítio como sendo “zona de especial
interesse ambiental e arqueológico” que tem por diretriz primeira “a proteção e a
preservação do sítio arqueológico e seu entorno, demarcado pelo IPHAN - Instituto
do Patrimônio Histórico e Arquitetônico [sic] Nacional”, conforme regula o decreto
municipal 9.060, de 2003.
Legalmente, a Duna Grande está sobre a proteção direta das três esferas do
poder executivo: a federação, o estado e a prefeitura. O acúmulo de legislação e
incumbências, entretanto, parece gerar mais problemas que soluções para a
conservação do sítio.
Primeiramente, há o descuido no momento de redação das regulamentações.
A Lei Estadual de nº 1.807, de 1991, por exemplo, assegura, em seu artigo sétimo “o
acesso público e o livre trânsito em qualquer direção nas áreas referidas no artigo
2º”21 , o que contraria a recomendação do IPHAN de que, salvo algumas exceções
geralmente ligadas à área da pesquisa, não se deve transitar pelo espaço da Duna
Grande.
21
Faz referência às dunas do estado do Rio de Janeiro
85
Em segundo lugar, há a incerteza, por parte dos técnicos das instituições
acerca da responsabiliadde pela proteção da Duna Grande, conforme comprova a
fala do técnico do IPHAN Mauro Pazzini, quando perguntado se compete ao IPHAN
a fiscalização da Duna:
Outro ponto que deve ser destacado é o grau de importância que a questão
da proteção da Duna Grande recebe dos órgãos responsáveis. Apesar de ter sido
considerada “Monumento Símbolo da Arqueologia Pré-histórica Brasileira” durante
as comemorações do cinquentenário do IPHAN, em 1987, o sítio arqueológico Duna
Grande está em processo de tombamento desde 1986. Para além dos quase trinta
anos em processo de tombamento pelo IPHAN, o cercamento da Duna Grande está
previsto pela prefeitura desde 2003 e até hoje não foi implantado em sua totalidade.
Com base nas considerações acima, conclui-se que a sobreposição de
legislações de diferentes esferas do poder público que, em tese, colaboraria para a
22
Para melhor entendimento da fala do entrevistado deve-se consultar os Apêndices para ter acesso
às transcrições completas.
23
Idem
86
proteção do sítio, termina por complicar a situação. Afinal de contas, a Duna Grande
parece até ser relevante o suficiente para que as instituições se reúnam e criem
projetos, mas não tem peso político e visibilidade suficientes para que esses projetos
saiam do papel. E, como existe mais de uma instituição incumbida da salvaguarda
do bem, a responsabilidade partilhada transforma-se em artifício para justificar o não
cumprimento – ou o cumprimento ineficaz – de seus compromissos para com o sítio
arqueológico.
87
“[...] por falta de tudo, de recursos humanos, materiais e enfim, de
todas as dificuldades que você sabe, ficou muitos anos ainda a gente
aqui trabalhando. E uma coisa meio, meio capenga, né? [...]”24
24
Idem
25
Niterói tem uma população de 487.562 habitantes (IBGE). Disponível em http://cidades.ibge.gov.br/
88
o tempo de funcionamento do museu, entretanto, a capacidade multiplicadora de
cada visitante pode fazer com que o número de cidadãos niteroienses que
conheçam o sítio possa ser bem maior. O MAI não tem números expressivos de
visitação, mas a constância de seu programa educativo junto às escolas da região
faz com que uma porção razoável dos estudantes da cidade conheçam o museu e
possam atuar como agentes multiplicadores do conhecimento colaborando, assim,
para a proteção da Duna Grande. A criação do MAI fez com que o Estado
aumentasse a eficiência de suas ações de preservação do patrimônio arqueológico
através da prática da disseminação do conhecimento e da ênfase em atividades e
ações de cunho educativo.
Uma das grandes provas da eficiência do trabalho do MAI junto aos
moradores da região, em se tratando deste movimento de promover a preservação
do sítio Duna Grande através da prática educativa, pôde ser observada no ano de
2010, quando do afloramento de material arqueológico do sítio. Em setembro de
2010, um morador da região, ao caminhar pela beira do sítio, percebeu a parte
superior de um crânio destacando-se na areia. Dentre todas as ações que o Sr.
Ricardo Fampa poderia ter tomado - simplesmente continuar caminhando, cavar a
areia e saciar sua curiosidade ou até chamar a polícia -, sua primeira iniciativa,
certamente influenciada pelas ações desenvolvidas pelo Museu, foi a de contactar
um dos servidores do MAI para alertar sobre o achado. Pode-se perceber, portanto
que, além de compreender o valor histórico do artefato, o Sr. Ricardo soube
extamente como proceder diante da situação.
Com base nos elementos estudados neste trabalho, o Museu de Arqueologia
de Itaipu e o sítio arqueológico Duna Grande, é possível perceber a importância do
primeiro para a conservação do segundo. Devido à fragilidade da Duna Grande, que
vai desde sua própria constituição, passando pelo desconhecimento dos moradores
do entorno, até o movimento de expansão imobiliária, é necessária uma presença
constante no local para dar maior visibilidade ao sítio de modo a conscientizar
aqueles que visitam o seu entorno.
Apesar de apenas um exemplo deste tipo de relação (museu-sítio
arqueológico) ter sido estudado nesta dissertação, pode-se perceber alguns fatores
essenciais para sua criação e utilização. Este modelo de proteção de sítios
89
arqueológicos (através da criação de instituições museológicas) deve ser utilizado
no sentido de promover o sentimento de pertencimento do espaço pela população
local e por seus frequentadores, com o objetivo de extrair, do próprio sítio,
elementos capazes de promover a melhoria da qualidade de vida – seja através do
turismo, da questão ambiental, do combate à expansão imobiliária ou da valorização
da memória e da identidade locais – daqueles em seu entorno. A manutenção deste
tipo de instituição gera despesas que o estado não está preparado para investir na
proteção de seus sítios arqueológicos. A aplicação deste modelo, portanto, não deve
ser viável para a maioria dos casos. Neste estudo de caso, entretanto, em que o
sítio arqueológico em questão é considerado monumento símbolo da arqueologia
pre-histórica brasileira, em que há um fluxo contínuo de turistas e uma crescente
ameaça de destruição devido à pressão imbiliária, o investimento – ainda que baixo
– do estado certamente teve grande retorno através da viabilização da conservação
do sítio arqueológico.
Este tipo de modelo pode ser viável para situações em que as ameaças à
integridade do(s) sítio(s) arqueológico(s) sejam muito presentes ou para regiões em
que a configuração do espaço (ex: relação da comunidade do entorno com o sítio,
tráfico ilícito de material arqueológico, complexidade e proximidade entre sítios,
entre outros) seja especialmente interessante – ou preocupante – para o estado.
90
CONSIDERAÇÕES FINAIS
91
elaboração de um levantamento histórico-fotográfico, e também a gerar dados
absolutos através do trabalho de medição do sítio.
O cruzamento dos conceitos empregados para a elaboração da base teórica
deste trabalho com a análise das fontes documentais utilizadas e os demais dados
obtidos deixa clara a distante relação entre aquilo que é produzido na academia e o
que é, de fato, incorporado nas políticas públicas. Grande parte deste problema se
deve a um panorama de gestão de políticas públicas no Brasil em que, salvo raras
excessões, o investimento no setor da cultura fica em último plano. O baixo
investimento no área faz com que os servidores não tenham incentivo para a
realização de capacitação e, portanto, não é estabelecida uma prática continuada de
atualização do corpo técnico das instituições públicas de cultura. Como resultado, as
políticas públicas voltadas para setor cultural não conseguem acompanhar os
conceitos e práticas desenvolvidas na academia criando, assim, um descompasso
entre a construção do conhecimento e a implementação de ações públicas.
Enquanto nossos governantes não se conscientizarem que o investimento em
educação e cultura é tão ou mais importante que o investimento nas demais áreas
que compõem uma política pública de gestão, nossos museus continuarão
desvalorizados, nossos sítios arqueológicos continurão a ser degradados e nossa
memória será, aos poucos, esquecida.
92
FONTES
93
MINC/COPEDOC/DAF. 2009. Disponível em:
http://portal.iphan.gov.br/portal/baixaFcdAnexo.do?id=1356. Acesso em: maio/2012
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Janeiro: Editora FGV, 2009, 144 p.
94
CALABRE, Lia. Políticas Culturais No Brasil: balanço e perspectivas. Trabalho
apresentado no III ENECULT – Encontro de Estudos Multidisciplinares em
Cultura. 23 a 25 de maio de 2007. Faculdade de Comunicação/UFBa. Salvador:
UFBA, 2007. 18 p.
95
CHOAY, Françoise. A Alegoria do Patrimônio. São Paulo: Estação Liberdade/
UNESP, 2006. 288 p.
96
e Etnologia da Universidade de São Paulo para obtenção do título de mestre, São
Paulo. 2007.
FONSECA, Maria Cecília Londres. Para além da pedra e cal: por uma concepção
ampla de patrimônio cultural. In: ABREU, Regina; CHAGAS, Mário (org.s). Memória
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Public Archaeology. Londres: Routledge, pp. 202-210. 2004.
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http://www.iphan.gov.br/ Acesso em: jan.2014.
