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CADERNO DE RESUMOS

1
Copyright c 2011 dos autores
Os textos contidos nesta publicação e os direitos de reprodução estão reservados para os
autores.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO


Prof. Dr. Carlos Antônio Levi da Conceição
Reitor
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
Profa. Dra.Débora Foguel
Pró-reitor
DECANO DO CENTRO DE LETRAS E ARTES
Prof. Flora de Paoli Faria
Decano
ESCOLA DE BELAS ARTES
Prof. Dr. Carlos G. Terra

Si 57 Simpósio Arqueologia na Paisagem (2.: 2011: Rio de Janeiro)


Arqueologia na Paisagem: um olhar sobre os jardins
históricos/Organizadores: Jeanne Trindade, Carlos G. Terra - Rio
de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola de
Belas Artes, 2011.

54 p.; 16cm.
Inclui bibliografia
ISBN 978 85 87145 41 3

1. Paisagem - 2. Jardins Históricos. 3. Arqueologia


I. Trindade, Jeanne. II. Terra, Carlos. III. Universdade Federal do
Rio de Janeiro. IV. Escola de Belas Artes. V. Grupo de Pesquisa
História do Paisagismo

CDD 710

UFRJ

Capa, projeto gráfico e editoração: Rubens de Andrade


Revisão Textual: Carlos Terra e Jeanne Trindade
Foto da Capa: Rubens de Andrade

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CADERNO DE RESUMOS

A rqueologia
2o Simpósio

na P a i s a g e m
um olhar sobre os jardins históricos
Jeanne Trindade
Carlos Terra
(Orgs.)

Rio de Janeiro/RJ - 2011

3
Créditos
Realização
Universidade Federal do Rio de Janeiro/UFRJ
Escola de Belas Artes - EBA/UFRJ

Organização
Grupo de Pesquisa História do Paisagismo – GPHP-EBA/UFRJ

coordenadores
Prof. Dr. Carlos Gonçalves Terra
(EBA/UFRJ - GPHP-EBA/UFRJ)
Prof. Me. Jeanne Trindade
(GPHP-EBA/UFRJ - Universidade Estácio de Sá – PCRJ)

Comissão Organizadora
Prof. Dr. Carlos Gonçalves Terra (GPHP-EBA/UFRJ
Profª Flávia Braga (GPHP-EBA/UFRJ)
Profª Jeanne Trindade (GPHP-EBA/UFRJ - Universidade Estácio de Sá/PCRJ)
Profª Lia Gianelli (GPHP-EBA/UFRJ)
Prof. Rubens de Andrade (GPHP-EBA/UFRJ)

Ficha Técnica
Projeto Gráfico e Diagramação
Rubens de Andrade

apoio
Fundação Casa de Rui Barbosa

Parcerias
Centro de Estudos e Pesquisas em História da Arte - CEPHA-EBA/UFRJ
Grupo de Pesquisa Sistema de Espaços Livres - SEL-RJ/PROARQ-FAU/UFRJ
VITRUVIUS

agradecimentos
Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ
Escola de Belas Artes - EBA
Fundação Casa de Rui Barbosa - FCRB
Vitruvius
Prof. Abílio Guerra
Ana Pessoa (Fundação Casa de Rui Barbosa)
Mara Sueli (Fundação Casa de Rui Barbosa)

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Sumário
05 Apresentação
Carlos Terra e Jeanne Trindade

07 Programa

12 Resumos das Conferências

13 As relações e conexões entre arqueologia e paisagem


Marcelo Fagundes

19 Arqueologia da paisagem e a potencialidade interpretativa dos espaços sociais


Ana Cristina de Sousa

20 Praça XV: projetos do espaço público


Antonio Ferreira Colchete Filho

23 A paisagem do interior ao exterior do jardim


Ana Rita Sá Carneiro

25 O impacto do entorno urbano nos jardins de interesse histórico


Inês El-Jack

31 De los jardines históricos a los paisajes culturales: la labor de ICOMOS através del tiempo
Sonia Berjman

38 Do jardim histórico à paisagem cultural


Carlos Fernando Delphim

39 A Restauração do Passeio Público do Rio de Janeiro


Vera Dias

40 Jardim da Luz: de horto botânico a museu a céu aberto


Carlos Dias

43 No jardim romântico de Mariano Procópio: trajetórias e transformações do sítio histórico mineiro


Cristiane Magalhães

46 Jardins históricos modernistas na cidade de São Paulo: entre a teoria e as intervenções no


patrimônio cultural
Maria José Marcondes

49 Conferencistas

5
Apresentação
Portadoras de mensagem espiritual do passado,
as obras monumentais de cada povo perduram no presente
como o testemunho vivo de suas tradições seculares.
Carta de Veneza, 1964.

P
assado um ano das discussões ocorridas no Simpósio Arqueologia na
Paisagem: novos valores, dilemas e instrumentais, realizado na Fundação
Casa de Rui Barbosa, avaliamos que muitos foram os caminhos surgidos
que nos permitiram interpretar como o campo da arqueologia oferece instrumentos
essenciais para os estudos da paisagem e do ambiente construído.
Os debates do primeiro encontro, que em sua essência, foi composto por
arqueólogos nos ajudou a individualizar questões e formular conceitos que atingem
diretamente a pesquisa sobre jardins históricos como também, às práticas dos projetos
de restauro e preservação de espaços paisagísticos no Brasil.
Apropriando-se das direções deixadas pelos debates iniciados em 2010 e,
numa tentativa de aproximar cada vez mais o universo da arqueologia aos estudos da
transformação da paisagem, propomos no 2o Simpósio Arqueologia na Paisagem: um
olhar sobre os jardins históricos, aprofundar a discussão a partir de nosso campo de
atuação stricto senso: o paisagismo. Ante a isso, foi eleito como tema dessa segunda
edição um recorte centrado na preservação e restauro dos jardins históricos.
Os espaços paisagísticos denominados jardins históricos, em linhas gerais,
são aqueles que traduzem as mentalidades socio-culturais de um povo, como
também, espelham no tempo e no espaço, referências estéticas, práticas de usos
e simbolismos de uma sociedade. Exemplos desses espaços se materializam na
cidade através de parques, praças, jardins ou qualquer espaço livre vegetado ou não,
que contenha uma dimensão histórica, artística ou cultural de valor peculiar para a
sociedade contemporânea seja ele privado ou público.
Ao consideramos as singularidades desses ambientes construídos, é possível
elencar questões relacionadas a sua forma (tipologia/morfologia), ao seu patrimônio

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vegetal e em especial, aos seus usos contemporâneos. Dimensionar como a sociedade interage com os
jardins históricos nos seu cotidiano, seja através da mera contemplação, ou interferindo diretamente na
construção e reconstrução de um espaço cujos recantos guardam fragmentos de memória urbana, é de
fundamental importância para a interpretação da história desses espaços no contexto das cidades.
Na percepção de Mario de Andrade, nas artes arqueológicas, não se encontram somente
artefatos colecionáveis mas também, destaca-se os sambaquis, os mocambos, em suma, os elementos
que hoje estão dentro de um arcabouço teórico conhecido como paisagem cultural. Esse expoente do
modernismo brasileiro, foi um dos pioneiros na elaboração de propostas dirigidas à preservação do
patrimônio nacional sejam eles bens arquitetônicos ou demais elementos formadores da nossa paisagem.
As idéias dessa geração deixaram um legado próprio para a construção de ideologias que hoje se vêem
materializadas através de instituições e inúmeros documentos oficiais preocupados com a preservação
de nosso patrimônio.
Diante disso, o 2o Simpósio Arqueologia na Paisagem - um olhar sobre os jardins históricos,
visa discutir e levantar questões que possam instrumentalizar de forma prática e teórica pesquisadores e
profissionais das mais diversas áreas que estejam ligados a intervenção na paisagem no Brasil, sobretudo
aos trabalhos relacionados às obras de restauração e preservação de jardins históricos.
No intuito de refletir sobre as bases que definem o atual estágio em que o assunto se encontra na esfera
nacional e internacional, as abordagens incidirão nas seguintes questões:
a) a permanência e os usos dos jardins históricos nas cidades contemporâneas;
b) os conceitos e práticas relacionados a política de proteção;
c) os instrumentos patrimoniais necessários à defesa dos jardins históricos;
d) as metodologias de preservação e restauro adequadas ao nosso país.

A partir do escopo definido para a discussão neste encontro, abre uma oportunidade real para se
refletir não somente no valor dos jardins históricos mas sobretudo na necessidade da preservação e restauro
desses espaços que também guardam parte significativa da memória urbana. Além disso, o simpósio
pretende destacar:

a) a urgência de um maior investimento no Brasil de políticas públicas que definam


parâmetros mais claros sobre a preservação de espaços paisagísticos com valor histórico e;
b) uma produção mais ampla de trabalhos acadêmicos voltados aos estudos de jardins
históricos.

Prof. Carlos Terra


Profa. Jeanne Trindade
Grupo de Pesquisa História do Paisagismo - GPHP - EBA/UFRJ

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P rograma

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Quinta-feira, 24 de NOVembro DE 2011
09h00 – 10h00
Inscrições e Credenciamento

10h00 – 10h20
Sessão de Abertura
Representante da Escola de Belas Artes
Prof. Dr. Carlos Terra – Diretor da EBA/UFRJ
Representante da Fundação Casa de Rui Barbosa
Drª. Ana Pessoa – FCRB
Representante do Grupo de Pesquisa História do Paisagismo
Prof. Me. Rubens de Andrade – EBA/UFRJ
Coordenadora do Simpósio
Profa. Me. Jeanne Trindade
(GPHP-EBA/UFRJ - Universidade Estácio de Sá/PCRJ)

10h20 – 11h30
Conferência Magistral
Mediador: Prof. Dr. Carlos Terra
As relações e conexões entre arqueologia e paisagem
Prof. Dr. Marcelo Fagundes (UFVJM)

11h30 – 12h00 – Debate

12h00 – 14h00 – Livre

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14h00 – 14h10
Sessão de Conferências I
Instrumentais da Arqueologia da
Paisagem na Preservação de
Jardins Históricos
Mediadora: Prof. Drª. Ana Maria Daou (IGEO/UFRJ)

14h10 – 14h40
Arqueologia da paisagem e a potencialidade interpretativa dos espaços sociais
Drª. Ana Cristina de Sousa (IFBA/UFBA)

14h40 – 15h10
Praça XV: projetos do espaço público
Prof. Dr. Antonio Ferreira Colchete Filho (UFJF)

15h10 – 15h25 – Intervalo

15h25 – 15h55
A paisagem do interior ao exterior do jardim
Profª. Drª. Ana Rita Sá Carneiro (FAU/UFPe)

15h55 – 16h25
O impacto do entorno urbano nos jardins de interesse histórico
Drª. Inês El-Jack (FIOCRUZ)

16h25 – 16h50 – Debate

17h00
Encerramento

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Sexta-feira, 25 de novembro de 2011
09h00 – 10h00
Visita guiada nos Jardins da Casa de Rui Barbosa

10h00 – 10h10

Sessão de Conferências II
Normas e Modelos na Política de
Preservação de Jardins Históricos
e Paisagens Culturais
Mediadora: Drª. Ana Pessoa (FCRB)

10h10 – 10h50
De los jardines históricos a los paisajes culturales: la labor de ICOMOS
através del tiempo
Drª. Sonia Berjman (ICOMOS/IFLA)

10h50 – 11h30
Do Jardim Histórico à Paisagem Cultural
Arquiteto Carlos Fernando Delphim (IPHAN)

11h30 – 12h00 – Debate

12h00 – 14h00 – Livre

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14h00 – 14h10
Sessão de Conferências III
Por uma Preservação dos
Jardins Históricos no Brasil:
Limites, Retrocessos e Avanços
Mediadora: Profª. Jeanne Trindade
(UNESA/GPHP-EBA/UFRJ)

14h10 – 14h40
A Restauração do Passeio Público do Rio de Janeiro
Profª. Vera Dias (PCRJ)

14:40 – 15:10
Jardim da Luz: de Horto Botânico a Museu a céu aberto
Dr. Carlos Dias
15h10 – 15h25 – Intervalo

15h25 – 15h55
No Jardim Romântico de Mariano Procópio:
trajetórias e transformações do sítio histórico mineiro
Historiadora Cristiane Magalhães (ifch/unicamp)

15h55 – 16h25
Jardins Históricos Modernistas na cidade de
São Paulo: entre a teoria e as intervenções no patrimônio cultural
Profª. Drª. Maria José Marcondes (UNICAMP)

16h25 – 16h40 – Debate

16h40 - 17h00
Sessão de Encerramento.

