Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Revista
Arqueologia Pública
Publicação Anual
no 3
2008
Editores
Pedro Paulo Abreu Funari (NEE/UNICAMP)
Erika Marion Robrahn-González (NEE/UNICAMP)
Comissão Editorial
Lourdes Dominguez (Oficina del Historiador, Havana, Cuba)
Andrés Zarankin (UFMG)
Gilson Rambelli (NEE/UNICAMP)
Nanci Vieira Oliveira (UERJ)
Ana Pinon (Universidad Complutense de Madrid, Espanha)
Pedro Paulo Abreu Funari (NEE/UNICAMP)
Erika Marion Robrahn-González (NEE/UNICAMP)
Charles Orser (Illinois State University, EUA)
Conselho Editorial
Gilson Martins (UFMS)
José Luiz de Morais (MAE/USP)
Peter Ucko (Institute of Archaeology, UCL)
Laurent Olivier (Université de Paris)
Sian Jones (University of Manchester)
Martin Hall (Cape Town University, South Africa)
Bernd Fahmel Bayer (Universidad Nacional Autónoma de México)
Projeto gráfico
José Luiz de Magalhães Castro Neto
EDITORIAL
Sumário
Artigos
cam uma postura que afirmava não apenas deliberadamente ou não está dando valores,
a possibilidade, mas também a necessida- significados, às coisas e a seu texto.
de, da arqueologia como ciência ser impar- A produção arqueológica, então, como
cial, objetiva, neutra. toda produção científica, é escrita, é articu-
Desde pelos menos a década de 1980, lada, é discursiva. Então podemos dizer que
na Europa e nos Estados Unidos, os arqueó- a escrita da arqueologia não é só um meio
logos discutem sobre nosso papel social (en- para divulgar resultados de pesquisa. A es-
tre outros, Wylie 1989; Tilley 1989; Shanks crita da arqueologia é também a própria
& Tilley 1987; Shanks & Tilley 1992; Hodder construção dos resultados. O discurso é a
1992). Se pensarmos que a arqueologia é produção.
também uma forma de agir no mundo, uma É como a pintura do cachimbo de René
forma de sermos sujeitos em sociedade, o Magritte: entre a linguagem e as coisas, exis-
que nós produzimos como arqueólogos é tão tem os significados. Não existe uma relação
importante quanto a maneira como chega- direta, transparente, entre a linguagem e as
mos a isso. A produção arqueológica não é coisas (Tilley 1990:282). Se “isso não é um
dada. Ela é construída. Não existe um pas- cachimbo”, a escavação também não é o
sado – perdido, enterrado, submerso – de passado. O passado é a construção que nós
um lado, e a ciência arqueológica do outro. fazemos hoje, a partir das informações que
O passado só existe na prática científica. conseguimos perceber dos vestígios.
É através desse fazer arqueológico, da Quando fazemos um projeto de arqueo-
prática, que mesmo os objetos são constitu- logia, nós escolhemos como vamos construir
ídos (Shanks & Tilley 1992: 23). Isso não sig- o passado. Escolhemos quem poderá parti-
nifica que os objetos não existam, que eles cipar dessa construção. Escolhemos o que
não estejam lá, no sítio. Mas, como afirma poderá fazer parte desta construção. É uma
Julian Thomas (1996: 63), é apenas o reco- responsabilidade nossa. E é sobre essas es-
nhecimento do arqueólogo de que aquele colhas, em um projeto que desenvolvemos
vestígio tem relevância que o constitui de no Amapá, que discorremos aqui.
fato. Um arqueólogo que não saiba reconhe-
cer uma pederneira, por exemplo, não a en-
contrará. E se mesmo os objetos materiais Políticos, imprensa e cientistas
são constituídos na prática, o que dizer dos
objetos intelectuais?: como problemas de O Projeto de Investigação Arqueológica
pesquisa, temáticas de projetos, as afirma- na Bacia do Rio Calçoene é um projeto fi-
ções que fazemos? (Tilley 1990: 298-300). nanciado pelo Governo do Estado do Amapá,
Ora, também eles não existem fora da práti- que teve início do final de 2005. Calçoene é
ca. Como disse Ian Hodder (1992): “O que um dos 16 municípios do Estado do Amapá,
medimos e como medimos são questões te- e tem sido a sede dos trabalhos de campo
óricas”. Portanto, toda observação é também até o momento. Calçoene fica a 270km da
uma interpretação. capital, Macapá, na região Nordeste do Es-
E se o arqueólogo tem um papel ativo tado. É um município de área enorme, mas
como produtor de conhecimento, isso obvia- com população pequena, por volta de sete
mente significa que a produção de conheci- mil habitantes, sendo 5000 na área urbana
mento não é uma tarefa automática. Pelo (IBGE 2000).
contrário, produzir conhecimento arqueoló- Esse projeto foi criado sobre duas ques-
gico é um processo interpretativo, é a cons- tões principais: a produção de conhecimen-
trução de um discurso: transformar coisas to científico sobre as antigas populações in-
em palavras, dar sentido às coisas através dígenas e o envolvimento da comunidade
das palavras. Então a relação entre as coi- local. Sendo um projeto totalmente financi-
sas e o texto é feita pelo arqueólogo, que ado pelo Governo do Estado, houve sempre
teve início. Mas esse interesse explícito do municação. As pessoas trocam recados pela
governo, de autoridades, de políticos, de se- rádio: desde avisos entre parentes em situ-
tores empresariais, também mostrou clara- ações graves, como doença e morte, a reca-
mente que muitos discursos seriam – ou até dos entre patrões e empregados, e entre
já estavam sendo – produzidos. E essa situ- amigos. A rádio Calçoene FM tem, portanto,
ação destacou a necessidade de fazermos uma audiência incrível. E é possível encon-
um projeto inclusivo, que fosse aberto não só trar aparelhos de rádio em todas as casas,
para os discursos dos nossos financiadores especialmente nas mais distantes; sem luz,
(o próprio Estado), mas também para ou- sem água, mas com rádio. A rádio é o prin-
tros discursos possíveis, como da comunida- cipal meio de comunicação.
de local. E essa é ainda uma experiência em E nós fizemos muito uso desse meio. E
andamento. enquanto falávamos na rádio, ouvintes liga-
vam, outros iam até lá, e outros ainda deixa-
vam recados. Daí surgiram não apenas mui-
Quebrando a barreira epistemológica tas informações, como dúvidas da popula-
ção e mesmo muitos questionamentos, prin-
O Município de Calçoene hoje em dia é cipalmente sobre o destino das peças que
habitado principalmente por população ca- poderiam ser encontradas.
bocla, portanto pessoas inseridas na cultura Quando nós começamos a escavação,
Ocidental. Isso é importante por que elas têm depois de seis meses de visitas e contatos
um conhecimento básico sobre o que é uma na cidade, a maior parte da população co-
pesquisa científica, ao menos na forma como nhecia o projeto e sabia qual era nossa posi-
é transmitido pelos grandes meios de comu- ção sobre a participação deles, sobre a guar-
nicação ou nas escolas. Isso permitiu uma da do material, sobre futuros projetos. E com
situação para nós confortável de início, já que a participação de alunos de segundo grau
existia uma base para apresentarmos nos- nas escavações, que receberam treinamen-
sos objetivos. Mas ao mesmo tempo, é uma to de campo e laboratório, e também parti-
situação que traz já uma barreira pré- ciparam nas entrevistas com informantes, a
estabelecida. Nós chegamos portando o que colaboração se fortaleceu. Nós já não éra-
Viveiros de Castro chama de “vantagem mos mais estranhos, e uma confiança mú-
epistemológica” (2002:2). De um lado tua surgia.
estamos nós, arqueólogos, cientistas porta- Uma parte importante desse processo
dores do conhecimento; e do outro lado es- tem sido algumas aparições do sítio AP-CA-
tão eles, comunidade local, receptores de 18 na grande mídia. Em maio de 2006, quan-
conhecimento. Eles já nos receberam como do as escavações nem tinham sido iniciadas,
portadores de conhecimento, como os espe- o Governo do Estado decidiu apresentar a
cialistas, o lugar-comum de cientistas. E o “descoberta”. Foi feita uma entrevista coleti-
desafio ainda é quebrar essa barreira, va no Palácio do Governo, e o próprio gover-
transformá-los de parceiros passivos a par- nador anunciou a descoberta arqueológica.
ceiros ativos. Era ano eleitoral, e o governador era candi-
Além de formas bem usuais de inserção dato a re-eleição.
com a comunidade, como palestras nas es- O resultado desse anúncio público gerou
colas, em centros comunitários, e muita con- uma cadeia de publicação nos mais inespe-
versação informal, nós também usamos um rados meios de comunicação. Do Jornal Na-
outro meio de comunicação: a rádio. cional à revista Seleções, o sítio apareceu
No interior do Estado há muito poucas praticamente no mundo todo. E o sítio levou
linhas telefônicas, e elas só alcançam os pe- o pequeno e pobre município de Calçoene
quenos centros urbanos. As estações de rá- para a mídia, para os jornais e para a televi-
dio funcionam como o principal meio de co- são. E aparecer no Jornal Nacional é algo
10
raro mesmo para o Estado do Amapá, ima- mais recentes: retirada da floresta de gale-
ginem o que não foi para Calçoene... E daí ria, queimadas, pasto, criação bovina. A partir
nasceu um sentimento de orgulho, orgulho de Setembro de 2006, ele tornou-se o
por ver uma coisa do seu município sendo guardião do sítio, e hoje está a serviço do
chamada de especial, orgulho por conhecer IEPA, cuidando da área, e recebendo os visi-
de perto, de ser um pouco dono daquilo. E tantes, que continuam a aparecer. Houve um
esse sentimento de propriedade desse momento muito interessante durante as es-
patrimônio ajudou muito na participação das cavações. O Garrafinha é um grande conta-
pessoas no projeto. O que nós sentimos é dor de histórias, e jamais perde a oportuni-
que eles começaram a querer participar do dade de contar o que ele sabe e conhece
projeto. sobre o sítio. Porém, em algum momento,
Isso garantiu uma aproximação muito ele começou a mudar seu discurso. Ele co-
mais interessante entre nós e eles. É claro meçou a ressaltar o quanto ele mesmo ha-
que a barreira entre conhecedores e recep- via destruído do sítio. Fazendo queimadas,
tores não foi ainda desfeita, mas ela dimi- derrubando árvores, juntando peças. E em
nuiu. Durante as escavações, nós recebemos seguida dizia: “eu era ignorante, mas hoje
centenas de visitantes. Alguns, como estu- eu sou o guardião do sítio, e agora eu faço
dantes de primeiro e segundo grau, eram tudo pra preservar”.
esperados, faziam parte da rede de conta- Para nós está bem claro que ainda te-
tos formais que tínhamos com as escolas e a mos muito a fazer, principalmente por que a
prefeitura. Mas muitos outros não eram. E gente gostaria que a comunidade fosse mais
tirar fotos no sítio era sagrado. O interes- ativa em relação ao projeto, que a barreira
sante é que a máquina era nossa. Então não epistemológica fosse vencida. A relação es-
eram fotos para eles terem cópias, mas fo- pecialistas-receptores ainda domina a cena,
tos para nós termos eles dentro do projeto. mas um sentimento de responsabilidade em
É claro que a maior parte dos visitantes relação ao patrimônio está crescendo; e isso
demonstrou apenas uma curiosidade geral, nos motiva a seguir esse caminho. Hoje, uma
interessados em ver de perto o que apare- discussão na câmara de vereadores de
ceu na TV. A barreira epistemológica conti- Calçoene reforça essa mudança de percep-
nuava lá. Mas algumas situações nos con- ção sobre o patrimônio. Eles estão discutin-
venceram que era possível realmente superá- do a guarda do material arqueológico, pro-
la. Foi o caso com o Senhor Roseno Sarmento pondo alternativas para que o material volte
dos Santos. ao Município.
As únicas descrições sobre poços fune- Isso nos mostra que o principal resulta-
rários no Amapá eram as de Emilio Goeldi, do dessa experiência de tentar incluir a co-
do final do século XIX (Goeldi 1905). Goeldi munidade local, pelo menos até o momento,
havia escavado dois poços no Cunani, uma é essa mudança de percepção. O patrimônio
localidade no norte do Município de Calçoene. arqueológico transformando-se de simples
E ali estava o Roseno, na nossa frente, que curiosidade (se tanto), para uma questão
já havia aberto três poços funerários em vá- política no município.
rios sítios na área. Tornou-se um grande São mudanças deste tipo que nos fazem
parceiro; não apenas nos levando a vários agir muito mais cautelosamente na constru-
outros sítios, mas também nos ajudando a ção dos nossos discursos. O que nós fala-
compreender o primeiro poço funerário que mos sobre o sítio, a forma como recebemos
escavamos. as visitas, a forma como nos relacionamos
Um outro exemplo é o Sr. Lailson Came- com eles, tudo influi na nossa construção. E
lo da Silva, ou Garrafinha. É dele o relato quanto mais direto o envolvimento de outros
mais antigo que temos do sítio AP-CA-18, atores, mais cuidado nós temos que ter nas
assim como os relatos das transformações nossas afirmações, por que elas alcançam
11
Referências bibliográficas
GOELDI, E.
1905. Excavações Archeologicas em 1895. 1ª case study of archaeologists learning a more
parte: As Cavernas funerarias atificiaes critical practice of archaeology. Journal of
dos indios hoje extinctos no rio Cunany Social Archaeology. (9) 2. p.255-276.
(Goanany) e sua ceramica. Memórias do SHANKS, M. & C. TILLEY.
Museu Goeldi. 1987 Social theory and archaeology. Cambridge:
GÓES DA SILVA, A.W. Polity Press.
2006. Identidade Fortalecida. In: SEBRAE/AP. O 1992 Re-Constructing Archaeology - Theory and
legado das civilizações Maracá e Cunani: Practice. London/ New York: Routledge.
o Amapá revelando sua identidade . THOMAS, J.