98
MARCUSCHI, L. A. Análise da conversação. São Paulo: Ática, 1986. (Série
Princípios).
MOTTA, Lia. O patrimônio das cidades. In SANTOS, Afonso Carlos Marques dos
(ORG.) Museus e cidades: Livro do Seminário Internacional. Rio de Janeiro:
Museu Histórico Nacional, 2003, p. 123- 152.
99
ORTIZ, Renato. Estado autoritário e cultura. In: Cultura Brasileira e Identidade
Nacional. São Paulo: Brasiliense, 2006, p. 79-142.
100
SOUZA, Marise Campos de. Uma visão da abrangência da gestão patrimonial. In:
MORI, Victor Hugo; SOUZA, Marise Campos de; BASTOS, Rossano Lopes; GALLO,
Haroldo. Patrimônio atualizando o debate. São Paulo: 9ª SR/ IPHAN, 2006, p.
139-154.
SUANO, Marlene. O que é Museu. Coleção Primeiros Passos, 182. São Paulo:
Editora Brasiliense, 1986. 101 p.
VILAS, Felipe Arias. Sitios musealisados y museos de sitio: notas sobre dos modos
de utilización del patrimônio arqueológico. In: Museo, nº 04, 1999, p. 39-57.
101
APÊNDICE I – Transcrição da Entrevista: Vera Gigante
VG – Boa tarde
PC- Eu estou aqui com a Vera Gigante, que foi diretora ou administradora, já que não existia o cargo
durante muito tempo aqui no museu né. E: eu vou fazer aquelas perguntas que eu já tinha
comentado com você a respeito das ações do museu com relação a preservação ao sítio arqueológico
Duna Grande que como eu te expliquei é parte da minha pesquisa de mestrado, né. Então a primeira
pergunta, a primeira coisa que eu queria saber é:: quando você entrou e durante quanto tempo você
atuou no Museu de Arqueologia de Itaipu?
V – Entrar eu entrei em dezembro de noventa e quatro (++) mas a frente do museu foi (+) noventa e
sete
VG - quando saiu houve a mudança da direção e eu fiquei assim administrando o museu na verdade.
VG – Não, não existia. Havia aqui uma museóloga que morava no Rio de Janeiro vinha né, trabalhava
e tal e depois ela aposentou e aí acho que até que por falta de opção mesmo não tinha ninguém que
(incompreensível) vir pra cá, eu fui convidada pra administrar o museu, entendeu? E sempre fiz
questão de frisar que eu não era diretora nunca fui apesar até da época que teve aquela gratificação,
eu sempre quis colocar, gostei de colocar, que eu era administradora do museu, até por que eu não
tenho formação na área entendeu?
PC – Perfeito, é o:: e você entrou em noventa e quatro, em noventa e sete você ficou a frente do
museu
VG -
[
Assumi a
administração e fiquei até minha aposentadoria / não aí eu saí em um ano (+) eu me afastei um ano
por questão de família em dois mil e três e retornei acho que em dois mil e cinco, no início de dois
mil e cinco. Novamente assumindo a administração do museu e fiquei até minha aposentadoria em
três de outubro de dois mil e onze. /Não, não respon/ Mas aí depois chegou Maria De Simone né a
diretora que não me lembro agora quando, que ela foi (+) nomeada diretora e eu continuei com a
direção do museu junto com ela
PC – É, se não me engano ela entrou em dois mil e cinco dois mil e seis e acabou recebendo a direção
por volta dois mil e sete dois mil e oito, não é isso?
VG – Exatamente, mas aí nós ficamos assi::m, é: como que chama, quando é interina, adjunto
VG -[ foi
PC – [Dupla basicamente
102
PC – Então é: já focando bem no objeto da minha pesquisa, eu queria saber de você se nesse tempo
que você ficou desde noventa e quatro até dois mil e onze, se você diria que os trabalhos com
relação a Duna Grande e a preservação, tanto a preservação física mesmo, a proteção da Duna,
quanto a:: divulgação, a comunicação, a educação. Sobre o sítio arqueológico, a gente sabe que sítio
arqueológico geralmente as pessoas não tem muita ideia do que é, né. Se você diria que isso era uma
das principais preocupações do museu (+) ou se por questões diversas existiam outras preocupações
que acabavam tirando esse tempo do museu pra se dedicar a Duna?
VG – Não, acho que desde sempre foi uma preocupação do museu, a Duna, que é considerado o
acervo né, vamos dizer assim, do museu. Só que por falta tudo’, de recursos humanos, materiais e
enfim, de todas as dificuldades que você sabe, ficou muitos anos ainda a gente aqui trabalhando e
uma coisa meio (+) meio’ capenga né(+) e a gente observando que havia de um trabalho
principalmente educativo para que a gente pudesse trazer a sociedade, seduzir a sociedade e que a
partir daí houvesse realmente o trabalho de preservação.
PC – Entendi
VG – Foi (+) um marco assim que eu considero do trabalho educativo/ por que área de proteção’ não
sei seu estou enrolando aqui ficava mais ligado ao IPHAN da proteção física
PC
física, fiscalização
– [
é a questão da proteção
VG - Então nos arquivos do museu existem diversos documentos (+) da época que eu aqui fiquei
sozinha e mesmo depois onde a gente pedia fiscalização, teve uma ocasião que a gente pediu
inclusive para instalar uma guarita, num projeto que foi feito mas nada disso aconteceu então a
gente focou mais no trabalho educativo era o que tinha mais acessível
VG – E também onde eu sempre entendi que (+) tinha partir daí né (++) você não pode proteger,
preservar o que você não conhece. Então (+) isso foi mais intensificado esse trabalho a partir do
projeto Caniço e Samburá, que foi o projeto feito em parceria com a UFF, projeto educativo, e que
esse projeto contemplava ações educativa junto a Duna
PC - Com relação a
VG –
[
Duna
É, então assim, o desejo era de sempre poder ter levado os grupos escolares
que vinham para cá para visitar e tal mas não tinha condição
PC – É, você falou da situação, você usou até capenga pra falar eu queria que você falasse mais pra
gente deixar ilustrado, que isso é uma coisa que eu também vou falar na minha pesquisa né. Quando
você entrou aqui em noventa e quatro, você lembra quantas pessoas tinham trabalhando com você?
103
foi conseguindo montar uma equipe junto com o projeto Caniço e Samburá, houve a possibilidade de
contratação de estagiários, e a gente começou a conseguir mais essa mão de obra assim pra ajudar a
tocar.
PC – Então:: tá, a gente já percebeu que a Duna sempre uma das principais preocupações do Museu
e muito mais na parte educativa do que de fato na parte física que cabia a fiscalização do IPHAN
VG - que cabia a
fiscalização do IPHAN, é verdade
VG
[
diria
[
PC – É a gente que sabe a questão do sítio arqueológico costuma ser preocupante mais pela
visibilidade (+) é visibilidade (+) é complicado
VG – É verdade, aí houve dois cercamentos (++) por parte da prefeitura se eu não me engano foi na
gestão do João Sampaio, do prefeito João Sampaio, não me pergunte quando que eu também não
vou lembrar, tem nos relatórios, e depois houve também uma ação do INEA né, através do Parque
Estadual da Serra da Tiririca que foi feito precariamente mas foi feito alguma coisa e foram instaladas
placas educativas informando o que que tem ali naquele local
PC – Você já disse que teve um projeto educativo né, que parece que foi um projeto grande que
concentrou bastante atenção do museu que foi o Caniço e Samburá, feito em parceria com a UFF.
Mas, além desse projeto (+), você diria que tem (+) / foram feitos outras ações, como exposição,
algum tipo de divulgação a respeito da Duna, que tipo de ações de fato o museu fazia que você acha
que poderia colaborar tanto para preservação física quanto para divulgação e educação sobre esse
sítio arqueológico?
VG – É: a preservação física, é: ouso’ dizer que até fiscalização né a gente acaba exercendo entendeu,
seria a única ação que eu posso dizer efetiva no sentido da proteção’ era de fiscalizar mesmo, vir
trabalhar com carro e passar por ali e olhar: e aí via invasões né, pessoas subindo, carros aí
comunicava o IPHAN
VG – Sempre teve essa prática entendeu, comunicava sempre ao IPHAN não só através de
documentos mas por ligações telefônicas também
PC – Então todas as atividades nesse sentido de notificação de aviso mesmo né, foram feitas
atividades além daquelas que estão documentadas né, por que tem os ofícios mas também tem a
ligações, é isso?
VG – É, e não só o IPHAN né, existe aqui no arquivo do museu (++) uma série de documentos, de
ofícios, na época chamava ofício, que eu encaminhei à prefeitura de Niterói, à secretaria do meio
ambiente’ né, colocando essa questão falando da importância do sítio né, a data:ção do sítio (+) e da
104
importância da preservação mas realmente nada foi feito de (+) efetivamente assim, um cercamento
adequado né, uma fiscalização lá não
PC – Legal, está ótimo. É:: e aí agora eu já quero te perguntar’ (+) muito por conta desse tempo que
você ficou aqui/ que é um tempo bem longo né, de noventa e quatro à dois mil e onze (+) são
dezessete anos no museu,(++) dezessete?
PC – A’’ como funcionária você começa em noventa e quatro mas a frente só a partir de noventa e
sete
PC – Se você notou’ de fato, um::a mudança, você já falou que da parte de proteção física não foi
muita coisa né, e:: na parte de percepção das pessoas (+) a respeito do sítio, você acha que teve uma
diferença notável?
