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ISSN 1981-2477

Revista
Arqueologia Pública

Publicação Anual

no 3

2008

São Paulo, Brasil

Revista.pmd 1 02/07/2009, 12:50


Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 3, 2008.

Editores
Pedro Paulo Abreu Funari (NEE/UNICAMP)
Erika Marion Robrahn-González (NEE/UNICAMP)

Comissão Editorial
Lourdes Dominguez (Oficina del Historiador, Havana, Cuba)
Andrés Zarankin (UFMG)
Gilson Rambelli (NEE/UNICAMP)
Nanci Vieira Oliveira (UERJ)
Ana Pinon (Universidad Complutense de Madrid, Espanha)
Pedro Paulo Abreu Funari (NEE/UNICAMP)
Erika Marion Robrahn-González (NEE/UNICAMP)
Charles Orser (Illinois State University, EUA)

Conselho Editorial
Gilson Martins (UFMS)
José Luiz de Morais (MAE/USP)
Peter Ucko (Institute of Archaeology, UCL)
Laurent Olivier (Université de Paris)
Sian Jones (University of Manchester)
Martin Hall (Cape Town University, South Africa)
Bernd Fahmel Bayer (Universidad Nacional Autónoma de México)

Projeto gráfico
José Luiz de Magalhães Castro Neto

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 3, 2008.

EDITORIAL

Arqueologia Pública: comunidades indígenas, mídia e ciência aplicada.

A Arqueologia Pública alcança, a cada ano, novos horizontes e perspectivas. Isto se


deve, em não pequena medida, à crescente inserção das disciplinas científicas e acadêmicas
no campo da ciência aplicada. Se isto ocorre em diversos campos, de forma variada, no
âmbito da Arqueologia estas posturas de interação com a sociedade generalizam-se em
ritmo acelerado. A diversidade de grupos sociais interessados na pesquisa arqueológica
revela-se, em toda sua riqueza, neste terceiro número da revista Arqueologia Pública. Diver-
sos artigos tratam da Arqueologia em contextos indígenas, com práticas de inserção das
comunidades na gestão e preservação do patrimônio arqueológico/cultural. A mídia merece
destaque, assim como as implicações educacionais da disciplina e discussões de caráter
teórico. Também neste volume mesclam-se autores brasileiros e estrangeiros, em artigos
voltados para situações diversas. Boa leitura!

Pedro Paulo A. Funari


Erika Robrahn-González

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 3, 2008.

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 3, 2008.

Sumário

Artigos

7 UM SÍTIO, MÚLTIPLAS INTERPRETAÇÕES: O CASO DO CHAMADO


“STONEHENGE DO AMAPÁ”
Mariana Petry Cabral
João Darcy de Moura Saldanha

15 PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO EM TERRAS


INDÍGENAS
Erika M. Robrahn-González
Maria Clara Migliacio

19 ARQUEOLOGIA E CINEMA, UMA HISTÓRIA EM COMUM


Gonzalo Ruiz Zapatero
Ana Maria Mansilla Castaño

33 ARQUEOLOGIA E PÚBLICO: PESQUISAS E PROCESSOS DE


MUSEALIZAÇÃO DA ARQUEOLOGIA NA IMPRENSA BRASILEIRA
Manuelina Maria Duarte Cândido

49 ¿Actividad liberal o libertinaje? La práctica laboral en la Arqueología


de Contrato en Uruguay.
Irina Capdepont Caffa

65 PROJETO CULTURA E EDUCAÇÃO: UMA NOVA PROPOSTA


MUSEOLÓGICA REGIONAL NA DIMENSÃO DO MUSEU HISTÓRICO E
GEOGRÁFICO DE POÇOS DE CALDAS MG
Daniel Fernandes Moreira
Haroldo Paes Gessoni
Sônia Maria Sanches

81 Sob Fogo Cruzado: Arqueologia Comunitária e Patrimônio Cultural


Lúcio Menezes Ferreira

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 3, 2008.

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 3, 2008. pgs. 7-13.

UM SÍTIO, MÚLTIPLAS INTERPRETAÇÕES: O CASO DO


CHAMADO “STONEHENGE DO AMAPÁ”

Mariana Petry Cabral*


João Darcy de Moura Saldanha**

Resumo: As pesquisas em um sítio de megalitos no Amapá nos coloca-


ram de frente com a construção de vários discursos sobre os vestígios
arqueológicos. A partir da perspectiva interpretativa que perpassa o pro-
jeto, a profusão de interpretações surgidas com a visibilidade que o sítio
ganhou foi entendida como parte importante no processo de construção
do próprio discurso científico. Este artigo discute como a abertura a múl-
tiplas interpretações, oriundas de múltiplos autores/atores, contribui para
a construção de discursos menos autoritários, logo também para a práti-
ca de arqueologias híbridas.

Palavras-chave: Arqueologias híbridas; Interpretação; Vantagem


epistemológica; Arqueologia amazônica; Patrimônio arqueológico.

“Isso não é um cachimbo” ríamos culpar a grande mídia pelas informa-


ções distorcidas, mas até que ponto nós tam-
A arqueologia é uma dessas ciências com bém não somos responsáveis por isso? Nos-
cadeira cativa no imaginário popular. Os ar- sos textos, nosso discursos, alcançam esse
queólogos aparecem nos filmes de Hollywood, público tão atraído pela arqueologia? Nossos
em livros e gibis e agora até em novelas. E projetos permitem participação? Nossas
ainda que possamos discutir sobre o perfil maneiras de construir interpretações estão
destes personagens, muito mais próximos de abertas para não-arqueólogos, para não-ci-
colecionistas do século XIX do que profissio- entistas?
nais contemporâneos, não há como negar a Já não é recente a argumentação de que
atração que eles exercem sobre o público. a ciência em geral, e também a arqueologia
Se essa é a imagem que o grande públi- em particular, não são neutras. Nas palavras
co recebe sobre os arqueólogos, o que será de Christopher Tilley (1989), “uma arqueo-
que eles entendem por “trabalho de arqueo- logia apolítica é um perigoso mito acadêmi-
logia”? O que os arqueólogos fazem? Pode- co”. Se a arqueologia é feita por pessoas –
que são sempre falíveis, sempre posicionadas
– por que o produto do trabalho dessas pes-
soas – que é conhecimento arqueológico –
(*) Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas
do Estado do Amapá. mariana.cabral@iepa.ap.gov.br seria neutro? Como seria possível retirar o
(**) Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas sujeito – que é o próprio pesquisador – do
do Estado do Amapá. joao.saldanha@iepa.ap.gov.br contexto de produção? Essas questões criti-

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cam uma postura que afirmava não apenas deliberadamente ou não está dando valores,
a possibilidade, mas também a necessida- significados, às coisas e a seu texto.
de, da arqueologia como ciência ser impar- A produção arqueológica, então, como
cial, objetiva, neutra. toda produção científica, é escrita, é articu-
Desde pelos menos a década de 1980, lada, é discursiva. Então podemos dizer que
na Europa e nos Estados Unidos, os arqueó- a escrita da arqueologia não é só um meio
logos discutem sobre nosso papel social (en- para divulgar resultados de pesquisa. A es-
tre outros, Wylie 1989; Tilley 1989; Shanks crita da arqueologia é também a própria
& Tilley 1987; Shanks & Tilley 1992; Hodder construção dos resultados. O discurso é a
1992). Se pensarmos que a arqueologia é produção.
também uma forma de agir no mundo, uma É como a pintura do cachimbo de René
forma de sermos sujeitos em sociedade, o Magritte: entre a linguagem e as coisas, exis-
que nós produzimos como arqueólogos é tão tem os significados. Não existe uma relação
importante quanto a maneira como chega- direta, transparente, entre a linguagem e as
mos a isso. A produção arqueológica não é coisas (Tilley 1990:282). Se “isso não é um
dada. Ela é construída. Não existe um pas- cachimbo”, a escavação também não é o
sado – perdido, enterrado, submerso – de passado. O passado é a construção que nós
um lado, e a ciência arqueológica do outro. fazemos hoje, a partir das informações que
O passado só existe na prática científica. conseguimos perceber dos vestígios.
É através desse fazer arqueológico, da Quando fazemos um projeto de arqueo-
prática, que mesmo os objetos são constitu- logia, nós escolhemos como vamos construir
ídos (Shanks & Tilley 1992: 23). Isso não sig- o passado. Escolhemos quem poderá parti-
nifica que os objetos não existam, que eles cipar dessa construção. Escolhemos o que
não estejam lá, no sítio. Mas, como afirma poderá fazer parte desta construção. É uma
Julian Thomas (1996: 63), é apenas o reco- responsabilidade nossa. E é sobre essas es-
nhecimento do arqueólogo de que aquele colhas, em um projeto que desenvolvemos
vestígio tem relevância que o constitui de no Amapá, que discorremos aqui.
fato. Um arqueólogo que não saiba reconhe-
cer uma pederneira, por exemplo, não a en-
contrará. E se mesmo os objetos materiais Políticos, imprensa e cientistas
são constituídos na prática, o que dizer dos
objetos intelectuais?: como problemas de O Projeto de Investigação Arqueológica
pesquisa, temáticas de projetos, as afirma- na Bacia do Rio Calçoene é um projeto fi-
ções que fazemos? (Tilley 1990: 298-300). nanciado pelo Governo do Estado do Amapá,
Ora, também eles não existem fora da práti- que teve início do final de 2005. Calçoene é
ca. Como disse Ian Hodder (1992): “O que um dos 16 municípios do Estado do Amapá,
medimos e como medimos são questões te- e tem sido a sede dos trabalhos de campo
óricas”. Portanto, toda observação é também até o momento. Calçoene fica a 270km da
uma interpretação. capital, Macapá, na região Nordeste do Es-
E se o arqueólogo tem um papel ativo tado. É um município de área enorme, mas
como produtor de conhecimento, isso obvia- com população pequena, por volta de sete
mente significa que a produção de conheci- mil habitantes, sendo 5000 na área urbana
mento não é uma tarefa automática. Pelo (IBGE 2000).
contrário, produzir conhecimento arqueoló- Esse projeto foi criado sobre duas ques-
gico é um processo interpretativo, é a cons- tões principais: a produção de conhecimen-
trução de um discurso: transformar coisas to científico sobre as antigas populações in-
em palavras, dar sentido às coisas através dígenas e o envolvimento da comunidade
das palavras. Então a relação entre as coi- local. Sendo um projeto totalmente financi-
sas e o texto é feita pelo arqueólogo, que ado pelo Governo do Estado, houve sempre

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Um sítio, múltiplas interpretações: o caso do chamado “Stonehenge do Amapá”
Mariana Petry Cabral
João Darcy de Moura Saldanha

um interesse explícito em promover desen- O que ele destaca é que patrimônios


volvimento econômico e social para a re- deste tipo devem ser tratados não apenas
gião. Com isso, o projeto nunca teve inte- como objeto de pesquisa, mas também como
resses apenas acadêmicos. A história de questão de gestão e ordenamento territorial.
criação do projeto ajuda a explicitar esse A importância estratégica não é apenas pela
contexto sócio-político. preservação de patrimônio como responsa-
O que ocorreu foi que em Novembro de bilidade social ou cultural, mas ao uso que
2005, uma equipe de pesquisadores e técni- pode ser dado a esse patrimônio, como tu-
cos do Estado estava na região de Calçoene rismo, por exemplo. Tanto mais interessan-
fazendo alguns trabalhos. Uma dessas pes- te se lembrarmos que o Amapá já usa o sim-
soas convidou a equipe para visitar um local bolismo do equinócio como atrativo turístico.
onde havia umas pedras fincadas no chão. Como Rabelo descreve no relatório:
Esse era o sítio AP-CA-18, na época conhe-
“Ao lembrar que o Marco Zero do
cido basicamente só pela população local e
Equador, com seu simbolismo, mesmo
uns poucos visitantes. É um sítio belíssimo.
construído em cimento e areia tanto vem
É uma estrutura circular de grandes contribuindo com o desenvolvimento des-
megalitos, com 30 metros de diâmetro. Nas te Estado o que não pensar de relíquias
escavações, a nossa percepção é de contex- que em tempos pretéritos também fo-
tos cerimoniais: enterramentos, oferendas, ram utilizadas para demarcar hábitos e
visitações. costumes de outras gerações com a di-
Além da impressionante estrutura que mensão temporal?”(Rabelo 2005: 8)
eles viram, um dos participantes, Elias José
Ávila, meteorologista do IEPA, teve a sensi- O sítio AP-CA-18 tem sido, desde então,
bilidade de observar em um dos blocos um entendido como um atrativo turístico com alto
possível alinhamento com o sol durante o potencial. Durante muitos encontros que nós
Solstício, até aí apenas como hipótese, que tivemos com políticos, autoridades do esta-
depois foi comprovada. Então o botânico Be- do e outros pesquisadores, sempre o turis-
nedito Rabelo, na época Diretor do Centro mo apareceu como o principal meio de de-
de Ordenamento Territorial do IEPA, escre- senvolvimento econômico através da arque-
veu um relatório sobre essa situação. E en- ologia. Esse é um dos motivos que fez o Go-
viou-o diretamente para o Governador. O re- verno do Estado investir na pesquisa. Outro
latório começa assim: motivo é um interesse que o governo tem
expressado para a preservação e para a va-
“Ao: Excelentíssimo Senhor Antônio lorização do patrimônio arqueológico.
Waldez Góes da Silva Como exemplo disso, em 2005, foi cria-
Governador do Estado do Amapá do o Programa Estadual de Preservação do
Patrimônio Arqueológico. Em 2006, junto com
Dirigimo-nos a Vossa Excelência para o SEBRAE/AP, foi publicado um livro-manual
dar conhecimento sobre uma condição para incentivar o uso de grafismos arqueo-
histórica-cultural (arqueológica) do Es- lógicos hoje. Como afirma o governador na
tado do Amapá que, ao nosso ver, antes apresentação do livro: “A herança cultural
mesmo de ser tratada como objeto de identificada nos sítios arqueológicos encon-
estudos especializados, pode ser consi- trados em nosso estado (...) muito contribui-
derada como condição de importância rá para o entendimento e esclarecimento
estratégica para o Estado e carecer de desse período histórico, ao mesmo tempo em
medidas urgentes que lhes assegurem que promoverá a redescoberta de nossas
guarda e proteção frente à raízes” (Góes da Silva, 2006: 5).
vulnerabilidade em que se encontra.” Foi nesse ambiente muito sensível ao
(Rabelo, 2005:1) patrimônio arqueológico que nosso projeto

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teve início. Mas esse interesse explícito do municação. As pessoas trocam recados pela
governo, de autoridades, de políticos, de se- rádio: desde avisos entre parentes em situ-
tores empresariais, também mostrou clara- ações graves, como doença e morte, a reca-
mente que muitos discursos seriam – ou até dos entre patrões e empregados, e entre
já estavam sendo – produzidos. E essa situ- amigos. A rádio Calçoene FM tem, portanto,
ação destacou a necessidade de fazermos uma audiência incrível. E é possível encon-
um projeto inclusivo, que fosse aberto não só trar aparelhos de rádio em todas as casas,
para os discursos dos nossos financiadores especialmente nas mais distantes; sem luz,
(o próprio Estado), mas também para ou- sem água, mas com rádio. A rádio é o prin-
tros discursos possíveis, como da comunida- cipal meio de comunicação.
de local. E essa é ainda uma experiência em E nós fizemos muito uso desse meio. E
andamento. enquanto falávamos na rádio, ouvintes liga-
vam, outros iam até lá, e outros ainda deixa-
vam recados. Daí surgiram não apenas mui-
Quebrando a barreira epistemológica tas informações, como dúvidas da popula-
ção e mesmo muitos questionamentos, prin-
O Município de Calçoene hoje em dia é cipalmente sobre o destino das peças que
habitado principalmente por população ca- poderiam ser encontradas.
bocla, portanto pessoas inseridas na cultura Quando nós começamos a escavação,
Ocidental. Isso é importante por que elas têm depois de seis meses de visitas e contatos
um conhecimento básico sobre o que é uma na cidade, a maior parte da população co-
pesquisa científica, ao menos na forma como nhecia o projeto e sabia qual era nossa posi-
é transmitido pelos grandes meios de comu- ção sobre a participação deles, sobre a guar-
nicação ou nas escolas. Isso permitiu uma da do material, sobre futuros projetos. E com
situação para nós confortável de início, já que a participação de alunos de segundo grau
existia uma base para apresentarmos nos- nas escavações, que receberam treinamen-
sos objetivos. Mas ao mesmo tempo, é uma to de campo e laboratório, e também parti-
situação que traz já uma barreira pré- ciparam nas entrevistas com informantes, a
estabelecida. Nós chegamos portando o que colaboração se fortaleceu. Nós já não éra-
Viveiros de Castro chama de “vantagem mos mais estranhos, e uma confiança mú-
epistemológica” (2002:2). De um lado tua surgia.
estamos nós, arqueólogos, cientistas porta- Uma parte importante desse processo
dores do conhecimento; e do outro lado es- tem sido algumas aparições do sítio AP-CA-
tão eles, comunidade local, receptores de 18 na grande mídia. Em maio de 2006, quan-
conhecimento. Eles já nos receberam como do as escavações nem tinham sido iniciadas,
portadores de conhecimento, como os espe- o Governo do Estado decidiu apresentar a
cialistas, o lugar-comum de cientistas. E o “descoberta”. Foi feita uma entrevista coleti-
desafio ainda é quebrar essa barreira, va no Palácio do Governo, e o próprio gover-
transformá-los de parceiros passivos a par- nador anunciou a descoberta arqueológica.
ceiros ativos. Era ano eleitoral, e o governador era candi-
Além de formas bem usuais de inserção dato a re-eleição.
com a comunidade, como palestras nas es- O resultado desse anúncio público gerou
colas, em centros comunitários, e muita con- uma cadeia de publicação nos mais inespe-
versação informal, nós também usamos um rados meios de comunicação. Do Jornal Na-
outro meio de comunicação: a rádio. cional à revista Seleções, o sítio apareceu
No interior do Estado há muito poucas praticamente no mundo todo. E o sítio levou
linhas telefônicas, e elas só alcançam os pe- o pequeno e pobre município de Calçoene
quenos centros urbanos. As estações de rá- para a mídia, para os jornais e para a televi-
dio funcionam como o principal meio de co- são. E aparecer no Jornal Nacional é algo

