Você está na página 1de 129

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

MUSEU NACIONAL

PEDRO COLARES DA SILVA HERINGER

MUSEU COMO FERRAMENTA DE PROTEÇÃO A SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS:


O Caso do Sítio Arqueológico Duna Grande e o Museu de Arqueologia de
Itaipu

Rio de Janeiro
2014
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
MUSEU NACIONAL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUEOLOGIA

Pedro Colares da Silva Heringer

MUSEU COMO FERRAMENTA DE PROTEÇÃO A SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS:


O Caso do Sítio Arqueológico Duna Grande e o Museu de Arqueologia de
Itaipu

Dissertação de Mestrado submetida ao


Mestrado em Arqueologia, Museu Nacional,
Universidade Federal do Rio de Janeiro -
UFRJ, como requisito necessário à obtenção
do grau de Mestre em Arqueologia.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Claudia Rodrigues Ferreira de Carvalho

Rio de Janeiro
2014
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
MUSEU NACIONAL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUEOLOGIA

PEDRO COLARES DA SILVA HERINGER

MUSEU COMO FERRAMENTA DE PROTEÇÃO A SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS: O


Caso do Sítio Arqueológico Duna Grande e o Museu de Arqueologia de Itaipu.

Dissertação de Mestrado submetida ao Mestrado em Arqueologia do Museu


Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos
requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Arqueologia.

Banca examinadora:

____________________________________________________

Professora Doutora Claudia Rodrigues Ferreira de Carvalho.

____________________________________________________

Professora Doutora Rita Scheel-Ybert

____________________________________________________

Professora Doutora Alejandra Saladino

Rio de Janeiro, 29 de maio de 2014.


AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos aqueles que me ajudaram a passar por mais esta etapa de
minha vida. Em especial aos meus pais e avós que sempre respeitaram e apoiaram
minhas decisões.
Agradeço à minha orientadora, Claudia, que em meio a tantas atribuições e
responsabilidades conseguiu garantir que meu trabalho se mantivesse nos trilhos.
Agradeço aos membros da banca, Rita e Alejandra, que gentilmente
aceitaram analisar os resultados desta pesquisa.
Agradeço aos colegas de turma pela camaradagem e pelos momentos de
reflexão.
Agradeço ao Diogo e aos professores Andersen e Madu pela preciosa ajuda
nos trabalhos de medição do sítio.
Agradeço à equipe do Museu de Arqueologia de Itaipu e aos servidores do
IPHAN que me auxiliaram no levantamento de dados para a pesquisa.
Agradeço à Vera, ao Mauro e ao Mestre Cambuci que colaboraram com o
trabalho através das sessões de entrevista.
Agradeço aos meus amigos, que estiveram presentes nas horas boas e ruins,
em especial ao Rafael e à Nayara, sem os quais este trabalho não seria possível.
RESUMO

O museu – e o museu de arqueologia, em especial – tem sido o principal mecanismo


de aproximação do público com os sítios arqueológicos. Essa aproximação se dá,
geralmente, através do registro arqueológico extraído que, depois de tratado, passa
a figurar nas exposições institucionais. Entretanto, poucas são as experiências em
que os museus se apropriam do sítio arqueológico como um todo, de modo a
colaborar ativamente para sua valorização. O presente trabalho tem por objetivo
analisar estas questões utilizando como estudo de caso a relação estabelecida entre
o Museu de Arqueologia de Itaipu (Niterói-RJ) e o sítio arqueológico Duna Grande
(Niterói-RJ). Através da realização de entrevistas, trabalho de medição do sítio e
levantamento documental e fotográfico, e com base em um cabedal teórico apoiado
nos conceitos de patrimônio, arqueologia pública e musealização, pretendeu-se
entender de que maneira as ações desenvolvidas pelo museu, desde o momento de
sua criação, impactaram no estado de preservação e na evolução da compreensão
do visitante acerca do sítio arqueológico Duna Grande.

Palavras-chave: Arqueologia. Museologia. Museu de Arqueologia de Itaipu. Sítio


Arqueológico Duna Grande. Patrimônio Cultural
ABSTRACT

The museum - and the archaeology museum, in particular - has been the main
device of approximation between the general public and archaeological sites.
Usually, this approximation is given through the extraction of archaeological data and
its exhibition in museum galleries. There are, however, few experiences where the
museum appropriates the site as a whole in order to effectively collaborate to the
elevation of its cultural value. This study aims to examine these issues using as a
case study the relationship between the Museum of Archaeology of Itaipu (Niterói -
RJ) and the Duna Grande archaeological site (Niterói - RJ). By conducting interviews,
measuring work of the site, and documentary and photographic survey, and based
on a theoretical leather supported by the concepts of cultural heritage, public
archeology and musealization, we sought to understand how the actions undertaken
by the museum, from the moment of its creation, impacted the state of preservation
and the evolution of the visitor's understanding about the Duna Grande
archaeological site.

Keywords: Archaeology. Archaeological Museum of Itaipu. Cultural Heritage. Duna


Grande Archaeological Site. Museology.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 8
1. A FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 13
1.1. Patrimônio 13
1.1.1. Entendimento do conceito moderno de patrimônio e 14
suas políticas de proteção
1.1.2. Configuração das leis de proteção ao patrimônio e do 16
estudo sobre a área no panorama brasileiro
1.2. Musealização e Memória 27
1.2.1. Musealizando o espaço 30
1.3. Arqueologia Pública 33
2. REVISÃO DE LITERATURA E CONTEXTUALIZAÇÃO 36
2.1. Duna Grande: um breve histórico e sua situação atual 36
2.1.1. A tradição Itaipu 38
2.2. O Museu de Arqueologia de Itaipu (MAI) 41
2.2.1. O Projeto de Criação 41
2.2.2. Inauguração e atuação 42
2.2.3. Histórico do prédio, do território e da coleção 43
3. MAPEAMENTO DAS AÇÕES 47
3.1. Exposições e atividades educativas 48
3.2. Levantamento histórico fotográfico 58
3.3. Entrevista com moradores e pesquisadores 72
3.3.1. Elaboração de Roteiro 72
3.3.2. Realização das entrevistas 75
3.3.3. Transcrição das entrevistas 76
3.4. Medição do sítio da Duna Grande 77
4. RESULTADOS OBTIDOS 81
4.1. Sobre a evolução do estado de conservação da Duna Grande 81
4.2. Sobre a responsabilidade de proteção da Duna Grande 84
4.3. Sobre o impacto das ações do Museu de Arqueologia de 87
Itaipu no estado de preservação do sítio arqueológico Duna
Grande e a reprodutibilidade do modelo
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES FINAIS 91
Fontes 93
Referências Bibliográficas 94
Apêndice I – Transcrição da Entrevista: Vera Gigante 102
Apêndice II – Transcrição da Entrevista: Mauro Pazzini 108
Apêndice III – Transcrição da Entrevista: Mestre Cambuci 120
Anexo I – Quadro da subdivisão dos bens tombados de acordo com 125
a comissão dos monumentos (CHOAY, 2006).
Anexo II – Quadro das instruções complementares de 3 de março de 126
1791 (CHOAY, 2006).
Anexo III – Representação das medições do Sítio Duna Grande 127
com base no ponto i3
Anexo IV – Representação das medições do Sítio Duna Grande 128
com base no ponto i8
INTRODUÇÃO

A política de construção e proteção do patrimônio cultural brasileiro, que tem


por marco fundador o Decreto Lei n° 25, de 1937, recentemente completou 75 anos.
Se voltarmos um pouco mais no tempo e considerarmos a existência de propostas
anteriores, como a do deputado Luís Cedro, em 1923, ou o projeto do Deputado
José Wanderley de Araújo Pinho, em 1930, chegamos à conclusão que a discussão
sobre a definição do que é patrimônio nacional e as maneiras de protegê-lo vêm
sendo pensadas no âmbito da implementação de políticas públicas há 90 anos.
Inicialmente, o principal mecanismo utilizado pelo estado para garantir a
preservação da integridade daqueles bens escolhidos como patrimônio nacional foi o
tombamento, instrumento orientado a assegurar a integridade física dos bens
materiais móveis e imóveis que compõem o patrimônio histórico e artístico Nacional.
Com o passar dos anos, o entendimento acerca do conceito de patrimônio e,
ainda, o juízo sobre o que deve ou não ser considerado patrimônio, sofreram
grandes mudanças. Do mesmo modo, as ferramentas criadas e utilizadas na
proteção desses bens também passaram por amplas transformações. Novas
legislações e metodologias foram sendo elaboradas para acompanhar a grande
ampliação do campo do patrimônio, tanto no que se refere ao conceito e sua
concepção teórica, quanto no que se refere ao número de bens - agora materiais e
imateriais - que compõem um conjunto ao qual convencionamos chamar patrimônio
cultural.
O principal meio de proteção e perpetuação de um bem cultural consiste em
sua identificação e apropriação pela sociedade e, em especial, para o grupo cuja
carga simbólica do bem dialoga mais diretamente. Quando um determinado
monumento se encontra inserido num contexto social onde é valorizado e
preservado pela comunidade local, a necessidade da presença do poder fiscalizador
do estado se faz muito menor, pois cada indivíduo é capaz de atuar como elemento
multiplicador das informações relativas ao bem, de modo a contribuir, através da
disseminação do conhecimento, para a proteção do mesmo.
Uma relação harmoniosa da sociedade com um bem cultural, no sentido de
sua apropriação e preservação, nem sempre é um dado garantido. Existem casos,

8
como o da cidade de Ouro Preto, no estado de Minas Gerais, em que uma
considerável parcela de moradores foi, inicialmente, radicalmente contra o
tombamento do conjunto arquitetônico e urbanístico da cidade, pois tiveram suas
casas ou locais de comércio incluídos no processo – o que afetou diretamente o seu
modo de vida em muitos aspectos, sendo o principal a impossibilidade de realizar
qualquer intervenção arquitetônica sem a prévia autorização do Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
No caso dos sítios arqueológicos, tema central deste trabalho, a população
muitas vezes simplesmente desconhece sua existência, ou a ignora, por não
compreender e/ou não se identificar com os testemunhos culturais ali manifestos. A
presença das ações de educação patrimonial se fazem especialmente importantes
na elevação das pontes que ligam o patrimônio arqueológico à comunidade em seu
entorno, pois nesse tipo de atividade são encontradas as ferramentas necessárias
para promover – e, porque não, criar – o sentido de identificação, apropriação e
pertencimento necessários para garantir a legitimidade e a proteção do bem.
Dentre as principais instituições que lidam diretamente com a salvaguarda, a
pesquisa e a disseminação de informação sobre os bens culturais estão os museus.
O museu pode ser pensado como a ferramenta mais adequada para lançar luz sobre
a cultura material. O museu – e o museu de arqueologia, em especial – tem sido o
principal mecanismo de aproximação do público com os sítios arqueológicos. Essa
aproximação se dá, geralmente, através do registro arqueológico extraído que,
depois de tratado, passa a figurar nas exposições institucionais. Entretanto, em
alguns casos, o próprio sítio arqueológico passa por um processo de musealização
fazendo com que o visitante tenha a possibilidade de encará-lo como uma grande
exposição.
O presente trabalho tem por objetivo analisar como os museus, enquanto
ferramentas de proteção ao patrimônio, têm funcionado no auxilio à preservação de
sítios arqueológicos.
Dentre o panorama nacional de instituições museológicas que se encaixam
em um contexto em que estão diretamente associadas a sítios arqueológicos, a
relação entre o Museu de Arqueologia de Itaipu, em Niterói (no estado do Rio de

9
Janeiro), e o sítio arqueológico da Duna Grande, localizado a cerca de trezentos
metros do museu, foram escolhidos como estudo de caso.
A escolha do sítio arqueológico a ser pesquisado se deu devido à relevância
da Duna Grande no cenário arqueológico nacional e ao seu contrastante estado
precário de preservação. O desconhecimento da importância cultural do sítio, tanto
por moradores da região quanto por frequentadores da Praia de Itaipu (próxima ao
sítio), aliado à precária atuação dos órgãos responsáveis pela atividade de
fiscalização, são alguns dos fatores responsáveis pela degradação da Duna Grande.
Para além dos fatores citados acima, as ações de proteção do sítio em questão
assumem um forte valor político, econômico e social, haja visto o espantoso
crescimento da especulação imobiliária da região e a consequente ocupação
irregular de parte do terreno do sítio como área de moradia.
A outra ponta do estudo de caso, o Museu de Arqueologia de Itaipu, está
ligada à proteção da Duna Grande – através da construção de conhecimento e
disseminação do mesmo – desde a década de 1960, quando o arquiteto do IPHAN,
Edgard Jacintho, apoiado por Renato Soeiro, então diretor do Instituto, começaram a
pensar seu projeto de criação. Instalado nas ruínas de um antigo recolhimento de
mulheres, a cerca de trezentos metros do sítio arqueológico, o MAI se apropria do
sítio através de variados tipos de ações desenvolvidas com o objetivo de cumprir
com sua missão institucional. Ao longo de seus 35 anos de existência o Museu de
Arqueologia de Itaipu é a única instituição que atua – ainda que de modo limitado –
de forma continuada na preservação do sítio Duna Grande.
Com objetivo de analisar e compreender o impacto das atividades dos
museus, e em específico do MAI, no estado de preservação dos sítios
arqueológicos, sendo a Duna Grande o caso em estudo, a fundamentação teórica
deste trabalho, tema focalizado no primeiro capítulo, terá por base um tripé formado
pelos conceitos de patrimônio, arqueologia pública e musealização.
Através de uma rápida discussão sobre o entendimento do conceito moderno
de patrimônio e sobre como ele é utilizado pelo poder estatal no panorama da
preservação cultural brasileira, pretendo delimitar qual é o conjunto de pensamentos
e práticas historicamente associadas a este conceito, principalmente no campo da
arqueologia, quando apropriado pelo estado.

10
Para além da compreensão do que é – e das razões que levam uma
determinada coisa a ser – patrimônio na concepção do estado brasileiro, este
trabalho pretende investigar, através da análise de produções que se dedicam a
pensar o assunto, como é, ou costuma ser, a aceitação da elevação desta
determinada coisa ao status de patrimônio pela população diretamente afetada, seja
ela um pequeno núcleo de indivíduos um uma conjuntura a nível nacional.
A arqueologia pública, segundo item do tripé proposto para a composição da
base conceitual deste trabalho é uma prática diretamente ligada à conexão
estabelecida entre o entendimento do que é patrimônio na visão do estado e a
aceitação desta condição pela parcela da sociedade afetada.
O termo "público", em arqueologia pública, faz referência à utilização da
ciência para desenvolvimento e o benefício das comunidades e segmentos sociais
envolvidos ou afetados pela pesquisa arqueológica. Entretanto, o ponto de partida
para o desenvolvimento das ações que visam retorno direto para a sociedade é a
legitimação do valor cultural de um determinado sítio, monumento, conjunto de
peças, etc. E essa legitimação, de acordo com a nossa legislação voltada para o
campo da arqueologia, parte, necessariamente, do poder estatal.
Pensar arqueologia pública, portanto, é pensar patrimônio. A compreensão do
desenvolvimento das práticas associadas ao primeiro conceito, quando relacionadas
ao poder legitimador e aceitação social do segundo, se faz necessária para o
entendimento do terceiro item que embasa a fundamentação teórica deste trabalho,
a musealização.
A musealização, assim como a patrimonialização, envolve uma mudança
significativa no status de alguma coisa. Entretanto, musealizar algo – apesar deste
ser um dispositivo de caráter seletivo e subjetivo -– independe da ação estatal. A
musealização, aqui entendida como ferramenta típica das instituições museológicas,
assume o papel de instrumento capaz de construir a ponte entre o patrimônio e a
sociedade, de modo a garantir o retorno pretendido pela arqueologia pública.
As ações desenvolvidas pelo Museu de Arqueologia de Itaipu, assim como o
modo como o sítio é apropriado por esta instituição e o impacto deste contexto no
estado de preservação do sítio arqueológico da Duna Grande serão analisados,
portanto, com base no alicerce teórico acima apresentado.

11
No segundo capítulo deste trabalho, trato de fazer uma contextualização
sobre a própria Duna Grande (identificação, registro, pesquisas realizadas, material
coletado, etc.) e sobre o Museu de Arqueologia de Itaipu (criação, apropriação da
duna, missão institucional, etc.). É abordada, ainda, a “tradição Itaipu”, conceito
criado para fazer referência a um determinado grupo cultural cujos vestígios
encontrados na Duna Grande colaboraram para a identificação. A lógica pensada
para esta parte do trabalho foi a de estabelecer uma relação contextualizada entre
as duas pontas do estudo, a Duna e o Museu. Desta maneira, tornou-se possível
perceber a interação dos elementos estudados através de uma perspectiva mais
ampla, com base nos documentos analisados.
No capítulo seguinte, intitulado “Mapeamento das Ações”, tento mapear o
conjunto de ações desenvolvidas pelo MAI – ao longo de seus trinta e seis anos de
existência – no sentido de colaborar para com a preservação do sítio Duna Grande.
Foram levantadas todas as atividades educativas do Museu, com especial atenção
para aquelas que, de alguma maneira, abordassem o sítio arqueológico.
Paralelamente, tento traçar um histórico de degradação do sítio, através da
realização de entrevistas com moradores da região e pesquisadores ligados à Duna
Grande. Realizo, ainda, um levantamento histórico-fotográfico do Canto de Itaipu, na
tentativa de acompanhar, visualmente, a evolução do estado de preservação do sítio
ao longo dos anos. Por fim, no intuito de complementar a análise sobre a
conservação do sítio, descrevo o trabalho de medição realizado e comparo os
resultados com as dimensões anteriores.
O capítulo de número quatro trata da quantificação das ações apontadas no
capítulo anterior e da análise de seus resultados. Os resultados obtidos foram
interpretados associados ao contexto em que se inserem de modo a entender, de
fato, qual o impacto das atividades desenvolvidas pelo Museu de Arqueologia de
Itaipu no estado de preservação do sítio Duna grande.
Ao término, apresento as considerações finais, onde sintetizo os resultados
obtidos, e trato de contextualizá-los com cenários das políticas públicas de cultura
do Brasil.

12
CAPÍTULO 1: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.1. Patrimônio

Patrimônio é uma ideia. Pensar patrimônio é pensar posse, valor, identidade e


memória. O patrimônio comunica, ensina, mostra, transmite e alerta. O patrimônio
existe?
Para José Reginaldo Gonçalves (2009), patrimônio é um pressuposto.
Discute-se sua presença ou ausência, a necessidade ou não de preservá-lo, mas
sua existência é indiscutível. Não é possível rastrear a origem da ideia, mas muitos
estudiosos se dedicam a compreender em que ponto essa ideia se transforma em
uma categoria, e como essa categorização passa a estar presente na esfera do
poder estatal.
Se a ideia não tem começo ou fim, a categoria, por outro lado, vem sendo
lapidada há séculos. A inserção de uma determinada coisa em um conjunto de itens
que convém a um Estado chamar de patrimônio é um processo complexo com
inúmeras implicações de ordem política, econômica e social.
A utilização do termo patrimônio já foi de tal modo naturalizada em nosso dia
a dia que a insistência no clichê se faz absolutamente necessária: tanto a
delimitação da categoria quanto sua aplicação são ações tomadas por instituições
que têm departamentos, coordenações, comissões e, axiomaticamente, pessoas. A
categoria de patrimônio é, portanto, uma ferramenta política com características
seletivas e impregnada de subjetividade.
Neste capítulo, procuro dissertar sobre a origem da concepção moderna da
categoria de patrimônio através de uma análise de sua elaboração e utilização no
contexto da Revolução Francesa e na inauguração e atuação do Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional brasileiro. Ao longo do estudo sobre os
tópicos acima citados, pretendo mostrar como a indicação dos bens a figurarem
neste conjunto tão seleto está diretamente ligada à contextos específicos e, ainda,
entender como se dá a aceitação da elevação de uma determinada coisa ao status
de patrimônio pela população diretamente afetada.

13
1.1.1. Entendimento do conceito moderno de patrimônio e suas políticas de
proteção

As bases para a nossa política de preservação patrimonial, em que - de


acordo com a Constituição de 1988 - patrimônio é aquilo que faz referência à
identidade, à ação e à memória dos grupos formadores da sociedade brasileira,
remontam ao fim do século XVIII, no contexto da Revolução Francesa.
A configuração da política francesa de proteção aos monumentos históricos e
artísticos é resultado de uma grande disputa envolvendo os valores simbólicos,
políticos e econômicos aos quais o conjunto do patrimônio francês estava associado.
Não é de se estranhar que um dos primeiros atos jurídicos da Constituinte,
em 1789, tenha sido colocar os bens do clero, da coroa e dos emigrados à
disposição da população. Para além da questão simbólica da revolução libertária, o
novo regime necessitava recuperar moeda sonante.
Diante da incerteza sobre como proceder com os monumentos agora sob sua
responsabilidade, foi criada a comissão "dos Monumentos" com o objetivo de
organizar a gestão do patrimônio. Em seu livro intitulado A alegoria do patrimônio, a
historiadora Françoise Choay discorre sobre a função da comissão:

"Em primeiro Lugar, ela deve tombar [grifo da autora] as diferentes


1
categorias de bens recuperados pela Nação . Em seguida, cada categoria é
por sua vez inventariada [grifo da autora] e estabelecido o estado em que se
encontra cada um dos bens que a compõem (decreto de 13 de outubro de
1790). Por fim, e sobretudo, antes de qualquer decisão sobre sua
destinação futura, estes são protegidos e postos 'fora de circulação' em
caráter provisório, seja reunindo-os em 'depósitos', seja pela aposição de
selos, especialmente no caso de edifícios." (CHOAY, 2006)

Há, portanto, um esforço por parte da constituinte em garantir a integridade


dos bens até que se decida seu destino final. Já neste momento, o controle do
conjunto dos bens tombados passa pela elaboração de um inventário e da análise
do estado de conservação de cada um dos itens.

1
Ver Anexo I: Quadro da subdivisão dos bens tombados de acordo com a comissão dos
Monumentos (CHOAY, 2006).
14
As políticas de preservação - manifestas através da expedição de decretos e
criação de comissões - ao longo dos primeiros anos da Revolução variam
enormemente de acordo com o cenário político da época. Um olhar desatento
poderia entender as ações empreendidas como sendo um tanto contraditórias.
Quase que paradoxalmente aos esforços por preservar, demonstrados com a
criação da comissão "dos Monumentos" acima citada, o próprio Estado
revolucionário comandou ações destrutivas direcionadas ao patrimônio. Em 1791 a
Assembleia Legislativa decretou a transformação das estruturas metálicas de
catedrais e igrejas em peças de artilharia e a fundição de pratarias e relicários com
objetivo de fundear despesas e equipamentos militares. Um mês depois, contudo,
foram publicadas instruções complementares que trataram de amenizar os danos
causados pelas fundições. Foram estabelecidos critérios que determinavam a
conservação dos bens visados. Os critérios estabelecidos2 tinham relação com a
antiguidade do bem, com sua qualidade artística e seu valor técnico.
Apesar da distância temporal que as separa, algumas das dificuldades vividas
pelos revolucionários na França do fim do século XVIII, assim como algumas de
suas soluções, encontram similaridades na história do pensamento e da criação de
políticas para o patrimônio brasileiro. O enquadramento e categorização dos bens
tombados, a relação patrimônio/desenvolvimento econômico, assim como os
critérios adotados para se realizar o processo de tombamento ainda são alvo de
grandes discussões.
De modo geral, é possível perceber que os critérios utilizados para se definir o
que será ou não elevado à categoria de patrimônio e, portanto, receber atenção
diferenciada do estado, podem passar por transformações de acordo com o contexto
cultural, social, político, econômico de um determinado tempo. Devemos lembrar
que, em última instância, o status de patrimônio é definido por um determinado
grupo de pessoas e que cada uma delas tem diferentes experiências de vida,
diferentes formações, modos de pensar e motivações políticas e ideológicas
distintas.

2
Ver Anexo II: Quadro das instruções complementares de 3 de março de 1791 (CHOAY, 2006).
15
1.1.2. Configuração das leis de proteção ao patrimônio e do estudo sobre a
área no panorama brasileiro

Com base nas reflexões de Françoise Choay sobre as raízes da noção


moderna do conceito de patrimônio e da subjetividade de sua aplicação, é possível
pensar nas particularidades da constituição do campo do patrimônio no Brasil. Se no
caso francês a proteção aos monumentos históricos ocorreu no esteio dos
movimentos revolucionários, no caso brasileiro, foi o envolvimento de intelectuais
modernistas na execução das políticas federais que orientou, em grande parte, a
criação do conceito de patrimônio histórico e artístico nacional.
A historiadora e ex-funcionária do IPHAN, Márcia Chuva, ao abordar a
historicidade da noção de patrimônio em sua obra “Os arquitetos da memória:
sociogênese das práticas de preservação do patrimônio cultural no Brasil (anos
1930-1940)”, explicita as características inerentes desta noção e sua ligação com
surgimento dos Estados nacionais, a formação destes como nação, pautados pela
invenção de um passado nacional:

“[...] por um lado, o estabelecimento de relações específicas e


historicamente determinadas com o passado [...] por outro lado, a
materialidade – característica inerente à noção de patrimônio – remete
também à ideia de territorialização, da qual são substratos os sentimentos
de pertencimento e de posse.” (CHUVA, 2009, p.46-47).

As políticas de proteção ao patrimônio e a própria constituição deste campo


no Brasil se originam na criação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (SPHAN), oficializado no governo de Getúlio Vargas pela Lei nº 378, de 13
de janeiro de 1937, e na a promulgação do Decreto-Lei nº 25 de 30 de novembro de
1937, que organiza a proteção do patrimônio histórico e artístico nacional, elencando
procedimentos e atribuições do SPHAN. Apesar da existência de propostas
anteriores nesse sentido, como o anteprojeto do poeta modernista Mário de
Andrade, datado de 1936, e outras propostas ainda mais antigas – como as dos
deputados Luís Cedro, de 1923, e José Wanderley de Araújo Pinho, de 1930, e a
Inspetoria de Monumentos Nacionais, de 1933, vinculada ao Museu Histórico
Nacional, por exemplo – é com a criação do SPHAN e a regulação do Decreto-Lei nº

16
25/1937 que o patrimônio passa a integrar as políticas federais, no âmbito do Estado
Novo (entre os anos de 1937 e 1945).
A instalação do Serviço e da legislação de salvaguarda do patrimônio
histórico e artístico nacional se deu em um contexto de expansão da industrialização
e dos centros urbanos, parte de uma política de Estado que visava uma nova
colocação do Brasil no cenário da economia mundial. Frente à crescente
industrialização e as consequentes alterações realizadas por esses processos nos
tecidos urbanos de diferentes partes do país, os intelectuais brasileiros passaram a
ampliar seu envolvimento e, simultaneamente, promover releituras de vanguardas
europeias enquanto apontavam a necessidade de salvaguardar os monumentos
históricos do país.
No cenário autoritário e de caráter centralizador do Estado Novo de Getúlio
Vargas, marcado pela emergência do capitalismo e da burguesia industrial, além de
uma classe média técnico-burocrática (BRESSER-PEREIRA, 2001), esta
preservação do patrimônio se deu, na esfera federal, em duas frentes: pela definição
do patrimônio histórico e artístico nacional como “o conjunto dos bens móveis e
imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse público, quer por
sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional
valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico”, no artigo 1º do Decreto-
Lei nº 25/1937; e pela criação do SPHAN, órgão federal de preservação vinculado
ao Ministério da Educação e Saúde.
Segundo Márcia Chuva, as práticas de preservação cultural definidas pelo
Estado Novo, não somente pela aplicação do Decreto-Lei nº 25/1937, mas também
pelas práticas proteção do patrimônio nacional empreendidas pelo SPHAN:

“[...] engendraram-se sob a égide da noção de autenticidade,


compreendida como passível de percepção objetiva e, sobretudo, visual,
mesmo que possam mudar os critérios do que é histórico, típico, artístico,
patrimonial, nacional etc. Tais práticas organizaram-se a partir de três
grandes pares de ações: identificação (diga-se seleção) do „patrimônio
nacional‟ e sua consequente proteção mediante a aplicação do instituto do
tombamento (ato administrativo criado no mesmo decreto-lei); o
conhecimento do patrimônio histórico e artístico nacional e sua
divulgação, que resultaram na inauguração de um campo específico de

17
estudos e uma série de publicações; e a sua conservação e restauração,
concretizadas nas inúmeras obras realizadas nos bens tombados.”
(CHUVA, 2009, p. 56).

Além disso, o Serviço do Patrimônio terminou por centralizar e articular


diversos intelectuais e especialistas em seus quadros de funcionários, que por sua
vez seriam encarregados da seleção do patrimônio histórico e artístico nacional.
Chuva afirma também:

“[...] a essa centralização somava-se uma espécie de centralidade,


constituída pela „rede mineira‟ de agentes, que se configurou dentro do
Sphan [...] constituíram uma teia de agentes cujos laços pessoais, em boa
medida, passavam pelo sentimento de pertencimento à mineiridade [...]
Minas Gerais não somente foi consagrada, como considerada
paradigmática e modelar para o restante do Brasil, cujo patrimônio passou a
ser analisado e comentado à luz do patrimônio mineiro – padrão de
qualidade a ser buscado.” (CHUVA, 2009, p. 63-62)

A teia de agentes, em sua maioria, arquitetos e intelectuais de origem mineira


e vinculados ao movimento modernista, dedicou-se à seleção, proteção, divulgação
e conservação de bens culturais no país, terminando por reunir um conjunto de bens
com um perfil bastante específico, onde se percebe a intenção de formação de arcos
referenciais da nação, ou ainda, de uma “grande coleção chamada „brasilidade‟”
(CHUVA, p. 70).
Os bens selecionados pela fase inicial do SPHAN são, em sua maioria,
edificações de origem portuguesa, representativa do período colonial do país, como
igrejas, capelas, fortes, paços, casas de câmara e cadeia, por exemplo, e outros
equipamentos urbanos do poder público e de feição religiosa. A arquiteta Lia Motta,
funcionária do IPHAN, afirma acerca do conjunto de bens inicialmente selecionados
pelo SPHAN, e sobre a visão dos intelectuais modernistas a respeito da arquitetura
colonial, que

“[...] Representava a primeira expressão „autenticamente‟ brasileira, seu


traço primitivo, marca da civilização nacional. Diferenciava-se, portanto,
segundo os modernistas, de outras expressões do passado, com a
arquitetura „europeizada‟ do século XIX que não se „aclimatou‟. Arte e
arquitetura colonial representariam o povo brasileiro e caracterizariam a
nação „civilizada‟, portadora de cultura própria.” (MOTTA, 2003, p. 128).
18
Ao analisar a fase inicial do Serviço do Patrimônio, sob a gestão do intelectual
e romancista Rodrigo Melo Franco de Andrade, a cientista social Silvana Rubino
afirma, no artigo “O mapa do Brasil passado” que, ao final do primeiro ano de
atuação do órgão, 215 bens haviam sido inscritos nos Livros de Tombo e, ao final do
período de 30 anos de gestão de Rodrigo Melo Franco de Andrade (entre 1937 a
1967), foram realizados 689 tombamentos, com respectivas inscrições nos Livros do
Tombo – em sua maioria, bens de arquitetura urbana (128 bens), arquitetura ligada
ao Estado (34), arquitetura rural (33), arquitetura religiosa (31), conjuntos urbanos
(26); fontes/chafarizes (24) e ruínas/remanescentes3 (17).
Foram realizados também, segundo Rubino, tombamentos em todos os
estados, embora seja clara a prioridade conferida aos estados de Minas Gerais (com
165 tombamentos), Rio de Janeiro (140 tombamentos), Bahia (131 tombamentos),
Pernambuco (56 tombamentos) e São Paulo (41 tombamentos). Rubino aponta,
ainda, que a opção pelo século XVIII como período histórico priorizado pelas
políticas de preservação do órgão contribuem para explicar a concentração dos
tombamentos nas regiões Sudeste e Nordeste, dada a natureza da ocupação
portuguesa que priorizou estes territórios neste período. Nos estados citados acima,
é possível verificar um grande número de exemplares de arquitetura militar, religiosa
e urbana, vinculados a ciclos econômicos, como a cana de açúcar e o ouro.
O registro dos bens culturais móveis e imóveis pelo SPHAN foi realizado,
conforme definido no Decreto-Lei 25/1937, em Livros do Tombo divididos em quatro
categorias: o Livro do Tombo Histórico, o Livro das Belas Artes, o Livro das Artes
Aplicadas e o Livro Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico. Considerando a
seleção realizada pelos agentes à frente do SPHAN em sua fase inicial, é possível
perceber uma opção clara pelos livros de Belas Artes e Histórico ou, segundo
Chuva,

“constata-se que a escolha dos Livros de Tombo para a inscrição os bens


tombados privilegiou o Livro de Belas-Artes [...] e os Livros de Belas-Artes e
Histórico conjuntamente e, em seguida, o Livro Histórico [...] ao Livro de
Belas-Artes, ficaram reservados aqueles bens considerados obras de arte –

3
Um destes bens tombados neste período é o Recolhimento de Santa Teresa: remanescentes
(Niterói/RJ), localizado a 200 metros da Duna Grande. O prédio, tombado em 1955, é utilizado
atualmente pelo o Museu de Arqueologia de Itaipu (MAI).