12
R esumos das C onferências
13
Arqueologia da paisagem e a potencialidade
interpretativa dos espaços sociais
Marcelo Fagundes

O
objetivo dessa comunicação é discutir como a Arqueologia tem se apropriado do conceito de
Paisagem ao longo de sua história. Com isso, não pretendemos esgotar o assunto – tarefa
simplesmente impossível –, mas refletir sobre o conceito em sua complexidade, abrangência e
polissemia e, principalmente, como por meio dele podem-se discutir questões complexas acerca de como
se deu as relações entre humanos em seus ambientes.
É inegável que o conceito tem sido objeto de estudo de muitas disciplinas, sendo sua compreensão está
envolta a variedades de concepções teóricas e metodológicas, inclusive na própria Arqueologia Pré-Histórica,
tema dessa comunicação (MORAIS, 2000; LÁZZARIS, 2007; LINKE, 2008; FAGUNDES, 2007, 2009).
Para a Arqueologia, não se pode pensá-lo como algo novo (ou recente) ou mesmo algo que altere
significativamente o que tem sido feito por arqueólogos faz muito tempo em seus diferentes paradigmas:
histórico-culturalista, processualista e pós-processualista. Pelo contrário, seu uso é inerente à pesquisa,
tendo em vista que caracterizar o ambiente (natural e cultural) em que grupos pré-históricos (ou históricos)
viveram é um procedimento fundamental em Arqueologia.
Fundamental na visão histórico-culturalista de V. Gordon Childe, na busca por limites geográficos
de suas culturas arqueológicas; na perspectiva analítica e econômica da Arqueologia Marxista, para
compreensão dos sistemas econômicos de subsistência e transformativos que diferenciam a organização
de diferentes grupos, gerando diferenças em níveis cada vez mais complexos: econômicas ou simbólicas;
na abordagem Estruturalista de André Leroi-Gourhan para reconstrução dos solos paleoetnográficos
de ocupação, para compreensão da coerência interna das sociedades estudadas, uma vez que esses
solos, para Leroi-Gourhan (1972), são cenas do cotidiano congeladas na matriz arqueológica; ou mesmo
na aplicação da Ecologia Evolutiva para compreensão do comportamento humano, por meio do resgate
da Ecologia Cultural stewardiana, sob o rigor da Teoria Evolutiva atual. E, mais recentemente, como
escopo metodológico relacionado ao uso das geotecnologias, uma vez que o próprio avanço tecnológico,
representado por novas técnicas de geoprocessamento e GIS, pode ser visto como umas das causas dessa
crescente demanda pelo conceito de paisagem entre arqueólogos (GOJDA, 2001).

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Com isso afirmamos que há diferentes concepções de como o conceito pode ser utilizado ou
mesmo o que é. As várias definições permitem, assim, um variado grau de aplicação e interpretação, sendo
marcadas pela diversidade de temas, como já afirmado, desde o uso das geotecnologias e a aplicação em
licenciamentos ambientais (LLOBERA, 1996; MORAIS, 2000, 2007; LANG & BLASCHKE, 2009); patrimônio,
identidade e herança cultural, e suas políticas públicas (BANDEIRA, 2006; CRIADO BOADO, 1996, 2001;
GODJA, 2001); paisagem como percepção êmica de uma realidade (TILLEY, 1994); como uma construção
material e simbólica que denota as inter-relações de humanos em seus ambientes, ou seja, uma síntese da
história de ocupação humana em um dado lugar, compreendendo as inter-relações desenvolvidas em escala
diacrônica e holística (KNAAP, 1999; LINKE, 2008; LÁZZARIS, 2007; FAGUNDES, 2009), entre outros.
Assim, diferentes temas podem ser abordados, sobretudo relacionados à distribuição espacial dos
sítios arqueológicos; uso e ocupação dos lugares em termos diacrônicos; formação do registro arqueológico;
subsistência e apropriação de recursos; aspectos culturais e de identidade; paisagem e relações de poder;
patrimônio arqueológico e suas políticas de gestão, entre outras máximas da Arqueologia –, sem contar
conceitos que já foram amplamente discutidos na Antropologia, tais como difusão, evolução, espaço e
tempo, possibilismo ou determinismo ambiental, tecnologia, identidade, etc. (GOJDA, 2001; RACZKOWSKI,
2001). Baseados em todas essas questões, faz algum tempo que temos nos debruçado sob o conceito com
vistas à compreensão de como humanos se estabeleceram em determinado ambiente e, principalmente,
como se dão as relações entre ambos. Logo, algumas definições se fazem necessárias, inclusive para
compreensão de como entendemos as conexões e a própria amplitude do conceito de paisagem para a
Arqueologia, a saber: sítio arqueológico, lugar e paisagem “arqueológica”.
Há centenas de definições sobre o que seja um sítio arqueológico. Preferimos entendê-lo como
espaços onde são evidenciados remanescentes culturais (de qualquer ordem) que nos indicam usos e
comportamentos sociais em escala diacrônica, sendo espaços destinados à moradia (na vida ou na morte),
paradas para descanso, locais de observações, estações de caça ou pesca, áreas de captação de recurso,
enfim lugares que trazem consigo informações temporais e espaciais acerca do modo de vida e cultura
de um determinado grupo (PÉREZ ALVARADO & MERA MORENO, 2004; BINFORD, 1982). Os lugares
“persistentes” são também espaços que apresentam qualidades únicas que os fazem particularmente
adaptados para certas atividades, práticas e comportamentos. São sítios, não-sítios e ocorrências,
de uso continuado, usualmente localizados em áreas-núcleo de determinado grupo ou, por motivos
variados, ocupados por inúmeros outros grupos culturais ao longo da história de ocupação de uma região
(SCHLANGER, 1992). A paisagem (arqueológica) se constituí, nesse sentido, como uma assembleia de
sítios e lugares “persistentes” marcados espacialmente, temporalmente e culturalmente, muito próximo ao
que foi definido por Marcel Mauss como estabelecimento (1974).
Assim, a paisagem é compreendida nesse texto como uma entidade dotada de significação e,
nesse caso, adquirindo dimensão de ordem sociológica, histórica e fisio-psicológica (Fato Social Total),
ou seja, definida e integrada à sociedade, por meio de sua materialidade física, bem como de sua
imaterialidade representada pelos aspectos de significação que adquire ao longo do tempo por meio dos

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aparatos técnicos e cognitivos. Nossa intenção, ao utilizar o conceito, não é estabelecer uma nova ordem
(ou mesmo questionar paradigmas e metodologias), mas esmiuçar de maneira mais sistemática as relações
humanas com seus ambientes, sob um viés que é antropológico, e que busca uma compreensão mais
assertiva, quanto for possível, acerca do comportamento humano e suas ideias, sobretudo no tocante a
pesquisa em pré-história.
Ou seja, possibilitar proposições mais assertivas sobre a formação do registro arqueológico, bem
como a compreensão dos padrões de implantação de sítios em uma dada área e como esses itens nos levam
a compreensão de como esses grupos humanos viviam, como se estabeleciam no ambiente e como pensavam
a sua paisagem, vista como espaço, cultura e tempo. Essa compreensão nos indica as escolhas envolvidas
nesse processo, ou seja, das relações sistêmicas que humanos mantiveram em um dado ambiente ao longo
do tempo, tanto relacionado aos fatores de ordem produtiva quanto sociais, políticas e mesmo ideológica
(ou seja, o universo simbólico). Isso significa ir além das análises (caracterizações) geoambientais, clássicas
nos estudos arqueológicos. Ir além pode ser entendido como integrar essas caracterizações à realidade
humana, com a característica dessa realidade, na pré-história, não existir stricto sensu. Acreditamos que as
análises geoambientais (e paleoambientais), bem como uso das geotecnologias, são recursos fundamentais
para entendermos itens básicos em Arqueologia: da formação do registro arqueológico às relações entre
sítios contemporâneos (ou não) de uma área arqueológica. Portanto, há uma necessidade desse “esmiuçar
a paisagem”, mesmo para responder questões básicas: i) como se forma um sítio arqueológico? ii) como
se deu a ocupação, estabelecimento, uso (reuso) ou o desenvolvimento de atividades em uma assembleia
de assentamentos (sítios arqueológicos e lugares)? iii) como estão implantados esses sítios no tocante a
topografia e distribuição dos recursos naturais? Entre outros pontos.
Nesse sentindo, parte-se do princípio que apenas a caracterização geoambiental, seja em seus
aspectos evolutivos, fisiográficos, geomorfológicos, biogeográficos, hidrográficos ou climatológicos; não
seja suficiente nos estudos arqueológicos ou mesmo para se denominar de Estudo da Paisagem que,
nessa comunicação, é compreendida como um processo de apropriação/ reapropriação; construção/
reconstrução; significação/ressignificação de uma área. Os sítios arqueológicos (e seus conteúdos) e
assembleia de sítios devem ser compreendidos como inseridos no ambiente e, portanto, posto ao seu
dinamismo, bem como a paisagem deve ser compreendida como objeto de estudo. Portanto, devemos
ter em mente da necessidade de inter-relacionarmos em nossas caracterizações ambientais à realidade
arqueológica/ cultural, pois só desse modo ela se faz pertinente.
Na mesma linha de pensamento, não podemos nos eximir do objetivo final da Arqueologia: o
comportamento humano. Aliás, objetivo esse que a classifica como ciência humana, preocupada com o
modo de vida e cultura de diferentes grupos, tendo como meio seus remanescentes culturais, de qualquer
ordem, que são capazes de nos indicar acerca das relações natureza versus cultura em várias facetas.
Todos os avanços tecnológicos são, portanto, meios para o fim último da Arqueologia. Concordamos com
Criado Boado (1991), quando o autor afirma que a paisagem de qualquer grupo humano, antes de ser uma
entidade física, estática e meramente ecológica, é, sobretudo, uma construção “imaginária”, em movimento

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contínuo e enraizado na cultura. Sobre essa discussão, devemos entender melhor pontos fundamentais para
a pesquisa arqueológica: i) a compreensão das características geoambientais da área onde estão inseridos
os sítios arqueológicos; ii) a compreensão de que a paisagem, e seu dinamismo, são construções humanas
carregadas de significados e re-significados em escala diacrônica; iii) que existe uma história de construção
e reconstrução, uso ou desuso, de interpretação e re-interpretação, de uma dada paisagem, que permeiam
questões de ordem econômica-produtiva, sociológicas e culturais.Nesse sentido, a implantação de um sítio
arqueológico está envolta a questões de ordem cultural e ambiental, em um processo dialético e dinâmico.
De qualquer forma, em uma visão antropológica da paisagem e, portanto, não menos arqueológica;
não seria nenhum abuso afirmar que as pessoas percebem, classificam e moldam o ambiente circundante a
partir de processos simbólicos que podem estar vinculados às tradições culturais de um dado grupo, ao apego
sentimental a determinados marcos paisagísticos, à memória, aos mitos, enquanto local dos ancestrais e, não
raramente, tendo como referências fronteiras sagradas e profanas. Tal perspectiva baseia-se, sobremaneira,
em uma assertiva fenomenológica em que o sujeito experimenta seu espaço, faz construções cognitivas
e o idealiza conforme sua percepção do que é o mundo (CROSGROVE, 1998; RACZKOWSKI, 2001).
Obviamente existem questões de cunho ecológico, adaptativo e funcional que fazem parte dessa complexa
rede de significações e que não podem ser simplesmente descartados (LÁZZARIS, 2007).
Segundo Linke (2008, p.19), “a paisagem, enquanto lugar de atuação de grupos culturais,
é constituída por elementos naturais e também por aqueles que foram, outrora, construídos pela ação
humana, e que frequentemente, são tomados ou percebidos como estimuladores de uma nova ocupação
dos espaços, ou como parte importante da história das pessoas e dos lugares”. A dificuldade surge
em estabelecer procedimentos analíticos para a pré-história de como se deu essa percepção (êmica,
obviamente), haja vista que seus construtores estão extintos e eram ágrafos.
De antemão, podemos afirmar que acreditamos que há possibilidades de se inferir como se
dava essa percepção, sobretudo no que tange ao estudo de implantação de sítios arqueológicos e seus
conteúdos. Enfim, para discussão dos conceitos e definições (e angústias) acima destacados, preferimos
apresentar a aplicação de todo esse escopo em pesquisas realizadas pelo Laboratório de Arqueologia e
Estudo da Paisagem da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (LAEP/UFVJM) e um
possível modelo para o Licenciamento Ambiental (tão em voga no momento), a saber: i) PAAJ (Projeto
Arqueológico Alto Jequitinhonha), onde apresentaremos resultados sobre o uso do conceito de paisagem
em sítios de caçadores-coletores da Serra do Espinhaço mineira; ii) PACD (Projeto Arqueológico Cachoeira
Dourada), onde discutiremos a implantação de aldeias de grupos horticultores-ceramistas no pontal do
Triângulo Mineiro; iii) Licenciamento Ambiental aplicando metodologias da Arqueologia da Paisagem.
Enfim, nossa pretensão é apresentar a paisagem enquanto um conceito complexo, que, carregado
de significados, sendo, portanto, compreendido sob um caráter de fenômeno social, em que contextos
históricos e culturais específicos definem características simbólicas ímpares. Sob esse viés, a paisagem é
um produto humano, da construção humana, podendo ser definida como um espaço social humanizado:
no tempo e no espaço.Nessa perspectiva, essa paisagem passa a ser lida e interpretada como símbolo e

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adquirindo seu papel cultural dentro das representações sociais de um dado grupo enquanto bem cultural. A
paisagem é compreendida como uma construção social e, portanto, um fato social total conforme postulado
maussiano (FAGUNDES, 2009).
Estamos convencidos da necessidade de estudos sobre a paisagem em Arqueologia, ampliando
a noção de sítio arqueológico para o estabelecimento de Mauss (1974); dos loci de ocupação continuada e
dos lugares persistentes, compreendendo a cultura e natureza como integradas no que podemos denominar
como paisagem arqueológica, partindo do pressuposto de que grupos pré-históricos percorriam diferentes
espaços no meio físico-biótico motivados por uma série de questões, aqui explicitadas, mas dentro de
marcos paisagísticos que, mesmo que fluidos, demarcavam seus espaços sociais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BINFORD, Lewis R. The Archaeology of Place. Journal of Anthropological Archaeology, n.01, pp. 05-31, 1982.

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19
Arqueologia da paisagem e a potencialidade
interpretativa dos espaços sociais
Ana Cristina de Sousa

E
sta análise, realizada a partir das inferências da Arqueologia da Paisagem, procura explorar a
potencialidade interpretativa dos espaços sociais na formação de dois núcleos populacionais ao longo
do séc. XIX e início do XX, os Povoados de Cachoeirinha e Massaranduba, no vale do rio Jequitinhonha,
Bahia – Brasil. A identificação de variados agentes na dinâmica de conformação dos espaços de interação,
focalizando, especialmente, os aspectos cotidianos da vida social, política e econômica, foi determinante para
se compreender a ocupação desta área de fronteira. A rede de indícios provenientes da pesquisa arqueológica,
antropológica e histórica viabilizou reflexões sobre relações de poder e de gênero que permitiram identificar não só
a reprodução de estruturas sociais, como também apreender suas adequações e a criação de novas disposições
sociais, principalmente através de agências individualizadas, de pequena escala, rotinizadas e potencialmente
transformadoras.