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Um sítio, múltiplas interpretações: o caso do chamado “Stonehenge do Amapá”
Mariana Petry Cabral
João Darcy de Moura Saldanha

raro mesmo para o Estado do Amapá, ima- mais recentes: retirada da floresta de gale-
ginem o que não foi para Calçoene... E daí ria, queimadas, pasto, criação bovina. A partir
nasceu um sentimento de orgulho, orgulho de Setembro de 2006, ele tornou-se o
por ver uma coisa do seu município sendo guardião do sítio, e hoje está a serviço do
chamada de especial, orgulho por conhecer IEPA, cuidando da área, e recebendo os visi-
de perto, de ser um pouco dono daquilo. E tantes, que continuam a aparecer. Houve um
esse sentimento de propriedade desse momento muito interessante durante as es-
patrimônio ajudou muito na participação das cavações. O Garrafinha é um grande conta-
pessoas no projeto. O que nós sentimos é dor de histórias, e jamais perde a oportuni-
que eles começaram a querer participar do dade de contar o que ele sabe e conhece
projeto. sobre o sítio. Porém, em algum momento,
Isso garantiu uma aproximação muito ele começou a mudar seu discurso. Ele co-
mais interessante entre nós e eles. É claro meçou a ressaltar o quanto ele mesmo ha-
que a barreira entre conhecedores e recep- via destruído do sítio. Fazendo queimadas,
tores não foi ainda desfeita, mas ela dimi- derrubando árvores, juntando peças. E em
nuiu. Durante as escavações, nós recebemos seguida dizia: “eu era ignorante, mas hoje
centenas de visitantes. Alguns, como estu- eu sou o guardião do sítio, e agora eu faço
dantes de primeiro e segundo grau, eram tudo pra preservar”.
esperados, faziam parte da rede de conta- Para nós está bem claro que ainda te-
tos formais que tínhamos com as escolas e a mos muito a fazer, principalmente por que a
prefeitura. Mas muitos outros não eram. E gente gostaria que a comunidade fosse mais
tirar fotos no sítio era sagrado. O interes- ativa em relação ao projeto, que a barreira
sante é que a máquina era nossa. Então não epistemológica fosse vencida. A relação es-
eram fotos para eles terem cópias, mas fo- pecialistas-receptores ainda domina a cena,
tos para nós termos eles dentro do projeto. mas um sentimento de responsabilidade em
É claro que a maior parte dos visitantes relação ao patrimônio está crescendo; e isso
demonstrou apenas uma curiosidade geral, nos motiva a seguir esse caminho. Hoje, uma
interessados em ver de perto o que apare- discussão na câmara de vereadores de
ceu na TV. A barreira epistemológica conti- Calçoene reforça essa mudança de percep-
nuava lá. Mas algumas situações nos con- ção sobre o patrimônio. Eles estão discutin-
venceram que era possível realmente superá- do a guarda do material arqueológico, pro-
la. Foi o caso com o Senhor Roseno Sarmento pondo alternativas para que o material volte
dos Santos. ao Município.
As únicas descrições sobre poços fune- Isso nos mostra que o principal resulta-
rários no Amapá eram as de Emilio Goeldi, do dessa experiência de tentar incluir a co-
do final do século XIX (Goeldi 1905). Goeldi munidade local, pelo menos até o momento,
havia escavado dois poços no Cunani, uma é essa mudança de percepção. O patrimônio
localidade no norte do Município de Calçoene. arqueológico transformando-se de simples
E ali estava o Roseno, na nossa frente, que curiosidade (se tanto), para uma questão
já havia aberto três poços funerários em vá- política no município.
rios sítios na área. Tornou-se um grande São mudanças deste tipo que nos fazem
parceiro; não apenas nos levando a vários agir muito mais cautelosamente na constru-
outros sítios, mas também nos ajudando a ção dos nossos discursos. O que nós fala-
compreender o primeiro poço funerário que mos sobre o sítio, a forma como recebemos
escavamos. as visitas, a forma como nos relacionamos
Um outro exemplo é o Sr. Lailson Came- com eles, tudo influi na nossa construção. E
lo da Silva, ou Garrafinha. É dele o relato quanto mais direto o envolvimento de outros
mais antigo que temos do sítio AP-CA-18, atores, mais cuidado nós temos que ter nas
assim como os relatos das transformações nossas afirmações, por que elas alcançam

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de fato essas pessoas. Especialmente em “abrir” um sítio à interpretação, simplesmente


casos como o do sítio AP-CA-18, que deve porque é impossível fechá-lo à interpretação.
ser transformado em um parque para Todos nós, arqueólogos ou não, estamos in-
visitação, a forma como o projeto é conduzi- terpretando sítios quando os visitamos. O que
do pode transformar essa comunidade. E nós precisamos não é abrir os sítios à inter-
pode não ser uma transformação igualitária pretação; o que nós precisamos é abrir nos-
(Sandlin & Bey 2006). sos projetos a outras interpretações. E abrir
A experiência que nós participamos hoje nossas práticas, nossas teorias e nossos dis-
em Calçoene é uma tentativa de romper essa cursos aos outros pode ser o início da constru-
barreira epistemológica. Não podemos falar em ção de arqueologias realmente híbridas.

Abstract: Research at a megalithic site in Amapá exposed us to the


construction of a variety of discourses on archaeological vestiges.
Considering the interpretative perspective guiding the project, we
understood the multiple interpretations raised by the site visibility as an
important part of the building process for scientific discourse. This paper
discusses the way through which an opening for multiple interpretations,
made by multiple authors/actors, favors the building of less authoritarian
discourses, thus also a practice of hybrid archaeologies.

Key-words: Hybrid archaeologies; Interpretation; Epistemological


advantage; Amazonian archaeology; Archaeological heritage.

Referências bibliográficas

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Macapá: SEBRAE/AP. 1996 Time, Culture and Identity - An interpretive
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SANDLIN, J.A. & G.J. BEY III. Albuquerque: University of New Mexico
2006 Trowels, trenches and transformation: A Press.

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Um sítio, múltiplas interpretações: o caso do chamado “Stonehenge do Amapá”
Mariana Petry Cabral
João Darcy de Moura Saldanha

1990. Michel Foucault: Towards an Archaeology WYLIE, A.


of Archaeology. In: Tilley, C. Reading Ma- 1989 Introduction: socio-political context. In:
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Blackwell. Essays in the Philosophy, History and
VIVEIROS DE CASTRO, E. Socio-Politics of Archaeology. Albuquerque:
2002 O nativo relativo. Mana. (8) 1. University of New Mexico Press.

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 3, 2008. pgs. 15-18.

PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO


EM TERRAS INDÍGENAS

Erika M. Robrahn-González*
Maria Clara Migliacio**

Resumo: Este artigo apresenta o resultado do trabalho desenvolvido du-


rante o “I Seminário Internacional de Gestão do Patrimônio Arqueológico
Pan-Amazônico”, promovido em novembro/2007 pelo Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) na cidade de Manaus/
AM, mais especificamente, na Sessão Temática intitulada “Preservação
do Patrimônio Arqueológico em Terras Indígenas”.

Palavras Chave: Patrimônio Cultural, herança indígena, arqueologia


pública, legislação.

Introdução aqueles que desenvolvam trabalhos voltados


ao patrimônio arqueológico, histórico, cultu-
Este artigo apresenta o resultado do tra- ral e/ou paisagístico localizado em terras in-
balho desenvolvido durante o “I Seminário dígenas.
Internacional de Gestão do Patrimônio Arque- O resultado final do trabalho foi apre-
ológico Pan-Amazônico”, promovido em no- sentado na forma de uma Moção de Encami-
vembro/2007 pelo Instituto do Patrimônio nhamento, apresentada na íntegra no texto
Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) na ci- abaixo.
dade de Manaus/AM, mais especificamente, O objetivo maior do trabalho é contribuir
na Sessão Temática intitulada “Preservação para um aperfeiçoamento e, em especial,
do Patrimônio Arqueológico em Terras Indí- uma postura ética e multicultural no trata-
genas”. mento do patrimônio cultural de comunida-
Durante este evento foram realizadas des indígenas, dentro do conceito de Arque-
apresentações sobre o tema e debates sub- ologia Pública e Arqueologia Colaborativa,
seqüentes, visando elaborar uma síntese de amplamente discutido no corpo teórico e
pontos sensíveis e apresentar diretrizes e metodológico da disciplina arqueológica.
recomendações a serem observadas por

Moção de encaminhamento

(*) Professora Livre Docente, pesquisadora colabo- Esta moção visa sintetizar os principais
radora do Núcleo de Estudos Estratégicos (NEE) da
Universidade Estadual de Campinas. pontos de reflexão abordados durante a pre-
(**) Professora Doutora, Instituto do Patrimônio His- sente Sessão Temática. Para tanto, o texto é
tórico e Artístico Nacional, Mato Grosso. composto por dois blocos, a saber:

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• Pontos sensíveis, diretrizes e reco- o As comunidades indígenas envolvidas


mendações, que organiza os principais devem ser os principais beneficiários
tópicos de discussão e indica questões do desenvolvimento e resultados dos
sensíveis e recomendações a serem Programas Arqueológicos.
consideradas sobre o assunto;
o Os Programas devem garantir a apro-
priação, pelas comunidades indígenas,
• Ações, que indica ações a serem de-
do conjunto de dados e resultados
senvolvidas, visando o detalhamento
obtidos, incluindo o registro do conhe-
e continuidade das reflexões aqui le-
cimento e publicações especificamen-
vantadas para alcance de resultados
mais abrangentes nos aspectos estra- te voltados para elas. Devem, ainda,
tégicos e operacionais do tema. promover uma análise conjunta, pela
equipe de pesquisadores, comunida-
des indígenas e IPHAN, sobre a
PONTOS SENSÍVEIS, DIRETRIZES E destinação final do acervo arqueoló-
RECOMENDAÇÕES gico que venha a ser gerado.
o O Programa Arqueológico deve abran-
o Conceito de “terra indígena”: no pre- ger o conjunto do patrimônio cultural,
sente trabalho considera-se como ter- como é entendido e percebido pelas
ra indígena tanto aquelas terras ad- comunidades indígenas, englobando
ministrativamente demarcadas pelo tanto os vestígios arqueológicos em si,
governo brasileiro (TIs), aquelas de quanto bens e/ou vestígios históricos,
alguma forma reconhecidas e assumi- culturais e paisagísticos, materiais e
das pelos outros paises da América imateriais, incluindo perspectivas al-
do Sul, como as áreas consideradas ternativas de abordagem. No caso do
tradicionais pelas populações indíge- patrimônio paisagístico, o Programa
nas, demarcadas ou não, em especial deverá considerar áreas de significância
seus locais de significância simbólica/ cultural, simbólica e sagrada das co-
sagrada/ cultural. Portanto, as dire- munidades, não necessariamente
trizes técnicas, éticas e operacionais abrangendo vestígios materiais de sua
relacionadas ao longo da presente ocupação.
Moção devem ser igualmente aplica- o Possíveis análises patrimoniais de
das em todas as situações acima men- valoração realizadas em terras in-
cionadas, que passam a ser designa- dígenas tradicionais (e em especial
das simplesmente como “terras indí- aquelas voltadas ao licenciamento
genas tradicionais”. ambiental de obras de engenharia)
o O desenvolvimento de Programas Ar- devem ser realizadas de maneira
queológicos em terras indígenas tra- compartilhada, participativa e
dicionais necessita se dar dentro da colaborativa junto às comunidades
perspectiva da Arqueologia Colaborativa, indígenas envolvidas, incluindo, de
com base na ação compartilhada e no forma não assimétrica ou hierárqui-
envolvimento pluricultural, não ca, a identificação, valoração e aná-
assimétrico ou hierárquico, envolven- lise de significância do patrimônio
do equipes formadas por pesquisado- a partir da perspectiva indígena. O
res e por representantes indígenas, mesmo se aplica na indicação de
que serão co-responsáveis pelo Pro- medidas mitigadoras e/ou compen-
grama como um todo, e abrangendo satórias incluídas nos processos de
o conjunto de suas etapas. licenciamento ambiental.

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PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO EM TERRAS INDÍGENAS
Erika M. Robrahn-González
Maria Clara Migliacio

o Estudos de diagnóstico arqueológico queologia, Educação Patrimonial,


realizados na bacia amazônica devem Museologia e Conservação, bem como
incluir nos levantamentos documentais garantir a maior participação possível
etnohistóricos regionais (já exigidos de indígenas em todas as fases da
pela Portaria IPHAN 230/02) uma aná- pesquisa.
lise específica da possível presença,
o A elaboração de Programas de Ges-
na área de impacto do empreendi-
tão, Manejo, Monitoramento, Preser-
mento, de locais e/ou paisagens de
vação e outros, deve incorporar a
significado simbólico/ sagrado para
perspectiva indígena, na busca de uma
sociedades indígenas que ali se de-
condução compartilhada e colaborativa
senvolveram, mesmo que atualmente
não mais habitem a área. entre as diferentes abordagens envol-
vidas (abordagem científica, aborda-
o O desenvolvimento de Programas Ar- gem legal, abordagem indígena).
queológicos em terras indígenas tra-
dicionais deve prescindir de autoriza- o Esta Moção recomenda, por fim, a
ção específica das comunidades no que realização de gestões, em diversas
se refere ao seu escopo, objetivos, instâncias, para que os sítios arqueo-
métodos de realização e formas de lógicos e/ou paisagísticos de signifi-
apresentação dos resultados. No caso cado mítico e/ou sagrado para as po-
do Brasil, recomenda-se que o IPHAN pulações indígenas sejam poupados de
exija este documento de apoio empreendimentos causadores de im-
institucional das comunidades indíge- pactos ambientais, que não devem
nas envolvidas, complementarmente incidir sobre eles. No Brasil tal medi-
ao documento de apoio institucional da poderá ser buscada por meio de
já exigido nos processos de solicita- Resolução CONAMA, Portaria do
ção de Portaria de Pesquisa, confor- IPHAN, Leis, Decretos ou, ainda, de
me definido pela Portaria 07/88. outras formas de controle sócio-
ambiental. Em outros países da Amé-
o Os Programas Arqueológicos em ter- rica do Sul deverão ser desenvolvidas
ras indígenas tradicionais devem in- propostas no âmbito de seus próprios
cluir a realização de pesquisas em sí- instrumentos de controle sócio-
tios de interesse indígena, além da- ambiental.
queles definidos através da perspec-
tiva científica.
o A realização de qualquer intervenção AÇÕES
no patrimônio arqueológico, histórico,
cultural e paisagístico presente em Considerando os pontos sensíveis sobre
terras indígenas tradicionais deve con- os temas levantados pela presente Sessão,
tar com o consentimento das comuni- são recomendadas as seguintes ações:
dades envolvidas. Inclui-se aqui toda 1) Criação de um Grupo de Trabalho
atividade que abranja coletas de ma- para detalhamento das reflexões aqui
terial e cortes de terreno, como aber- iniciadas e acréscimo de outras que
tura de sondagens, poços-teste e áre- se mostrarem pertinentes, com obje-
as de escavação. tivo último de elaborar uma Agenda
o Os Programas Arqueológicos em ter- para Pesquisa e Preservação do
ras indígenas tradicionais devem in- Patrimônio Arqueológico, Histórico,
cluir a capacitação de técnicos indíge- Cultural e Paisagístico em Terras In-
nas para atividades voltadas à Ar- dígenas Tradicionais. Esta Agenda de-

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Erika e Maria Clara.pmd 17 02/07/2009, 12:32


Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 3, 2008.

verá indicar diretrizes técnicas, éticas impacto junto a processos de


e operacionais para trabalhos de pes- licenciamento ambiental e outros,
quisa patrimonial a serem desenvol- voltados à implantação de obras
vidos em terras indígenas, abrangen- desenvolvimentistas.
do tanto as terras indígenas adminis-
3) Criação de Portaria IPHAN no Bra-
trativamente demarcadas pelo gover-
sil, e de outros instrumentos normativos
no brasileiro (Tis), e aquela reconhe-
em cada país amazônico, objetivando
cidas por cada país amazônico, como
normatizar a realização de pesquisas
aquelas não demarcadas, mas reco-
patrimoniais em terras indígenas tra-
nhecidas pelas próprias comunidades
dicionais, a partir das especificidades
indígenas como locais ou paisagens de
técnicas, éticas e operacionais que lhe
especial significado simbólico/ cultu-
são intrínsecas.
ral. A diretriz deste GT deverá estar
voltada ao desenvolvimento de uma
Arqueologia Colaborativa, nos termos Composição da Sessão Temática
indicados pela presente Sessão. O GT “Preservação do Patrimônio Arqueoló-
deverá ser composto por representan- gico em Terras Indígenas”
tes indígenas e não indígenas, visan-
do abranger a diversidade de perspec-
Maria Clara Migliacio (Coordenadora)
tivas necessárias.
Erika M. Robrahn-González (Relatora)
2) Criação de Grupos de Trabalho em Fabíola Andrea Silva
cada país amazônico, com finalidade Bonifácio José Baniwa
de organizar um mapeamento e ca- Afukaká Kuikuro
dastro de sítios e/ou paisagens de Mutuá Mehinaku
especial significado simbóligo/ sagra- Michael J. Heckemberger
do/ cultural para as comunidades in-
dígenas da Amazônia. O resultado
deste trabalho deverá, entre outros, Esta moção soma, ainda, as contribui-
subsidiar a realização e análise de ções oferecidas pelos diferentes participan-
estudos de diagnóstico arqueológico tes do Seminário, que contribuíram durante
de empreendimentos e avaliações de o debate ocorrido ao final das apresentações.

Abstract: This article presents the results of the “I International Seminar


on Management of Archaeological Heritage Pan-Amazonian”, promoted in
November/2007 by the Institute of National Historical and Artistic Heritage
(IPHAN) in the city of Manaus / AM, more specifically, the Thematic Session
on “Preservation of Archaeological Heritage in Indigenous Lands.”

Keywords: Cultural heritage, indigenous heritage, public archaeology,


legislation.

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 3, 2008. pgs. 19-31.

ARQUEOLOGIA E CINEMA, UMA HISTÓRIA EM COMUM

Gonzalo Ruiz Zapatero*


Ana Maria Mansilla Castaño**

Resumo: O presente artigo analisa as relações entre a arqueologia e o


cinema, apresentando três diferentes tipos de cinema arqueológico, o
documentário, o docudrama e a dramatização ou cinema de fição pretéri-
ta. Destaca-se seu potencial didático, a partir da experiência da sua utili-
zação prática de visionado e avaliação crítica dentro do programa formativo
universitário de Pre-história na UCM.

Palavras Chave: Arqueologia, cinema, recursos didáticos.