19
obras autênticas da produção artística originária da nação, em que o recorte
privilegiado da arquitetura mineira colonial, especialmente religiosa, foi
consagrado” (CHUVA, 2009, p. 214)

Dessa maneira, de acordo com uma percepção do que constituiria o chamado


“excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico”,
mencionado no Decreto-Lei 25/1937, o órgão de preservação federal empreendeu
um processo de rotinização das práticas de proteção (CHUVA, p. 74) e seleção de
bens simbólicos – arquitetônicos, em sua maioria – onde as “construções foram
tratadas como documentos, de acordo com a abordagem da história na forma
tradicional, isto é, como provas materiais da história da nação – visando garantir
uma unidade, sem o direito a diferentes versões.” (CHUVA, 2009, p. 74).
Nos anos que se seguiram, durante a fase inicial do SPHAN e a
administração de seu primeiro diretor, Rodrigo Melo Franco de Andrade,
permaneceram grande parte destes critérios tradicionais de seleção. Sobre as ações
de preservação, no período entre 1979 e 1990, Lia Motta atesta que “tanto no
IPHAN quanto nas novas instituições de preservação, estaduais e municipais,
predominaram as ações que buscavam selecionar bens culturais ou tratar o
patrimônio observando principalmente as características estético-estilísticas e de
excepcionalidade já consagradas” (MOTTA, 2003, p. 131-132).
Em meio à permanência desses critérios de excepcionalidade consagrados,
alguns autores realizaram análises e periodizações das práticas de preservação
empreendidas pelo atual IPHAN durante sua trajetória. Um destes autores é o jurista
Joaquim de Arruda Falcão Neto, em seu artigo “Política Cultural e Democracia: A
Preservação do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional”, onde realiza também um
diagnóstico do desempenho da política de preservação do patrimônio empreendida
pelo IPHAN.
Falcão identifica dois momentos marcantes: o primeiro momento seria o de
elaboração da primeira politica de preservação federal, em 1937, com o
envolvimento de agentes como Rodrigo Melo Franco de Andrade, Mário de Andrade
e do ministério da Educação e Cultura. Já o segundo momento seria pautado pela
reformulação destas políticas no final da década de 1970, com o envolvimento de
Aloisio Magalhães (diretor do SPHAN e da Fundação Pró-Memória, seu braço

20
administrativo e executivo do período) e também do Ministério da Educação e
Cultura. Sendo o texto datado de 1984, Falcão também apresenta um terceiro
momento, onde realiza projeções para alternativas e dilemas enfrentados pelo órgão
de preservação federal durante a década de 1980, relacionando-os com os dilemas
da redemocratização e da abertura política pós Ditadura Militar (1964-1985). Um dos
pressupostos de Falcão para realizar esse diagnóstico é o de que não existiria
política cultural por parte do Estado brasileiro, mas sim uma política de preservação
(FALCÃO, 1984, p. 24).
Falcão identifica em seu diagnóstico pontos relevantes como: uma chamada
“desimportância relativa” do IPHAN para lutas políticas entre os grupos sociais e a
“inexpressividade relativa” de seus recursos financeiros (FALCÃO, p.29-30); a
continuidade burocrática na gestão do SPHAN – desde a gestão de Rodrigo M. F. de
Andrade (1937-1967) até seu sucessor, Renato Soeiro (1967-1979); a
homogeneidade do corpo técnico formado, em sua maioria, por arquitetos; e as
pressões da década de 1980 por maior participação da sociedade na formulação, na
prática e na distribuição da política de preservação.
José Reginaldo Santos Gonçalves, antropólogo e cientista social, apresenta a
“Retórica da Perda” (1996), uma análise dos discursos utilizados e elaborados por
intelectuais brasileiros sobre o patrimônio nacional, cuja tônica comum se pautava
no conceito de perda. Esses discursos ou narrativas nacionais, segundo Gonçalves,
definiam identidade e memória através da noção que estes intelectuais possuíam
sobre o que seria a nação brasileira. Para Gonçalves, identidade, memória e suas
narrativas se “objetificariam” por sua associação a bens culturais, feita através da
utilização destas narrativas pela política de proteção federal.
A intenção destas narrativas e processos, segundo Gonçalves, é
salvaguardar os testemunhos materiais do passado do desaparecimento imposto
pela passagem do tempo, o que implica, ao mesmo tempo, um processo de seleção
que leva à preservação de uns e à destruição de outros testemunhos; à
ressignificação e apropriação do passado. Tendo em vista esses pressupostos,
Gonçalves analisa os discursos de dois intelectuais que estiveram à frente da
diretoria do IPHAN. Nos discursos de Rodrigo Melo Franco de Andrade à frente do
órgão de proteção (1937-1967), Gonçalves aponta uma orientação para

21
salvaguardar o patrimônio de uma espécie de perda progressiva e destruição
imposta pelas transformações sofridas pelo país devido à urbanização e o
crescimento da indústria imobiliária. Já as narrativas de Aloisio Magalhães (diretor
do órgão de proteção entre 1979 e 1982) atentam para as ameaças da globalização
e da homogeneização cultural, combatida no caso brasileiro pela proteção de sua
diversidade cultural e utilização desta diversidade como instrumento de
desenvolvimento social. No entanto, para Gonçalves, ambos utilizaram a retórica da
perda em seus discursos, sendo que Rodrigo M. F. de Andrade voltava-se para a
tradição da herança colonial portuguesa e Aloisio Magalhães propunha a valorização
da diversidade cultural.
Outro autor a apresentar periodizações é Maria Cecília Londres da Fonseca,
socióloga e conselheira do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural – antigo
Conselho Consultivo do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional,
instância reguladora e decisória dos tombamentos. Em sua obra “O Patrimônio em
Processo: Trajetória da política federal de preservação no Brasil” (2005), Fonseca
apresenta uma periodização da trajetória do órgão de preservação, dividindo-a em
duas fases.
A primeira fase é chamada por Fonseca de fase Heroica (entre 1936 e 1967),
período entre a criação do SPHAN (atual IPHAN) e a aposentadoria do primeiro
diretor do instituto, Rodrigo de Melo Franco de Andrade. Esta fase seria marcada
pelo já mencionado envolvimento de intelectuais modernistas na elaboração e
aplicação de um modelo hegemônico do conceito de patrimônio nacional, pela
prioridade conferida aos valores histórico e artístico e à arquitetura colonial de
origem portuguesa, em tombamentos realizados mediante as decisões tomadas
caso a caso pelos técnicos do órgão.
A segunda fase identificada por Fonseca é chamada de fase Moderna
(período entre 1970 e 1990), marcada por transformações políticas que
reverberaram no órgão federal, nos contextos pós Estado Novo (1945), durante a
Ditadura Militar (1964-1985) e o período de abertura e redemocratização (final da
década de 1980). Na fase Moderna são feitas inúmeras críticas ao conceito de
patrimônio e identidade nacional definido pelos modernistas; assim, o conceito de
patrimônio cultural dentro do IPHAN foi ampliado neste período, buscando incluir e

22
mobilizar minorias. Nesse período a autora destaca algumas políticas federais de
proteção como a criação do Programa Integrado de Reconstrução de Cidades
Históricas (PCH), em 1973, a criação do Centro Nacional de Referência Cultural
(CNRC), em 1975, incorporado ao IPHAN, posteriormente, e o estímulo para a
criação e desenvolvimento de órgãos estaduais e municipais de proteção ao
patrimônio.
Na fase Moderna, Fonseca aponta a existência de uma dupla orientação da
política de preservação: a linha de „pedra e cal‟ e a linha de „referência‟ (FONSECA,
2005, p. 217), que desembocaria na atual configuração das políticas de proteção
federais empreendidas pelo IPHAN – o tombamento e o registro do de bens culturais
de natureza imaterial, este último instituído pelo Decreto nº 3551/2000. Ao analisar
os tombamentos realizados no período entre as décadas de 1970-1990 (durante a
chamada fase Moderna) Fonseca percebe a persistência da utilização do
tombamento como ferramenta de proteção, ou a sua associação a ferramentas de
preservação complementares como os inventários de Bens Móveis e Imóveis e de
Bens Móveis e Integrados para a salvaguarda.
Assim, considerando o panorama de constituição do campo do patrimônio no
Brasil, consideramos como o patrimônio arqueológico foi tratado pelo órgão de
preservação estatal e quais práticas foram responsáveis pela sua proteção até o
advento da instauração de legislações reguladoras complementares como a Lei nº
3.924, de 26 de julho de 1961 – que proíbe e considera crime a destruição ou
mutilação das jazidas arqueológicas e submete ao poder público do SPHAN os
monumentos arqueológicos e pré-históricos –, a Resolução CONAMA 01/86 – que
lista procedimentos adotados no planejamento e na implantação de
empreendimentos –, os Artigos 225 e 216 da Constituição Federal de 1988 – que
garantem a proteção do meio ambiente e do patrimônio cultural brasileiro, incluindo
aqui a arqueologia –; as Portarias IPHAN/MinC Nº 07, de 01/12/1988 (normas de
intervenção para o patrimônio arqueológico nacional) e Nº. 230, de 17/12/02
(definição de fases e pesquisas para licenciamento de empreendimentos).
O patrimônio arqueológico, como categoria do patrimônio nacional, já era
previsto como categoria de valor desde 1937, com a promulgação do Decreto-Lei nº
25/1937, que previa, dentre os Livros do Tombo definidos para inscrição dos bens, o

23
Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico. No entanto, conforme já
mencionado, os agentes encarregados da seleção e proteção do patrimônio nacional
privilegiaram desde os primeiros tombamentos o patrimônio edificado,
marcadamente, a arquitetura colonial de matriz portuguesa. Sobre a atribuição de
valor de patrimônio, Lia Motta afirma que:

“Trata-se de uma escolha feita pelo poder público, diante de uma demanda
social e do universo da produção cultural. O patrimônio não é preexistente
como tal. Sua escolha, assim como as opções para o seu tratamento, não
são atos desinteressados; dependem do ponto de vista da seleção, do
significado que se deseja atribuir aos produtos culturais e do uso que se
quer fazer deles” (MOTTA, 2003, p. 125).

Assim, poucos tombamentos de bens arqueológicos foram realizados. Como


bens inscritos, somam-se apenas 7 bens listados entre “Coleções e Bens
Arqueológicos” e 6 bens identificados como “Sítios Arqueológicos”, de acordo com
classificação do “Guia de Bens Tombados – Listagem por Tipologia e Estado (1938-
2005)”, publicado pelo IPHAN.
Os bens listados na tipologia Coleções e Bens Arqueológicos são: tombadas
em 1938, a Coleção Arqueológica, Etnográfica, Histórica e Artística do Museu Júlio
de Castilhos (Porto Alegre/RS), inscrita no Livro das Belas Artes; a Coleção
Arqueológica e Etnográfica do Museu Paraense Emílio Goeldi (Belém/PA), inscrita
no Livro Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico.
Tombados em 1941, as coleções do Museu Coronel David Carneiro
(Curitiba/PR): coleção etnográfica, arqueológica, histórica e artística, inscrita em três
livros: Histórico, Belas Artes e Arqueológico; a Coleção Arqueológica do Museu da
Escola Normal Justiniano de Serra (Fortaleza/CE), inscrita no Livro Arqueológico e
Etnográfico; o Museu Paranaense: coleção etnográfica, arqueológica, histórica e
artística (Curitiba/PR), inscrita em três livros: Histórico, Belas Artes e Arqueológico.
Tombados em 1948, a Coleção Arqueológica Balbino de Freitas: conchais do
litoral sul (Rio de Janeiro/RJ), inscrita no Livro Arqueológico e Etnográfico; e
tombada em 1986, a Coleção Arqueológica João Alfredo Rohr (Florianópolis/SC),
inscrita no Livro Arqueológico e Etnográfico.
Os sítios arqueológicos listados são o Sambaqui do Pindaí (São Luís/MA),
tombado em 1940 e inscrito no Livro Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico; as
24
Inscrições pré-históricas do Rio Ingá (Ingá/PB), tombadas em 1944 e inscritas nos
Livros Histórico e de Belas Artes; o Sambaqui na Barra do Rio Itapitangui
(Cananéia/SP), tombado em 1955 e inscrito no Livro Arqueológico, Etnográfico e
Paisagístico.
Também são listados como sítios tombados e inscritos no Livro Arqueológico,
Etnográfico e Paisagístico: a Lapa da Cerca Grande (Matozinhos/MG), tombada em
1962; o Parque Nacional da Serra da Capivara (São Raimundo Nonato/PI), tombado
em 1993 e a Ilha do Campeche: sítio arqueológico e paisagístico, tombada em 2001.
O website do IPHAN apresenta, atualmente, uma tabela indicando, além dos
6 sítios arqueológicos tombados e das 7 coleções arqueológicas tombadas, 19.790
sítios arqueológicos cadastrados. Além disso, na seção denominada “Patrimônio
Arqueológico”, o texto disponibilizado afirma que “Todos os sítios arqueológicos são
definidos e protegidos pela Lei nº 3.924/61, sendo considerados bens patrimoniais
da União. O tombamento de bens arqueológicos é feito, excepcionalmente, por
interesse científico ou ambiental.” (IPHAN, 2013).
Através de uma leitura dos processos de tombamento das coleções e sítios
protegidos pelo IPHAN, percebem-se diferentes posturas do órgão de proteção no
tratamento destes bens ao longo de sua trajetória. Nos processos de tombamento
de data de inscrição mais antiga, os procedimentos são aplicados de forma rápida,
com envolvimento de instituições – como o Museu Nacional/RJ, os museus cujas
coleções foram tombadas, entre outros – e com documentação escassa ou
arrolamentos sumários das coleções, o que dificulta as ações de salvaguarda de
itens dos acervos tombados.
Alguns processos apresentam particularidades, como o do sítio Sambaqui do
Pindaí (São Luís/MA) de 1940, onde a solicitação do tombamento é feita pelo
pesquisador Raimundo Lopes da Cunha, que atuava em escavações na região e
apresenta como motivação do pedido a preocupação com a depredação do sítio. O
processo de tombamento das Inscrições pré-históricas do Rio Ingá (Ingá/PB) de
1944, destaca-se por envolver especialistas em pinturas rupestres e pelo pedido de
rerratificação do tombamento com inclusão do bem no Livro Arqueológico,
Etnográfico e Paisagístico, pedido que ainda se encontra em tramitação. O processo
de tombamento da Coleção Arqueológica Balbino de Freitas: Conchais do Litoral Sul

25
(Rio de Janeiro/RJ) de 1948 também se destaca, pois sua inscrição só realizada
aproximadamente 10 anos depois da abertura do processo, mediante ao envio de
um breve arrolamento da coleção pela instituição portadora, o Museu Nacional/RJ.
O processo do Sambaqui na Barra do Rio Itapitangui (Cananéia/SP) de 1955
é um dos que apresenta o envolvimento de especialistas na solicitação do
tombamento, no caso, a Comissão de Pré-História de São Paulo. Outro ponto é uma
tentativa de cooperação entre o IPHAN, a Comissão de Pré-História de São Paulo e
o proprietário do terreno para uma exploração (científica e comercial) conjunta do
terreno, que se encontra documentada.
A partir do processo de tombamento do sítio da Lapa da Cerca Grande
(Matozinhos/MG), aberto em 1953, mas inscrito no livro do tombo Arqueológico,
Etnográfico e Paisagístico em 1962, percebe-se um maior envolvimento de
especialistas, dentro e fora do órgão de preservação, e das esferas federais,
estaduais e municipais. Como comprovação deste maior envolvimento na
documentação, elaboração de estratégias de proteção e tramitação dos processos
de tombamento, é possível citar os processos do Parque Nacional da Capivara (São
Raimundo Nonato/PI), de 1993, e da Ilha do Campeche: sítio arqueológico e
paisagístico (Florianópolis/SC), de 2001. Nestes processos de tombamento constam
os diálogos entre o IPHAN, o IBAMA, o CONAMA, a UNESCO, pesquisas de
embasamento e apreciação do valor dos sítios, entre outros.
Podemos citar como exemplo de experiências que podem ter contribuído para
diferentes formas de tratamento dos bens arqueológicos dentro o órgão de
preservação – além do advento da Lei nº 3.924/1961 – o Inventário do Patrimônio
Cultural do Piauí, empreendido pela 3ª Coordenação Regional do IPHAN/ Piauí,
durante os anos de 1984 e 1987 (MOTTA; SILVA, 1998, p.119).
Composto por duas fases: histórica e pré-histórica, devido à natureza dos
bens do estado. A fase pré-histórica foi denominada “Cadastramento e mapeamento
dos sítios arqueológicos do Piauí” e contou com envolvimento do Núcleo de
Antropologia Pré-Histórica da Fundação Universidade Federal do Piauí, com 4
arqueólogos, e da Fundação Cultural do Piauí, com 1 arqueólogo. Foram
cadastrados 90 sítios em 25 municípios do estado, bem como a coleta de “dados
relacionados à identificação, propriedade, localização, acesso e estado de

26
conservação de cada sítio em ficha de registro fornecida pelo setor de arqueologia
da SPHAN; [...] sua cobertura fotográfica, em papel P&B e diapositivos coloridos; [...]
fatores responsáveis pela destruição de cada um e [...] mapas regionais (escala
1/200.000), através de coordenadas geográficas” (MOTTA; SILVA, 1998, p.121).
Inventários como esse, bem como ações como o cadastramento de sítios
arqueológicos e estudos de impacto ambiental são exemplos de práticas de
proteção do patrimônio arqueológico que podem complementar ou até mesmo
substituir a ferramenta do tombamento, já que esta praticamente caiu em desuso no
âmbito dos sítios arqueológicos devido a seu caráter de estagnação do espaço
tombado, o que dificulta a realização de pesquisas arqueológicas em razão de seu
caráter destrutivo.

1.2. Musealização e Memória

Musealizar, seja como conceito (musealização), seja como prática, e suas


implicações no processo de formação da memória de um determinado indivíduo ou
de um grupo, tem sido objeto de estudo de diversos acadêmicos. Como o
entendimento acerca do termo - e da ação decorrente do mesmo - não é unânime,
cabe apresentar um pequeno panorama contendo o apanhado das ideias,
pensamentos e argumentos responsáveis por formar o que entendemos como
Musealização para este trabalho.
Para Maurice Halbwachs, diante de um estímulo informacional, fazemos apelo
aos testemunhos para facilitar, debilitar ou completar, ainda que parcialmente, nosso
conhecimento acerca de um evento do qual já estamos, de alguma maneira,
informados. A primeira testemunha do sujeito seria ele próprio, cujo raciocínio
funciona através da contestação de depoimentos entre um "eu" sensível que vem
depor sobre aquilo que vê, e um "eu" que, de fato, não viu, mas que talvez tenha
visto no passado e, talvez, tenha uma opinião sobre aquela informação baseada no
depoimento dos outros.
Tudo se passa como se confrontássemos vários depoimentos. É porque
concordam no essencial, apesar de algumas divergências, que podemos reconstruir

27
um conjunto de lembranças de modo a reconhecê-lo. O fato de nossa impressão
poder ser auxiliada por lembranças alheias aumenta nossa confiança na exatidão de
nossa evocação, como se o que desse início à experiência provocada pelo estímulo
informacional fosse produto não só da versão de um sujeito, mas sim, de vários.
Ainda segundo Halbwachs, mesmo que as lembranças tratem de acontecimentos
que somente nós tenhamos presenciado, vivido e com objetivos próprios, elas
permanecem coletivas, porque nunca estaríamos sós. Carregamos conosco
lembranças que podem ser transformadas em conceitos previamente estabelecidos,
ainda que de maneira involuntária. (HALBWACHS, 2004)
O entendimento acerca da coletividade da memória presente nos textos de
Halbwachs é interessante para que possamos considerar todas as etapas que
permeiam o processo de atribuição de valores e musealização de um determinado
bem.
Uma das teóricas que mais se debruçou sobre a ideia e o processo de
musealizar foi Waldisa Russio Guarnieri. Numa de suas publicações mais
conhecidas, ao traçar um paralelo com o conceito de fato social, objeto central da
teoria sociológica de Émile Durkheim, a autora propõe que o objeto de estudo da
Museologia é o Fato Museal, que, em poucas palavras, é a relação entre o homem,
sujeito que conhece, e o objeto, que por sua vez faz parte da realidade à qual o
homem também pertence, num determinado espaço institucionalizado.
(GUARNIERI, 1990)
Para Guarnieri, o Museu seria, por definição, o espaço onde ocorre essa
relação entre o homem e o objeto, objeto de estudo da Museologia. Os objetos que
passam pelo processo de musealização - aqueles escolhidos para figurar no espaço
institucionalizado, o museu –, são selecionados devido à seu caráter de
testemunhalidade, documentalidade e fidelidade.
Marilia Xavier Cury apresenta uma visão mais processual do processo de
musealização, para a autora o processo de musealização deve ser entendido da
seguinte maneira:

“[...] uma série de ações sobre os objetos, quais sejam: aquisição, pesquisa,
conservação, documentação e comunicação. O processo inicia-se ao
selecionar um objeto de seu contexto e completa-se ao apresentá-lo

28
publicamente por meio de exposições, de atividades educativas e de outras
formas. Compreende, ainda, as atividades administrativas como pano de
fundo desse processo” (CURY, 2005, p. 26)

Em sua publicação “Exposição: concepção, montagem e avaliação”, Cury


resume o que entende por “processo de musealização” através da seguinte
representação gráfica:

Figura 1 – Representação gráfica do “processo de musealização”, por Marilia Xavier Cury (2005).

A percepção processualista – no sentido da existência de uma série de


procedimentos interligados – do processo de musealização de Cury encontra
respaldo nas palavras de Cristina Bruno, para quem a musealização é “[...] o
conjunto de procedimentos que viabiliza a comunicação de objetos interpretados
(resultado de pesquisa), para olhares interpretantes (público), no âmbito das
instituições museológicas [...]” (BRUNO, 1991, apud CURY, 2005).
Assim como quando alguma coisa é elevada ao status de patrimônio, assunto
abordado na seção 1.1.1, devemos lembrar que a musealização é, em sua base,
uma escolha. Por ser escolha, o processo tem início através do desejo de um ou
mais agentes que, por sua vez, defendem, argumentam, impõem, dialogam,
compram ou até vendem suas ideias. O autor Mário Chagas aponta para o caráter
subjetivo e para o jogo de poder envolvidos neste processo de valoração do objeto:

“Essa inflexão é uma das características marcantes do denominado


processo de musealização que, grosso modo [grifo do autor], é dispositivo
de caráter seletivo e político, impregnado de subjetividades, vinculado a
uma intencionalidade representacional e a um jogo de atribuição de
valores socioculturais. Em outros termos: do imensurável universo do
museável (aquilo que é passível de ser incorporado a um museu), apenas

29
algumas coisas a que se atribuem qualidades distintas, serão destacadas
e musealizadas.” (CHAGAS, 2003).

Considerando a definição teórica dos autores consultados e, ainda, a


sensibilidade e, porque não, o alerta de Chagas para subjetividade inerente ao
processo de valoração dos objetos, chegamos a um conjunto de termos que
possibilitam a definição sobre como a musealização será encarada neste trabalho.
De maneira resumida, musealizar é uma escolha passível de subjetividade, que trata
da retirada de um determinado bem de sua função e contexto originais, através de
um processo que lhe agrega valor simbólico, de modo à diferenciá-lo de seus pares
e investi-lo de um manto intangível responsável por exaltar/criar valores de
testemunhalidade, documentalidade e fidelidade.

1.2.1. Musealizando o espaço

Com o objetivo de entender como o processo de musealização pode ser


aplicado a sítios arqueológicos é necessário que ampliemos nosso entendimento
sobre o conceito de museu.
O Conselho Internacional de Museus (ICOM), de acordo com versão de seu
estatuto aprovada durante a vigésima Assembleia Geral da instituição, realizada em
Barcelona, Espanha, no ano de 2001, define o museu da seguinte maneira:

“Instituição permanente, sem fins lucrativos, a serviço da sociedade e do


seu desenvolvimento, aberta ao público e que adquire, conserva, investiga,
difunde e expõe os testemunhos materiais do homem e de seu entorno,
4
para educação e deleite da sociedade.”

Para além da definição estatutária do conceito, o mesmo documento


considera museus, para os fins desta definição, espaços como os sítios e
monumentos naturais e arqueológicos, jardins zoológicos, aquários, entre outros. 5

4
Informações extraídas do conteúdo do site do Instituto Brasileiro de Museus.
5
A listagem completa, de acordo com o conteúdo disponível no site do Instituto Brasileiro de Museus,
é: “Os sítios e monumentos naturais, arqueológicos e etnográficos; Os sítios e monumentos históricos
de caráter museológico, que adquirem, conservam e difundem a prova material dos povos e de seu
entorno; As instituições que conservam coleções e exibem exemplares vivos de vegetais e animais –
como os jardins zoológicos, botânicos, aquários e vivários; Os centros de ciência e planetários; As
30
Obviamente, para que estes espaços se configurem como museus perante a
definição do Conselho é necessário que haja um processo de musealização dos
mesmos, de modo a possibilitar as práticas de pesquisa, conservação e
comunicação. A experiência de dar tratamento museológico a determinados espaços
e territórios têm sido uma prática comum e pode ser vista em experiências mais
recentes como no caso de museus de percursos em favelas e trilhas interpretativas
em parques e outras unidades de proteção ambiental.
A concepção de museu vem, gradualmente, deixando de ser uma ideia
cristalizada onde o foco se encontra na relação acervo, prédio e visitante, para ser
entendida como uma ferramenta de transformação social cujo tripé basal seria os
conceitos de patrimônio, território e comunidade.
Foi principalmente a partir da década de 60 – num contexto em que o
continente europeu vive um movimento para a democratização da cultura – que as
diversas instituições culturais, dentre elas o museu, passam por mudanças
substanciais em seus discursos e formas de atuação. (SANTOS, 1996).

"O conceito de patrimônio é revisto e ampliado, englobando-se o meio


ambiente, o saber e o artefato. Essa nova conceituação faz com que as
discussões em torno da preservação sejam retomadas, contribuindo para o
surgimento de novas categorias de museus e para a construção de
pressupostos museológicos, até então desconhecidos" (SANTOS, 1996, p.
43)

Em 1971, o americano Duncan Cameron propõe reflexões sobre uma nova


maneira de utilizar a ferramenta museu. O autor faz uma analogia em que compara
museus a templos e, ao mesmo tempo, propõe sua aproximação aos fóruns. Para
Cameron, os fóruns são onde as ideias são discutidas e as batalhas travadas, já os
templos seriam onde os vitoriosos descansam. O museu-fórum deve abrir espaço
apropriado aos protestos, confrontações, inovações e experimentações, de forma

galerias de exposição não comerciais; Os institutos de conservação e galerias de exposição, que


dependam de bibliotecas e centros arquivísticos; Os parques naturais; As organizações
internacionais, nacionais, regionais e locais de museus; Os ministérios ou as administrações sem fins
lucrativos, que realizem atividades de pesquisa, educação, formação, documentação e de outro tipo,
relacionadas aos museus e à museologia; Os centros culturais e demais entidades que facilitem a
conservação e a continuação e gestão de bens patrimoniais, materiais ou imateriais; Qualquer outra
instituição que reúna algumas ou todas as características do museu, ou que ofereça aos museus e
aos profissionais de museus os meios para realizar pesquisas nos campos da Museologia, da
Educação ou da Formação.”
31
que o discurso do museu – que se reflete em suas exposições e demais atividades
educativas – possa ser discutido não só por aqueles que ali trabalham, mas,
principalmente, por aqueles que o frequentam. (CAMERON, 1971).
Na década de setenta há um movimento para que o museu, antes pensado
como espaço das artes, do belo e da reprodução da dinâmica de dominação de uma
elite, possa ser apropriado por diversas camadas da população que enxergam,
através do viés da preservação da memória e da afirmação de identidades, um
espaço de melhoria de sua condição social.
No ano de 1972 as discussões da Mesa Redonda de Santiago - evento
considerado marco para a mudança de paradigmas da museologia - apontam para a
importância do poder de atuação dos museus no campo das transformações sociais.
Este novo tipo de museu foi chamado por Mário Moutinho de "Museu Integral" e
caracterizar-se-ia como:

"instituição ao serviço e inseparável da sociedade que lhe dá vida. Capaz de


estimular em cada comunidade uma vontade de ação, aprofundando a
consciência crítica de cada um dos seus membros. Buscando os
fundamentos da ação nas condições históricas de desenvolvimento de cada
comunidade." (MOUTINHO, 1989, p. 35-36).