VG – Acho, acho que houve uma diferença inclusive por parte de alguns moradores da região né da
região, por que eu acho que vendo o trabalho da gente, vendo até o movimento’ na Duna, que não
ficou aquela coisa ali abandonada, largada / pessoas que vinha aqui também denunciar: ´´olha estão
subindo ali’´´
PC – A’ então as pessoas depois de algum tempo que eles já tinham visto um movimento e
talvez até ouvido as
VG
VG
–
–
[ visitas eles já vinham ao
trabalho educativo
é, ajudar a denunciar, [
museu denunciar, ajudar a denunciar
VG – Teve também/ você já estava aqui né, aquela coisa da escavação que foi feita, isso foi
quando?
PC – Isso foi em dois mil e dez não foi? Essa última/ o salvamento
VG – É’, quer dizer, que eu acho que a sociedade vendo’ né, um movimento, uma pesquisa, alguma
coisa sendo feita desperta’ a atenção né isso foi sempre uma preocupação da gente apesar da gente
não ter conseguido fazer metade das coisas que pretendia, do que desejava
PC – Sim sim
PC – E você diria que não conseguiu fazer metade do que você queria, do que desejava por conta
especificamente (+) da falta de recursos?
G – Falta de equipe, de equipe principalmente, você sabe que o primeiro concurso que houve que
nós recebemos aqui os servidores foi’ dois mil e cinco né, e aí aos poucos é que foi / foi só a Maria na
verdade, a equipe mesmo de trabalho que a gente tem hoje, que vocês tem hoje não se compara né,
faltava aqui profissionais das áreas específicas que pudessem desenvolver como hoje você tem, nós
105
temos museólogo, tem o pedagogo, temos o antropólogo, então o trabalho profissionalizou’, pode
profissionalizar.
VG – O trabalho que eu fiz aqui, eu deixo bem claro, foi inteiramente amador (++) durante até chegar
a conseguir estruturar as equipes, como eu falei não tenho formação na área, minha área é de
recursos humanos dentro da área administrativa mas aí a gente foi né aos pouquinhos e tal mas não
tinha força de trabalho que desse conta disso, e o IPHAN também não conseguia dar esse suporte
esse né, com uma assessoria de arqueologia lá no Rio mas que cuidava mais da área também de
proteção de patrimônio é de fiscalização, então foi complicado, hoje eu acho que teve um
assim avanço absurdo.
PC –
[ sim, de fiscalização
PC – Eu acho que até que não é’ trabalho do meu caso, do entrevistador falar, mas eu queria deixar
isso gravado que amador ou não seu trabalho foi essencial o seu trabalho aqui e isso aqui não estaria
do jeito que está e a gente não estaria fazendo o trabalho na Duna se não fosse.
VG
mas isso é uma questão mesmo de compromisso, de compromisso, por que
– [ obrigada Pedro
ou você assume/
então (++) apesar de estar aqui no cantinho de Itaipu, ´´ a’ ta lá no museuzinho, lá no final de Niterói
e tal´´ mas eu tenho esse perfil, sempre gostei de trabalhar e quando eu me envolvo eu me envolvo
de verdade. Aí virou aquele caso de amor né plagiando aqui (+) a figura pública que a gente conhece
e foi uma caso de amor. Por que aí foi aquilo’ não quero ficar aqui nessa lamentação mas de sair
mesmo por aí pedindo dinheiro, pedindo uma lâmpada, pedindo / foi muito precário entendeu, de
dois mil e ci::nco pra cá é que começou a clarear (+) que aí mais pessoas para ajudar, para pensar,
para discutir, para elaborar projeto e tal.
PC – Você falou essa data me ocorreu uma coisa, se não me engano foi em dois mil e quatro que foi
criado o departamento de museus dentro do IPHAN, você acha que alguma relação direta
VG – É exatamente, não deu conta, o IPHAM eu’ acho que não deu conta de cuidar desse patrimônio
imenso, brasileiro né, e ainda a gestão dos museus, então assim, a parte da gestão’ foi assim,
fantástica a criação do DEMU né e despois do IBRAM foi realmente/ muitas conquistas que a gente
teve depois dessa/
PC – Sim, você apontaria alguém da comunidade que como uma ou outra pessoa que despontaram
mais, que ajudaram mais nessa questão da preservação da Duna, ou acompanharam mesmo as
atividades educativas do museu (++) você diria que houve uma aproximação da comunidade, você já
falou, mas será que você identifica alguma figura ou instituição
VG – Instituição, é o PESET, é o Parque Estadual da Serra da Tiririca, esse foi o que realmente
106
PC – E da sociedade civil?
PC – É especificamente da Duna, eu acho que a gente pode ampliar aqui para algumas das outra
atividades
VG – O que a gente tem aqui de parceiro é o Cambuci né, pescador Cambuci, que é o cara envolvido
né, que as visitas, algumas também desdobravam como uma visita a ele né para falar da pesca e
tudo, uma pessoa que eu posso destacar seria o Cambuci
PC – Vera muito obrigado, foram perguntas bem objetivas e agradeço muito essa entrevista e a
possibilidade de contar com a sua participação na minha dissertação
107
APÊNDICE II – Transcrição da Entrevista: Mauro Pazzini
MP – Boa Tarde
MP – Comecei como estagiário em quinze de abril de mil novecentos e oitenta e dois, e eu estou
como arquiteto desde o dia primeiro de fevereiro oitenta e quatro
MP – Fui efetivado
PC – E você trabalha com a região aqui de Itaipu mais ou menos há quanto tempo? Porque você
sempre vem acompanhando né todos os projetos que acontecem por aqui.
MP – Olha, posso dizer para você, como arquiteto aqui desde o dia primeiro de fevereiro de oitenta e
quatro
PC – Desde o início
MP – Desde o início mesmo, por que eu por ser morador de Niterói tinha sempre contato com isso
aqui. Eu realmente não me lembro qual foi o primeiro trabalho que eu fiz aqui. Se foi um
levantamen:to para custo de obra / se eu não me engano foi para uma troca do telhado daquele
espaço lá do canto. Quem fez foi a Marina ??? Ribeiro, um orçamento, fez uma obra, depois a gente
fez uma obra de reparo, foi, eu não sei precisar a data, talvez oitenta e quatro oitenta e cinco, por aí
PC – Existe um pouco essa divisão assim, me fala por exemplo, você falou é arquiteto de Niterói,
então geralmente algumas questões de Itaipu, vai tudo pro Mauro’ existe mais ou menos essa
divisão (+) um pouco até personalizada assim, alguém cuida mais de Paraty, alguém cuida mais/
MP – Olha, oficialmente não’, mas na prática sim. Por que como exemplo, você vai falar de Paraty, é
Isabeli, aí chega em Niterói realmente passa tudo por mim. Tem mais colegas nossos lá (Paraty) de
Niterói agora’ mas acho que pelo histórico é aquele negócio de memória viva, tem coisas quem vem
na cabeça, eu me lembro disso, então, eu acho que eu sou o homem chato do IPHAN em Niterói, eu
acho que seja propriamente não obra por que obra não é o meu perfil, meu perfil não é obra, meu
perfil é mais a proteção do monumento. Havia uma divisão no IPHAN que era proteção e
conservação, conservação era quem fazia obra e a proteção era pra quem trabalhava propriamente
com o entorno da preservação do monumento, meu perfil foi para esse lado, o da proteção, eu
peguei conservação mas fui pro lado da proteção. Então eu fui para o lado da proteção (+) mas as
vezes dependendo de certas situações eu pego (+) mesmo que seja para iniciar mas depois vai
passando para outras pessoas mas a questão de proteção do entorno passa por mim.
PC – E essa questão de proteção do entorno, aqui a gente vai tratar de um assunto de um assunto
que é basicamente o Museu de Arqueologia de Itaipu que já pertenceu o IPHAN e o Sítio
108
Arqueológico Duna Grande e assim, eu estou conversando com Mauro que é um arquiteto do IPHAN,
não é um arqueólogo do IPHAN mas essa questão, por ser uma questão por ser uma questão do
entorno de fiscalização , você diria que as questões de arqueologia também passam de alguma
maneira por você aqui em Niterói?
MP – Não própriamente, oficialmente vai passar para assessoria de arqueologia, existe a área
específica mas nada impede que de repente para uma fiscalização, (+) o inicial, (+) de repente (+)
passar por mim mas a decisão caberia a assessoria de arqueologia.
PC – E você diria que nessa questão da fiscalização inicial, do primeiro contato, alguma denúncia ou
alguma coisa do gênero, você seria provavelmente a primeira pessoa que seria acionada.