Macapá: SEBRAE/AP. 1996 Time, Culture and Identity - An interpretive
HODDER, I. archaeology. London/ New York: Routledge.
1992 Theory and practice in archaeology . TILLEY, C.
London/ New York: Routledge. 1989 Archaeology as socio-political action in
IBGE. the present. In: Wylie, A. & V. Pinsky.
2000 Censo Demográfico. Critical traditions in contemporary
RABELO, B.V. archaeology: Essays in the Philosophy,
2005 Relatório Cunani. Macapá: IEPA. 9p. History and Socio-Politics of Archaeology.
SANDLIN, J.A. & G.J. BEY III. Albuquerque: University of New Mexico
2006 Trowels, trenches and transformation: A Press.
12
13
14
Erika M. Robrahn-González*
Maria Clara Migliacio**
Moção de encaminhamento
(*) Professora Livre Docente, pesquisadora colabo- Esta moção visa sintetizar os principais
radora do Núcleo de Estudos Estratégicos (NEE) da
Universidade Estadual de Campinas. pontos de reflexão abordados durante a pre-
(**) Professora Doutora, Instituto do Patrimônio His- sente Sessão Temática. Para tanto, o texto é
tórico e Artístico Nacional, Mato Grosso. composto por dois blocos, a saber:
15
16
17
18
O cinema tem olhado sempre para a ar- arqueólogas-heroínas como Lara Croft
queologia com relativo interesse, na medida (Zorpidu 2004). Por outro lado, os arqueólo-
em que lhe proporcionava paisagens, cená- gos tenderam ao uso do cinema inclusive
rios, objetos e,em definitiva, mundos para como metáfora do seu trabalho. Philip Barker
recriar visualmente. A pura materialidade da (1982: 12), em um dos manuais de arqueo-
arqueologia tem oferecido continuadamente logia de campo mais celebrados dizia que,
elementos visuais para serem filmados. E em última instância, a tarefa dos arqueólo-
evidentemente a arqueologia é –mesmo que gos ao tentar representar o que aconteceu
isto não seja reconhecido por tudo o mundo- no passado a partir de uma escavação era
uma disciplina fortemente visual, como tem semelhante à realização de um filme da his-
dito bem Stephanie Moser (1998), pioneira tória do sítio arqueológico.
na analise da dimensão propriamente visual Que a pesquisa arqueológica é assimilável
da arqueologia. Os arqueólogos têm sido à construção de um filme é provado, entre
representados no cinema popular desde co- outras coisas, pela importância que têm os
meços do Século XX (Day 1997: 3, Membury médios audiovisuais para transmitir o conhe-
2002) e especialmente pelo cinema no estilo cimento histórico gerado, sob a forma de
Hollywood (Baxter 2001). Aos modelos de vídeos e documentários para apresentar ao
arqueólogo herói, estilo Indiana Jones público os resultados da escavação de um
(Zarmati 1995), o único durante muito tem- sítio arqueológico qualquer. Se olharmos para
po, têm sido acrescentados os modelos das trás, descobriremos na arqueologia dos tem-
pos pioneiros a importância da fotografia
(Lyons et alii 2005), do desenho e da recons-
trução histórica (Hodgson 2001, Lewuillon
(*) Departamento de Prehistoria. Universidad
Complutense de Madrid E-mail: gonzalor@ghis.ucm.es 2002), nos tempos mais recentes do vídeo
(**) Departamento de Prehistoria. Universidad (Hanson & Rahtz 1988), dos documentários
Complutense de Madrid E-mail: anamansillac@hotmail.com (Kulik 2006), da reconstrução digital através
19
de computadores (Forte e Siliotti 1997) e in- gia, os arqueólogos temos sido mais descon-
clusive dos grupos de recriação histórica, fiados com o gênero cinematográfico, fun-
r eenactment, para representar o passado damentalmente pela tendência a pensar que
(Appleby 2005). A prova mais impressionan- no cinema a ficção é o componente mais
te de que as performances têm hoje plena poderoso e pelo tanto uma coisa muito afas-
vigência tem sido a finais de setembro de tada do obsessivo cientificismo da nossa dis-
2006, a representação ao vivo das cenas do ciplina. Aos arqueólogos tem-nos importado
Bem-Hur (1959) de Billy Wyler, incluindo a muito pouco o cinema (Day 1997: 4), o te-
espetacular carreira de quadrigas, em cená- mos desapreciado por ser anticientífico e
rios criados no grande Stade de France de veículo de anacronismos ou ucronias e ape-
Paris, com centenas de atores e extras, e nas nas últimas décadas temos começado a
com vários centenas de milhares de espec- manifestar interesse em várias direções
tadores que tinham pagado bilhetes mais do (Hernández Descalzo 1997, Pohl 1996). Mes-
que caros por assistir ao vivo (http:// mo assim, as coisas não resultam fáceis.
news.bbc.co.uk/2/hi/intertainment/ Assim, ante o sucesso dos filmes de Steven
5337836.stm). Este espetáculo imita ao ci- Spielberg de Indiana Jones (Sánchez-
nema, embora é representação ao vivo e Escalonilla 2004), os arqueólogos têm se
constitui uma particular mistura de teatro, posicionado sempre fortemente contra a vi-
cinema, experimentação, reenactment e apa- são que a trilogia oferece da arqueologia.
rato visual do passado. (Fig.1 e Fig. 2) Apenas consegui achar uma visão positiva
num breve artigo do arqueólogo britânico
Se em geral o mundo do cinema tem John Gowlet (1990) nas páginas de Antiquity
mostrado relativo interesse pela arqueolo- no qual o que vinha a dizer era que Indiana
20
21
procuram as maiores cotas de rigor históri- ampla (Ibars & López Soriano 2006). No ci-
co-arqueológico e os outros de ficção livre nema de arqueologia, em sentido amplo, a
em simples “cenários” de passados pouco ou tradição anglo-saxona (Archaeology & You
nada críveis (Solomon 2002). 2004, Baxter 2001, Downs, Allen, Meister e
Lazio 1995, Day 1997, Pohl 1996) e a france-
Todos estes gêneros do “cinema arque- sa (Lambotte 1990, Bourdial 2002) têm sido
ológico” oferecem muitas possibilidades como as mais ativas, mas outras, e também a es-
recursos didáticos no ensino da arqueologia. panhola, vão se acrescentando à especiali-
Especialmente numa época na qual tudo o dade (Hernández Descalzo 1997, Moreno i
audiovisual nos envolve e domina e na que Gimenez 2002). Ao mesmo tempo, é conve-
reconhecemos que –finalmente- a arqueolo- niente apontar que o interesse continua es-
gia é uma disciplina “fortemente visual”, tando mais no lado do cinema do que da ar-
embora não o manifeste explicitamente queologia. E assim, a recopilação mais am-
(Smith & Moser 2005). As imagens de pai- pla de por volta de 140 filmes e vídeos nos
sagens, assentamentos, tombas e objetos do quais os protagonistas são arqueólogos, o
passado formam parte da centralidade da livro de David Howard Day A treasure Hard
arqueologia e pelo tanto, o “cinema arqueo- to Attain. Images of Archaeology in Popular
lógico” tem muitas razões para ser conside- Film with a Filmography (1997), não é a obra
rado um instrumento de aprendizado de um arqueólogo. Mesmo que se pudesse
(Rosenstone 2005). Concordo plenamente deduzir claramente depois da leitura dos onze
com Robert Rosenstone (2005: 350) em que breves capítulos do ensaio que antecede à
“o cinema oferece uma importante e com- filmografia comentada, verdadeiramente o
plexa visão do passado”. É uma forma de mais útil do livro. Muito mais amplo como
apresentar a História que precisa da nossa catálogo de filmes de Pré-História e Mundo
minuciosa atenção, especialmente porque Antigo é o livro de Herbert Verreth (2003) De
muito do que temos aprendido no passado oudheid in film. Filmografie. E certamente, é
sobre o passado nos é transmitido hoje pre- claro que a informação mais atualizada e
cisamente através deste médio e deste gê- ampla é preciso procura-la na Internet
nero, no telão e na tela da televisão para (http:www.saa.org/public/fun/movies.html).
audiências muito amplas.
Um gênero destaca por cima dos outros,
Na verdade, os arqueólogos não temos o peplum ou “cinema de romanos” (Fig. 3).
tido quase interesse pelo “cinema de arque- O estudo de Jon Solomon Peplum. O mundo
ologia”, daí que os estudos relevantes e in- antigo no cinema (2002) é, sem dúvida algu-
clusive as recopilações de filmes, apenas têm ma, o melhor, e na Espanha o estudo pionei-
começado a serem realizadas nos últimos dez ro de Fernando Lillo O cinema de romanos e
ou quinze anos e nem sempre por parte dos sua aplicação didática (1994) tem seguido o
arqueólogos. Em primeiro lugar, é preciso ensaio mais aprofundado e amplo de Alberto
destacar que a consideração de “cinema de Prieto A Antigüidade filmada (2004) O me-
arqueologia” precisa ser incluída dentro de lhor site, com um amplíssimo repertório é
aquela de cinema de história. Este constitui PEPLUM Images de l´Antiquité Cinema et BD
a categoria superior e tem recebido certo (http://www.peplums.com).
interesse por parte dos historiadores (Barra
1998, Carnes 1995, Fraser 1988). Talvez os
livros de Rosenstone (1995a, 1995b, 1997) Dimensão didática da arqueologia
sejam os melhores exemplos de um olhar cinematográfica
especializado e lúcido para os filmes históri-
cos e para a leitura da história no cinema. Sob o ponto de vista do professor é fun-
Mas a bibliografia sobre o tema é já muito damental estimular as práticas de visionado
22
23
ca, não simplesmente para censurar maus v) A partir da atração da imagem pode
assessoramentos históricos dos filmes, mas se confrontar informação cinematográfica
bem mais para reconstruir esses erros e com informação arqueológica (menos atra-
possibilitar uma verdadeira “genealogia do tiva no começo) e gerar assim curiosidade
a n a c r o n i s m o ”. A a n a l i s e d e f i l m e s e histórica sobre o passado. Não há dúvida que
documentários permite identificar erros e no poder comparar a reconstrução da Roma de
jogo da sua procura e sua crítica permite um peplum da década dos 50, a do filme
despertar o interesse pela realização de Gladiator e as das reconstruções arqueoló-
visionados inteligentes e com critério histó- gicas mais sérias e fidedignas constitui um
rico. Alguma coisa semelhante, salvando as exercício didático de grande atrativo (Wyke
distâncias, ao desafio de alguns livros infan- 1997). Como se apresenta o Homen de
tis e juvenis de arqueologia muito instrutivos Neandertal no filme O Clã do urso das ca-
que propõem a descoberta de erros e ana- vernas e como se tem representado antro-
cronismos em desenhos de reconstrução pologicamente e arqueologicamente? O con-
cênica (Leronge 2006), ou aqueles que mos- traste das imagens do Neandertal gera inte-
tram simplesmente a evolução de uma rua resse e curiosidade sobre os processos para
ou uma cidade ao longo de milhares de anos representar visualmente o passado
(Millard & Noon 1999, Steele & Noon 2006). paleolítico. O sugestivo e atrativo do cine-
iv) Permite refletir sobre as vidas dos ele- ma, embora seja anti-histórico, cria um ponto
mentos materiais do passado – autênticas “bi- de interesse que dificilmente a arqueologia
ografias’ das coisas – até chegar à tela e des- vai conseguir por sim mesma.
vendar assim todo um complexo “imaginário
popular” do passado. A aparição no cinema de Em última instância, o processo de re-
objetos, artefatos, construções e máquinas que presentação do passado no cinema pode
tentam vestir uma época determinada oferece servir para analisar e refletir sobre os pro-
a possibilidade de uma desconstrução de es- cessos que a arqueologia utiliza para repre-
ses elementos. Permite, assim mesmo, sepa- sentar os passados pré-históricos e históri-
rar os autenticamente históricos e ajustados à cos e contextualizar o que alguns arqueólo-
documentação arqueológica de aqueles que gos têm chamado “imaginação arqueológi-
têm ganho sua adscripção a uma época gra- ca” (Gamble 2003b). Como o diretor de um
ças aos erros transmitidos por diferentes vias filme constrói sua obra é uma boa metáfora
e que resultam pelo tanto, anacrônicos. Um de como os arqueólogos construímos nos-
exemplo: os capacetes com chifres dos celtas; sas representações do passado. E de fato,
excepto um exemplar britânico – o qual é in- uma das últimas novidades nos estudos de
clusive duvidoso que possa ser qualificado de posgraduação em arqueologia é a oferta dos
“celta”- se desconhece a associação de este cursos “Masters Screen Media” (Máster
tipo de capacete aos celtas da Idade de Ferro 2006) ou “Archaeology and the Media: Digi-
européia, mas as gravuras especialmente des- tal Narratives in, for and about Archaeology”
de o século XIX têm-na difundido erroneamen- dirigido por Ruth Tringham (2006) na Berkeley
te. No cinema se utilizam elementos que per- University. Também sessões de congressos
tencem ao imaginário popular mais do que às internacionais se ocupam do tema como a
imagens arqueológicas. O que importa não é o Mesa Redonda: “Teaching Archaeology using
autêntico tipo de capacete celta, o que impor- Film and Television” no 71 Annual Meeting of
ta é que seja identificado pelo público como the Society for American Archaeology (San
céltico, embora seja falso. Uma coisa é a ar- Juan de Puerto Rico, 26-30 Abril de 2006).