Essa nova museologia, portanto, olha para fora dos limites do museu. Ou
melhor, os amplia, de modo a trabalhar não só o acervo, mas também problematizar
questões acerca do espaço em que se localiza e a condição dos que ali vivem.
Desse movimento de expansão, surgem indagações sobre o tratamento dado aos
acervos, já que, para o novo museu, as coleções podem adquirir dimensões (ruas,
bairros, sítios) que fogem aos fazeres inerentes aos pressupostos técnicos de
catalogação, conservação e exposição.
O conceito de acervo operacional surge nesse contexto de ampliação da
área de atuação dos museus e da premissa de comprometimento destas instituições
para com o espaço onde estão inseridas. Este conceito (acervo operacional) é de
extrema importância para o presente trabalho pois trata-se da linha de pensamento
que parece melhor definir a abordagem do Museu de Arqueologia de Itaipu perante
o sítio arqueológico Duna Grande. Marlene Suano, ao fazer alusão ao museu-fórum
de Cameron, define o conceito de acervo operacional ao diferenciá-lo do que chama

32
de “acervo institucional” e aponta a necessidade de que os museus trabalhem com
uma combinação das duas tipologias:

“O museu fórum deveria, antes de mais nada, saber trabalhar com dois
tipos de acervo: o acervo institucional e o acervo operacional. Por acervo
institucional entenda-se tudo aquilo que o museu aloja, pela propriedade ou
pela posse (objetos e coleções). O acervo operacional, ao contrário,
significa todo o patrimônio cultural e ambiental da região onde se insere o
museu: meio ambiente físico, estruturas urbanas, monumentos, edifícios,
festas e jogos e tudo o mais produto da ação da sociedade.” (SUANO,
1986, p. 92-93)

Enquanto o acervo institucional segue sendo tratado da forma habitual


(inventário, catalogação, higienização, exposição, etc...), o acervo operacional deve
ser investigado, discutido, conservado e conhecido através da formação de uma
parceria entre o museu e os demais agentes ligados ao bem. Desta maneira o
museu pode ser, ao mesmo tempo, polo irradiador de conhecimento e espaço de
discussão e fabricação do mesmo. O discurso do museu não pode excluir ideias
divergentes, pelo contrário, deve reconhecê-las e fomentar os debates.
Fica claro, portanto, que as instituições dispostas a se alinharem com os
preceitos da Mesa Redonda de Santiago, e acompanhar os subsequentes
desdobramentos políticos e acadêmicos do campo dos museus, devem estar
extremamente atentas ao espaço onde estão inseridas e ao contexto sociocultural,
político e econômico vivido pela comunidade que ali reside. Para além do olhar
atento, os museus devem assumir um compromisso para com as pessoas e o
ambiente, e trabalhar intensamente objetivando a melhoria da qualidade de vida e o
desenvolvimento social.

1.3. Arqueologia Pública

Assim como no mundo dos museus, o campo da arqueologia também passou


- e ainda passa - por uma série de transformações que envolveram - e ainda
envolvem - a conscientização dos profissionais da área para o comprometimento da
arqueologia, enquanto ciência, para com o desenvolvimento social. Essas ações que
33
hoje permeiam, em maior ou menor escala, tanto o meio acadêmico quanto as
políticas governamentais dialogam diretamente com o conceito de arqueologia
pública.
O termo arqueologia pública foi empregado pela primeira vez nos Estados
Unidos como título da publicação de Charles McGimsey III, em 1972. Nas décadas
de 1960 e 1970 os Estados Unidos viviam um contexto de forte aceleração do
processo de urbanização e de crescimento industrial. Em seu livro, McGimsey trata
essas e outras causas - como o tráfico ilícito de artefatos e a baixa qualidade dos
trabalhos desenvolvidos nas pesquisas arqueológicas – percebendo-as como motivo
de degradação de sítios arqueológicos. McGimsey aponta fatores como a gestão de
recursos públicos destinados à cultura e o comprometimento dos profissionais da
área para às questões sociais, como determinantes para o reconhecimento do papel
social da pesquisa científica (MCGIMSEY, 1972). Esses fatores podem ser
considerados questões públicas, pois vão além de questões técnicas e
metodológicas da arqueologia, eles tratam, justamente, da interface entre a
disciplina e a sociedade (FERNANDES, 2007).
No início da década de setenta, o termo arqueologia pública era associado às
exigências governamentais e práticas associadas ao trabalho com recursos
culturais6, que contrastavam com o aparente maior zelo para com as questões de
pesquisa dos trabalhos acadêmicos. A dimensão continental dos Estados Unidos e
seu vasto potencial arqueológico fizeram com que os profissionais da área
percebessem que, se quisessem preservar os sítios e realizar trabalhos
responsáveis de pesquisa, deveriam conscientizar pessoas e grupos além daqueles
diretamente ligados à arqueologia para a importância da causa (MERRIMAN, 2004).
O conceito de arqueologia pública estava, portanto, ligado às práticas
arqueológicas e ao desenvolvimento e implementação de leis e políticas públicas
referentes à autorizações de pesquisa, requerimentos para realização de trabalhos
arqueológicos e aspectos gerais concernentes à regulamentação da área.
Merriman aponta a profissionalização do campo como um fator para a
transformação do conceito de arqueologia pública. Num primeiro momento, o termo

6
Algo parecido com as exigências do governo brasileiro para a prática da chama “arqueologia de
contrato”.
34
estava ligado às providências e requerimentos do estado para se trabalhar com
pesquisas arqueológicas. Com o passar do tempo e a profissionalização da
arqueologia, entretanto, o elemento „publico‟ dessa arqueologia passou a consistir
em arqueólogos e agentes do estado administrando bens culturais para o público e
não somente os bens do público. O autor, entretanto, comenta a maneira como o
estado se apropria dos bens culturais e aponta para o pouco envolvimento do
público com a disciplina:

“Através desta abordagem implementada, o interesse público é atendido


sob a forma de preservação de bens culturais ou sua cuidadosa
documentação frente a um inevitável processo de destruição. Desta
maneira o interesse público é atendido, não tanto no presente, mas em um
tempo futuro vagamente definido como posterioridade, quando os bens
culturais, ou a documentação proveniente dos mesmos, poderão ser
consultados. Em uma estratégia tão orientada para o futuro, o próprio
público, os cidadãos de hoje, são atendidos apenas indiretamente e
raramente se envolvem com a arqueologia” (MERRIMAN, 2004, p. 3)

Cientes da distância entre a arqueologia e o público geral, muitos arqueólogos


tem tentado promover uma maior aproximação entre a disciplina e a sociedade de
modo a reforçar o caráter social da arqueologia pública. Para tanto, os profissionais
da área recorrem a uma das especificidades do campo: a possibilidade de
apresentar versões do passado diferentes daquelas já construídas. Nesse processo
de reconstrução de memórias e afirmação de identidades, os grupos pouco
favorecidos historicamente podem receber novos olhares que podem colaborar para
a valorização de sua cultura. (FUNARI, 2004).
A arqueologia pública, assim como as premissas da nova museologia citadas
no capítulo anterior, caracteriza um marco para as ciências humanas e sociais.
Trata-se de uma ampliação dos fazeres arqueológicos que envolvem o
comprometimento do profissional não só com as comunidades onde desenvolve sua
pesquisa, mas também um dever com a disciplina em si, já que de nada valem os
estudos quando trancados nos cofres da academia, e vale ainda menos uma ciência
que não tem compromisso com o desenvolvimento social.

35
CAPÍTULO 2: REVISÃO DE LITERATURA E CONTEXTUALIZAÇÃO

2.1. Duna Grande: contextualização e situação atual

Localizado no bairro de Itaipu, na cidade de Niterói – RJ, o sítio Arqueológico


Duna Grande foi identificado no ano de 1962, por uma equipe técnica do Instituto de
Arqueologia Brasileira. Na época, o IAB empreendia prospecções arqueológicas na
região compreendida entre o antigo Estado da Guanabara e o Município de Cabo
Frio.
O sítio está localizado em uma posição privilegiada em termos de recursos
naturais. Imediatamente próximos ao sítio encontram-se a Praia de Itaipu, a Laguna
de Itaipu, uma região de manguezal formada pela interação entre a água salgada do
mar e a água salobra da Laguna e o Morro das Andorinhas, parte integrante do
Parque Estadual da Serra da Tiririca, rico em vegetação e fauna típicas de Mata
Atlântica.
Trata-se de uma duna de proporções consideráveis, que ocupa o espaço
compreendido entre a Praça de Itaipu, a barra da Laguna de Itaipu e a Praia de
Itaipu. As informações técnicas relativas à área ocupada pelo sítio apresentam
divergência: em sua publicação intitulada Monumento símbolo da arqueologia pré-
histórica brasileira: o sítio Duna Grande de Itaipu. Uma contribuição (1988),
CARVALHO afirma que a duna “[...] Possui cerca de 100 m de extensão, quase igual
à sua largura, e, na ocasião de sua descoberta, aproximadamente 20 m de altura”.
Já a ficha cadastral do IPHAN7 preenchido em 1997 pela arqueóloga Rosana P.
Najjar – em que o sítio Duna grande encontra-se registrado sob o nome de “Sítio
Arqueológico de Itaipu” e sob o cadastro de nº RJ00132 – não apresenta a largura
ou o comprimento do terreno, mas sim sua área total, 100m². Apesar de a área total
corroborar com os dados de CARVALHO, o campo de informação relativo à altura
informa que a Duna Grande teria 30 metros de altura, e não 20 metros conforme
apontado por CARVALHO.8

7
Consultada no website www.iphan.gov.br, em outubro de 2013.
8
Este assunto será retomado no Capítulo 3.
36
Atualmente, o espaço no entorno do sítio arqueológico Duna Grande
encontra-se totalmente urbanizado e é utilizado à exaustão por frequentadores da
Praia de Itaipu. A frequência desordenada da Praia aliada à inexistência de qualquer
tipo de cercamento ou sinalização nos limites do sítio geram sérios problemas para
sua conservação.
É comum ver pessoas circulando a pé pelo sítio e recolhendo pequenas
“lembranças” (geralmente lascas de quartzo), o que pode ser altamente danoso para
o registro arqueológico tendo em vista as características do solo e os constantes
afloramentos provocados pelo vento. Com menor frequência, mas com igual
importância devido ao potencial destrutivo da atividade, pode-se observar
quadriciclos, bugres e motocicletas transitando pela duna. É possível notar, ainda,
que nos dias de maior movimento de turistas, o espaço da Duna é usado como
estacionamento de veículos de passeio. Estes veículos podem, obviamente,
provocar grandes danos físicos ao registro arqueológico e certamente já foram
responsáveis pelo deslocamento de grandes massas de areia, fato este que pode vir
a influenciar o resultado de uma eventual pesquisa arqueológica no sítio.
Boa parte dos problemas relacionados à degradação da Duna Grande está
ligada à dúvida do próprio poder público sobre a incumbência legal de fiscalização e
proteção do espaço. O sítio arqueológico em questão, por natureza, encontra-se sob
a proteção da lei 3.924, de 1963. À proteção e fiscalização sugeridas pela lei, soma-
se o fato de a Duna Grande estar em processo de tombamento pelo IPHAN desde o
ano de 1986. Para além dos dois dispositivos federais (Lei 3.924 de 1961, que trata
especificamente da proteção de sítios arqueológicos e Decreto-lei n° 25 de 1937,
que estabelece o tombamento como ferramenta de proteção ao patrimônio histórico
e artístico nacional) que supostamente garantiriam a proteção do sítio, a Duna ainda
está inserida na área de proteção ambiental do Parque Estadual da Serra da Tiririca,
unidade de conservação gerida pelo Instituto Estadual do Ambiente, por sua vez
vinculado à Secretaria de Estado do Ambiente. Por fim, a regulamentação de
trânsito, a manutenção da ordem pública e gerência sobre questões de urbanismo e
mobilidade do município cabem à prefeitura.
O acúmulo de dispositivos e agentes de proteção que, independentemente do
interesse – seja ele histórico, cultural, arqueológico, paisagístico, ambiental, etc. –,

37
deveriam servir para garantir a conservação de um bem, acabam por colaborar para
sua degradação. Pois onde a gerência do problema é compartilhada, as obrigações
acabam não sendo tão claras no sentido em que a responsabilidade, quando
dividida, parece gerar consequências mais brandas e bem menos comprometedora
para as figuras públicas.

2.1.1. A tradição Itaipu

Apesar da Duna Grande nunca ter sido adequadamente pesquisada9, as


características do material arqueológico encontrado no sítio pelo professor Ondemar
Dias e equipe do IAB em sua primeira incursão, no ano de 1962, e em seu retorno,
já em 1969, juntamente com as pesquisas realizadas em outros sítios fluminenses –
dentre eles o Sítio Duna Boa vista e o Sítio da Malhada, ambos localizados no
município de Cabo Frio e o sítio Corondó, no município de São Pedro D'Aldeia) –
foram suficientes para que alguns teóricos10 pudessem notar similaridades culturais
entre os registros encontrados.
Para além do sítio Duna Grande, durante o primeiro ano de vigência do
PRONAPA11 (1965-66) foram localizados pela equipe do IAB outros seis sítios de
características similares no Estado do Rio de Janeiro. Estes foram englobados numa
fase cultural pré-histórica então denominada “Itaipu”. A classificação cunhada para
caracterizar este modelo cultural de ocupação teria tomado o nome “Itaipu” por ser o
sítio Duna Grande aquele que, devido às suas dimensões, estado de conservação,
localização e abundância de material, melhor exemplificaria esta “fase cultural”.
(CARVALHO, 1988).

9
Não constam no conjunto de arquivos que compõem o processo de tombamento do sítio Duna
Grande quaisquer registros documentais que indiquem a realização de pesquisa arqueológica
aprofundada no sítio.
10
Destaque para o próprio Ondemar Dias Jr. e para a antropóloga Eliana Carvalho.
11
O Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas esteve ativo de 1965 a 1970. Tratou-se de uma
parceria empreendida entre o governo militar brasileiro, através da SPHAN (Secretaria de Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional), e o Smithsonian Institution. Treinados e coordenados pelos
arqueólogos americanos Clifford Evan e Betty Meggers, diversas equipes de arqueólogos brasileiros
– dentre elas a equipe técnica do IAB – realizaram um levantamento em busca de vestígios
arqueológicos em várias partes do país.
38
A Tradição Itaipu foi “oficializada” na reunião final do PRONAPA, em 1973. À
esta tradição foram associados os sítios “de caçadores-coletores-pescadores do
litoral, cuja dieta não era predominantemente de moluscos e que abandonavam a
economia sambaquiana” (DIAS e CARVALHO, 1983-84).
Dias e Carvalho percebem a Tradição Itaipu ao traçar um panorama de
permanências e mudanças dos grupos associados à esta tradição em comparação
daquelas chamados de “sambaquianos”. A percepção de mudança cultural é
diretamente associada a uma resposta adaptativa às questões ambientais:

Na faixa do tempo em pauta (Há mais de 4.500 anos atrás) segundo


hipóteses dos geomorfólogos [cita a curva de variação de nível dos oceanos
propostas por Fairbridge] ocorreu um afastamento da linha da costa que
provocou a criação de lagoas litorâneas e prejudicou as condições ideais
para a proliferação daqueles moluscos que se contituíam [sic] como a base
do consumo das comunidades locais. Em resposta, se coletividades
humanas muito adaptadas tiveram que se afastar [...] para manter seus
padrões de economia [...], outros grupamentos mais adaptáveis puderam
permanecer, aproveitando as novas e favoráveis condições que surgiram
em torno dessas lagunas. (DIAS e CARVALHO, 1983-84, p. 99-100)

Os grupos componentes da Tradição Itaipu, fase “A”, seriam, portanto,


adaptações locais dos sambaquieiros que passaram por mudanças culturais,
principalmente no que tange sua alimentação, devido a estímulos sofridos pelo
afastamento da linha dos oceanos. Identificados como pertencentes à fase “Itaipu
A”, estes grupos, de acordo com os autores acima citados, apresentariam uma dieta
mais variada, rica em carboidratos, ao contrário dos grupos sambaquianos que, por
sua vez, apresentariam uma dieta menos variada e rica em cálcio.
O sítio Duna Grande, em específico, faria parte da fase “Itaipu B”. Percebida
como uma fase mais recente em que determinados grupos teriam estreitado ainda
mais sua relação com o mar, apesar do retorno da linha do oceano às condições
anteriores às de 4500 ap. Ela seria caracterizada, principalmente, pelo tipo de
ocupação sobre duna e pela subsistência pautada principalmente na prática da
pesca.
Com o passar dos anos e o aprofundamento das pesquisas arqueológicas da
costa brasileira, a “Tradição Itaipu”, oficializada dentro do PRONAPA em 1973, foi

39
perdendo peso no cenário da arqueologia nacional pois percebeu-se que aqueles
elementos utilizados na categorização e diferenciação destas ocupações não eram
suficientes para afasta-la de uma percepção mais geral sobre a cultura
sambaquieira. Em sua publicação intitulada Sambaquis: Arqueologia do Litoral
Brasileiro, a arqueóloga Madu Gaspar demonstra sua percepção acerca dos estudos
de sambaquis na pré-história brasileira:

Alguns estudiosos consideram que no mesmo período em


que os sambaquis estavam ativos, o litoral também era ocupado por
outros grupos sociais [...]. Esses sítios receberam várias
denominaçãoes, tais como "sambaquis sujos", "acampamento para
coleta de moluscos" e "tradição Itaipu". Porém, considero que eles
compartilham uma série de características dos sambaquis e,
portanto, podem ser acomodados nas diferenças que existem no
próprio sistema de assentamento e nas variações que ocorreram
durante o processo de colonização [...]. Com essa proposta estou
sugerindo uma certa ruptura com o esquema de análise adotado
desde os primeiros sambaquis na pré-história brasileira. Considero
que traços culturais podem variar no tempo e no espaço [...] sem que
isso afete a identidade social do grupo. Essa perspectiva percebe a
cultura como algo essencialmente dinâmico e perpetuamente
elaborado. (GASPAR, 2004, p.40-41)

A despeito das divergentes interpretações apresentadas para explicar a


ocupação litorânea fluminense, o Sitio Duna Grande ainda é considerado pelo
IPHAN como monumento símbolo da arqueologia pré-histórica brasileira. Sua
importância advém de seu potencial científico, didático e simbólico.

40
2.2. O Museu de Arqueologia de Itaipu (MAI)

O Museu de Arqueologia de Itaipu, localizado no município de Niterói, estado


do Rio de Janeiro, é uma unidade vinculada ao Instituto Brasileiro de Museus
(IBRAM), autarquia do Ministério da Cultura (MinC). O museu está instalado nas
ruínas do antigo Recolhimento de Santa Teresa, bem inscrito no Livro de Tombo de
Belas Artes no ano de 1955.
De acordo com seu Plano Museológico, o MAI tem por missão institucional
"[...] promover a valorização da memória das ocupações humanas pré-cabralinas e
posteriores de Niterói através da preservação, da pesquisa e da comunicação de
seu acervo, visando ao acesso irrestrito aos patrimônios cultural e ambiental.”.

2.2.1. O Projeto de criação

O projeto de criação do museu, datado entre as décadas de sessenta e


setenta, é de autoria do arquiteto do IPHAN, Edgard Jacintho, com o apoio do então
diretor do Instituto, Renato Soeiro. A intenção era aproveitar o prédio do antigo
Recolhimento de Santa Teresa, cujas ruínas passavam por processo de
consolidação, para a implantação de uma instituição de caráter didático-científico
capaz de preservar e difundir o patrimônio arqueológico e colaborar para o aumento
do fluxo turístico da região.
Em seu projeto, o arquiteto do IPHAN pretendia que as atividades do museu
fossem além das convencionais exposições e atividades educativas intramuros e se
estendessem na exploração das características arqueológicas, ecológicas e
paisagísticas que compunham o Canto de Itaipu. O museu deveria funcionar,
portanto, de modo integrado com seu entorno.
Era previsto que a instituição se apropriasse do sítio arqueológico Duna
Grande – localizada a poucos metros do antigo recolhimento – de modo a utilizá-lo
como ferramenta para a promoção do conhecimento acerca da arqueologia pré-
colonial brasileira, conforme podemos perceber nas palavras do próprio Edgar
Jacintho:

41
“A Duna constitui por si mesma a contemplação didática necessária à
divulgação das atividades científico-culturais previstas para este
estabelecimento. Há, portanto que, em tempo, se reponha no devido lugar
as premissas deste projeto, concebidas com propósito voltado
exclusivamente no interesse comum da difusão da cultura popular,
mediante o conhecimento e mostragem de todo o encadeamento dos fatos
relacionados com a pré-história nacional.” (Arquivo MAI)

Na visão do Sr. Jacintho, o acervo e exposições do MAI se concentrariam,


principalmente, nos registros arqueológicos oriundos de sítios do litoral do estado do
Rio de Janeiro, com destaque para o material advindo dos sítios do entorno, a Duna
Grande, a Duna Pequena e o Sambaqui de Camboinhas.

2.2.2. Inauguração e atuação

Após sua abertura em 1977, o museu, que contava com três exposições
organizadas por pesquisadores do Museu Nacional/Universidade Federal do Rio de
Janeiro, foi fechado, em 1980, por motivo de obras. Após dois anos, o museu foi
reaberto com o apoio da Empresa Niteroiense de Turismo (Enitur/Prefeitura
Municipal de Niterói). No início da década de oitenta, foi montada a exposição
Aspectos da pré-história do litoral do Estado do Rio de Janeiro, cujo acervo
pertencia, quase em sua totalidade, ao Museu Nacional e ao Instituto de Arqueologia
Brasileira (IAB).
Nas décadas seguintes, o museu passou por novos fechamentos e
reaberturas devido à realização de obras de infraestrutura, incluindo as de
readequação do espaço para a construção de uma nova sede administrativa. No
final doas anos noventa, o museu buscou a implementação de um projeto de
revitalização da instituição que não veio a se concretizar em sua plenitude.
Algumas ações visando ao cumprimento da missão institucional do museu e,
consequentemente, de expansão de sua divulgação e da atuação do IPHAN foram
encampadas através da organização de cursos e palestras destinados à
comunidade e a profissionais variados, bem como pelo estabelecimento de parcerias
com instituições da área de cultura, a Colônia de Pescadores Z-7, o Conselho
Comunitário da Região Oceânica de Niterói, o Parque Estadual da Serra da Tiririca

42
(PESET), artistas e comerciantes da cidade, que colaboram na realização de
eventos e exposições do Museu. Cabe destacar a parceria com a Faculdade de
Educação da UFF, através do Laboratório de Educação Patrimonial (LABOEP), que
rendeu ao museu o projeto Caniço & Samburá. Trata-se de um programa de ação
educativa baseado no empréstimo de material para as escolas, visando maior
proveito quando da realização de visitas agendas e oficinas com os estudantes. Este
projeto funciona até os dias de hoje e foi, durante muito tempo, a ação mais bem
sucedida do MAI em termos de criação de vínculos com as instituições de ensino da
região.
Em 2010, o MAI inaugurou a exposição Percursos do Tempo - Revelando
Itaipu. A nova exposição de longa duração do museu contou com a curadoria da
então diretora da instituição Maria De Simone Ferreira e com o apoio de técnicos e
professores do Museu Nacional/UFRJ e da Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro (UFRRJ) para a seleção do acervo. Esta exposição apresenta uma
linguagem musográfica mais moderna e alcançou grande sucesso em apresentar ao
visitante um resumo de todos os temas trabalhados pelo MAI em um único espaço.

2.2.3. Histórico do prédio, do território e da coleção.

O MAI está instalado nas ruínas do antigo Recolhimento de Santa Teresa,


instituição fundada em 1764, pelos padres Manuel Francisco da Costa e Manuel da
Rocha, com a finalidade de abrigar mulheres que pretendiam seguir a vida religiosa,
órfãs, prostitutas, as mulheres que haviam engravidado ou mantido romances antes
do matrimônio, viúvas e aquelas que ali eram instaladas por seus pais ou maridos
quando estes saíam em viagem. O tempo de permanência na instituição era
determinado pelo patriarca da família, e a internação no estabelecimento requeria o
pagamento de um dote pela família e a aprovação da Corte.
De acordo com a documentação acerca do prédio e de seu funcionamento
através das Cartas de Visitas Pastorais de 1811 e 1812, há relatos de que nas
primeiras décadas do século XIX, as recolhidas e o estabelecimento já se
encontravam em estado de pobreza franciscana. Em 1833, o prédio estava vazio, e
o então vigário João de Moraes e Silva instituiu o local como asilo para menores. A

43
partir desta última informação, não se tem mais documentos que mencionem o
Recolhimento de Santa Teresa de Itaipu, havendo, portanto, um hiato na pesquisa
histórica da instituição durante o restante do século XIX.
O século XX é marcado, em termos da história do prédio, por ocupações,
disputas de posse, pelo tombamento do bem e a criação do museu. Abandonado
desde o século XIX, o prédio foi ocupado por pescadores da região que passaram a
habitá-lo e a utilizá-lo como espaço para tingimento das redes de pesca. Passa a
existir, no entorno da muralha, uma aglomeração de residências de pescadores.
Após o tombamento do antigo recolhimento, as sucessivas correspondências
expedidas por parte da Colônia de Pescadores da região demonstram uma
preocupação com a conservação do monumento, solicitando ao Governo do Estado
e à Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (DPHAN) que retirassem
dali a casa de motor da Companhia Territorial Itaipu, proprietária do terreno, para
que o bem viesse a servir de sede à Colônia. A Cia. Territorial Itaipu, por sua vez, se
dirige à DPHAN acusando o interventor da Colônia de ocupar indevidamente os
remanescentes do recolhimento, se propondo, inclusive, a restaurar o prédio sob
orientação do Patrimônio Histórico.
Em 1968, iniciam-se as obras de consolidação e conservação-restauração da
capela e das paredes de rocha das muralhas, sob coordenação de Edgard Jacintho,
chefe do Departamento de Conservação e Restauração da DPHAN. As aberturas
em suas paredes foram vedadas e a desocupação de seu interior efetuada. Deste
período adiante, iniciou-se o projeto de criação de um museu a ser instalado no
monumento.
O acervo institucional do MAI é composto por quatro coleções, a saber: a
Coleção Hildo de Mello Ribeiro, a Coleção Blocos Testemunhos do Sambaqui de
Camboinhas, a Coleção Aureliano Mattos de Souza e a Coleção Remanescentes do
Recolhimento de Santa Teresa. Para além das coleções acima citadas, o acervo do
MAI inclui uma canoa de jequitibá do século XIX, artefatos arqueológicos
encontrados nas redondezas do museu e para ele encaminhados por pessoas da
região ou usuários da praia, além de objetos doados pelo Parque Estadual da Serra
da Tiririca (PESET).

44
A Coleção Hildo de Mello Ribeiro constitui o núcleo inicial do acervo
institucional. Esta coleção foi formada durante as décadas de 1960 e 70 através da
realização de coletas no sítio arqueológico Duna Grande realizadas pelo agente
federal de fiscalização da pesca e morador de Itaipu, Hildo de Mello Ribeiro.
A Coleção é composta por cerca de mil objetos, testemunhos da ocupação
da região antes da chegada dos portugueses. Dentre as peças é possível encontrar
machados de pedra, pontas de ossos, restos esqueletais humanos, lascas de
quartzo, polidores, adornos e restos alimentares. Devido a maneira como foi
composta, a coleção apresenta pouco valor científico, pois faltou ao arqueólogo
amador Hildo de Mello Ribeiro os métodos adequados12 para a realização da coleta
e para o registro das peças. A coleção, portanto, não serve para fins de pesquisa
arqueológica e é usada pelo museu com objetivo puramente didático no sentido de
ilustrar para o visitante as características de cultura material de uma cultura coletora,
caçadora e pescadora que um dia habitou a faixa litorânea da Região Oceânica de
Niterói.
A Coleção de Blocos Testemunhos do Sambaqui de Camboinhas pertencente
ao museu é fruto da Pesquisa de Salvamento em Itaipu, ocorrida em 1979, quando
da construção da estrada de Camboinhas e do projeto de urbanização da orla de
Itaipu, episódio que viria a deteriorar os sítios arqueológicos Duna Pequena e
Sambaqui de Camboinhas ali localizados. Tendo em vista a preservação deste
valioso patrimônio, cuja datação aproxima-se de 6 mil anos a.p. (KNEIP et al, 1981,
p.137), uma equipe de pesquisadores, coordenada pela Prof. Dr. Lina Kneip do
Museu Nacional, foi enviada ao local com o intuito de reconstituir o quadro
arqueológico e ecológico do litoral de Itaipu e estudar a adaptação de culturas
caçadoras, pescadoras e coletoras litorâneas e a evolução do meio natural, obtendo
como um dos resultados da pesquisa a preservação de blocos testemunhos do
sambaqui.
Em 2008, a Superintendência do IPHAN no Rio de Janeiro transferiu para o
museu a Coleção Remanescentes do Recolhimento de Santa Teresa. Trata-se de
uma coleção composta por 178 itens, formada por registros de cultura material

12
Não é possível, devido à falta de registros imagéticos e técnicos – como nível de profundidade e
localização geográfica dos artefatos – extrair informações mais aprofundadas sobre a ocupação do
sítio.
45
encontrados no próprio Recolhimento de Santa Teresa durante as várias obras de
infraestrutura do museu. Esta coleção apresenta fragmentos cerâmicos de diferentes
tipos e formatos e é de grande importância para a história do antigo recolhimento
feminino, visto se tratar dos únicos vestígios do cotidiano no recolhimento até então
pesquisados, além das próprias ruínas.
A mais recente coleção do Museu de Arqueologia de Itaipu é um reflexo da
tentativa de aproximação do MAI com os moradores do seu entorno. A Coleção
Aureliano Mattos de Souza é composta por artefatos ligados a pesca artesanal
secular, praticada no Canto de Itaipu. São agulhas para tecer rede de pesca, pesos
para rede e uma miniatura de canoa doados, em sua maioria, pelo pescador que dá
nome à coleção.
O museu conta, ainda, com uma canoa “de um só tronco”, feita de jequitibá,
doada em 1979, pela Colônia de Pescadores local. Até aquela data, a canoa do
século XIX fora utilizada como cocho para tingimento das redes de pesca e
pertencera a Seu Vavá, um pescador da região. Considerando a prática local de
doação de peças de relevante significado sociocultural e afetivo por parte dos
moradores da região ao museu, em 2009, por ocasião da montagem da exposição
Percursos do Tempo, uma série de objetos, já adicionados ao Inventário de 2010, foi
incorporada ao acervo institucional.

46
CAPÍTULO 3: MAPEAMENTO DAS AÇÕES

Art. 1º Os monumentos arqueológicos ou pré-históricos de qualquer


natureza existentes no território nacional e todos os elementos que neles se
encontram ficam sob a guarda e proteção do Poder Público, de acordo com
o que estabelece o art. 175 da Constituição Federal. (Lei 3.924/1961)

Legalmente, de acordo com o que estabelece o artigo acima referenciado, a


proteção dos sítios arqueológicos brasileiros é de responsabilidade do Estado,
geralmente representado - nos assuntos de cunho arqueológico - pelo IPHAN.
Entretanto, por motivos cuja a discussão seria de vital importância para a
preservação do patrimônio nacional mas que, neste momento, não convém serem
abordados, as ferramentas convencionais do estado não têm surtido grande efeito
no trabalho de preservação no caso específico da Duna Grande.
Em Itaipu, onde as atividades de monitoramento e fiscalização do IPHAN
deixam a desejar, pode-se perceber uma movimentação para a preservação do sítio
arqueológico baseada em uma tentativa de aproximação entre o monumento e
aqueles que o cercam. Desde sua criação, no ano de 1977, O Museu de
Arqueologia de Itaipu desenvolve atividades que tem por objetivo a conscientização
público da região acerca do valor arqueológico do contexto geográfico onde está
inserido.
Entendendo o museu como uma ferramenta alternativa de proteção
patrimonial - no sentido em que suas atividades diferem-se daquelas de vigilância e
proteção física do espaço, e, por outro lado, estão baseadas na aproximação do
público através da construção e transmissão de conhecimento - da qual o estado
pode lançar mão, cabe analisar os meios pelos quais o MAI se faz presente no
trabalho de preservação do sítio.
O estudo das ações desenvolvidas pelo museu, aliado à realização de um
levantamento histórico-fotográfico da Duna Grande, a um trabalho de medição do
sítio e à realização de entrevistas com moradores antigos da região e com
pesquisadores que há muito se dedicam ao estudo do sítio em questão, permitirão,
em um próximo momento, tentar compreender o impacto das atividades

47
desenvolvidas pelo MAI na evolução do estado de preservação do Sítio
Arqueológico Duna Grande.