20
Praça XV: projetos do espaço público
Antonio Ferreira Colchete Filho

O
principal objetivo dessa comunicação é apresentar como que a chamada imaginária urbana
, composta em grande parte por mobiliários urbanos, monumentos e arte pública, pode ser
analisada para se compreender um pouco mais da evolução urbana da cidade do Rio de
Janeiro e do destino dado ao espaço público na área central. Verificamos que ao longo da história
esses elementos podem expressar grande parte das intervenções sobre o espaço público onde se
localizam, pois possuem a característica intrínseca de atuarem como sintetizadores da imagem
urbana de um lugar (e um tempo), seja uma praça, um bairro ou até uma cidade, como os consagrados
exemplos da torre Eiffel em Paris, da estátua da Liberdade em Nova York ou do Cristo Redentor no Rio
de Janeiro. Nesse estudo, partimos de um lugar importante da cidade do Rio de Janeiro – a Praça XV,
que vem sedimentando grande parte da evolução urbana da própria cidade, para, através da análise
de alguns exemplos da imaginária urbana que estão ou já estiveram na praça – com destaque para o
chafariz de Mestre Valentim (1789); a estátua eqüestre de Rodolpho Bernardelli (1894) e as esculturas
abstratas de Elisa Bracher (1999), fazermos algumas leituras de determinados momentos históricos e
compreendermos um pouco mais dos projetos para esse significativo espaço público carioca a cada
tempo.
As chamadas frentes d’água ou marítimas (waterfonts) das cidades sempre foram lugares
importantes para o desenvolvimento dos espaços públicos e para a criação de redes de negócios e
sociabilidades. Muitas dessas áreas que acumularam as funções de serviços para a cidade com a
instalação de portos, viram, com as mudanças sociais, logísticas e tecnológicas, a transferência integral
ou a diminuição da respectiva importância desses portos desde o início do século XX. Essas áreas que se
degradaram são alvo de projetos de revitalização em várias cidades, sobretudo, a partir dos anos 1970,
quando a disputa por investimentos para o espaço urbano se intensificou. Logo, a Praça XV, como um dos
primeiros lugares de ocupação da cidade e lugar onde o porto se localizava até 1903, acumula uma série
de ações que são importantes para o conhecimento da história do Rio e das práticas de projetos para a
área central que se dão até hoje.

21
Assim, por meio da pesquisa de campo e de extenso levantamento bibliográfico,
remontamos a história do lugar e podemos perceber o deslocamento de interesses do Estado, o
engajamento dos envolvidos na execução dos projetos e as repercussões dessas ações junto à
mídia e à população, já que o quadro teórico e a metodologia utilizada na pesquisa sublinham a
análise da trilogia imaginária urbana, espaço público e agentes sociais. Na união potencial entre
alguns exemplos significativos da imaginária urbana e as ações de diferentes agentes sociais, o
espaço público evidencia-se como um componente fundamental da história urbana. O estudo de
caso escolhido para as nossas reflexões permite que lancemos a hipótese de que a Praça XV é
um exemplo emblemático de lugar com forte conteúdo simbólico para a cidade, onde as principais
experiências de intervenção urbana na área central são testadas. Demonstra-se, então, que a
imaginária urbana, o espaço público e os agentes sociais constituem peças privilegiadas também
para os estudos urbanos e, por conseguinte, em uma forma de abordagem teórica e metodológica
para a cidade.
O espaço público central constitui parte importante da cidade do Rio de Janeiro e a Praça
XV deve ser sempre lembrada como o lugar por onde se conquistou a própria cidade, onde houve
a defesa de invasões estrangeiras, foi lugar de dores, sofrimentos, alegrias e comemorações, onde
hoje ainda se faz o solene transcorrer do dia-a-dia, uma praça de uma cidade. Mas de uma cidade
que foi capital colonial (1763-1822), depois imperial (1822-1889) e, ainda, como capital republicana
(1889-1960), para depois continuar sua evolução apenas como capital do estado do Rio, mas sem
jamais perder seu alto poder de congregar tantos acontecimentos, sem perder sua capitalidade, de
fato. Desde o século XVII, uma cidade cada vez mais projetada e adaptada, e no XX, ainda mais
reformada e explorada. Muitos projetos extraordinários foram esboçados e não realizados para nossa
área de estudo, como da avenida que ligaria o Paço a Botafogo, ou de um túnel passando pelo Morro
do Castelo e de outro que ligaria a Praça XV a Niterói. Na maior parte desses projetos não havia a
articulação com o tecido e marcos já existentes e, em sua tônica, continham instrumentos típicos
da especulação imobiliária. Muitos outros projetos, contudo, foram construídos. Para terem efeito,
geraram inúmeras demolições, que por sua vez geraram outros novos espaços para intervenção. Foi
criado algo em torno de 1 milhão de m2 com os desmontes de morros e a construção de aterros na
área central .
Consideramos que pelo fato da praça ter valorizado patrimônio histórico e acumular a função
de importante ponto de integração de transportes intermodais, o investimento hoje no espaço público é
grande, mas delicado, pois envolve circunstâncias técnicas e legais. Ao mesmo tempo, a Praça XV concorre
com outros tantos lugares da cidade que podem ser alvo de investimentos mais rentáveis para a aplicação
do capital, como vem acontecendo com a área portuária, especificamente. Nesse conjunto de forças e
demandas tão diversas para o espaço público, a Praça XV e arredores são novamente descobertos como
lugares de apropriação social, seja pela oferta de espaços culturais e de lazer, seja como cenário para o
blocos de carnaval, como o Cordão do Boitatá, que atrai milhares de pessoas.

22
Por fim, reiteramos que a evolução da cidade, ao longo do intenso crescimento urbano vivido
durante o século XX, não esvaziou a importância da Praça XV para a área central como um todo, nem
para a cidade. O surgimento de outras centralidades contidas na própria área central ou de subcentros em
outros bairros só fez acentuar o diferencial que ela possui por abrigar uma série de espaços, construções
e marcos que são registros típicos, ainda existentes, dos primeiros momentos de crescimento da cidade
nos anos 1700. A Praça XV, como lugar singular da cidade, que sintetiza a evolução urbana da área
central, e da história da cidade e do país por extensão, organiza grande parte do acervo de nossas
imagens urbanas, exemplificadas em chafarizes, estátuas e esculturas, testemunhos das ações dos
agentes sociais sobre o projeto do espaço público central. Desenhos que contêm desígnios, tempos
impregnados que são referências para a constituição da memória e cultura urbanas carioca.

NOTAS
1
Esse texto baseia-se em artigo apresentado na VIII Reunión de Antropología del Mercosur (2009) e em tese de
doutorado (PPCIS/UERJ, 2003) que foi publicada sinteticamente sob a forma de livro. Ver: COLCHETE FILHO, Praça
XV: projetos do espaço público. Rio de Janeiro: 7Letras, 2008.
2
Cf.: KNAUSS, Paulo. Imagens urbanas e poder simbólico: esculturas e monumentos públicos nas cidades do Rio de
Janeiro e Niterói. Tese de doutorado em História. Niterói: UFF/PPGH, 1998.
3
Ver: REZENDE, Vera. Planejamento urbano e ideologia: quatro planos para a cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1982, p.81.

23
A Paisagem do interior ao exterior do jardim
Ana Rita Sá Carneiro

O
jardim é mais humano, pois é moldado pelo homem, o jardineiro, e a paisagem, mais celestial. O
jardim é uma fragmentação e a paisagem, uma totalidade, entendida segundo massas, horizonte,
planos ou cenários que se sucedem. Assim pensa a filósofa Anne Cauquelin (2005) ao tratar
do jardim ordinário, usual, em contraponto à paisagem: o jardim como algo concreto e a paisagem algo
abstrato, compreendida no plano da espiritualidade. Segundo Cauquelin (2000), falar de jardim é lembrar
paisagens que marcaram a história de vida de cada ser humano, conhecer mais sua alma. Por isso,
relatar sobre a paisagem de um jardim é um exercício de auto-conhecimento, porque em geral busca-se
na memória o jardim da infância, da casa dos pais e dos avós, a paisagem que conecta o abrigo, as
flores, as árvores, e as pessoas relevantes, buscando a identidade com o lugar.
A relação entre o jardim e a paisagem vem sendo constatada no estudo sobre os jardins do
paisagista Roberto Burle Marx no Recife e no estudo sobre a teoria da paisagem, na perspectiva da
conservação do patrimônio. Investigando a paisagem brasileira, Burle Marx criou jardins “paisagísticos”
que são micro-paisagens ou fragmentações, como afirma Cauquelin. Os jardins foram criados pelo
paisagista nos mesmos princípios da Carta de Florença (1981), ou seja, como monumentos vivos nos
quais a vegetação é o principal elemento de uma composição artística, ecológica e educativa. No
âmbito dos teóricos da paisagem, o geógrafo Augustin Berque no seu livro Cinq propositions pour une
théorie du paysage (1994) apresenta os seguintes critérios para que uma civilização seja considerada
paisagística, quais sejam: uso de uma ou várias palavras para dizer “paisagem”; uma literatura (oral
ou escrita) descrevendo paisagens ou cantando sua beleza; representações de pinturas de paisagens,
e jardins de embelezamento. Os jardins de embelezamento são jardins paisagísticos criados como
obra de arte. Segundo Burle Marx não se pode criar jardins de acordo com regras e imposições, pois
“uma obra de arte decidirá sempre sua própria estrutura”e “nem sempre uma regra estabelecida para
um jardim serve para outro”(TABACOW, 2004,p.63). Ele também menciona que o jardim reflete a
paisagem circundante para que possa fazer parte do espírito do lugar – “se o jardim deve constituir um
complemento à paisagem, já possui a paisagem para complementá-lo”(TABACOW, 2004, p.62).

24
Um jardim de embelezamento tem interesse histórico e é definido como aquele que
apresenta aspectos da história da arte das paisagens e dos jardins de um determinado local ou cidade
com ênfase nas espécies botânicas e que podem ser exemplos do trabalho de um paisagista em
particular que valorize um estilo de projetar. Então, na esfera do patrimônio o jardim histórico está
associado à paisagem cultural como uma das três categorias firmadas pelo Operational Guidelines
for the Implementation of the World Heritage Convention de 1992 (UNESCO). Essa categoria trata
das paisagens projetadas e criadas intencionalmente pelo homem que são os jardins e parques
construídos por razões estéticas. Com essa intenção, Burle Marx projetou mais de vinte jardins
públicos no Recife dos quais seis, realizados entre 1935 e 1958, aguardam a avaliação do Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, sobre seu reconhecimento como patrimônio cultural
a nível nacional o que prescinde da definição de poligonais de proteção ambiental. Essas poligonais
deverão constituir unidades de paisagem que possam garantir a conservação de tais bens culturais.
Na verdade, os jardins evocam paisagens especiais de arquitetura vegetal, ou seja, que seguem um
ordenamento para o uso da população. Mas eles se estendem além dos limites de sua calçada, pois
na sua origem foram concebidos a partir da paisagem local do bairro, a urbana, na qual se inserem
áreas remanescentes de ecossistemas, e da paisagem regional próxima ao campo.
O conceito de unidade de paisagem foi apreendido do Observatori Del Paisatge da Catalunha
que organizou um Catálogo de Paisagem - tratando-as como porções do território que caracterizam
combinações específicas de componentes sociais e físicos constituídos ao longo da história que tem
dinâmica própria atrelados também ao sentimento de pertencimento da população com o local (Prototipus
de Catèlog de Paisatge, 2006) (www.catpaisatge.net/cat/index.php). Esses recortes significativos retêm
atributos e valores a serem preservados porque perpetuaram ao longo do tempo as ações primitivas
do homem na paisagem natural, no sítio, com determinado tipo de constituição física. No entorno de
alguns desses jardins já foram aplicados instrumentos de proteção municipal, mas em outros, deverão
ser identificados elementos significativos, que reforcem a condição natural e construída daquele jardim
buscando “completar” uma paisagem que permanece viva no espírito do lugar. Nossa experiência
consolida a cada dia a compreensão do jardim como um caminho para a compreensão da complexidade
da paisagem.

25
O impacto do entorno urbano nos jardins
de interesse histórico
Inês El-Jaick Andrade

A
Carta de Florença (1981, Art. 3) caracterizou o jardim de interesse histórico enquanto um
“monumento vivo”, logo composto de um material perecível e renovável. É notório que, ao se
projetar com a vegetação, trabalha-se em “cumplicidade direta com seres vivos que crescem e se
desenvolvem com o correr do tempo, criando e recriando espaços a cada nova estação” (Macedo,1982:17).
Assim, o jardim está essencialmente mudando. Mesmo os elementos mais constantes, como o seu solo (e
subsolo) e hidrografia, também passam por mudanças graduais relacionadas ao ciclo de vida.
O entorno de bens patrimoniais, como os jardins de interesse histórico, são zonas de amortecimento
que podem causar impacto negativo no meio físico, no meio estético, no meio psicológico e no meio climático.
Diante dos crescentes problemas ambientais torna-se importante debater e buscar novas perspectivas para
o planejamento da vegetação urbana nas cidades - o patrimônio verde público urbano - para assegurar a
preservação do patrimônio e a melhoria da qualidade de vida.
Este artigo discute a importância de encarar o entorno de jardins como zonas de amortecimento.
Também identifica como as variantes do ambiente urbano do entorno impactam e as estratégias para
minimizar os seus efeitos negativos sobre os jardins de interesse histórico.