O cinema tem olhado sempre para a ar- arqueólogas-heroínas como Lara Croft
queologia com relativo interesse, na medida (Zorpidu 2004). Por outro lado, os arqueólo-
em que lhe proporcionava paisagens, cená- gos tenderam ao uso do cinema inclusive
rios, objetos e,em definitiva, mundos para como metáfora do seu trabalho. Philip Barker
recriar visualmente. A pura materialidade da (1982: 12), em um dos manuais de arqueo-
arqueologia tem oferecido continuadamente logia de campo mais celebrados dizia que,
elementos visuais para serem filmados. E em última instância, a tarefa dos arqueólo-
evidentemente a arqueologia é –mesmo que gos ao tentar representar o que aconteceu
isto não seja reconhecido por tudo o mundo- no passado a partir de uma escavação era
uma disciplina fortemente visual, como tem semelhante à realização de um filme da his-
dito bem Stephanie Moser (1998), pioneira tória do sítio arqueológico.
na analise da dimensão propriamente visual Que a pesquisa arqueológica é assimilável
da arqueologia. Os arqueólogos têm sido à construção de um filme é provado, entre
representados no cinema popular desde co- outras coisas, pela importância que têm os
meços do Século XX (Day 1997: 3, Membury médios audiovisuais para transmitir o conhe-
2002) e especialmente pelo cinema no estilo cimento histórico gerado, sob a forma de
Hollywood (Baxter 2001). Aos modelos de vídeos e documentários para apresentar ao
arqueólogo herói, estilo Indiana Jones público os resultados da escavação de um
(Zarmati 1995), o único durante muito tem- sítio arqueológico qualquer. Se olharmos para
po, têm sido acrescentados os modelos das trás, descobriremos na arqueologia dos tem-
pos pioneiros a importância da fotografia
(Lyons et alii 2005), do desenho e da recons-
trução histórica (Hodgson 2001, Lewuillon
(*) Departamento de Prehistoria. Universidad
Complutense de Madrid E-mail: gonzalor@ghis.ucm.es 2002), nos tempos mais recentes do vídeo
(**) Departamento de Prehistoria. Universidad (Hanson & Rahtz 1988), dos documentários
Complutense de Madrid E-mail: anamansillac@hotmail.com (Kulik 2006), da reconstrução digital através

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 3, 2008.

de computadores (Forte e Siliotti 1997) e in- gia, os arqueólogos temos sido mais descon-
clusive dos grupos de recriação histórica, fiados com o gênero cinematográfico, fun-
r eenactment, para representar o passado damentalmente pela tendência a pensar que
(Appleby 2005). A prova mais impressionan- no cinema a ficção é o componente mais
te de que as performances têm hoje plena poderoso e pelo tanto uma coisa muito afas-
vigência tem sido a finais de setembro de tada do obsessivo cientificismo da nossa dis-
2006, a representação ao vivo das cenas do ciplina. Aos arqueólogos tem-nos importado
Bem-Hur (1959) de Billy Wyler, incluindo a muito pouco o cinema (Day 1997: 4), o te-
espetacular carreira de quadrigas, em cená- mos desapreciado por ser anticientífico e
rios criados no grande Stade de France de veículo de anacronismos ou ucronias e ape-
Paris, com centenas de atores e extras, e nas nas últimas décadas temos começado a
com vários centenas de milhares de espec- manifestar interesse em várias direções
tadores que tinham pagado bilhetes mais do (Hernández Descalzo 1997, Pohl 1996). Mes-
que caros por assistir ao vivo (http:// mo assim, as coisas não resultam fáceis.
news.bbc.co.uk/2/hi/intertainment/ Assim, ante o sucesso dos filmes de Steven
5337836.stm). Este espetáculo imita ao ci- Spielberg de Indiana Jones (Sánchez-
nema, embora é representação ao vivo e Escalonilla 2004), os arqueólogos têm se
constitui uma particular mistura de teatro, posicionado sempre fortemente contra a vi-
cinema, experimentação, reenactment e apa- são que a trilogia oferece da arqueologia.
rato visual do passado. (Fig.1 e Fig. 2) Apenas consegui achar uma visão positiva
num breve artigo do arqueólogo britânico
Se em geral o mundo do cinema tem John Gowlet (1990) nas páginas de Antiquity
mostrado relativo interesse pela arqueolo- no qual o que vinha a dizer era que Indiana

Fig.1 - O Stade de France de Paris cenário contemporâneo da representação ao


vivo das cenas do Ben-Hur.

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Arqueologia e cinema, uma história em comum
Gonzalo Ruiz Zapatero
Ana Maria Mansilla Castaño

O que tento expor aqui é que a arqueo-


logia, tratada de formas diferentes no cine-
ma, pode ser um importante recurso didáti-
co, O cinema com diferentes formatos, ao
tempo que os filmes de arqueologia, apre-
sentam aspectos da arqueologia para mui-
tas pessoas de nível cultural muito diverso.
A arqueologia filmada tem chegado a ser
hoje, para muitos públicos, a primeira fonte
de conhecimento sobre o passado remoto. É
obvio que estes filmes utilizam modos de
relatar muito diferentes dos da arqueologia,
mas com tudo, como diz Rosenstone (2005:
337), se trata de uma forma legítima de
mostrar a história, isto é, de dar sentido
explicativo ao passado, mesmo que exposta
desde necessidades e valores muito diferen-
tes. Uma de essas necessidades é trasladar
mensagens a umas audiências muito hete-
rogêneas. A conexão cinema-história tem
chegado a ser tão atrativa que têm surgido
revistas acadêmicas para estudar suas liga-
ções como é o caso de Screening the past
(www.latrobe.edu.au/screeningthepast/) da
Fig. 2 - Cartaz de promoção da representação universidade australiana de La Trobe ou a
das cenas ao vivo do Ben-Hur. espanhola Film Historia, da Universidad de
Barcelona (www.pcb.unb.es/filmhistoria) por
era simplesmente o arqueólogo mais fa- citar apenas alguns exemplos.
moso do mundo porque tinha levado a ar-
queologia a muita mais gente do que to-
dos os arqueólogos que tinham vivido na Tipos de arqueologias cinematográficas
história juntos. O que é rigorosamente cer-
to. Desde então tenho partilhado a idéia O cinema de arqueologia, “cinema ar-
de Gowlett e acredito que é mais inteligen- queológico”, ou simplesmente o cinema so-
te se associar ao Professor Jones para in- bre passados remotos inclui gêneros diver-
teressar às pessoas e depois tentar expli- sos (Hernández Descalzo 1997: 312-313): i)
car algumas coisas que não funcionam bem O documentário, no sentido estrito, no qual
nos filmes. Vale mais ensinar com Indy para os britânicos e os estadunidenses têm sido
mostrar alguns erros do que desqualificá- os mestres inicialmente com produções já
lo sem raciocinar (Baxter 2002). Pois final- quase míticas como as da BBC (Daniel 1978)
mente, e por muito que tinha sido critica- e outras produtoras muito ativas como
do, Indy nunca está infectado pela obses- Channel 4 (2005), com grandes sucessos de
são de adquirir ou acumular riquezas, para público (Kulik 2006); ii) O Docudrama, no qual
ele a descoberta é a aventura e o conheci- se misturam imagens documentais junto com
mento a recompensa. “A Arqueologia trata outras de fição o que é o formato mais re-
de fatos não de verdades”, diz Indy aos cente e o que tem o maior sucesso divulgativo
seus estudantes, lhes proporcionando as- (Bourdial 2002 e Gamble 2003 a); iii) a
sim uma pequena verdade que bem mere- dramatização ou cinema de ficção pretérita,
ce ser retida (Johanson 2003). que pode oscilar entre aqueles filmes que

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 3, 2008.

procuram as maiores cotas de rigor históri- ampla (Ibars & López Soriano 2006). No ci-
co-arqueológico e os outros de ficção livre nema de arqueologia, em sentido amplo, a
em simples “cenários” de passados pouco ou tradição anglo-saxona (Archaeology & You
nada críveis (Solomon 2002). 2004, Baxter 2001, Downs, Allen, Meister e
Lazio 1995, Day 1997, Pohl 1996) e a france-
Todos estes gêneros do “cinema arque- sa (Lambotte 1990, Bourdial 2002) têm sido
ológico” oferecem muitas possibilidades como as mais ativas, mas outras, e também a es-
recursos didáticos no ensino da arqueologia. panhola, vão se acrescentando à especiali-
Especialmente numa época na qual tudo o dade (Hernández Descalzo 1997, Moreno i
audiovisual nos envolve e domina e na que Gimenez 2002). Ao mesmo tempo, é conve-
reconhecemos que –finalmente- a arqueolo- niente apontar que o interesse continua es-
gia é uma disciplina “fortemente visual”, tando mais no lado do cinema do que da ar-
embora não o manifeste explicitamente queologia. E assim, a recopilação mais am-
(Smith & Moser 2005). As imagens de pai- pla de por volta de 140 filmes e vídeos nos
sagens, assentamentos, tombas e objetos do quais os protagonistas são arqueólogos, o
passado formam parte da centralidade da livro de David Howard Day A treasure Hard
arqueologia e pelo tanto, o “cinema arqueo- to Attain. Images of Archaeology in Popular
lógico” tem muitas razões para ser conside- Film with a Filmography (1997), não é a obra
rado um instrumento de aprendizado de um arqueólogo. Mesmo que se pudesse
(Rosenstone 2005). Concordo plenamente deduzir claramente depois da leitura dos onze
com Robert Rosenstone (2005: 350) em que breves capítulos do ensaio que antecede à
“o cinema oferece uma importante e com- filmografia comentada, verdadeiramente o
plexa visão do passado”. É uma forma de mais útil do livro. Muito mais amplo como
apresentar a História que precisa da nossa catálogo de filmes de Pré-História e Mundo
minuciosa atenção, especialmente porque Antigo é o livro de Herbert Verreth (2003) De
muito do que temos aprendido no passado oudheid in film. Filmografie. E certamente, é
sobre o passado nos é transmitido hoje pre- claro que a informação mais atualizada e
cisamente através deste médio e deste gê- ampla é preciso procura-la na Internet
nero, no telão e na tela da televisão para (http:www.saa.org/public/fun/movies.html).
audiências muito amplas.
Um gênero destaca por cima dos outros,
Na verdade, os arqueólogos não temos o peplum ou “cinema de romanos” (Fig. 3).
tido quase interesse pelo “cinema de arque- O estudo de Jon Solomon Peplum. O mundo
ologia”, daí que os estudos relevantes e in- antigo no cinema (2002) é, sem dúvida algu-
clusive as recopilações de filmes, apenas têm ma, o melhor, e na Espanha o estudo pionei-
começado a serem realizadas nos últimos dez ro de Fernando Lillo O cinema de romanos e
ou quinze anos e nem sempre por parte dos sua aplicação didática (1994) tem seguido o
arqueólogos. Em primeiro lugar, é preciso ensaio mais aprofundado e amplo de Alberto
destacar que a consideração de “cinema de Prieto A Antigüidade filmada (2004) O me-
arqueologia” precisa ser incluída dentro de lhor site, com um amplíssimo repertório é
aquela de cinema de história. Este constitui PEPLUM Images de l´Antiquité Cinema et BD
a categoria superior e tem recebido certo (http://www.peplums.com).
interesse por parte dos historiadores (Barra
1998, Carnes 1995, Fraser 1988). Talvez os
livros de Rosenstone (1995a, 1995b, 1997) Dimensão didática da arqueologia
sejam os melhores exemplos de um olhar cinematográfica
especializado e lúcido para os filmes históri-
cos e para a leitura da história no cinema. Sob o ponto de vista do professor é fun-
Mas a bibliografia sobre o tema é já muito damental estimular as práticas de visionado

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Arqueologia e cinema, uma história em comum
Gonzalo Ruiz Zapatero
Ana Maria Mansilla Castaño

as próprias regras de representação do


cinema (Rosenstone 1995b: 3). A arque-
ologia filmada não proporciona – não pode
fazê-lo de jeito nenhum- um conjunto claro
e ordenado de elementos explicativos e de
referência. Um filme ou um documentário
não são textos científicos, nem têm biblio-
grafia, nem notas a rodapé. Nesse senti-
do, o filme arqueológico vai ser sempre
um “passado-imperfeito” (Carnes 1995).
Mas pode sim, mover à curiosidade, à in-
dagação posterior e pode proporcionar
idéias que vão mais além dos limites do
próprio filme (Hall 2004). Na minha opi-
nião, as razões fundamentais do valor
educativo do cinema na arqueologia po-
dem-se resumir da seguinte maneira:

i) O cinema é um médio ideal para


analisar, avaliar e explorar a importância
das imagens na arqueologia (Smith &
Moser 2005). A Arqueologia é imagem,
praticamente tudo o que está relacionado
com a arqueologia pode se reduzir a ima-
gens, os objetos, os restos das vivendas e
das tombas, as paisagens, até os própri-
os processos e trajetórias temporais po-
dem ser apresentados em gráficos e dia-
gramas. De alguma maneira, pensar em
arqueologia é pensar em imagens. Pelo
tanto, o cinema supõe um médio interes-
santíssimo de como traduzir em imagens
Fig. 3 - Cartaz do filme Espartaco um dos peplum narrativas a história do passado.
mais celebrado protagonizado por Kirk Douglas na ii) A pura empatia que produz no
década de 1960. espectador possibilita que nos desloque-
mos melhor ao passado e que habitemos
crítico, sobre tudo nos filmes que reclamam –mesmo que por alguns minutos- passados
estar baseados “completamente” na história “vivos”; condição indispensável para se inte-
real. As visões críticas não se referem ape- ressar pela história e suscitar questões e te-
nas à crítica sobre a fraca informação que mas de interesse. Mergulharmos na ficção
contêm ou ficar ofendidos pelo vandalismo de um passado facilita a compreensão das
cultural que é possível achar as vezes (http:/ características do passado histórico ao pro-
/www.earlymodernweb.org.uk/eur/ porcionar chaves, tanto visuais quanto
index.php/early-modernity-in-film/historians- interpretativas, do mesmo. E pode proporci-
and-historical-film). A visão crítica supõe que onar, ao mesmo tempo, uma dimensão
os filmes arqueológicos não devem ser vis- emotiva e afetiva que com freqüência acom-
tos em termos de como são, comparadas com panha também à arqueologia.
a arqueologia e a história escrita, mas como iii) Permite utilizar os erros e anacronis-
uma forma de volver a contar o passado com mos para introduzir informação arqueológi-

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 3, 2008.

ca, não simplesmente para censurar maus v) A partir da atração da imagem pode
assessoramentos históricos dos filmes, mas se confrontar informação cinematográfica
bem mais para reconstruir esses erros e com informação arqueológica (menos atra-
possibilitar uma verdadeira “genealogia do tiva no começo) e gerar assim curiosidade
a n a c r o n i s m o ”. A a n a l i s e d e f i l m e s e histórica sobre o passado. Não há dúvida que
documentários permite identificar erros e no poder comparar a reconstrução da Roma de
jogo da sua procura e sua crítica permite um peplum da década dos 50, a do filme
despertar o interesse pela realização de Gladiator e as das reconstruções arqueoló-
visionados inteligentes e com critério histó- gicas mais sérias e fidedignas constitui um
rico. Alguma coisa semelhante, salvando as exercício didático de grande atrativo (Wyke
distâncias, ao desafio de alguns livros infan- 1997). Como se apresenta o Homen de
tis e juvenis de arqueologia muito instrutivos Neandertal no filme O Clã do urso das ca-
que propõem a descoberta de erros e ana- vernas e como se tem representado antro-
cronismos em desenhos de reconstrução pologicamente e arqueologicamente? O con-
cênica (Leronge 2006), ou aqueles que mos- traste das imagens do Neandertal gera inte-
tram simplesmente a evolução de uma rua resse e curiosidade sobre os processos para
ou uma cidade ao longo de milhares de anos representar visualmente o passado
(Millard & Noon 1999, Steele & Noon 2006). paleolítico. O sugestivo e atrativo do cine-
iv) Permite refletir sobre as vidas dos ele- ma, embora seja anti-histórico, cria um ponto
mentos materiais do passado – autênticas “bi- de interesse que dificilmente a arqueologia
ografias’ das coisas – até chegar à tela e des- vai conseguir por sim mesma.
vendar assim todo um complexo “imaginário
popular” do passado. A aparição no cinema de Em última instância, o processo de re-
objetos, artefatos, construções e máquinas que presentação do passado no cinema pode
tentam vestir uma época determinada oferece servir para analisar e refletir sobre os pro-
a possibilidade de uma desconstrução de es- cessos que a arqueologia utiliza para repre-
ses elementos. Permite, assim mesmo, sepa- sentar os passados pré-históricos e históri-
rar os autenticamente históricos e ajustados à cos e contextualizar o que alguns arqueólo-
documentação arqueológica de aqueles que gos têm chamado “imaginação arqueológi-
têm ganho sua adscripção a uma época gra- ca” (Gamble 2003b). Como o diretor de um
ças aos erros transmitidos por diferentes vias filme constrói sua obra é uma boa metáfora
e que resultam pelo tanto, anacrônicos. Um de como os arqueólogos construímos nos-
exemplo: os capacetes com chifres dos celtas; sas representações do passado. E de fato,
excepto um exemplar britânico – o qual é in- uma das últimas novidades nos estudos de
clusive duvidoso que possa ser qualificado de posgraduação em arqueologia é a oferta dos
“celta”- se desconhece a associação de este cursos “Masters Screen Media” (Máster
tipo de capacete aos celtas da Idade de Ferro 2006) ou “Archaeology and the Media: Digi-
européia, mas as gravuras especialmente des- tal Narratives in, for and about Archaeology”
de o século XIX têm-na difundido erroneamen- dirigido por Ruth Tringham (2006) na Berkeley
te. No cinema se utilizam elementos que per- University. Também sessões de congressos
tencem ao imaginário popular mais do que às internacionais se ocupam do tema como a
imagens arqueológicas. O que importa não é o Mesa Redonda: “Teaching Archaeology using
autêntico tipo de capacete celta, o que impor- Film and Television” no 71 Annual Meeting of
ta é que seja identificado pelo público como the Society for American Archaeology (San
céltico, embora seja falso. Uma coisa é a ar- Juan de Puerto Rico, 26-30 Abril de 2006).
queologia e uma outra é o imaginário popular, Na Espanha também não faltam cursos uni-
a primeira é minoritária no entanto o segundo versitários que abordam estes temas, o mais
é majoritário. Tudo isso é tremendamente útil recente O mundo antigo e medieval no cine-
para o aprendizado arqueológico. ma (Curso da Universidad Internacional

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Gonzalo Ruiz e Ana Maria Mansilla.pmd 24 02/07/2009, 12:57


Arqueologia e cinema, uma história em comum
Gonzalo Ruiz Zapatero
Ana Maria Mansilla Castaño

Menéndez y Pelayo em Valencia, 10-14 de Nos últimos anos a tentativa de chegar a


julho de 2006). maiores audiências tem feito com que os
documentários se orientem para o docudrama,
Resumindo, considero que o interesse dos no qual se combina o documental clássico com
arqueólogos no “cinema de arqueologia” deve dramatizações que conseguem maior aten-
se centrar em duas questões fundamentais: ção do espectador. Até o ponto de que alguns
primeiro, ver se seu conteúdo e discurso ge- docudramas recentes, caso do Neandertal, é
rais proporcionam alguma coisa de interesse a história de ficção que articula o documentário
sobre nosso passado com rigor histórico e se- e de forma secundária, no fio da ficção, se
gundo, ver se transmite, de forma clara, um apresentam dados informativos sob a forma
sentido de passado e suas implicações atuais de rápidos flashes. Hoje contamos com óti-
para uma audiência ampla (Rosenstone 2005: mos documentários de qualquer temática ar-
350). E com caráter mais secundário, como queológica. Entre os mais significativos dos
também aponta Robert Rosenstone, avaliar a últimos anos vale a pena destacar Caminhan-
veracidade da reconstrução dos detalhes. do entre as Bestas (Haines 2002) e Caminhan-
do entre Homínidos (Lynch & Barret 2003,
Gamble 2003a) da BBC e a produção franco-
O documentário de arqueologia canadense A Odiséia da espécie (Bourdial
como gênero específico 2002). Na produção nacional Atapuerca (2002)
de Javier Trueba sobre o famoso sítio arque-
O gênero do documentário tem raízes ológico de Burgos tem-se convertido em uma
antigas, e, pelo menos no âmbito anglo- grande referência, mas também vão se re-
saxão, uma tradição bem estabelecida des- alizando documentários vinculados a proje-
de a década de 1960. Os vídeos da BBC e tos de pesquisa arqueológica de grande qua-
Channel 4 (Kulik 2006) e a National lidade como Castellón Alto, um povoado
Geographic (www.nationalgeographic.com/ argárico na província de Granada. Pelo con-
siteindex/archaeology.html) têm tido, e con- trário, o seriado da TVE Memória de Espanha
tinuam tendo, um grande prestígio e atrati- (2003-2004), sob a direção de Fernando
vo. O formato tradicional oferece informa- García de Cortazar, teve uma encenação muito
ção de culturas, sítios arqueológicos ou fe- fraca, especialmente nos primeiros episódi-
nômenos com três ingredientes chave: pri- os com abuso de encenações, que ainda por
meiro, a base documental visual, isto é, os cima resultaram muito ruins, e em geral,
materiais arqueológicos, os sítios arqueo- como poucos médios e menos idéias. O tex-
lógicos e as paisagens; segundo, o apóio to dos historiadores liderados por García de
científico, normalmente sob a forma de ar- Cortazar era bem aceitável, embora TVE não
queólogos e especialistas que são entrevis- colocasse nem imaginação, nem dinheiro.
tados em seus respectivos escritórios ou Mesmo assim, os índices de audiência foram
que, de forma mais ativa e sugestiva, falam elevados, especialmente para um documentário
ante os próprios monumentos e sítios ar- de história. Em qualquer caso, ao tomar al-
queológicos e terceiro, a interpretação vi- gumas notas sobre aqueles episódios acabei
sual na forma de gráficos, mapas e diagra- pensando que a avaliação do seriado não
mas que tem revolucionado sua capacidade podia ser realizada apenas pelos profissio-
informativa com a chegada da infografia nais, e seria preciso pensar fórmulas para
(Aguilera 1990). Além das distribuidoras conhecer a avaliação dos não-especialistas:
comerciais The Archaeology Channel Quais os valores que apreciam?, Que capa-
(www.archaeologychannel.org) oferece uma cidade crítica têm? As respostas a estas per-
extensa coleção que abrangre desde temas guntas e a outras de semelhante índole seri-
da Origem da Humanidade às civilizações am de grande ajuda para os historiadores e
do mundo clássico (Bahrami 2006). os arqueólogos.