3.1. Exposições e atividades educativas

Através da pesquisa aos arquivos físicos e digitais do Museu de Arqueologia


de Itaipu e ao Arquivo Noronha Santos, do IPHAN, foi possível levantar todas as
atividades da instituição desde o ano de 1977, data de sua criação, até o ano de
2010, data selecionada por conta da elaboração da nova exposição de longa
duração do museu, que, juntamente com a criação do IBRAM marcam uma nova
etapa na estrutura de atuação do MAI.
Por tratar-se de um museu de tipologia arqueológica, boa parte das ações
desenvolvidas pela instituição abordaram a questão dos sítios fluminenses e a
construção de conhecimento sobre os mesmos, através do estudo de seu registro
arqueológico. Entretanto, por ser uma das poucas instituições de caráter cultural da
região, o museu - desde a sua criação - mantém uma prática de propor e receber
propostas de atividades cujas temáticas vão além daquelas diretamente ligadas à
arqueologia.
Com o objetivo de organizar as informações encontradas, foi elaborado um
quadro resumido de atividades. As atividades levantadas foram separadas por ano
de execução e analisadas conforme os seguintes critérios: Tipo de Atividade, onde
encontra-se informações sobre a tipologia da atividade desenvolvida; Título da
atividade, campo onde figura o nome dado pelo(s) responsável(eis) pela elaboração
do projeto13; Resumo da atividade, onde são brevemente apresentadas as principais
características da ação; Parceiro/artista, onde constam os nomes dos indivíduos e
das instituições que apoiaram ou propuseram as atividades; e Há relação com a
temática da Arqueologia?, onde se apura se as atividades realizadas foram, ou não,
diretamente relacionadas com a área da arqueologia.

13
Os arquivos relacionados a algumas atividades não apresentaram títulos definidos. Nesses casos
os títulos são apresentados sem o emprego de aspas e foram criados pelo autor. Para a criação dos
títulos foram levados em conta o Tipo de atividade e o Resumo da atividade.
48
Através da metodologia empregada na elaboração do quadro é possível
entender, de maneira rápida e objetiva, que tipos de ação eram mais comumente
realizadas, quais eram as principais características dessas ações – sejam elas
exposições ou atividades educativas de diferentes moldes –, e se essas ações
trabalhavam, ou não, o tema da arqueologia.

QUADRO 1 – Quadro das atividades realizadas pelo Museu de Arqueologia de Itaipu

Ano Tipo de Título da Resumo da atividade Parceiro/ Há


Atividade Atividade artista relação
com a
temática
arqueoló-
gica?
Exposição em que eram
“Abordagem da apresentadas ao visitante
1977 Exposição Arqueologia diferentes fases de uma Lina Kneip Sim
Brasileira” pesquisa em sambaqui. Foco no
Sambaqui do Forte
1978 - - - -
Exposição dos blocos
Lina Maria
testemunhos advindos do
Kneip
“Blocos Sambaqui de Camboinhas em
Exposição Maria Sim
Testemunhos” pesquisa de salvamento
Lucia
realizada durante julho e agosto
goulart
1979 de 1979
Lina Maria
Exposição com reproduções, em
Kneip
“Arte Rupestre compensado pintado, de
Exposição Maria Sim
no Brasil” pinturas rupestres encontradas
Lucia
em território nacional
goulart
1980 - - - - -
1981 - - - - -
1982 - - - - -
“Aspectos da
pré-história
brasileira
Exposição contendo acervo
correspondente Museu
advindo da Duna Grande e
à faixa litorânea Nacional
Exposição quadros explicativos sobre sítios Sim
compreendida
em sambaquis, em dunas e
entre Itaipu e IAB
sítios cerâmicos
Cabo Frio no
Estado do Rio
1983
de Janeiro”
Exposição contendo fotografias
e textos explicativos sobre o
“Estudando o
trabalho de campo do Não
Exposição passado do Sim
arqueólogo. Fotos dos sítios consta
homem”
Guaiba e Amourins, ambos no
RJ
Atualização de Atualização de professores para
Oficina MNBA Sim
professores recursos educativos em museus
49
QUADRO 1 – Quadro das atividades realizadas pelo Museu de Arqueologia de Itaipu

Ano Tipo de Título da Resumo da atividade Parceiro/ Há


Atividade Atividade artista relação
com a
temática
arqueoló-
gica?
para recursos
educativos em
museus
Banda do
Projeto “Ver e 12º
Evento Apresentação musical Não
ouvir” Batalhão
da PM
Exposição?? “1ª Mostra Exposição do trabalho de alunos
MNBA Sim
?? Infantil de Arte” sobre o acervo do museu
Trabalho Visitas Durante o ano foram recebidos
- Sim
Educativo Orientadas 279 alunos
Treinamento
Treinamento para o manuseio da
para o Keyko
Oficina cerâmica para professores de Não
manuseio da Mayama
1984 ensino infantil
cerâmica
Trabalho Visitas Durante o ano foram recebidos
- Sim
Educativo Orientadas 339 alunos
“Eterna Curso de artesanato em Martha
Curso Não
cerâmica” cerâmica Pezé
Exposição bimensal de peças de
origem arqueológica
“Peça em
Exposição acompanhadas de textos IAB Sim
destaque”
1985 elaborados pelos responsávei
pela pesquisa relativa ao acervo
“Música no Agenda de apresentações
Evento variados Não
museu” musicais
Trabalho Visitas Durante o ano foram recebidos
- Sim
Educativo Orientadas 193 alunos
Oficina/Expo Grupo arte no Oficinas e exposição de
variados Não
sição museu artesanato
“Itaipu: a pedra Evento em comemoração ao dia Não
Evento Não
que canta” do Índio Consta
“Eterna Curso de artesanato em Martha
1986 Curso Não
cerâmica” cerâmica Pezé
“Música no Agenda de apresentações
Evento Variados Não
museu” musicais
Trabalho Visitas Durante o ano foram recebidos
- Sim
Educativo Orientadas 13 alunos
“Desenhando Aulas de desenho que tinham o Guilherme
Curso Não
Itaipu” Canto de Itaipu por temática Vergara
1987
“Eterna Curso de artesanato em Martha
Curso Não
cerâmica” cerâmica Pezé
“Desenhando Aulas de desenho que tinham o Guilherme
Curso Não
Itaipu” Canto de Itaipu por temática Vergara
1988
“Eterna Curso de artesanato em Martha
Curso Não
cerâmica” cerâmica Pezé
1989 - - - - -
1990 - - - - -
50
QUADRO 1 – Quadro das atividades realizadas pelo Museu de Arqueologia de Itaipu

Ano Tipo de Título da Resumo da atividade Parceiro/ Há


Atividade Atividade artista relação
com a
temática
arqueoló-
gica?
Houve um projeto para
exposição que tratava de
Projeto de “5.000 anos de temática da pesca ao longo dos
1991 IAB -
Exposição pesca” anos em Itaipu. Entretanto, não
há indícios de que este projeto
tenha sido executado
Curso de artesanato em Keyko
Curso Cerâmica Não
cerâmica Mayama
Sonia
Curso Aquarela Curso e pintura em aquarela Não
Ohta
Eliane
Impressão de
Curso Curso de impressão em tecidos Carrapatei Não
tecidos
ra
Waldir
Curso Tai Chi Chuan Curso de Tai Chi Chuan Não
Machado
1992 Remontagem da Exposição dos
Lina Maria
blocos testemunhos advindos do
Kneip
“Blocos Sambaqui de Camboinhas em
Exposição Maria Sim
Testemunhos” pesquisa de salvamento
Lucia
realizada durante julho e agosto
Goulart
de 1979
“Tardes Não
Evento Não Consta Não
Ecológicas” Consta
Trabalho Visitas Durante o ano foram recebidos
- Sim
Educativo Orientadas 189 alunos
Rosana
Najjar
“Pré-história em Lina Kneip
Exposição Não Consta Sim
Itaipu” João
Carlos
Gomes

Empréstimo de peças (dois


blocos testemunho, um almofariz
Exposição/E Empréstimo de
e um percutor) ao Museu de Arte - Sim
mpréstimo peças
Religiosa e Tradicional de Cabo
1993 Frio

Suporte ao Rosana
Trabalho Elaboração de textos de apoio
Setor educativo Najjar SIm
Educativo às visitas orientadas
do Museu
Solicitação à fundação de pesca
Solicitação de do RJ de pesquisa sobre uma
Pesquisa - Não
pesquisa canoa, peça integrante do
acervo do MAI
“Arte na pedra: Rosana
Exposição utilizando acervo
Exposição Coleção Hildo Najjar Sim
advindo da Duna Grande
de Mello Prefeitura

51
QUADRO 1 – Quadro das atividades realizadas pelo Museu de Arqueologia de Itaipu

Ano Tipo de Título da Resumo da atividade Parceiro/ Há


Atividade Atividade artista relação
com a
temática
arqueoló-
gica?
Ribeiro” de Niterói
Exposição com acervo formado
Museu
por utensílios de pescaria
“Modo de fazer: Forte
Exposição tradicional fornecido pelo Museu Não
A canoa” Defensor
Forte Defensor Perpétuo (Paraty
Perpétuo
– RJ)
Associaçã
o livre de
Exposição com utensílios de pescadore
“Pesca
Exposição pesca dos pescadores s e amigos Não
artesanal hoje”
artesanais de Itaipu da Praia
de Itaipu
(ALPAPI)
Iniciação à
Curso de iniciação à cerâmica Ana Maria
Curso cerâmica Não
utilitária Lopes
utilitária
Trabalho Visitas Durante o ano foram recebidos
- Sim
Educativo Orientadas 1502 alunos
Exposição com duração de dois
Evento/Expo
“1º Artshop” dias. Contou com a participação Variados Não
sição
de artesãos da região
“Brincando com
1994 Curso de artesanato com argila
Curso argila no ALPAPI Não
voltado para público infantil
Museu”
Apresentação Apresentação de coral infantil e Colégio
Evento Não
musical conjunto de flautas Cruzeiro
Pierre
Consistiu em um projeto Crapez
englobando cinco exposições de Keyko
arte contemporânea. O projeto Mayama
previu, ainda, curso de Antonio
Exposição “Projeto Duna” Não
apreciação musical, curso de Pinheiro
iniciação em artes plásticas e Jorge
oficina de Soares
1995
som/ritmo/corpo/mundo Helenice
Bueno
Exposição de fotografias de co
Canto de Itaipu abarcando as
“Três décadas décadas de 60, 70 e 80. Mostra
Exposição Ruy Lopes Não
de Itaipu” a Duna Grande, mas como
marco paisagístico, e não como
sítio arqueológico
Contato com diversas Prefeitura,
instituições solicitando Universida
Pesquisa documentação acerca do de Federal
1996 Pesquisa Sim
documental Recolhimento de Santa Teresa e Fluminens
seu entorno (inclusive os sítios e, Instituto
arqueológicos) Estadual

52
QUADRO 1 – Quadro das atividades realizadas pelo Museu de Arqueologia de Itaipu

Ano Tipo de Título da Resumo da atividade Parceiro/ Há


Atividade Atividade artista relação
com a
temática
arqueoló-
gica?
do
Patrimônio
Artístico e
Cultural,
Câmara de
Vereadore
s e IPHAN
“Cada povo tem
Exposição em comemoração ao Museu do
Exposição seu jeito de Não
dia do índio Índio
viver”
Curso de Cessão do espaço à ALPAPI
Curso percussão e para realização de curso de ALPAPI Não
dança Afro percussão e dança Afro
Trabalho Visitas Durante o ano foram recebidos
1997 - Sim
Educativo Orientadas 1248 alunos
“1º Expoarte da Cessão do espaço ao Conselho
Região Comunitário da Região Oceânica
Exposição CCRON Não
Oceânica de de Niterói (CCRON) para
Niterói” realização de mostra de arte
Eny Hertz
“Revelando Exposição de fotografias da
Exposição Eliana Não
Itaipu” região de Itaipu
Leite
1998
Oficinas de cerâmica e pintura
Evento/oficin Dia das
em comemoração ao dia das ???? Não
a Crianças
crianças
Exposição de Exposição de esculturas em Icléa
Exposição Não
esculturas chapa de ferro Ecard
Trabalho Visitas Durante o ano foram recebidos
- Sim
Educativo Orientadas 974 alunos
“Espelhos
Exposição fotográfica que
D‟água: Fotógrafos
objetivava mostrar ao visitante a
Exposição Resgatando as da região Não
importância da preservação das
Lagoas de de Itaipu
Lagoas de Itaipu e Piratininga
Niteró”
Exposição contendo as obras
vencedoras do concurso que
“1º Concurso Instituto
propôs a representação da fauna
Exposição Itaipu de Eco- Lagoa de Não
da Lagoa de Itaipu através da
Esculturas” Itaipu
1999 utilização de materiais
recicláveis
Curso voltado para professores
“Curso de da rede pública que objetivava
Patrimônio maior aprofundamento acerca IPHAN
Curso Sim
Cultural em dos bens históricos, Prefeitura
Itaipu” arqueológicos e naturais da
região
Trabalho Visitas Durante o ano foram recebidos
- Sim
Educativo Orientadas 1481 alunos

53
QUADRO 1 – Quadro das atividades realizadas pelo Museu de Arqueologia de Itaipu

Ano Tipo de Título da Resumo da atividade Parceiro/ Há


Atividade Atividade artista relação
com a
temática
arqueoló-
gica?
“2º Expoarte da Cessão do espaço ao Conselho
Região Comunitário da Região Oceânica
Exposição CCRON Não
Oceânica de de Niterói (CCRON) para
Niterói” realização de mostra de arte
Exposição de esculturas em
“Homenagem à Miriá
Exposição cobre, bronze e latão com Não
Mulher” Couto
temática feminina

Universida
“Figuras, Exposição contendo trabalhos
de Federal
Exposição gravuras e artísticos de alunos e ex-alunos Não
do Rio de
ilustrações” da Escola de Belas Artes
Janeiro

Apresentação Coral
Evento Apresentação de coral Não
musical Marearte
Exposição apresentando os
principais tipos de sítios
2000 “Arqueologia João
Exposição arqueológicos encontrados em Sim
em maquetes” Gomes
território nacional, assim como
variadas técnicas de escavação
Passeio pelo canto de Itaipu
“Passeio (Duna Grande inclusa) em
Evento - Sim
Cultural” comemoração aos 427 anos da
cidade de Niterói
Exposição de trabalhos de
Exposição “Explorações” Variados Não
pintura em seda
Premiação do concurso de
desenho livre promovido pelo
Evento/Expo Concurso “Não CCRON com o objetivo de
CCRON Não
sição aos espigões” combater o surgimento de
prédios altos na Região
Oceânica de Niteró
Trabalho Visitas Durante o ano foram recebidos
- Sim
Educativo Orientadas 2794 alunos
Passeio pelo canto de Itaipu
“Passeio (Duna Grande inclusa) em
Evento - Sim
Cultural” comemoração aos 428 anos da
cidade de Niterói
Exposição de trabalhos dos
“Linhas da participantes da oficina de
Exposição UFF Não
Vida” Arteterapia da Universidade
2001
Federal Fluminense
Exposição contendo as obras
vencedoras do concurso que
“2º Concurso Instituto
propôs a representação da fauna
Exposição Itaipu de Eco- Lagoa de Não
da Lagoa de Itaipu através da
Esculturas” Itaipu
utilização de materiais
recicláveis

54
QUADRO 1 – Quadro das atividades realizadas pelo Museu de Arqueologia de Itaipu

Ano Tipo de Título da Resumo da atividade Parceiro/ Há


Atividade Atividade artista relação
com a
temática
arqueoló-
gica?
ARTBELA
Realização de palestra e mostra Tribos
Palestra Dia do Índio de artesanato indígena Kaingang Kaingang Não
e Munduruku e
Munduruku
Exposição fotográfica
“Ampliando a
Exposição tematizando a fauna e a flora da Eny Hertz Não
Serra”
Serra da Tiririca
Trabalho Visitas Durante o ano foram recebidos
- Sim
Educativo Orientadas 3892 alunos
Artesãos
Exposição contendo réplicas de de Cabo
“O homem e o
Exposição embarcações, apetrechos de Frio Não
mar”
2002 pesca e fotografias
Eny Hertz
Trabalho Visitas Durante o ano foram recebidos
- Sim
Educativo Orientadas 2760 alunos
Exposição fotográfica em
“Ecoando: 10 comemoração aos dez anos do ECOAND
Exposição Não
anos” grupo de caminhadas ecológicas O
2003
“Ecoando”
Trabalho Visitas Durante o ano foram recebidos
- Sim
Educativo Orientadas 1896 alunos
Exposição fotográfica em
“Caminhadas comemoração aos onze anos do ECOAND
Exposição Não
visuais” grupo de caminhadas ecológicas O
2004
“Ecoando”
Trabalho Visitas Durante o ano foram recebidos
- Sim
Educativo Orientadas 2091 alunos
“Cada passo
em sapato na Exposição de esculturas com Nika
Exposição Não
vida de uma temática feminina Baptista
mulher”
Exposição fotográfica em
2005 “Um olhar
comemoração aos doze anos do ECOAND
Exposição Sócio- Não
grupo de caminhadas ecológicas O
Ecologista”
“Ecoando”
Trabalho Visitas Durante o ano foram recebidos
- Sim
Educativo Orientadas 888 alunos
Exposição fotográfica em
“Ecologismo comemoração aos treze anos do ECOAND
Exposição Não
em caminhada” grupo de caminhadas ecológicas O
“Ecoando”
2006 “Oficina Parte integrante da programação
monitorada de da Semana Nacional de museus,
Oficina simulação de esta oficina consistiu na Variados Sim
escavação em utilização de técnicas
sítio simplificadas de escavação e

55
QUADRO 1 – Quadro das atividades realizadas pelo Museu de Arqueologia de Itaipu

Ano Tipo de Título da Resumo da atividade Parceiro/ Há


Atividade Atividade artista relação
com a
temática
arqueoló-
gica?
arqueológico” registro de campo por alunos da
região (evento da Semana
Nacional de Museus)
Reexibição apresentando os
principais tipos de sítios
arqueológicos encontrados em
“Arqueologia João
Exposição território nacional, assim como Sim
em maquetes” Gomes
variadas técnicas de
escavação(evento da Semana
Nacional de Museus)
Apresentação musical (evento
“Coisas do
Evento da Semana Nacional de variados Não
Brasil”
Museus)
O evento contou com mostra de
Evento “Natal no MAI” origami, coro de flautas e coro variados Não
infantil
Trabalho Visitas Durante o ano foram recebidos
- Sim
Educativo Orientadas 1044 alunos
Dia Profa.
Exibição de vídeo e palestra com
Palestra internacional da Daisy Não
o tema: violência contra a mulher
mulher Souza
Prof.
Exibição de vídeo e palestra com
Palestra Dia do Índio Rafael Não
temática indígena
Paio
“Reconhecendo
Exibição de vídeo e palestra com Carlos
Palestra o meio Não
temática ambiental Mendonça
ambiente”
“Conhecendo
Caminhada educativa no entorno
nosso
do museu que objetivou
patrimônio ECOAND
Evento familiarizar o participante com os Sim
arqueológico, O
bens naturais e culturais da
histórico e
2007 região
ambiental”
Vídeo, palestra e visita ao
Preservação manguezal da Laguna de Itaipu Sergio
Palestra Não
ambiental (evento da Primavera de Mattos
Museus)
Contação de Contação de Contação de história voltada Clayde
Não
história história para educação ambiental Barros
“Dia das
crianças no O evento contou com aula
Sergio
Evento Manguezal da prática de Ecologia, limpeza do Não
Mattos
Laguna de mangue e plantio de mudas
Itaipu”
Trabalho Visitas Durante o ano foram recebidos
- Sim
Educativo Orientadas 531 alunos
“Artefatos pelos Oficina de artesanato em Marlene
2008 Oficina Não
caminhos do cerâmica com temática feminina de Aquino

56
QUADRO 1 – Quadro das atividades realizadas pelo Museu de Arqueologia de Itaipu

Ano Tipo de Título da Resumo da atividade Parceiro/ Há


Atividade Atividade artista relação
com a
temática
arqueoló-
gica?
feminino” (evento da Semana Nacional de
Museus)
“Papéis Oficina de reciclagem de papel
Rodrigo
Oficina artísticos e (evento da Semana Nacional de Não
Paes
artesanais” Museus)
Oficina de confecção de
instrumentos musicais através
Rodrigo
Oficina “Sonorizar” da utilização de material Não
Paes
reciclável (evento da Semana
Nacional de Museus)
Preservação Palestra sobre a dinâmica de
Oficina/pales Carlos
ambiental e preservação ambiental e oficina Não
tra Júnior
surfe de surfe
Exposição fotográfica sobre a
“Redes do Frederico
Exposição arte da Pesca Artesanal em Não
tempo” Wanis
Itaipu
“Deslocamento
s humanos e a
Palestra sobre a dinâmica de
„cultura Prof.
deslocamento dos povos
Palestra sambaqui‟: uma Marcos Sim
sambaquieiros seguida de
análise do Caldas
visitação à Duna Grande
conceito de
migração”
Associaçã
Apresentação Apresentação de roda de
Evento o ideal de Não
de capoeira capoeira
capoeira
Contação de história voltada
Contação de
Histórias da para público infantil seguida de Sabrina
histórias/ofici Não
pesca oficina sobre o processo de Rosas
na
formação de memórias
Cessão de espaço para
comemoração de 17 anos do
Evento Comemoração PESET Não
Parque Estadual da Serra da
Tiririca (PESET)
“A Cultura
Sambaqui.
Elementos para
discussão Palestra sobre a cultura material
sobre a cultura e não material dos povos
Prof.
material e não- sambaquieiros seguida de
Palestra Marcos Sim
material entre atividade de coleta de lixo na
2009 Caldas
povos Duna Grande (evento da
caçadores- Semana Nacional de Museus)
coletores-
pescadores da
pré-história”
Trabalho Visitas Durante o ano foram recebidos
- Sim
Educativo Orientadas 275 alunos

57
QUADRO 1 – Quadro das atividades realizadas pelo Museu de Arqueologia de Itaipu

Ano Tipo de Título da Resumo da atividade Parceiro/ Há


Atividade Atividade artista relação
com a
temática
arqueoló-
gica?
Laboratóri
Inauguração da nova exposição
o de
de longa duração do MAI (em
Antropolog
“Percursos do substituição à “Aspectos da pré-
ia
tempo: história brasileira
Exposição biológica Sim
revelando correspondente à faixa litorânea
do Museus
Itaipu” compreendida entre Itaipu e
Nacional
Cabo Frio no Estado do Rio de
Marcos
Janeiro”)
Caldas
“Pipas que Inauguração de exposição que Francisco
Exposição contam associou o movimento das pipas Gregório Não
histórias” à fluidez das memórias Filho
2010
Oialagan
Confecção de
Oficina Oficinas de confecção de pipas Luiz Não
pipas
Henrique
Evento que reuniu diversos
“Festival de soltadores de pipa de dos
Evento variados Não
pipas” municípios de Niterói e São
Gonçalo
O evento contou com oficina de Lourdes
“Homenagem a
Evento xilogravura e lançamento do livro Sampaio Não
São Pedro”
“menino” (autora)
Trabalho Visitas Durante o ano foram recebidos
- Sim
Educativo Orientadas 1358 alunos

3.2. Levantamento histórico fotográfico

A ideia de realizar um levantamento histórico-fotográfico surge relacionada à


possibilidade de se fazer o acompanhamento do estado de preservação do sítio
arqueológico da Duna Grande, no decorrer dos últimos 50 anos desde sua
localização, através da análise de registros imagéticos.
As fotografias foram obtidas através de consulta ao arquivo do MAI, ao
arquivo Central do IPHAN/ Seção Rio de Janeiro (antigo arquivo Noronha Santos) e
através da realização de cópias do acervo pessoal de moradores da região de Itaipu.

58
No caso das imagens obtidas junto ao IPHAN, não foi permitida a retirada dos
documentos fotográficos das pastas em que estavam acondicionados, o que
comprometeu a qualidade de digitalização dos mesmos. As cópias aqui
disponibilizadas são, portanto, fotografias dos documentos imagéticos originais que,
por sua vez, encontravam-se armazenados em uma pasta de processo sob uma
película de acetato.
O objetivo deste levantamento é tentar entender o impacto das intervenções
urbanas ao redor do sítio arqueológico nas mudanças do aspecto físico da Duna
Grande ao longo dos últimos 50 anos. Por outro lado, cabe analisar se as ações
desenvolvidas pelo Museu de Arqueologia de Itaipu influenciam - de modo
visualmente perceptível - positivamente no estado de preservação da Duna.
Para tanto, foram elaboradas fichas técnicas para cada uma das imagens
com o intuito de organizá-las a partir dos seguintes critérios: posição de observação
do fotógrafo (que parte do sítio foi capturada), ano da fotografia e contexto social e
urbano do entorno.
Apesar de não haver um referencial padrão para a compreensão da evolução
do estado de preservação do sítio, as imagens possibilitam uma compreensão geral
das variações ocorridas na dimensão espacial da Duna Grande, assim como a
comprovação visual de eventos diretamente relacionados ao sítio, como no caso da
abertura do canal que separa as praias de Itaipu e Camboinhas.

59
Figura 2
Ano: 1960~1975
Posição: Face Norte da Duna
Esta imagem mostra a prática de abertura da laguna
Contexto: antes do canal de Camboinhas ser construído de
modo permanente.
Arquivo Pessoal da Sra. Eliana Leite / Fotógrafo
Fonte/Fotógrafo:
desconhecido

60
Figura 3
Ano: 1965~1970
Posição: Face Sudoeste da Duna
Pode-se perceber a presença de pouquíssima
Contexto:
vegetação na face capturada.
Fonte/Fotógrafo: Acervo MAI / Rui Lopes

61
Figura 4
Ano: 1965~1970
Posição: Face Oeste
A fotografia tirada de dentro do mar nos dá a
perspectiva total da face oeste da Duna. Nota-se
Contexto: que a face oeste (virada para o mar) é a face
menos coberta por vegetação devido à ação dos
ventos.
Fonte/Fotógrafo: Acervo MAI / Rui Lopes

62
Figura 5
Ano: 1976
Posição: Face Noroeste
Percebe-se claramente que a vegetação de restinga
que abrange parte da areia da praia (plano inferior) foi
Contexto: abruptamente interrompida para a criação de uma
estrada para circulação de veículos, comprometendo,
deste modo, a proteção do sítio arqueológico.
Arquivo Central do IPHAN (Seção Rio de Janeiro)/ Dr.
Fonte/Fotógrafo:
Edgard Jacintho

63
Figura 6
Ano: 1976
Posição: Face Noroeste da Duna
Esta face da Duna apresenta-se quase totalmente
descoberta de vegetação apesar da incidência indireta do
vento. Moradores da região afirmam que, em algum
momento na década de setenta, foram retiradas e
Contexto:
transportadas toneladas de areia da Duna para uso em
obras de infraestrutura na região. Já a face Oeste – a parte
direita da imagem – está razoavelmente coberta pela
vegetação.
Arquivo Central do IPHAN (Seção Rio de Janeiro)/ Dr.
Fonte/Fotógrafo:
Edgard Jacintho

64
Figura 7
Ano: 1976
Posição: Topo; mirando a face norte; e o canal de Itaipu.
Contexto: Pode-se perceber que o canal ainda não havia
sido aberto de modo permanente. E mediante à
conversa com os pescadores mais antigos
descobre-se, entretanto, que a ligação entre a
lagoa e o mar era uma atividade recorrente
realizada pelos próprios pescadores através
utilização de ferramentas manuais.
Fonte/Fotógrafo: Arquivo Central do IPHAN (Seção Rio de Janeiro)/
Dr. Edgard Jacintho

65
Figura 8
Ano: 1978
Posição: Face Norte da Duna
Com a exceção das faces norte e Oeste, pode-se
perceber que boa parte da Duna está protegida por
vegetação. Aqui, percebe-se que o canal ainda não
havia sido aberto de maneira permanente,
Contexto:
entretanto, parte das pedras posicionadas nas
laterais, responsáveis pelo direcionamento e fixação
do canal, já haviam sido depositadas. O canal seria
aberto no ano seguinte, em 1979.

Arquivo Central do IPHAN (Seção Rio de Janeiro)/


Fonte/Fotógrafo:
Fotógrafo desconhecido

66
Figura 9
Ano: 1979~1989
Posição: Topo; mirando a face norte e canal de Itaipu.
Percebe-se o Canal de Itaipu recém-inaugurado.
Contexto: Nota-se, ainda, que a subida na Duna continua
desimpedida.
Fonte/Fotógrafo: Acervo MAI / Rui Lopes

67
Figura 10
Ano: 1982
Posição: Face Sudoeste da Duna
A fotografia mostra a preocupação do IPHAN com os
ônibus de turismo e sua relação com a degradação
do sítio. É possível perceber, ainda, a inexistência de
Contexto: qualquer barreira responsável pelo impedimento da
entrada de pedestres e veículos na Duna, assim
como a ausência de qualquer tipo sinalização que
informe ao transeunte o aspecto cultural do espaço.
Arquivo Central do IPHAN (Seção Rio de Janeiro)/
Fonte/Fotógrafo:
Fotógrafo desconhecido

68
Figura 11
Ano: ~1986
Posição: Topo da Duna
Um pescador da região e sua filha “brincam” de
Contexto:
coletar ossos na duna
Acervo Pessoal do Sr. Jorge Nunes / Fotógrafo
Fonte/Fotógrafo:
desconhecido

69
Figura 12
Ano: 2003

Posição: Imagem de satélite do sítio arqueológico

Pode-se perceber uma vegetação arbustiva no topo e na


face leste da Duna. Já as faces Norte e Oeste apresentam
Contexto: uma vegetação rasteira, onde predominam as gramíneas, na
base, e não há qualquer tipo de vegetação nas partes mais
altas.
Fonte/Fotógrafo: Google Earth

70
Figura 13
Ano: 2010
Área do salvamento realizado pela
Posição: equipe do Museu Nacional e do Museu
de Arqueologia de Itaipu
Em setembro de 2010 foram retirados
restos esqueléticos pertencentes a quatro
Contexto: indivíduos, assim como elementos de
cultura material associados ao
sepultamento.
Fonte/Fotógrafo: Acervo MAI / Fotógrafo desconhecido

71
3.3. Entrevista com moradores e pesquisadores

A fotografia nem sempre foi um recurso acessível aos moradores e


frequentadores da Praia de Itaipu e os documentos levantados certamente não dão
conta das diversas percepções e ações relacionadas à Duna Grande. A realização
de entrevistas foi pensada, portanto, como um outro dispositivo capaz de promover a
recuperação da memória acerca da Duna Grande.
Através da realização das entrevistas é possível perceber não só o momento
de degradação ou preservação do sítio, mas também, de que modo a
ação/movimento analisado foi percebido e internalizado pelo entrevistado. Essa
abordagem particularizada, emocional e, porque não, intimista oferece recursos que
vão muito além daqueles oferecidos pelas fotografias e justificam, portanto, a
utilização das entrevistas.
Os critérios de estruturação e metodologia básica para a realização desta
atividade partem de uma adaptação do trabalho de Eduardo José Manzini acerca da
utilização de entrevistas como instrumento de pesquisa. Para o trabalho aqui
apresentado, a realização das entrevistas foi, para critérios de estruturação, dividida
em quatro etapas: Elaboração de roteiro; Realização da entrevista; Transcrição e
Análise de conteúdo14.