CONSTRUÇÃO DO CONCEITO E DA IMPORTÂNCIA DO ENTORNO – conceito de área envoltória


ou vizinhança foi lentamente assimilado para ambiência ao longo do desenvolvimento da disciplina de
preservação. A importância conferida à área envoltória de bens culturais já pontuaram diversas discussões
de especialistas e artigos de documentos normativos internacionais, desde a Carta de Atenas (1931).
No entanto, foi somente em 2005 que o entorno sob a denominação de buffer zones passa a ser objeto
de registro na inscrição de bens que se propõem a ser patrimônio universal, a partir da nova versão da
Operational Guidelines da UNESCO, bem como a compor a temática central de uma carta de patrimônio
do ICOMOS, intitulada Declaração de Xi-an(2005)1. Cabe destacar, nesta carta, que são considerados
elementos do entorno que influenciam na salvagurada do bem de interessse patrimonial: (1) as rede de
relações e tradições estabelecidas e as associações de valor social e afetivo entre os usuários, o monumento
e o seu entorno; (2) os aspectos físicos (edifícios, materiais e escalas); (3) os aspectos históricos (funções e
organização espacial); e (4) as associações visuais com os monumentos históricos e seu entorno.

26
Apesar desses avanços, atualmente não identifica-se tentativas de guiar as ações ou a
delimitação do entorno de jardins de interesse histórico pelo atual Comitê de Paisagens Culturais
do IFLA/ICOMOS. No Registro de Paisagens Culturais (IFLA/ICOMOS), uma ficha de dados para a
inscrição dos bens de interesse, a questão do relacionamento do bem com o entorno restringe-se a
uma caracterização geral do entorno2, a uma avaliação preliminar do seu estado de conservação.
O restante da ficha de registro é dedicada ao bem objeto de reconhecimento. Cabe ressaltar que
embora a importância conferida ao registro do entorno tenha sido praticamente ignorada, entre
as características a serem observadas para a preservação dos jardins e paisagens, o potencial
arqueológico do sítio é objeto de caracterização.
Já no Brasil, a pouca atenção conferida na definição e delimitação do entorno acompanha os
primeiros tombamentos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artistico Nacional3, pois prevaleceu a
expressão atribuida a Lúcio Costa de que a área de vizinhança seria até onde as vistas alcancem. Os
problemas de delimitação, ordenação e gestão dos entornos de bens protegidos pelo IPHAN já permeavam
estudos internos a partir da segunda metade da década de 1970 - com a Portaria nº 29 de 1974 - e na
década de 1980, tais como o artigo de Carlos Danuzio Lima intitulado “A questão dos bens tombados”
(IPHAN, 2007).
A iniciativa pioneira ocorreu na década de 1980, através da organização do primeiro “Seminário
sobre entorno dos monumentos” realizado em novembro de 1982 e a publicação, como anexo dos anais em
março de 1983, do guia normativo “Roteiro para Análise e Atuação nos Entornos de Bens tombados”. Nesse
mesmo ano, foi realizado o segundo “Seminário sobre entorno dos monumentos”, mas não teve o alcance
esperado. O objetivo dessas reuniões era integrar as ações e métodos das diretorias regionais, de maneira
a instrumentar o instituto, deficiente de infra-estrutura e técnicos. O documento justifica que a competência
do IPHAN restinge-se à proteção do bem cultural, pois considera que a legislação federal, Decreto nº
25/1937, só se compromete com esse dever. Considera que o planejamento urbano é de competência
municipal e, eventualmente, pode o Instituto ter como área de atuação o ordenamento do solo com o
objetivo de proteger o bem patrimonial.
A legislação ambiental e os estudos conduzidos pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (IBAMA)4
têm contribuido para estabelecer normas específicas regulamentando a ocupação e o uso dos recursos do
entorno – ou da zona de amortecimento – com o propósito de minimizar os impactos negativos sobre as
Unidades de Conservação Ambiental (UCA’s). Dentro dessa perspectiva integradora do planejamento da
paisagem, o entorno está diretamente relacionado a salvaguardar a conservação dos recursos naturais
das UCA’s.

ESTUDOS DE IMPACTO DO ENTORNO EM JARDINS DE INTERESSE HISTÓRICO


Parque do Palácio Guanabara – Entre os estudos de entornos produzidos na década de 1980 pelos
técnicos do IPHAN destaca-se a elaboração de portaria para a proteção do Palácio Guanabara e de seu
respectivo parque, na cidade do Rio de Janeiro. O estudo desenvolvido pela técnica da 6ª Diretoria Regional
(6ª DR/SPHAN) a arquiteta Ana Carmem Jara Casco e avaliado pela arquiteta Jurema Arnaut, do Setor de
preservação de conjuntos urbanos e sítios históricos (DTC/SPHAN), em 1984, apresenta critérios para a
proteção da ambientação do monumento histórico5, incluindo do seu jardim de interesse histórico.

27
No estudo apresentado, a abordagem do jardim enquanto bem integrado ao edifício é muito clara,
em especial quando é salientada a “extrema importância” que os jardins do Palácio desempenham na
manutenção da escala e ambiência da edificação, bem como na apreensão de seu entorno. Logo, o jardim
não faz parte do entorno da edificação, mesmo que na prática institucional não receba a mesma atenção
que a reconhecida edificação histórica.
A área da vizinhança do bem tombado é definida no documento pela proximidade de suas vias
de circulação (trechos ou toda a extensão) com o monumento tombado, pela homogeneidade no tipo de
ocupação e uso do solo característico do sítio e pelas áreas de influência visual do monumento a partir de
seus jardins e das suas imediações. A metodologia aplicada segue o “Roteiro para Análise e Atuação nos
Entornos de Bens tombados” de 1983.
Destaca-se no parecer da técnica do DTC a pontuação de aspectos de grande relevância não
observados pela 6ª DR, e objeto de revisão, referentes ao reconhecimento da situação e potencial de
trabalho com a Prefeitura Municipal, bem como com as organizações da população que identifiquem
interesse na área. É assim sinalizada a importância de contribuir com normas em defesa dos bens
tombados, sejam municipais ou federais, a manutenção ou melhoria do grau da qualidade do ambiente
tratado.
No parecer é também considerado a importância de ser primeiro demarcada a área tombada para
que no momento de definição do entorno seja ratificado seu perímetro, pois [...] este procedimento, que
deve ser adotado como item prioritário em todos os estudos de entornos, evitará dúvidas quanto ao objeto
tombado (Jurema Arnaut, parecer de 03 de dezembro de 1984). No entanto, uma portaria de proteção do
Palácio Guanabara nunca foi implementada6.

Parque Zoobotânico do Museu Paraense Emílio Goeldi – A necessária revisão e ampliação na restrição
de uso do entorno, de maneira a assegurar a preservação da ambiência, no que tange à substância de um
monumento vivo, de bem tombado pela esfera federal ocorreu em um jardim de interesse histórico pela
primeira vez em 1994 no tombamento7 do Parque Zoobotânico do Museu Paraense Emílio Goeldi, no Ceará
(SOARES; LOBO, 2008).
Este foi consequência da pressão de movimentos sociais locais que desde 1988 defendiam que os
impactos do crescimento vertical da malha urbana no entorno repercutiam na ambiência dentro e fora do
parque, de maneira a reduzir o período de insolação e alterar os regimes de vento no recinto. Assim, pela
primeira vez no tombamento de um recinto verde o entorno recebeu destaque. Ficou estabelecido que não
poderiam ser feitas construções acima de um ângulo de 22º 30´entre o muro e a calçada lateral do parque
(SOARES; LOBO, 2008).

JARDIM E ÁREA DE ENTORNO: RELACIONAMENTO – Os impactos do entorno podem repercutir


positivamente ou negativamente na funcionalidade, na visualidade e na espacialidade do jardim. São
considerados negativos quando ocorrem a depredação da paisagem. Esta não se resume a perda dos atributos
bio-climáticos no ambiente urbano, mas também à sua descontextualização repercutindo diretamente nas
qualidades de legibilidade e da ambiência das cidades. São evidenciados pela descaracterização dos traços
tipológicos do bem patrimonial, seja na alteração de sua estrutura ou em seus componentes.

28
Não basta identificar os impactos, mas é importante identificar os agentes causadores de
degradação e contaminação. Aliado a isso, deve-se realizar uma avaliação de sua magnitude, pois esta
que indicará se o impacto é muito significativo ou se pode ser desprezado por sua pequena importância. O
que caracteriza o impacto não é qualquer alteração nas propriedades do ambiente, mas as alterações que
provoquem desequibrio das relações constitutivas do ambiente e que excedam a capacidade de absorção
do ambiente.
As causas podem ser derivadas de algumas variantes que sobrecarregam e alteram as qualidades
do ambiente urbano: (1) variantes na qualidade do ambiente biótico: que causam impacto no meio físico
(morfológico) através da impermeabilização excessiva do terreno (solo e subsolo), do gabarito elevado
(sombra projetada), do aumento da temperatura e umidade (clima), da alteração no lençol freatico (água),
do aumento da poluição atmosférica (ar), do aumento da poluição sonora (ruído), da redução de iluminação
(vegetação) e da migração da fauna local; (2) variantes na qualidade paisagística: que causam impacto no
meio estético e sensorial pela ausência da ordenação da paisagem urbana; e (3) variantes na qualidades
sócio-culturais: que causam impacto pela sobrecarga ou subutilização dos equipamentos públicos.

ESTRATÉGIA DE ATUAÇÃO NOS ENTORNO DE JARDINS HISTÓRICOS – Podem ser pontuadas


enquanto principais causas de destruição de jardins de interesse histórico: (1) a ausência de coordenação
do planejamento do desenvolvimento das cidades; (2) as dificuldades na manutenção periodica dos bens
protegidos; e (3) a falta de integração dos jardins de interesse histórico na vida do comunidades que vivem
no entorno imediato.
O entorno imediato construído, em ambientes urbanos, influencia sensivelmente tanto na leitura
histórica do bem como no desempenho climático e desenvolvimento da flora e fauna do recinto urbano.
Uma vez que seu substrato é moldado e composto essencialmente por material vivo, é claramente sensível
às ações desfiguradoras e destruidoras. A depredação não se resume, no entanto, a perda de área ou da
substância do bem, mas também à sua descontextualização - uma vez que a sua relação com o entorno
é ignorada. Assim, o entorno deve garantir a proteção física (ambiência) e a significação (legibilidade) do
monumento.
Considera-se que as diretrizes para a atuação no entorno dos jardins devem incluir: (1) o princípio
do entorno enquanto área de amortecimento e de monitoramento periodico dos impactos destrutivos que
agem sob o monumento; (2) a delimitação preliminar da área envoltória dos bens patrimoniais, através de
poligonais de entorno definidas pelos institutos de preservação que considerem os aspectos da ambiência e
legibilidade de cada monumento; (3) o estudo das silhuetas, das linhas de visão e das distâncias adequadas
entre o monumento e suas imediações, para monitorar e prevenir invasões visuais de espaço e usos
inapropriados em entornos; (4) o incentivo e promoção de pesquisas para a produção de indicadores de
impacto relacionados ao monumento - como intrusão em visões, silhuetas ou espaços abertos, poluição de
ar e poluição acústica; (5) o princípio que a preservação do patrimônio urbano deve ser inserida na tarefa
da gestão da paisagem citadina; e (6) a integração desse patrimônio ao cotidiano com os outros espaços
verdes no seu redor, de maneira a criar um “Sistema de espaço verde urbano integrado”.
A conservação da integridade funcional, visual e espacial do jardim é fundamental para a sua
correta leitura histórica, isto é, do reconhecimento do bem como munido de significação cultural. A

29
identificação, a delimitação e o monitoramento de zonas de amortecimento (o “entorno”), ao seu redor, são
ações essenciais para contribuir na absorção e amenizar o impacto da apropriação.

NOTAS
1
A Declaração de Xi-an (2005) é um documento recente e de grande importância que define as diretrizes da preservação
de ambiente histórico, ou entorno (setting). A declaração é produto da XV Assembléia Geral do ICOMOS, sobre a
temática “Conservação do Entorno Edificado e áreas do patrimônio Cultural” (Monuments and Sites in their Setting:
Conserving Cultural Heritage in Changing Townscapes and Landscapes).
2
Levantamento das condições geográficas e climáticas e o estado de urbanização do sítio.
3
O trabalho de delimitação do entorno compartilhado de dois bens tombados – Igreja e Convento do Carmo e Pátio
de São Pedro - em Recife em 1953, foi pioneiro no que se refere ao desenvolvimento de um estudo preventivo de
regulamentação de vizinhança de bens tombados. Este trabalho, que chegou a formular normas urbanísticas e guia de
estudos de gabaritos “Sugestões para os gabaritos nas quadras adjacentes aos monumentos tombados, na cidade de
Recife” (1953), foi desenvolvido pelo instituto em cooperação com a Prefeitura da cidade de Recife.
4
O Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (IBAMA), enquanto órgão federal, detém a responsabilidade de criar diretrizes
que orientem a execução das atividades de preservação e de uso sustentável dos recursos naturais brasileiros.
5
Antigo Palácio Isabel e atual sede do governo do Estado.
6
Informação confirmada pela arquiteta Jurema Arnaut do DEPAM/IPHAN, em entrevista no dia 27 de agosto de 2008.
7
Processo 1297-T-89, Livro Histórico nº536 e Livro Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico nº101.

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____. A concepção bioclimática dos espaços públicos In: Pinheiro Machado, D; VASCONCELLOS, E. M. (Orgs.) Cidade
e Imaginação. Rio de Janeiro: PROURB/FAU/UFRJ, 1996, p.176-180.