queologia e uma outra é o imaginário popular, Na Espanha também não faltam cursos uni-
a primeira é minoritária no entanto o segundo versitários que abordam estes temas, o mais
é majoritário. Tudo isso é tremendamente útil recente O mundo antigo e medieval no cine-
para o aprendizado arqueológico. ma (Curso da Universidad Internacional
24
25
Nas aulas práticas, facilito aos estudan- parecer qualquer coisa de irrelevante, em
tes algumas idéias gerais sobre como assis- alguns casos a informação falada que não
tir a documentários e tomar notas, e mais guarda relação alguma com as imagens que
tarde lhes peço que escrevam suas avalia- se visualizam, fica praticamente perdida,
ções, pontuem cada documentário – é im- escondida, por trás de imagens, que literal-
portante ver diferentes tipos, incluindo os mente, engolem o discurso falado. Se em
ruins- e justifiquem dita pontuação. Na visão algum caso se pode ter a filmação do Como
geral que lhes ofereço incluo muitas das idéi- se fiz... do documentário podemos acrescen-
as aqui expostas e no plano prático insisto tar mais elementos de interesse para o de-
nos seguintes aspectos: (i) que os vídeos têm bate, a mesma coisa que se proporcionar-
dois grandes discursos: o visual, as mensa- mos algum texto que explique a realização,
gens exclusivamente transmitidas pelas ima- como no caso da Odisséia da Espécie
gens e o verbal, a informação falada em off (Bourdial 2002).
que acompanha às imagens. Os dois são Os resultados habitualmente são bastante
importantes e precisam de uma analise si- bons, hoje a cultura audiovisual dos estudan-
multânea de cada um deles; (ii) que no dis- tes é muito alta e com apenas umas poucas
curso visual é preciso, por um lado, apren- idéias a modo de roteiro, como as arriba
der a catalogar os tipos de imagens (obje- indicadas, eles são muito capazes de oferecer
tos, sítios arqueológicos, paisagens, mapas avaliações críticas e razoadas, que sem ne-
e infografia, arqueólogos ou especialistas nhuma dúvida me ajudam a re-situar meu pró-
entrevistados ou apresentando informação – prio analise frente ao rico panorama que meus
“bustos falantes” -, reconstruções dramati- estudantes me oferecem. Uma tarefa final de
zadas, gravuras antigas, etc...) e pelo outro debate ou discussão completa perfeitamente
lado é preciso realizar estimações temporais as opiniões pessoais colocadas por escrito.
de cada um dos tipos de imagens, isto é, se
na porcentagem predomina o tempo dedica-
do aos objetos, aos sítios arqueológicos ou Os filmes de ficção arqueológica/
às reconstruções e como se distribui – apro- histórica na moda
ximadamente- o tempo do conjunto das ima-
gens. Pois esta distribuição não é casual e O caso dos filmes de ficção com
deve refletir as intenções do produtor. De- ambientação arqueológica/histórica é um
pois é preciso desenvolver estratégias para pouco diferente. Fundamentalmente pode-
medir o impacto e a força de cada imagem e mos afirmar que a avaliação deve ser dife-
seu grau de inteligibilidade; (iii) que o dis- rente pela simples razão de que, como te-
curso verbal, os conteúdos específicos, exi- mos visto com Rosenstone, os diretores de
ge também uma analise hierarquizada, pri- cinema não são - e não pretendem ser – his-
meiro uma avaliação global, a quantidade de toriadores, mesmo que alguns deles reivin-
informação e o ritmo de apresentação; se- diquem um altíssimo grau de verismo histó-
gundo, uma analise das idéias centrais que rico nos seus filmes. Os cinco critérios que
se transmitem; terceiro, uma consideração aplico para a analise didática nas aulas de
do léxico utilizado e finalmente, descobrir as arqueologia são perfeitamente aplicáveis
possíveis “iscas” do discurso falado e apre- para todos os filmes de este gênero, inde-
sentar a arquitetura completa do “texto” para pendentemente de que uns se situem na mais
sua posterior crítica; e (iv) finalmente, incidir disparatada ucronia e outros no intento mais
na importância de refletir sobre o grau de encomiável de mergulhar-se na atmosfera
complementaridade existente entre as ima- de sua época histórica. O que se ganha em
gens e as palavras, isto é, de que maneira atrativo – parece claro que segura mais o
se tem conseguido, ou não, um ajuste entre interesse dos estudantes uma boa ficção do
o que se vê e o que se escuta. Embora possa que um bom documentário – é obvio que se
26
27
Conclusão
Bibliografia
AGUILERA, H. APPLEBY, G. A.
1990 Infografía, comunicación humana y 2005 Crossing the rubicon: fact or fiction in
evolución social. In: H. Aguilar, M. de Vivar Roman re-enactment, Public Archaeology,
et alii (eds), Las nuevas imágenes de la 4: 257-265.
comunicación audiovisual en España . ARCHAEOLOGY & YOU
Madrid. Fundesco. 2004 Movies, Television Programs, and Videos
28
29
LEWUILLON, S. ROSENSTONE, R. A.
2002 Archaeological Illustrations: a new 1995b Revisioning history: film and the
development in 19th century science. reconstruction of a new past. Princeton.
Antiquity, 76: 223-234. Princeton University Press.
LILLO REDONET, F. ROSENSTONE, R. A.
1994 El cine de romanos y su aplicación 1997 El pasado en imágenes. El desafío del cine
didáctica. Madrid, Ediciones Clásicas. a nuestra idea de la historia. Barcelona.
LYONS, A. et alii Ariel.
2005 Antiquity and Photography: Early Views Rosenstone, R. A. 2005 La Audiencia modela la
of Ancient Mediterranean Sites. J. Paul Historia. In J. Montero & J. Cabeza (eds.)
Getty Museum, Getty Trust Publications. Por el precio de una entrada. Estudios
LYNCH, J. & BARRETT, L. sobre Historia Social del cine: Madrid,
2003 Walking with Cavemen. Nova Iorque. DK Ediciones Rialp: 337-350.
Publishing. ROSNY, J. H.
MASTER 2004 La conquista del fuego. Barcelona.
2006 MA in Archaeology for Screen Media, Hipòtesi, S,L.
(http://www.bristol.ac.uk/archanth/ RUSSELL, L.
postgrad/screema.hmtl). 2002a Archaeology and Star Trek: exploring the
MEMBURY, S. past in the future. In
2002 The Celluloid Archaeologist – an x-rated SÁNCHEZ-ESCALONILLA, A.
exposé. In M. 2004 Steven Spielberg. Entre Ulises y Peter Pan.
MILLARD, A. Y NOON, S. Madrid. Cie Inversiones Editoriales Dossat
1999 A street through time: a 12000 year SILBERMAN, N. A.
journey along the same street. Londres. 1999 Is Archaeology Ready for Prime Time?,
Dorling Kindersley. Digging and Discovery as Mass
MORENO I GIMÉNEZ, V. A. Enterteinment. In: Archaeology, May/
2002 Cine y Prehistoria. In: Caleidoscopio, 5, 2002 June: 79-82.
(http://www.uch.ceu.es/caleidoscopio/ SMITH, S. & MOSER, S. Eds.
numeros/cinco/moreno.htm). 2005 Envisioning the Past. Archaeology and the
MOSER, S. Image. Oxford. Blackwell Publishing.
1998 Ancestral images. The iconography of SOLOMON, J.
Human Origins . Ithaca. N.Y. Cornell 2002 Peplum. El mundo antiguo en el cine.
University Press. Madrid. Alianza Editorial.
PAYNTON, C. SOLOMON, J.
2002 Public Perception and “Pop Archaeology”: 2006 Viewing Troy: Authenticity, Criticism,
A Survey of Current Attitudes Toward Interpretation. In: Winckler, M. M. Troy:
Televised Archaeology in Britain. In: The From Homer´s Iliad to Hollywood epic:
SAA Archaeological Record, 2 (2): 33- Oxford, Blackwell: 85-98.
36 y 44. STEELE, PH. & NOON, S.
PEPLUM 2006 Una ciudad a través del tiempo. Barcelo-
2006 Images de l´Antiquité Cinema et BD na. Blume.
(http://www.peplums.com). Acesso 10-06. TRINGHAM, R.
POHL, J. M. D. 2006 Anthropology 136i: Archaeology and the
1996 Archaeology in film and television. In B. Media: Digital Narratives in, for, and about
M. Fagan (ed.) The Oxford Companyon to Archaeology (http://www.mactia.berkeley/
Archaeology:. Oxford. Oxford University edu/courses/Anthro136i/html/
Press: 574-575. 136iSu06_intro.html). Acesso 31-IX-06.
PRIETO ARCINIEGA, A, VAN DYKE, R. M.
2004 La Antigüedad filmada. Madrid. Ediciones 2006 Seeing the Past: Visual Media in Archaeology.
Clásicas. In: American Anthropologist, 108 (2): 370-
QUESADA, F. 384.
2005 Alejandro ante Tiro, asedio salvaje. In: VERRETH, H.
La Aventura de la Historia, 75: 82-91. 2003 De Oudheid in Film. Filmografie. Universidad
ROSENSTONE, R. A. de Lovaina (http://www.ars.kuleuve.be/
1995a Visions of the Past: the Challenge of Film alo/klasieke/docs/film) .
to Our Idea of History. Cambridge. WATRALL, E.
Harvard University Press. 2002 Digital pharaoh: archaeology, public
30
31
32
ARQUEOLOGIA E PÚBLICO:
PESQUISAS E PROCESSOS DE MUSEALIZAÇÃO DA
ARQUEOLOGIA NA IMPRENSA BRASILEIRA
33
profa. Dra. Cristina Bruno. Na época o perío- O terceiro periódico selecionado, Ciên-
do destacado para análise foi o ano de 2000, cia Hoje, não disponibiliza pela internet os
que além de recente oferecia a possibilidade mesmos recursos dos demais, como íntegra
de confrontar as reportagens referentes à das matérias e busca por palavras-chave.
Mostra do Redescobrimento1, evento reali- Portanto, recorremos à consulta direta dos
zado por ocasião dos 500 anos da chegada mesmos em biblioteca, respeitando o crité-
dos portugueses às terras brasileiras, com rio adotado para os demais, segundo o qual
as ocorrências de matérias sobre Arqueolo- as matérias que mencionassem a Arqueolo-
gia de uma maneira mais geral. Para a pre- gia foram lidas integralmente para apreen-
sente publicação foi feita uma atualização, são da forma de divulgação dela e de seus
confrontando com dados de 2006. profissionais, e só então lançamos um olhar
Em 2001, selecionamos como fontes de dirigido para a percepção da presença ou não
pesquisa os seguintes veículos de comunica- de informações acerca de museus ou pro-
ção: a revista semanal Veja, o diário Folha cessos e instituições museológicas relacio-
de São Paulo e a revista Ciência Hoje, perió- nados ao tema.
dico mensal de divulgação científica, mas ain- Para efeito dos dados quantitativos apre-
da de caráter leigo. As buscas foram feitas sentados no artigo, esclarecemos que não
na internet (Folha de São Paulo e Veja) a foram contabilizadas as referências a mu-
partir da palavra-chave Arqueologia. Foi lo- seus quando apareciam apenas como insti-
calizada uma série ampla de matérias, lida tuição de origem de um pesquisador citado
na íntegra, a partir da qual buscamos, inicial- na matéria. Feita esta observação, podemos,
mente, perceber as imagens da Arqueologia porém perceber que no campo das publica-
e dos profissionais arqueólogos divulgadas. ções os arqueólogos têm tomado iniciativas
Esta opção partia de um pressuposto, voltadas à produção de livros para o público
confirmado no decorrer das pesquisas, de leigo e duas ações neste sentido se destaca-
que as ocorrências estritamente vinculadas ram em 2006, aparecendo com proeminên-
a museus de Arqueologia seriam muito pou- cia nas matérias da Folha de São Paulo à épo-
co freqüentes. Por outro lado, a percepção ca dos respectivos lançamentos: O Brasil an-
do universo mais amplo da divulgação da tes dos Brasileiros, de André Prous, e Arque-
Arqueologia em periódicos para só então ologia da Amazônia, de Eduardo Góes Neves.
afunilar e chegar à presença ou não de men-
ções, nessas matérias, de processos ou ins-
tituições museológicos atreladas à pesquisa Arqueologia e imprensa:
arqueológica, oferece, pela própria existência criando os mitos
de lacunas, uma informação indubitavelmente
relevante. “A voz de Niède Guidon soa diverti-
da, ainda que cansada, quando fala de
seus desafetos nos feudos da arqueolo-
gia brasileira. Estava certa a agente de
turismo Rosa Trakalo ao dizer que a
melhor hora para entrevistar a “douto-
(1) A “Mostra do Redescobrimento Brasil + 500" foi ra” seria de carona com ela em suas
um grande evento expositivo na cidade de São Pau- andanças por São Raimundo Nonato, no
lo, que pretendeu reunir um amplo panorama da arte sudeste do Piauí. Guidon, 67, dirigindo
brasileira, da pré-história à contamporaneidade. Ocor- uma picape Nissan Frontier cabine du-
reu no Parque do Ibirapuera, entre 25 de abril e 10
pla, conta com tração nas quatro rodas
de setembro de 2000, tendo se estendido dois dias
além do previsto devido à procura massiva do públi- para enfrentar qualquer atoleiro da caa-
co. Localizava-se em três pavilhões do Ibirapuera e tinga verde de inverno (estação de chu-
numa tenda construída para abrigar o Cine Caverna. vas), e não tem travas na língua.
34
35
36
os vestígios de um passado, cujo fio con- precisa da função social da instituição mu-
dutor foi rompido pelos processos de seu de acordo com um perfil preservacionista,
colonização e imigração; científico e educativo.
Entretanto, as pesquisas arqueológicas
c) impasses no que diz respeito à
têm tradicionalmente uma tendência à divul-
mediação entre as características dos
gação de seus resultados nos meios acadê-
museus tradicionais e a demanda relaci-
micos, realizada via congressos e publica-
onada aos novos processos museais”.