3.3.1 Elaboração de Roteiro

Numa entrevista, uma série de conceitos e problemas serão analisados e as


perguntas, obviamente, remetem a itens que integram estes conceitos. A elaboração
de um bom roteiro deve garantir ao pesquisador , pelo menos parcialmente, coletar o
conjunto de informações desejadas. O roteiro tem como principal função, portanto,
auxiliar o pesquisador a conduzir a entrevista para o objetivo pretendido. (MANZINI,
2003)

14
A análise de conteúdo das entrevistas realizadas consta no Capítulo 4. A transcrição dos
conteúdos destas entrevistas pode ser encontrada nos Apêndices I a III deste trabalho.
72
Assim como no levantamento histórico-fotográfico, através da utilização das
entrevistas pretendeu-se identificar os principais movimentos e atividades que
afetaram o estado de preservação da Duna Grande além da percepção dos
entrevistados sobre estas ações.
Idealizou-se que todos os entrevistados respondessem a um grupo de
perguntas predefinidas (Quadro 2) que se relacionavam, de maneira objetiva, ao
tema desta dissertação. Em outras palavras, o conjunto de questões-chave está
ligado ao estado de conservação do Sítio Arqueológico Duna Grande e às ações
empreendidas pelo Museu de Arqueologia de Itaipu que vieram a impactar sobre
este aspecto. Entretanto, visando o enriquecimento do material coletado, foi feita a
opção por possibilitar a abertura das entrevistas, no sentido de captar impressões
diversas dos entrevistados, com a esperança de que aquelas falas que terminam por
fugir um pouco do conjunto preestabelecido de perguntas - inexoravelmente
acompanhadas de suas diferentes perspectivas e ângulos de visão - pudessem
colaborar para uma percepção mais global sobre o assunto.
Para tanto, adotou-se uma metodologia de realização de entrevistas
semiestruturadas15 – com um roteiro básico predefinido, mas sujeito a adaptações
para melhor aproveitamento da sessão e maior exploração do tema – que teve por
base os seguintes questionamentos:

QUADRO 2 – Roteiro Básico das Entrevistas

Questionamento Relevância

Através desta pergunta, pretendeu-se


entender o posicionamento do
Ha quanto tempo você teve contato com
entrevistado diante do objeto em questão.
o Museu de Arqueologia de Itaipu e com
O quão longa é sua relação com o Museu
o sítio arqueológico da Duna Grande?
e o sítio, que contexto, de onde ele parte,
e como o entrevistado entende o espaço.

15
Para Manzini (1990/1991, p. 154), a entrevista semi-estruturada está focalizada em um assunto
sobre o qual confeccionamos um roteiro com perguntas principais, complementadas por outras
questões inerentes às circunstâncias momentâneas à entrevista. Para o autor, esse tipo de entrevista
pode fazer emergir informações de forma mais livre e as respostas não estão condicionadas a uma
padronização de alternativas.
73
QUADRO 2 – Roteiro Básico das Entrevistas

Questionamento Relevância

Através desta pergunta, pretendeu-se


Você diria (via) que a preservação da
entender como o entrevistado percebe, ou
Duna Grande era uma das principais
percebia, a relação entre as atividades do
preocupações da (sua) instituição
Museu de Arqueologia de Itaipu e a Duna
Grande.

Através desta pergunta, pretendeu-se


entender quais - na visão do entrevistado -
Que tipos de atividades realizadas são os principais agentes protetores do
colaboraram para a preservação e sítio e, ainda, quais ações - e em que
divulgação do sítio? momento - foram as principais
responsáveis pela preservação da Duna
Grande.

Através desta pergunta, pretendeu-se


perceber como - e se - o entrevistado
percebeu e interpretou as ações do Museu
de Arqueologia de Itaipu, e de outros
Você percebeu diferença no estado de agentes de proteção, perante o sítio
conservação do sítio? arqueológico. Intencionou-se avaliar,
ainda, como o entrevistado observou, ao
longo dos anos, o nível de qualidade e
comprometimento da equipe do museu e
das atividades por ela desenvolvidas.

Através desta pergunta, pretendeu-se


averiguar se, na opinião do entrevistado,
Você vê diferença na percepção da as atividades de preservação e divulgação
população sobre o sítio? do sítio surtiram efeito tanto para a
população local, quanto para os visitantes
eventuais da Praia de Itaipu e do Museu.

74
QUADRO 2 – Roteiro Básico das Entrevistas

Questionamento Relevância

Através desta pergunta, pretendeu-se


À que fatores se devem as mudanças averiguar a que o entrevistado atribui as
percebidas, ou o que faltou para que as mudanças (no estado de conservação do
pessoas pudessem mudar seu olhar sítio) percebidas e, ainda, o que poderia
sobre o sítio? ter faltado para uma maior proteção e
divulgação do espaço.

3.3.2 Realização das entrevistas

Tão importante quanto a elaboração do roteiro foi a definição do conjunto de


indivíduos a serem entrevistados. Os critérios para a formação deste grupo foram: a
variedade de percepções sobre o tema, a proximidade do convívio com o sítio e o
tempo de acompanhamento do estado de preservação do mesmo.

QUADRO 3 – Relação dos Entrevistados

Entrevistado Relação com o sítio Duna Grande

Mauro Pazinni de Servidor do IPHAN, morador de Niterói, atua como fiscal na


Souza região de Itaipu a 25 anos.

Vera Lúcia Ex-diretora do Museu de Arqueologia de Itaipu. Atuou na


Gigante Carvalho instituição por 15 anos seguidos.

Aureliano Mattos Pescador tradicional, nascido e criado em Itaipu, acompanhou


de Souza (Mestre todas as intervenções urbanísticas realizadas ao redor da Duna
Cambuci) Grande desde sua localização, na década de sessenta.

As sessões de entrevista se deram em espaços onde a influência de fatores


exteriores pudesse ser minimizada e onde os entrevistados pudessem sentir-se mais
confortáveis. No caso da antiga diretora do Museu, Vera Gigante, e do arquiteto do
IPHAN, Mauro Pazzini, o espaço escolhido foi o próprio Museu de Arqueologia de
Itaipu devido à familiaridade dos dois com a instituição. Já no caso do pescador
75
tradicional, Mestre Cambuci, a sessão foi realizada em sua casa, na Praia de Itaipu.
Em todas as sessões foi usado o aplicativo de gravador de voz presente no sistema
operacional Android versão 4.1.2, codinome JELLY BEAN.

3.3.3 Transcrição das entrevistas

Constam nos Apêndices I, II e III os trabalhos de transcrição das entrevistas


realizadas. Para a realização das transcrições foi usada por base a publicação de
Eduardo José Manzini Considerações sobre a transcrição de entrevistas (2008).
Levando em conta as “inúmeras manifestações comportamentais e
linguísticas” (MANZINI, 2008) que um gravador não é capaz de captar, e no intuito
de tornar o registro das entrevistas mais completo neste trabalho, foram utilizados
recursos que objetivam proporcionar ao leitor a experiência de transpor a
propriedade sonora da informação gravada, tornando possível captar melhor as
entonações, as incertezas e as emoções dos falantes. Da publicação acima
mencionada foi adaptado um quadro simplificado de uso das normas de transcrição
compiladas por Marccuschi, em sua publicação intitulada A análise da conversação,
de 1986:

QUADRO 4 – Normas de Transcrição (MARCCUSCHI, 1986)


Categoria Sinal Descrição
Sobreposição de Dois falantes iniciam ao mesmo tempo um
[
vozes turno.
Pausas e
+ Pausas pequenas
silêncios
Truncamentos
/ Corte brusco na fala
bruscos
Alongamento de
:: Alongamento de vogal
vogal
Aspas duplas para subida rápida. Aspas
Sinais de ”
simples para subida leve (algo como um vírgula
entonação ‟
ou ponto e vírgula)

Com base nas normas acima apresentadas, o conteúdo das entrevistas foi
transcrito para ser analisado com o objetivo de extrair a impressão dos entrevistados

76
acerca do impacto das ações do Museu de Arqueologia de Itaipu no estado de
conservação do sítio arqueológico da Duna Grande.

3.4. Medição do sítio da Duna Grande

No intuito de complementar as atividades de análise de fotografias e


realização de entrevistas, cujo objetivo era o de entender a evolução do estado de
conservação do sítio, foi feito um trabalho de medição da altura relativa de diversos
pontos da Duna Grande.
O sítio arqueológico em questão tem uma dinâmica muito particular devido ao
próprio material que compõe do solo. A areia de fina granulação da Duna Grande é
muito suscetível à ação de fatores naturais, como as chuvas e os ventos, e também
a alterações provocadas por fatores antrópicos, como a passagem de veículos
motorizados, circulação de pedestres e a retirada do solo para aterramentos.
Com o objetivo de alcançar a maior precisão possível nas atividades de
medição foi utilizado o equipamento de topografia conhecido como estação total.
Com o auxílio do professor Dr. Andersen Liryo, do Departamento de Antropologia do
Museu Nacional/UFRJ e do historiador Diogo de Souza Borges, aluno do Programa
de Pós-Graduação em Arqueologia do Museu Nacional, e através da utilização do
equipamento de marca LeicaFlexLine da série TS02, pertencente ao Laboratório de
Arqueologia, coordenado pela professora Maria Dulce Gaspar, foi possível obter
dados que colaboram para a compreensão da evolução das dimensões do sítio,
especialmente no que diz respeito à sua altura.
Conforme pressupõe a operacionalização do equipamento, foram inseridas
coordenadas (E= 700.000mm, N= 300.000 mm e H=20.000 mm) para que o software
pudesse reconhecer uma localização base. Através do cruzamento de informações
entre a localização base e os outros spots analisados, foi possível obter um conjunto
de medições absolutas do sítio. Em outras palavras, todos os dados obtidos são
produto da diferença das coordenadas dos pontos mirados em relação às
coordenadas da localização base (ponto i0).

77
A estação total foi plantada em um ponto (i0) onde foi possível mirar vários
spots de interesse, não só para obter as alturas relativas, mas também para facilitar
a localização dos locais mirados em imagem de satélite. Em um segundo momento,
a estação total foi planta em outro ponto (T0), para que novos spots pudessem ser
mirados na face leste da duna.
As imagens 14 e 15 apresentam os spots mirados (i) e (T), e sua altura
relativa:
Figura 14
Pontos Mirados

78
Tomou-se o cuidado de selecionar pontos que pudessem gerar informações
embasadas em diferentes referenciais: o ponto i10, por exemplo apresenta a altura
relativa do nível do mar; já o ponto i316 indica a altura relativa do marco da praça de
Itaipu e tem por função informar sobre o nível em que se encontra a rua e a maior
parte da região urbanizada no entorno da duna; os pontos i5, i6, i7, i8, i9, T1, T2 e
T3 indicam a altura relativa da base do sítio arqueológico em diferentes pontos; os
spots i11, i12, i13 e i14 fornecem dados à respeito da altura relativa da parte mais
elevada da Duna Grande.
Figura 15
Alturas relativas (Base i0)

16
Os anexos III e IV tratam da representação das medições de altura relativa do Sítio Duna Grande com base
nos pontos i3 e i8, respectivamente.
79
A tabela abaixo mostra a localização e a altura relativas de cada um dos
pontos mirados. Aqueles com a maior diferença positiva em relação às alturas
tomadas como base de comparação foram destacados, conforme o valor diferencial,
na cor verde. Já aqueles com a maior diferença negativa em relação às alturas
tomadas como base de comparação foram destacados, seguindo o mesmo critério,
na cor vermelha.
QUADRO 5 – Tabela de localização topográfica dos pontos mirados
Altura Altura Altura Altura
Altura Altura
(i10) (i8) (i11) (i3)
E N H (i0) (T1)
Nível do Base Topo da Base
1ª localização Base leste
mar oeste duna praça
I0 700000 300000 20000 15,1 8,5 0,0 -8,6 10,7 13,0
I1 700000 293623 19515 14,7 8,0 -0,5 -9,1 10,3 12,5
I2 858396 91317 9011 4,2 -2,5 -11,0 -19,6 -0,2 2,0
I3 838786 64910 9252 4,4 -2,2 -10,7 -19,3 0,0 2,3
I4 830037 91540 9650 4,8 -1,8 -10,4 -18,9 0,4 2,7
I5 778178 143521 10759 5,9 -0,7 -9,2 -17,8 1,5 3,8
I6 772507 153234 10958 6,1 -0,5 -9,0 -17,6 1,7 4,0
I7 752860 186710 11155 6,3 -0,3 -8,8 -17,4 1,9 4,2
I8 701241 240679 11474 6,6 0,0 -8,5 -17,1 2,2 4,5
I9 668490 263265 11785 6,9 0,3 -8,2 -16,8 2,5 4,8
I10 605099 232277 4856 0,0 -6,6 -15,1 -23,7 -4,4 -2,1
I11 751094 310296 28569 23,71 17,10 8,57 0,00 19,32 21,59
I12 753936 320513 27934 23,1 16,5 7,9 -0,6 18,7 21,0
I13 750858 299050 24692 19,8 13,2 4,7 -3,9 15,4 17,7
I14 750268 308480 28542 23,69 17,07 8,54 -0,03 19,29 21,56
I15 779226 228267 17216 12,4 5,7 -2,8 -11,4 8,0 10,2
I16 779184 228191 17215 12,4 5,7 -2,8 -11,4 8,0 10,2
T0 1000000 500000 23954 19,1 12,5 4,0 -4,6 14,7 17,0
I2 1000000 496253 24181 19,3 12,7 4,2 -4,4 14,9 17,2
T1 1043083 562667 6980 2,1 -4,5 -13,0 -21,6 -2,3 0,0
T2 1063119 533515 7347 2,5 -4,1 -12,7 -21,2 -1,9 0,4
T3 1082124 505944 7871 3,0 -3,6 -12,1 -20,7 -1,4 0,9
T4 1021188 548125 7474 2,6 -4,0 -12,5 -21,1 -1,8 0,5
T5 937739 475998 19172 14,3 7,7 -0,8 -9,4 9,9 12,2
T6 =
936409 474835 11474 6,6 0,0 -8,5 -17,1 2,2 4,5
I8

80
CAPÍTULO 4: RESULTADOS OBTIDOS

Somente foi possível tentar entender o impacto das ações do Museu de


Arqueologia de Itaipu no estado de conservação do sítio arqueológico Duna Grande
através da metodologia multidisciplinar empregada neste trabalho, que tratou de unir
trabalho de campo e reflexão teórica.
Os resultados e discussões abaixo expostos são fruto da análise do material
levantado no capítulo três, a saber: ações educativas e exposições realizadas pelo
Museu de Arqueologia de Itaipu, levantamento histórico-fotográfico, realização de
entrevistas e medição do sítio, aliada ao embasamento teórico presente no segundo
capítulo, que abordou os conceitos de Patrimônio, Musealização e Arqueologia
Pública.

4.1. Sobre a evolução do estado de conservação da Duna Grande

Conforme apontado anteriormente, a Duna Grande foi identificada como sítio


arqueológico em 1962 por uma equipe do Instituto de Arqueologia Brasileira. Apesar
da identificação do sítio e das garantias de proteção da Lei de n° 3924 de 1961, o
sítio passou por um período de grande depredação do meio da década de 1960 até
a metade da década de 1970.
O pescador tradicional Aureliano Mattos de Souza afirma em sua entrevista
que a Duna, hoje, não tem sequer metade da dimensão daquela de sua infância, há
cinquenta anos. Ele revela, ainda, que as areias da Duna Grande foram usadas por
construtoras da época (entre 1965 e 1975) para realização de grandes projetos
como a abertura permanente do Canal de Itaipu e a construção da estrada litorânea
de Camboinhas.
Para além do depoimento do Mestre Cambuci, o levantamento histórico
fotográfico mostra, claramente, que as faces norte e oeste da duna, durante a
década de 1970 e início da década de 1980, apresentam pouquíssima vegetação
em contraste com as fotografias mais recentes. A escassez de vegetação percebida

81
nas imagens é consequência provável da retirada de grande volume do solo que
compõe a duna justamente nas áreas mais próximas às intervenções urbanas.
Ainda de acordo com a fala do Mestre Cambuci, as atividades de retirada de
areia da duna teriam cessado no fim da década de 1970, que coincide com a criação
do Museu de Arqueologia de Itaipu, no ano de 1977, e com o salvamento de blocos -
testemunho de outro sítio próximo, o sambaqui de Camboinhas, realizado por equipe
coordenada pela professora do Museu Nacional, Lina Maria Kneip. Os dois fatores
fizeram com que o poder público voltasse seus olhares para a região que, após a
construção da ponte Presidente Costa e Silva – conhecida como Ponte Rio-Niterói –,
passou a sofrer acelerado processo de urbanização.
Através da atividade de medição, cuja metodologia encontra-se descrita no
capítulo anterior, empreendida no sítio arqueológico, é possível entender os
aspectos físicos da degradação do sítio através de dados absolutos. A ficha de
cadastro da Duna Grande no sistema de Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos,
preenchida no ano de 1997 e disponível no website do IPHAN, informa que a altura
da Duna seria de trinta metros contados a partir do nível do solo. Considerando a
possível alteração do nível da base, em virtude da retirada de areia da Duna e do
consequente deslizamento do solo, foram utilizados dois pontos de referência para
medir a altura atual da Duna: o nível do marco da Praça de Itaipu (i3), que tem
menor probabilidade de ter sofrido maiores alterações, e o nível da base atual do
terreno na face oeste do sítio (i8), que, devido à dinâmica do solo, passou por uma
provável alteração devido ao acúmulo de areia. Ao se utilizar o ponto i3 (marco da
Praça de Itaipu) como referência para a base, o ponto mais alto da Duna Grande
mede 19,3 metros. Já quando o ponto i8 (base imediatamente próxima ao limite do
sítio) foi utilizado como referência, o ponto mais alto da Duna Grande mede 17,1
metros.
A medida de altura do sítio apresentada no cadastro do IPHAN, entretanto,
não é unânime. Em publicação intitulada Monumento símbolo da arqueologia pré-
histórica brasileira: o sítio Duna Grande de Itaipu. Uma contribuição, a antropóloga
Eliana Carvalho afirma que as dimensões da duna seriam “100m de extensão,
quase igual a largura e, na ocasião de sua descoberta, aproximadamente 20m de
altura”. Se por um lado as dimensões apresentadas por CARVALHO parecem mais

82
críveis por aproximarem-se mais das medidas atuais, por outro lado, essa suposta
proximidade difere da fala do Mestre Cambuci quando afirma que “[...] se a duna
fosse medida radialmente, TODA a duna, eu diria para você que ela não tem a
metade”.
De qualquer modo, tomando os pontos i3 e i8 como referência, assim como
as dimensões de largura e comprimento apresentadas tanto no cadastro do IPHAN
quanto por CARVALHO e com base na fórmula de cálculo para volume de
pirâmides17 é possível mensurar, aproximadamente, a diferença no volume total da
Duna Grande.

QUADRO 6 – Diferença no volume total da Duna Grande


Largura Altura Altura i3 Altura i8 Volume i318 Volume i819
da base adotada
20 m - 2333 m³ -9666 m³
100 m² 19,3 17,1
30 m -35667 m³ -43000 m³

Através da análise dos dados da tabela acima conclui-se que: se a Duna


Grande apresentava, originalmente, 20 metros de altura, ela teria perdido entre
2.333m³ e 9.666m³, o equivalente ao volume aproximado de uma a quatro piscinas
olímpicas20. Entretanto, se a Duna Grande apresentava, quando localizada, 30
metros de altura, ela teria perdido entre 35.667m³ e 43.000m³, o equivalente ao
volume aproximado de 14 a 17 piscinas olímpicas.
Para além da altura, as dimensões da base do sítio – que parecem ser de
comum acordo entre o cadastro do IPHAN e a publicação de CARVALHO – devem
ser levadas em conta para um melhor entendimento das mudanças transcorridas ao
longo dos últimos cinquenta anos. Os dados fornecidos pelas duas fontes acima
mencionas (IPHAN e CARVALHO) indicam que a base da Duna Grande seria de
100 m², aproximadamente. Entretanto, através da análise das imagens atuais,

17
Formula que melhor se aproxima para a medição de volume devido à sua base retangular.
18
Os valores são aproximados devido à fórmula utilizada.
19
Idem.
20
As medidas oficiais de uma piscina olímpica são: 50 metros de comprimento, 25 metros de largura
e 2 metros de profundidade, que somam um total de 2.500 metros cúbicos.
83
percebe-se que as dimensões da Duna são de, aproximadamente, 200m de
extensão no eixo norte-sul e 130m no eixo leste-oeste.
A diferença de largura e comprimento do sítio sugere duas possibilidades: em
hipótese menos provável, as dimensões da Duna foram tomadas de maneira errada
em sua medição inicial e repetidas no cadastro do IPHAN. Em uma segunda
hipótese, as dimensões da base duna teriam medido, de fato, 100 m², mas, com as
sucessivas ações de destruição do sítio relatadas no depoimento do Mestre
Cambuci, teria havido um grande deslizamento da areia que compõe o solo do sítio
de maneira que a dimensão de sua base fosse consideravelmente aumentada. De
acordo com esta hipótese, é mais provável que a altura inicial que consta no
cadastro do IPHAN (30 metros) esteja correta, devido ao volume de areia necessário
para dar vazão ao aumento da base. Sendo assim, parte do volume indicado na
tabela acima não teria sido, de fato, perdido, mas sim, deslocado, o que justificaria
não só a diferença das dimensões da base, mas também a diferença de 2,2 metros
de altura entre os pontos i3, que diz respeito ao nível da praça de Itaipu e i8, que
representa a base da face oeste da Duna Grande.
Conclui-se, portanto, que o sítio arqueológico Duna Grande sofreu,
principalmente nas décadas de 1960 e 1970, uma degradação irrecuperável, cuja
extensão dos danos pode ser mensurada, por diferença volumétrica, em até 43000
metros cúbicos. Mais crítico que a perda de volume do sítio é, sem dúvida, o dano
em termos científicos e culturais, pois não há como medir a quantidade e qualidade
das informações perdidas.

4.2. Sobre a responsabilidade de proteção da Duna Grande

Em teoria, o IPHAN é responsável pela proteção da Duna Grande desde sua


identificação em 1962, tendo em vista que a lei que regula sobre a proteção de sítios
arqueológicos, de número 3924, foi lançada no ano anterior a localização do sítio,
em 1961.
Em 1977, o IPHAN lançou mão de um recurso diferente do usual para a
proteção da Duna Grande. Com o objetivo de trabalhar o sítio arqueológico sob o

84
viés da comunicação e da educação, foi criado o Museu de Arqueologia de Itaipu.
Entretanto, apesar da visão de vanguarda do arquiteto Edgard Jacintho, que propôs
proteger o espaço através da informação, e não através da criação de barreiras
físicas, o Museu recebeu pouquíssimos investimentos do instituto principalmente no
que se refere a seu quadro de servidores que até o ano de 2010, quando o MAI já
havia sido transferido para o IBRAM, jamais havia somado cinco funcionários.
Em teoria, o governo do Estado do Rio de Janeiro também é responsável pela
proteção da Duna Grande, haja visto o disposto na Lei Estadual nº 1.807, de 03 de
abril de 1991, que determina ao Poder Público o dever de proteger todas as dunas
do Estado do Rio de Janeiro, e também o que regula o decreto estadual de número
41.226, de 16 de abril de 2008, que dispõe sobre a ampliação do perímetro do
Parque Estadual da Serra da Tiririca e trata de incluir a Duna Grande em sua área
de proteção. O governo do estado, portanto, deve proteger a Duna Grande por seu
valor geomorfológico e ambiental.
Para além da Federação, representada pelo IPHAN, e do Estado,
representado pelo Instituto Estadual de Florestas, a prefeitura de Niterói – cidade
onde o sítio está localizado – considera o sítio como sendo “zona de especial
interesse ambiental e arqueológico” que tem por diretriz primeira “a proteção e a
preservação do sítio arqueológico e seu entorno, demarcado pelo IPHAN - Instituto
do Patrimônio Histórico e Arquitetônico [sic] Nacional”, conforme regula o decreto
municipal 9.060, de 2003.
Legalmente, a Duna Grande está sobre a proteção direta das três esferas do
poder executivo: a federação, o estado e a prefeitura. O acúmulo de legislação e
incumbências, entretanto, parece gerar mais problemas que soluções para a
conservação do sítio.
Primeiramente, há o descuido no momento de redação das regulamentações.
A Lei Estadual de nº 1.807, de 1991, por exemplo, assegura, em seu artigo sétimo “o
acesso público e o livre trânsito em qualquer direção nas áreas referidas no artigo
2º”21 , o que contraria a recomendação do IPHAN de que, salvo algumas exceções
geralmente ligadas à área da pesquisa, não se deve transitar pelo espaço da Duna
Grande.

21
Faz referência às dunas do estado do Rio de Janeiro
85
Em segundo lugar, há a incerteza, por parte dos técnicos das instituições
acerca da responsabiliadde pela proteção da Duna Grande, conforme comprova a
fala do técnico do IPHAN Mauro Pazzini, quando perguntado se compete ao IPHAN
a fiscalização da Duna:

“Sinceramente eu não sei, acho que compete ao município, talvez.


Ta aí uma resolução administrativa que eu não sei. Não sei se o
IPHAN delega, como é que fica isso. Porque, na verdade, o IPHAN
não é responsável pelo sítio, é responsável pela manutenção... tá aí,
é responsável pela fiscalização, mas eu acho que caberia ao
município fazer essa fiscalização. É uma dúvida.”22

Além da dúvida sobre a responsabilidade pela fiscalização do sítio,


permanece a dúvida sobre a utilização do mesmo. As dúvidas são compreensíveis,
pois uma instituição direciona seu olhar para a questão cultural, arqueológica e a
outra para as questões ambientais do sítio. O que não é compreensível é que a falta
de diálogo entre as instituições seja tamanha, a ponto de a prefeitura ter aprovado o
loteamento da Duna Grande conforme informado pelo técnico do IPHAN Mauro
Pazzini em sua entrevista:

“[...] o grande o problema é que esse loteamento, se eu não me


engano, é de mil novecentos e noventa e quatro. E a Duna é loteada.
O Sítio Arqueológico Duna Grande, ele é loteado. Um loteamento
aprovado pela prefeitura. Então você tem proprietários particulares”23

Outro ponto que deve ser destacado é o grau de importância que a questão
da proteção da Duna Grande recebe dos órgãos responsáveis. Apesar de ter sido
considerada “Monumento Símbolo da Arqueologia Pré-histórica Brasileira” durante
as comemorações do cinquentenário do IPHAN, em 1987, o sítio arqueológico Duna
Grande está em processo de tombamento desde 1986. Para além dos quase trinta
anos em processo de tombamento pelo IPHAN, o cercamento da Duna Grande está
previsto pela prefeitura desde 2003 e até hoje não foi implantado em sua totalidade.
Com base nas considerações acima, conclui-se que a sobreposição de
legislações de diferentes esferas do poder público que, em tese, colaboraria para a
22
Para melhor entendimento da fala do entrevistado deve-se consultar os Apêndices para ter acesso
às transcrições completas.
23
Idem
86
proteção do sítio, termina por complicar a situação. Afinal de contas, a Duna Grande
parece até ser relevante o suficiente para que as instituições se reúnam e criem
projetos, mas não tem peso político e visibilidade suficientes para que esses projetos
saiam do papel. E, como existe mais de uma instituição incumbida da salvaguarda
do bem, a responsabilidade partilhada transforma-se em artifício para justificar o não
cumprimento – ou o cumprimento ineficaz – de seus compromissos para com o sítio
arqueológico.