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De los jardines históricos a los paisajes culturales:
la labor de ICOMOS.
Sonia Berjman

H
oy y ahora, pero no aquí sino en el Château Royal de Fontainebleau (Francia), se está llevando a
cabo un homenaje al Comité de Paisajes Culturales ICOMOS-IFLA por sus 40 años de labor. Así
que creo que no hubo mejor coincidencia que ésta para realizar este encuentro y tratar el tema
para el que me convocaron: de los jardines históricos a los paisajes culturales, la labor de ICOMOS.
Me gustaría enfocarlo desde dos perspectivas que se interrelacionan: la conceptual y la fáctica,
entendida ésta como la acción de los organismos internacionales y profesionales. Ambas fueron determinantes
para la evolución de nuestra profesión en las últimas décadas y una y otra se fueron potenciando e influyendo
mutuamente.
Ya en el siglo XVIII se comenzaron a restaurar algunos jardines antiguos. En el siglo XIX -sobre todo
en la segunda mitad- nació la valoración de los jardines históricos con variadas accciones, publicaciones y
estudios. Podemos nombrar:
la conformación en 1853 de la Mount Vernon Ladies’ Association para proteger la residencia de George
Washington, primera ONG preservacionista de los Estados Unidos y que ha sido modelo replicado en
distintas geografías incorporando a la persona común en la protección del patrimonio;
la publicación - en los numerosos tratados de jardines de la época- de una primera parte dedicada a
su historia (sumada a la inclusión por parte de Edouard André de la categoría de jardín histórico en su
propuesta de tipologías de jardines existentes, que llevó a sus seguidores a estudiarlos y posteriormente
a protegerlos);
la fundación en 1895 del National Trust de Inglaterra que al día de hoy lleva inventariadas y protegidas
miles de propiedades, jardines y paisajes.
Luego, en el siglo XX hubo otra vuelta de tuerca con la aparición de los libros sobre los jardines
clásicos, la puesta en valor del parque de Villandry en Francia y otros, la construcción de los jardines de la
Villa Deering en Vizcaya (Florida, USA) cuya influencia llegó hasta Buenos Aires.
Sin embargo, el paso más importante lo veo con la conjunción de disciplinas que se dio luego
del 1900 como la antropología, la geografía, el urbanismo,… y que fructificó ya en la mitad del siglo
cuando se comenzó a hablar del paisaje como concepto holístico, sobre todo a partir de los postulados
de la revista Landscape – primer número aparecido en 1951 y autodefinida como Magazine of human

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geography, con aquel grupo innovador integrado por Kevin Lynch, Malcolm Rivkin, Yi Fu Tuan, Garrett
Eckbo, Edward T. Hall, Gyorgy Kepes y sus propuestas sobre las relaciones entre el hombre y la
naturaleza, la religión y el paisaje, las implicaciones sociales del hábitat, el comportamiento y el diseño
del entorno, la proxémica y la conciencia ecológica.
Luego, el tema del paisaje se volvió masivo y se cuentan por miles los artículos, tratados, libros,
congresos y seminarios dedicados el tema. La globalización también influyó para un acercamiento mucho
más dinámico y profundo entre Occidente y Oriente con sus mutuas influencias.
No fue ajena a este proceso la participación de las nuevas organizaciones profesionales y sus
documentos internacionales, iniciados en 1931 con la famosa Carta de Atenas en la que se jerarquizan las
plantas y las ornamentaciones vegetales adaptadas a ciertos monumentos o grupos de monumentos para
conservar el carácter antiguo.
Es el primer documento internacional que recoge principios y normas generales sobre la restauración
y conservación y es la piedra angular sobre la que reposan las actuales teorías de restauración. Esta carta
reflejaba un interés por parte de los especialistas nacionales, pero además introducía, por primera vez, el
concepto de patrimonio internacional1. Hagamos un poco de historia, aunque bien resumida. En 1948, Sir
Geofrey Jellicoe y René Pechère propusieron la fundación de una institución y nació la IFLA, (International
Federation of Landscape Architects) con el apoyo de 15 países europeos. (…) durante la Asamblea General
de IFLA en Cerdeña en 1968, se fundó un Comité sobre Jardines y Sitios Históricos cuya responsabilidad
fue confiada a René Pechère (…) con la ayuda de una colega alemana, Gerda Gollwitzer, se preparó una
lista de jardines históricos que se creía de todo el mundo. ¡Quedaron sorprendidos al encontrar que eran
apenas 2000, lo que era muy poco comparado con los monumentos históricos!
Comprendieron que debían ampliar sus fuentes de información y crear un equipo que incluyera no
sólo arquitectos paisajistas, sino historiadores, arquitectos, botánicos, arqueólogos. Fue entonces cuando
René Pechère recurrió al Profesor Raymond Lemaire, por entonces Secretario General de ICOMOS, y a su
Presidente Piero Gazzola. Luego de meses de vacilación, incluso de dudas acerca de la verdadera razón
de ser de los Jardines Históricos, fue encargado de comenzar a organizar, con la colaboración logística
de ICOMOS, una conferencia cada dos años, y de crear un comité mixto con IFLA. (…) En 1971, se
realizó la primera sesión del Comité en el Château de Fontainebleau.” Y es precisamente allí adonde están
reunidos nuestros colegas y amigos en estos momentos. Debemos acá rendir tributo a algunas personas
que fueron las que lucharon durante décadas para la constitución de “algo” que hoy es el Comité Científico
Internacional de Paisajes Culturales ICOMOS –IFLA.
René Pechère fue un arquitecto paisajista belga (1908-2002) que realizó unos 900 jardines en
Europa, escribió libros, y dejó una bilblioteca especializada que lleva su nombre y a la que se puede acceder
por internet http://www.bvrp.net. Allí están depositados todos los archivos de la labor de nuestro comité en su
historia. Raymond Lemaire, también belga (1921-1997), fue un historiador de la arquitectura, especialista en
conservación, que fue consultor –entre otras instituciones- de la UNESCO, co-autor de la Carta de Venecia,
profesor universitario, teórico y publicista, co-fundador del ICOMOS. Con ellos colaboraron dos personas que

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aún hoy forman parte activa del Comité y que están en él desde aquellos momentos iniciales: Annie van
Marcke bajo cuya supervisión están los mencionados archivos en la Biblioteca René Pechère y Marie-Jeanne
Geerts, Secretaria del Comité desde su fundación hasta hoy. No hay duda alguna en considerar como alma
mater del Comité a doña Carmen Añon y Feliú, maestra y madre de todos nosotros, quien a los 80 años sigue
guiando el tema de los jardines históricos y paisajes culturales en los organismos internacionales, en la teoría
y en la práctica, en la enseñanza y en la bibliografía, dos de cuyas hijas (Mónica y Ana Luengo) han seguido
sus pasos y hoy son sus herederas más destacadas. Doña Carmen estableció una metodología de estudio y
restauración de los jardines históricos que se ha convertido en modelo.
La UICN (Unión Internacional para la Conservación de la Naturaleza), por su parte, fue fundada
en 1948 como la primera organización medioambiental de alcance internacional y constituye la red más
grande del mundo en el tema con más de 1.000 organizaciones componentes. Su sede es en Glanz, Suiza.
En 1956, durante la Conferencia General de la UNESCO en Nueva Delhi, se formó ICCROM (International
Center for the Conservation and Restauration of Monuments), con sede en Roma.En 1964 en Venecia
se firmó la Carta Internacional de la Restauración conocida como Carta de Venecia y paralelamente se
formó ICOMOS (International Council of Monuments and Sites), con sede en París. Hoy, cuenta con 7.500
asociados en 110 países y 27 Comités científicos, entre ellos, el nuestro de Paisajes Culturales.
Estas tres organizaciones : ICOMOS, ICCROM y UCIN son los únicos miembros consultores de
la UNESCO para la declaración de los sitios patrimoniales. La Convención de París para la protección de
patrimonio mundial cultural y natural (1972) dio base para la organización de la Lista del Patrimonio de la
Humanidad por parte de la UNESCO, que se gestiona en el Centro de Patrimonio de París (WHC) y que fue
ratificada por 187 países: es la acción más conocida y difundida a nivel mundial.
Al día de hoy, la Lista del Patrimonio de la Humanidad contiene 936 casos, divididos en 725
culturales, 183 naturales y 28 mixtos. Entre ellos encontraremos unos 90 sitios declarados como Paisajes
Culturales y/o como Jardines Históricos, que ustedes pueden consultar en un anexo. En este grupo de
casos hay certezas en sus identificaciones pero también confusiones. Muchas veces no hay claridad en si
fueron inscriptos como una u otra categoría. La situación actual es derivada del devenir conceptual y fáctico,
así como por la intervención de varios organismos en su definición. Precisamente, una de las acitividades
más importantes de nuestro Comité es la propuesta de especialistas para evaluar las presentaciones de los
diversos países en esta materia.
Pero nuestro Comité realiza unas cuantas cosas más. De manera general, organiza encuentros
anuales de sus miembros en diferentes países del mundo durante los que se tratan temas específicos
de nuestro quehacer. Así fue que nuestro Comité fue cambiando de nombre con el correr de los años
para adaptarse a las nuevas visiones de los jardines y los paisajes. Mantiene una página web, edita un
Newsletter (a cargo de Carlos Jankilevich de Costa Rica), participa en reuniones de ICOMOS y de otras
oganizaciones internacionales que lo consultan, asesora a gobiernos, denuncia y lucha contra la mala
praxis y defiende el paisaje de todas las maneras posibles. También sus miembros, individualmente, llevan
adelante tareas importantes: cada uno se ocupa –dentro de sus saberes y posibilidades- de organizar y

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dirigir cursos de postgrado de restauración de jardines históricos y paisajes culturales (como Ana Luengo
en España), elaborar y actualizar la doctrina internacional por medio de nuevos documentos o instrumentos
(por ejemplo Eeva Ruoff de Finlandia y la Carta de los Parques Públicos; Mónica Luengo y yo misma con
la Ficha de Inventario), editar libros de investigación, recuperar y restaurar jardines históricos y paisajes
culturales, realizar inventarios nacionales y/o de autor (como Ana Rita Sá Carneiro en Brasil con la obra de
Burle Marx), etc.
¿Cómo fue la evolución de los conceptos? ¿Que es un jardín histórico?4. “ Una composición
arquitectónica y vegetal que, desde el punto de vista de la historia o del arte, presenta un interés público”.
Esta definición fue discutida y analizada por veinte expertos reunidos en el primer Coloquio sobre los
Jardines Históricos en Fontainebleau en 1971.
Pasados 10 años, la Carta de Florencia elaborada el 21 de mayo de 1981 retomó esta definición para
constatar sus fundamentos y la completó: Como tal es considerado como un monumento. Este concepto había
sido sugerido inicialmente durante una reunión de trabajo en Brujas por el Sr. Jacques Reybroeck, para lograr que
los jardines históricos se beneficiaran con las mismas leyes de protección que los monumentos. Él era consciente
de que la noción de “Monumento” sacaba al jardín de su contexto de “Sitio”, y contribuyó entonces a asegurar su
perpetuidad.
La Carta de Florencia fue firmada el 15 de diciembre de 1982 por el ICOMOS para completar la Carta de
Venecia dentro de los conceptos particulares de los jardines. Esto fue una primicia en la materia: el espíritu de la
Carta de Venecia se vio confrontado, en efecto, a un monumento “viviente”, en el cual la preservación determina
reglas precisas. A pesar de haber transcurrido ya 30 años desde su redacción y de varios intentos infructuosos
por actualizarla, la Carta de Florencia sigue siendo el documento guía con alcance mundial para el tratamiento
de los jardines históricos. Es buena oportunidad, entonces, para incluirla en los anexos de este texto para tenerla
siempre a mano.
El 20 de octubre de 2000, en Florencia, se aprobó el Convenio Europeo del Paisaje como una guía
y acción común entre los países de un continente. Consideramos a ésta como la Carta Madre que inspiró
a las restantes que se fueron y se siguen redactando. Este movimiento mundial se da en distintas escalas
jurisdiccionales: continentes, países, regiones, zonas, ciudades.
Junto con Saúl Alcántara Onofre (México), en varias oportunidades hemos tratado de unir a los
países Latinoamericanos para confeccionar una carta común pero no hemos tenido éxito. Sin embargo,
varios han avanzado en tener las suyas, a través de diversas organizaciones: México/ Argentina /Colombia/
Venezuela/ Costa Rica. Como ustedes bien saben, Brasil ha dado un primer paso en 2007 con la Carta de
Bagé y hoy se encuentra trabajando en la redacción de una Carta Nacional.
El Convenio Europeo del Paisaje sostiene que: a) por “paisaje” se entenderá cualquier
parte del territorio tal como la percibe la población, cuyo carácter sea el resultado de la acción y la
interacción de factores naturales y/o humanos; b) por «política en materia de paisajes» se entenderá
la formulación, por parte de las autoridades públicas competentes, de los principios generales,
estrategias y directrices que permitan la adopción de medidas específicas con vistas a la protección,