ções científicas. Isto reforça uma caracterís-
tica de restrição da comunicação dos resul-
Museus de Arqueologia e imprensa: tados dos trabalhos dos pesquisadores de
longa distância a ser percorrida Arqueologia aos seus pares, cenário que vem
tendo alguma alteração nas publicações das
últimas décadas (FUNARI e ROBRAHN-
Entendemos a Museologia como discipli-
GONZALEZ, 2006; BASTOS, BRUHNS e
na aplicada ligada à experimentação, siste-
TEIXEIRA, 2006; SCHMITZ, 1988; ANDRADE
matização e teorização do conhecimento pro-
LIMA, 2000; JORGE, 2000; ALMEIDA, 2002;
duzido em torno do fato museal, ou seja: da
MILDER, 2006, entre outros) e na programa-
relação do homem com o objeto no cenário
ção do XIV da Sociedade de Arqueologia Bra-
museológico. Cada vez mais, os museus têm
sileira, de 2007, com várias sessões de co-
se afirmado como canais de comunicação,
municações sobre educação patrimonial e
como se pôde ver no documento internacio-
sobre museus e coleções.
nal denominado Carta de Caracas, de 1992.
Acontece que se, em geral, esta não é
Apesar disto, ainda hoje muitos museus
ainda uma preocupação largamente disse-
têm priorizado as ações de salvaguarda
minada, por outro a busca dos arqueólogos
patrimonial – embora também existam aque-
em divulgar seus trabalhos para públicos lei-
les que só se importam com a extroversão –
gos não significa que estejam, em todos os
e muitas discussões recentes da Museologia
casos, contemplando também os museus
têm se debatido ainda com a problemática
como veículo para esta comunicação2.
do equilíbrio entre salvaguarda e comunica-
Isto reflete de uma maneira ainda mais
ção patrimoniais.
distorcida na imprensa, onde os museus só
Por outro lado, a Arqueologia, que em
são citados em matérias a respeito da Ar-
muitos momentos se aproxima da Museologia
queologia como instituição de origem dos
em princípios (como a relação estreita com
pesquisadores. Algumas das opções dos ar-
a cultura material – ver CÂNDIDO, 2004) ou
queólogos para a comunicação pública de
problemas (patrimônio fragmentário,
suas pesquisas citadas nas matérias
vestigial), forma um universo de aplicação
jornalísticas em questão são a exploração
da Museologia que convive muito fortemen-
te com as dificuldades de comunicar o
patrimônio material e o conhecimento cien-
tífico produzido sobre ele para os públicos
(2) Isto pode significar processos de extroversão das
leigos. pesquisas arqueológicas de contrato, por exemplo,
Na tese citada, BRUNO (1995: 65) apon- feitas de uma maneira muito imediata e por vezes
ta vários desafios para os museus hoje, en- superficial, apenas para atender à legislação em vi-
tre eles, os de Arqueologia: a necessidade gor. É comum não haver continuidade, no caso das
de critérios para guarda e controle do volu- ações educativas, e nem ações relativas à responsa-
bilidade definitiva pelo patrimônio que vem à luz por
me dos acervos, em irrefreável expansão; a
um procedimento destrutivo (a escavação), respon-
adequação das instituições às crescentes sabilidade esta que só será plenamente atendida se
demandas sociais e a resolução dos impasses gerar processos de musealização (que englobam as
no diálogo com o público; e a delimitação plenas salvaguarda e a comunicação do acervo).
37
38
39
um espaço com exposição, centro de visi- ções dos 500 anos da chegada dos portugue-
tantes e 120 peças catalogadas, além de um ses ao Brasil e dos inúmeros eventos criados
projeto educativo que enfatiza a necessida- ao redor disto, especialmente, em São Paulo,
de de preservação das pinturas e gravuras a Mostra do Redescobrimento, no Parque do
rupestres existentes na região. O texto realça Ibirapuera. O grande interesse da população
a característica do núcleo que, ao invés de em mais uma vez ‘marcar presença’ num
situar-se longe das áreas de coleta do acer- grande evento expositivo da metrópole fez ex-
vo, está localizado junto à área de pesquisas, plodirem as expectativas de público e foi ao
inserido nas ações de preservação dos sítios mesmo tempo geradora e produto de uma
arqueológicos e arquitetonicamente integra- irrefreada corrida dos meios de comunicação
do à paisagem do lugar. Além disso, aponta para noticiarem a mostra e apresentarem
para os fins de investigação e produção cien- grande quantidade de informações sobre te-
tífica aos quais o núcleo pode atender. É uma mas a ela relacionados. O que não significa,
pena que o âmbito de divulgação de textos necessariamente, que estes temas voltem à
como este não seja tão amplo quanto o dos baila com a mesma freqüência, agora que
demais meios de comunicação estudados. arrefeceram os ânimos em relação a tudo que
diz respeito às origens do país.
A relação entre a Arqueologia e a impren-
Balanço das matérias sa chegou a ser discutida ao final da 2a Reu-
publicadas no ano 2000 nião internacional de Teoria Arqueológica na
América do Sul, em Olavarria, na Argentina,
Inicialmente podemos considerar que a conforme foi divulgado na Folha de São Paulo
imprensa, no que diz respeito à Arqueolo- em 29/10/2000. Lá, foi considerado que os
gia, reforça velhos sensos comuns e prolon- meios de comunicação tendem a exagerar e
ga mitos, pouco contribuindo para uma in- simplificar alguns aspectos da Arqueologia.
formação séria e para o desenvolvimento da A história da relação entre Arqueologia
criticidade a respeito deste tema. e imprensa ainda parece, hoje, marcada pelo
Em relação à musealização da Arqueo- estereótipo sensacionalista dos primórdios,
logia, as abordagens são menos freqüentes como a quando a descoberta do túmulo de
e remetem, muito comumente, não ao es- Tutancamon, em 1922, virou manchete nos
clarecimento da Museologia como campo dis- jornais e originou todo um mito, rodeado por
ciplinar com objetivos e metodologias pró- misteriosas lendas de maldições, etc.
prios e em construção, mas ao realce do O debate de Olavarria, como ocorre re-
museu como lugar de relíquias e como car- petidamente nos encontros científicos de Ar-
tão postal a ser visitado em outras cidades. queologia, não incluiu uma discussão equi-
Uma espécie de lugar sagrado imperdível em valente no que diz respeito à musealização
roteiros turísticos. da Arqueologia. Esta é uma perspectiva aber-
De uma forma geral, aspectos como a ta pouco a pouco por espaços de reflexão como
função social do museu, seu potencial a disciplina Patrimônio Arqueológico e
educativo e fomentador de consciências críti- Musealização, no âmbito da pós-graduação em
cas é ignorado e a divulgação dos museus Arqueologia da Universidade de São Paulo.
passa ao largo de questões como a formação
de identidades locais. Vemos uma repetição
da noção já ultrapassada de museu-templo, Análise das matérias
em total desconhecimento das discussões da publicadas em 2006
Museologia que visam sua transformação em
local de diálogo com os públicos. Foi feita uma busca abrangente que con-
O tema da Arqueologia esteve em evidên- siderou todas as referências à Arqueologia,
cia nesse ano sob influência das comemora- fosse vinculada a pesquisas, acervos ou pro-
40
41
rias chegam a abordar a diversidade das anos comuns, transparece ainda uma idéia
evidências arqueológicas existentes em um de Arqueologia como algo reservado a
sítio e, conseqüentemente, a necessidade de países estrangeiros, especialmente no Me-
interpretação do sítio como um todo. Contri- diterrâneo e Médio Oriente, e em parte
buem assim, para a conscientização sobre o da América espanhola, notadamente Peru
problema da interpretação em sítios já alte- e México.
rados. Nesse intervalo de tempo entre os dois
períodos analisados, houve um aprofundamento
de alguns aspectos relativos a um novo
Considerações finais panorama da relação entre Arqueologia e
sociedade. Nas matérias publicadas em
A perspectiva teórica que conduz a esta 2006 há indícios muito mais freqüentes
análise sobre representações de Arqueolo- que em 2000 da demanda por trabalhos
gia e dos arqueólogos no Brasil parte da com- de arqueologia de salvamento.
preensão pós-processualista de que “o exer- Há menções diversas a respeito da
cício da Arqueologia é um ato político” iminência de destruição de sítios arqueo-
(ALMEIDA, 2002: 25) e de que a construção lógicos no Brasil e no exterior por conta
do conhecimento em Arqueologia não é neu- da expansão de obras públicas e empre-
tra, mas historicamente elaborada. Nesta li- endimentos privados. O tom oscila entre
nha, a divulgação das pesquisas é entendida a denúncia da destruição dos sítios –
também como parte do compromisso profis- “Obras da BR-1001 inutilizam sítio arque-
sional do arqueólogo. ológico em SC” – (26/11/2006) e a queixa
BANH e RENFREW (1998: 505) alertam sobre os atrasos em obras devido à pes-
que a não publicação dos resultados das pes- quisa arqueológica: “Ruína arqueológica
quisas é um roubo, mais que isto, um duplo pára obra em Pequim” (17/10/2006). Mui-
roubo, já que recaem em mal-versação de to se falou sobre sítios arqueológicos en-
verbas públicas e em ocultamento da infor- contrados nos locais em que seriam reali-
mação. Em seguida, reconhecem um eviden- zadas obras para as olimpíadas de 2008 –
te apetite do público em relação à Arqueolo- “Pequim-2008 encontra cemitério de
gia (1998: 507). Portanto, ao mesmo tempo eunucos”–, assim como já ocorrera no pe-
em que cabe ao arqueólogo avançar na pes- ríodo anterior às Olimpíadas de Atenas,
quisa e na produção de conhecimento, é sua em 2004. Aliás, estará o Brasil preparado
responsabilidade avaliar as representações e com profissionais suficientes para as
sociais da Arqueologia, dos arqueólogos, dos demandas em várias cidades decorrentes
museus de Arqueologia, e desconstruir con- de obras de infraestrutura para a tão so-
ceitos equivocados e estanques, propor uma nhada Copa do Mundo de 2014?
crítica e autocrítica constantes no âmbito da No Brasil, este avanço da atenção e da
Arqueologia e de sua relação com a socie- demanda por trabalhos de pesquisa arqueo-
dade. lógica em áreas ameaçadas de impacto por
Ao final da comparação entre as ma- empreendimentos, decorrem especialmente
térias publicadas na Folha de São Paulo das pressões legais, como a lei 3924/61, a
em 2000 e em 2006 ficou confirmada a Constituição Federal de 1988 e a Portaria no
expectativa de que a proporção de mais 230, de 17/12/2002, do IPHAN, que estabe-
matérias nacionais que internacionais vista lece procedimentos para compatibilização das
em 2000 não se confirmasse, pois já se fases de obtenção de licenças ambientais com
esperava que o chamariz maior daquele as da pesquisa arqueológica.
ano para matérias sobre arqueologia bra- Pelas matérias publicadas em alguns dos
sileira fosse o marco dos 500 anos e a mais importantes veículos da imprensa es-
Mostra do Redescobrimento. No geral, em crita brasileira, fica evidente que à legisla-
42
Fontes Bibliográficas
43
Periódicos
ANEXO 1
Mostra celebra Brasil 500 com 5.800 obras (07/01/2000) Parabéns para quem? (22/02/2000)
A saga de Ramsés e o preço do estrelato faraônico Evento exibe 6.500 obras no Ibirapuera (22/02/2000)
(08/01/2000) Sinagoga será centro de cultura judaica (28/02/2000)
Arranha-céu serve de fundo para ruína de Tiro (17/ SP ganha “oca mais bonita do mundo” (28/02/2000)
01/2000) Equipe encontra artefatos de 800 mil anos (03/03/2000)
Viagem pela Costa é volta ao passado (17/01/2000) USP quer idéias de uso para casa tombada (11/03/2000)
História é resgatada na terra e no mar (17/01/2000) Historiadores e aventureiros disputam sobra de
O verdadeiro Armageddon (30/01/2000) naufrágios (19/03/2000)
Arqueóloga diz que fósseis no Piauí podem ter 15 União tem posse de objetos (19/03/2000)
mil anos (10/02/2000) 500 anos de naufrágios (19/03/2000)
Descoberta em Recife primeira sinagoga (08/02/2000) A falha arqueológica do Brasil (19/03/2000)
Romanos passaram pela América (10/02/2000) Arqueóloga é a alma do parque (19/03/2000)
Ilhabela concentra 21 navios naufragados em sua Os sítios mais polêmicos do mundo (19/03/2000)
costa (12/02/2000) Masp festeja 100 anos de Bardi com mostra (23/02/
Lendas do mar viram realidade em Ilhabela (12/02/2000) 2000)
Paraná guarda últimos trechos da estrada indígena Masp acelera reforma para homenagear Bardi (25/
que cortava a América do Sul (20/02/2000) 02/2000)
Produtor rural preserva trilha (20/02/2000) Civilização luxuosa (25/03/2000)
Cabeza de Vaca usou caminho (20/02/2000) Mandioca e cerâmica colorida (25/03/2000)
44
Em busca de Maíra (25/03/2000) Cientistas estudam fóssil de réptil com penas mais
Como surgiram os tupis (25/03/2000) antigo que dinossauros (23/06/2000)
Como vivem os indígenas hoje (25/03/2000) Mostra do Redescobrimento faz workshop sobre
Brinque de arqueólogo (25/03/2000) conservação (25/07/2000)
O Bambi da pré-história (25/03/2000) Fortaleza do século 16 é descoberta na PB (26/07/2000)
Seis grupos que habitaram o Brasil (25/03/2000) Redescobrimento atinge marca de 1 milhão de visi-
Como é o trabalho do arqueólogo (25/03/2000) tantes em São Paulo (05/08/2000)
Montanhas de conchas (25/03/2000) Femina ludopedicus (08/08/2000)
Casas debaixo do chão (25/03/2000) Tapeçaria asteca é encontrada no México (09/08/2000)
Antes de o Brasil existir (25/03/2000) Gruta pode abrigar mapa astronômico de 16.500
Pé na estrada (25/03/2000) anos (10/08/2000)
Todo mundo morava junto (25/03/2000) Invenções no Brasil (12/08/2000)
Retrato molecular do Brasil (26/03/2000) Homem já saiu da África com tecnologia (12/08/2000)
Ossos e demografia desvendam desaparecimento Barcelona transpira diversão e arte (14/08/2000)
e domesticação (27/03/2000) Escavação tenta achar os alicerces do primeiro co-
‘Os objetos vieram de forma legal’ (02/04/2000) légio jesuíta no país (15/08/2000)
Evento analisa a arqueologia no país (14/04/2000) Iglus de barro emergem de aldeia soterrada (21/
Redescobrimento se faz com R$ 40 milhões e 15 mil 08/2000)
obras (19/04/2000) Búlgaros acham palácio de líder do século 3o a.C.