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Nas aulas práticas, facilito aos estudan- parecer qualquer coisa de irrelevante, em
tes algumas idéias gerais sobre como assis- alguns casos a informação falada que não
tir a documentários e tomar notas, e mais guarda relação alguma com as imagens que
tarde lhes peço que escrevam suas avalia- se visualizam, fica praticamente perdida,
ções, pontuem cada documentário – é im- escondida, por trás de imagens, que literal-
portante ver diferentes tipos, incluindo os mente, engolem o discurso falado. Se em
ruins- e justifiquem dita pontuação. Na visão algum caso se pode ter a filmação do Como
geral que lhes ofereço incluo muitas das idéi- se fiz... do documentário podemos acrescen-
as aqui expostas e no plano prático insisto tar mais elementos de interesse para o de-
nos seguintes aspectos: (i) que os vídeos têm bate, a mesma coisa que se proporcionar-
dois grandes discursos: o visual, as mensa- mos algum texto que explique a realização,
gens exclusivamente transmitidas pelas ima- como no caso da Odisséia da Espécie
gens e o verbal, a informação falada em off (Bourdial 2002).
que acompanha às imagens. Os dois são Os resultados habitualmente são bastante
importantes e precisam de uma analise si- bons, hoje a cultura audiovisual dos estudan-
multânea de cada um deles; (ii) que no dis- tes é muito alta e com apenas umas poucas
curso visual é preciso, por um lado, apren- idéias a modo de roteiro, como as arriba
der a catalogar os tipos de imagens (obje- indicadas, eles são muito capazes de oferecer
tos, sítios arqueológicos, paisagens, mapas avaliações críticas e razoadas, que sem ne-
e infografia, arqueólogos ou especialistas nhuma dúvida me ajudam a re-situar meu pró-
entrevistados ou apresentando informação – prio analise frente ao rico panorama que meus
“bustos falantes” -, reconstruções dramati- estudantes me oferecem. Uma tarefa final de
zadas, gravuras antigas, etc...) e pelo outro debate ou discussão completa perfeitamente
lado é preciso realizar estimações temporais as opiniões pessoais colocadas por escrito.
de cada um dos tipos de imagens, isto é, se
na porcentagem predomina o tempo dedica-
do aos objetos, aos sítios arqueológicos ou Os filmes de ficção arqueológica/
às reconstruções e como se distribui – apro- histórica na moda
ximadamente- o tempo do conjunto das ima-
gens. Pois esta distribuição não é casual e O caso dos filmes de ficção com
deve refletir as intenções do produtor. De- ambientação arqueológica/histórica é um
pois é preciso desenvolver estratégias para pouco diferente. Fundamentalmente pode-
medir o impacto e a força de cada imagem e mos afirmar que a avaliação deve ser dife-
seu grau de inteligibilidade; (iii) que o dis- rente pela simples razão de que, como te-
curso verbal, os conteúdos específicos, exi- mos visto com Rosenstone, os diretores de
ge também uma analise hierarquizada, pri- cinema não são - e não pretendem ser – his-
meiro uma avaliação global, a quantidade de toriadores, mesmo que alguns deles reivin-
informação e o ritmo de apresentação; se- diquem um altíssimo grau de verismo histó-
gundo, uma analise das idéias centrais que rico nos seus filmes. Os cinco critérios que
se transmitem; terceiro, uma consideração aplico para a analise didática nas aulas de
do léxico utilizado e finalmente, descobrir as arqueologia são perfeitamente aplicáveis
possíveis “iscas” do discurso falado e apre- para todos os filmes de este gênero, inde-
sentar a arquitetura completa do “texto” para pendentemente de que uns se situem na mais
sua posterior crítica; e (iv) finalmente, incidir disparatada ucronia e outros no intento mais
na importância de refletir sobre o grau de encomiável de mergulhar-se na atmosfera
complementaridade existente entre as ima- de sua época histórica. O que se ganha em
gens e as palavras, isto é, de que maneira atrativo – parece claro que segura mais o
se tem conseguido, ou não, um ajuste entre interesse dos estudantes uma boa ficção do
o que se vê e o que se escuta. Embora possa que um bom documentário – é obvio que se

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Arqueologia e cinema, uma história em comum
Gonzalo Ruiz Zapatero
Ana Maria Mansilla Castaño

perde na qualidade da informação ofereci-


da, mas ao mesmo tempo a ficção permite
debates mais críticos e mais abertos do que
no caso dos documentários. Vou comentar,
muito brevemente, apenas uns poucos filmes
que reúnem muitos elementos de interesse
para sua utilização em atividades didáticas:
A guerra do fogo, Gladiator, Troja, Alexan-
dre e O guia do desfiladeiro.

A guerra do fogo de J.-J. Annaud (1981),


baseada no celebrado romance de J.H. Rosny
(2004) [1911], que tem tido um grande im-
pacto (Felici 2000), é um filme fantástico (Fig.
4). Continua sendo meu filme favorito no apar-
tado de filmes de Pré-história, uma categoria
esta que na verdade não tem uma relação muito
ampla de filmes atrativos e com um mínimo de
rigor arqueológico (Moreno i Jiménez 2002).
As possibilidades didáticas são muito amplas,
desde a coexistência de diferentes espécies e
a possível interação entre neandertais-cro-
magnons, às estratégias de caça e os modelos
sócias dos diferentes tipos humanos que apa-
recem. A ambientação, vestimentas e armas,
assim como a forma de se movimentar e de Fig. 4 - Cartaz do filme. A guerra do fogo de
falar das diferentes formas humanas têm cria- Jean-Jacques Annaud.
do todo um modelo a seguir.
tos (Fig. 5). Como bem tem dito Fernando
Gladiator (2000), de Ridley Scott tem Quesada (2005: 88) “não façamos de arque-
conseguido revitalizar, de forma espetacular, ólogos fundamentalistas”, e celebremos que
o cinema de romanos, o famoso peplum, que por alguns dias Alexandre, bissexual, homos-
levava anos em decadência (Landau 2000). sexual ou o que quer que fosse entre no co-
O filme oferece múltiplas possibilidades para ração de milhares de pessoas que de outra
exercitar as atividades didáticas que tenho maneira jamais teriam ouvido falar da vida
indicado acima e de fato conta com muitas do grande personagem grego. Daí podem
leituras como recurso didático (García surgir outros interesses mais sérios. Mas nem
Beguería & Lérida Lafarga 2006). Por sua todas são grandes superproduções. Em fil-
parte, Troja (2004) de W. Petersen, com Brad mes de baixo orçamento é possível achar
Pitt no papel de estrela, tem seguido a trilha autênticas jóias que nos deslocam para pas-
aberta por Gladiator e, embora os muitos sados menos hollywoodienses, mas não por
erros, logra transmitir ao grande público um isso menos atrativos. É esse o caso do filme
certo sentido histórico do grande poema O guia do desfiladeiro (1987), um deslumbran-
homérico (Solomon 2006, Winckler 2006 ) e te filme do norueguês Nils Gaup, ambientado
sobre tudo conseguiu que muitas pessoas se na Idade de Ferro tardia da Escandinávia que
mergulhassem na leitura de a Ilíada. Como mostra a vida de uma comunidade lapona ata-
no mais recente caso de Alexandre (2004) cada por uma mannerbunde de sinistros guer-
de Oliver Stone, inclusive com os erros que reiros que chegam de terras mais meridio-
se podem detectar, é preciso pensar nos acer- nais (www.imdb.com/tittle/tt0093668).

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 3, 2008.

Conclusão

Como reflexão final penso que é impor-


tante destacar como as imagens do passa-
do, que até há apenas dez ou quinze anos
estavam sob a dominação quase exclusiva
do cinema, têm passado a formar parte dos
“poliedros visuais” que trocam, transformam
e recriam imagens continuamente (Finn
2001). Esses “poliedros” não são outra coisa
mais do que a interatividade crescente entre
diferentes médios que “produzem/fagocitam”
imagens: cinema (Pohl 1996), televisão
(Fagan 2003, Payton 2002 e Silberman 1999),
Internet, Vídeo e DVD, Vídeo-games (Watrall
2002) e as próprias telas dos celulares e do
iPOD. Todos eles estão gerando certo inte-
resse entre os arqueólogos. O fascínio de
todos os públicos pela arqueologia significa
que os arqueólogos cada vez mais têm que
estar tratando com os diferentes médios, com
certeza mais do que outras disciplinas, e pelo
tanto tem chegado a ser uma questão crucial
como se comunicar com as audiências atra-
vés dos diferentes médios e como os própri-
Fig. 5 - Cartaz do filme Alexandre, protagonizado os médios vêm a arqueologia (Clack & Brittain
por Colin Farrell. 2007, Van Dyke 2006).

Abstract: This article analyses the relations between archaeology and


cinema, presenting three different types of archaeological cinema,
documentary, docu-drama and drama or past fiction cinema. It emphasizes
its didactic potential, from the experience of its practical use of viewing
and evaluating, in the Prehistory university formative program in the UCM.

Key Words: Archaeology, cinema, teaching resources.

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 3, 2008. pgs. 33-48.

ARQUEOLOGIA E PÚBLICO:
PESQUISAS E PROCESSOS DE MUSEALIZAÇÃO DA
ARQUEOLOGIA NA IMPRENSA BRASILEIRA

Manuelina Maria Duarte Cândido*

Resumo: Este artigo desenvolve uma reflexão sobre Museus, Arqueolo-


gia e Imprensa. Seu objetivo é discutir como a Arqueologia é apresentada
para o grande público pela imprensa e que papel cabe à musealização da
Arqueologia na relação entre Arqueologia e público. O texto compara as
matérias publicadas na mídia escrita em 2000 e 2006 e tenta compreen-
der que imagens de arqueólogos, da Arqueologia e dos museus de Arque-
ologia são construídas por estes veículos de comunicação.

Palavras-chave: Arqueologia, Arqueologia Pública, imprensa, museus

Introdução dar a cadeia operatória completa de preser-


vação, indo da salvaguarda à comunicação
Desenvolvemos aqui uma reflexão sobre patrimonial podendo, no caso da Arqueolo-
Museus, Arqueologia e Imprensa. O objetivo gia, abrigar acervos coletados, propiciar a
é discutir como a Arqueologia é apresentada pesquisa interdisciplinar, estabelecer proces-
para o grande público pela imprensa e tam- sos de gestão do patrimônio arqueológico em
bém o papel da musealização da Arqueologia longo prazo e fomentar a extroversão dos
nesta relação entre Arqueologia e público. acervos juntamente com a publicação dos
Por que este destaque especial para a resultados das pesquisas, por meio de expo-
busca de referências a museus nas matéri- sições e ação educativa sistemática e per-
as? A publicização da Arqueologia, é sabido, manente (CÂNDIDO, FORTUNA e POZZI,
tem sido realizada também por outros cami- 2001). Por esta razão, mostras temporárias
nhos como a educação patrimonial, a aber- não correspondem amplamente à nossa bus-
tura de espaços à visitação pública e a orga- ca pela referência a museus, embora quan-
nização de publicações voltadas para leigos. do elas servem à extroversão para públicos
Consideramos, porém, que o processo de remotos geograficamente, de um acervo
musealização é a única via capaz de consoli- museológico que itinera, possamos compre-
ender aí uma extensão da comunicação
museológica.
Este artigo originalmente foi um traba-
(*) Historiadora, especialista em Museologia, Mestre lho da disciplina Patrimônio Arqueológico e
em Arqueologia, Diretora do Museu da Imagem e do Musealização, realizada no âmbito do
Som do Ceará. manuelin@uol.com.br mestrado em Arqueologia, em 2001, com a

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 3, 2008.

profa. Dra. Cristina Bruno. Na época o perío- O terceiro periódico selecionado, Ciên-
do destacado para análise foi o ano de 2000, cia Hoje, não disponibiliza pela internet os
que além de recente oferecia a possibilidade mesmos recursos dos demais, como íntegra
de confrontar as reportagens referentes à das matérias e busca por palavras-chave.
Mostra do Redescobrimento1, evento reali- Portanto, recorremos à consulta direta dos
zado por ocasião dos 500 anos da chegada mesmos em biblioteca, respeitando o crité-
dos portugueses às terras brasileiras, com rio adotado para os demais, segundo o qual
as ocorrências de matérias sobre Arqueolo- as matérias que mencionassem a Arqueolo-
gia de uma maneira mais geral. Para a pre- gia foram lidas integralmente para apreen-
sente publicação foi feita uma atualização, são da forma de divulgação dela e de seus
confrontando com dados de 2006. profissionais, e só então lançamos um olhar
Em 2001, selecionamos como fontes de dirigido para a percepção da presença ou não
pesquisa os seguintes veículos de comunica- de informações acerca de museus ou pro-
ção: a revista semanal Veja, o diário Folha cessos e instituições museológicas relacio-
de São Paulo e a revista Ciência Hoje, perió- nados ao tema.
dico mensal de divulgação científica, mas ain- Para efeito dos dados quantitativos apre-
da de caráter leigo. As buscas foram feitas sentados no artigo, esclarecemos que não
na internet (Folha de São Paulo e Veja) a foram contabilizadas as referências a mu-
partir da palavra-chave Arqueologia. Foi lo- seus quando apareciam apenas como insti-
calizada uma série ampla de matérias, lida tuição de origem de um pesquisador citado
na íntegra, a partir da qual buscamos, inicial- na matéria. Feita esta observação, podemos,
mente, perceber as imagens da Arqueologia porém perceber que no campo das publica-
e dos profissionais arqueólogos divulgadas. ções os arqueólogos têm tomado iniciativas
Esta opção partia de um pressuposto, voltadas à produção de livros para o público
confirmado no decorrer das pesquisas, de leigo e duas ações neste sentido se destaca-
que as ocorrências estritamente vinculadas ram em 2006, aparecendo com proeminên-
a museus de Arqueologia seriam muito pou- cia nas matérias da Folha de São Paulo à épo-
co freqüentes. Por outro lado, a percepção ca dos respectivos lançamentos: O Brasil an-
do universo mais amplo da divulgação da tes dos Brasileiros, de André Prous, e Arque-
Arqueologia em periódicos para só então ologia da Amazônia, de Eduardo Góes Neves.
afunilar e chegar à presença ou não de men-
ções, nessas matérias, de processos ou ins-
tituições museológicos atreladas à pesquisa Arqueologia e imprensa:
arqueológica, oferece, pela própria existência criando os mitos
de lacunas, uma informação indubitavelmente
relevante. “A voz de Niède Guidon soa diverti-
da, ainda que cansada, quando fala de
seus desafetos nos feudos da arqueolo-
gia brasileira. Estava certa a agente de
turismo Rosa Trakalo ao dizer que a
melhor hora para entrevistar a “douto-
(1) A “Mostra do Redescobrimento Brasil + 500" foi ra” seria de carona com ela em suas
um grande evento expositivo na cidade de São Pau- andanças por São Raimundo Nonato, no
lo, que pretendeu reunir um amplo panorama da arte sudeste do Piauí. Guidon, 67, dirigindo
brasileira, da pré-história à contamporaneidade. Ocor- uma picape Nissan Frontier cabine du-
reu no Parque do Ibirapuera, entre 25 de abril e 10
pla, conta com tração nas quatro rodas
de setembro de 2000, tendo se estendido dois dias
além do previsto devido à procura massiva do públi- para enfrentar qualquer atoleiro da caa-
co. Localizava-se em três pavilhões do Ibirapuera e tinga verde de inverno (estação de chu-
numa tenda construída para abrigar o Cine Caverna. vas), e não tem travas na língua.