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gestión y ordenación del paisaje; c) por “objetivo de calidad paisajístíca” se entenderá, para un paisaje
específico, la formulación, por parte de las autoridades públicas competentes, de las aspiraciones
de las poblaciones en lo que concierne a las características paisajísticas de su entorno; d) por
“protección de los paisajes” se entenderán las acciones encaminadas a conservar y mantener los
aspectos significativos o característicos de un paisaje, justificados por su valor patrimonial derivado
de su configuración natural y/o la acción del hombre; e) por “gestión de los paisajes” se entenderán las
acciones encaminadas, desde una perspectiva de desarrollo sostenible, a garantizar el mantenimiento
regular de un paisaje, con el fin de guiar y armonizar las transformaciones inducidas por los procesos
sociales, económicos y medioambientales; f) por “ordenación paisajística” se entenderán las acciones
que presenten un carácter prospectivo particularmente acentuado con vistas a mejorar, restaurar o
crear paisajes.
Actualmente, en el Centro del Patrimonio de París (UNESCO) se está trabajando para la
Convención Internacional del Paisaje, con la dirección de Francesco Bandarin y Mechtild Rossler.
Nuestro Comité participa de esta iniciativa a través de la presencia de su Presidenta, Mónica Luengo
(España). Los documentos internacionales hacen siempre expresa referencia a la necesidad de contar
con inventarios científicos y actualizados de los sitios a preservar. Como ya se dijo, el grupo inicial de
nuestro Comité elaboró una primera lista de 2.000 jardines históricos hace ya … ¡casi medio siglo!
Fue por eso que, en Inglaterra primero y en diversos países luego, se comenzó con la
ímproba tarea de confeccionar UNA ficha de jardines históricos que tuviera validez universal. Fue
Peter Goodchild (Gran Bretaña) quien se abocó a ello y finalmente fue su tarea la que permitió que
se organizaran los primeros inventarios. Tuvimos la suerte de realizar un Seminario especial sobre
este tema en Buenos Aires en el año 1997 y contar con la presencia de Peter. Elaboramos una ficha
de inventario particular para nuestro país pero no logramos que suficiente gente se involucrara para
llenarlas. Todavía tenemos pendiente esto en la Argentina y en muchos otros países.
Acorde al paso del tiempo y a la ampliación de los conceptos, elaboramos una Ficha para
Paisajes Culturales la que fue aprobada en nuestra reunión de Verbania (Italia) de 2006 y que ustedes
pueden encontrar en www.icomos.org/landscapes. Allí decíamos: La pretensión (de elaborar) una
ficha de inventario con carácter universal para los paisajes culturales, es posiblemente una utopía. La
complejidad del tema comienza con el propio término de “paisaje cultural”, (que se define) como una
obra en la que se “combinan el trabajo del hombre y la naturaleza”. Ahí radica el enorme problema de
nuestro trabajo porque ¿cómo inventariar la interacción del hombre y el medio ambiente? ¿Y cómo,
partiendo de esta dificultad, inventariar con una sola ficha el palacio de verano en Beijing, las terrazas
de arroz de Filipinas, los jardines de Versalles, el valle de la Qadisha, el cubano Valle de Viñales, los
patios de la Alhambra, el parque Uluru Kata, Sissinghurst, las minas de cobre en Falun, Suecia, o el
Central Park?, por poner solo algunos ejemplos notables. (…)
En cualquier caso y a pesar de los problemas mencionados, es imprescindible detectar y
registrar los paisajes culturales existentes hoy en día y confeccionar una lista-inventario que actúe

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como memoria y como detonador de actividades. De acuerdo con el antiguo lema griego “nadie
ama lo que no conoce”, el Comité entiende este inventario o identificación como primera fase de
una secuencia encaminada a: descubrir un patrimonio oculto, Promover recursos humanos (red de
informadores, especialistas, profesionales, de acción nacional), establecer organismos competentes
en la materia (creación de redes de centros provinciales, regionales, nacionales e internacionales),
promover tareas múltiples (como la concienciación de la población sobre los valores de los paisajes
culturales, educar en todos los niveles de la enseñanza y desarrollar enseñanzas particularizadas,
establecer lazos con las comunidades económicas nacionales e internacionales, generación de
recursos económicos, turísticos, de empleo... en diferentes áreas, establecer planes de acción,
difusión, protección, establecer programas de restauración y rehabilitación, estudiar y reglamentar
códigos urbanísticos y paisajísticos de acuerdo a la valoración dada a los distintos paisajes culturales
inventariados…. Creo que aquí debo hacer una importante aclaración: Brasil ha sido una excepción a
nivel continental pues la fundación del IPHAN en 1937 dio cominezo a una obra monumental (valga la
palabra) que continúa hasta la actualidad.
¿Qué es un paisaje? En 1992 la Convención del Patrimonio de la Humanidad reconoció que
los paisajes culturales representan las “obras combinadas de la naturaleza y el hombre”. En las Guías
Operacionales para la implementación de la Convención del Patrimonio de la Humanidad (varias
veces actualizadas) los paisajes culturales se clasifican en tres categorías principales que son: 1) el
paisaje claramente diseñado y creado intencionalmente por el hombre. Abarca paisajes de jardines y
parques construidos por razones estéticas que están generalmente (pero no siempre) asociados con
construcciones y conjuntos de monumentos religiosos o de otras clases. Acá ubicamos a nuestros
jardines históricos; 2) el paisaje orgánicamente evolutivo. Se subdivide en dos subcategorías: Un
paisaje cultural relicto (o fósil), Un paisaje vivo; 3) el paisaje cultural asociativo.
Resumiendo, un parque público, un jardín privado, la costa fluvial o marítima, un cementerio
indígena, una excavación arqueológica, un huerto claustral, un atardecer en el campo, un lugar de
trabajo, un niño jugando en la plaza, cualquier escena en la que se desarrolle una actividad humana
… hasta nosotros mismos en el acá y en el ahora … constituye un paisaje cultural, con sus olores,
sus sabores, sus climas, sus sonidos, sus ritmos. Festejemos junto con nuestros colegas reunidos
en Fontainbleau estos 40 años de trabajo provechoso en la preservación de los escenarios “más
humanos” que existen y que son … los paisajes, incluyendo los jardines históricos.

NOTAS
1
Luengo, Mónica. “De la carta de Florencia al Convenio Europeo del Paisaje”, en: VIII Encuentro Internacional de re-
vitalización de Centros Históricos. El paisaje urbano en las ciudades históricas. Centro Cultural de España en Mexico,
2010, pp. 15-35.
2
Annie van Marcke. Presente en la creación. Texto on line en www.icomos.org/landscapes.
3
Carmen Añón y Feliú. “La méthodologie” en: Les jardins historiques. La sauvegarde d’un patrimoine européen. Com-
munautés euorpéenes, Bruxelles, 1997.

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4
De acuerdo a las notas de René Pechère rescatadas por Annie van Marcke.
5
Ver: Jardins et Sites Historiques, publicación del Comité de Jardines Históricos y Sitios ICOMOS-IFLA, Madrid, 1993,
Comité Editorial presidido por Carmen Añón y Feliú.
6
Annie van Marcke, ver nota 2.
7
Entendemos al “inventario”, en un sentido amplio: “Aunque el producto “Inventario” ya constituya per se un paso en la
reafirmación de nuestra memoria social, no constituye un fin en sí mismo sino que es concebido como una herramienta
de intervención en la realidad, como un instrumento de políticas de protección, preservación, revitalización, revalo-
ración, de los bienes comunes a una sociedad para la que se constituyen en hitos fundamentales en la construcción de
su identidad”. BERJMAN. Sonia, “Filosofía, necesidad e implementación de un Inventario de Espacios Verdes Públicos”,
en Seminario de Especialistas. Inventario de Espacios Verdes Públicos, Buenos Aires, 1997.
8
Ver: www.icomos.org/landscapes Ficha de inventario.

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Do jardim histórico a paisagem cultural
Carlos Fernando Delphim

A paisagem compõe-se e pode ser composta em uma infinidade de


universos paralelos e simultâneos, em espaços e tempos passados
e futuros, passíveis de objetos de leitura pela cultura humana. A
Arqueologia é uma das disciplinas que permitem que enigmas do passado
possam ser lidos e decifrados. A arqueologia é um dos instrumentos mais
úteis à leitura da paisagem cultural, por revelar o passado remoto do homem,
co-autor, junto com a natureza da paisagem. Somos ricos em paisagens com
valor arqueológico, valores que apenas a arqueologia pode interpretar.

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A Restauração do Passeio Público
do Rio de Janeiro
Vera Dias

A preservação dos jardins históricos justifica-se de acordo com preceitos


baseados em sua importância histórica e artística, ou seja, em sua sig-
nificação cultural que contribui para o fortalecimento da memória e da
identidade de uma sociedade, bem como na leitura e na qualificação da cidade.
No caso do Passeio Público, o primeiro espaço público nacional, com obras
de arte do final de século XVIII e um dos principais jardins históricos do Brasil,
exigia no ano de 2000 uma restauração completa do espaço. Previamente estu-
dada e analisada as questões que envolviam a sua recuperação tiveram em
2004, contudo, durante a obra, novas ações devido as interatividades. A partir de
então, a conservação deveria ser a maior preocupação devido aos danos causa-
dos pela ação do tempo e da utilização do bem patrimonial que necessitariam
ser amenizados através de medidas preventivas, contudo o entendimento do
conceito de “monumento vivo” ainda não é facilmente assimilado representando
um dos principais desafios para a sua manutenção.

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Jardim da Luz:
de horto botânico a museu a céu aberto.
Carlos Dias

N ossa contribuição aos debates desse 2º Simpósio de Arqueologia na Paisagem – um olhar sobre
os jardins históricos – volta-se para o estudo da história do Jardim da Luz, de seu restauro e das
concepções e conceitos que orientaram a intervenção realizada entre 1999 e 2000. A experiência
foi registrada em livro lançado no princípio de 2011: Jardim da Luz, um museu a céu aberto, que tem a
coautoria do arquiteto Ricardo Ohtake.
O Jardim da Luz foi o primeiro horto botânico criado em São Paulo, em 1800. Vinte e cinco
anos depois foi transformado no primeiro passeio público, evento que marcou a chegada dos jardins
no espaço urbano. Logo se transformou no principal local de lazer da capital, condição que manteve
por mais de um século. No início do século XX, sua paisagem foi transformada em cartão postal que
identificava a cidade de São Paulo.
Sua decadência começou na década de 1930, quando deixou de ser um referencial de lazer
e cultura para toda a cidade, ganhou características de parque de periferia e caiu no esquecimento
das autoridades. Perdeu dois trechos importantes, até ser tombado pelo Conselho de Defesa do
Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico – Condephaat, em 1976 e pelo Conselho
Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo –
Conpresp, em 1991.
O reconhecimento oficial de sua importância histórica não foi suficiente para que fosse restaurado
e preservado. No final da década de 1990, todas as suas edificações estavam à beira da ruína e seus
jardins ganhavam contornos de bosque sombreado, comprometendo seu paisagismo eclético.
No plano social, o Jardim da Luz transformara-se em um enorme prostíbulo a céu aberto, ponto de
tráfico e palco para o consumo público de drogas. Era uma área violenta com enorme lista de ocorrências,
o que se refletia no seu esvaziamento como área de lazer pública. Na época o jardim recebia pouco mais
de mil pessoas por dia.
A intervenção de 1999/2000 foi estrutural e sistemática, todos os edifícios foram objeto de restauro,
o complexo das águas – com cascata, fontes, corredeiras, lagos e um sistema de irrigação –, os canteiros, a

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vegetação e o paisagismo. O trabalho ainda legou diversos estudos e uma exposição sobre a história,
a arquitetura, a flora e a fauna do jardim.
Porém, não basta tombar e restaurar, é preciso enfrentar outra questão fundamental: como
preservar o patrimônio histórico restaurado?
Durante os trabalhos foram lembrados casos como o da Fábrica de Ferro de Ipanema,
no município de Votorantim-SP que, alguns anos após passar por um custoso restauro, voltou a
apresentar condições precárias que reclamavam grandes obras. Em contraposição, eram destacadas
experiências de restauro bem sucedidas que apontavam para a necessidade de redefinir o uso do
espaço, como o que se verificou em bairros inteiros de Nova York e Paris. A Pinacoteca de São Paulo,
situada dentro do Jardim da Luz era outro exemplo, além de exibir o seu acervo formado, sobretudo
por obras de autores paulistas, passou a realizar exposições de grandes artistas internacionais e se
tornou um referencial cultural na cidade.
Os debates resultaram num programa voltado à sustentabilidade do Jardim após o restauro:
foi estabelecido um novo padrão de manejo para que, o ano todo, ele fosse mantido como um
referencial do paisagismo barroco e paysager que se insinua por lá. Foi introduzido um novo horário
e o fechamento às segundas, como é típico nos espaços culturais, com a vantagem que a medida
contribuía para diminuir o estresse dos animais. Foram instaladas seis câmeras de monitoramento,
sendo que uma delas enviava imagens ao vivo pela internet e foram realizadas exposições, shows no
coreto e criada uma equipe de monitores e guias culturais.
Ainda estava prevista a introdução de uma programação permanente, com atividades para
crianças durante a semana e shows aos finais de semana e a organização de um repositório de
documentos e iconografia do Jardim da Luz. Discutia-se a criação de uma estrutura administrativa
complementar, dedicada às atividades culturais do jardim e ao museu a céu aberto. Cogitava-se,
também, a instalação de um café na Casa de Chá, uma sorveteria no Quiosque da Sorveteria, a
locação eventual do espaço para eventos, a reativação do viveiro e a venda de suvenires do Jardim,
como forma de arrecadar recursos financeiros a serem aplicados na sua manutenção.
No entanto, o final dos trabalhos de restauro coincidiu com a chegada de nova administração
e o programa de sustentabilidade não se completou. Nesses doze anos que se seguiram, a estrutura
administrativa foi mantida com formato semelhante ao que existia antes do restauro, a mesma dos
demais parques de São Paulo. Naturalmente, sem a estrutura necessária – em que pese os esforços
dos administradores do Jardim e dos órgãos de preservação –, os padrões de manutenção e gestão
não alcançaram os níveis que apresentam os jardins históricos que são mantidos como tais.
Hoje já existem diversos indícios de degradação nas edificações e nos jardins, o monitoramento
é precário, as atividades culturais são inconstantes e as placas remanescentes da exposição de
história, arquitetura, flora e fauna estão em frangalhos. Mais sintomático é a volta de uma grade
entre o café da Pinacoteca e o Jardim da Luz, separando os usuários do jardim dos freqüentadores
do museu.