Artigo rebate tese sobre Kennewick (17/04/2000) (24/08/2000)
Pesquisadores estão pessimistas com a arqueolo- Brasileiros mergulham no Titicaca (26/08/2000)
gia brasileira (19/04/2000) Mostra chega à reta final (27/08/2000)
Oca (21/04/2000) Módulos irão para o Rio, Brasília, Europa e EUA (27/
Identificado corpo do filho de Felipe 2o (21/04/2000) 08/2000)
O lascador de pedras (22/04/2000) A segunda morte de Marajó (27/08/2000)
Oca de Niemeyer ganha cores indígenas (22/04/2000) Pesquisadores acham sítios em Ilhabela (29/08/2000)
Módulos e destaques da mostra (25/04/2000) Veneza também já afundou no passado (30/08/2000)
Cine caverna aborda arqueologia (28/04/2000) Como salvar São Marcos (30/08/2000)
‘Superdomingo’ em SP atrai 170 mil pessoas (01/05/2000) Em busca das raridades (01/09/2000)
Homem pré-histórico ia à praia (08/05/2000) Alemães descobrem observatório astronômico
Criticada, sinalização da exposição é toda refeita construído há 7.000 anos (02/09/2000)
(11/05/2000) Piauí tem pinturas rupestres em miniatura (04/09/2000)
Arte e história atraíram visitante da mostra (11/05/ Região teve duas escolas de arte em pedra (04/09/2000)
2000) ‘Isso aqui é um negócio’, diz Edemar Cid Ferreira
Conímbriga atrai pesquisador e turista (15/05/2000) (07/09/2000)
Oca do Ibirapuera recebe acervos do Beaubourg e Galeristas criticam cenografia do evento (07/09/2000)
do British Museum (20/05/2000) A mostra do deslumbramento (07/09/2000)
A fabricação das bestas (21/05/2000) Ruína na Guatemala revela nova face maia (10/09/2000)
Mostra temporária recria navios (22/05/2000) Redescobrimento termina em São Paulo hoje, às
Pesquisadores acham cidade de 6.000 anos (24/ 22h (10/09/2000)
05/2000) Mostra do Redescobrimento inicia ‘turnê’ pelo país
Urna funerária pode ter até 2.000 anos (27/05/2000) (11/09/2000)
Avião do escritor abatido em 1944 é descoberto No mundo (11/09/2000)
(29/05/2000) Egito encontra mais de 102 múmias (12/09/2000)
Dois museus podem conservar a peça (01/06/2000) Exploradores acham habitação humana vários
Livros tentam decifrar origens das receitas (09/06/2000) metros abaixo do mar Negro (13/09/2000)
Saiba mais sobre Zeugma (10/06/2000) Sítio turco pode explicar ‘dilúvios’ (14/09/2000)
Perda é das maiores do mundo, diz pesquisador Mais de 900 mil pessoas visitam Mostra do
(10/06/2000) Redescobrimento de graça (14/09/2000)
Egito salvou sítios arqueológicos nos anos 60 (10/ Chegada da National Geographic causa fim do
06/2000) Superstation (24/09/2000)
Turquia inunda tesouros gregos e romanos (10/06/2000) Cientistas iniciam caça a ‘filhos’ de Luzia (25/09/2000)
Neandertais eram carnívoros vorazes e exímios pre- Fóssil de 9.300 anos pode ser dado a índios (29/09/
dadores (13/06/2000) 2000)
Fabricação de tecidos ocorreu a 27 mil anos (16/06/ Sítio arqueológico é aberto ao público; Psicanálise é
2000) tema de lançamentos (03/10/2000)
Construção de hotel revela restos de aldeia (19/ Cultura traz a vida do homem das cavernas (08/10/
06/2000) 2000)
45
Revista Veja
Sexo à moda romana: exposição de arte erótica antigas cidades romanas com mosaicos de 2000
de Pompéia exibe aspecto menos conhecido do anos (17/05/2000)
cotidiano da cidade ressurgida das cinzas (15/ Ele queria ser rei: encontrado mausoléu do gover-
03/2000) nador egípcio cujo poder e riqueza rivalizavam
Tesouro nos trilhos: abertura do metrô de Atenas com os do faraó (31/05/2000)
desencava 10000 peças históricas e construções Mausoléu na selva: urnas antropomorfas revelam
milenares (22/03/2000) segredos de um povo amazônico extinto há mais
Construindo o passado: a França amplia seu de 300 anos (14/06/2000)
patrimônio cultural com a reconstituição de um Escola de profissões: as matérias que ajudam na
castelo medieval e uma fragata histórica (29/03/ orientação vocacional (23/08/2000)
2000) A fábrica de ouro: americanos encontram na Tur-
Eles eram assim: retratos mortuários que enfeita- quia os restos da primeira casa da moeda da His-
vam múmias revelam a fisionomia dos antigos egíp- tória (30/08/2000)
cios (05/04/2000) Indo água abaixo: pesquisa adverte que compor-
Impávido colosso: Mostra do Redescobrimento é a maior tas projetadas para proteger Veneza causarão
já feita no país, reunindo 15000 obras (26/04/2000) maior estrago (06/09/2000)
Entrevista: Christian Jacq – Nós e as múmias (10/ Mercado na selva: ruínas de palácio mostram que
05/2000) havia comércio, e não apenas guerra, entre as
História afogada: represa na Turquia vai inundar cidades maias (20/09/2000)
Os ‘homens do sambaqui’ foram dominados pelos Tenório, redigida por Pedro Paulo Funari. No 163.
tupis por volta do ano 1000? Eles teriam ensina- Brasil: colonização e resistência – matéria da série
do aos tupis as técnicas de pesca no mar, com Brasil 500, por Pedro Putoni. No 164.
canoas e redes? – Pergunta da leitora Isabel Um museu no cerrado – por Maya Mitre. No 164.
Roque, respondida pela arqueóloga Maria Dulce Os vegetais na vida dos sambaquieiros – por Rita
Gaspar. No 160. Scheel-Ybert. No 165.
O Brasil antes dos portugueses – resenha do livro Códice Costa Matoso – por Roberto Barros de Car-
Pré-História da Terra Brasilis, org. por Maria Cristina valho. No 167.
46
ANEXO 2
Grupo decifra antigo computador grego (30/11/2006) Pequim - 2008 encontra cemitério de eunucos (26/
Obras da BR-101 inutilizam sítio arqueológico em SC 07/2006)
(26/11/2006) Peru cultura e arqueologia (20/07/2006)
Com achados em estrada, ferrovia gera preocupa- Peru incita turista a garimpar sua história (20/07/2006)
ção (26/11/2006) Machu Picchu impressiona por estar dependurada
Os artefatos achados na BR-101 (26/11/2006) (20/07/2006)
Rodovia liga boa parte do litoral do país (26/11/2006) Trilha curta dribla excesso de companhia (20/07/2006)
‘Gordíssima’, capital da Bahia agrada a ‘crânios’ e Costa norte procura sua vocação em ruína arqueo-
praianos (23/11/2006) lógica (20/07/2006)
Mudança de porta faz público de museu multiplicar Tesouro de Sipán é ícone nacional, diz arqueólogo
(23/11/2006) (20/07/2006)
Estudo revela segredo de arma medieval (20/11/2006) Em feira, venda de peças (20/07/2006)
Figura asteca é uma das mais relevantes (20/11/2006) Mundo pré-incaico resiste na estrutura de Chan
Exposição traz tesouros de civilização peruana (18/ Chan (20/07/2006)
11/2006) Recém-descoberta, múmia pode mudar face da re-
Destaques da exposição (18/11/2006) gião (20/07/2006)
Caça ao tesouro (18/11/2006) Guidon diz que sai do Brasil em dezembro (08/07/2006)
Quem foi o Senhor de Sipán (18/11/2006) SC encontra sambaqui de 6.000 anos (04/07/2006)
Casas históricas são restauradas em SP (11/11/2006) Fatos fundadores (25/06/2006)
Prefeitura de São Paulo restaura casas históricas Conchas são ‘jóia’ mais velha do mundo (23/06/2006)
(11/11/2006) Tumba etrusca de 690 a. C é descoberta (22/06/2006)
Cérebro humano herdou gene neandertal, diz es- Figo da Palestina redefine data inicial da agricultura
tudo (10/11/2006) (02/06/2006)
Primo ‘bruto’ da humanidade também tinha dieta ‘Hobbit’ fazia ferramentas, diz cientista (01/06/2006)
variada (10/11/2006) Descoberta foi marco da antropologia (01/06/2006)
A distribuição de matrículas no ensino superior bra- Coluna Mônica Bergamo (15/05/2006)5
sileiro (23/10/2006) Amapá pode ter ‘observatório’ pré-histórico (13/
Reforma em capela traz passado colonial (20/10/2006) 05/2006)
Ruína arqueológica pára obra em Pequim (17/10/2006) Ruínas zapotecas se enfileiram por vale a leste de
Arqueologia metropolitana (06/10/2006) Oaxaca (04/05/2006)
A floresta dos homens (24/09/2006) Porto romano pára túnel na Turquia (03/05/2006)
Palácio inspirou livros e ópera de Mozart (21/09/2006) Dupla acha primatas mais velhos do país (24/04/2006)
Objetos da Terra Santa (21/09/2006) Onde fica (23/04/2006)
México já possuía escrita há 3.000 anos (15/09/2006) Painel do leitor (18/04/2006)
Genes apóiam nova hipótese sobre Luzia (09/09/2006) Painel do leitor (17/04/2006)
Os competidores atuais (09/09/2006) SP não preserva sua memória arqueológica (16/04/2006)
Energia e calma resumem vida à moda riojana (31/ Prefeitura diz que exige pesquisa prévia (16/04/2006)
08/2006) Empresa nega ter sido avisada sobre sítio (16/04/2006)
Grécia (17/08/2006) A esfinge faz plástica (15/04/2006)
Pôr-do-sol de Oía guia turista até a ponta da ilha Mania de grandeza (15/04/2006)
(17/08/2006) Fóssil traça elo entre ancestrais humanos (13/04/2006)
História se infiltra no dia-a-dia de Atenas (17/08/2006) Após incêndio, casarão é reerguido em Ouro Preto
Porto de fábulas justifica breve visita (17/08/2006) (12/04/2006)
Fachada simples esconde saga de coleção (17/08/2006)
Imponente, Acrópole paira acima de Atenas (17/08/2006)
Jovens do Cumbe retomam sua tradição (03/08/2006)
Pirataria à deriva (30/07/2006)
Pântano irlandês revela livro de salmos com 1.200 (5) Refere-se à mostra “Por Ti América”, no CCBB -
anos (26/07/2006) SP,- com 250 peças arqueológicas de sete países
47
Casarão destruído é reerguido em Ouro Preto (12/ Arqueólogo mapeia e fotografa a arte da Pré-histó-
04/2006) ria na Bahia (15/10/2006)
Jesus pediu traição, diz Evangelho de Judas (07/ Relíquia do leste (31/08/2006)
04/2006) Desenhos ou letras? (07/08/2006)
‘Dentistas’ podem ter atuado há 9.500 anos (06/ Antes de falar, neandertal criou rave (11/06/2006)
04/2006) Em evento raro, novo sarcófago é achado no Vale
Histórias do subterrâneo (19/03/2006) dos Reis, Egito (05/06/2006)
A caminho das cinzas (12/03/2006) Arqueólogos acham múmia tatuada (17/05/2006)
Ilha de Páscoa teve ‘civilização-relâmpago’ (10/03/2006) Roma e Pavia desfizeram-se um dia (29/03/2006)
Peru quer ir à Justiça por acervo de Machu Picchu A ciência do falso testemunho (15/01/2006)
(06/03/2006) Caboclo da Amazônia está no limiar da subnutrição
Museu do Ipiranga exibe acervo do dono do Banco (27/11/2006)
Santos (05/03/2006) Arqueóloga que escreveu sobre o véu é absolvida
América do Sul tem milho há 4.000 anos (02/03/2006) (02/11/2006)
Estudo vê elo entre a Peste Negra e onda de frio Roma ibérica (02/10/2006)
que mudou clima do planeta (28/02/2006) Caras-pintadas (26/09/2006)
Sítios pré-históricos seqüestram carbono (21/02/ Exposição faz uma jornada à Antigüidade (18/08/2006)
2006) São Paulo recebe exposição sobre deuses gregos
Novo túmulo no vale dos Reis assombra arqueólo- com 200 esculturas (17/08/2006)
gos (11/02/2006) Conciliação egípcia (08/06/2006)
Segredo do deserto (11/02/2006) Mostra busca visão comum da América antes de
É grátis (10/02/2006) Colombo (16/05/2006)
Ötzi era infértil, diz estudo de DNA (04/02/2006) ‘1421’: eram os chineses astronautas? (02/12/2006)
Pintura sugere que China pode ter inventado o es- Camboja (23/11/2006)
qui (24/01/2006) Distâncias se encurtam em Sergipe (16/11/2006)
Estudo de DNA diz que tifo era a praga de Atenas No sertão, cânion transmite sensação de alma la-
(24/01/2006) vada (16/11/2006)
ONG faz resgate de relíquias do mar (22/01/2006) Museu arqueológico guarda 55 mil peças (16/11/
Leme de 300 anos é tirado do fundo do mar (22/01/ 2006)
2006) Ibama pára obra ferroviária do governo Lula (18/
Patrimônio submerso está vulnerável (22/01/2006) 10/2006)
Outros programas que levam ao passado (20/01/ Obra danifica rede colonial de água em Diamantina
2006) (13/10/2006)
Casa de Edemar não deve mais virar museu (12/01/ SP quer tombar Palácio dos Bandeirantes (28/09/2006)
2006) Mulas ajudam a chegar ao topo de Fira, quase 600
Achado revela que maias tinham hieróglifos em tem- degraus acima do cais (17/08/2006)
pos antigos (06/01/2006) Cancún hippie (04/06/2006)
Peru tem irrigação mais velha das Américas (05/01/ Estação lunar (21/05/2006)
2006) Ruínas zapotecas se enfileiram por vale a leste de
Americana tem nova tese sobre ‘amazonas’ (03/01/ Oaxaca (04/05/2006)
2006) Lastarria é refúgio familiar dos fins de semana
Teoria propõe ocupação densa na pré-história (03/ santiaguinos (20/04/2006)
01/2006) Aromas do bosque (23/03/2006)
Floresta esconde ruínas do século 18 no litoral Teotihuacán atrai turista desde os astecas (09/
paulista (01/01/2006) 02/2006)
48
49
a) Ambiente físico: agua, suelo, paisaje, etc. • El adecuado tratamiento y manejo del
patrimonio arqueológico (Gestión Integral
b) Ambiente biótico: fauna, flora, biota
sensus Amado et al. 2002) es compatible
acuática, etc.
con el desarrollo económico del país. La
c) Ambiente antrópico: población, existencia de un sitio arqueológico en un
actividades, usos del suelo, sitios de área determinada no imposibilita habitu-
interés histórico y cultural. (Diario Oficial almente el desarrollo de otras actividades.