4.3. Sobre o impacto das ações do Museu de Arqueologia de Itaipu no estado


de preservação do sítio arqueológico Duna Grande e a reprodutibilidade do
modelo

No período compreendido entre 1977, ano de inauguração do museu, e 2010,


ano de substituição da exposição de longa duração e consolidação do Instituto
Brasileiro de Museus (autarquia do Ministério da Cultura para qual o MAI foi
transferido), o Museu de Arqueologia de Itaipu realizou um total de 114 atividades
com participação do público. Desse total, apenas 44 das atividades trabalharam
direta ou indiretamente o tema da Arqueologia, um equivalente a 39% do conjunto
analisado.
Isso quer dizer que o Museu de Arqueologia de Itaipu nunca foi, somente, um
museu de arqueologia. Por ter sido – e permanecer – a única instituição de memória
da região oceânica da cidade de Niterói, e por estar inserido em um contexto em que
outros assuntos, como a valorização das comunidades do entorno e a questão da
preservação ambiental sempre se fizeram muito presentes, o MAI nunca teve
condições de priorizar, totalmente, a questão dos sítios arqueológicos da região.
Soma-se ao isolamento da instituição e à multiplicidade de temas de trabalho,
a histórica desvalorização da instituição por parte do IPHAN, que sempre destinou
pouquíssimos recursos para o museu, especialmente no que tange à seu quadro
funcional. Sobre as condições de trabalho do MAI a administradora Vera Gigante,
que esteve à frente do museu por cerca de dez anos, afirma em entrevista:

87
“[...] por falta de tudo, de recursos humanos, materiais e enfim, de
todas as dificuldades que você sabe, ficou muitos anos ainda a gente
aqui trabalhando. E uma coisa meio, meio capenga, né? [...]”24

Apesar de todos os fatores que pesaram contra a atuação do Museu, é


seguro afirmar que a instituição sempre foi a principal responsável pela proteção do
sítio Duna Grande. A experiência de preservação através da informação e da
conscientização dos visitantes, mesmo em condições precárias, é um grande
sucesso por dois grandes fatores: a quantidade de público do museu e a qualidade
da informação.
Apesar de o MAI nem sempre realizar atividades com temática arqueológica,
ele sempre dispôs de exposições de longa duração que abordavam o tema e, em
especial a Duna Grande. O visitante, portanto, recebe informação sobre o sítio
arqueológico e tem a oportunidade de conhecer os artefatos que foram extraídos da
Duna, assim como as hipóteses sobre aqueles que a habitavam. Para além dos
visitantes chamados espontâneos, aqueles que vão ao museu por uma programação
própria, o Museu de Arqueologia de Itaipu obteve razoável sucesso em estabelecer
uma agenda de atendimento a escolas da região. Em pesquisa aos arquivos do MAI
e do IPHAN, foram encontrados dados de visitação escolar referentes a apenas
dezenove anos, de um total de trinta e sete anos de funcionamento do Museu. De
acordo com as informações levantadas, 23.717 estudantes conheceram o MAI, e
consequentemente a Duna Grande, através de visitas escolares. Através destes
dados pode-se estimar uma média de visitação escolar de 1.248 estudantes por ano,
o que, em 37 anos de funcionamento do MAI, resultaria num total estimado de
46.176 alunos.
Levando em conta somente o público estudantil das escolas e demais
instituições de ensino de Itaipu e arredores, é possível estimar que cerca de 10% da
população da cidade de Niterói25 tenha tido acesso ao Museu de Arqueologia de
Itaipu através dos seus currículos escolares e, portanto, tido a oportunidade de
conhecer sobre os sítios arqueológicos do entorno, dentre eles, a Duna Grande.
Essa fatia da população diz respeito, obviamente, àqueles cuja idade não ultrapassa

24
Idem
25
Niterói tem uma população de 487.562 habitantes (IBGE). Disponível em http://cidades.ibge.gov.br/
88
o tempo de funcionamento do museu, entretanto, a capacidade multiplicadora de
cada visitante pode fazer com que o número de cidadãos niteroienses que
conheçam o sítio possa ser bem maior. O MAI não tem números expressivos de
visitação, mas a constância de seu programa educativo junto às escolas da região
faz com que uma porção razoável dos estudantes da cidade conheçam o museu e
possam atuar como agentes multiplicadores do conhecimento colaborando, assim,
para a proteção da Duna Grande. A criação do MAI fez com que o Estado
aumentasse a eficiência de suas ações de preservação do patrimônio arqueológico
através da prática da disseminação do conhecimento e da ênfase em atividades e
ações de cunho educativo.
Uma das grandes provas da eficiência do trabalho do MAI junto aos
moradores da região, em se tratando deste movimento de promover a preservação
do sítio Duna Grande através da prática educativa, pôde ser observada no ano de
2010, quando do afloramento de material arqueológico do sítio. Em setembro de
2010, um morador da região, ao caminhar pela beira do sítio, percebeu a parte
superior de um crânio destacando-se na areia. Dentre todas as ações que o Sr.
Ricardo Fampa poderia ter tomado - simplesmente continuar caminhando, cavar a
areia e saciar sua curiosidade ou até chamar a polícia -, sua primeira iniciativa,
certamente influenciada pelas ações desenvolvidas pelo Museu, foi a de contactar
um dos servidores do MAI para alertar sobre o achado. Pode-se perceber, portanto
que, além de compreender o valor histórico do artefato, o Sr. Ricardo soube
extamente como proceder diante da situação.
Com base nos elementos estudados neste trabalho, o Museu de Arqueologia
de Itaipu e o sítio arqueológico Duna Grande, é possível perceber a importância do
primeiro para a conservação do segundo. Devido à fragilidade da Duna Grande, que
vai desde sua própria constituição, passando pelo desconhecimento dos moradores
do entorno, até o movimento de expansão imobiliária, é necessária uma presença
constante no local para dar maior visibilidade ao sítio de modo a conscientizar
aqueles que visitam o seu entorno.
Apesar de apenas um exemplo deste tipo de relação (museu-sítio
arqueológico) ter sido estudado nesta dissertação, pode-se perceber alguns fatores
essenciais para sua criação e utilização. Este modelo de proteção de sítios

89
arqueológicos (através da criação de instituições museológicas) deve ser utilizado
no sentido de promover o sentimento de pertencimento do espaço pela população
local e por seus frequentadores, com o objetivo de extrair, do próprio sítio,
elementos capazes de promover a melhoria da qualidade de vida – seja através do
turismo, da questão ambiental, do combate à expansão imobiliária ou da valorização
da memória e da identidade locais – daqueles em seu entorno. A manutenção deste
tipo de instituição gera despesas que o estado não está preparado para investir na
proteção de seus sítios arqueológicos. A aplicação deste modelo, portanto, não deve
ser viável para a maioria dos casos. Neste estudo de caso, entretanto, em que o
sítio arqueológico em questão é considerado monumento símbolo da arqueologia
pre-histórica brasileira, em que há um fluxo contínuo de turistas e uma crescente
ameaça de destruição devido à pressão imbiliária, o investimento – ainda que baixo
– do estado certamente teve grande retorno através da viabilização da conservação
do sítio arqueológico.
Este tipo de modelo pode ser viável para situações em que as ameaças à
integridade do(s) sítio(s) arqueológico(s) sejam muito presentes ou para regiões em
que a configuração do espaço (ex: relação da comunidade do entorno com o sítio,
tráfico ilícito de material arqueológico, complexidade e proximidade entre sítios,
entre outros) seja especialmente interessante – ou preocupante – para o estado.

90
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar de o museu ser o espaço onde, por excelência, se dá o processo de


musealização, podemos perceber este fenômeno também fora deste espaço
institucionalizado. Neste trabalho, os sítios arqueológicos foram encarados como
monumentos passíveis de musealização. Obviamente, a Duna Grande (estudo de
caso em questão) não foi transportada para dentro de um museu, entretanto, o
trabalho realizado pelo Museu de Arqueologia de Itaipu, ao reproduzir as práticas de
processamento do acervo para o sítio arqueológico, culminaram por aumentar a
eficiência do Estado para a proteção do espaço.
O conceito de museu, portanto, vai muito além daquela percepção clássica de
um edifício estático com uma abordagem tradicional que se apoia somente nas
questões estéticas e classificatórias dos objetos. O museu pode ser visto como uma
ferramenta de preservação de um determinado território através da valorização da
memória e da disseminação do conhecimento. A ferramenta museu não deve ser
utilizada como um espaço de contemplação do passado, mas sim como uma
maneira de trabalhar este passado de modo a extrair dele os elementos necessários
para a melhoria da qualidade de vida daqueles sob sua influência.
Do mesmo modo, os sítios arqueológicos necessitam urgentemente de uma
nova abordagem. Deve partir do Estado a iniciativa de dar visibilidade a estes
espaços e transformá-los, também, em mecanismos de desenvolvimento social. Os
sítios arqueológicos, assim como os museus, as bibliotecas e os teatros devem ser
tratados como aparelhos culturais, responsáveis por gerar conhecimento científico
através da compreensão da complexidade cultural humana.
Ao longo desta pequisa, intencinou-se entender como as ações de um museu,
o Museu de Arqueologia de Itaipu, poderiam impactar na preservação de um sítio
arqueológico, a Duna Grande. A questão da preservação do espaço foi encarada
com base em um aporte teórico baseado em conceitos como patrimônio,
musealização e arqueologia pública. A escassez de fontes documentais acerca da
evolução do estado de conservação do sítio arqueológico Duna Grande obrigou-nos
a recorrer a diferentes tipos de informação, como a realização de entrevistas e a

91
elaboração de um levantamento histórico-fotográfico, e também a gerar dados
absolutos através do trabalho de medição do sítio.
O cruzamento dos conceitos empregados para a elaboração da base teórica
deste trabalho com a análise das fontes documentais utilizadas e os demais dados
obtidos deixa clara a distante relação entre aquilo que é produzido na academia e o
que é, de fato, incorporado nas políticas públicas. Grande parte deste problema se
deve a um panorama de gestão de políticas públicas no Brasil em que, salvo raras
excessões, o investimento no setor da cultura fica em último plano. O baixo
investimento no área faz com que os servidores não tenham incentivo para a
realização de capacitação e, portanto, não é estabelecida uma prática continuada de
atualização do corpo técnico das instituições públicas de cultura. Como resultado, as
políticas públicas voltadas para setor cultural não conseguem acompanhar os
conceitos e práticas desenvolvidas na academia criando, assim, um descompasso
entre a construção do conhecimento e a implementação de ações públicas.
Enquanto nossos governantes não se conscientizarem que o investimento em
educação e cultura é tão ou mais importante que o investimento nas demais áreas
que compõem uma política pública de gestão, nossos museus continuarão
desvalorizados, nossos sítios arqueológicos continurão a ser degradados e nossa
memória será, aos poucos, esquecida.

92
FONTES

Arquivo Administrativo do Museu de Arqueologia de Itaipu (MAI)

Arquivo do Instituto de Arqueologia Brasileira

Arquivo Técnico Administrativo e Série Inventário do Arquivo Central do IPHAN/


Seção Rio de Janeiro.

BRASIL. Constituição Federal de 1988.

BRASIL. Decreto-Lei nº 25, de 30 de novembro de 1937.

BRASIL. Lei nº 3.924, de 26 de julho de 1961.

BRASIL. Resolução CONAMA 001, de 23 de janeiro de 1986. Ministério do Meio


Ambiente.

ICOM. Declaração da Mesa de Santiago do Chile: Princípios de Base do Museu


Integral. 1972.

ICOM. Estatuto 2001. Assembleia Geral do ICOM, Barcelona (Espanha), 2001.

IPHAN. Portaria IPHAN/MinC Nº 07, de 01/12/1988 (Normas de intervenção para o


patrimônio arqueológico nacional).

IPHAN. Portaria IPHAN/MinC Nº. 230, de 17/12/02 (Definição de fases e pesquisas


para licenciamento de empreendimentos).

IPHAN/MINC. Guia de Bens Móveis e Imóveis inscritos nos Livros do Tombo do


Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (1938-2009). 5ª ed.

93
MINC/COPEDOC/DAF. 2009. Disponível em:
http://portal.iphan.gov.br/portal/baixaFcdAnexo.do?id=1356. Acesso em: maio/2012

MUSEU DE ARQUEOLOGIA DE ITAIPU. Plano Museológico do Museu de


Arqueologia de Itaipu. 2011.

RIO DE JANEIRO. Lei Estadual de nº 1807, de 03 de abril de 1991, dispõe sobre


a criação dos “Parques das Dunas” em todo o estado. 1991.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABREU, Regina; CHAGAS, Mário (orgs.). Memória e patrimônio: ensaios


contemporâneos. Rio de Janeiro: DP&A, 2003, 320 p.

BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: lembranças de velhos. São Paulo:


Companhias das Letras. 1994.

BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. Do Estado Patrimonial ao Gerencial. In:


PINHEIRO, Wilheim e Sachs (orgs). Brasil: Um Século de Transformações. São
Paulo: Cia. das Letras, 2001. p. 222-259.

BRUNO, Cristina. Arqueologia e antropofagia: a musealização de sítios


arqueológicos. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Nº 31.
Brasília: IPHAN/ MinC, 2005, p. 235-247.

CALABRE, Lia (org.) Políticas culturais, diálogo indispensável. Rio de Janeiro:


Edições Casa de Rui Barbosa, 2005, 80 p.

CALABRE, Lia. Políticas culturais no Brasil dos anos 1930 ao século XXI. Rio de
Janeiro: Editora FGV, 2009, 144 p.

94
CALABRE, Lia. Políticas Culturais No Brasil: balanço e perspectivas. Trabalho
apresentado no III ENECULT – Encontro de Estudos Multidisciplinares em
Cultura. 23 a 25 de maio de 2007. Faculdade de Comunicação/UFBa. Salvador:
UFBA, 2007. 18 p.

CAMERON, D. F. The Museum: a temple or the Fórum? Revista Curator, n. 19(1),


1971.

CARVALHO, Cláudia S. Rodrigues; GRANATO, Marcus; BEZERRA, Rafael


Zamorano; BENCHETRIT, Sarah Fassa (orgs.). Um olhar contemporâneo sobre a
preservação do patrimônio cultural material. Rio de Janeiro: Museu Histórico
Nacional. 2008.

CARVALHO, Eliana Teixeira. “Monumento símbolo da arqueologia pré-histórica


brasileira: o sítio Duna Grande de Itaipu. Uma contribuição”. In: Revista de
Arqueologia, v. 5, n.1, pp. 118-123, 1988.

CASTRO, Sonia Rabello de. O Estado na preservação de bens culturais. Rio de


Janeiro: IPHAN, 2009.

CHAGAS, Mário. Imaginação Museal: museu, memória e poder em Gustavo


Barroso, Gilberto Freyre e Darcy Ribeiro. Tese apresentada na Universidade do
Estado do Rio de Janeiro para obtenção do título de doutor, Rio de Janeiro. 2003.

CHAGAS, Mário. Diabruras do saci: museu, memória, educação e patrimônio.


MUSAS – Revista Brasileira de Museus e Museologia. Rio de Janeiro, v.1, n.1.
2004.

CHAGAS, Mário. Museus: antropofagia da memória e do patrimônio. Revista do


Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, n.31, pp.15-25. 2005.

95
CHOAY, Françoise. A Alegoria do Patrimônio. São Paulo: Estação Liberdade/
UNESP, 2006. 288 p.

CHUVA, Márcia (org). A invenção do patrimônio: continuidade e ruptura na


constituição de uma política oficial de preservação no Brasil. Rio de Janeiro:
Minc-IPHAN, 1995. 80p.

CHUVA, Márcia Regina Romeiro. Os arquitetos da memória: sociogênese das


práticas de preservação do patrimônio cultural no Brasil (anos 1930-1940). Rio
de Janeiro: Editora UFRJ, 2009. 480 p.

CHUVA, Márcia. Fundando a nação: a representação de um Brasil barroco, moderno


e civilizado. In: TOPOI, v.4, n.7, jul.-dez. 2003, pp. 313-333.

CHUVA, Márcia; NOGUEIRA, Antonio Gilberto Ramos. Patrimônio Cultural:


políticas e perspectivas de preservação no Brasil. Rio de Janeiro: Mauad X;
FAPERJ, 2012. 312 p.

CURY, Marilia Xavier. Exposição: concepção, montagem e avaliação. São Paulo:


Annablume 2005.

DIAS, Ondemar; CARVALHO, Eliana. A FASE Itaipu – RJ novas considerações. In:


Arquivos do Museu de História Natural, v. VIII e IX, UFMG, Belo Horizonte – MG,
1983-84.

FALCÃO NETO, Joaquim de Arruda. Política Cultural e Democracia: A Preservação


do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. In: MICELI, Sérgio. (Org.). Estado e
Cultura no Brasil. São Paulo: Difel, 1984, p. 21-39.

FERNANDES, Tatiana Costa. Vamos criar um sentimento?! : um olhar sobre a


Arqueologia Pública no Brasil. Dissertação apresentada ao Museu de Arqueologia

96
e Etnologia da Universidade de São Paulo para obtenção do título de mestre, São
Paulo. 2007.

FONSECA, Maria Cecília Londres. O patrimônio em processo – trajetória da


política federal de preservação do Brasil. Rio de Janeiro: Editora UFRJ / IPHAN,
2005. 296 p.

FONSECA, Maria Cecília Londres. Para além da pedra e cal: por uma concepção
ampla de patrimônio cultural. In: ABREU, Regina; CHAGAS, Mário (org.s). Memória
e Patrimônio: ensaios contemporâneos. 2ª ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2009.
p. 59-79.

FUNARI, Pedro Paulo de Abreu. Public archaeology in Brasil. IN: MERRIMAN, Nick.
Public Archaeology. Londres: Routledge, pp. 202-210. 2004.

GASPAR, M.D.. Sambaquis: Arqueologia do Litoral Brasileiro. 2ª ed. Rio de


Janeiro: Ed. Zahar. 2004

GONÇALVES, José Reginaldo Santos. A retórica da perda: os discursos do


patrimônio cultural no Brasil. Rio de Janeiro: Editora UFRJ/ IPHAN, 1996.

GONÇALVES, José Reginaldo Santos. O patrimônio como categoria de


pensamento. In: ABREU, Regina; CHAGAS, Mário (org.s). Memória e Patrimônio:
ensaios contemporâneos. 2ª ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2009. p. 25-33.

GUARNIERI, Waldisa Russio. Conceito de cultura e sua inter-relação com o


patrimônio com o patrimônio cultural e a preservação. In: Cadernos Museológicos,
n. 3, p. 7, 1990.

HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Centauro, 2004.

97
IPHAN. Patrimônio Material/ Bens arqueológicos tombados. Disponível em:
http://www.iphan.gov.br/ Acesso em: jan.2014.

KNEIP, L.M., PALLESTRINI, L. & CUNHA, F.L. de S. (coord.). Pesquisas


Arqueológicas no litoral de Itaipu, Niterói, RJ. Rio de Janeiro: Gráfica Luna, 1981.

LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 20ª Ed. Rio de


Janeiro: Jorge Zahar Editor. 2006.

LE GOFF, Jaques. História Memória. Campinas, São Paulo: Editora da Unicamp,


2003.

MANZINI, E. J. A entrevista na pesquisa social. Didática, São Paulo, v. 26/27, p.


149-158, 1990/1991.

MANZINI, E.J. Considerações sobre a elaboração de roteiro para entrevista


semiestruturada. In: MARQUEZINE: M. C.; ALMEIDA, M. A.; OMOTE; S. (Orgs.)
Colóquios sobre pesquisa em Educação Especial. Londrina: Eduel, 2003. p.11-
25.

MANZINI, E.J. Entrevista semiestruturada: análise de objetivos e de roteiros. In:


SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE PESQUISA E ESTUDOS QUALITATIVOS,
2, 2004, Bauru. A pesquisa qualitativa em debate. Anais... Bauru: USC, 2004. CD-
ROOM. ISBN:85-98623-01-6. 10p.

MANZINI, Eduardo José. Considerações sobre a transcrição de entrevistas. In:


______. A entrevista como instrumento de pesquisa em Educação e Educação
Especial: uso e processo de análise. Marília: UNESP, 2008. Disponível
em:<http://www.oneesp.ufscar.br/texto_orientacao_transcricao_entrevista>. Acesso
em: 31 out. 2012.

98
MARCUSCHI, L. A. Análise da conversação. São Paulo: Ática, 1986. (Série
Princípios).

MATOS, Olga. Valorização de sítios arqueológicos. In: Praxis Archeologia, 3, 2008,


p. 31-46.

McGIMSEY, C. III. Public Archaeology. New York: Seminar Press, 1972.


MENESES, Ulpiano Bezerra de. A cidade como bem cultural – áreas envoltórias e
outros dilemas, equívocos e alcance na preservação do patrimônio ambiental
urbano. In: MORI, Victor Hugo; SOUZA, Marise Campos de; BASTOS, Rossano
Lopes; GALLO, Haroldo. Patrimônio: atualizando o debate. São Paulo: 9ª SR/
IPHAN, 2006, p. 33-76.

MERRIMAN, Nick. Involving the public in museum archaeology. IN: MERRIMAN,


Nick. Public Archaeology. Londres: Routledge, 2004.

MOTTA, Lia. A apropriação do patrimônio urbano: do estético-estilístico


nacional ao consumo visual global. In: ARANTES, Antonio A. O Espaço da
Diferença. Campinas: Papirus, 2000.

MOTTA, Lia. O patrimônio das cidades. In SANTOS, Afonso Carlos Marques dos
(ORG.) Museus e cidades: Livro do Seminário Internacional. Rio de Janeiro:
Museu Histórico Nacional, 2003, p. 123- 152.

MOTTA, Lia; SILVA, Maria Beatriz Resende. Inventários de Identificação: um


panorama da experiência brasileira. Rio de Janeiro, IPHAN, 1998.

MOTTA, Lia; THOMPSON, Analúcia. Entorno de bens tombados. Editora:


IPHAN/CEDIT. 2010.

MOUTINHO, Mário, C. Museu e Sociedade. Monte Redondo: Museu Etnológico,


1989.

99
ORTIZ, Renato. Estado autoritário e cultura. In: Cultura Brasileira e Identidade
Nacional. São Paulo: Brasiliense, 2006, p. 79-142.

PROUS, André. Arqueologia, Pré-História e História, In: TENÓRIO, Cristina. Pré-


História da Terra Brasilis. Rio de Janeiro: UFRJ, 2000.

RABELLO, Sônia. O Estado na preservação de Bens Culturais: O Tombamento.


Rio de Janeiro: IPHAN, 2009. 156 p.

RAPOSO, Luís; ALBUQUERQUE, Maria José de. Dentro e fora de portas:


actividades educativas e de extensão cultural no Museu Nacional de Arqueologia,
Lisboa, Portugal. In: 15 Jornadas Estatales de Educación y Acción Cultural,
2008, Museo de Belas Artes da Coruña, p. 101-113.

RUBINO, Silvana. O Mapa do Brasil Passado. IN: Revista do Patrimônio Histórico


e Artístico Nacional, n. 24. Rio de Janeiro, Iphan, 1996. p. 97-105.

SALADINO, Alejandra. Prospecções: o patrimônio arqueológico nas práticas e


trajetória do IPHAN. Tese de Doutorado do Programa de Pós-Graduação em
Ciências Sociais, Rio de Janeiro: UERJ, 2010.

SANT‟ANNA, Márcia. Os anos 90 e os novos indicadores das práticas de


preservação. In: In SANTOS, Afonso Carlos Marques dos (org.) Museus e cidades:
Livro do Seminário Internacional. Rio de Janeiro: Museu Histórico Nacional, p.
123- 152, 2003.

SANTOS, Maria Célia T. Moura. Uma Abordagem Museológica do Contexto Urbano.


In: Cadernos de Museologia (5). Lisboa: Centro de Estudos de Sociomuseologia.
Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia. 1996.

100
SOUZA, Marise Campos de. Uma visão da abrangência da gestão patrimonial. In:
MORI, Victor Hugo; SOUZA, Marise Campos de; BASTOS, Rossano Lopes; GALLO,
Haroldo. Patrimônio atualizando o debate. São Paulo: 9ª SR/ IPHAN, 2006, p.
139-154.

SOUZA; SANTOS; SCHRAMM; MIRANDA. Estudos de Paleonutrição em sítios-


sobre-dunas da fase Itaipu – RJ. In: Arquivos do museu de história natural, v. VIII
e IX, UFMG, Belo Horizonte – MG, 1983-84

SPENGLER apud SCHVASBER, Beni. Espaço e Cultura, Equipamentos Coletivos,


Política Cultural e Processos Urbanos. Dissertação apresentada ao Mestrado do
Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano Regional da UFRJ. Rio de Janeiro,
1989.

SUANO, Marlene. O que é Museu. Coleção Primeiros Passos, 182. São Paulo:
Editora Brasiliense, 1986. 101 p.

VILAS, Felipe Arias. Sitios musealisados y museos de sitio: notas sobre dos modos
de utilización del patrimônio arqueológico. In: Museo, nº 04, 1999, p. 39-57.

WICHERS, Camila Azevedo de Moraes. Museus e os descaminhos do patrimônio


arqueológico: (des)caminhos da prática brasileira. Tese de doutorado
apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Museologia. Lisboa: Universidade
Lusófona de Humanidades e Tecnologias, 2010.

101
APÊNDICE I – Transcrição da Entrevista: Vera Gigante

PC – Boa tarde Vera

VG – Boa tarde

PC- Eu estou aqui com a Vera Gigante, que foi diretora ou administradora, já que não existia o cargo
durante muito tempo aqui no museu né. E: eu vou fazer aquelas perguntas que eu já tinha
comentado com você a respeito das ações do museu com relação a preservação ao sítio arqueológico
Duna Grande que como eu te expliquei é parte da minha pesquisa de mestrado, né. Então a primeira
pergunta, a primeira coisa que eu queria saber é:: quando você entrou e durante quanto tempo você
atuou no Museu de Arqueologia de Itaipu?

V – Entrar eu entrei em dezembro de noventa e quatro (++) mas a frente do museu foi (+) noventa e
sete

PC – noventa e sete, aí você ficou

VG - quando saiu houve a mudança da direção e eu fiquei assim administrando o museu na verdade.

PC – Não existia, ainda, aquele cargo de diretor

VG – Não, não existia. Havia aqui uma museóloga que morava no Rio de Janeiro vinha né, trabalhava
e tal e depois ela aposentou e aí acho que até que por falta de opção mesmo não tinha ninguém que
(incompreensível) vir pra cá, eu fui convidada pra administrar o museu, entendeu? E sempre fiz
questão de frisar que eu não era diretora nunca fui apesar até da época que teve aquela gratificação,
eu sempre quis colocar, gostei de colocar, que eu era administradora do museu, até por que eu não
tenho formação na área entendeu?

PC – Perfeito, é o:: e você entrou em noventa e quatro, em noventa e sete você ficou a frente do
museu

VG -
[
Assumi a
administração e fiquei até minha aposentadoria / não aí eu saí em um ano (+) eu me afastei um ano
por questão de família em dois mil e três e retornei acho que em dois mil e cinco, no início de dois
mil e cinco. Novamente assumindo a administração do museu e fiquei até minha aposentadoria em
três de outubro de dois mil e onze. /Não, não respon/ Mas aí depois chegou Maria De Simone né a
diretora que não me lembro agora quando, que ela foi (+) nomeada diretora e eu continuei com a
direção do museu junto com ela

PC – É, se não me engano ela entrou em dois mil e cinco dois mil e seis e acabou recebendo a direção
por volta dois mil e sete dois mil e oito, não é isso?

VG – Exatamente, mas aí nós ficamos assi::m, é: como que chama, quando é interina, adjunto

PC – Adjunto então você diria que as duas

VG -[ foi

É, foi uma gestão

PC – [Dupla basicamente

102
PC – Então é: já focando bem no objeto da minha pesquisa, eu queria saber de você se nesse tempo
que você ficou desde noventa e quatro até dois mil e onze, se você diria que os trabalhos com
relação a Duna Grande e a preservação, tanto a preservação física mesmo, a proteção da Duna,
quanto a:: divulgação, a comunicação, a educação. Sobre o sítio arqueológico, a gente sabe que sítio
arqueológico geralmente as pessoas não tem muita ideia do que é, né. Se você diria que isso era uma
das principais preocupações do museu (+) ou se por questões diversas existiam outras preocupações
que acabavam tirando esse tempo do museu pra se dedicar a Duna?

VG – Não, acho que desde sempre foi uma preocupação do museu, a Duna, que é considerado o
acervo né, vamos dizer assim, do museu. Só que por falta tudo’, de recursos humanos, materiais e
enfim, de todas as dificuldades que você sabe, ficou muitos anos ainda a gente aqui trabalhando e
uma coisa meio (+) meio’ capenga né(+) e a gente observando que havia de um trabalho
principalmente educativo para que a gente pudesse trazer a sociedade, seduzir a sociedade e que a
partir daí houvesse realmente o trabalho de preservação.

PC – Entendi

VG – Foi (+) um marco assim que eu considero do trabalho educativo/ por que área de proteção’ não
sei seu estou enrolando aqui ficava mais ligado ao IPHAN da proteção física

PC
física, fiscalização
– [
é a questão da proteção

VG - Então nos arquivos do museu existem diversos documentos (+) da época que eu aqui fiquei
sozinha e mesmo depois onde a gente pedia fiscalização, teve uma ocasião que a gente pediu
inclusive para instalar uma guarita, num projeto que foi feito mas nada disso aconteceu então a
gente focou mais no trabalho educativo era o que tinha mais acessível

PC -[ que era o que vocês tinham mais

VG – E também onde eu sempre entendi que (+) tinha partir daí né (++) você não pode proteger,
preservar o que você não conhece. Então (+) isso foi mais intensificado esse trabalho a partir do
projeto Caniço e Samburá, que foi o projeto feito em parceria com a UFF, projeto educativo, e que
esse projeto contemplava ações educativa junto a Duna

PC - Com relação a

VG –
[
Duna

É, então assim, o desejo era de sempre poder ter levado os grupos escolares
que vinham para cá para visitar e tal mas não tinha condição

PC – É, você falou da situação, você usou até capenga pra falar eu queria que você falasse mais pra
gente deixar ilustrado, que isso é uma coisa que eu também vou falar na minha pesquisa né. Quando
você entrou aqui em noventa e quatro, você lembra quantas pessoas tinham trabalhando com você?

VG – Eu (++) em noventa e quatro, tinha a diretora, os guardas e os serventes e havia uma


funcionária que trabalhava na área educativa (+) que aderiu ao programa de demissão voluntária em
noventa e sete e depois fechou o cargo. Aí ficou, a equipe ficou, eu e os terceirizados tanto da
segurança. Inclusive teve um período que nos relatórios você pode olhar, que a gente teve que
fechar até também por determinação do IPHAN, é uma questão de segurança, fechamos ao público
por que não tinha como abrir né e dar conta com 1 funcionário. Aos poucos é que eu fui conseguindo
trazer, trouxe primeiro o funcionário Bartolomeu, pesquisador lá da Biblioteca Nacional, veio e
também não ficou muito tempo, foi assumir logo um cargo na prefeitura e saiu. Aos poucos a gente

103
foi conseguindo montar uma equipe junto com o projeto Caniço e Samburá, houve a possibilidade de
contratação de estagiários, e a gente começou a conseguir mais essa mão de obra assim pra ajudar a
tocar.

PC – Então:: tá, a gente já percebeu que a Duna sempre uma das principais preocupações do Museu
e muito mais na parte educativa do que de fato na parte física que cabia a fiscalização do IPHAN

VG - que cabia a
fiscalização do IPHAN, é verdade

PC – A respeito dessa fiscalização do IPHAN, o que você

VG
[
diria

- não só do IPHAN/ quer dizer a gente que


é do IPHAN por que:: o IPHAN que é o responsável pela preservação patrimônio arqueológico mas
como ele esta localizado no município do Rio de Janeiro, acho que todas as esferas do poder público,
federal, estadual e municipal principalmente, teriam que ter esse olhar (+) pra (+) de preservação,
mas realmente não aconteceu

[
PC – É a gente que sabe a questão do sítio arqueológico costuma ser preocupante mais pela
visibilidade (+) é visibilidade (+) é complicado

VG - efetivamente não aconteceu

VG – É verdade, aí houve dois cercamentos (++) por parte da prefeitura se eu não me engano foi na
gestão do João Sampaio, do prefeito João Sampaio, não me pergunte quando que eu também não
vou lembrar, tem nos relatórios, e depois houve também uma ação do INEA né, através do Parque
Estadual da Serra da Tiririca que foi feito precariamente mas foi feito alguma coisa e foram instaladas
placas educativas informando o que que tem ali naquele local

PC – Você já disse que teve um projeto educativo né, que parece que foi um projeto grande que
concentrou bastante atenção do museu que foi o Caniço e Samburá, feito em parceria com a UFF.
Mas, além desse projeto (+), você diria que tem (+) / foram feitos outras ações, como exposição,
algum tipo de divulgação a respeito da Duna, que tipo de ações de fato o museu fazia que você acha
que poderia colaborar tanto para preservação física quanto para divulgação e educação sobre esse
sítio arqueológico?

VG – É: a preservação física, é: ouso’ dizer que até fiscalização né a gente acaba exercendo entendeu,
seria a única ação que eu posso dizer efetiva no sentido da proteção’ era de fiscalizar mesmo, vir
trabalhar com carro e passar por ali e olhar: e aí via invasões né, pessoas subindo, carros aí
comunicava o IPHAN

PC – Então sempre teve essa prática

VG – Sempre teve essa prática entendeu, comunicava sempre ao IPHAN não só através de
documentos mas por ligações telefônicas também

PC – Então todas as atividades nesse sentido de notificação de aviso mesmo né, foram feitas
atividades além daquelas que estão documentadas né, por que tem os ofícios mas também tem a
ligações, é isso?