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ARQUEOLOGIA E PÚBLICO:
PESQUISAS E PROCESSOS DE MUSEALIZAÇÃO DA ARQUEOLOGIA NA IMPRENSA BRASILEIRA
Manuelina Maria Duarte Cândido

Ar-condicionado ligado, garrafa de muitas vezes vêm associadas a outros te-


água mineral Perrier acondicionada en- mas, onde apenas a expressão Arqueologia
tre o banco e o freio de mão, a arqueó- é mencionada em contextos distintos. Por
loga dispara tranqüila seus ataques a exemplo, quando o assunto é comportamento
adversários como André Prous, da Uni- e é usada a expressão “arqueologia das atitu-
versidade Federal de Minas Gerais, con- des”, significando uma busca de aprofundamento
tra o qual move processo por danos e de desvelar um assunto em camadas. Es-
materiais.” (Folha de São Paulo, 19/03/ tas matérias não foram elencadas nos ane-
2000) xos e nossa análise deteve-se sobre aquelas
“Em meio ao caos de sua sala no estritamente de caráter arqueológico.
Museu de Arqueologia e Etnologia da No periódico Folha de São Paulo, no ano
USP, o arqueólogo Eduardo Góes Neves, 2000, apareceram 149 matérias onde se
34, ouve Led Zeppelin e vasculha arqui- encontrava a temática da Arqueologia. Des-
vos num laptop. Ao lado do computador, tas, aproximadamente 62% são nacionais
uma profusão de slides, mapas, livros e (sendo que 16% falam sobre a Mostra do
cacos de cerâmica. Dentro dele, uma Redescobrimento) e 38% são internacionais.
seqüência de números que, se confirma- Estas porcentagens refletem também o
dos, podem mudar as teorias sobre a fato de que outras matérias, ainda que não
ocupação da Amazônia.” (Folha de São diretamente ligadas à Mostra, possam ter
Paulo, 29/10/2000) surgido também do contexto de atração do
público pelos temas lá expostos, como o ca-
Com estas descrições de alguns dos pro-
derno especial MAIS! de março de 2000 e
fissionais de Arqueologia brasileiros e de
várias pequenas matérias explicativas para
suas atitudes, introduzimos nosso tema de
o público infantil na Folhinha.
discussão. A imagem de um Indiana Jones
Da mesma forma, seria bastante signifi-
ou de um ser tão exótico quanto o esperado
cativa a elaboração de pesquisas sobre a
dos objetos de sua pesquisa é a tônica de
conseqüência dos eventos em torno dos 500
grande parte do que a imprensa divulga quan-
anos e da Mostra do Redescobrimento na
do fala dos arqueólogos. Predomina uma
freqüência a museus, especialmente na ci-
visão fantasiosa, realçando detalhes escolhidos
dade de São Paulo.
a dedo para reforçar a imagem pretendida.
As opiniões a respeito da Mostra que
Para RENFREW e BAHN (1998:09) esta
permeiam o material estudado também soam
tendência é compreensível pela combinação
muito variadas, indo do total deslumbre à
de atividade física de campo com busca inte-
crítica voraz. Alguns títulos referem-se à
lectual, de tal forma que inclusive escritores
mesma como, por exemplo, Mostra do Des-
de ficção enxergaram este filão gerado pelo
lumbramento.
fascínio com a mescla de perigo e trabalho
Na Veja, a proporção acima se inverte,
investigativo. Exemplo clássico é o da escri-
com 13 matérias no ano de 2000, sendo 10
tora Agatha Christie, que buscou inspiração
internacionais, 3 nacionais e, destas, 1 so-
em casa: seu marido era arqueólogo.
bre a Mostra do Redescobrimento. Portanto,
Por outro lado, as confusões recorren-
é posta em relevo a Arqueologia estrangei-
tes no senso comum ainda ocorrem nos ór-
ra, mas não as pesquisas realizadas aqui.
gãos de imprensa, como se percebe ao soli-
Nesta revista, é de se destacar, ainda, que a
citar em consulta pela palavra-chave ‘Arque-
matéria de maior volume seja uma entrevis-
ologia’, a chegada de diversas matérias cujo
ta com o escritor Christian Jacq, que escreve
teor, na verdade, é de Paleontologia.
livros de ficção, tendo a Arqueologia apenas
As ocorrências do termo Arqueologia nos
como uma inspiração livre para sua obra.
órgãos de imprensa selecionados para a pes-
A revista Ciência Hoje, periódico mensal
quisa, em busca feita por palavra-chave,
de divulgação científica da Sociedade Brasi-

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 3, 2008.

leira para o Progresso da Ciência (SBPC), Brasil” (publicados em maio e outubro de


pode ser considerada uma intermediária en- 2000, respectivamente).
tre uma revista de caráter científico e um A questão do abandono das fontes ar-
órgão de divulgação para públicos leigos. Ela queológicas nas interpretações da cultura
faz parte do Projeto Ciência Hoje, integrado brasileira já teve tratamento aprofundado na
ainda pela revista Ciência Hoje das Crian- tese de doutorado de Cristina BRUNO (1995),
ças; o multimídia Ciência Hoje das Crianças; sendo considerada “ uma estratigrafia de
a Ciência Hoje Online, na internet; e os volu- olhares interpretativos míopes em relação ao
mes temáticos Ciência Hoje na Escola. passado pré-colonial ”. Essa dívida da
No ano 2000, foram publicados 11 nú- historiografia nacional com relação ao olhar
meros dessa revista, do número 157 ao 167, sobre a cultura material não se refere, se-
compreendendo três volumes, do 26 ao 28. gundo a autora, somente aos bens arqueo-
Nestes, localizamos 6 itens relacionados ao lógicos, mas aos museus em geral.
tema da Arqueologia, sendo um deles uma A hipótese sugerida na tese é pela utili-
resposta a pergunta de um leitor, uma rese- zação da Museologia como caminho de arti-
nha de livro de Arqueologia e 4 matérias. To- culação entre o patrimônio arqueológico e as
dos eles são a respeito de questões da Arque- demais vertentes patrimoniais consideradas
ologia brasileira e nenhum se refere explicita- na constituição da memória nacional. Os mo-
mente à Mostra do Redescobrimento, embora delos de musealização então apresentados
uma matéria faça parte da série Brasil 500. são propostas para a efetivação desta idéia.
Na Veja e na Folha de São Paulo, o perfil A autora denominou como “estratigrafia
das matérias é, em grande parte, sensaciona- do abandono” a omissão dos intérpretes do
lista, ligado a uma imagem bastante fantasiosa Brasil diante das fontes arqueológicas, ba-
do arqueólogo e da Arqueologia. Além das seando esta afirmação em vasto exame bi-
descrições já transcritas aqui, várias expres- bliográfico. Os estudos analisados recorrem
sões presentes nos textos remetem a um cer- às fontes escritas, em detrimento das orais
to fascínio pela Arqueologia e a uma história e da cultura material, fato observado tam-
de pilhagens ainda contemporaneamente. Há bém nas matérias acima mencionadas, a
também um reforço do imaginário já forjado despeito do limitado universo de observação
em filmes de ficção, onde as equipes de ar- do estudo que agora realizamos.
queólogos estão em disputa por tesouros ou Ainda na tese de Bruno, encontramos uma
pela primazia da descoberta, mas não propri- reflexão sobre os resultados desta postura
amente por conclusões científicas. dos intérpretes da cultura brasileira, reali-
Já a publicação da Ciência Hoje, tem cla- zada, a seu ver, em prejuízo da Arqueologia
ramente um objetivo mais científico, condi- e como motor do distanciamento entre ela e
zente com suas origens, e os artigos são o processo cultural contemporâneo. Para ela,
muitas vezes redigidos pelos próprios ar- a origem deste fenômeno está no desinte-
queólogos. No caso dessa revista, uma ob- resse dos arqueólogos pela comunicação
servação a ser destacada é a não inclusão museológica das pesquisas de sua área.
ou mesmo menção de fontes arqueológicas Com base nessa análise, BRUNO (1995:
(musealizadas ou não) nos textos relacio- 196) define o perfil dos problemas da
nados a pesquisas de cunho histórico, in- musealização da Arqueologia:
cluídos aí aqueles originários da Série Bra-
“a) dificuldades em comunicar infor-
sil 500. Exemplo disso são a matéria “O
mações que apresentam problemas bá-
resgate da Amazônia colonial”, cujas fontes
sicos, no que diz respeito à produção e
são documentos do Arquivo Ultramarino de
gerenciamento do conhecimento;
Portugal, e a entrevista concedida por
Ronaldo Vainfas a Carlos Fausto e a Juliana b) problemas inerentes à aproxima-
Caetano sobre “A verdadeira conquista do ção entre a sociedade contemporânea e

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ARQUEOLOGIA E PÚBLICO:
PESQUISAS E PROCESSOS DE MUSEALIZAÇÃO DA ARQUEOLOGIA NA IMPRENSA BRASILEIRA
Manuelina Maria Duarte Cândido

os vestígios de um passado, cujo fio con- precisa da função social da instituição mu-
dutor foi rompido pelos processos de seu de acordo com um perfil preservacionista,
colonização e imigração; científico e educativo.
Entretanto, as pesquisas arqueológicas
c) impasses no que diz respeito à
têm tradicionalmente uma tendência à divul-
mediação entre as características dos
gação de seus resultados nos meios acadê-
museus tradicionais e a demanda relaci-
micos, realizada via congressos e publica-
onada aos novos processos museais”.
ções científicas. Isto reforça uma caracterís-
tica de restrição da comunicação dos resul-
Museus de Arqueologia e imprensa: tados dos trabalhos dos pesquisadores de
longa distância a ser percorrida Arqueologia aos seus pares, cenário que vem
tendo alguma alteração nas publicações das
últimas décadas (FUNARI e ROBRAHN-
Entendemos a Museologia como discipli-
GONZALEZ, 2006; BASTOS, BRUHNS e
na aplicada ligada à experimentação, siste-
TEIXEIRA, 2006; SCHMITZ, 1988; ANDRADE
matização e teorização do conhecimento pro-
LIMA, 2000; JORGE, 2000; ALMEIDA, 2002;
duzido em torno do fato museal, ou seja: da
MILDER, 2006, entre outros) e na programa-
relação do homem com o objeto no cenário
ção do XIV da Sociedade de Arqueologia Bra-
museológico. Cada vez mais, os museus têm
sileira, de 2007, com várias sessões de co-
se afirmado como canais de comunicação,
municações sobre educação patrimonial e
como se pôde ver no documento internacio-
sobre museus e coleções.
nal denominado Carta de Caracas, de 1992.
Acontece que se, em geral, esta não é
Apesar disto, ainda hoje muitos museus
ainda uma preocupação largamente disse-
têm priorizado as ações de salvaguarda
minada, por outro a busca dos arqueólogos
patrimonial – embora também existam aque-
em divulgar seus trabalhos para públicos lei-
les que só se importam com a extroversão –
gos não significa que estejam, em todos os
e muitas discussões recentes da Museologia
casos, contemplando também os museus
têm se debatido ainda com a problemática
como veículo para esta comunicação2.
do equilíbrio entre salvaguarda e comunica-
Isto reflete de uma maneira ainda mais
ção patrimoniais.
distorcida na imprensa, onde os museus só
Por outro lado, a Arqueologia, que em
são citados em matérias a respeito da Ar-
muitos momentos se aproxima da Museologia
queologia como instituição de origem dos
em princípios (como a relação estreita com
pesquisadores. Algumas das opções dos ar-
a cultura material – ver CÂNDIDO, 2004) ou
queólogos para a comunicação pública de
problemas (patrimônio fragmentário,
suas pesquisas citadas nas matérias
vestigial), forma um universo de aplicação
jornalísticas em questão são a exploração
da Museologia que convive muito fortemen-
te com as dificuldades de comunicar o
patrimônio material e o conhecimento cien-
tífico produzido sobre ele para os públicos
(2) Isto pode significar processos de extroversão das
leigos. pesquisas arqueológicas de contrato, por exemplo,
Na tese citada, BRUNO (1995: 65) apon- feitas de uma maneira muito imediata e por vezes
ta vários desafios para os museus hoje, en- superficial, apenas para atender à legislação em vi-
tre eles, os de Arqueologia: a necessidade gor. É comum não haver continuidade, no caso das
de critérios para guarda e controle do volu- ações educativas, e nem ações relativas à responsa-
bilidade definitiva pelo patrimônio que vem à luz por
me dos acervos, em irrefreável expansão; a
um procedimento destrutivo (a escavação), respon-
adequação das instituições às crescentes sabilidade esta que só será plenamente atendida se
demandas sociais e a resolução dos impasses gerar processos de musealização (que englobam as
no diálogo com o público; e a delimitação plenas salvaguarda e a comunicação do acervo).

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 3, 2008.

turística, a reconstrução de ruínas em reali- mo ao citar a publicação de suas pesquisas


dade virtual, etc. por revistas científicas internacionais, mas
Outra evidência desta distorção é o fato não dá o mesmo peso à necessidade de di-
observado na Folha de São Paulo, de que, vulgação deste saber para o grande público.
no que se refere à comunicação dos resulta- Ademais, a imprensa destaca como pes-
dos das pesquisas arqueológicas, a Editoria quisa arqueológica a escavação, não apon-
de Ciências privilegia divulgar informações tando as possibilidades da Arqueologia não
oriundas de revistas científicas, enquanto a destrutiva ou da pesquisa em acervos de
de Turismo é que abre espaço para o desta- museus. Nas raras ocasiões em que chega a
que à existência dos museus. Os museus não apontar trabalhos de gabinete, refere-se somen-
são tidos como lugares de produção científi- te aos resultados divulgados via periódicos ci-
ca e de construção do saber, apenas de exi- entíficos, não em exposições museológicas, por
bição de objetos para apreciação. exemplo.
Até mesmo a discussão de polêmicas Há que se observar também que a Folhi-
atuais da musealização da Arqueologia, como nha, editoria do Jornal Folha de São Paulo
a musealização ‘in situ’ x deslocamento dos destinada ao público infantil, que ao longo
vestígios para museus, são encontradas em do ano analisado exerceu forte influência na
artigos da Editoria de Turismo – mas não na interlocução entre a Arqueologia e as crian-
de Ciências – introduzindo o tema, apesar ças, esclarecendo questões como o surgimento
de sua superficialidade. É o caso da matéria dos Tupi, o modo de vida indígena na atuali-
intitulada “História é resgatada na terra e no dade ou o trabalho do arqueólogo, não des-
mar” (Folha de São Paulo, 17/01/2000), so- taque com a mesma ênfase a atividade
bre escavações arqueológicas no centro de museal. Isto significa a desconsideração da
Beirute. A menção dos museus como atrati- possibilidade de uma larga formação de fu-
vo turístico em cidades como Beirute (Líba- turos públicos para os museus.
no), Barcelona (Espanha), Conímbriga (Por- As numerosas ocorrências da palavra-
tugal), San Pedro de Atacama (Chile) etc, é chave Arqueologia na ‘Ilustrada’ dizem res-
a motivação mais freqüente para que apare- peito, em geral, a matérias sobre a Mostra
çam na Editoria de Turismo. Desta forma, a do Redescobrimento que traziam em algum
despeito de outras funções e atividades de- momento a menção ao Módulo de Arqueolo-
sempenhadas pelo museu, notadamente gia ou ao Cine Caverna, onde um filme a este
aquelas ditas ‘de bastidores’, o que chega ao respeito estava sendo apresentado durante
público por intermédio deste veículo de im- todo o evento.
prensa é meramente a existência de peças Na Veja, em todo o ano de 2000, apare-
em exposição. O aspecto científico dessas cem 13 matérias de Arqueologia, apenas 3 delas
instituições fica em segundo plano. sobre temáticas nacionais. A grande maioria é
Igual tratamento recebe o Museu Dom internacional e não menciona museus.
Bosco, de Campo Grande em matéria da Uma matéria curiosamente captada pela
Editoria de Turismo da Folha, uma das pou- palavra-chave Arqueologia na Veja foi “Esco-
cas que detalham o interior de um museu la de profissões: as matérias que ajudam na
brasileiro. A frase a seguir pode ser orientação vocacional” (23/08/2000), em que
elucidativa sobre o teor do texto “Conchas e foi tratada a oportunidade que algumas esco-
cocares cobrem parede de museu” (27/11/ las brasileiras começam a oferecer, do aluno
2000): “A visita é válida se você é daqueles conhecer universos profissionais em meio às
que gostam de ver curiosidades...” disciplinas optativas, como forma de orienta-
Por outro lado, uma editoria como a de ção para as escolhas vocacionais. Conhecer
Ciências, realça a credibilidade das pesqui- o trabalho dos arqueólogos teve, no texto, o
sas arqueológicas ao vincular o pesquisador mesmo destaque dado à possibilidade de ver
a alguma universidade renomada, ou mes- a ação de um advogado no fórum.

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ARQUEOLOGIA E PÚBLICO:
PESQUISAS E PROCESSOS DE MUSEALIZAÇÃO DA ARQUEOLOGIA NA IMPRENSA BRASILEIRA
Manuelina Maria Duarte Cândido

A matéria “Mausoléu na selva: urnas plásticos, historiadores da arte e jornalistas,


antropomorfas revelam segredos de um povo com uma visão externa e desprovida de bases
amazônico extinto há mais de 300 anos” (14/ conceituais, perpetuando o senso comum e a
06/2000), faz referência a urnas funerárias avaliação meramente estética dos mesmos.
e maracás, mencionando o Museu Paraense Por outro lado, o autor demonstra des-
Emílio Goeldi como guardião de uma coleção conhecer outras potencialidades dos museus
deles e sua catalogação como objetos e todo o debate em torno do museu-fórum,
museológicos. Portanto, sutilmente introduz de sua função social, entre outros temas
o tema do museu como local de estudo de (CÂNDIDO, 2003). O museu, naquele discurso,
coleções, apesar de esclarecer que esta ca- tem somente duas alternativas: o museu-tem-
talogação era, até então, bastante genérica. plo ou um parque de diversões. Mais uma vez,
O potencial museológico dos objetos em não é espaço do conhecimento, da razão.
questão ainda não estava devidamente ex- A matéria propõe ainda uma moderação
plorado, apesar das peças terem vindo para quanto ao otimismo gerado pelo interesse
a Mostra do Redescobrimento. da iniciativa privada em financiar o evento,
O texto “História afogada: represa na criticando a conclusão apressada de que uma
Turquia vai inundar antigas cidades roma- ‘nova classe de mecenas’3 estivesse surgin-
nas com mosaicos de 2000 anos” (17/05/ do. Cita um dos organizadores da mostra para
2000) dá espaço para a informação sobre realçar o fato de que os novos públicos de
trabalhos de salvamento arqueológico como exposições que foram atraídos pelo evento
o que removeu, na década de 60 do século precisem continuar a ser estimulados. Acres-
XX, as estátuas de Ramsés II ameaçadas pela centamos que seria interessante uma pes-
represa de Assua, no Egito. quisa que avaliasse a conseqüência deste tipo
Mas é interessante perceber que das de evento na freqüência a museus.
poucas matérias internacionais que mencio- A Ciência Hoje, como já foi mencionado,
nam museus (duas), uma é a entrevista já tem uma postura mais científica no tratamen-
mencionada com o escritor Christian Jacq, to das questões de Arqueologia, uma preo-
que toca num tema bastante polêmico, a cupação em esclarecer sem cair no senso
questão da repatriação de bens arqueológi- comum, e, especialmente, espaço para os
cos egípcios que hoje se encontram em gran- próprios arqueólogos se colocarem, seja na
des museus europeus. Ainda arrisca uma resposta aos leitores, seja na resenha de
sugestão: a colocação de reproduções dos obras de circulação acadêmica da área.
monumentos nos lugares de origem e a ma- É nela também que encontramos pela
nutenção dos originais nos museus onde hoje primeira vez a palavra “Museologia”, na ma-
se encontram. téria “Um museu no cerrado”, de Maya Mitre.
A matéria “Impávido colosso: Mostra do Refere-se ao núcleo museológico da Esta-
Redescobrimento é a maior já feita no país, ção Ecológica de Corumbá, em Arcos (MG),
reunindo 15000 obras” (26/04/2000) revela
uma curiosa visão de museu. Segundo seu
autor, Carlos Graieb, a mostra evidenciou um
(3) Caberia uma menção ao fato da empresa
debate entre os críticos que consideram o
organizadora da Mostra ser ligada ao antigo Banco
museu um ‘repositório de tesouros’ e os que Santos, instituição financeira sob intervenção do
vêem nele um espaço para o entretenimento. Banco Central. Seu proprietário, Edemar Cid Ferreira,
Em primeiro lugar, a matéria nos remete está sendo investigado por lavagem de dinheiro, desvio
à questão da inexistência de críticos de recursos, evasão de divisas e ocultação de obras de
especializados em museus, que debatam, arte, entre outras. Em virtude disto, teve seus bens
com maior propriedade, as questões e os particulares, incluídos acervos como o arqueológico
eventos da área na grande imprensa. Esta – grande parte dele exposto na Mostra em questão
crítica acaba sempre nas mãos de artistas – recolhidos a museus públicos até a definição da questão.