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No jardim romântico de
Mariano Procópio:
trajetórias e transformações do sítio histórico.
Cristiane Magalhães

O
s acordes da suíte Amanhecer, de Edvard Grieg, oferecem ao espírito um clima apropriado
para adentrar o ambiente de um jardim romântico, mesmo que seja para percorrê-lo apenas por
palavras. Enquanto a música se desenvolve, proponho que visualizemos um alvorecer qualquer
do ano de 1861, neste cenário podemos imaginar o empreendedor mineiro Mariano Procópio Ferreira
Lage ajuntando cuidadosamente algumas pedras recolhidas no trajeto da Estrada União e Indústria, que
ligava Petrópolis a Juiz de Fora. Com as pedras, o Sr. Lage mandou construir uma gruta, da qual descia
uma cascata. A gruta, denominada posteriormente de “Gruta das Princesas”, ficava no meio de uma aléia
formada por árvores típicas das florestas brasileiras, criando um recanto pitoresco.
No topo da colina erguia-se uma edificação imponente – chamada de castelo – projetada para abrigar
confortavelmente Dom Pedro II e sua família durante a inauguração da Estrada União e Indústria, em 23 de
junho de 1861. No sopé do morro um lago com cinco ilhas e seis pontes de madeira e, no seu entorno, subindo
a encosta, variadas plantas ornamentais, caminhos cobertos de arbustos e árvores frutíferas proporcionavam
ao lugar vista e ambiente aprazíveis e convidativos ao repouso e ao deleite. Um coreto, com assentos à
sua volta, compunha, ainda, o cenário do jardim romântico de Mariano Procópio, condizente com o gosto
paisagístico da época.
As primeiras imagens da Quinta do comendador Mariano Procópio foram feitas por Revert
Henrique Klumb, que acompanhava a comitiva imperial. Além das imagens, relatos da época nos ajudam a
compreender a paisagem criada em Juiz de Fora naquele começo de década de 1860.
A apresentação proposta trata do belo jardim romântico que pode ser apreciado no entorno do
Museu Mariano Procópio, na cidade de Juiz de Fora – MG. O sítio histórico será analisado em três tempos
distintos, a saber:1) O início. A edificação da Quinta do Comendador Lage, compreendendo o castelo, os
jardins com o lago, gruta, coreto e o pomar, projetada para recepcionar a família Imperial, em 1861; 2) A
seleção. O Tombamento da Coleção do Museu Mariano Procópio, pela SPHAN, em 1939, e o ‘esquecimento’
dos jardins no seu entorno. A Coleção tombada foi organizada pelo filho do empreendedor, Alfredo Ferreira
Lage, e transformada no primeiro Museu de Minas Gerais, em 1922; 3) A revitalização. Entre 2002 e 2008, o

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parque e os jardins do Museu Mariano Procópio passaram por processo de revitalização, sob a consultoria
de Carlos Fernando de Moura Delphim, para restituir-lhe as feições originais, inserindo-o nas diretrizes de
restauração de um jardim histórico.
A proposta da discussão assim encaminhada está de acordo com os parâmetros sugeridos pelo
professor Ulpiano Bezerra de Meneses para pensar as historicidades da paisagem entendendo-a como fato
cultural, ou seja, inserida numa problemática historiográfica. Para o professor, a paisagem tem história, ela
pode ser objeto de conhecimento histórico e esta história pode ser narrada (MENESES, 2002:36). É este o
ponto de partida para pensar o jardim histórico do Museu Mariano Procópio.
As primeiras informações a respeito da Villa Ferreira Lage ou Quinta do Comendador Lage datam
de junho de 1861, por ocasião da inauguração da Estrada União e Indústria. A estadia da família Imperial
naquelas paragens, por cinco dias, transformou o evento num fato memorável, sobre o qual diversas narrativas
foram publicadas.
Para recepcionar Dom Pedro II e sua família, Mariano Procópio construiu, em conjunto, a
edificação no alto da colina e os jardins no seu entorno, conforme descrito no início do texto. O estilo
paisagista romântico para recintos como jardins e praças era predominante na época na Capital do
Império, como pode ser observado em fontes como o Alamanak Laemmert, do Rio de Janeiro. Na
publicação para o ano de 1862, o Almanak noticiou a contratação do botânico francês Augusto Glaziou
que iniciou reformas significativas no Passeio Público daquela Capital, em dezembro de 1860. De acordo
com a publicação:
“Essa planta representa um jardim cognominado inglês ou paisagista,
gênero atualmente adotado nos países de mais adiantada civilização,
por sua natural e graciosa singeleza, pois nele se esconde a arte sob
as mais belas formas da natureza, que é o seu mestre e modelo
depois de tirar o maior partido possível do terreno em que opera, e
dos pitorescos sítios circunvizinhos, dos quais que se apossa, pelo
efeito das perspectivas, com o fim de alargar os horizontes de seus
términos” (ALMANAK 1862, p. 313).

É notório que Mariano Procópio Ferreira Lage era homem de gosto refinado que havia realizado
viagens para a Europa e Estados Unidos, portanto, conhecedor da arte e de espaços românticos como
jardins e parques públicos nas localidades que percorreu. Na então Capital, a partir da reforma do Passeio
Público, vários outros espaços ajardinados foram projetados com inspiração no jardim cognominado inglês
ou paisagista, fosse ele desenhado ou não por Augusto Glaziou.
Propagandas da época apregoavam a venda de repuxos, variedades de plantas ornamentais com
esplendida vegetação do pays e, mais, projeção de jardins e parques com “labyrintos com cascatas e rochedos
ao gosto mais moderno” (Frederico Groth, ALMANAK, 1875, p. 906). Era a aura romântica das músicas
de Grieg, Tchaikovsky e Liszt, a mesma presente nas pinturas de paisagem e nos cenários descritos nos
romances de José de Alencar que impregnava o espírito da sociedade, principalmente a carioca, na segunda
metade do século XIX.

44
Na década de 1930, a aura romântica não inspiraria, de igual modo, os modernistas que organizaram
o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - SPHAN. Naquele momento, foi escolhido proteger
o Barroco como marca da identidade nacional brasileira. Desta forma, quando foi tombada a Coleção do
Museu Mariano Procópio, em 1939, nem mesmo a edificação que abrigava a coleção, tampouco o belo
jardim do seu entorno, foram protegidos pelo Decreto Lei 25/1937.
Ao longo do século XX, gradativamente, o espírito romântico foi sufocado por práticas danosas
àquele tipo de ambiente e de bem cultural. O Parque, juntamente com o jardim, servia apenas como
moldura ao bem principal, que era a Coleção do Museu guardada na edificação, e recebia dos órgãos
de preservação nacional e estadual o mesmo tratamento de outros do mesmo gênero no país, ou seja, o
esquecimento e abandono.
Em janeiro de 2002, contudo, o Município de Juiz de Fora resolveu reverter este processo e
contratou a consultoria do Arquiteto da Paisagem Carlos Fernando de Moura Delphim para recuperar,
restaurar e revitalizar os jardins do Museu, tendo em vista a preservação de sua integridade e de sua
autenticidade histórica. Os doze Relatórios redigidos pelo arquiteto-paisagista são primorosos e dão pistas
do estado de conservação do Parque e jardim na ocasião e de como o processo de degradação deveria ser
revertido para que o sítio se tornasse um jardim histórico romântico, agradável de ser apreciado pela vista
e alma dos freqüentadores.
No dizer de Carlos Fernando, “não se restaura apenas o jardim, mas ainda todo o espírito de uma
época que permite que ele possa ser melhor compreendido” (Relatório de número 4, 2002:2). O texto a ser
apresentado trata destas transformações no sítio histórico para compreensão da sua trajetória.

Referências Bibliográficas
AGASSIZ, Luiz; AGASSIZ, Elizabeth Cary. Viagem ao Brasil: 1865-1866. Coleção O Brasil Visto por Estrangeiros.
Senado: Brasília, 2000.
ALMANAK Laemmert Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (1844-1889). Disponível em: <http://obj-
digital.bn.br/acervo_digital/div_periodicos/almanak/almanak.htm>. Acesso em outubro de 2011.
DELPHIM, Carlos Fernando de Moura. Doze Relatórios emitidos em 2002 por ocasião da realização do Contrato de
Prestação de Serviços de Consultoria Nº 03.2001.270.
GENOVEZ, Patrícia Falco. As Malhas do Poder: uma análise da elite de Juiz de Fora na segunda metade do século XIX.
CLIOEDEL - Clio Edições Eletrônicas: Juiz de Fora, 2002.
MENESES, Ulpiano Toledo Bezerra. A paisagem como fato cultural. In: YÁZIGI, Eduardo (org.). Turismo e paisagem.
São Paulo: Contexto, 2002. p. 29-64.
Sítio eletrônico da Biblioteca Nacional. Fotografias feitas por Revert Henrique Klumb durante visita da família Imperial à
Quinta do Comendador Lage. Acesso em outubro de 2011.
VIAGEM DE PETRÓPOLIS A JUIZ DE FORA por occasião de inaugurar-se a estrada da “União & Indústria”. Juiz de
Fora : Tipografia Sul, 1919.

45
Jardins históricos modernistas na
cidade de São Paulo: entre ateoria e as
intervenções no patrimônio cultural.
Maria José Marcondes

A
questão do restauro dos jardins do modernismo, com alto valor patrimonial, tem emergido nas
práticas e reflexões teóricas sobre conservação e restauro, face à recente preocupação dos
aspectos conceituais que envolvem a preservação de bens do patrimônio cultural moderno. Um
exemplo paradigmático de restauro de bens culturais do modernismo, no Brasil, refere-se ao jardim de
Mina Klabin na casa modernista projetada por Gregori Warchavchik (1896 – 1972), localizada na Rua
Santa Cruz, na cidade de São Paulo, edificação concebida em 1927, construída em 1928 e reformada
em 1934. Este projeto é contemporâneo à obra modernista de Juan O’gorman (1928) construída
para Diogo Riviera e Frida Kahlo, na cidade do México, onde encontramos, também, a presença de
vegetações similares às do projeto de Mina Klabin, como as da família botânica cactaceae.
O Jardim de Mina Klabin supracitado constitui-se em um projeto emblemático para a discussão
sobre restauro de Jardins Históricos, na perspectiva do valor documental desta categoria de obras no
âmbito do patrimônio cultural. Cabe esclarecer que se trata de obra inaugural do jardim modernista no
Brasil, com a utilização da planta da família botânica cactaceae, como que tomadas de empréstimo
dos quadros de Tarsila do Amaral. Entendemos aqui que o marco inaugural refere-se à utilização de
plantas tropicais, contrapondo-se aos jardins do ecletismo vigentes.
Assim, como registro de um diálogo feito de re-interpretações e adaptações entre os centros
de produção latino-americanos, decorrentes da circulação de ideias no continente latino-americano,
na década de trinta do século XX, conforme destacamos com o registro do Jardim no projeto de
residência modernista de Juan O’Gorman, projetada em 1928, na cidade do México.
A questão do restauro dos jardins históricos como valor documental adquire importância ímpar
para a transmissão às gerações futuras dos processos criativos ensejados na obra que será analisada
no texto em tela, nas quais temos a atualização da linguagem brasileira com o mundo contemporâneo,
ou seja, o universalismo de expressão e o nacionalismo que emerge como expressão dos valores da
cultura brasileira, conforme a bibliografia sobre o tema do modernismo nas letras e artes atesta. Este
diálogo incluiu a arquitetura e os jardins, os quais tiveram como características o internacionalismo

46
e nacionalismo desde a segunda década do século XX, constituindo – se o modernismo brasileiro em
“interessante intermediação entre os dois pólos do modernismo latino – americano representados pelo
México e Argentina no panorama das artes dos anos 20 em nosso continente”, como afirma Amaral
(AMARAL, 1998).
De acordo com Sevcenko os movimentos artísticos da São Paulo, dos anos 20, foram os
resultados da inédita experiência representada pelas novas tecnologias metropolitanas, exigindo respostas
culturais que deveriam “reorganizar os sistemas simbólicos e perceptivos das coletividades, em função das
demandas do ritmo, da escala e da intensidade da vida metropolitana moderna” (SEVCENKO, 1992).
Para discutir o tema do Restauro dos Jardins Modernistas remetemos às questões referentes
à autenticidade e originalidade que permeiam o debate atual no campo da preservação do patrimônio
cultural como imperativas nos trabalhos de restauro. Neste texto elaboramos uma reflexão a partir da
obra de Cesare Brandi e Roberto Pane, que foram os teóricos do chamado “restauro crítico”, os quais
centraram suas críticas ao excesso de valor conferido aos argumentos históricos no desenvolvimento das
teorias sobre “restauro moderno” ou do “restauro científico”, defendendo que nos casos de conflito entre os
aspectos estéticos e históricos prevaleciam absolutamente os critérios estéticos.
A elaboração do presente texto “Jardins Históricos Modernistas na cidade de São Paulo” foi
precedida de uma releitura das Recomendações da Carta de Florença elaborada em 1981, pelo Conselho
Internacional de Monumentos e Sítios - ICOMOS (IPHAN, 2000), na qual é considerado que a restauração
ou reconstituição dos jardins históricos deve refletir as várias épocas, respeitando a evolução do jardim.
Em uma análise anterior consideramos que esta recomendação ao ser aplicada aos jardins do modernismo
merecia ser examinada à luz das interpretações das obras modernistas, enquanto, documento de uma
determinada época ( MARCONDES, 2009).
A releitura da Carta de Florença, documento redigido com forte influencia dos conceitos de Cesare
Brandi, o qual especificou as duas instâncias que a obra de arte possui: a estética que correspondente a
artisticidade pela qual uma obra é uma obra de arte; e a histórica relacionada a uma produção humana de
um tempo e de um lugar (BRANDI 2004) embasou a atual postura. Para Brandi a definição de restauração
é concebida como o momento metodológico do reconhecimento da obra de arte e que a restauração deve
visar o restabelecimento da unidade potencial da obra de arte (BRANDI 2004).
No citado artigo “Modernismo e Preservação: jardins históricos e valor documental” (MARCONDES,
2009) considerei que a recomendação da Carta de Florença, elaborada em 1981, pelo Conselho
Internacional de Monumentos e Sítios - ICOMOS (IPHAN, 2000), na qual se recomenda que a restauração
ou reconstituição dos jardins históricos deve refletir as várias épocas, respeitando-se a evolução do jardim,
ao ser aplicada aos jardins do modernismo, não lograria o registro da obra enquanto documento de uma
determinado momento histórico da técnica ou do fazer artístico.
A restauração optando por fazer o jardim retornar a sua forma original (reconstituição integral),
seguindo a reflexão exposta no citado artigo, se legitimava dado o valor documental e paradigmático de
alguns jardins para a compreensão dos movimentos de vanguarda do entre - guerras, ou no caso brasileiro,