Nº 24/145 1994).
• Los EIArq frecuentemente se enmarcan
La Ley de Medio Ambiente y el Decreto dentro de la práctica liberal de la
Reglamentario han contribuido a generar un profesión. Con ello se entiende el
gran crecimiento en lo referente al: campo ejercicio de una actividad intelectual
laboral del arqueólogo, al conocimiento de profesional sin vínculos estables con
nuevas áreas y a la profundización de personas o instituciones para la prestación
información en áreas ya conocidas. Este de servicios. Las relaciones laborales
crecimiento no ha sido acompañado por un cesan al concluirse el acto profesional y
cambio específico en la administración pú- donde la obligación asumida por parte
blica ni en el accionar de los profesionales del profesional tiende a obtener un de-
involucrados. Lo expuesto lleva a la necesaria terminado resultado, en un tiempo y a
reflexión crítica sobre la situación actual del un costo pactado entre los involucrados.
campo laboral en arqueología, haciendo es- Ello implica también la responsabilidad
pecial hincapié en los procedimientos éticos frente a los actos realizados en un EIArq.
y metodológicos, en el rol de los organismos
• Se concibe al EIArq como un proceso
fiscalizadores (Comisión del Patrimonio Cul-
continuo en el que interrelacionan arque-
tural de la Nación-CPCN, Dirección Nacional
ólogos y empresas, y como una parte más
de Medio Ambiente-DINAMA, Dirección Naci-
del proyecto de construcción durante su
onal de Minería y Geología-DINAMIGE) y de
fase de diseño y planificación, lo que evita
los profesionales que actúa sobre el
los problemas de mayor gravedad en
Patrimonio Arqueológico.
momentos ulteriores de la ejecución del
proyecto (Criado et al. 2004).
Marco Conceptual • Entre los objetivos de un EIArq se deben
encontrar:
Para comenzar a plantear algunos de los
a - Diagnosticar, prevenir, mitigar, corregir
puntos de este trabajo, parece conveniente
y/o compensar el impacto sobre el
primeramente mencionar los principios de los
Patrimonio Arqueológico, revirtiendo los
que se parte para desarrollar el tema de la
efectos negativos mediante la producción
Arqueología de Contrato llevada a cavo a tra-
de conocimiento de relevancia científica
vés de los Estudios de impacto arqueológico
y social.
(EIArq de aquí en adelante). Algunos de estos
principios son: b - Dar soluciones a problemas específi-
cos relacionados con proyectos de
• Entender al Patrimonio Arqueológico
desarrollo o actividades económicas.
comprendido en tres dimensiones: como
objeto real, como documento de las socie- c - Gestionar de forma Integral el
dades pasadas y como recurso de las soci- Patrimonio Cultural y que ese Patrimonio
edades actuales (sensus Criado 1996). Ello no sufra significativas alteraciones a tra-
implica tener que gestionarlo de forma in- vés del desarrollo de diferentes
tegral: inventariarlo, describirlo, analizarlo, emprendimientos económicos y procesos
valorarlo y difundirlo (Criado 2003). de modernización.
50
Tabla 1
Arqueología Aplicada o de Contrato Arqueología Académica
Investigaciones en Obras Públicas/Privadas nvestigación en General
Arqueología como disciplina para la gestión Arqueología entendida como disciplina
del patrimonio arqueológico (Barreiro independiente del contexto social en que se
2005:22). genera o sólo unida a él por el cordón umbilical
de las aulas universitarias (Barreriro 2005:22).
Tiempos Cortos para desarrollar las actividades. Tiempos Largos para desarrollar las actividades.
Rigurosidad metodológica.
51
• Los EIArq generan el crecimiento del 2 colecciones de objetos y 13 sitios con arte
campo laboral del arqueólogo, del rupestre (Registro de Monumentos Históri-
conocimiento de nuevas áreas y de la cos Nacionales 2006) (Gráfico 1).
profundización de información de áreas Evidentemente el inventario presenta un
ya conocidas. vacio en la representación de la prehistoria
del territorio producto de la época en el que
el mismo se realizó (amparado en la
Situación actual historiografía oficialista en donde los bienes
patrimoniales debían corresponderse con la
El Patrimonio de Uruguay no posee aún identidad colonial blanca). En dicho contexto,
el amparo legal, administrativo ni científico mediados del S. XIX, la nación va tomando
necesario para que se pueda Gestionar de forma mediante la adopción de estrategias y
forma integral (inventariar, describir, analizar, valores provenientes de Occidente (Verdesio
valorar y difundir). Una de las herramientas 2004). Ese vacio en el inventario, se
indispensables y básicas para gestionar el correspondería a un olvido del pasado, que
Patrimonio son los inventarios. En este sen- bien podría comenzar a completarse a través,
tido, Uruguay cuenta con la Ley de Patrimonio entre otras, de la información generada por
14.040 de 1971 que establece, entre otras los EIArq y el interés de la administración y los
cosas, la necesidad de realizar y publicar el profesionales involucrados en los mismos.
inventario del patrimonio histórico, artístico Con la finalidad de observar el estado de la
y cultural de la nación (Diario Oficial Nº 18667 práctica liberal en Uruguay y comenzar a
1971). Interesa resaltar como esta confor- inventariar información arqueológica, se hizo una
mado ese inventario: el mismo cuenta con revisión de informes de EIArq que se encontraban
76% de bienes de la época histórica y colo- en el Departamento de Arqueología de la
nial, 23% de la época histórica moderna y Comisión del Patrimonio Cultural de la Nación
1% de bienes prehistóricos compuestos por (CPCN) – Ministerio de Educación y Cultura.
52
53
Grafico 4. Se observan los tipos y cantidad de obras en las cuales se han centrado
los EIArq entre el año 1996 y 2004.
54
observado que los criterios de evaluación de igual para todos los EIArq, al uso de criterios
los informes presentados, así como los dispares en las evaluación de los EIArq y las
criterios de la administración para abordar irregularidades generadas por algunos
los mismos, son muy dispares. Por ejemplo, individuos en el manejo de asuntos de
en la Tabla 2 se puede observar resumida- injerencia exclusiva de la CPCN y el profesional
mente datos de algunos informes en los que actuante. Asimismo, el mal manejo conceptual
se presentan evidencias de materiales arque- de la actividad arqueológica en un estudio
ológicos y no se hace mención de sus carac- de impacto lleva a la errónea concepción de
terísticas, lugar donde se encuentran depo- que un sitio arqueológico es un obstáculo para
sitados, ni recomendaciones mínimas (me- el desarrollo de actividades productivas. Esta
didas correctoras). De forma contraria, en concepción ha generado la errónea conclusión
otros EIArq se presentan las características de que la existencia de un sitio arqueológico
de la cultura material hallada y una serie de en un área específica imposibilita el
recomendaciones. Esta disparidad genera desarrollo de cualquier actividad productiva.
problemas prácticos importantes y redundan No obstante, existen profesionales que
en contra de la calidad de los trabajos en consideran que el adecuado tratamiento y
directo perjuicio del patrimonio cultural. manejo del recurso arqueológico es compatible
Como se observa en la Tabla 2, los in- con el desarrollo económico del país.
formes relevados involucran el período La inexistencia de asociaciones profesionales
comprendido entre 1996 y principios del fuertes y protocolos para abordar los EIArq,
2005; desde la fecha aún no se ha generado entre otros factores, hace que algunos sujetos
el interés, esfuerzo y compromiso conjunto con su accionar generen perjuicios importantes
de los profesionales mediante un consenso sobre el patrimonio cultural, el organismo
en lo referente a modelos de trabajo, fiscalizador y el nuevo campo laboral arqueoló-
metodologías de valoración, herramientas gico. Conjuntamente con ello, al no poseer el
practicas, qué hacer y cómo hacerlo. Es así organismo fiscalizador bases claras e iguales
que se suscitan graves problemas (ver Ex- para tratar todos los EIArq el funcionamiento
pedientes 0557/01, 0742/02, 0609/05 y 0122/ liberal del ejercicio se convirtió ya en libertinaje,
06, 0123/06 entre otros) como ser: es decir en la perdida total de responsabilidad
frente a los actos realizados.
- Informes de Evaluación de Impacto Ar- Cabe mencionar, que gran parte de la pro-
queológico sin las mínimas propuestas blemática enunciada también se debe a que
de medidas correctoras, muchos arqueólogos de los que hoy se dedican a
- Informes que pudieron realizarse sin estudios de impacto no se han formado en dicha
que necesariamente el arqueólogo actividad, ni han procurado actualizarse median-
tuviera que trasladarse a campo, te los cursos impartidos sobre el tema en la
Facultad de Humanidades y Ciencias de la
-I nformes realizados y evaluados por par- Educación. Este quehacer arqueológico ha sido
te de un mimo individuo (juez y parte), tomado como mero generador de capital sin con-
siderar que desde hace años se imparten en va-
- Controles realizados por la CPCN sin
rias partes del mundo cursos de grado y postgrado
aviso previo a los responsables de los
específicos a nivel teórico-metodológico para
EIArq generando la inspección a lugares
abordar estudios de esa naturaleza.
equivocados, entre otros.
Las problemáticas enunciadas se han
credo debido a la ausencia de estándares que Propuesta
establezcan al menos algunos lineamientos
metodológicos y técnicos para los EIArq, a la De acuerdo a las problemáticas
ausencia de un control de gestión efectivo e planteadas y considerando que Uruguay no
55
56
Evidencias arqueológicas
Nº Departamento Medidas de
Año Tipo Obra Depósito
0762/01 2001 Artigas Zanja Minería - Sitios Tipo Análisis lítico ? Delimitar Zona
delos Talas Piedras semi en capa Protección
preciosas Intervenciones
56
0017/03 2003 Canelones Minería – Material Análisis lítico Museo Nacional Prospección
San Jacinto Caliza superficie y Historia Natural y Intensiva
estratificado Antropología Intervenciones
0620/04 2004 Colonia Puerto Material Sin análisis ? Seguimiento /
Barrancade cerámico sin Evaluación
los Loros Subacuática
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 3, 2008.
02/07/2009, 12:39
0837/01 2001 Maldonado Emisario Sondeos
Punta Salinas Subacuático
0639/00 2000 Montevideo Puerto Construcciones Seguimiento /
Punta Sayago Históricas Conservación
0050/04 2004 Río Negro Planta
M. Bopicua Celulosa
Tabla 2 (cont.)
Evidencias arqueológicas
Nº Departamento Medidas de
Año Tipo Obra Depósito
57
subacuáticas
0741/03 2003 Rivera Minería - Sin evidencias Sin Medidas
San Gregorio Aurífero Correctoras
0026/03 2003 Rivera Zapucay Minería - Estructuras Zona de
Aurífero históricas Exclusión
0079/04 2004 San José Mineía - Sin vestigios Mantener
Sierra Mahoma Granito Distancias e
Integridad
afloramientos
0595/02 2002 San José Minería - Material en Análisis lítico Museo Nacional Seguimiento
Delta del Tigre Arenas superficie y cerámico Historia Natural y
Antropología
0551/00 2000 San José Minería - Material Análisis lítico ? Intervenciones
Playa Pascual Arenas estratificado previa obra
0742/02 2000 San José Minería - Das áreas Análisis Museo Nacional Intervenciones
02/07/2009, 12:39
Santa Lucia Arenas de interes cerámica Historia Natural y y exclusión de
Antropología un área
0080/03 2003 San José Km 31 Minería – Sin material ? Sin Medida
Arenas Correctora
0543/02 2002 San José Granjas Sin evidencias ? Seguimiento
Playa Pascual Marítimas
Irina Capdepont Caffa
57
¿Actividad liberal o libertinaje? La práctica laboral en la Arqueología de Contrato en Uruguay
Tabla 2 (cont.)
58
Evidencias arqueológicas
Nº Departamento Medidas de
Año Tipo Obra Depósito
58
0475/04 2004 Treinta y Tres Minería - Material Análisis lítico Comisión Nacional Control y
Aº Yerbal Caliza superficie del Patrimonio Seguimiento
estratificado
1997 Subacuática
1999 Colonia Puerto
0385/01 2001 San José Sierra Bodega y Lítico Analizado Seguimiento /
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 3, 2008.
02/07/2009, 12:39
Santa Clara Arcilla superficial
0324/02 2002 Montevideo Playa Estructuras Análisis Intervenciones
Punta Sarandí Contenedores históricas
En la tabla se presentan algunas de las informaciones que se relevan de los EIArq presentados ante la CPCN.