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 3, 2008.

um espaço com exposição, centro de visi- ções dos 500 anos da chegada dos portugue-
tantes e 120 peças catalogadas, além de um ses ao Brasil e dos inúmeros eventos criados
projeto educativo que enfatiza a necessida- ao redor disto, especialmente, em São Paulo,
de de preservação das pinturas e gravuras a Mostra do Redescobrimento, no Parque do
rupestres existentes na região. O texto realça Ibirapuera. O grande interesse da população
a característica do núcleo que, ao invés de em mais uma vez ‘marcar presença’ num
situar-se longe das áreas de coleta do acer- grande evento expositivo da metrópole fez ex-
vo, está localizado junto à área de pesquisas, plodirem as expectativas de público e foi ao
inserido nas ações de preservação dos sítios mesmo tempo geradora e produto de uma
arqueológicos e arquitetonicamente integra- irrefreada corrida dos meios de comunicação
do à paisagem do lugar. Além disso, aponta para noticiarem a mostra e apresentarem
para os fins de investigação e produção cien- grande quantidade de informações sobre te-
tífica aos quais o núcleo pode atender. É uma mas a ela relacionados. O que não significa,
pena que o âmbito de divulgação de textos necessariamente, que estes temas voltem à
como este não seja tão amplo quanto o dos baila com a mesma freqüência, agora que
demais meios de comunicação estudados. arrefeceram os ânimos em relação a tudo que
diz respeito às origens do país.
A relação entre a Arqueologia e a impren-
Balanço das matérias sa chegou a ser discutida ao final da 2a Reu-
publicadas no ano 2000 nião internacional de Teoria Arqueológica na
América do Sul, em Olavarria, na Argentina,
Inicialmente podemos considerar que a conforme foi divulgado na Folha de São Paulo
imprensa, no que diz respeito à Arqueolo- em 29/10/2000. Lá, foi considerado que os
gia, reforça velhos sensos comuns e prolon- meios de comunicação tendem a exagerar e
ga mitos, pouco contribuindo para uma in- simplificar alguns aspectos da Arqueologia.
formação séria e para o desenvolvimento da A história da relação entre Arqueologia
criticidade a respeito deste tema. e imprensa ainda parece, hoje, marcada pelo
Em relação à musealização da Arqueo- estereótipo sensacionalista dos primórdios,
logia, as abordagens são menos freqüentes como a quando a descoberta do túmulo de
e remetem, muito comumente, não ao es- Tutancamon, em 1922, virou manchete nos
clarecimento da Museologia como campo dis- jornais e originou todo um mito, rodeado por
ciplinar com objetivos e metodologias pró- misteriosas lendas de maldições, etc.
prios e em construção, mas ao realce do O debate de Olavarria, como ocorre re-
museu como lugar de relíquias e como car- petidamente nos encontros científicos de Ar-
tão postal a ser visitado em outras cidades. queologia, não incluiu uma discussão equi-
Uma espécie de lugar sagrado imperdível em valente no que diz respeito à musealização
roteiros turísticos. da Arqueologia. Esta é uma perspectiva aber-
De uma forma geral, aspectos como a ta pouco a pouco por espaços de reflexão como
função social do museu, seu potencial a disciplina Patrimônio Arqueológico e
educativo e fomentador de consciências críti- Musealização, no âmbito da pós-graduação em
cas é ignorado e a divulgação dos museus Arqueologia da Universidade de São Paulo.
passa ao largo de questões como a formação
de identidades locais. Vemos uma repetição
da noção já ultrapassada de museu-templo, Análise das matérias
em total desconhecimento das discussões da publicadas em 2006
Museologia que visam sua transformação em
local de diálogo com os públicos. Foi feita uma busca abrangente que con-
O tema da Arqueologia esteve em evidên- siderou todas as referências à Arqueologia,
cia nesse ano sob influência das comemora- fosse vinculada a pesquisas, acervos ou pro-

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ARQUEOLOGIA E PÚBLICO:
PESQUISAS E PROCESSOS DE MUSEALIZAÇÃO DA ARQUEOLOGIA NA IMPRENSA BRASILEIRA
Manuelina Maria Duarte Cândido

fissionais da área. Novamente encontramos palavra-chave arqueólogo: “O melhor de


na busca uma série de matérias que não se Harrison Ford” (10/02/2006) . Por moti-
referem propriamente à Arqueologia, mas na vos óbvios, não foi contabilizada.
busca por palavras apareceram por terem o Chama a atenção a grande incidência da
termo arqueologia como metáfora – “arque- palavra tesouro nos textos jornalísticos so-
ologia da ética”, na matéria “Cinco anos sem bre Arqueologia. Apenas nas reportagens
Covas” (16/03/2006) –, como no caso da (129 no total) com a palavra Arqueologia,
arqueologia da arquitetura citada na maté- “tesouro” aparece 37 vezes. Esta observa-
ria “Artista francês modifica paredes do Sesc ção é apenas para alertar a respeito da per-
Paulista” (14/11/2006) não no sentido pró- sistência da aura de exotismo e de “caça ao
prio da expressão4 mas no das intervenções tesouro”, ainda muito associada à prática da
artísticas ou instalações realizadas pelo ar- Arqueologia e que motiva a ação ilegal de
tista plástico Georges Rousse em prédios amadores e aventureiros. Entre as 129 ma-
prestes a demolição; no sentido de pesquisa térias, 76 são internacionais (destas apenas
e registro acurado de uma situação: “Gitai 15 citam museus) e 53 são nacionais, sendo
investiga microcosmo em ‘Notícias do Lar…’” que 24 citam museus. Pelo menos nestes
(20/10/2006); “Arqueologia do PCC” (22/05/ aspectos as matérias sobre Arqueologia no
2006); no sentido de recuperação: “Arqueo- Brasil parecem ter mais consistência ou, mi-
logia digital” (24/04/2006), sobre clássicos nimamente, refletem um trabalho dos mu-
de Joaquim Pedro de Andrade, restaurados seus relativo à ênfase na divulgação do
por meio de novas tecnologias. patrimônio em âmbito local.
Foram consideradas todas as inser- Outros temas importantes abordados
ções do tema Arqueologia no corpo do implícita ou explicitamente nas matérias fo-
jornal, fosse em matérias completas, fos- ram: o tráfico ilícito de bens arqueológicos,
se em cartas de leitores, textos-legenda a tradição de desterritorialização e os cada vez
e serviços de informação sobre opções de mais freqüentes pedidos de repatriamento; a
lazer que incluíssem museus e exposições emergência da arqueologia de contrato; a
de Arqueologia. Há situações em que a publicização necessária sobre a legislação
matéria não se refere a Arqueologia mas, relativa a impactos; as demandas dos ter-
na busca por palavras, apareceu lista por- mos de ajuste de conduta; a mobilização
que o arqueólogo é entrevistado, mas pública em defesa do patrimônio; e a forma-
numa situação comum como cidadão, e a ção profissional neste novo contexto. No
respeito de sua vida social ou política. âmbito acadêmico essas discussões são can-
Exemplos disto são Niède Guidon respon- dentes e estão presentes em autores como
dendo em quem votaria para Presidente BRUNO (1995, 2005), FUNARI (2000, 2003),
da República, e Eduardo Neves falando de TAMANINI (1998, 1999), CÂNDIDO (2004),
sua relação com a bola, em uma matéria MARTINS (2000), só para citar alguns.
sobre futebol. Nestes casos não conside- São questões que, para além da refle-
ramos a matéria para efeito desta análi- xão gerada por estes veículos junto à popu-
se. Como era de se esperar, aparece uma lação em geral, intrigam e geram debates e
referência a Indiana Jones, na busca pela polêmicas mesmo nos círculos especializados.
Para o público leigo, porém, as matérias tra-
zem algumas discussões implícitas que são
relevantes para a compreensão da ciência
(4) “Arqueologia da arquitetura” é uma expressão em geral e da Arqueologia enquanto ciência,
que designa trabalhos integrados de restauração e
como a pesquisa baseada em hipóteses, a
investigação arqueológica, como na experiência da
reatauração da catedral de Santa Maria em Vitória- convivência de modelos interpretativos dife-
Gasteiz, Espanha. Ver o site rentes até a comprovação de uma hipótese,
http://www.catedralvitoria.com/index.html. portanto, a ciência como construção. Maté-

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 3, 2008.

rias chegam a abordar a diversidade das anos comuns, transparece ainda uma idéia
evidências arqueológicas existentes em um de Arqueologia como algo reservado a
sítio e, conseqüentemente, a necessidade de países estrangeiros, especialmente no Me-
interpretação do sítio como um todo. Contri- diterrâneo e Médio Oriente, e em parte
buem assim, para a conscientização sobre o da América espanhola, notadamente Peru
problema da interpretação em sítios já alte- e México.
rados. Nesse intervalo de tempo entre os dois
períodos analisados, houve um aprofundamento
de alguns aspectos relativos a um novo
Considerações finais panorama da relação entre Arqueologia e
sociedade. Nas matérias publicadas em
A perspectiva teórica que conduz a esta 2006 há indícios muito mais freqüentes
análise sobre representações de Arqueolo- que em 2000 da demanda por trabalhos
gia e dos arqueólogos no Brasil parte da com- de arqueologia de salvamento.
preensão pós-processualista de que “o exer- Há menções diversas a respeito da
cício da Arqueologia é um ato político” iminência de destruição de sítios arqueo-
(ALMEIDA, 2002: 25) e de que a construção lógicos no Brasil e no exterior por conta
do conhecimento em Arqueologia não é neu- da expansão de obras públicas e empre-
tra, mas historicamente elaborada. Nesta li- endimentos privados. O tom oscila entre
nha, a divulgação das pesquisas é entendida a denúncia da destruição dos sítios –
também como parte do compromisso profis- “Obras da BR-1001 inutilizam sítio arque-
sional do arqueólogo. ológico em SC” – (26/11/2006) e a queixa
BANH e RENFREW (1998: 505) alertam sobre os atrasos em obras devido à pes-
que a não publicação dos resultados das pes- quisa arqueológica: “Ruína arqueológica
quisas é um roubo, mais que isto, um duplo pára obra em Pequim” (17/10/2006). Mui-
roubo, já que recaem em mal-versação de to se falou sobre sítios arqueológicos en-
verbas públicas e em ocultamento da infor- contrados nos locais em que seriam reali-
mação. Em seguida, reconhecem um eviden- zadas obras para as olimpíadas de 2008 –
te apetite do público em relação à Arqueolo- “Pequim-2008 encontra cemitério de
gia (1998: 507). Portanto, ao mesmo tempo eunucos”–, assim como já ocorrera no pe-
em que cabe ao arqueólogo avançar na pes- ríodo anterior às Olimpíadas de Atenas,
quisa e na produção de conhecimento, é sua em 2004. Aliás, estará o Brasil preparado
responsabilidade avaliar as representações e com profissionais suficientes para as
sociais da Arqueologia, dos arqueólogos, dos demandas em várias cidades decorrentes
museus de Arqueologia, e desconstruir con- de obras de infraestrutura para a tão so-
ceitos equivocados e estanques, propor uma nhada Copa do Mundo de 2014?
crítica e autocrítica constantes no âmbito da No Brasil, este avanço da atenção e da
Arqueologia e de sua relação com a socie- demanda por trabalhos de pesquisa arqueo-
dade. lógica em áreas ameaçadas de impacto por
Ao final da comparação entre as ma- empreendimentos, decorrem especialmente
térias publicadas na Folha de São Paulo das pressões legais, como a lei 3924/61, a
em 2000 e em 2006 ficou confirmada a Constituição Federal de 1988 e a Portaria no
expectativa de que a proporção de mais 230, de 17/12/2002, do IPHAN, que estabe-
matérias nacionais que internacionais vista lece procedimentos para compatibilização das
em 2000 não se confirmasse, pois já se fases de obtenção de licenças ambientais com
esperava que o chamariz maior daquele as da pesquisa arqueológica.
ano para matérias sobre arqueologia bra- Pelas matérias publicadas em alguns dos
sileira fosse o marco dos 500 anos e a mais importantes veículos da imprensa es-
Mostra do Redescobrimento. No geral, em crita brasileira, fica evidente que à legisla-

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ARQUEOLOGIA E PÚBLICO:
PESQUISAS E PROCESSOS DE MUSEALIZAÇÃO DA ARQUEOLOGIA NA IMPRENSA BRASILEIRA
Manuelina Maria Duarte Cândido

ção refinada não corresponde uma maior Agradecimentos:


compreensão pela sociedade do sentido des-
ta proteção: Matérias como “Ibama pára obra Agradeço à Profa. Dra. Cristina Bruno o
ferroviária do governo Lula” (18/10/2006) incentivo para retomar este texto e prepará-
tocam um ponto sensível da relação entre lo para publicação. A Verônica Viana e Karlla
preservação e desenvolvimento. Pode se es- Andrêssa Soares a leitura atenta e suges-
tar criando aí um novo papel ou caricatura tões. A responsabilidade pelo conteúdo é
de arqueólogo. exclusivamnte da autora.

Abstract: This article develops a reflection on Museums, Archaeology


and the Press. Its objective is to discuss how Archaeology is presented for
the great public for the press and the role of the Archaeology’s musealization
between Archaeology and public. The text compares the articles published
in the written media in two different years, 2000 and 2006, and tries to
understand how images of archaeologists, Archaeology and museums of
Archaeology are constructed by these vehicles of communication.

Key words: Archaeology, Public Archaeology, press, museums

Fontes Bibliográficas

ALMEIDA, MÁRCIA BEZERRA dos sítios arqueológicos. Revista do Insti-


2002 O Australopiteco corcunda: as crianças e tuto do Patrimônio Histórico e Artístico Na-
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2000 “A ética que temos e a ética que queremos: anthologie de la nouvelle museologie.
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bado fim de milênio)” in MENDONÇA DE CÂNDIDO, MANUELINA MARIA DUARTE; FORTUNA,
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Madrid: Akal Ediciones. (Serie Textos) Aracaju: Universidade Federal de Sergipe,
BA STOS , ROSS ANO L.; BRUHNS, KATIANNE; Dezembro. p. 129-156.
TEIXEIRA, ADRIANA CÂNDIDO, MANUELINA MARIA DUARTE.
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gia. Florianópolis: IPHAN. v. 1. 15 p. tural e preservação em Fernando de
BRUNO, MARIA CRISTINA OLIVEIRA Noronha. São Paulo: FFLCH/USP. (Disser-
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Paulo: FFLCH/USP. (Tese de Doutorado). 2003 Ondas do Pensamento Museológico Bra-
BRUNO, MARIA CRISTINA OLIVEIRA. sileiro . Lisboa: ULHT. (Cadernos de
2005 Arqueologia e antropofagia: a musealização Sociomuseologia, 20). 259 p.

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Manuelina Maria Duarte Candido.pmd 43 02/07/2009, 13:01


Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 3, 2008.

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2003 Arqueologia. São Paulo: Contexto. 2006 Arqueologia da Amazônia. Rio de Janeiro: Jorge
FUNARI, PEDRO PAULO A. Zahar Editor. (Coleção Descobrindo o Brasil)
2000 “Como se tornar arqueólogo no Brasil” in PROUS, ANDRÉ.
Revista USP, 44, 74-85. São Paulo: EDUSP. 2006 O Brasil antes dos brasileiros: a pré-história
FUNARI, PEDRO PAULO A.; ROBRAHN-GONZALEZ, do nosso país. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
ERIKA (Eds.). SCHMITZ, PEDRO I.
2006 Revista de Arqueologia Pública. Campinas: 1988 “O Patrimônio Arqueológico Brasileiro” in
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tituto Piaget. (Coleção O Homem e a Cidade) 1999 Museu, Educação e Arqueologia: Prospecções
MARTINS, LUCIANA CONRADO entre Teoria e Prática. Revista do Museu
2000 Arqueologia de salvamento e os desafios de Arqueologia e Etnologia da USP, São
dos processos de musealização. São Pau- Paulo, p. 339-345.
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2006 As Várias Faces do Patrimônio. Santa Ma- Cultura Material e Arqueologia Histórica,
ria: Pallotti. Campinas - SP, p. 179-220.

Periódicos

Ciência Hoje. Ano 2000.


Folha de São Paulo. Anos 2000 e 2006.
Revista Veja. Ano 2000.

ANEXO 1

Lista de matérias que mencionam a


Arqueologia no ano 2000

Folha de São Paulo

Mostra celebra Brasil 500 com 5.800 obras (07/01/2000) Parabéns para quem? (22/02/2000)
A saga de Ramsés e o preço do estrelato faraônico Evento exibe 6.500 obras no Ibirapuera (22/02/2000)
(08/01/2000) Sinagoga será centro de cultura judaica (28/02/2000)
Arranha-céu serve de fundo para ruína de Tiro (17/ SP ganha “oca mais bonita do mundo” (28/02/2000)
01/2000) Equipe encontra artefatos de 800 mil anos (03/03/2000)
Viagem pela Costa é volta ao passado (17/01/2000) USP quer idéias de uso para casa tombada (11/03/2000)
História é resgatada na terra e no mar (17/01/2000) Historiadores e aventureiros disputam sobra de
O verdadeiro Armageddon (30/01/2000) naufrágios (19/03/2000)
Arqueóloga diz que fósseis no Piauí podem ter 15 União tem posse de objetos (19/03/2000)
mil anos (10/02/2000) 500 anos de naufrágios (19/03/2000)
Descoberta em Recife primeira sinagoga (08/02/2000) A falha arqueológica do Brasil (19/03/2000)
Romanos passaram pela América (10/02/2000) Arqueóloga é a alma do parque (19/03/2000)
Ilhabela concentra 21 navios naufragados em sua Os sítios mais polêmicos do mundo (19/03/2000)
costa (12/02/2000) Masp festeja 100 anos de Bardi com mostra (23/02/
Lendas do mar viram realidade em Ilhabela (12/02/2000) 2000)
Paraná guarda últimos trechos da estrada indígena Masp acelera reforma para homenagear Bardi (25/
que cortava a América do Sul (20/02/2000) 02/2000)
Produtor rural preserva trilha (20/02/2000) Civilização luxuosa (25/03/2000)
Cabeza de Vaca usou caminho (20/02/2000) Mandioca e cerâmica colorida (25/03/2000)

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ARQUEOLOGIA E PÚBLICO:
PESQUISAS E PROCESSOS DE MUSEALIZAÇÃO DA ARQUEOLOGIA NA IMPRENSA BRASILEIRA
Manuelina Maria Duarte Cândido