VG – É, e não só o IPHAN né, existe aqui no arquivo do museu (++) uma série de documentos, de
ofícios, na época chamava ofício, que eu encaminhei à prefeitura de Niterói, à secretaria do meio
ambiente’ né, colocando essa questão falando da importância do sítio né, a data:ção do sítio (+) e da
104
importância da preservação mas realmente nada foi feito de (+) efetivamente assim, um cercamento
adequado né, uma fiscalização lá não

PC – E quanto a outra parte, já a parte educativa


[
VG – educativa, basicamente as visitas orientadas. A partir daí,
do:: projeto educativo, não havia nenhuma visita ao museu que a gente não passasse por lá

PC – Legal, está ótimo. É:: e aí agora eu já quero te perguntar’ (+) muito por conta desse tempo que
você ficou aqui/ que é um tempo bem longo né, de noventa e quatro à dois mil e onze (+) são
dezessete anos no museu,(++) dezessete?

VG – É, na verdade é noventa e sete né por que até aí, eu pessoalmente/

PC – A’’ como funcionária você começa em noventa e quatro mas a frente só a partir de noventa e
sete

VG – É mas não importa

PC – Se você notou’ de fato, um::a mudança, você já falou que da parte de proteção física não foi
muita coisa né, e:: na parte de percepção das pessoas (+) a respeito do sítio, você acha que teve uma
diferença notável?

VG – Acho, acho que houve uma diferença inclusive por parte de alguns moradores da região né da
região, por que eu acho que vendo o trabalho da gente, vendo até o movimento’ na Duna, que não
ficou aquela coisa ali abandonada, largada / pessoas que vinha aqui também denunciar: ´´olha estão
subindo ali’´´

PC – A’ então as pessoas depois de algum tempo que eles já tinham visto um movimento e
talvez até ouvido as

VG

VG


[ visitas eles já vinham ao

trabalho educativo

é, ajudar a denunciar, [
museu denunciar, ajudar a denunciar

basicamente (+) isso né

VG – Teve também/ você já estava aqui né, aquela coisa da escavação que foi feita, isso foi
quando?

PC – Isso foi em dois mil e dez não foi? Essa última/ o salvamento

VG – É’, quer dizer, que eu acho que a sociedade vendo’ né, um movimento, uma pesquisa, alguma
coisa sendo feita desperta’ a atenção né isso foi sempre uma preocupação da gente apesar da gente
não ter conseguido fazer metade das coisas que pretendia, do que desejava

PC – Sim sim

PC – E você diria que não conseguiu fazer metade do que você queria, do que desejava por conta
especificamente (+) da falta de recursos?

G – Falta de equipe, de equipe principalmente, você sabe que o primeiro concurso que houve que
nós recebemos aqui os servidores foi’ dois mil e cinco né, e aí aos poucos é que foi / foi só a Maria na
verdade, a equipe mesmo de trabalho que a gente tem hoje, que vocês tem hoje não se compara né,
faltava aqui profissionais das áreas específicas que pudessem desenvolver como hoje você tem, nós

105
temos museólogo, tem o pedagogo, temos o antropólogo, então o trabalho profissionalizou’, pode
profissionalizar.

PC – o que Maria de Simone entrou, foi em dois mil e cinco, do


IPHAN

VG – O trabalho que eu fiz aqui, eu deixo bem claro, foi inteiramente amador (++) durante até chegar
a conseguir estruturar as equipes, como eu falei não tenho formação na área, minha área é de
recursos humanos dentro da área administrativa mas aí a gente foi né aos pouquinhos e tal mas não
tinha força de trabalho que desse conta disso, e o IPHAN também não conseguia dar esse suporte
esse né, com uma assessoria de arqueologia lá no Rio mas que cuidava mais da área também de
proteção de patrimônio é de fiscalização, então foi complicado, hoje eu acho que teve um
assim avanço absurdo.

PC –
[ sim, de fiscalização

PC – Eu acho que até que não é’ trabalho do meu caso, do entrevistador falar, mas eu queria deixar
isso gravado que amador ou não seu trabalho foi essencial o seu trabalho aqui e isso aqui não estaria
do jeito que está e a gente não estaria fazendo o trabalho na Duna se não fosse.

VG
mas isso é uma questão mesmo de compromisso, de compromisso, por que
– [ obrigada Pedro
ou você assume/
então (++) apesar de estar aqui no cantinho de Itaipu, ´´ a’ ta lá no museuzinho, lá no final de Niterói
e tal´´ mas eu tenho esse perfil, sempre gostei de trabalhar e quando eu me envolvo eu me envolvo
de verdade. Aí virou aquele caso de amor né plagiando aqui (+) a figura pública que a gente conhece
e foi uma caso de amor. Por que aí foi aquilo’ não quero ficar aqui nessa lamentação mas de sair
mesmo por aí pedindo dinheiro, pedindo uma lâmpada, pedindo / foi muito precário entendeu, de
dois mil e ci::nco pra cá é que começou a clarear (+) que aí mais pessoas para ajudar, para pensar,
para discutir, para elaborar projeto e tal.

PC – Você falou essa data me ocorreu uma coisa, se não me engano foi em dois mil e quatro que foi
criado o departamento de museus dentro do IPHAN, você acha que alguma relação direta

VG – A::: no::ssa muita relação (+) foi assim um olhar


mesmo (+) direcionado para os museus, acho que foi um ganho’ né para os museus a criação de
departamento que pudesse olhar / o IPHAN realmente não deu conta, tanto não deu que foi
necessário a criação desse departamento que depois virou Instituto.

PC – E o desdobramento depois que virou uma autarquia né, o IBRAM

VG – É exatamente, não deu conta, o IPHAM eu’ acho que não deu conta de cuidar desse patrimônio
imenso, brasileiro né, e ainda a gestão dos museus, então assim, a parte da gestão’ foi assim,
fantástica a criação do DEMU né e despois do IBRAM foi realmente/ muitas conquistas que a gente
teve depois dessa/

PC – Sim, você apontaria alguém da comunidade que como uma ou outra pessoa que despontaram
mais, que ajudaram mais nessa questão da preservação da Duna, ou acompanharam mesmo as
atividades educativas do museu (++) você diria que houve uma aproximação da comunidade, você já
falou, mas será que você identifica alguma figura ou instituição

VG – Instituição, é o PESET, é o Parque Estadual da Serra da Tiririca, esse foi o que realmente

106
PC – E da sociedade civil?

VG – Da sociedade civil, sinceramente, da Duna né, especificamente

PC – É especificamente da Duna, eu acho que a gente pode ampliar aqui para algumas das outra
atividades

VG – O que a gente tem aqui de parceiro é o Cambuci né, pescador Cambuci, que é o cara envolvido
né, que as visitas, algumas também desdobravam como uma visita a ele né para falar da pesca e
tudo, uma pessoa que eu posso destacar seria o Cambuci

PC – Vera muito obrigado, foram perguntas bem objetivas e agradeço muito essa entrevista e a
possibilidade de contar com a sua participação na minha dissertação

VG – Nada, eu espero poder ter contribuído.

107
APÊNDICE II – Transcrição da Entrevista: Mauro Pazzini

PC – Boa Tarde Mauro

MP – Boa Tarde

PC – Estou aqui com Mauro Pazzini, arquiteto do IPHAN desde’?

MP – Comecei como estagiário em quinze de abril de mil novecentos e oitenta e dois, e eu estou
como arquiteto desde o dia primeiro de fevereiro oitenta e quatro

PC – Então dois anos depois você já foi efetivado

MP – Fui efetivado

PC – E você trabalha com a região aqui de Itaipu mais ou menos há quanto tempo? Porque você
sempre vem acompanhando né todos os projetos que acontecem por aqui.

MP – Olha, posso dizer para você, como arquiteto aqui desde o dia primeiro de fevereiro de oitenta e
quatro

PC – Desde o início

MP – Desde o início mesmo, por que eu por ser morador de Niterói tinha sempre contato com isso
aqui. Eu realmente não me lembro qual foi o primeiro trabalho que eu fiz aqui. Se foi um
levantamen:to para custo de obra / se eu não me engano foi para uma troca do telhado daquele
espaço lá do canto. Quem fez foi a Marina ??? Ribeiro, um orçamento, fez uma obra, depois a gente
fez uma obra de reparo, foi, eu não sei precisar a data, talvez oitenta e quatro oitenta e cinco, por aí

PC – Existe um pouco essa divisão assim, me fala por exemplo, você falou é arquiteto de Niterói,
então geralmente algumas questões de Itaipu, vai tudo pro Mauro’ existe mais ou menos essa
divisão (+) um pouco até personalizada assim, alguém cuida mais de Paraty, alguém cuida mais/

MP – Olha, oficialmente não’, mas na prática sim. Por que como exemplo, você vai falar de Paraty, é
Isabeli, aí chega em Niterói realmente passa tudo por mim. Tem mais colegas nossos lá (Paraty) de
Niterói agora’ mas acho que pelo histórico é aquele negócio de memória viva, tem coisas quem vem
na cabeça, eu me lembro disso, então, eu acho que eu sou o homem chato do IPHAN em Niterói, eu
acho que seja propriamente não obra por que obra não é o meu perfil, meu perfil não é obra, meu
perfil é mais a proteção do monumento. Havia uma divisão no IPHAN que era proteção e
conservação, conservação era quem fazia obra e a proteção era pra quem trabalhava propriamente
com o entorno da preservação do monumento, meu perfil foi para esse lado, o da proteção, eu
peguei conservação mas fui pro lado da proteção. Então eu fui para o lado da proteção (+) mas as
vezes dependendo de certas situações eu pego (+) mesmo que seja para iniciar mas depois vai
passando para outras pessoas mas a questão de proteção do entorno passa por mim.

PC – E essa questão de proteção do entorno, aqui a gente vai tratar de um assunto de um assunto
que é basicamente o Museu de Arqueologia de Itaipu que já pertenceu o IPHAN e o Sítio
108
Arqueológico Duna Grande e assim, eu estou conversando com Mauro que é um arquiteto do IPHAN,
não é um arqueólogo do IPHAN mas essa questão, por ser uma questão por ser uma questão do
entorno de fiscalização , você diria que as questões de arqueologia também passam de alguma
maneira por você aqui em Niterói?

MP – Não própriamente, oficialmente vai passar para assessoria de arqueologia, existe a área
específica mas nada impede que de repente para uma fiscalização, (+) o inicial, (+) de repente (+)
passar por mim mas a decisão caberia a assessoria de arqueologia.

PC – E você diria que nessa questão da fiscalização inicial, do primeiro contato, alguma denúncia ou
alguma coisa do gênero, você seria provavelmente a primeira pessoa que seria acionada.

MP – Provavelmente, provavelmente. Tem gente que liga para mim direto para saber ou então de
repente eu passo, eu faço (+) entre aspas, um levantamento, vejo qual é a situação aí eu informo

[
assessoria de arqueologia. É, a decisão não passa por mim que aí eu acho que não
compete a mim mas eu posso ver alguma irregularidade e passar para a arqueologia

PC – encaminha

PC – Perfeito, o Sítio Arqueológico Duna Grande que é o que eu estou trabalhando, é aqui do lado,
ele fo:i identificado em sessenta e dois, por uma equipe do Instituto de Arqueologia Brasileiro (+) e o
Museu de Arqueologia que foi criado em setenta e sete, muito por conta da proximidade com Duna
Grande para trabalhar aquilo que foi tirado de lá, na época já foi criado dentro do quadro do IPHAN /
e aí assim, eu gostaria de te perguntar, você já esta no IPHAN desde oitenta e quatro vai fazer

PC – Perfeito, o Sítio Arqueológico Duna Grande que é o que eu estou trabalhando, é aqui do lado,
ele fo:i identificado em sessenta e dois, por uma equipe do Instituto de Arqueologia Brasileiro (+) e o
Museu de Arqueologia que foi criado em setenta e sete, muito por conta da proximidade com Duna
Grande para trabalhar aquilo que foi tirado de lá, na época já foi criado dentro do quadro do IPHAN /
e aí assim, eu gostaria de te perguntar, você já esta no IPHAN desde oitenta e quatro vai fazer

MP – Trinta e um anos, vai fazer trinta e dois anos em quinze de abril de dois mil e quatorze

PC – Perfeito, você diria que os sítios arqueológicos em geral e especificamente esse que eu estou
trabalhando, o sítio da Duna Grande aqui do lado, ele foi uma das prioridades do IPHAN, ele é uma
das prioridades de fiscalização, de trabalho educativo alguma coisa do gênero?

MP – Eu acredito que sim (+) tanto é que a Duna Grande nos cinquenta anos do IPHAN foi
considerado um monumento arqueológico

PC – Isso, monumento símbolo né

MP – É, monumento símbolo, eu acho que sim, por que:: tem certo destaque / eu tenho aquelas
brigas que eu falo que Itaipu, e quando eu falo Itaipu, é tanto atrás do Museu tanto a Duna esta
assim’ por que o IPHAN esta lá (+) por que se IPHAN não estivesse eu acho que estaria bem pior. Tem
coisa que a gente não consegue segurar, a gente sabe que tem invasão na Duna Grande que seria
muito fácil se a gente chegasse com uma marreta e tirasse todo mundo, mas acontece que o IPHAN
109
respeita o direito democrático de cada um. Nós comunicamos, existem os processos judiciais, uns
andam, outros não, mas o IPHAN defende / desculpa gente, eu falo IPHAN defende mas eu sou
representante do IPHAN mas eu’ enquanto IPHAN’ (+) eu acho que o IPHAN da’ prioridade sim para o
sítio arqueológico e para Duna Grande também, logicamente’ eu gostaria de ver a Duna Grande na
uma melhor situação (+) mas a gente tem uns empecilhos, eu não sei se a instância superior valoriza
mas eu’ acredito que sim se não / existe o processo de tombamento da Duna mas que não foi
finalizado até hoje mas eu’ enquanto arquiteto do IPHAN, eu sei que é um sítio arqueológico, um dos
mais importantes então eu atuo é na proteção’. Eu entendo que:: eu trato a Duna Grande como se
fosse um: bem edificado, é como se fosse um bem protegido, não é tombado mas é protegido pela
lei de arqueologia então eu luto por ele’ (+) por que eu acho que tem valor

PC – Perfeito, e aí eu estou tentando levantar as atividades que o Museu de Arqueologia fez desde de
setenta e sete, quando o museu foi criado, até: os anos mais recentes, de proteção ou que
influenciam tanto na proteção física da Duna quanto em uma tentativa de comunicação, uma
abordagem mais educativa com a pessoas para que elas também trabalhem e valorizem esse
patrimônio. Você lembra ou pode citar algumas atividades que o IPHAN possa ter realizado (+) para
colaborar tanto com a proteção física quanto para com esse outro tipo de proteção que eu acabei de
citar da parte educativa, da parte de comunicação com relação a Duna?

MP – Olha, eu vou ver se eu consigo responder a sua pergunta. Em noventa e dois, foi feito um
trabalho junto com a prefeitura (+) de Niterói, na época o secretário de cultura era o Ítalo
Campofiorito, secretário de urbanismo João Sampaio, nós fizemos um trabalho de proteção de
Itaipu’

PC – Itaipu bairro

MP – Itaipu como um todo, canto de Itaipu, a gente pode falar que muita fala que é canto de Itaipu
hoje mas esse nome acho que começou em noventa e dois e’’ era proteção do entorno e da Duna. Eu
acho que foi a primeira vez que se conseguiu fazer o cercamento da Duna, então quer dizer, teve
esse trabalho em noventa e dois, que foi um trabalho seríssimo’ (+) teve a atuação da procuradoria
jurídica do IPHAN participou, Carlos Fernando de Moura, Delphim que já estava em Brasília veio de
Brasília e participou, foi um processo que durou quase um ano até ele ter uma decisão final, lógico
que teve a decisão final e depois vieram alguns problemas em relação ao próprio tramite do
processo (+) mas foi um trabalho sério’ que apesar de não ter sido executado (+) ele se tornou como
base para muita coisa que se pretende fazer hoje.

PC – Então foi um projeto que não foi executado, foi isso?

MP – Eu acho que não foi executado, não todo, não como todo. Tiveram alguns problemas de se
estabelecer alguns parâmetros urbanísticos, era o cercamento da Duna e outras intervenções, as
intervenções físicas não foram realizadas mas ficou registrado eu acho que na mente da
comunidade, na mente da prefeitura e na mente do IPHAN esse projeto, logicamente que qualquer
coisa que venha de novidade, a gente fica trabalhando com esferas políticas mas quando vem
qualquer novidade / aí que esta o problema, eu tenho aquela memória viva (+) a coisa vem para
mim, eu vou lá e busco desde o início o que acontece em Itaipu

110
PC – Então você diria que o plano base para você resgatar essa memória viva talvez e embasar os
projetos que acontecem até hoje é esse de noventa e dois?

MP – É isso / eu não sei separar se é uma coisa pessoal ou se é uma coisa profissional, até por que
como’ eu sempre trabalhei com essa área eu tento respeitar tudo que feito até hoje, então eu não
consigo (+) aceitar que uma coisa vai começar do zero, eu acho que a gente tem que respeitar tudo
que feito de sério’ (+) para isso. Por exemplo, desde noventa e dois que eu escuto que querem
congelar a ocupação de Itaipu, congelar a ocupação Itaipu, eu enquanto técnico venho aceitando (+)
mas eu não aguento mais, por que se fala que vai congelar, congela mas de noventa e dois para cá
(+) nunca se congelou’, você sempre teve alguma novidade, aumentou a população, aumentou as
intervenções, aumentou a ocupação. ´´a vamos congelar``, NÃO, chega, vamos congelar naquele
momento, ´´ a não não``, é o que eu falo, eu sou o chato (+) por que eu estou brigando é pela
preservação e aí tem um nome, é o nome do IPHAN (+) pode se dizer, que é o nome do IBRAM
também por que você esta com IPHAN mas o IBRAM esta pegando a questão dos museus que tem
que ser respeitada, é a questão do sítio arqueológico, então eu acho que não adianta a gente falar
que vai congelar, parece que mostra um incompetência das instituições em não realizar o que é
definido. Eu brigo por isso, se foi decidido, foi feito um trabalho sério (+) então é a partir daquele
momento. Se não ocorreu, não adianta falar que acreditando que fosse acontecer e de repente
acontece as outras intervenções / é muito fácil, eu acho que é muito fácil para as instituições
regularizar o irregular, é muito mais fácil, mas eu não acho justo (+) com a preservação da cidade,
com a preservação do monumento, eu acho que tem que ter um limite. É uma briga constante falar
para mim que o Sítio Arqueológico Duna Grande é u::ma (+) comunidade tradicional

PC – Só para que fique claro para entrevista, existem casas, construções, dentro do perímetro que o
IPHAN delimitou como Sítio Arqueológico Duna Grande, é isso que você esta se referindo?

MP – É isso, nesse perímetro da Duna Grande (+) se eu não me engano no último levantamento,
foram levantados trinta e uma casas, não tenho certeza mas acho que foram, você alegar que aquilo
é comunidade tradicional, eu’ técnico não concordo. Não estou dando palavra final, eu não sou
antropólogo, não fiz serviço social eu não sei de nada, eu teria que ver um levantamento mas pelo
que eu entendo, essa ocupação desordenada que começou em Itaipu veio muito depois da Ponte
Rio-Niterói, antes da construção da ponte você tinha o loteamento de Itaipu mas que ninguém
conhecia direito. Se você pegar um mapa de ocupação você vai quer depois da Ponte Rio-Niterói,
Itaipu ficou próximo (+) do Rio, e aí você tem o mapeamento disso em que você vai constatando
como é que o espaços foram sendo ocupados. Com certeza em noventa e dois, eu não tenho na
cabeça isso agora mas não tinha trinta e uma famílias na Duna, com certeza não, e agora em dois mil
e treze você falar que tem trinta e uma famílias que eu não sei se HOJE, dia trinta de outubro de dois
mil e treze, você tem trinta e uma famílias mas talvez tenha mais. Podem ter falado que vai
regularizar mas nós deixamos claro que não regularizar essa ocupação, eu acho que o IPHAN tem que
ser sério nesse momento, não pode regularizar a situação e eu espero que seja uma decisão do
IPHAN, eu já tenho trinta e um anos ( de serviço ) e daqui a pouco já estou me aposentando e espero
que essa decisão fique, (+) não é uma decisão pessoal minha mas eu acho que é uma decisão técnica
em respeito aos monumentos e quando eu falo monumento eu considero a Duna Grande um
monumento também
111
PC - Perfeito. A gente tem um:: marco regulatório que é a Lei de Proteção aos Sítios Arqueológicos
que é de sessenta e um, você sabe dizer se antes desse marco regulatório, da lei de número três
nove dois quatro sessenta e um, tinha gente morando dentro de perímetro delimitado? Por que a
Duna de fato vai ser identificada em sessenta e dois e em sessenta e um, teoricamente antes da
identificação da Duna e antes do marco regulatório, você sabe dizer se tinha gente morando, e se
sabe alguma estimativa?

MP – Confirmar eu não confirmo. Talvez sim, não sei se a:: Penha de repente

PC – Uma das moradores antigas

MP – Eu não tenho certeza, eu não tenho certeza (+) mas o grande o problema é que’ esse
loteamento se eu não me engano é de mil novecentos e noventa e quatro (+) e’ a Duna é loteada, o
Sítio Arqueológico Duna Grande, ele é loteado, um loteamento aprovado pela prefeitura (+) então
você tem proprietários particulares

PC – Foi um loteamento feito por uma empresa privada e aprovado pela prefeitura

MP – Aprovado pela prefeitura (++) e que depois disso ninguém pode construir, acontece que
ninguém foi desapropriado até hoje, que eu tenha conhecimento ninguém foi desapropriado, então
existe a propriedade particular. A única coisa que aconteceu é que as pessoas não pagam mais IPTU,
agora me’ parece’, eu não tenho certeza, que a prefeitura não cobra IPTU dessas pessoas por ser um
sítio arqueológico mas foi loteado como propriedade particular

PC – Então as pessoas que estão ali, são donos desses lotes?

MP – NÃO, aí tem que deixar bem claro, essas pessoas que estão na Duna Grande invadiram uma
área, não são proprietários. Se você reparar, se você fizer um estudo mais detalhado você vê que
essas ocupações não seguem o arruamento projetado para loteamento, você tem suas entrâncias
pela Duna, então: não são proprietários. Pode ser que um ou outro’ que eu não sei quais são, não da
para afirmar agora e eu não posso ser injusto com de repente com pessoas que tem a propriedade,
mas sinceramente eu acho que ninguém é proprietário. TALVEZ uma situação, exista um proprietário
mas é uma coisa que tem que ser levantada por que foi feito recentemente uma obra irregular (+) e
que a pessoa parece já foi acionada no Ministério Público mas eu não tenho certeza. Pode ser que
seja proprietário mas existe a irregularidade que por ser proprietário, tem que ter pré-autorização do
IPHAN para construir e isso ele não teve. Então existe uma irregularidade, ele pode até ser dono do
terreno mas existe a irregularidade em relação a construção

PC – Perfeito. Ainda em relação a:: (+) Duna e, especificamente, essas pessoas que estão dentro do
perímetro que o IPHAN entende como sítio arqueológico. Você lembra além desse (2.0) marco de
noventa e dois, que você falou que Delphim veio lá de Brasília, desse projeto de noventa e dois para
regularização do campo e proteção do monumentos arqueológicos, do canto de Itaipu e proteção
dos monumentos tanto arqueológicos / e aí a gente esta falando também aqui do Recolhimento de
Santa Teresa, que é onde esta instalado o Museu de Itaipu.

112
PC – Além desse projeto de noventa e dois, você lembra de mais alguma ação, pontual que seja

MP
[
(+) do IPHAN tanto para proteção da Duna quanto para

– Teve, teve. Eu não me lembro para te dizer agora mas


aqui mesmo no Museu de Arqueologia de Itaipu, ocorreram alguns cursos (+) para a comunidade, eu
dei palestra aqui (+) para a comunidade e teve vários outros colegas do IPHAN que também deram
palestras e nós tivemos aulas junto a::o Sítio Duna Grande e teve um época que a gente foi até ao
sítio lá em Camboinhas também

PC – O Sambaqui de Camboinhas

MP – É, Sambaqui de Camboinhas, o Sambaqui que tem na Praia do Sossego entre Camboinhas e


Piratininga. Eu não sei precisar a data, talvez, eu não vou ter certeza mas talvez a Vera Gigante, pode
ser que saiba. ´´Caniço & Samburá`` que era o projeto, foi um projeto que eu acho que deu certo por
que foi feito isso também (+) no Museu de Arte Tradicional de Cabo Frio, junto com a Dolores
Brandão Tavares, a falecida ´´Doca``. Ela fez esse curso lá também, a preocupação lá em Cabo Frio
era dar aula para professores da rede municipal e rede estadual para que eles possam reproduzir e a
gente teve visitas guiadas também a alguns locais para mostrar, ´´isso aqui é sítio arqueológico, isso
aqui é monumento e tal`` e houve essa proposta aqui no museu também. Quer dizer, ações tiveram
várias (+) depois de noventa e dois, tiveram vários projetos. Teve outro cercamento que não me
lembro para detalhar agora se foi em dois mil, (+) o grande problema é que se faz o cercamento mas
(+) vem o vandalismo e tira todo o arame, existe uma preocupação desde o início de não colocar o
arame farpado (+) para não machucar o visitante (+) mas se você coloca o arame liso as pessoas
roubam, (+) tanto é que se você reparar, os mourões ainda estão lá, a maioria estão lá mas o arame
já foi

PC – Então existe a proibição

MP –
[ de entrada na Duna, de subir a Duna

Existe a proibição, existe, só não tem a fiscalização

PC – Não tem fiscalização, compete ao IPHAN fiscalização desse sítio?

MP – Sinceramente eu não sei, acho que compete ao (+) município talvez, ta aí uma resolução
administrativa que eu não sei. Não sei se o IPHAN delega, como é que fica isso por que na verdade o
IPHAN não é responsável pelo sítio, é responsável pela manutenção / ta aí é responsável pela
fiscalização mas eu acho que:: caberia ao município fazer essa fiscalização, é uma dúvida

PC – Por que ali tem algumas instituições que agem né, tem o IPHAN /

MP – Tem o PESET agora

PC – A o Parque Estadual da Serra da Tirica

MP – Eu não sei se entra o IBAMA, se entra a SERLA (+) por que existe um canal lá então tem
navegabilidade. Ta aí, é uma confusão administrativa que eu não sei responder agora

113
PC – Perfeito. Agora com relação ao estado físico da Duna, você começou no IPHAN em oitenta e
dois, você disse que em oitenta e quatro já veio parar aqui em Itaipu fazer o primeiro trabalho. Então
você deve ter acompanhado, assim, digamos que você venha a cada período de tempo determinado,
a evolução física do estado de preservação da Duna. Você notou, teve alguma diferença visível,
existia mais cobertura ou menos cobertura?

MP – Bo:a pergunta, eu não sei dizer. Por que parece, eu posso estar falando besteira mas acho que
essa duna não é uma duna não é móvel, ela não é móvel, ela é uma duna fixa. Não sei, posso estar
falando besteira. De repente com a vegetação de restinga uma hora pode ser que sim pode ser que
não mas (1.5) eu não vi mudança não, ta aí uma boa pergunta. Eu não vi mudança, para mim ela
mantém as características

PC – Se manteve mais ou menos (+) com o mesmo tamanho

MP – Pode ser que uma outra coisa pode ter movimentado / tem sim, é um problema de (++)
deslocamento de parte da duna junto ao canal, que são os roncamentos de pedra que lá esta falho
por que o mar levou e eu acho que ali desce um pouco ainda mas eu acho que no total se manté::m
entre aspas, conservado

PC – E quanto a percepção (+) das pessoas (+) para com o patrimônio, por que eu digo assim, na
minha opinião (+) o sítio arqueológico é um pouco mais difícil de trabalhar a questão educativa por
que ele não é tão óbvio, as pessoas não veem uma edificação que eles logo já reconhecem como
histórico e portanto não identificam tanto a questão do valor patrimonial. Óbvio que existem uma
série de diferenças entre valores e cada um da o seu valor mas o sítio não é tão visível’ (+) enquanto
patrimônio. Você diria que ou você percebeu alguma mudança na percepção das pessoas quanto ao
sítio (+) por parte do trabalho tanto do museu quanto do IPHAN?

MP – Olha, (1.5) no nível local eu acho que sim. Eu acho que a comunidade sabe o valor do sítio
arqueológico hoje, e isso se deve muito a relação entre o museu e o sítio arqueológico / eu tenho
minhas dúvidas, será que o sítio arqueológico seria conservado se o museu não estivesse aqui? Não
sei, eu acho que a posição do museu (++) ajudou muito a preservação do monumento (+) e lógico, na
presença humana e quando eu falo presença humana é dos técnicos, seja do IPHAN ou do IBRAM
trabalhando com a comunidade, para mostrar a situação. Eu falo isso por que a gente sabe que a
praia de Itaipu é uma praia que no verão fica lotada de pessoas que vem de fora, é o turista de
momento, e muitos não tem conhecimento da duna, muita gente vem de fora e não tem
conhecimento da duna. Isso é uma coisa que eu acho que é falha (+) na participação das instituições
por que por mais que se coloque placas dizendo que é um sítio arqueológico e que não se pode subir
e tal, você vai ver no final de semana esta cheio de gente lá em cima. Eu acho que falta comunicação
(+) para essas pessoas, detalhe, já tiveram várias vezes essas placas instaladas mas as pessoas tiram,
são arrancadas, por vandalismo, retiradas, a falta de fiscalização e de policiamento mesmo dificulta
essa questão (+) mas eu acho que mesmo com a proximidade com o museu isso ajudou bastante a
manutenção do monumento, do sítio arqueológico. Eu acho que se não tivesse isso eu não sei se a
gente teria o sítio hoje

114
PC – E você acha que o museu atua com relação a preservação do sítio (+) mais em que viés assim,
você acha que é em um viés educativo, em um viés de fiscalização apesar de não ter o caráter, como
é que você acha?

MP – Nos dois sentidos, educativo, lógico educativo é importante / só um detalhe, quando eu era
garoto (+) e eu nem sonhava em trabalhar no IPHAN, eu passava por aqui e achava interessante ver
(+) o prédio do museu, não era museu ainda mas eu vi aquela estrutura de pedra, ´´ gente que que
tinha atrás dessas paredes``

PC – Já tinha um pequeno arquiteto ali

MP – Talvez, aí eu era garoto eu falei ´´ que que é isso? O que que tem aí atrás (incompreensível)
dessa muralha?`` Aí depois eu vim trabalhar no patrimônio (+) e aí vejo que: eu acho que a
participação do IPHAN hoje IBRAM, aqui (+) principalmente dos técnicos, serviu sim’, o viés educativo
foi fantástico. Hoje em dia o viés educativo é o mais importante, é mais importante que a própria
fiscalização (+) e isso’ o museu conseguiu passar para comunidade, quando eu falo comunidade é
comunidade local’, aqueles pescadores e moradores daqui sabem que aquilo é uma duna, que é um
sítio arqueológico, que tem que ser preservado. Tanto é que você de repente existe situações que as
pessoas estão ocupando lugares mais (+) para fo:ra de repente mais para cima da ???? trinta que não
é encosta, por dentro da colônia mas para dentro da duna, é uma coisa assim, que é / existe
ocupações ma::s eu acho que conseguiu segurar graças a atuação desses órgãos de preservação,
poderia ser melhor? Poderia (+) bem melhor (+) mas a gente sabe das dificuldades que tem

PC – Você pode elaborar essa questão das dificuldades, o que que você acha que faltou, o que
poderia ser melhor?