MP – Provavelmente, provavelmente. Tem gente que liga para mim direto para saber ou então de
repente eu passo, eu faço (+) entre aspas, um levantamento, vejo qual é a situação aí eu informo
[
assessoria de arqueologia. É, a decisão não passa por mim que aí eu acho que não
compete a mim mas eu posso ver alguma irregularidade e passar para a arqueologia
PC – encaminha
PC – Perfeito, o Sítio Arqueológico Duna Grande que é o que eu estou trabalhando, é aqui do lado,
ele fo:i identificado em sessenta e dois, por uma equipe do Instituto de Arqueologia Brasileiro (+) e o
Museu de Arqueologia que foi criado em setenta e sete, muito por conta da proximidade com Duna
Grande para trabalhar aquilo que foi tirado de lá, na época já foi criado dentro do quadro do IPHAN /
e aí assim, eu gostaria de te perguntar, você já esta no IPHAN desde oitenta e quatro vai fazer
PC – Perfeito, o Sítio Arqueológico Duna Grande que é o que eu estou trabalhando, é aqui do lado,
ele fo:i identificado em sessenta e dois, por uma equipe do Instituto de Arqueologia Brasileiro (+) e o
Museu de Arqueologia que foi criado em setenta e sete, muito por conta da proximidade com Duna
Grande para trabalhar aquilo que foi tirado de lá, na época já foi criado dentro do quadro do IPHAN /
e aí assim, eu gostaria de te perguntar, você já esta no IPHAN desde oitenta e quatro vai fazer
MP – Trinta e um anos, vai fazer trinta e dois anos em quinze de abril de dois mil e quatorze
PC – Perfeito, você diria que os sítios arqueológicos em geral e especificamente esse que eu estou
trabalhando, o sítio da Duna Grande aqui do lado, ele foi uma das prioridades do IPHAN, ele é uma
das prioridades de fiscalização, de trabalho educativo alguma coisa do gênero?
MP – Eu acredito que sim (+) tanto é que a Duna Grande nos cinquenta anos do IPHAN foi
considerado um monumento arqueológico
MP – É, monumento símbolo, eu acho que sim, por que:: tem certo destaque / eu tenho aquelas
brigas que eu falo que Itaipu, e quando eu falo Itaipu, é tanto atrás do Museu tanto a Duna esta
assim’ por que o IPHAN esta lá (+) por que se IPHAN não estivesse eu acho que estaria bem pior. Tem
coisa que a gente não consegue segurar, a gente sabe que tem invasão na Duna Grande que seria
muito fácil se a gente chegasse com uma marreta e tirasse todo mundo, mas acontece que o IPHAN
109
respeita o direito democrático de cada um. Nós comunicamos, existem os processos judiciais, uns
andam, outros não, mas o IPHAN defende / desculpa gente, eu falo IPHAN defende mas eu sou
representante do IPHAN mas eu’ enquanto IPHAN’ (+) eu acho que o IPHAN da’ prioridade sim para o
sítio arqueológico e para Duna Grande também, logicamente’ eu gostaria de ver a Duna Grande na
uma melhor situação (+) mas a gente tem uns empecilhos, eu não sei se a instância superior valoriza
mas eu’ acredito que sim se não / existe o processo de tombamento da Duna mas que não foi
finalizado até hoje mas eu’ enquanto arquiteto do IPHAN, eu sei que é um sítio arqueológico, um dos
mais importantes então eu atuo é na proteção’. Eu entendo que:: eu trato a Duna Grande como se
fosse um: bem edificado, é como se fosse um bem protegido, não é tombado mas é protegido pela
lei de arqueologia então eu luto por ele’ (+) por que eu acho que tem valor
PC – Perfeito, e aí eu estou tentando levantar as atividades que o Museu de Arqueologia fez desde de
setenta e sete, quando o museu foi criado, até: os anos mais recentes, de proteção ou que
influenciam tanto na proteção física da Duna quanto em uma tentativa de comunicação, uma
abordagem mais educativa com a pessoas para que elas também trabalhem e valorizem esse
patrimônio. Você lembra ou pode citar algumas atividades que o IPHAN possa ter realizado (+) para
colaborar tanto com a proteção física quanto para com esse outro tipo de proteção que eu acabei de
citar da parte educativa, da parte de comunicação com relação a Duna?
MP – Olha, eu vou ver se eu consigo responder a sua pergunta. Em noventa e dois, foi feito um
trabalho junto com a prefeitura (+) de Niterói, na época o secretário de cultura era o Ítalo
Campofiorito, secretário de urbanismo João Sampaio, nós fizemos um trabalho de proteção de
Itaipu’
PC – Itaipu bairro
MP – Itaipu como um todo, canto de Itaipu, a gente pode falar que muita fala que é canto de Itaipu
hoje mas esse nome acho que começou em noventa e dois e’’ era proteção do entorno e da Duna. Eu
acho que foi a primeira vez que se conseguiu fazer o cercamento da Duna, então quer dizer, teve
esse trabalho em noventa e dois, que foi um trabalho seríssimo’ (+) teve a atuação da procuradoria
jurídica do IPHAN participou, Carlos Fernando de Moura, Delphim que já estava em Brasília veio de
Brasília e participou, foi um processo que durou quase um ano até ele ter uma decisão final, lógico
que teve a decisão final e depois vieram alguns problemas em relação ao próprio tramite do
processo (+) mas foi um trabalho sério’ que apesar de não ter sido executado (+) ele se tornou como
base para muita coisa que se pretende fazer hoje.
MP – Eu acho que não foi executado, não todo, não como todo. Tiveram alguns problemas de se
estabelecer alguns parâmetros urbanísticos, era o cercamento da Duna e outras intervenções, as
intervenções físicas não foram realizadas mas ficou registrado eu acho que na mente da
comunidade, na mente da prefeitura e na mente do IPHAN esse projeto, logicamente que qualquer
coisa que venha de novidade, a gente fica trabalhando com esferas políticas mas quando vem
qualquer novidade / aí que esta o problema, eu tenho aquela memória viva (+) a coisa vem para
mim, eu vou lá e busco desde o início o que acontece em Itaipu
110
PC – Então você diria que o plano base para você resgatar essa memória viva talvez e embasar os
projetos que acontecem até hoje é esse de noventa e dois?
MP – É isso / eu não sei separar se é uma coisa pessoal ou se é uma coisa profissional, até por que
como’ eu sempre trabalhei com essa área eu tento respeitar tudo que feito até hoje, então eu não
consigo (+) aceitar que uma coisa vai começar do zero, eu acho que a gente tem que respeitar tudo
que feito de sério’ (+) para isso. Por exemplo, desde noventa e dois que eu escuto que querem
congelar a ocupação de Itaipu, congelar a ocupação Itaipu, eu enquanto técnico venho aceitando (+)
mas eu não aguento mais, por que se fala que vai congelar, congela mas de noventa e dois para cá
(+) nunca se congelou’, você sempre teve alguma novidade, aumentou a população, aumentou as
intervenções, aumentou a ocupação. ´´a vamos congelar``, NÃO, chega, vamos congelar naquele
momento, ´´ a não não``, é o que eu falo, eu sou o chato (+) por que eu estou brigando é pela
preservação e aí tem um nome, é o nome do IPHAN (+) pode se dizer, que é o nome do IBRAM
também por que você esta com IPHAN mas o IBRAM esta pegando a questão dos museus que tem
que ser respeitada, é a questão do sítio arqueológico, então eu acho que não adianta a gente falar
que vai congelar, parece que mostra um incompetência das instituições em não realizar o que é
definido. Eu brigo por isso, se foi decidido, foi feito um trabalho sério (+) então é a partir daquele
momento. Se não ocorreu, não adianta falar que acreditando que fosse acontecer e de repente
acontece as outras intervenções / é muito fácil, eu acho que é muito fácil para as instituições
regularizar o irregular, é muito mais fácil, mas eu não acho justo (+) com a preservação da cidade,
com a preservação do monumento, eu acho que tem que ter um limite. É uma briga constante falar
para mim que o Sítio Arqueológico Duna Grande é u::ma (+) comunidade tradicional
PC – Só para que fique claro para entrevista, existem casas, construções, dentro do perímetro que o
IPHAN delimitou como Sítio Arqueológico Duna Grande, é isso que você esta se referindo?
MP – É isso, nesse perímetro da Duna Grande (+) se eu não me engano no último levantamento,
foram levantados trinta e uma casas, não tenho certeza mas acho que foram, você alegar que aquilo
é comunidade tradicional, eu’ técnico não concordo. Não estou dando palavra final, eu não sou
antropólogo, não fiz serviço social eu não sei de nada, eu teria que ver um levantamento mas pelo
que eu entendo, essa ocupação desordenada que começou em Itaipu veio muito depois da Ponte
Rio-Niterói, antes da construção da ponte você tinha o loteamento de Itaipu mas que ninguém
conhecia direito. Se você pegar um mapa de ocupação você vai quer depois da Ponte Rio-Niterói,
Itaipu ficou próximo (+) do Rio, e aí você tem o mapeamento disso em que você vai constatando
como é que o espaços foram sendo ocupados. Com certeza em noventa e dois, eu não tenho na
cabeça isso agora mas não tinha trinta e uma famílias na Duna, com certeza não, e agora em dois mil
e treze você falar que tem trinta e uma famílias que eu não sei se HOJE, dia trinta de outubro de dois
mil e treze, você tem trinta e uma famílias mas talvez tenha mais. Podem ter falado que vai
regularizar mas nós deixamos claro que não regularizar essa ocupação, eu acho que o IPHAN tem que
ser sério nesse momento, não pode regularizar a situação e eu espero que seja uma decisão do
IPHAN, eu já tenho trinta e um anos ( de serviço ) e daqui a pouco já estou me aposentando e espero
que essa decisão fique, (+) não é uma decisão pessoal minha mas eu acho que é uma decisão técnica
em respeito aos monumentos e quando eu falo monumento eu considero a Duna Grande um
monumento também
111
PC - Perfeito. A gente tem um:: marco regulatório que é a Lei de Proteção aos Sítios Arqueológicos
que é de sessenta e um, você sabe dizer se antes desse marco regulatório, da lei de número três
nove dois quatro sessenta e um, tinha gente morando dentro de perímetro delimitado? Por que a
Duna de fato vai ser identificada em sessenta e dois e em sessenta e um, teoricamente antes da
identificação da Duna e antes do marco regulatório, você sabe dizer se tinha gente morando, e se
sabe alguma estimativa?