Em busca de Maíra (25/03/2000) Cientistas estudam fóssil de réptil com penas mais
Como surgiram os tupis (25/03/2000) antigo que dinossauros (23/06/2000)
Como vivem os indígenas hoje (25/03/2000) Mostra do Redescobrimento faz workshop sobre
Brinque de arqueólogo (25/03/2000) conservação (25/07/2000)
O Bambi da pré-história (25/03/2000) Fortaleza do século 16 é descoberta na PB (26/07/2000)
Seis grupos que habitaram o Brasil (25/03/2000) Redescobrimento atinge marca de 1 milhão de visi-
Como é o trabalho do arqueólogo (25/03/2000) tantes em São Paulo (05/08/2000)
Montanhas de conchas (25/03/2000) Femina ludopedicus (08/08/2000)
Casas debaixo do chão (25/03/2000) Tapeçaria asteca é encontrada no México (09/08/2000)
Antes de o Brasil existir (25/03/2000) Gruta pode abrigar mapa astronômico de 16.500
Pé na estrada (25/03/2000) anos (10/08/2000)
Todo mundo morava junto (25/03/2000) Invenções no Brasil (12/08/2000)
Retrato molecular do Brasil (26/03/2000) Homem já saiu da África com tecnologia (12/08/2000)
Ossos e demografia desvendam desaparecimento Barcelona transpira diversão e arte (14/08/2000)
e domesticação (27/03/2000) Escavação tenta achar os alicerces do primeiro co-
‘Os objetos vieram de forma legal’ (02/04/2000) légio jesuíta no país (15/08/2000)
Evento analisa a arqueologia no país (14/04/2000) Iglus de barro emergem de aldeia soterrada (21/
Redescobrimento se faz com R$ 40 milhões e 15 mil 08/2000)
obras (19/04/2000) Búlgaros acham palácio de líder do século 3o a.C.
Artigo rebate tese sobre Kennewick (17/04/2000) (24/08/2000)
Pesquisadores estão pessimistas com a arqueolo- Brasileiros mergulham no Titicaca (26/08/2000)
gia brasileira (19/04/2000) Mostra chega à reta final (27/08/2000)
Oca (21/04/2000) Módulos irão para o Rio, Brasília, Europa e EUA (27/
Identificado corpo do filho de Felipe 2o (21/04/2000) 08/2000)
O lascador de pedras (22/04/2000) A segunda morte de Marajó (27/08/2000)
Oca de Niemeyer ganha cores indígenas (22/04/2000) Pesquisadores acham sítios em Ilhabela (29/08/2000)
Módulos e destaques da mostra (25/04/2000) Veneza também já afundou no passado (30/08/2000)
Cine caverna aborda arqueologia (28/04/2000) Como salvar São Marcos (30/08/2000)
‘Superdomingo’ em SP atrai 170 mil pessoas (01/05/2000) Em busca das raridades (01/09/2000)
Homem pré-histórico ia à praia (08/05/2000) Alemães descobrem observatório astronômico
Criticada, sinalização da exposição é toda refeita construído há 7.000 anos (02/09/2000)
(11/05/2000) Piauí tem pinturas rupestres em miniatura (04/09/2000)
Arte e história atraíram visitante da mostra (11/05/ Região teve duas escolas de arte em pedra (04/09/2000)
2000) ‘Isso aqui é um negócio’, diz Edemar Cid Ferreira
Conímbriga atrai pesquisador e turista (15/05/2000) (07/09/2000)
Oca do Ibirapuera recebe acervos do Beaubourg e Galeristas criticam cenografia do evento (07/09/2000)
do British Museum (20/05/2000) A mostra do deslumbramento (07/09/2000)
A fabricação das bestas (21/05/2000) Ruína na Guatemala revela nova face maia (10/09/2000)
Mostra temporária recria navios (22/05/2000) Redescobrimento termina em São Paulo hoje, às
Pesquisadores acham cidade de 6.000 anos (24/ 22h (10/09/2000)
05/2000) Mostra do Redescobrimento inicia ‘turnê’ pelo país
Urna funerária pode ter até 2.000 anos (27/05/2000) (11/09/2000)
Avião do escritor abatido em 1944 é descoberto No mundo (11/09/2000)
(29/05/2000) Egito encontra mais de 102 múmias (12/09/2000)
Dois museus podem conservar a peça (01/06/2000) Exploradores acham habitação humana vários
Livros tentam decifrar origens das receitas (09/06/2000) metros abaixo do mar Negro (13/09/2000)
Saiba mais sobre Zeugma (10/06/2000) Sítio turco pode explicar ‘dilúvios’ (14/09/2000)
Perda é das maiores do mundo, diz pesquisador Mais de 900 mil pessoas visitam Mostra do
(10/06/2000) Redescobrimento de graça (14/09/2000)
Egito salvou sítios arqueológicos nos anos 60 (10/ Chegada da National Geographic causa fim do
06/2000) Superstation (24/09/2000)
Turquia inunda tesouros gregos e romanos (10/06/2000) Cientistas iniciam caça a ‘filhos’ de Luzia (25/09/2000)
Neandertais eram carnívoros vorazes e exímios pre- Fóssil de 9.300 anos pode ser dado a índios (29/09/
dadores (13/06/2000) 2000)
Fabricação de tecidos ocorreu a 27 mil anos (16/06/ Sítio arqueológico é aberto ao público; Psicanálise é
2000) tema de lançamentos (03/10/2000)
Construção de hotel revela restos de aldeia (19/ Cultura traz a vida do homem das cavernas (08/10/
06/2000) 2000)

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 3, 2008.

Grécia material (08/10/2000) Operários acham urna indígena em Manaus (13/12/2000)


Um mundo das mulheres (19/10/2000) A arte grega vira tema de palestra hoje na Folha
Índios já plantavam milho há 7 milênios (19/10/2000) (14/12/2000)
A porta da esperança (24/10/2000) O Vale das Múmias Douradas (16/12/2000)
Portugal se volta para o redescobrimento brasileiro Site mostra faraós e a esfinge (16/12/2000)
(25/10/2000) Múmias de ouro são do período romano (16/12/2000)
A revolução cultural na Amazônia (29/10/2000) O que é egiptologia (16/12/2000)
Arqueologia tateante (29/10/2000) Livros para saber mais sobre a cultura egípcia (16/
Adão e Eva não se conheceram, diz estudo (31/10/2000) 12/2000)
Eva chegou primeiro ao Éden, diz estudo (31/10/2000) A construção das pirâmides (16/12/2000)
Pintura rupestre italiana pode ser a mais antiga (02/ Rainha de uns 4.000 anos (16/12/2000)
11/2000) Antigo Egito na internet (16/12/2000)
População européia se divide em três grupos gené- O Egito dos faraós (16/12/2000)
ticos principais (10/11/2000) Religião com vários deuses (16/12/2000)
O Império ligado na ciência (19/11/2000) A escrita egípcia (16/12/2000)
Museus (22/11/2000) Deuses e deusas (16/12/2000)
‘Folha e a Escola do Masp’ trata de características Mais achados da Arqueologia; descobertas no
da arte egípcia (24/11/2000) Amapá; pinturas pré-históricas (16/12/2000)
Conchas e cocares cobrem parede de museu (27/ Restauração de igreja revela presença jesuítica no
11/2000) Rio (21/12/2000)
‘Fóssil vivo’ é fotografado na costa da África (02/ Retábulo é um dos mais antigos do país (21/12/2000)
12/2000) O enigma da múmia (24/12/2000)

Revista Veja

Sexo à moda romana: exposição de arte erótica antigas cidades romanas com mosaicos de 2000
de Pompéia exibe aspecto menos conhecido do anos (17/05/2000)
cotidiano da cidade ressurgida das cinzas (15/ Ele queria ser rei: encontrado mausoléu do gover-
03/2000) nador egípcio cujo poder e riqueza rivalizavam
Tesouro nos trilhos: abertura do metrô de Atenas com os do faraó (31/05/2000)
desencava 10000 peças históricas e construções Mausoléu na selva: urnas antropomorfas revelam
milenares (22/03/2000) segredos de um povo amazônico extinto há mais
Construindo o passado: a França amplia seu de 300 anos (14/06/2000)
patrimônio cultural com a reconstituição de um Escola de profissões: as matérias que ajudam na
castelo medieval e uma fragata histórica (29/03/ orientação vocacional (23/08/2000)
2000) A fábrica de ouro: americanos encontram na Tur-
Eles eram assim: retratos mortuários que enfeita- quia os restos da primeira casa da moeda da His-
vam múmias revelam a fisionomia dos antigos egíp- tória (30/08/2000)
cios (05/04/2000) Indo água abaixo: pesquisa adverte que compor-
Impávido colosso: Mostra do Redescobrimento é a maior tas projetadas para proteger Veneza causarão
já feita no país, reunindo 15000 obras (26/04/2000) maior estrago (06/09/2000)
Entrevista: Christian Jacq – Nós e as múmias (10/ Mercado na selva: ruínas de palácio mostram que
05/2000) havia comércio, e não apenas guerra, entre as
História afogada: represa na Turquia vai inundar cidades maias (20/09/2000)

Revista Ciência Hoje

Os ‘homens do sambaqui’ foram dominados pelos Tenório, redigida por Pedro Paulo Funari. No 163.
tupis por volta do ano 1000? Eles teriam ensina- Brasil: colonização e resistência – matéria da série
do aos tupis as técnicas de pesca no mar, com Brasil 500, por Pedro Putoni. No 164.
canoas e redes? – Pergunta da leitora Isabel Um museu no cerrado – por Maya Mitre. No 164.
Roque, respondida pela arqueóloga Maria Dulce Os vegetais na vida dos sambaquieiros – por Rita
Gaspar. No 160. Scheel-Ybert. No 165.
O Brasil antes dos portugueses – resenha do livro Códice Costa Matoso – por Roberto Barros de Car-
Pré-História da Terra Brasilis, org. por Maria Cristina valho. No 167.

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ARQUEOLOGIA E PÚBLICO:
PESQUISAS E PROCESSOS DE MUSEALIZAÇÃO DA ARQUEOLOGIA NA IMPRENSA BRASILEIRA
Manuelina Maria Duarte Cândido

ANEXO 2

Lista de matérias que mencionam a


Arqueologia no ano 2006

Folha de São Paulo

Grupo decifra antigo computador grego (30/11/2006) Pequim - 2008 encontra cemitério de eunucos (26/
Obras da BR-101 inutilizam sítio arqueológico em SC 07/2006)
(26/11/2006) Peru cultura e arqueologia (20/07/2006)
Com achados em estrada, ferrovia gera preocupa- Peru incita turista a garimpar sua história (20/07/2006)
ção (26/11/2006) Machu Picchu impressiona por estar dependurada
Os artefatos achados na BR-101 (26/11/2006) (20/07/2006)
Rodovia liga boa parte do litoral do país (26/11/2006) Trilha curta dribla excesso de companhia (20/07/2006)
‘Gordíssima’, capital da Bahia agrada a ‘crânios’ e Costa norte procura sua vocação em ruína arqueo-
praianos (23/11/2006) lógica (20/07/2006)
Mudança de porta faz público de museu multiplicar Tesouro de Sipán é ícone nacional, diz arqueólogo
(23/11/2006) (20/07/2006)
Estudo revela segredo de arma medieval (20/11/2006) Em feira, venda de peças (20/07/2006)
Figura asteca é uma das mais relevantes (20/11/2006) Mundo pré-incaico resiste na estrutura de Chan
Exposição traz tesouros de civilização peruana (18/ Chan (20/07/2006)
11/2006) Recém-descoberta, múmia pode mudar face da re-
Destaques da exposição (18/11/2006) gião (20/07/2006)
Caça ao tesouro (18/11/2006) Guidon diz que sai do Brasil em dezembro (08/07/2006)
Quem foi o Senhor de Sipán (18/11/2006) SC encontra sambaqui de 6.000 anos (04/07/2006)
Casas históricas são restauradas em SP (11/11/2006) Fatos fundadores (25/06/2006)
Prefeitura de São Paulo restaura casas históricas Conchas são ‘jóia’ mais velha do mundo (23/06/2006)
(11/11/2006) Tumba etrusca de 690 a. C é descoberta (22/06/2006)
Cérebro humano herdou gene neandertal, diz es- Figo da Palestina redefine data inicial da agricultura
tudo (10/11/2006) (02/06/2006)
Primo ‘bruto’ da humanidade também tinha dieta ‘Hobbit’ fazia ferramentas, diz cientista (01/06/2006)
variada (10/11/2006) Descoberta foi marco da antropologia (01/06/2006)
A distribuição de matrículas no ensino superior bra- Coluna Mônica Bergamo (15/05/2006)5
sileiro (23/10/2006) Amapá pode ter ‘observatório’ pré-histórico (13/
Reforma em capela traz passado colonial (20/10/2006) 05/2006)
Ruína arqueológica pára obra em Pequim (17/10/2006) Ruínas zapotecas se enfileiram por vale a leste de
Arqueologia metropolitana (06/10/2006) Oaxaca (04/05/2006)
A floresta dos homens (24/09/2006) Porto romano pára túnel na Turquia (03/05/2006)
Palácio inspirou livros e ópera de Mozart (21/09/2006) Dupla acha primatas mais velhos do país (24/04/2006)
Objetos da Terra Santa (21/09/2006) Onde fica (23/04/2006)
México já possuía escrita há 3.000 anos (15/09/2006) Painel do leitor (18/04/2006)
Genes apóiam nova hipótese sobre Luzia (09/09/2006) Painel do leitor (17/04/2006)
Os competidores atuais (09/09/2006) SP não preserva sua memória arqueológica (16/04/2006)
Energia e calma resumem vida à moda riojana (31/ Prefeitura diz que exige pesquisa prévia (16/04/2006)
08/2006) Empresa nega ter sido avisada sobre sítio (16/04/2006)
Grécia (17/08/2006) A esfinge faz plástica (15/04/2006)
Pôr-do-sol de Oía guia turista até a ponta da ilha Mania de grandeza (15/04/2006)
(17/08/2006) Fóssil traça elo entre ancestrais humanos (13/04/2006)
História se infiltra no dia-a-dia de Atenas (17/08/2006) Após incêndio, casarão é reerguido em Ouro Preto
Porto de fábulas justifica breve visita (17/08/2006) (12/04/2006)
Fachada simples esconde saga de coleção (17/08/2006)
Imponente, Acrópole paira acima de Atenas (17/08/2006)
Jovens do Cumbe retomam sua tradição (03/08/2006)
Pirataria à deriva (30/07/2006)
Pântano irlandês revela livro de salmos com 1.200 (5) Refere-se à mostra “Por Ti América”, no CCBB -
anos (26/07/2006) SP,- com 250 peças arqueológicas de sete países

47

Manuelina Maria Duarte Candido.pmd 47 02/07/2009, 13:01


Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 3, 2008.

Casarão destruído é reerguido em Ouro Preto (12/ Arqueólogo mapeia e fotografa a arte da Pré-histó-
04/2006) ria na Bahia (15/10/2006)
Jesus pediu traição, diz Evangelho de Judas (07/ Relíquia do leste (31/08/2006)
04/2006) Desenhos ou letras? (07/08/2006)
‘Dentistas’ podem ter atuado há 9.500 anos (06/ Antes de falar, neandertal criou rave (11/06/2006)
04/2006) Em evento raro, novo sarcófago é achado no Vale
Histórias do subterrâneo (19/03/2006) dos Reis, Egito (05/06/2006)
A caminho das cinzas (12/03/2006) Arqueólogos acham múmia tatuada (17/05/2006)
Ilha de Páscoa teve ‘civilização-relâmpago’ (10/03/2006) Roma e Pavia desfizeram-se um dia (29/03/2006)
Peru quer ir à Justiça por acervo de Machu Picchu A ciência do falso testemunho (15/01/2006)
(06/03/2006) Caboclo da Amazônia está no limiar da subnutrição
Museu do Ipiranga exibe acervo do dono do Banco (27/11/2006)
Santos (05/03/2006) Arqueóloga que escreveu sobre o véu é absolvida
América do Sul tem milho há 4.000 anos (02/03/2006) (02/11/2006)
Estudo vê elo entre a Peste Negra e onda de frio Roma ibérica (02/10/2006)
que mudou clima do planeta (28/02/2006) Caras-pintadas (26/09/2006)
Sítios pré-históricos seqüestram carbono (21/02/ Exposição faz uma jornada à Antigüidade (18/08/2006)
2006) São Paulo recebe exposição sobre deuses gregos
Novo túmulo no vale dos Reis assombra arqueólo- com 200 esculturas (17/08/2006)
gos (11/02/2006) Conciliação egípcia (08/06/2006)
Segredo do deserto (11/02/2006) Mostra busca visão comum da América antes de
É grátis (10/02/2006) Colombo (16/05/2006)
Ötzi era infértil, diz estudo de DNA (04/02/2006) ‘1421’: eram os chineses astronautas? (02/12/2006)
Pintura sugere que China pode ter inventado o es- Camboja (23/11/2006)
qui (24/01/2006) Distâncias se encurtam em Sergipe (16/11/2006)
Estudo de DNA diz que tifo era a praga de Atenas No sertão, cânion transmite sensação de alma la-
(24/01/2006) vada (16/11/2006)
ONG faz resgate de relíquias do mar (22/01/2006) Museu arqueológico guarda 55 mil peças (16/11/
Leme de 300 anos é tirado do fundo do mar (22/01/ 2006)
2006) Ibama pára obra ferroviária do governo Lula (18/
Patrimônio submerso está vulnerável (22/01/2006) 10/2006)
Outros programas que levam ao passado (20/01/ Obra danifica rede colonial de água em Diamantina
2006) (13/10/2006)
Casa de Edemar não deve mais virar museu (12/01/ SP quer tombar Palácio dos Bandeirantes (28/09/2006)
2006) Mulas ajudam a chegar ao topo de Fira, quase 600
Achado revela que maias tinham hieróglifos em tem- degraus acima do cais (17/08/2006)
pos antigos (06/01/2006) Cancún hippie (04/06/2006)
Peru tem irrigação mais velha das Américas (05/01/ Estação lunar (21/05/2006)
2006) Ruínas zapotecas se enfileiram por vale a leste de
Americana tem nova tese sobre ‘amazonas’ (03/01/ Oaxaca (04/05/2006)
2006) Lastarria é refúgio familiar dos fins de semana
Teoria propõe ocupação densa na pré-história (03/ santiaguinos (20/04/2006)
01/2006) Aromas do bosque (23/03/2006)
Floresta esconde ruínas do século 18 no litoral Teotihuacán atrai turista desde os astecas (09/
paulista (01/01/2006) 02/2006)

48

Manuelina Maria Duarte Candido.pmd 48 02/07/2009, 13:01


Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 3, 2008. pgs. 49-63.

¿ACTIVIDAD LIBERAL O LIBERTINAJE? LA PRÁCTICA LABORAL


EN LA ARQUEOLOGÍA DE CONTRATO EN URUGUAY.

Irina Capdepont Caffa

Resumen: El desarrollo económico y los procesos de modernización


gestados en Uruguay, generan transformaciones afectando al patrimonio
arqueológico mediante la ejecución de obras. El aumento de estas, junto
con la Ley de Impacto Ambiental forjó la ejecución de estudios de impacto
arqueológico. Ello genero un crecimiento en el campo laboral que no ha
sido acompañado de un cambio legal, administrativo y académico. La
problemática originada por todo ello hacen abordar y reflexionar sobre la
situación actual del accionar arqueológico, los procedimientos
metodológicos y éticos y el rol de los organismos fiscalizadores en el con-
texto de la Arqueología de Contrato o Arqueología Aplicada.