¿Actividad liberal o libertinaje? La práctica laboral en la Arqueología de Contrato en Uruguay
Irina Capdepont Caffa
cuenta con planes de Gestión Integral del período de realización y el presupuesto del
Patrimonio Arqueológico, el modelo de mismo.
procesos de trabajo que se presenta se basa • Generación de un Proyecto Arqueológico
en la propuesta realizada por el grupo del – Por un lado, debería incluirse en el Proyecto
Laboratorio de Arqueoloxía da Paisaxe del una ficha técnica en la que se especifique el tipo
Instituto de Estudos Galegos Padre Sarmiento de actuación a realizar por el emprendimiento,
(CSIC – Xunta de Galicia). Esta propuesta se tipo de actuación arqueológica, zona geográ-
considera como un instrumento base para fica de la actuación, equipo técnico de la
comenzar a lograr una efectiva y dinámica actuación, periodo de realización, empresa
gestión del patrimonio. La propuesta se base contratante y presupuesto de la misma. Por
en que todo programa de investigación, otro, se resumen los objetivos del proyecto,
incluidos los EIArq, debe abordar, en todas se realiza la descripción geográfica de la zona
sus fases, los diferentes procesos de trabajo: de trabajo, se plantea la problemática
catalogación, valoración, intervención y patrimonial de acuerdo al relevamiento de
puesta en valor (Criado 1996ª). antecedentes, la metodología y el plan de
Se considera que sin una gestión efectiva trabajo a llevar a cabo. Asimismo, se
y eficaz los trabajos de EIArq seguirán sin presenta el equipo técnico participante.
cumplirse con los requisitos mínimos que • Estudio Arqueológico - Localización de
involucra un estudio de estas características sitios conocidos y sin conocer, registrados por
y se continuará con el libertinaje en la medio de prospecciones (prospección directa
actividad arqueológica; perjudicial en primera superficial extensiva e intensiva y prospección
instancia para el Patrimonio. Las fases de directa subsuperficial), fichas de registro y
trabajo que se presentan de manera fotografías que posteriormente serán siste-
esquemática (ver Amado et al. 2002, Barreiro matizadas y analizadas al igual que la cultu-
2002, Cacheda 2004, Criado et al. 2004, en- ra material relevada.
tre otros) intenta contribuir a la gestión de • Valoración del impacto – Se realizar un
los EIArq y apuesta a un cambio en el diagnostico de los impactos que el proyecto
accionar de los profesionales involucrados en genera sobre el patrimonio de la zona. Im-
los mismos (Tabla 3). pacto existe cuando hay una afección dentro
del entorno de un sitio u área de interés
Fase de Estudio y Evaluación patrimonial. Para determinar el entorno de
afección, hay que diagnosticar el tipo de im-
Se entiende que esta fase de estudio y pacto a generarse.
evaluación del impacto que producirán diver- • Plan de corrección – Según el diagnostico
sos emprendimientos debe considerar los de impacto se proponen las medidas
siguientes puntos: correctoras a llevar a cabo.
• El objetivo principal en esta fase debería
ser diagnosticar, prevenir, mitigar, corregir Fase de Corrección
y/o compensar el impacto, revirtiendo los
efectos negativos mediante la producción de En fase de corrección de impacto debe
conocimiento. considerarse:
• Realización de una Oferta de Trabajo- Para • Entre los objetivos se encuentran: contro-
ello es necesario conocer los bienes lar que se adopten las medidas correctoras
culturales del área, la documentación técni- especificadas en la fase anterior; realizar la
ca del proyecto de obra, su localización, inspección de la obra y las remociones de
extensión y conocer los plazos con los que tierra para documentar la aparición de enti-
se cuenta. En función de esa información, se dades arqueológicas no previstas y poner en
plantea el trabajo, el equipo de personas, el practica las acciones previstas en fase de
59
Tabla 3
Fase
Etapa Finalidad Actuación
Proyectode obra
Identificación de los
elementos patrimoniales
• Estudio Cartográfico
• Consultas Bibliográficas
Identificar los elementos • Prospecciones intensivas y
patrimoniales y su entorno extensivas Identificar en
de protección. proyecto de obra:
• Descubrimiento • Agentes (infraestructuras,
• Localización instalaciones, etc) Previas al proyecto
• Descripción • Acción (actividades definitivo o en fase
• Documentación concretas que generan el de ejecución
• Estudio impacto)
EVALUACIÓN • Valoración • Afección (modificaciones del
• Difusión de los bienes medio físico – destrucción-
patrimoniales alteración-distorsión)
• Momento del impacto
(identificar fase de proyecto
en donde el impacto se
hará efectivo)
Diagnosticar el impacto
• Crítico - desaparición total o parcial
• Severo - grado menor de gravedad
• Moderado - riesgo elativo (visual)
• Compatible - inexistencia de riesgo
Compensar el impacto
producido mediante un Medidas Compensatorias Fase de ejecución
valor agregado (plus de • Excavaciones fase posterior
conocimiento).
60
estudio y evaluación para corregir, paliar, das con la gestión del impacto sobre el
mitigar o compensar en el impacto. patrimonio cultural, con la finalidad de con-
• Esta fase también incluye una oferta y un tribuir a una normalización de la actividad
proyecto arqueológico de control y seguimiento arqueológica. La gestión idónea del Patrimonio
de obra. debería ser aquella que estableciese al me-
• Se llevan a cabo nuevas tareas de campo nos criterios fundamentales para poder de-
en la cual se constata que el proyecto de obra cidir: que es lo que puede ser preservado
se corresponda con el proyecto evaluado y (entendiéndose ello en una situación extre-
se realizan nuevas actividades de prospección ma, convengamos que no se puede parar la
en las que se pueden detectar nuevas economía y desarrollo de un país para pre-
incidencias sobre bienes culturales. servar todo lo que es evidencia cultural, por
• Se hacen visitas periódicas e informes ello la necesidad de un inventario que per-
puntuales. En la fase de control y seguimiento mita valorar los bienes); cuáles son las áre-
se inspeccionan los nuevos perfiles expuestos, as que deberían ser intervenidas por medio
las escombreras y el entrono de los elemen- de excavaciones arqueológica; ponerse de
tos ya documentados en las zonas de riesgo acuerdo en que se entiende por sitio o
o potenciales. yacimiento arqueológico (si una pieza aislada,
• El informe final generado es el valorativo, varias piezas dispersas, agregaciones parci-
en el que se incluyen las fichas de inventario almente discretas de piezas, etc); hasta que
arqueológico, la ubicación del depósito de los punto la identificación del patrimonio arque-
materiales y se produce la Memoria técnica ológico significativo podría alterar o impedir
final del Proyecto General. la implementación de un emprendimiento
económico, entre varios temas más.
Considerar las dos etapas de trabajo
Algunas reflexiones expuestas anteriormente como requisitos
mínimos para abordar estos tipos de
Primeramente considerar que el intento estudios, podría ser la base para la creación
por contribuir a establecer al menos algunos de un programa que articule y consensue,
criterios, metodologías y sistemas de regis- los intereses implicados comprendiendo to-
tro de la información, así como contribuir al das las situaciones eventualmente pasibles
inventario patrimonial, es uno de los caminos de registro y ulterior análisis. Asimismo,
que algunos arqueólogos hemos estamos pueden ser tomadas para llegar a un con-
intentando generar y seguir. Se considera que senso respecto a las medias de mitigación,
ello contribuiría a la consolidación de la rescate o interdicción de a cuerdo a los
actividad arqueológica necesaria para llevar hallazgos oportunamente efectuados. De esta
adelante una política que promueva el forma no solo se lograría un consenso entre las
crecimiento económico y valore la generación partes intervinientes sino que le proporcionaría
de conocimiento sobre el pasado. a la CPCN un mecanismo expeditivo e impar-
Con ello se esta pretendiendo cooperar cial para expedirse en tiempo y forma
en la resolución de la controvertida relación respecto a los informes y a la actuación de
entre dos tipos de intereses (progreso socio- los profesionales involucrados en los EIArq.
económico y bienes cultura) que involucran Dada la situación con la que nos encon-
diversos actores. Es por ello que se hace tramos en Uruguay, merece intentar articular
entonces necesaria la participación, el diálo- planes de gestión del patrimonio que incluyan
go y el planteo de alternativas, por parte de la atención a sus funciones metodológicas y
la administración, propietarios, arqueólogos, cognitivas, estableciendo criterios y
consultores y empresarios, entre otros. Se procedimientos para la identificación,
hace necesario que entre esas alternativas caracterización y valoración de los bienes
se consideren las metodológicas relaciona- patrimoniales. La tarea de mejorar este es-
61
Bibliografía
62
63
64
65
CIDADE ATUAL
DESENVOLVIMENTO URBANO
Segunda Gaveta
Terceira Gaveta
MACIÇO ALCALINO
DE POÇOS DE CALDAS MG
Quarta gaveta
Quinta Gaveta
COMPLEXO
ARQUITETÔNICO
66
67
68
69
Para a segunda etapa, realizamos uma Nessa foi realizada a parceria com o Mu-
Ação Cultural4 destinada para professores seu Histórico e Geográfico situado na cidade
da rede pública e possuiu o objetivo de di- de Poços de Caldas Sul de Minas Gerais.
vulgar as riquezas regionais, educando os O projeto inseriu o processo de musealição,
cidadãos, sensibilizando-os para a necessi- pesquisa, comunicação, preservação e arte.
dade de preservação do patrimônio histórico Segue abaixo o plano de Ação Cultural
através do processo de releitura do ambien- destinado para professores da rede pública,
te natural. nas zonas rurais e urbanas.
70
71
72
Sugestão Didática 02
CAÇA-PALAVRAS
INVENTARIAR
TOMBAMENTO
CONSERVAÇÃO
CONSOLIDAÇÃO
RESTAURAÇÃO
ALORIZAÇÃO
REUTILIZAÇÃO
73
Sugestão Didática 03
RECORTE E COLE
74
Sugestão Didática 04
JOGO DA MEMÓRIA
Consiste em cartas com fotos dos pre- com a frente voltada para baixo. O jogador
feitos da cidade de Poços de Caldas MG, que desvira duas cartas. A cada par feito, o jo-
atualmente são nomes em espaços públicos. gador retira as cartas. Ganha o jogo quem
As cartas deverão ser colocadas lado a lado fizer maior número de pares.
75
Sugestão Didática 05
O aluno (a) deverá observar atentamen- objeto moderno. Para essa atividade sugeri-
te as imagens de objetos antigos, depois re- mos os folhetos de propaganda distribuídos
cortar e colar no lugar indicado o mesmo em lojas.
76
Sugestão Didática 06
77
78
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Ação Cultural 01
79
Ação Cultural 02
Ação Cultural 03
80
81
em identidades culturais, nada é mais falso vocalizando identidades nacionais. Por meio
do que o adágio clássico do liberalismo: qui- da cultura material, forneceu matéria-prima
eta non movere – não se deve tocar no que palpável para a elaboração de símbolos na-
está quieto (Foucault 2004: 3). Se as insti- cionais e vinculações ancestrais (Atkinson et
tuições estão em repouso, se nada se abala all 1996). Estabeleceu as regras de uma gra-
ou subleva, se não há descontentamento ou mática da pertença, incutindo nas comuni-
revolta, deixemos tudo como está. Entretan- dades o sentimento de pertencimento a uma
to, no tocante à definição de identidades cul- nação e a um território nacional.
turais, sobretudo quando elas se reportam à A Arqueologia também foi prolífico ins-
Arqueologia e ao patrimônio cultural, nada trumento do colonialismo. Sem dúvida, ao
está quieto, mas em ebulição. Elas se mo- lado do nacionalismo e do imperialismo, o
vem em mar agitado. Não transcendem o colonialismo esteve entre os mais importan-
mundo cotidiano, mas sim infundem noções de tes fatores estruturais da Arqueologia (Trigger
governamentalidade e inculcam normas para o 1984). As pesquisas arqueológicas foram en-
governo de populações (Bhabha 1994). São, tusiasticamente endossadas pelas potências
portanto, fontes perenes de combatividade. coloniais da Europa por meio da organiza-
Assim, argumento aqui que a Arqueolo- ção de museus e explorações científicas
gia comunitária, como uma das vertentes da (Lyons e Papadopoulos 2002: 2). Compassa-
pesquisa arqueológica mundial, está cons- das com os levantamentos topográficos e
tantemente sob fogo cruzado. Primeiro, por- descrições geográficas, as pesquisas arque-
que ela (e o mesmo aplica-se aos demais ológicas adentraram o “Coração das Trevas”;
campos de trabalho em Arqueologia) não timbraram os territórios nativos com a noção
pode furtar-se de um legado duradouro: as de terra nullius (terras que não pertencem a
relações históricas que a disciplina manteve ninguém), isto é, classificando-os como espa-
com o nacionalismo e o colonialismo. Segun- ços plenamente selvagens, demograficamente
do, porque ela, para firmar-se como gênero vazios, esparsamente povoados por grupos
de pesquisa, deve enfrentar as ambivalências “bárbaros” e “primitivos” (Wobst 2005). O
das políticas de representação do patrimônio que permitiu concebê-los como sujeitos de
cultural. Contudo, seus métodos, que apre- evicção de Direito, legitimando-se, assim, o
sentarei no tópico final deste artigo, podem colonialismo (Patterson 1997).
trazer uma série de benefícios, tanto para Como diria Johannes Fabian (1983), os
as comunidades quanto para a interpreta- contatos entre arqueólogos e antropólogos
ção arqueológica. metropolitanos e comunidades do mundo
colonial caracterizaram-se pela “negação da
contemporaneidade”: os povos nativos, como
Equação da Distância e Outro cultural, foram colocados num tempo
Gramática da Pertença diferente àquele do observador, que seria
representante do progresso e da evolução;
A Arqueologia comunitária percorre a essa equação da distância redundou na clas-
esteira do movimento crítico aos modelos sificação dos povos nativos como essencial-
normativos de cultura, que definem identida- mente “primitivos” e congelados no tempo.
des culturais como estanques e ontologicamente Durante o século XIX e mesmo até meados
fechadas. Insere-se na margem oposta das dos anos 1950, essa taxonomia fundou-se,
correntezas políticas que constituíram histo- ademais, nas escavações arqueológicas. Pois
ricamente a Arqueologia. Herdeira do nacio- os depósitos arqueológicos “mostravam” que
nalismo e do imperialismo do século XIX os ancestrais dos atuais “primitivos” usavam,
(Díaz-Andreu 2007), a Arqueologia esteve a basicamente, os mesmos tipos de ferramen-
serviço do Estado (Kohl e Fawcett 1995, Fowler tas e organizavam-se em estruturas sociais
1987). A Arqueologia institucionalizou-se fundamentalmente semelhantes.