MP – Confirmar eu não confirmo. Talvez sim, não sei se a:: Penha de repente
MP – Eu não tenho certeza, eu não tenho certeza (+) mas o grande o problema é que’ esse
loteamento se eu não me engano é de mil novecentos e noventa e quatro (+) e’ a Duna é loteada, o
Sítio Arqueológico Duna Grande, ele é loteado, um loteamento aprovado pela prefeitura (+) então
você tem proprietários particulares
PC – Foi um loteamento feito por uma empresa privada e aprovado pela prefeitura
MP – Aprovado pela prefeitura (++) e que depois disso ninguém pode construir, acontece que
ninguém foi desapropriado até hoje, que eu tenha conhecimento ninguém foi desapropriado, então
existe a propriedade particular. A única coisa que aconteceu é que as pessoas não pagam mais IPTU,
agora me’ parece’, eu não tenho certeza, que a prefeitura não cobra IPTU dessas pessoas por ser um
sítio arqueológico mas foi loteado como propriedade particular
MP – NÃO, aí tem que deixar bem claro, essas pessoas que estão na Duna Grande invadiram uma
área, não são proprietários. Se você reparar, se você fizer um estudo mais detalhado você vê que
essas ocupações não seguem o arruamento projetado para loteamento, você tem suas entrâncias
pela Duna, então: não são proprietários. Pode ser que um ou outro’ que eu não sei quais são, não da
para afirmar agora e eu não posso ser injusto com de repente com pessoas que tem a propriedade,
mas sinceramente eu acho que ninguém é proprietário. TALVEZ uma situação, exista um proprietário
mas é uma coisa que tem que ser levantada por que foi feito recentemente uma obra irregular (+) e
que a pessoa parece já foi acionada no Ministério Público mas eu não tenho certeza. Pode ser que
seja proprietário mas existe a irregularidade que por ser proprietário, tem que ter pré-autorização do
IPHAN para construir e isso ele não teve. Então existe uma irregularidade, ele pode até ser dono do
terreno mas existe a irregularidade em relação a construção
PC – Perfeito. Ainda em relação a:: (+) Duna e, especificamente, essas pessoas que estão dentro do
perímetro que o IPHAN entende como sítio arqueológico. Você lembra além desse (2.0) marco de
noventa e dois, que você falou que Delphim veio lá de Brasília, desse projeto de noventa e dois para
regularização do campo e proteção do monumentos arqueológicos, do canto de Itaipu e proteção
dos monumentos tanto arqueológicos / e aí a gente esta falando também aqui do Recolhimento de
Santa Teresa, que é onde esta instalado o Museu de Itaipu.
112
PC – Além desse projeto de noventa e dois, você lembra de mais alguma ação, pontual que seja
MP
[
(+) do IPHAN tanto para proteção da Duna quanto para
PC – O Sambaqui de Camboinhas
MP –
[ de entrada na Duna, de subir a Duna
MP – Sinceramente eu não sei, acho que compete ao (+) município talvez, ta aí uma resolução
administrativa que eu não sei. Não sei se o IPHAN delega, como é que fica isso por que na verdade o
IPHAN não é responsável pelo sítio, é responsável pela manutenção / ta aí é responsável pela
fiscalização mas eu acho que:: caberia ao município fazer essa fiscalização, é uma dúvida
PC – Por que ali tem algumas instituições que agem né, tem o IPHAN /
MP – Eu não sei se entra o IBAMA, se entra a SERLA (+) por que existe um canal lá então tem
navegabilidade. Ta aí, é uma confusão administrativa que eu não sei responder agora
113
PC – Perfeito. Agora com relação ao estado físico da Duna, você começou no IPHAN em oitenta e
dois, você disse que em oitenta e quatro já veio parar aqui em Itaipu fazer o primeiro trabalho. Então
você deve ter acompanhado, assim, digamos que você venha a cada período de tempo determinado,
a evolução física do estado de preservação da Duna. Você notou, teve alguma diferença visível,
existia mais cobertura ou menos cobertura?
MP – Bo:a pergunta, eu não sei dizer. Por que parece, eu posso estar falando besteira mas acho que
essa duna não é uma duna não é móvel, ela não é móvel, ela é uma duna fixa. Não sei, posso estar
falando besteira. De repente com a vegetação de restinga uma hora pode ser que sim pode ser que
não mas (1.5) eu não vi mudança não, ta aí uma boa pergunta. Eu não vi mudança, para mim ela
mantém as características
MP – Pode ser que uma outra coisa pode ter movimentado / tem sim, é um problema de (++)
deslocamento de parte da duna junto ao canal, que são os roncamentos de pedra que lá esta falho
por que o mar levou e eu acho que ali desce um pouco ainda mas eu acho que no total se manté::m
entre aspas, conservado
PC – E quanto a percepção (+) das pessoas (+) para com o patrimônio, por que eu digo assim, na
minha opinião (+) o sítio arqueológico é um pouco mais difícil de trabalhar a questão educativa por
que ele não é tão óbvio, as pessoas não veem uma edificação que eles logo já reconhecem como
histórico e portanto não identificam tanto a questão do valor patrimonial. Óbvio que existem uma
série de diferenças entre valores e cada um da o seu valor mas o sítio não é tão visível’ (+) enquanto
patrimônio. Você diria que ou você percebeu alguma mudança na percepção das pessoas quanto ao
sítio (+) por parte do trabalho tanto do museu quanto do IPHAN?
MP – Olha, (1.5) no nível local eu acho que sim. Eu acho que a comunidade sabe o valor do sítio
arqueológico hoje, e isso se deve muito a relação entre o museu e o sítio arqueológico / eu tenho
minhas dúvidas, será que o sítio arqueológico seria conservado se o museu não estivesse aqui? Não
sei, eu acho que a posição do museu (++) ajudou muito a preservação do monumento (+) e lógico, na
presença humana e quando eu falo presença humana é dos técnicos, seja do IPHAN ou do IBRAM
trabalhando com a comunidade, para mostrar a situação. Eu falo isso por que a gente sabe que a
praia de Itaipu é uma praia que no verão fica lotada de pessoas que vem de fora, é o turista de
momento, e muitos não tem conhecimento da duna, muita gente vem de fora e não tem
conhecimento da duna. Isso é uma coisa que eu acho que é falha (+) na participação das instituições
por que por mais que se coloque placas dizendo que é um sítio arqueológico e que não se pode subir
e tal, você vai ver no final de semana esta cheio de gente lá em cima. Eu acho que falta comunicação
(+) para essas pessoas, detalhe, já tiveram várias vezes essas placas instaladas mas as pessoas tiram,
são arrancadas, por vandalismo, retiradas, a falta de fiscalização e de policiamento mesmo dificulta
essa questão (+) mas eu acho que mesmo com a proximidade com o museu isso ajudou bastante a
manutenção do monumento, do sítio arqueológico. Eu acho que se não tivesse isso eu não sei se a
gente teria o sítio hoje
114
PC – E você acha que o museu atua com relação a preservação do sítio (+) mais em que viés assim,
você acha que é em um viés educativo, em um viés de fiscalização apesar de não ter o caráter, como
é que você acha?
MP – Nos dois sentidos, educativo, lógico educativo é importante / só um detalhe, quando eu era
garoto (+) e eu nem sonhava em trabalhar no IPHAN, eu passava por aqui e achava interessante ver
(+) o prédio do museu, não era museu ainda mas eu vi aquela estrutura de pedra, ´´ gente que que
tinha atrás dessas paredes``
MP – Talvez, aí eu era garoto eu falei ´´ que que é isso? O que que tem aí atrás (incompreensível)
dessa muralha?`` Aí depois eu vim trabalhar no patrimônio (+) e aí vejo que: eu acho que a
participação do IPHAN hoje IBRAM, aqui (+) principalmente dos técnicos, serviu sim’, o viés educativo
foi fantástico. Hoje em dia o viés educativo é o mais importante, é mais importante que a própria
fiscalização (+) e isso’ o museu conseguiu passar para comunidade, quando eu falo comunidade é
comunidade local’, aqueles pescadores e moradores daqui sabem que aquilo é uma duna, que é um
sítio arqueológico, que tem que ser preservado. Tanto é que você de repente existe situações que as
pessoas estão ocupando lugares mais (+) para fo:ra de repente mais para cima da ???? trinta que não
é encosta, por dentro da colônia mas para dentro da duna, é uma coisa assim, que é / existe
ocupações ma::s eu acho que conseguiu segurar graças a atuação desses órgãos de preservação,
poderia ser melhor? Poderia (+) bem melhor (+) mas a gente sabe das dificuldades que tem
PC – Você pode elaborar essa questão das dificuldades, o que que você acha que faltou, o que
poderia ser melhor?