MP – Olha, eu acho que falta corpo técnico, falta policiamento, vontade política. Por que eu falo que
Itaipu é um dos locais mais bonitos que se tem aqui de repente em Niterói e provavelmente no
Estado do Rio. A gente tem uma vista daqui’ maravilhosa do Rio de Janeiro. Eu fico brincando que o
povo carioca fala que a coisa mais bonita de Niterói é a vista do Rio (+) e eu falo que é mesmo, por
que o carioca não tem a vista que nós temos. Hoje eu estava lá em Jurujuba, eu conversei e falei, que
muita gente fala que: a paisagem cultural do Rio de Janeiro foi protegida a nível mundial (+) mas
existe uma parte que é de Niterói, que é o do Forte do Pico, Fortaleza de Santa Cruz, o Morro do
Morcego ali em Jurujuba (+) mas ninguém fala. Agora essa vista que a gente tem aqui em Itaipu (+)
com essa preservação (+) eu acho que deveria ser mais valorizada, mais valorizada. Não pelos
técnicos, por que os técnicos estão aqui e atuam na função de preservar e valorizar essa área aqui,
mas eu acho que tinha que ter mais vontade política para poder preservar isso. Eu fiz um projeto que
era o projeto histórico arqueológico do canto de Itaipu, eu não me lembro termo. Foi quando eu fiz o
CECRE na Bahia, o novo CECRE, em mil novecentos e noventa e seis, o meu tema foi Itaipu, a praia de
Itaipu como um todo. E eu descobri coisas assim, maravilhosas que aqui poderia ser um projeto, um
campo, um parque arqueológico.

PC – O que é o CECRE?

115
MP – Desculpa, o CECRE é o Curso de Especialização de Revitalização do Centro Históricos. É um
curso feito pela Universidade Federal da Bahia junto com a UNESCO e junto com o IPHAN, é lá na
Federal da Bahia, esse curso tem de dois em dois anos eu fiz o de noventa e seis. Eu vou falar uma
coisa aqui para deixar registrado, que o tema foi Praia de Itaipu, (+) o meu projeto foi considerado
um dos projetos melhores do curso se não o melhor. E esse curso era na época considerado um dos
melhores cursos DO MUNDO, então, não é para valorizar meu currículo não, eu falo para valorizar a
questão do patrimônio aqui no Brasil. Que no Brasil tem um curso (+) que é considerado um dos
melhores DO MUNDO, quem fala isso é a UNESCO, só para deixar registrado isso. Que as vezes a
gente não valoriza os nossos cursos, as nossas instituições mas a UNESCO reconhece.

PC – Voltando um pouco para questão do (++) trabalho educativo, da função educativa que você até
exaltou a parte do trabalho do museu com a comunidade local mas (+) parece que na sua opinião o
museu não atinge esse turista de momento, que você falou, a pessoa que vem de fora

MP – Eu acho que isso não é culpa do museu não’, eu não sei se existe culpa. Mas é porque o turista
de momento vem para diversão da praia, ele não vem fazer o turismo cultural. Eu me lembro quando
o ônibus paravam aqui, isso a gente tem que deixar bem claro que há um bom tempo atrás, (+)
talvez uns dez anos, os ônibus de turismo vinham da região da baixada, eu já vi ônibus de Belo
Horizonte parar aqui, de Barbacena para passar aqui o’ domingo. Eram ônibus que saiam, tipo assim
vou dar exemplo, saiam oito horas da noite de Belo Horizonte chegavam aqui quatro horas da
manhã, chegava quatro horas da tarde voltavam para seu locais. Teve uma vez que eu contei cento e
quarenta ônibus em cima da duna, em cima da duna não, minto, cento e quarenta ônibus de turismo
na Praia de Itaipu, muitos estacionados em cima da duna. Nós conseguimos reverter isso, mas em
nenhum momento proibimos o acesso desse turista (+) o que a gente estava querendo era o
seguinte, o ônibus teria que vir, deixar o passageiro e voltar para estacionar em outro lugar, não
podia estacionar aqui. Ele ocupava essa área da duna, teve uma vez que eu contei cento e quarenta
ônibus. Então esse turista que vem, é o turista que vem para passar o dia na praia (++) tomar sua
cervejinha, curtir sua praia e tal. E muitos desses que vem não sabem que existe o Museu de
Arqueologia aqui, não sabem. Eu não sei se até hoje existe placas na estrada dizendo que tem Museu
de Arqueologia

PC – Existem algumas do centro de Niterói para cá

MP – Tem, para ser sincero foi falha minha, mas eu vi da vez que eu ????? o sítio. Mas tem muita
gente que vem para Itaipu, esse turismo no verão, não sabem que existe o museu. Uma vez eu vi
uma situação, eu vou fazer um comparativo, se cobrava a entrada (+) dois reais, era só para
manutenção do museu, passou um pai (+) com a esposa e duas crianças, ´´ dois reais para entrar, nós
quatro, oito? A não, vou tomar oito reais de cerveja na praia que é melhor``. Dá uma dor mas aí você
vê qual é a realidade, a pessoa vem para fazer o turismo na praia, não quis entrar no museu. Eu não
sei se a culpa é do Museu, eu acho que culpa é da falta de educação da população

PC – Você atribuiria a uma coisa mais geral

MP – Eu acho que não é falta de educação, desculpe gente, é a falta de cultura e de repente visitar
espaços culturais

116
PC – Talvez o costume?

MP – Talvez o costume, e::: aquele turismo de momento né, a pessoa vem para ir’ a praia. Teve até
uma vez que eu passei uma situação engraçada, a pessoa viu o guarda, um segurança fardado na
frente do Museu, a pessoa não quis entrar por que estava com medo por que estava sem
documento, viu o guarda e ficou medo de entrar por que não tinha documento. Não tinha nada a
ver, a coisa que estava para dar segurança de repente impediu ele de entrar

PC – Você falou da questão do visitante de momento e que as vezes ele nem sabe que tem o Museu,
nem sabe que tem a Duna e me ocorreu, a Prefeitura, o Estado e os órgãos interessados ou
responsáveis pela proteção do Sítio sabem que tem (+) um sítio ali? A Prefeitura sabe que tem um
sítio arqueológico ali?

MP – A Prefeitura instituição eu não sei responder. Mas funcionários da Prefeitura sabem, o


urbanismo (secretaria) sabe, a cultura (secretaria) sabe, o meio ambiente (secretaria) sabe (++) mas
a Prefeitura estrutura do governo, eu não sei. Esta aí uma boa pergunta, eu não sei. O prefeito sabe.

PC – Então sempre quando tinha um projeto aqui do IPHAN: tinha esse cuidado do diálogo com a
Prefeitura

MP – Tinha, tinha até por que a maioria dos projetos vieram da Prefeitura.

PC – A: geralmente partia da outra ponta

MP – Só’ que’, a gente esta falando com uma instituição, não vou falar pessoa. A gente sabe que
cargo da Prefeitura são cargos eletivos, pessoas saem voltam, saem voltam, saem voltam e de
repente os projetos ficam engavetados, é o que acontece com a maioria dos projetos aqui de Itaipu,
ficam todos engavetados. Por isso a minha preocupação que eu falei desde o início que (+) se vai
começar, não pode começar do zero. Eu vou pegar o que foi feito até agora que é de sério, de
repente pode ser aproveitado alguma coisa. Até por respeito para quem trabalhou com aquele
projeto, eu entendo que tem que trabalhar assim. Mas eu acho que (++) o Museu, os funcionários do
Museu (+), que são funcionários do IBRAM, os funcionários do IPHAN (+) aí eu me coloco nisso
também, mas eu coloco a questão da assessoria de arqueologia, seja a Rosana Najjar, seja a Regina
Célia, seja o Adler, seja todo mundo que trabalhou lá, tenta se fazer um trabalho de fiscalização mas
é pouca gente para fiscalizar isso tudo. Eu tenho facilidade por que eu moro em Niterói mas tem
horas que você não está aqui e: você não consegue fiscalizar. Eu até brinco que o carro do IPHAN
tinha que ser vermelho por que só serve para apagar incêndio, tinha que ser vermelho por que a
gente só sabe quando acontece a intervenção. É lógico que gostaríamos de repente colocar dois
guardas vinte e quatro horas na Duna circulando, de repente três, com um no museu ou dois no
museu e um lá circulando, colocar placa, cercar. Agora ao mesmo tempo, não adianta você colocar
isso se não tiver aquela manutenção e conservação, tem coisas que as pessoas roubam, depredam,
tem a situação da própria maresia que você colocar uma placa e se não houver uma manutenção
apodrece mesmo, é complicado assim. E aí você passar essa informação para as pessoas que:: / acho
que eu não sei se o Museu, esta aí, eu não sei se o Museu é informado, se é informado a existência
do Museu na rede municipal (+) de ensino. Eu’ fico à disposição de repente se a rede municipal

117
quisesse (+) de tirar um dia de patrimônio, se o Museu fizesse o projeto, uma proposta até de a
gente encaminhar para rede municipal, se a gente pudesse a cada mês ir em uma escola para dar
uma palestra para as crianças (+) para saberem o que é o museu, o que é o sítio arqueológico, eu
ficaria a disposição. Já fiz isso algumas vezes, mas acho que precisa ser feito mais vezes, as vezes é
lógico, tem hora que a gente gostaria que a escola viesse aqui (+) no Museu. Mas se a escola não veio
(+) de repente nós vamos lá na escola, é uma proposta, não sei se é viável ou não mas é uma
proposta mas eu ficaria a disposição

PC – Mauro, muito obrigado.

MP – Eu estou a disposição

PC – Se você tiver algum comentário final ou alguma coisa que você acha

MP – O que eu gostaria realmente, eu não sei se é utopia da minha parte, lógico que eu gostaria de
ver uma relação direta do Museu com o Sítio Arqueológico, tem (+) hoje tem, mas o ideal seria se
tivesse uma relação na frente. Por que quando a gente fala desse turismo de momento (+) teve uma
vez que eu passei um carnaval aqui em Niterói, que eu fiquei assustado. Existem fotos, talvez você
procure no arquivo do IPHAN, existe uma foto que eu tirei em’ cima’ aqui do muro, uma foto
montada por que montei com várias fotos mostrando como era a ocupação aqui na frente. Tantos
carros que tinham, eu subi na ponta aqui’ perto da colônia e tirei da praça em frente ao Sítio, era
muito carro. E aí você que a população que tinha aqui / tinha briga de ônibus, tinha briga de vans,
motoristas de vans, o cheiro era deprimente e era um momento de carnaval. Pode-se dizer que, não
vou falar cem por cento por que senão eu vou me incluir nessa, mas eu acho que a maioria não sabia
que tinha um Museu de Arqueologia aqui, sabe que existe as ruínas mas não sabe que existe o
Museu (+) e pode-se falar que é o único Museu de Arqueologia de Niterói. Aí eu acho que’ não existe
uma valorização, seja institucional / não falo pelo IBRAM não, até por que o IBRAM esta fazendo a
parte dele e eu acho que o Museu melhorou bastante com o IBRAM depois, quando eu falo
institucional é a Prefeitura que de repente poderia valorizar mais. Eu não sei se poderia fazer um
trabalho junto com a Prefeitura, junto com Secretaria Estadual (++) para valorizar mais o canto de
Itaipu e quando eu falo isso, eu não falo só para o Museu não. Canto de Itaipu a gente tem, o Museu
de Itaipu, na verdade tem Ruínas O Recolhimento de Santa Teresa tombado pelo IPHAN, não é o
Museu que é tombado, são as Ruínas do Recolhimento de Santa Teresa (+), que graças a deus tem
um museu dentro das ruínas, nós temos o Sítio Arqueológico Duna Grande, temos a Igreja São
Sebastião de Itaipu que é tombada pelo Inepac, temos as Ilhas do Pai, da Mãe e da Filha que são
tombadas pelo Inepac, temos o Morro da Andorinha, face vontade para Itaipu tombada pelo Inepac,
a Praia de Itaipu também, o Sítio Arqueológico Duna Grande que um Sítio Arqueológico, protegido
pela lei de arqueologia que tem processo de tombamento. Quer dizer, olha o valor histórico que tem
Itaipu (+) mas a maioria da população de Niterói não sabe desse valor, não tem conhecimento desse
valor. Eu não sei, acho que de repente as instituições tem medo, ou seja a Prefeitura ou o Estado, de
fazer qualquer coisa aqui por causa desse valor arqueológico histórico, realmente eu não sei’. Por
que a gente vê intervenção em Camboinhas, vê intervenção em São Francisco, vê intervenção em
Itaquatiara mas Itaipu não querem fazer, não sei se é medo se é reação o que é. Mas eu acho que
deve ser feito um trabalho junto’ (+) com todas as instituições para tentar revitalizar isso, projeto nós

118
temos. Fora esse de noventa e dois, teve o Projeto Orla (+) que tentou valorizar aqui, teve o projeto:
da secretaria de desenvolvimento: da pesca, o último agora que foi feito. Quer dizer, projeto tem, o
que tem que ter é vontade política para executar isso. E isso me da um pena por que:: Itaipu poderia
estar melhor (+) mas ao mesmo tempo eu não sei se a atuação do IPHAN assusta / essa é uma linha
muito tênue, eu não consigo ver ainda, se Itaipu não foi ????? é por que o IPHAN esta aqui brigando
por isso, eu não sei, mas seria muito interessante um relação direta’ com a Duna, existe essa relação
direta com a Duna? Existe. Existe até visualmente (+) se a gente esta na frente do Museu a gente vê a
Duna, mas eu queria que tivesse uma: intervenção física e urbanística que levasse para essa relação,
para quem entrasse verificasse ´´ olha tem um relação aqui e tal`` / eu lembro quando eu fiz um
projeto em noventa e seis, eu fiz um:: (++) uma rosa dos ventos estilizada, por que eu coloquei uma
rosa do ventos no ponto (+) central e que cada ponta dessa estrela apontava para um monumento,
até para a pessoa ver que tem um monumento aqui e tal. A população de Niterói não sabe,
infelizmente não sabe que tem isso aqui. E aí que a gente via que, não sei se isso acontece hoje,
quando fiz esse projeto, que quem vem para Praia de Itaipu, a maioria não morador de Niterói, é
morador de São Gonçalo, Itaboraí e algumas cidades da Baixada. O morador de Niterói geralmente só
vem para cá depois das quatro horas da tarde, ele vem para almoçar nos bares de Itaipu, ele não vem
para frequentar a’ praia. Então até as quatro horas você pega morador de: fora, o morador de Niterói
vem depois das quatro horas da tarde, eu não sei se isso acontece ainda, mas provavelmente sim.
Tanto é que se você reparar as linhas de ônibus, você tem uma linha de ônibus que vem de Niterói,
tem outras que vem de São Gonçalo e inclusive da Baixada e os ônibus que vem do Rio as vezes vem
lotado, por que de repente quem esta na zona da Leopoldina no Rio, esta na Baixada, prefere vir’
para Itaipu, pegar ônibus para vir para Itaipu do que ir para Barra da Tijuca. E tem que falar uma
coisa também, quem vem aqui é muito bem tratado, em Itaipu, aqui ninguém maltrata ninguém não,
pelo menos todo mundo é bem recebido aqui. Só eu que não sou bem recebido por que eu sou
fiscalização, ninguém gosta de mim mas isso é brincadeira / Pedro acho que é isso

PC – Então vamos fechar com uma relação prática (+) da relação IPHAN e Duna. Existe algum projeto
atual correndo no IPHAN sobre a ocupação das casas dentro do perímetro da Duna? Já existe alguma
resolução, algum apontamento ou alguma coisa que possa ser executada em breve ou a gente possa
esperar alguma coisa?

MP – Boa pergunta, eu não sei, eu acho que sim por causa de algumas intervenções que foram
levantadas agora (+) e estão sendo encaminhadas no Ministério Público (+) mas efetivamente se tem
alguma decisão tomada eu não sei te dizer, não sei mesmo, isso teria que ser levantado com a
PROFER.

PC – Muito obrigado Mauro, vai ser essencial esse trabalho.

119
APÊNDICE III – Transcrição de Entrevista: Mestre Cambuci

PC – Boa tarde, eu estou aqui com o senhor Aureliano Matos de Souza, conhecido como Cambuci,
pescador tradicional daqui da Praia de Itaipu

AMS – Obrigado

PC – Hoje a gente vai fazer aquela entrevista que nós combinamos, ver as suas percepções sobre a
Duna e algumas perguntas rápidas

AMS – Pode ficar tranquilo que eu responderei tudo aquilo que eu sei e tudo aquilo que eu (+) ainda
alcancei né

PC – Perfeito. Então Cambuci, a minha primeira pergunta aqui, quando eu fiz para as outras pessoas
ela se aplicava melhor. Quantos anos e desde quando você teve contato com o Museu e com a Duna.
Mas no seu caso você esta aqui antes do Museu né

AMS – Não não, nem tanto assim

PC – O Museu é de mil novecentos e setenta e sete

AMS – A´´ a legalização e o Museu depois que vocês né / Depois que aquilo ali virou museu né, isso
esta certo. Por que isso aí (+) eu te responderei o que eu alcancei desde o meu entendimento de ser
humano, que eu passei a compreender e ver as coisas para poder lhe explicar. Eu sou nascido e
criado aqui em Itaipu, nós morávamos onde: do lado de lá do canal agora que antes não existia canal,
aonde estavam o índios que foram retirados. Ali na parte de baixo tinha mais ou menos de doze a
quinze famílias de pescadores, na parte de baixo da praia, ali na restinga, na parte do lado na lagoa
tinha também mais ou menos de dez a doze famílias. Então reduzindo na parte de frente para o mar
e de fundos para o mar dando de frente para a lagoa, conclusão que deve ter por volta de trinta
famílias, barracos de tábua, só de pescador e o campo era restinga pura, não tinha nada.

AMS – Então você me perguntando sobre (++) a Duna, ela praticamente pelo que e::u com esse
sessenta anos que eu vou completar agora, eu sou de nove de agosto de mil novecentos e cinquenta
e quatro / desde a época dos meus oito anos de idade até meus sessenta anos que eu vou completar
agora, vamos colocar cinquenta anos, se a duna fosse medida radialmente, TODA a duna, eu diria
para você que ela não tem a metade. Por que a duna é o seguinte, a duna ela(++) é quase que uma
ilha de areia, por cima dela que é a parte que da para o fundo da lagoa, era toda de pitangueira e daí
pra cá veio o dono de Itaipu, Pizarro, devastou muito a duna mas devastou muito a duna mesmo, se
você olhar pela praia que você vê a parte que tem muita areia preta

PC – Esse Pizarro, ele era o que aqui?

AMS – Ele era o dono de Itaipu, só que ele não era dono da duna. Na época as coisas eram mais
pacatas, fiscalizações e essas coisas todas não existiam tanto rigor conforme existe agora. As coisas
eram outras, isso aí eu estou falando de cinquenta anos atrás mas isso tem mais um pouquinho,
coloca aí cinquenta dois, cinquenta quatro, cinquenta três anos mais ou menos que ela vem sendo
120
devastada. Então a duna ia até dentro da lagoa, dentro da lagoa. A lagoa na minha época, quando
dava as enchentes em dezembro e janeiro que lagoa ficava gorda e ia até ali o cemitério aí o
pescadores numa faixa de mais de cem pescadores iam e dentro de dois dias abriam a lagoa, faziam
um canal mais ou menos de (2,5) dois metros de largura e um metro de profundidade mas com a
caída para o mar, começava raso e vinha aprofundando mas só abria quando a lagoa estava próxima
ao mar, quando ela enchia. Então se abrisse a lagoa mais ou menos dez horas da manhã, quando
fosse cinco horas da tarde ela já estaria com diâmetro de quase cinquenta metros de boca

PC – Ela estourava né

AMS – Era como se fosse uma bolsa de água estourando, era a mesma coisa, aí depois quando ela ia
amansando a própria natureza enchia. Então pelo meu entendimento hoje em dia da natureza, essa
duna, na minha imaginação, há anos atrás ela deveria ser ligada com duna de onde morou os índios
por que ali tinha uma duna

PC – Exatamente, a Duna Pequena

AMS – Não era muito pequena não, só que a Deplan devastou

PC – É, aquela ali a Deplan devastou mesmo

AMS – Vai lá que você vê, devastou para a lagoa que não tem nada a ver e devastou para dentro da
lagoa. Para o lado e para frente da lagoa

PC – Deixa eu te perguntar então já que você falou da Duna Pequena. A Duna Grande e a Duna
Pequena, você disse que achava que era uma coisa só mas elas pareciam visualmente uma coisa só
antes do canal?

AMS – Olha, você olhava parecia uma ilha separada pela natureza, na minha opinião há anos e anos
elas eram ligadas uma a outra, isso deveria ter um estudo mas na visão quase que certeza

PC – É por que elas pareciam iguais né

AMS – Iguais, a altura era igual, ela não era baixinha não.

PC – E ela tinha também quartzo

AMS – Todas as duas tinham, ossos e tudo. Só o estudo arqueológico para fazer uma análise do
tempo

PC – Você disse que hoje a duna não é nem metade do que ela era antes, por que?

AMS – Foi muito devastada, apanharam muita areia para loteamento, as máquinas devastaram para
dentro da lagoa, beira da praia

PC – E você tem uma época mais ou menos na cabeça em que isso aconteceu?

AMS – Quando eu era rapazinho era muito caminhão apanhando areia ali, era muita máquina
espalhando (areia) / ela vem sofrendo essa devastação a pelo menos quinze anos firme, aí começou
121
a modernização, a policia federal veio e prendeu. Daí pra cá ficou preso o falecido Valdermar aí
parou

PC – Então pelas minhas contas você nasceu em mil novecentos e cinquenta e quatro, aí você que
quando você era novo, com oito a dez anos você via o pessoal tirar areia da duna, então mais ou
menos em mil novecentos e sessenta e quatro. Aí ficou tirando uns dez a quinze anos

AMS – Aí Depan também devastou um pouco, o vento também devastou ela com decorrer do tempo

PC – É ela perdeu a vegetação né

PC – Deixa eu te fazer outra pergunta. Depois que aquilo ali virou o Museu (+) em mil novecentos e
setenta e sete, você percebia que o pessoal que trabalhava tinham alguma relação com a Duna? Se
eles sempre trabalharam na Duna no sentido de mostrar para as crianças o que é, sempre teve coisa
da Duna dentro do Museu?

AMS – Você quer dizer o pessoal que veio trabalhar aqui no Museu?

PC – É

AMS – O Museu veio sendo modernizado por que aquilo ali estava largado, as pessoas usavam como
banheiro, era uma sujeira horrível. Então foi uma grande melhora que veio para Itaipu por que é um
cartão postal da natureza antiga. Conclusão, foi uma grande coisa aquilo ali, é uma história do Brasil
assim como você vê no Peru e México sobre a história antiga e o Brasil também tem que acompanhar
além de ser um grande cartão postal para Itaipu e fora isso é de uma grande serventia para o estudo

PC – Mas você via alguma relação entre a Duna e o Museu?

AMS – A Duna e Museu era uma coisa interligada

PC – Eu não digo o Museu na época do recolhimento, das ruínas, na época que foi construído. Eu
digo Museu agora, a partir da década de setenta.

AMS – Você quer saber o que eu acho do Museu depois que se transformou no Museu Arqueológico.

PC – Isso

AMS – Foi uma coisa boa, uma coisa útil por que aquilo estava abandonado antes de ser o Museu
transformado conforme está agora aquilo estava em ruínas por que ninguém tomava providência, as
pessoas vinham e sujavam. Essa modernização serviu para tudo, trazer um cartão postal, para quem
estuda ou quer saber alguma coisa sobre história, amanhã ou depois quer saber quantos tinha a
Duna ou quantos anos tem o Museu. Foi uma coisa que faz parte do estudo, um coisa útil, uma coisa
boa

PC – Você disse que depois de um tempo apertou o cerco no pessoal que estava tirando areia da
Duna, veio policia federal e tudo mais

AMS – Depois que a polícia federal tomou providencia acabou, ninguém mais tirou

122
PC – Você lembra quantas vezes a Duna já foi cercada? Por que assim, ela não era cercada né

AMS – A Duna nunca foi cercada, foi cercada agora

PC – Há pouco tempo né

AMS – Parece que foi a Prefeitura que cercou

PC – Mas mesmo assim ainda se vê gente subindo, as vezes vê quadriciclo ou não?

AMS – Eu não posso te responder essa história de quadriciclo por que eu vou pescar cedo. Gente eu
sei que sempre tem mas são poucas pessoas também, não atrapalha e não tem nada a ver a pessoa
subir ali. Recentemente não teve coisa que pudesse prejudicar, devastar ou destruir. E mesmo assim
se tiver alguma coisa, a pessoa imediatamente denúncia e imediatamente a polícia toma uma
providência

PC – Foi até o que aconteceu recentemente, um cara achou algo lá e veio falar com a gente no
Museu. Uma outra pergunta que eu tenho é a seguinte, para quem não conhece como você que sabe
que lá tem osso e um monte de outras coisas, para quem chega de fora e olha a Duna, aquilo é só
uma duna e não sabe a quantidade de história ali dentro, você acha que isso melhorou de um tempo
pra cá e que as pessoas tem começado a perceber que aquilo ali é um sítio arqueológico?

AMS – Olha, cada um no seu cada um e cada caso é um caso. Isso tudo que eu estou lhe
respondendo serve para um preservação para quem vem visitar e vocês tem explicações para quem
vem se informar e estudar. Então essas coisas se conservando, a Duna e o Museu, se tornam um
coisa útil. É o caso da Duna, vocês que trabalham no Museu tem alguma coisa para informar, para
educar, para explicar para quem vem visitar e estudar e isso tem valor para o futuro que terá o
arquivo para informar sobre o local para a próxima geração

PC – Você percebe se além do Museu existe alguma outra instituição que cuide da Duna?

AMS – A Duna eu não vejo ninguém cuidar a não ser a própria natureza por que a Duna esta lá
cercada e não sei responder se tem alguém vigiando ali por que eu quase não passo por ali, meu
negócio é mar, casa, trabalho, pescaria. Mas pelo o que eu vejo de longe, ela esta do mesmo jeito
que estava, de um anos para cá não houve degradação nenhuma sobre a ela, degradação nenhuma
na natureza dali , ela parou, estacionou e eu acho que do jeito que ela esta deve durar muitos anos
por que ninguém esta fazendo nada de grave e nem pode fazer né. Agora se tem guarda eu não sei, o
Museu eu sei que tem agora lá na Duna eu não sei mas também não é preciso por que o INEA esta
sempre aí, o INEA não daqui sempre vigiando. Eu vejo o INEA todo dia aí, pode até não ficar o dia
todo mas pelo menos duas vezes por dia

PC – Para gente fechar só mais uma pergunta, você disse que o Museu trabalha para dar informação
para o visitante mas você que o pessoal que mora aqui percebe a Duna como um lugar histórico?

AMS – Eu não posso te responder com certeza por que as pessoas que moram aqui ultimamente eu
não conheço, mudou muito, a raiz nossa não chega a dez por cento. Para gente pescador, aquilo
sempre foi uma história, não vai ser uma história, sempre foi. Agora esse pessoal aí eu não tenho
123
uma resposta para te dar por que eu conheço bem pouco. Sou nascido e criado aqui e os moradores
que tem aí eu não conheço. Mas para os pescadores que já morreram e para os que ainda estão aqui,
o Museu sempre foi uma história, com certeza

PC – A Duna também?

AMS – Sempre foi, sempre foi. As pessoas sempre vem e perguntam sobre os índios, jesuítas e coisa
e tal. Só aqui vocês tem os arquivos, as coisas com mais clareza para informar né

PC – E era muito comum achar osso e pedra de quartzo na Duna?

AMS – Olha nós não procurávamos não, esse negócio de osso quem procurava era Ildo que quando
começaram a escavar acharam ossos e ele estava no comando da colônia e ele se interessou a
apanhar ossos lá, aí veio a polícia federal com arqueólogos e coisa e tal. Isso aí mais ou menos a
quarenta anos atrás que começou esse negócio de ossos aí o Museu veio se transformando, se
modificando, se ampliando sob isso e chegou aonde esta mas foi o Ildo que se interessou realmente
por isso

PC – Ta certo, Cambuci muito obrigada

AMS – Que nada, não tem nada que agradecer não.

124
ANEXO I – Quadro da subdivisão dos bens tombados de acordo com a
comissão dos monumentos (CHOAY, 2006).

Subcategoria Responsáveis

Ameilhon, Debure, Mercier


I - Livros Impressos

II - Manuscritos
Préquigny, Dacier, Poirier
III - Forais e selos

IV - Medalhas antigas e Modernas

V - Pedras gravadas e inscrições

Barthélmy, David, Doyen, Leblond,


VI - Estátuas, bustos, baixos-relevos, vasos, pesos Masson, Mongez, Mouchy, Pajou,
e medidas antigos e da idade média, armas Puthod
ofensivas e defensivas, mausoléus, túmulos e todos
os objetos desse gênero, relacionados à
Antiguidade e à História.

VII - Quadros, pastas de pintores, desenhos,


gravuras, mapas, tapeçarias antigas ou históricas, David, Debure, Desmarest, Doyen,
mosaicos, vitrais Mouchy, Pajou

VIII - Máquinas e outros objetos relativos às artes


mecânicas e às ciências Desmarest, Mogez, Vandermonde

IX - Objetos relativos à história natural e a seus três


reinos Ameilhon, Desmarest, Mongez

X - Objetos relativos aos costumes antigos,


Ameilhon, Puthod
modernos, europeus e estrangeiros.

125
ANEXO II – Quadro das instruções complementares de 3 de março de 1791
(CHOAY, 2006).

1º Quando o preço atual da mão de obra ultrapassar ou apenas igualar o


valor do material, o monumento não será fundido.

2º Todo monumento anterior ao ano de 1300 será conservado, de acordo


com os costumes.

3º Todo monumento valioso pela beleza do trabalho será conservado.

4º Os monumentos que, não sendo valiosos pela beleza do trabalho,


trouxerem informações sobre a história e os períodos da arte serão
conservados.

5º Se, entre os monumentos históricos que não merecerem ser conservados,


se encontrarem alguns com detalhes interessantes para a história oa para
a arte, serão conservados.

6º Todo monumento que tiver interesse para a história, para os costumes e


para os usos será conservado.

7º Quando um monumento tiver uma inscrição ou legenda interessante para


a história da arte, ela deve ser retirada para conservação, mencionando-
se o monumento onde se encontrava (...)

8º Extrair-se-ão, sem as danificar, as pedras preciosas e as pedras


gravadas, as medalhas, os baixos-relevos incrustados nas peças de
ourivesaria (...)

9º Quando as relíquias estiverem colocadas em estofos ou tecidos que


possam esclarecer sobre as manufaturas, ter-se-á o cuidado de pô-las à
parte para serem examinadas. Se merecerem ser conservadas, pedir-se--
á ao padre encarregado do transporte das relíquias que delas separe
esses tecidos e esses estofos com as precauções exigidas pela decência.

126
ANEXO III - Representação das medições do Sítio Duna Grande com base no
ponto i3

127
ANEXO IV - Representação das medições do Sítio Duna Grande com base no
ponto i8

128

Você também pode gostar