82
83
84
85
dicionalmente trabalha com o lixo, com os e destruição lhes fossem naturais e ineren-
restos deixados por outras sociedades e que tes, e não produtos das escolhas de como
se depositaram nos arquivos da terra. Se o preservar e para quem preservar. Destrui-
lixo tem e pode ter valor simbólico, também ção e perda não são imanentes ao patrimônio
os artefatos e monumentos, por meio dos cultural. Resultam das seleções deliberadas
quais se interpreta e representa o passado das políticas de representação. É preciso lem-
ou o presente, apontam significativamente brar, como o fez recentemente Jody Joy
para as escolhas seletivas que constituirão o (2004), que artefatos e monumentos só se
patrimônio cultural. tornam significativos quando são cultural-
Isso fica claro, por exemplo, nas discus- mente constituídos como tais. As relações
sões dos arqueólogos especializados em res- sociais não se dão simplesmente entre pes-
tauro de artefatos. Em seu trabalho rotinei- soas e grupos; elas sempre envolvem arte-
ro, o arqueólogo restaurador altera fisica- fatos. Assim, as relações sociais entranham-
mente os artefatos em nome da preserva- se na materialidade. A cultura material, por-
ção. Foca-se, em geral, nos métodos físico- tanto, não é apenas um adendo epidérmico
químicos para a preservação dos artefatos da sociedade, mas pulsa no coração da vida
(Cf., p. ex: Applebaum 1987, Caldararo 1987), social (Thomas 2005). Assim é que a pre-
e não nas culturas que no-los criaram e con- servação do patrimônio cultural, ao contrá-
tinuam, algumas vezes, a usá-los. Esse índi- rio do que comumente se pensa, não é ape-
ce seletivo da conservação arqueológica é nas para o futuro, mas, sobretudo, para o
devotado a garantir a longevidade e essên- presente, para o aqui e agora, pois ele ocu-
cia dos artefatos (cf., p. ex: Silverm & Parezo pa lugar central nos processos de socializa-
1992). Contudo, a escolha sobre o que e ção e conflitos sociais.
como conservar, como diz Glenn Wharton Se isto é claro no que se refere aos cri-
(2005), afeta irremediavelmente nossa per- térios de restauração arqueológica, torna-se
cepção sobre a cultura material exibida nos ainda mais transparente em alguns enuncia-
museus. Por meio de suas intervenções, o dos da Arqueologia de contrato e das
arqueólogo restaurador imprime os valores metodologias arqueológicas de campo. Como
e padrões ocidentais na cultura material dos notaram Ian Hodder e Asa Berggren (2003)
povos indígenas (Johnson 1993, 1994). Ins- a respeito da Arqueologia de contrato que
taura, portanto, suas próprias premissas cul- se faz em boa parte do mundo, esta, além
turais nos artefatos, perpetuando-as. Como de não atentar para o lugar social dos ar-
afirma Miriam Clavir (1996), o resultado des- queólogos, seccionam em fases distintas os
tes critérios unilaterais e seletivos da con- processos de escavação e interpretação dos
servação arqueológica é que os povos indí- sítios arqueológicos. Mas este não é o único
genas e, de um modo mais abrangente, as problema. Em seu furor para “resgatar” e
comunidades locais, são majoritariamente preservar artefatos para o futuro, a Arqueo-
alijadas dos processos de interpretação e das logia de contrato, animada por espírito
políticas de representação do patrimônio cul- salvacionista, tem se inclinado para a des-
tural (Clavir 1996). truição planejada de sítios. Em alguns dos
Poder-se-ia com razão argumentar que setores mundiais da Arqueologia de contra-
não há como restaurar um artefato sem to, é perfeitamente aceitável que arqueólo-
adulterá-lo. Ou ainda, como o faz Cornelius gos destruam propositalmente sítios, desde
Holtorf (2006), que destruição não é antíte- que façam registros detalhados dos contex-
se de preservação e da idéia mesma de tos de deposição dos artefatos e que os or-
patrimônio cultural, tanto mais na “Era do ganizem em reservas técnicas para pesqui-
terrorismo”. Mas tal argumento essencializa sas futuras (Lucas 2001).
as ambivalências das políticas de represen- Minha intenção não é detratar a Arqueo-
tação do patrimônio cultural, como se perda logia de contrato, que, diante da crescente
86
87
88
Abstract: The aim of this paper is to discuss the methods of the Community
Archaeology. It argues before that the Community Archeology, as one element
of the world archaeological research, falls almost always in the heart of
social conflicts. Firstly, because it cannot escape of the a lasting legacy: the
historical relations that related Archeology to nationalism and colonialism.
Secondly, because to establish itself as sort of research it should confront
the ambivalencies of the policies of representation of the cultural property.
BIBLIOGRAFIA
89
BENNETT, T. FOURMILE, H.
2004 Pasts Beyond Memory: Evolution, Museums, 1989 Who owns the past? Aborigines as
Colonialism. London: Routledge. captives of the archives. Aboriginal
BERNAL, M. History, (13): 1, 1-8.
1987 Black Athena: The Afroasiatics Roots of FOUCAULT, M.
Classical Civilization . London: Free 2004 Naissance de la Biopolitique . Paris:
Association Press. Gallimard/Seuil (Hautes Études).
BHABHA, H. K. FOWLER, D. D.
1994 The Location of Culture. London: Routledge. 1987 Useus of the Past: Archaeology in the
BRADLEY, R. Service of the State. American Antiquity,
2003 Seeing Things: Perception, Experience and (52): 2, 229-248.
the Constraints of Excavation. Journal of FUNARI, P. P. A.
Social Archaeology, (3): 2, 151-168. 2001 Public Archaeology from a Latin American
BRADLEY, R & WILLIAM, H. Perspective. Public Archaeology, (1): 4,
1998 The Past in the Past: The Reuse os Acient 239-243.
Monuments. World Archaeology, (30): 1, GIBSON, J.
2-13. 2004 Traditional Knowledge and the International
CALDARARO, N. L. Context for Protection. Script, (1): 1, 1-35.
1987 An outline history of Conservation in GILROY, P.
Archaeology and Anthropology as Presented 2008 O Atlântico Negro. São Paulo: Editora 34.
through its publications. Journal of the GOSDEN, C.
American Institute for Conservation, (26): 1999 Anthropology and Archaeology: A Changing
85-104. Relationship. London: Routledge.
CÉSAIRE, A. GREER, S. et all.
1977[1955] Discurso sobre o Colonialismo. Lisboa: Li- 2002 Community-Based Archaeology in Australia.
vraria Sá da Costa Editora. World Archaeology, (34): 2, 265-287.
CHAMPION, T. HALL, M.
1991 Theoretical Archaeology in Britain. In: 2000 Archaeology and Modern World: Colonial
HODDER, I (ed.). Archaeology Theory in Transcripts in South Africa and the
Europe. London: Routledge, pp. 129-160. Chesapeake. London: Routledge.
CLAVIR, M. HALL, S.
1996 Reflections on Changes in Museums and 1996 When Was the Post-Colonial? Thinking at
the Conservation of Collections from the Limit. In: CHAMBERS, I; CURTI, L.
Indigenous Peoples. Journal of the (eds.). The Post-Colonial Question:
American Institute for Conservation, (35): Common Skies, Divided Horizons. London:
2, 99-107. Routledge, pp. 237-257.
COLLEY, S. HAMILAKIS, Y.
2002 Uncovering Australia: Archaeology, 2007 The Nation and its Ruins: Antiquity,
Indigenous People and the Public. Sidney: Archaeology, and National Imagination in
Allen and Unwin. Greece. Oxford: Oxford U. P.
DÍAZ-ANDREU, M. HARDT, M; NEGRI, A.
2007 A World History of Nineteenth Archaeology: 2001 Império. Rio de Janeiro: Record.
Nationalism, Colonialism, and the Past. HINGLEY, R.
Oxford: Oxford U. P. 2000 Roman officers and English gentlemen: the
FABIAN, J. imperial origins of Roman Archaeology.
1983 Time and Other: how anthropology makes London: Routledge.
its objects . New York: Columbia Press. HODDER, I & BERGGREN A.
FANON, F. 2003 Social Practice, Method, and Some
1961 Os Condenados da Terra. Rio de Janeiro: Problems of Field Archaeology. American
Civilização Brasileira. Antiquity, (68): 3, 421-434.
FAULKNER, N. HODDER, I.
2000 Archaeology from Below. Public Archaeology, 2002 Ethics and Archaeology: The Attempt at
(1): 1, 21-33. Eatalhoyuk. Near Eastern Archaeology ,
FERREIRA, L. M. (65): 3, 174-181.
2008 Patrimônio, Pós-Colonialismo e Repatria- HOLTORF, C.
ção Arqueológica. Ponta de Lança: Histó- 2006 Can less be more? Heritage in the Age of
ria, Memória e Cultura, (1): 37-62. Terrorism. Public Archaeology, (5): 101-109.
90
JOHNSON, J. S. MARSHALL, Y.
1993 Conservation and Archaeology in Great 2002 What is Community Archaeology? World
Britain and the United States: A Comparision. Archaeology, (32): 2, 211-219.
Journal of the American Institute for MBUNWE-SAMBA, P.
Conservation, (32): 3, 249-269. 2001 Should Developing Countries Restore and
JOHNSON, J. S. Conserve? In: LAYTON, R & STONE, P &
1994 Consolidation of Archaeological Bone: A THOMAS, J (eds.). Destruction and
Conservation Perspective. Journal of Field Conservation of Cultural Property. London:
Archaeology, (21): 2, 221-233. Routledge, pp. 30-41.
JONG, F & ROWLANDS, M. MESKELL, L.
2008 Introduction: Postconflict Heritage. 2002 Negative Heritage and Past Mastering in
Journal of Material Culture, (13): 2, 131-34. Archaeology. Anthropological Quaterly,
JOY, J. (75): 3, 557-574.
2004 Biography of a Medal: People and the MOORE-GILBERT, B.
Things they Value. In: SCHOFIELD, J; 2000 Postcolonial Theory: Contexts, Practices,
JOHNSON, W. G; BECK, C. M. Material Politics. London: Verso.
Culture: The Archaeology of Twentieth MOSER, S ET ALL.
Century Conflict . London: Routledge, 2002 Transforming Archaeology through Practice:
132-142. Strategies for Collaborative Archaeology
KOJAN, D; ANGELO, D. and the Community Archaeology Project
2005 Dominant Narratives, Social Violence and at Quseir, Egypt. World Archaeology, (34):
the Practice of Bolivian Archaeology. Journal 2, 220-248.
of Social Archaeology, (5): 3, 383-408. NEVES, E. G.
KOHL, P & FAWCETT, C. 2006 Arqueologia da Amazônia. Rio de Janeiro:
1995 Archaeology in the Service of the State: Jorge Zahar Editor.
Theoretical Considerations. In: KOHL, P; PATTERSON, T.
FAWCETT, C (eds.). Nationalism, Politics, 1997 nventing Western Civilization. New York:
and the Practice of Archaeology. Cambridge: Monthly Review Press.
Cambridge U. P., pp. 3-20. ROBINS, R.
LAYTON, R. & THOMAS, J. 1996 Paradox and Paradigms: the changing role
2001 I n t r o d u c t i o n : t h e d e s t r u c t i o n a n d in Aboriginal cultural heritage management.
conservation of cultural property. In: Ngulaig, (16): 2-32.
LAYTON, R & STONE, P & THOMAS, J ROWLANDS, M.
(eds.). Destruction and Conservation of 2008 Civilization, Violence and Heritage Healing
Cultural Property. London: Routledge, pp. in Liberia. Journal of Material Culture, (13):
1-21. 2, 135-152.
LEGENDRE, J; OLIVIER, L; SCHNITZLER, B. SAHLINS, M.
2007 L’Archéologie Nazi en Europe de l’Ouest. 1997 O “Pessimismo Sentimental” e a Experiên-
Paris: Infolio. cia Etnográfica: Por que a Cultura não é
LEVY, J. E. um Objeto em Via de Extinção (Parte I).
2006 Prehistory, Identity, and Archaeological Mana, (3): 1, 41-73.
Representation in Nordic Museums. SAID, E.
American Anthropologist, (108): 1, 135- 1978 Orientalism. New York: Penguin Books.
147. SHACKEL, P. A.
LUBBOCK, J. 2004 Working with Communities: heritage
1865 The Prehistoric Times. Edinburgh: Willians development and applied Archaeology. In:
and Norgate. SHACKEL, P. A & CHAMBERS, E. J (eds.).
LUCAS, G. Places in Mind: Public Archaeology as Applied
2001 Destruction and the Rethoric of Excavation. Anthropology. London: Routledge, pp. 1-16.
Norwegian Archaeological Review, (34): SHANKS, M. & PLATT, D. & RATHJE, W.
35-46. 2004. The Perfume of Garbaje: Modernity and
LYONS, CLAIRE L.; PAPADOPOULOS, JOHN K. (Eds.). the Archaeological. Modernism/Modernity,
2002 The Archaeology of Colonialism . Los (1): 61-83.
Angeles: Getty Research Institute. SILVERM, S; PAREZO, N. J (EDS.).
MACLEOD, J. 1992 Preserving the Anthropological Record.
2000 Beginnings Postcolonialism. Manchester: New York: Wenner-Gren Foundation for
Manchester U. P. Anthropological Research.
91
92