MP – Olha, eu acho que falta corpo técnico, falta policiamento, vontade política. Por que eu falo que
Itaipu é um dos locais mais bonitos que se tem aqui de repente em Niterói e provavelmente no
Estado do Rio. A gente tem uma vista daqui’ maravilhosa do Rio de Janeiro. Eu fico brincando que o
povo carioca fala que a coisa mais bonita de Niterói é a vista do Rio (+) e eu falo que é mesmo, por
que o carioca não tem a vista que nós temos. Hoje eu estava lá em Jurujuba, eu conversei e falei, que
muita gente fala que: a paisagem cultural do Rio de Janeiro foi protegida a nível mundial (+) mas
existe uma parte que é de Niterói, que é o do Forte do Pico, Fortaleza de Santa Cruz, o Morro do
Morcego ali em Jurujuba (+) mas ninguém fala. Agora essa vista que a gente tem aqui em Itaipu (+)
com essa preservação (+) eu acho que deveria ser mais valorizada, mais valorizada. Não pelos
técnicos, por que os técnicos estão aqui e atuam na função de preservar e valorizar essa área aqui,
mas eu acho que tinha que ter mais vontade política para poder preservar isso. Eu fiz um projeto que
era o projeto histórico arqueológico do canto de Itaipu, eu não me lembro termo. Foi quando eu fiz o
CECRE na Bahia, o novo CECRE, em mil novecentos e noventa e seis, o meu tema foi Itaipu, a praia de
Itaipu como um todo. E eu descobri coisas assim, maravilhosas que aqui poderia ser um projeto, um
campo, um parque arqueológico.
PC – O que é o CECRE?
115
MP – Desculpa, o CECRE é o Curso de Especialização de Revitalização do Centro Históricos. É um
curso feito pela Universidade Federal da Bahia junto com a UNESCO e junto com o IPHAN, é lá na
Federal da Bahia, esse curso tem de dois em dois anos eu fiz o de noventa e seis. Eu vou falar uma
coisa aqui para deixar registrado, que o tema foi Praia de Itaipu, (+) o meu projeto foi considerado
um dos projetos melhores do curso se não o melhor. E esse curso era na época considerado um dos
melhores cursos DO MUNDO, então, não é para valorizar meu currículo não, eu falo para valorizar a
questão do patrimônio aqui no Brasil. Que no Brasil tem um curso (+) que é considerado um dos
melhores DO MUNDO, quem fala isso é a UNESCO, só para deixar registrado isso. Que as vezes a
gente não valoriza os nossos cursos, as nossas instituições mas a UNESCO reconhece.
PC – Voltando um pouco para questão do (++) trabalho educativo, da função educativa que você até
exaltou a parte do trabalho do museu com a comunidade local mas (+) parece que na sua opinião o
museu não atinge esse turista de momento, que você falou, a pessoa que vem de fora
MP – Eu acho que isso não é culpa do museu não’, eu não sei se existe culpa. Mas é porque o turista
de momento vem para diversão da praia, ele não vem fazer o turismo cultural. Eu me lembro quando
o ônibus paravam aqui, isso a gente tem que deixar bem claro que há um bom tempo atrás, (+)
talvez uns dez anos, os ônibus de turismo vinham da região da baixada, eu já vi ônibus de Belo
Horizonte parar aqui, de Barbacena para passar aqui o’ domingo. Eram ônibus que saiam, tipo assim
vou dar exemplo, saiam oito horas da noite de Belo Horizonte chegavam aqui quatro horas da
manhã, chegava quatro horas da tarde voltavam para seu locais. Teve uma vez que eu contei cento e
quarenta ônibus em cima da duna, em cima da duna não, minto, cento e quarenta ônibus de turismo
na Praia de Itaipu, muitos estacionados em cima da duna. Nós conseguimos reverter isso, mas em
nenhum momento proibimos o acesso desse turista (+) o que a gente estava querendo era o
seguinte, o ônibus teria que vir, deixar o passageiro e voltar para estacionar em outro lugar, não
podia estacionar aqui. Ele ocupava essa área da duna, teve uma vez que eu contei cento e quarenta
ônibus. Então esse turista que vem, é o turista que vem para passar o dia na praia (++) tomar sua
cervejinha, curtir sua praia e tal. E muitos desses que vem não sabem que existe o Museu de
Arqueologia aqui, não sabem. Eu não sei se até hoje existe placas na estrada dizendo que tem Museu
de Arqueologia
MP – Tem, para ser sincero foi falha minha, mas eu vi da vez que eu ????? o sítio. Mas tem muita
gente que vem para Itaipu, esse turismo no verão, não sabem que existe o museu. Uma vez eu vi
uma situação, eu vou fazer um comparativo, se cobrava a entrada (+) dois reais, era só para
manutenção do museu, passou um pai (+) com a esposa e duas crianças, ´´ dois reais para entrar, nós
quatro, oito? A não, vou tomar oito reais de cerveja na praia que é melhor``. Dá uma dor mas aí você
vê qual é a realidade, a pessoa vem para fazer o turismo na praia, não quis entrar no museu. Eu não
sei se a culpa é do Museu, eu acho que culpa é da falta de educação da população
MP – Eu acho que não é falta de educação, desculpe gente, é a falta de cultura e de repente visitar
espaços culturais
116
PC – Talvez o costume?
MP – Talvez o costume, e::: aquele turismo de momento né, a pessoa vem para ir’ a praia. Teve até
uma vez que eu passei uma situação engraçada, a pessoa viu o guarda, um segurança fardado na
frente do Museu, a pessoa não quis entrar por que estava com medo por que estava sem
documento, viu o guarda e ficou medo de entrar por que não tinha documento. Não tinha nada a
ver, a coisa que estava para dar segurança de repente impediu ele de entrar
PC – Você falou da questão do visitante de momento e que as vezes ele nem sabe que tem o Museu,
nem sabe que tem a Duna e me ocorreu, a Prefeitura, o Estado e os órgãos interessados ou
responsáveis pela proteção do Sítio sabem que tem (+) um sítio ali? A Prefeitura sabe que tem um
sítio arqueológico ali?
PC – Então sempre quando tinha um projeto aqui do IPHAN: tinha esse cuidado do diálogo com a
Prefeitura
MP – Tinha, tinha até por que a maioria dos projetos vieram da Prefeitura.
MP – Só’ que’, a gente esta falando com uma instituição, não vou falar pessoa. A gente sabe que
cargo da Prefeitura são cargos eletivos, pessoas saem voltam, saem voltam, saem voltam e de
repente os projetos ficam engavetados, é o que acontece com a maioria dos projetos aqui de Itaipu,
ficam todos engavetados. Por isso a minha preocupação que eu falei desde o início que (+) se vai
começar, não pode começar do zero. Eu vou pegar o que foi feito até agora que é de sério, de
repente pode ser aproveitado alguma coisa. Até por respeito para quem trabalhou com aquele
projeto, eu entendo que tem que trabalhar assim. Mas eu acho que (++) o Museu, os funcionários do
Museu (+), que são funcionários do IBRAM, os funcionários do IPHAN (+) aí eu me coloco nisso
também, mas eu coloco a questão da assessoria de arqueologia, seja a Rosana Najjar, seja a Regina
Célia, seja o Adler, seja todo mundo que trabalhou lá, tenta se fazer um trabalho de fiscalização mas
é pouca gente para fiscalizar isso tudo. Eu tenho facilidade por que eu moro em Niterói mas tem
horas que você não está aqui e: você não consegue fiscalizar. Eu até brinco que o carro do IPHAN
tinha que ser vermelho por que só serve para apagar incêndio, tinha que ser vermelho por que a
gente só sabe quando acontece a intervenção. É lógico que gostaríamos de repente colocar dois
guardas vinte e quatro horas na Duna circulando, de repente três, com um no museu ou dois no
museu e um lá circulando, colocar placa, cercar. Agora ao mesmo tempo, não adianta você colocar
isso se não tiver aquela manutenção e conservação, tem coisas que as pessoas roubam, depredam,
tem a situação da própria maresia que você colocar uma placa e se não houver uma manutenção
apodrece mesmo, é complicado assim. E aí você passar essa informação para as pessoas que:: / acho
que eu não sei se o Museu, esta aí, eu não sei se o Museu é informado, se é informado a existência
do Museu na rede municipal (+) de ensino. Eu’ fico à disposição de repente se a rede municipal
117
quisesse (+) de tirar um dia de patrimônio, se o Museu fizesse o projeto, uma proposta até de a
gente encaminhar para rede municipal, se a gente pudesse a cada mês ir em uma escola para dar