47
para a compreensão das especificidades do jardim modernista, desde que as fontes documentais fossem
suficientes.
No citado texto considerei que a proposta – retorno à configuração original do jardim junto à
residência – remetia, parcialmente, aos preceitos da Carta de Florença, elaborada pelo Comitê Internacional
de Jardins Históricos do ICOMOS / IFLA objetivando a proteção dos jardins históricos. Neste documento
é recomendado que “a intervenção de restauração deve respeitar a evolução do respectivo jardim. Em
princípio, ela não deveria privilegiar uma época à custa de outra, salvo se a degradação e o definhamento
de certas partes puderem, excepcionalmente, dar ensejo a uma reconstituição fundada sobre os vestígios
ou sobre uma documentação irrecusável (...)” (apud IPHAN, 2000).
A mesma postura é preconizada na Carta de Restauro Italiana de 1972 que recomenda a proibição
de “remoções ou demolições que apaguem a trajetória da obra através do tempo, a menos que se trate de
alterações limitadas que debilitem ou alterem os valores históricos da obra, ou de aditamentos de estilo que
a falsifiquem” (apud IPHAN, 2000).
Em reflexão mais aprofundada do tema concluí que a teoria do Restauro Crítico ao propor que
toda operação e intervenção na obra estará subordinada ao propósito de reintegrar e conservar o valor
expressivo da obra, porque a intervenção deve lograr a liberação de sua verdadeira forma, como propõe
Cesare Brandi, nos fornece os instrumentos fundamentais para o caso do Jardim da Casa Modernista de
Mina Klabin. Trata-se de uma obra onde os valores históricos devem prevalecer como preconizados por
Brandi em casos específicos.

Referências Bibliográficas
AMARAL, Araci A. Artes Plásticas na Semana de 22. São Paulo: Editora 34, 1998.
BRANDI, C. Il restauro: Teoria e Pratica. Roma: Editori Riuniti, 1994.
_______. (2004) Teoria da Restauração. São Paulo. Ateliê Editorial, 2004.
CURY, I ( org.) Cartas Patrimoniais . Edições do Patrimônio. Brasília: IPHAN, 2000.
MARCONDES, M J A. Restauro da Paisagem: discutindo conceitos e métodos. Anais do VII ENEPEA. Encontro Nacio-
nal de Ensino de Paisagismo em Escolas de Arquitetura. Belo Horizonte: EAU/UFMG, 2004.
Honda, M.; MARCONDES, M J A. Restauro da Paisagem no Brasil: o Jardim da Casa Modernista. Relatório de Iniciação
Científica – Programa PBIC / CNPq. Campinas, Ed. UNICAMP, 2005.
SEVCENKO, Nicolau. Orfeu extático na metrópole. São Paulo, sociedade e cultura nos nos frementes anos 20. São
Paulo: Companhia das Letras, 1992.
WARCHAVCHIK, G. São Paulo e a Arquitectura Nova”, Revista Ilustração Brasileira, (São Paulo), Ano X, número 109,
1929.

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C onferencistas e M ediadores

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Ana Cristina de Sousa – Possui graduação em Arqueologia pela Universidade Estácio de
Sá, mestrado em Arqueologia pela Universidade de São Paulo e doutorado em Ciências Sociais
pela Universidade Federal da Bahia. Atualmente é docente do Instituto Federal da Bahia,
onde também atua na coordenação da Licenciatura Intercultural Indígena, e colaboradora da
Universidade Federal da Bahia. Contato: ana_csousa@hotmail.com

Antonio Ferreira Colchete Filho – Arquiteto e Urbanista (UFRJ, 1992), mestre em


Urbanismo (UFRJ, 1997), doutor em Ciências Sociais (UERJ, 2003) e pós-doutor em Arquitetura
pela Universidade Técnica de Lisboa, Portugal (UTL, 2005). Professor associado da graduação
em Arquitetura e Urbanismo e do Programa de Pós-graduação em Ambiente Construído da
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Contato: arqfilho@globo.com

Ana maria daou – Graduação em Geografia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro (1979), mestrado em Antropologia Social (1989) e doutorado (1998) em Antropologia
pelo Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora Associada do
Departamento do Departamento de Geografia e do Programa de Pós graduação em Geografia
- IGEO/CCMN/ Universidade Federal do Rio deJaneiro. Areas de atuação: Antropologia e
Geografia Humana, com ênfase em identidade e representações, efeitos sociais de grandes
projetos, belle époque amazônica, sobre a relação natureza/sociedade e a discussão de
imagem e antropologia.

ANA PESSOA – Pesquisadora da Fundação Casa de Rui Barbosa, onde coordena a linha de
pesquisa Museu-casa: memória, espaço e representações, com graduação em Arquiteta pela
FAU-UFRJ (1979), e doutorado em Comunicação pela ECO-UFRJ (2000). Servidora publica
federal, com atuação em diversas instituições culturais, ela dirige, desde 2003, o Centro de
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Memória e Informação da FCRB . Tem pesquisas e trabalhos publicados nas áreas de cinema
brasileiro, correspondência, memória social e preservação cultural, dos quais se destacam
a autoria dos livros Carmen Santos e o cinema dos anos 20. (Rio de Janeiro: Aeroplano
Editora, 2002) e Cartas do sobrado (Rio de Janeiro: Edições Casa de Rui Barbosa, 2010), e
a organização da edição II Encontro Luso-Brasileiro de Museus Casas: Jardins Privados do
Século XIX, no prelo. Contato: ana-pessoa@uol.com.br

Ana Rita Sá Carneiro – Professora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo,


Coordenadora do Laboratório da Paisagem da UFPE. Membro do Comitê Internacional de
Paisagens Culturais ICOMOS/IFLA e do Centro de Estudos Avançados da Conservação
Integrada – CECI. Coordenadora do grupo de pesquisa Jardins de Burle Marx/CNPq. Autora de
livros sobre jardins, parques e paisagem. Contato: anaritacarneiro@hotmail.com

Carlos Dias – Possui doutorado pela Faculdade de História da FFLCH-USP (2002).


Atualmente é Diretor do Acervo Histórico da Assembléia Legislativa de São Paulo e Professor
da Faculdade de Campinas. Contato: carlosaudias@gmail.com

Carlos Fernando de Moura Delphim – Integrante da Comissão Nacional de Sítios


Geológicos e Paleobiológicos desde 2000. Representante-Titular do IPHAN na Comissão
Nacional de Recursos Hídricos. Membro da Representação do Brasil na Comissão de Patrimônio
Mundial da Unesco. Coordenador-Geral de Patrimônio Natural do Departamento de Patrimônio
Material e Fiscalização do IPHAN. Conselheiro- Suplente - Representante do Ministério da
Cultura no Conselho Nacional de Meio Ambiente. Contato: cfmd@oi.com.br

CARLOS TERRA - Graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Católica de Pelotas


(1986), mestre em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1993) e doutor
em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2004). Atualmente é professor
adjunto da Escola de Belas Artes/Universidade Federal do Rio de Janeiro, atuando como seu
Diretor. É avaliador institucional e de cursos superiores do INEP/MEC. Tem experiência na área
de Artes, com ênfase em Paisagismo, atuando principalmente nas seguintes áreas: História da
Arte e História dos Jardins. Contato: terracg@gmail.com

Cristiane Magalhães – Historiadora. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em


História do IFCH/UNICAMP, linha de pesquisa Política, Memória e Cidade. Mestre em História
Social da Cultura pela Universidade Federal de Minas Gerais FAFICH/UFMG (2006). É
pesquisadora e consultora na área de Patrimônio Cultural com experiência em elaboração de
Inventários e Dossiês de Tombamento. Contato: cristmag@gmail.com
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Inês El-Jack Andrade – Possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela UFRJ (2001),
mestrado em Arquitetura pela UFRJ (2004) e doutorado em Arquitetura e Urbanismo pela USP
(2009). Atualmente é arquiteta do Departamento de Patrimônio Histórico da Fundação Oswaldo
Cruz, desenvolvendo pesquisas e estudos no Núcleo de Estudos de Urbanismo e Arquitetura
em Saúde. Contato: ijaick@coc.fiocruz.br

JEANNE TRINDADE – Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Santa Úrsula


(1985), especialização em Planejamento Ambiental e Paisagístico pela SNA / CEAMADE (1995)
e mestrado em Arquitetura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2000). Atualmente
cursa o doutorado em Urbanismo no PROURB da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
É arquiteta da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro e professora da Universidade Estácio
de Sá. Atua na área de Arquitetura e Urbanismo com interesse, principalmente, nos seguintes
temas: paisagismo, urbanismo, preservação de bens culturais e design de interiores.Contato:
jtrindade@gmail.com

Marcelo Fagundes – Bacharel e licenciado em História Universidade de São Paulo (1998),


mestre (2004) e doutor (2007) em Arqueologia pelo Programa de Pós Graduação do Museu de
Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (PPG/MAE/USP). Professor adjunto da
Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
(UFVJM). Contato: marcelofagundes.arqueologia@gmail.com

Maria José de Azevedo Marcondes – Arquiteta, Doutora em Arquitetura e Urbanismo


pela FAUUSP, Professora do Instituto de Artes da UNICAMP, nos cursos de Arquitetura e
Urbanismo, Artes Visuais e no Programa de Pós Graduação em Artes Visuais , autora de livro e
diversos artigos sobre Paisagens Culturais e Conservação e Restauro do Patrimônio Cultural.
Contato: maria.marcondes@pq.cnpq.br

Sonia Berjman – Licenciada em História das Artes (Universidad de Buenos Aires), Doutora
em Filosofia e Letras (Universidad de Buenos Aires), Doutora em História da Arte (Université
de Paris I Pathéon- Sorbonne). Membro de honra e vice presidenta do Comitê Científico
Internacional “Paisagens Culturais” ICOMOS/IFLA. Contato: sonia.berjman@fibertel.com.ar

Vera Dias – Arquiteta e Urbanista, Professora das cadeiras de Preservação de Bens


Culturais da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Silva e Souza e Gerente de Monumentos
e Chafarizes da Secretaria Municipal de Conservação e Serviços Públicos da Prefeitura da
Cidade do Rio de Janeiro; membro Honoris Causa da Academia Brasileira de Belas Artes.
Contato: veradias2009@gmail.com
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Linhas de Pesquisa do Grupo de Pesquisa História do Paisagismo (GPHP-
EBA/UFRJ)
Grupo de Pesquisa História do Paisagismo (GPHP-EBA/UFRJ)

Linhas de Pesquisas
Fundamentos e Teorias do Paisagismo
Pretende estudar as ideologias centradas no campo da paisagem, bem como,
as mentalidades que estruturam a prática do paisagismo em diferentes períodos
históricos. Serão analisadas as produções teóricas e conceituais relacionadas ao
estudo da paisagem, levando-se em consideração o caráter interdisciplinar inerente
à área do paisagismo.

História dos Jardins:


Almeja estudar os jardins como uma expressão artística, bem como os seus criadores
nos diferentes períodos da evolução do homem. Procura, ainda, analisar sua produção
artística em decorrência de fatores delineados pelos diversos aspectos (sociais,
culturais, filosóficos, políticos, religiosos, econômicos etc.), no qual o espaço focado é
um reflexo da sociedade estudada.

Preservação de Jardins Históricos


Objetiva identificar e relacionar os principais jardins históricos brasileiros, suas
condições de uso e instrumentos de proteção; intercambiar e disseminar as
informações relacionadas às operações necessárias à defesa e salvaguarda desses
jardins, tais como: conservação, restauração, renovação, manutenção e revitalização;
discutir e propor metodologias de preservação adequadas ao nosso país; informar e
divulgar sobre a importância dos jardins históricos como elementos formadores da
memória das sociedades.

Prof. Dr. Carlos Terra (EBA/UFRJ)


Coordenador
Pesquisadores Pesquisadores Associados
Profa. Me. Flavia Braga Profa. Me. Ana Cristina de Lima (EBA/UFRJ)
(PROURB-FAU/UFRJ) Profa. Dra. Ana Maria Daou (IGEO/UFRJ)
Profa. Me. Jeanne Trindade Dra. Ana Pessoa (FCRB)
(Universidade Estácio de Sá/PCRJ) Prof. Me. Francisco Lima (GPHP - EBA/UFRJ)
Profa. Me. Lia Gianelli Dra. Jackeline de Macedo (GPHP - EBA/UFRJ)
(Universidade Estácio de Sá) Profa. Me. Jane Santucci (EBA/UFRJ)
Prof. Me. Rubens de Andrade Prof. Me. João Batista (GPHP - EBA/UFRJ)
(EBA/UFRJ) Prof. Dr. Jorge B.de Azevedo (EAU-UFF)
Profa. Me. Michelle Teixeira (GPHP - EBA/UFRJ)

www.eba.ufrj.br/historiadopaisagismo
historiadopaisagismo@gmail.com

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Realização/Organização

Apoio

Parceiros

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