uma palestra para as crianças (+) para saberem o que é o museu, o que é o sítio arqueológico, eu
ficaria a disposição. Já fiz isso algumas vezes, mas acho que precisa ser feito mais vezes, as vezes é
lógico, tem hora que a gente gostaria que a escola viesse aqui (+) no Museu. Mas se a escola não veio
(+) de repente nós vamos lá na escola, é uma proposta, não sei se é viável ou não mas é uma
proposta mas eu ficaria a disposição
MP – Eu estou a disposição
PC – Se você tiver algum comentário final ou alguma coisa que você acha
MP – O que eu gostaria realmente, eu não sei se é utopia da minha parte, lógico que eu gostaria de
ver uma relação direta do Museu com o Sítio Arqueológico, tem (+) hoje tem, mas o ideal seria se
tivesse uma relação na frente. Por que quando a gente fala desse turismo de momento (+) teve uma
vez que eu passei um carnaval aqui em Niterói, que eu fiquei assustado. Existem fotos, talvez você
procure no arquivo do IPHAN, existe uma foto que eu tirei em’ cima’ aqui do muro, uma foto
montada por que montei com várias fotos mostrando como era a ocupação aqui na frente. Tantos
carros que tinham, eu subi na ponta aqui’ perto da colônia e tirei da praça em frente ao Sítio, era
muito carro. E aí você que a população que tinha aqui / tinha briga de ônibus, tinha briga de vans,
motoristas de vans, o cheiro era deprimente e era um momento de carnaval. Pode-se dizer que, não
vou falar cem por cento por que senão eu vou me incluir nessa, mas eu acho que a maioria não sabia
que tinha um Museu de Arqueologia aqui, sabe que existe as ruínas mas não sabe que existe o
Museu (+) e pode-se falar que é o único Museu de Arqueologia de Niterói. Aí eu acho que’ não existe
uma valorização, seja institucional / não falo pelo IBRAM não, até por que o IBRAM esta fazendo a
parte dele e eu acho que o Museu melhorou bastante com o IBRAM depois, quando eu falo
institucional é a Prefeitura que de repente poderia valorizar mais. Eu não sei se poderia fazer um
trabalho junto com a Prefeitura, junto com Secretaria Estadual (++) para valorizar mais o canto de
Itaipu e quando eu falo isso, eu não falo só para o Museu não. Canto de Itaipu a gente tem, o Museu
de Itaipu, na verdade tem Ruínas O Recolhimento de Santa Teresa tombado pelo IPHAN, não é o
Museu que é tombado, são as Ruínas do Recolhimento de Santa Teresa (+), que graças a deus tem
um museu dentro das ruínas, nós temos o Sítio Arqueológico Duna Grande, temos a Igreja São
Sebastião de Itaipu que é tombada pelo Inepac, temos as Ilhas do Pai, da Mãe e da Filha que são
tombadas pelo Inepac, temos o Morro da Andorinha, face vontade para Itaipu tombada pelo Inepac,
a Praia de Itaipu também, o Sítio Arqueológico Duna Grande que um Sítio Arqueológico, protegido
pela lei de arqueologia que tem processo de tombamento. Quer dizer, olha o valor histórico que tem
Itaipu (+) mas a maioria da população de Niterói não sabe desse valor, não tem conhecimento desse
valor. Eu não sei, acho que de repente as instituições tem medo, ou seja a Prefeitura ou o Estado, de
fazer qualquer coisa aqui por causa desse valor arqueológico histórico, realmente eu não sei’. Por
que a gente vê intervenção em Camboinhas, vê intervenção em São Francisco, vê intervenção em
Itaquatiara mas Itaipu não querem fazer, não sei se é medo se é reação o que é. Mas eu acho que
deve ser feito um trabalho junto’ (+) com todas as instituições para tentar revitalizar isso, projeto nós
118
temos. Fora esse de noventa e dois, teve o Projeto Orla (+) que tentou valorizar aqui, teve o projeto:
da secretaria de desenvolvimento: da pesca, o último agora que foi feito. Quer dizer, projeto tem, o
que tem que ter é vontade política para executar isso. E isso me da um pena por que:: Itaipu poderia
estar melhor (+) mas ao mesmo tempo eu não sei se a atuação do IPHAN assusta / essa é uma linha
muito tênue, eu não consigo ver ainda, se Itaipu não foi ????? é por que o IPHAN esta aqui brigando
por isso, eu não sei, mas seria muito interessante um relação direta’ com a Duna, existe essa relação
direta com a Duna? Existe. Existe até visualmente (+) se a gente esta na frente do Museu a gente vê a
Duna, mas eu queria que tivesse uma: intervenção física e urbanística que levasse para essa relação,
para quem entrasse verificasse ´´ olha tem um relação aqui e tal`` / eu lembro quando eu fiz um
projeto em noventa e seis, eu fiz um:: (++) uma rosa dos ventos estilizada, por que eu coloquei uma
rosa do ventos no ponto (+) central e que cada ponta dessa estrela apontava para um monumento,
até para a pessoa ver que tem um monumento aqui e tal. A população de Niterói não sabe,
infelizmente não sabe que tem isso aqui. E aí que a gente via que, não sei se isso acontece hoje,
quando fiz esse projeto, que quem vem para Praia de Itaipu, a maioria não morador de Niterói, é
morador de São Gonçalo, Itaboraí e algumas cidades da Baixada. O morador de Niterói geralmente só
vem para cá depois das quatro horas da tarde, ele vem para almoçar nos bares de Itaipu, ele não vem
para frequentar a’ praia. Então até as quatro horas você pega morador de: fora, o morador de Niterói
vem depois das quatro horas da tarde, eu não sei se isso acontece ainda, mas provavelmente sim.
Tanto é que se você reparar as linhas de ônibus, você tem uma linha de ônibus que vem de Niterói,
tem outras que vem de São Gonçalo e inclusive da Baixada e os ônibus que vem do Rio as vezes vem
lotado, por que de repente quem esta na zona da Leopoldina no Rio, esta na Baixada, prefere vir’
para Itaipu, pegar ônibus para vir para Itaipu do que ir para Barra da Tijuca. E tem que falar uma
coisa também, quem vem aqui é muito bem tratado, em Itaipu, aqui ninguém maltrata ninguém não,
pelo menos todo mundo é bem recebido aqui. Só eu que não sou bem recebido por que eu sou
fiscalização, ninguém gosta de mim mas isso é brincadeira / Pedro acho que é isso
PC – Então vamos fechar com uma relação prática (+) da relação IPHAN e Duna. Existe algum projeto
atual correndo no IPHAN sobre a ocupação das casas dentro do perímetro da Duna? Já existe alguma
resolução, algum apontamento ou alguma coisa que possa ser executada em breve ou a gente possa
esperar alguma coisa?
MP – Boa pergunta, eu não sei, eu acho que sim por causa de algumas intervenções que foram
levantadas agora (+) e estão sendo encaminhadas no Ministério Público (+) mas efetivamente se tem
alguma decisão tomada eu não sei te dizer, não sei mesmo, isso teria que ser levantado com a
PROFER.
119
APÊNDICE III – Transcrição de Entrevista: Mestre Cambuci
PC – Boa tarde, eu estou aqui com o senhor Aureliano Matos de Souza, conhecido como Cambuci,
pescador tradicional daqui da Praia de Itaipu
AMS – Obrigado
PC – Hoje a gente vai fazer aquela entrevista que nós combinamos, ver as suas percepções sobre a
Duna e algumas perguntas rápidas
AMS – Pode ficar tranquilo que eu responderei tudo aquilo que eu sei e tudo aquilo que eu (+) ainda
alcancei né
PC – Perfeito. Então Cambuci, a minha primeira pergunta aqui, quando eu fiz para as outras pessoas
ela se aplicava melhor. Quantos anos e desde quando você teve contato com o Museu e com a Duna.
Mas no seu caso você esta aqui antes do Museu né
AMS – A´´ a legalização e o Museu depois que vocês né / Depois que aquilo ali virou museu né, isso
esta certo. Por que isso aí (+) eu te responderei o que eu alcancei desde o meu entendimento de ser
humano, que eu passei a compreender e ver as coisas para poder lhe explicar. Eu sou nascido e
criado aqui em Itaipu, nós morávamos onde: do lado de lá do canal agora que antes não existia canal,
aonde estavam o índios que foram retirados. Ali na parte de baixo tinha mais ou menos de doze a
quinze famílias de pescadores, na parte de baixo da praia, ali na restinga, na parte do lado na lagoa
tinha também mais ou menos de dez a doze famílias. Então reduzindo na parte de frente para o mar
e de fundos para o mar dando de frente para a lagoa, conclusão que deve ter por volta de trinta
famílias, barracos de tábua, só de pescador e o campo era restinga pura, não tinha nada.
AMS – Então você me perguntando sobre (++) a Duna, ela praticamente pelo que e::u com esse
sessenta anos que eu vou completar agora, eu sou de nove de agosto de mil novecentos e cinquenta
e quatro / desde a época dos meus oito anos de idade até meus sessenta anos que eu vou completar
agora, vamos colocar cinquenta anos, se a duna fosse medida radialmente, TODA a duna, eu diria
para você que ela não tem a metade. Por que a duna é o seguinte, a duna ela(++) é quase que uma
ilha de areia, por cima dela que é a parte que da para o fundo da lagoa, era toda de pitangueira e daí
pra cá veio o dono de Itaipu, Pizarro, devastou muito a duna mas devastou muito a duna mesmo, se
você olhar pela praia que você vê a parte que tem muita areia preta
AMS – Ele era o dono de Itaipu, só que ele não era dono da duna. Na época as coisas eram mais
pacatas, fiscalizações e essas coisas todas não existiam tanto rigor conforme existe agora. As coisas
eram outras, isso aí eu estou falando de cinquenta anos atrás mas isso tem mais um pouquinho,
coloca aí cinquenta dois, cinquenta quatro, cinquenta três anos mais ou menos que ela vem sendo
120
devastada. Então a duna ia até dentro da lagoa, dentro da lagoa. A lagoa na minha época, quando
dava as enchentes em dezembro e janeiro que lagoa ficava gorda e ia até ali o cemitério aí o
pescadores numa faixa de mais de cem pescadores iam e dentro de dois dias abriam a lagoa, faziam
um canal mais ou menos de (2,5) dois metros de largura e um metro de profundidade mas com a
caída para o mar, começava raso e vinha aprofundando mas só abria quando a lagoa estava próxima
ao mar, quando ela enchia. Então se abrisse a lagoa mais ou menos dez horas da manhã, quando
fosse cinco horas da tarde ela já estaria com diâmetro de quase cinquenta metros de boca
PC – Ela estourava né
AMS – Era como se fosse uma bolsa de água estourando, era a mesma coisa, aí depois quando ela ia
amansando a própria natureza enchia. Então pelo meu entendimento hoje em dia da natureza, essa
duna, na minha imaginação, há anos atrás ela deveria ser ligada com duna de onde morou os índios
por que ali tinha uma duna
AMS – Vai lá que você vê, devastou para a lagoa que não tem nada a ver e devastou para dentro da
lagoa. Para o lado e para frente da lagoa
PC – Deixa eu te perguntar então já que você falou da Duna Pequena. A Duna Grande e a Duna
Pequena, você disse que achava que era uma coisa só mas elas pareciam visualmente uma coisa só
antes do canal?
AMS – Olha, você olhava parecia uma ilha separada pela natureza, na minha opinião há anos e anos
elas eram ligadas uma a outra, isso deveria ter um estudo mas na visão quase que certeza
AMS – Iguais, a altura era igual, ela não era baixinha não.
AMS – Todas as duas tinham, ossos e tudo. Só o estudo arqueológico para fazer uma análise do
tempo
PC – Você disse que hoje a duna não é nem metade do que ela era antes, por que?
AMS – Foi muito devastada, apanharam muita areia para loteamento, as máquinas devastaram para
dentro da lagoa, beira da praia
PC – E você tem uma época mais ou menos na cabeça em que isso aconteceu?
AMS – Quando eu era rapazinho era muito caminhão apanhando areia ali, era muita máquina
espalhando (areia) / ela vem sofrendo essa devastação a pelo menos quinze anos firme, aí começou
121
a modernização, a policia federal veio e prendeu. Daí pra cá ficou preso o falecido Valdermar aí
parou
PC – Então pelas minhas contas você nasceu em mil novecentos e cinquenta e quatro, aí você que
quando você era novo, com oito a dez anos você via o pessoal tirar areia da duna, então mais ou
menos em mil novecentos e sessenta e quatro. Aí ficou tirando uns dez a quinze anos
AMS – Aí Depan também devastou um pouco, o vento também devastou ela com decorrer do tempo
PC – Deixa eu te fazer outra pergunta. Depois que aquilo ali virou o Museu (+) em mil novecentos e
setenta e sete, você percebia que o pessoal que trabalhava tinham alguma relação com a Duna? Se
eles sempre trabalharam na Duna no sentido de mostrar para as crianças o que é, sempre teve coisa
da Duna dentro do Museu?
AMS – Você quer dizer o pessoal que veio trabalhar aqui no Museu?
PC – É
AMS – O Museu veio sendo modernizado por que aquilo ali estava largado, as pessoas usavam como
banheiro, era uma sujeira horrível. Então foi uma grande melhora que veio para Itaipu por que é um
cartão postal da natureza antiga. Conclusão, foi uma grande coisa aquilo ali, é uma história do Brasil
assim como você vê no Peru e México sobre a história antiga e o Brasil também tem que acompanhar
além de ser um grande cartão postal para Itaipu e fora isso é de uma grande serventia para o estudo
PC – Eu não digo o Museu na época do recolhimento, das ruínas, na época que foi construído. Eu
digo Museu agora, a partir da década de setenta.
AMS – Você quer saber o que eu acho do Museu depois que se transformou no Museu Arqueológico.
PC – Isso
AMS – Foi uma coisa boa, uma coisa útil por que aquilo estava abandonado antes de ser o Museu
transformado conforme está agora aquilo estava em ruínas por que ninguém tomava providência, as
pessoas vinham e sujavam. Essa modernização serviu para tudo, trazer um cartão postal, para quem
estuda ou quer saber alguma coisa sobre história, amanhã ou depois quer saber quantos tinha a
Duna ou quantos anos tem o Museu. Foi uma coisa que faz parte do estudo, um coisa útil, uma coisa
boa
PC – Você disse que depois de um tempo apertou o cerco no pessoal que estava tirando areia da
Duna, veio policia federal e tudo mais
AMS – Depois que a polícia federal tomou providencia acabou, ninguém mais tirou
122
PC – Você lembra quantas vezes a Duna já foi cercada? Por que assim, ela não era cercada né
PC – Há pouco tempo né
AMS – Eu não posso te responder essa história de quadriciclo por que eu vou pescar cedo. Gente eu
sei que sempre tem mas são poucas pessoas também, não atrapalha e não tem nada a ver a pessoa
subir ali. Recentemente não teve coisa que pudesse prejudicar, devastar ou destruir. E mesmo assim
se tiver alguma coisa, a pessoa imediatamente denúncia e imediatamente a polícia toma uma
providência
PC – Foi até o que aconteceu recentemente, um cara achou algo lá e veio falar com a gente no
Museu. Uma outra pergunta que eu tenho é a seguinte, para quem não conhece como você que sabe
que lá tem osso e um monte de outras coisas, para quem chega de fora e olha a Duna, aquilo é só
uma duna e não sabe a quantidade de história ali dentro, você acha que isso melhorou de um tempo
pra cá e que as pessoas tem começado a perceber que aquilo ali é um sítio arqueológico?
AMS – Olha, cada um no seu cada um e cada caso é um caso. Isso tudo que eu estou lhe
respondendo serve para um preservação para quem vem visitar e vocês tem explicações para quem
vem se informar e estudar. Então essas coisas se conservando, a Duna e o Museu, se tornam um
coisa útil. É o caso da Duna, vocês que trabalham no Museu tem alguma coisa para informar, para
educar, para explicar para quem vem visitar e estudar e isso tem valor para o futuro que terá o
arquivo para informar sobre o local para a próxima geração
PC – Você percebe se além do Museu existe alguma outra instituição que cuide da Duna?
AMS – A Duna eu não vejo ninguém cuidar a não ser a própria natureza por que a Duna esta lá
cercada e não sei responder se tem alguém vigiando ali por que eu quase não passo por ali, meu
negócio é mar, casa, trabalho, pescaria. Mas pelo o que eu vejo de longe, ela esta do mesmo jeito
que estava, de um anos para cá não houve degradação nenhuma sobre a ela, degradação nenhuma
na natureza dali , ela parou, estacionou e eu acho que do jeito que ela esta deve durar muitos anos
por que ninguém esta fazendo nada de grave e nem pode fazer né. Agora se tem guarda eu não sei, o
Museu eu sei que tem agora lá na Duna eu não sei mas também não é preciso por que o INEA esta
sempre aí, o INEA não daqui sempre vigiando. Eu vejo o INEA todo dia aí, pode até não ficar o dia
todo mas pelo menos duas vezes por dia
PC – Para gente fechar só mais uma pergunta, você disse que o Museu trabalha para dar informação
para o visitante mas você que o pessoal que mora aqui percebe a Duna como um lugar histórico?
AMS – Eu não posso te responder com certeza por que as pessoas que moram aqui ultimamente eu
não conheço, mudou muito, a raiz nossa não chega a dez por cento. Para gente pescador, aquilo
sempre foi uma história, não vai ser uma história, sempre foi. Agora esse pessoal aí eu não tenho
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uma resposta para te dar por que eu conheço bem pouco. Sou nascido e criado aqui e os moradores
que tem aí eu não conheço. Mas para os pescadores que já morreram e para os que ainda estão aqui,
o Museu sempre foi uma história, com certeza
PC – A Duna também?
AMS – Sempre foi, sempre foi. As pessoas sempre vem e perguntam sobre os índios, jesuítas e coisa
e tal. Só aqui vocês tem os arquivos, as coisas com mais clareza para informar né
AMS – Olha nós não procurávamos não, esse negócio de osso quem procurava era Ildo que quando
começaram a escavar acharam ossos e ele estava no comando da colônia e ele se interessou a
apanhar ossos lá, aí veio a polícia federal com arqueólogos e coisa e tal. Isso aí mais ou menos a
quarenta anos atrás que começou esse negócio de ossos aí o Museu veio se transformando, se
modificando, se ampliando sob isso e chegou aonde esta mas foi o Ildo que se interessou realmente
por isso
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ANEXO I – Quadro da subdivisão dos bens tombados de acordo com a
comissão dos monumentos (CHOAY, 2006).
Subcategoria Responsáveis
II - Manuscritos
Préquigny, Dacier, Poirier
III - Forais e selos
125
ANEXO II – Quadro das instruções complementares de 3 de março de 1791
(CHOAY, 2006).
126
ANEXO III - Representação das medições do Sítio Duna Grande com base no
ponto i3
127
ANEXO IV - Representação das medições do Sítio Duna Grande com base no
ponto i8
128