Palabras Claves: Impacto Arqueológico, Campo Laboral

Introducción alteración de las propiedades físicas, quí-


micas o biológicas del medio ambiente
Con el aumento de las obras públicas y causada por cualquier forma de materia
privadas y la existencia de la Ley de Medio o energía resultante de las actividades
Ambiente 16.464, la Dirección Nacional de humanas que directa o indirectamente
Medio Ambiente contempla el relevamiento y perjudiquen o dañen: La salud, seguridad
rescate de sitios de valor cultural, situación o calidad de vida de la población. Las
que debe reflejarse en las Evaluaciones de condiciones estéticas, culturales o
Impacto Ambiental. La Ley de Medio Ambien- sanitarias del medio. La configuración,
te, promulgada en 1994, cuanta con 18 Artícu- calidad y diversidad de los recursos
los y un Decreto Reglamentario, de los cuales naturales (Diario Oficial Nº 23977 1994).
se desprenden y enmarcan las ejecuciones de
los Estudios de Impacto Arqueológico: Art. 12 del Decreto Reglamentario
435/94.- El documento que recoja los
Art. 2º de la Ley de Medio Ambi- resultados del Estudio de Impacto
ente 16.464/94.- Se considera impac- Ambiental, deberá contener, como míni-
to ambiental negativo o nocivo toda mo, las características del ambiente re-
ceptor, en la que se describirán las ca-
racterísticas del entorno, se evaluarán las
MUNHINA Ministerio de Educación y Cultura,
afectaciones ya existentes y se identificarán
Montevideo - Uruguay / FCS – Universidad del Centro las áreas sensibles o de riesgo; todo ello
de la Provincia de Buenos. Aires.iracap@yahoo.com.ar en tres aspectos:

49

Irina Capdepont Caffa.pmd 49 02/07/2009, 12:39


Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 3, 2008.

a) Ambiente físico: agua, suelo, paisaje, etc. • El adecuado tratamiento y manejo del
patrimonio arqueológico (Gestión Integral
b) Ambiente biótico: fauna, flora, biota
sensus Amado et al. 2002) es compatible
acuática, etc.
con el desarrollo económico del país. La
c) Ambiente antrópico: población, existencia de un sitio arqueológico en un
actividades, usos del suelo, sitios de área determinada no imposibilita habitu-
interés histórico y cultural. (Diario Oficial almente el desarrollo de otras actividades.
Nº 24/145 1994).
• Los EIArq frecuentemente se enmarcan
La Ley de Medio Ambiente y el Decreto dentro de la práctica liberal de la
Reglamentario han contribuido a generar un profesión. Con ello se entiende el
gran crecimiento en lo referente al: campo ejercicio de una actividad intelectual
laboral del arqueólogo, al conocimiento de profesional sin vínculos estables con
nuevas áreas y a la profundización de personas o instituciones para la prestación
información en áreas ya conocidas. Este de servicios. Las relaciones laborales
crecimiento no ha sido acompañado por un cesan al concluirse el acto profesional y
cambio específico en la administración pú- donde la obligación asumida por parte
blica ni en el accionar de los profesionales del profesional tiende a obtener un de-
involucrados. Lo expuesto lleva a la necesaria terminado resultado, en un tiempo y a
reflexión crítica sobre la situación actual del un costo pactado entre los involucrados.
campo laboral en arqueología, haciendo es- Ello implica también la responsabilidad
pecial hincapié en los procedimientos éticos frente a los actos realizados en un EIArq.
y metodológicos, en el rol de los organismos
• Se concibe al EIArq como un proceso
fiscalizadores (Comisión del Patrimonio Cul-
continuo en el que interrelacionan arque-
tural de la Nación-CPCN, Dirección Nacional
ólogos y empresas, y como una parte más
de Medio Ambiente-DINAMA, Dirección Naci-
del proyecto de construcción durante su
onal de Minería y Geología-DINAMIGE) y de
fase de diseño y planificación, lo que evita
los profesionales que actúa sobre el
los problemas de mayor gravedad en
Patrimonio Arqueológico.
momentos ulteriores de la ejecución del
proyecto (Criado et al. 2004).
Marco Conceptual • Entre los objetivos de un EIArq se deben
encontrar:
Para comenzar a plantear algunos de los
a - Diagnosticar, prevenir, mitigar, corregir
puntos de este trabajo, parece conveniente
y/o compensar el impacto sobre el
primeramente mencionar los principios de los
Patrimonio Arqueológico, revirtiendo los
que se parte para desarrollar el tema de la
efectos negativos mediante la producción
Arqueología de Contrato llevada a cavo a tra-
de conocimiento de relevancia científica
vés de los Estudios de impacto arqueológico
y social.
(EIArq de aquí en adelante). Algunos de estos
principios son: b - Dar soluciones a problemas específi-
cos relacionados con proyectos de
• Entender al Patrimonio Arqueológico
desarrollo o actividades económicas.
comprendido en tres dimensiones: como
objeto real, como documento de las socie- c - Gestionar de forma Integral el
dades pasadas y como recurso de las soci- Patrimonio Cultural y que ese Patrimonio
edades actuales (sensus Criado 1996). Ello no sufra significativas alteraciones a tra-
implica tener que gestionarlo de forma in- vés del desarrollo de diferentes
tegral: inventariarlo, describirlo, analizarlo, emprendimientos económicos y procesos
valorarlo y difundirlo (Criado 2003). de modernización.

50

Irina Capdepont Caffa.pmd 50 02/07/2009, 12:39


¿Actividad liberal o libertinaje? La práctica laboral en la Arqueología de Contrato en Uruguay
Irina Capdepont Caffa

d - Valorar los impactos y generar debe establecerse entre ésta y la


propuestas de mitigación. Sociedad, que genera nuevos valores,
que contribuye a erradicar unos y a trans-
• Considerar las diferencias y similitudes
formar otros. Una Arqueología Aplicada
existentes entre la Arqueología Aplicada
es entonces una Arqueología desde la
o de Contrato y la Arqueología Académica,
reflexión y para la acción, planteada en
ya que si bien comparten la rigurosidad
el contexto actual, en donde tienen cabi-
metodológica y la generación
da nuevas necesidades y viejos proble-
conocimientos, difieren en varios puntos
mas, a los que podemos intentar dar
(Tabla 1).
respuesta manteniendo vigente el com-
• Se entiende a la Arqueología Aplicada ponente epistemológico y axiológico que
como una Arqueología que permite pen- debe acompañar toda disciplina (Barreiro
sar la Arqueología, pensar la relación que 2005:22).

Tabla 1
Arqueología Aplicada o de Contrato Arqueología Académica
Investigaciones en Obras Públicas/Privadas nvestigación en General
Arqueología como disciplina para la gestión Arqueología entendida como disciplina
del patrimonio arqueológico (Barreiro independiente del contexto social en que se
2005:22). genera o sólo unida a él por el cordón umbilical
de las aulas universitarias (Barreriro 2005:22).

Tiempos Cortos para desarrollar las actividades. Tiempos Largos para desarrollar las actividades.

Costos económicos altos. Costos relativos.

Responsabilidades de todos. Responsabilidades de algunos.

Genera un ámbito laboral. Genera preparación académica.

Es una necesidad social derivada del Necesidad para la generación de conocimiento


desarrollo de las políticas de planeamiento o científico.
de infraestructuras (Cabrejas 2004).

La Arqueología como un saber-hacer-cosas La Arqueología como saber académico.


(Criado 1996).

Resuelve problemas prácticos, se orienta Resuelve problemas de conocimiento particu-


hacia su resolución y se materializa en una lares y se materializa en artículos científicos.
oferta de servicios concreta (Criado 1996).

Rigurosidad metodológica.

Generación de Conocimientos del área estudiada.

En la tabla se exponen de forma esquemática algunas de las similitudes y diferencias entre la


Arqueología Aplicada a través de la investigación en obras públicas/privadas y la Arqueología Académica.

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Irina Capdepont Caffa.pmd 51 02/07/2009, 12:39


Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 3, 2008.

• Los EIArq generan el crecimiento del 2 colecciones de objetos y 13 sitios con arte
campo laboral del arqueólogo, del rupestre (Registro de Monumentos Históri-
conocimiento de nuevas áreas y de la cos Nacionales 2006) (Gráfico 1).
profundización de información de áreas Evidentemente el inventario presenta un
ya conocidas. vacio en la representación de la prehistoria
del territorio producto de la época en el que
el mismo se realizó (amparado en la
Situación actual historiografía oficialista en donde los bienes
patrimoniales debían corresponderse con la
El Patrimonio de Uruguay no posee aún identidad colonial blanca). En dicho contexto,
el amparo legal, administrativo ni científico mediados del S. XIX, la nación va tomando
necesario para que se pueda Gestionar de forma mediante la adopción de estrategias y
forma integral (inventariar, describir, analizar, valores provenientes de Occidente (Verdesio
valorar y difundir). Una de las herramientas 2004). Ese vacio en el inventario, se
indispensables y básicas para gestionar el correspondería a un olvido del pasado, que
Patrimonio son los inventarios. En este sen- bien podría comenzar a completarse a través,
tido, Uruguay cuenta con la Ley de Patrimonio entre otras, de la información generada por
14.040 de 1971 que establece, entre otras los EIArq y el interés de la administración y los
cosas, la necesidad de realizar y publicar el profesionales involucrados en los mismos.
inventario del patrimonio histórico, artístico Con la finalidad de observar el estado de la
y cultural de la nación (Diario Oficial Nº 18667 práctica liberal en Uruguay y comenzar a
1971). Interesa resaltar como esta confor- inventariar información arqueológica, se hizo una
mado ese inventario: el mismo cuenta con revisión de informes de EIArq que se encontraban
76% de bienes de la época histórica y colo- en el Departamento de Arqueología de la
nial, 23% de la época histórica moderna y Comisión del Patrimonio Cultural de la Nación
1% de bienes prehistóricos compuestos por (CPCN) – Ministerio de Educación y Cultura.

Grafico 1. En el gráfico se expresa por Departamento el número de Monumentos


Históricos Nacionales para el territorio uruguayo.

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¿Actividad liberal o libertinaje? La práctica laboral en la Arqueología de Contrato en Uruguay
Irina Capdepont Caffa

En los gráficos 2 y 3 se puede observar registra el aumento de las intervenciones


la evolución desde 1996 de las actuaciones sobre el territorio, el número de arqueó-
de EIArq llevados a cabo en Uruguay que han logos participantes y la cantidad de EIArq
pasado por la CPCN. En los mismo se evi- realizados. Asimismo, de acuerdo a los
dencia un nítido incremente a partir de fines datos manejados hasta ese momento, las
de 1999 y principios del 2000 en el que se obras mayormente representadas son las

Grafico 2. En este gráfico se expone el número total de arqueólogos que ha


desarrollado entre 1996 y el 2004 EIArq.

Grafico 3. Se expone en el gráfico la cantidad de EIArq desarrollados entre los


años 1996 y 2004 en territorio uruguayo.

53

Irina Capdepont Caffa.pmd 53 02/07/2009, 12:39


Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 3, 2008.

correspondientes a la extracción de En los relevamientos realizados se evi-


minerales en los Departamentos de San dencia, que las evaluaciones de impacto ar-
José y Colonia (Grafico 4 y 5). No obstante, queológico carecen de un modelo recomen-
en los últimos años las actividades mine- dado por instancias profesionales y adminis-
ras se han incrementado en el departa- trativas, generando resultados muy disímiles
mento de Artigas. con apenas puntos de coincidencia. Se ha

Grafico 4. Se observan los tipos y cantidad de obras en las cuales se han centrado
los EIArq entre el año 1996 y 2004.

Grafico 5. Se expresa por Departamento el total de EIArq realizados en el correr


de ocho años.

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Irina Capdepont Caffa.pmd 54 02/07/2009, 12:39


¿Actividad liberal o libertinaje? La práctica laboral en la Arqueología de Contrato en Uruguay
Irina Capdepont Caffa

observado que los criterios de evaluación de igual para todos los EIArq, al uso de criterios
los informes presentados, así como los dispares en las evaluación de los EIArq y las
criterios de la administración para abordar irregularidades generadas por algunos
los mismos, son muy dispares. Por ejemplo, individuos en el manejo de asuntos de
en la Tabla 2 se puede observar resumida- injerencia exclusiva de la CPCN y el profesional
mente datos de algunos informes en los que actuante. Asimismo, el mal manejo conceptual
se presentan evidencias de materiales arque- de la actividad arqueológica en un estudio
ológicos y no se hace mención de sus carac- de impacto lleva a la errónea concepción de
terísticas, lugar donde se encuentran depo- que un sitio arqueológico es un obstáculo para
sitados, ni recomendaciones mínimas (me- el desarrollo de actividades productivas. Esta
didas correctoras). De forma contraria, en concepción ha generado la errónea conclusión
otros EIArq se presentan las características de que la existencia de un sitio arqueológico
de la cultura material hallada y una serie de en un área específica imposibilita el
recomendaciones. Esta disparidad genera desarrollo de cualquier actividad productiva.
problemas prácticos importantes y redundan No obstante, existen profesionales que
en contra de la calidad de los trabajos en consideran que el adecuado tratamiento y
directo perjuicio del patrimonio cultural. manejo del recurso arqueológico es compatible
Como se observa en la Tabla 2, los in- con el desarrollo económico del país.
formes relevados involucran el período La inexistencia de asociaciones profesionales
comprendido entre 1996 y principios del fuertes y protocolos para abordar los EIArq,
2005; desde la fecha aún no se ha generado entre otros factores, hace que algunos sujetos
el interés, esfuerzo y compromiso conjunto con su accionar generen perjuicios importantes
de los profesionales mediante un consenso sobre el patrimonio cultural, el organismo
en lo referente a modelos de trabajo, fiscalizador y el nuevo campo laboral arqueoló-
metodologías de valoración, herramientas gico. Conjuntamente con ello, al no poseer el
practicas, qué hacer y cómo hacerlo. Es así organismo fiscalizador bases claras e iguales
que se suscitan graves problemas (ver Ex- para tratar todos los EIArq el funcionamiento
pedientes 0557/01, 0742/02, 0609/05 y 0122/ liberal del ejercicio se convirtió ya en libertinaje,
06, 0123/06 entre otros) como ser: es decir en la perdida total de responsabilidad
frente a los actos realizados.
- Informes de Evaluación de Impacto Ar- Cabe mencionar, que gran parte de la pro-
queológico sin las mínimas propuestas blemática enunciada también se debe a que
de medidas correctoras, muchos arqueólogos de los que hoy se dedican a
- Informes que pudieron realizarse sin estudios de impacto no se han formado en dicha
que necesariamente el arqueólogo actividad, ni han procurado actualizarse median-
tuviera que trasladarse a campo, te los cursos impartidos sobre el tema en la
Facultad de Humanidades y Ciencias de la
-I nformes realizados y evaluados por par- Educación. Este quehacer arqueológico ha sido
te de un mimo individuo (juez y parte), tomado como mero generador de capital sin con-
siderar que desde hace años se imparten en va-
- Controles realizados por la CPCN sin
rias partes del mundo cursos de grado y postgrado
aviso previo a los responsables de los
específicos a nivel teórico-metodológico para
EIArq generando la inspección a lugares
abordar estudios de esa naturaleza.
equivocados, entre otros.
Las problemáticas enunciadas se han
credo debido a la ausencia de estándares que Propuesta
establezcan al menos algunos lineamientos
metodológicos y técnicos para los EIArq, a la De acuerdo a las problemáticas
ausencia de un control de gestión efectivo e planteadas y considerando que Uruguay no

55

Irina Capdepont Caffa.pmd 55 02/07/2009, 12:39


Tabla 2

56
Evidencias arqueológicas
Nº Departamento Medidas de
Año Tipo Obra Depósito

Irina Capdepont Caffa.pmd


Expediente Localidad Evidencias Tratamiento Corrección
Materiales

0762/01 2001 Artigas Zanja Minería - Sitios Tipo Análisis lítico ? Delimitar Zona
delos Talas Piedras semi en capa Protección
preciosas Intervenciones

56
0017/03 2003 Canelones Minería – Material Análisis lítico Museo Nacional Prospección
San Jacinto Caliza superficie y Historia Natural y Intensiva
estratificado Antropología Intervenciones
0620/04 2004 Colonia Puerto Material Sin análisis ? Seguimiento /
Barrancade cerámico sin Evaluación
los Loros Subacuática
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 3, 2008.

0051/04 2004 Colonia Paso Minería – INFORME EN DINAMA 2003 - 14001/1/003330


del Minuano Balastro
0061/04 2004 ColoniaBrisas Minería – Material Sin análisis ? Sin Medidas
del Plata Arenas cerámico Correctoras
0545/00 2000 Colonia Minería - Sin material Sin Medidas
Pichinango Granito Correctoras
0248/04 2004 Maldonado Habitación Batería de Con Análisis ? Seguimiento
P. del Este la Trinidad

02/07/2009, 12:39
0837/01 2001 Maldonado Emisario Sondeos
Punta Salinas Subacuático
0639/00 2000 Montevideo Puerto Construcciones Seguimiento /
Punta Sayago Históricas Conservación
0050/04 2004 Río Negro Planta
M. Bopicua Celulosa
Tabla 2 (cont.)

Evidencias arqueológicas
Nº Departamento Medidas de
Año Tipo Obra Depósito

Irina Capdepont Caffa.pmd


Expediente Localidad Evidencias Tratamiento Corrección
Materiales

0557/01 2001 Río Negro Puerto Ocupación Análisis Facultad Excavaciones /


Laureles Prehistórica materiales Humanidades y Sin Medidas
Histórica Ciencias Correctoras

57
subacuáticas
0741/03 2003 Rivera Minería - Sin evidencias Sin Medidas
San Gregorio Aurífero Correctoras
0026/03 2003 Rivera Zapucay Minería - Estructuras Zona de
Aurífero históricas Exclusión
0079/04 2004 San José Mineía - Sin vestigios Mantener
Sierra Mahoma Granito Distancias e
Integridad
afloramientos
0595/02 2002 San José Minería - Material en Análisis lítico Museo Nacional Seguimiento
Delta del Tigre Arenas superficie y cerámico Historia Natural y
Antropología
0551/00 2000 San José Minería - Material Análisis lítico ? Intervenciones
Playa Pascual Arenas estratificado previa obra
0742/02 2000 San José Minería - Das áreas Análisis Museo Nacional Intervenciones

02/07/2009, 12:39
Santa Lucia Arenas de interes cerámica Historia Natural y y exclusión de
Antropología un área
0080/03 2003 San José Km 31 Minería – Sin material ? Sin Medida
Arenas Correctora
0543/02 2002 San José Granjas Sin evidencias ? Seguimiento
Playa Pascual Marítimas
Irina Capdepont Caffa

57
¿Actividad liberal o libertinaje? La práctica laboral en la Arqueología de Contrato en Uruguay
Tabla 2 (cont.)

58
Evidencias arqueológicas
Nº Departamento Medidas de
Año Tipo Obra Depósito

Irina Capdepont Caffa.pmd


Expediente Localidad Evidencias Tratamiento Corrección
Materiales

1029/98 1998 San José Puente Material ? Sin Medidas


Santa Lucia Correctoras

58
0475/04 2004 Treinta y Tres Minería - Material Análisis lítico Comisión Nacional Control y
Aº Yerbal Caliza superficie del Patrimonio Seguimiento
estratificado
1997 Subacuática
1999 Colonia Puerto
0385/01 2001 San José Sierra Bodega y Lítico Analizado Seguimiento /
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 3, 2008.

Mahoma Represa Estructura Consolidación


Histórica estructuras
históricas
0432/04 2004 Tacuarembó Planta Madera Sin evidencias Seguimiento
Paso Manco
0409/04 2004 Canelones Minería - Sin evidencias Sin Medidas
Cañada de Basalto Tosca Correctoras
los Padres
2004 Cerro Largo Minería - Material Análisis lítico Seguimiento

02/07/2009, 12:39
Santa Clara Arcilla superficial
0324/02 2002 Montevideo Playa Estructuras Análisis Intervenciones
Punta Sarandí Contenedores históricas

En la tabla se presentan algunas de las informaciones que se relevan de los EIArq presentados ante la CPCN.
¿Actividad liberal o libertinaje? La práctica laboral en la Arqueología de Contrato en Uruguay
Irina Capdepont Caffa

cuenta con planes de Gestión Integral del período de realización y el presupuesto del
Patrimonio Arqueológico, el modelo de mismo.
procesos de trabajo que se presenta se basa • Generación de un Proyecto Arqueológico
en la propuesta realizada por el grupo del – Por un lado, debería incluirse en el Proyecto
Laboratorio de Arqueoloxía da Paisaxe del una ficha técnica en la que se especifique el tipo
Instituto de Estudos Galegos Padre Sarmiento de actuación a realizar por el emprendimiento,
(CSIC – Xunta de Galicia). Esta propuesta se tipo de actuación arqueológica, zona geográ-
considera como un instrumento base para fica de la actuación, equipo técnico de la
comenzar a lograr una efectiva y dinámica actuación, periodo de realización, empresa
gestión del patrimonio. La propuesta se base contratante y presupuesto de la misma. Por
en que todo programa de investigación, otro, se resumen los objetivos del proyecto,
incluidos los EIArq, debe abordar, en todas se realiza la descripción geográfica de la zona
sus fases, los diferentes procesos de trabajo: de trabajo, se plantea la problemática
catalogación, valoración, intervención y patrimonial de acuerdo al relevamiento de
puesta en valor (Criado 1996ª). antecedentes, la metodología y el plan de
Se considera que sin una gestión efectiva trabajo a llevar a cabo. Asimismo, se
y eficaz los trabajos de EIArq seguirán sin presenta el equipo técnico participante.
cumplirse con los requisitos mínimos que • Estudio Arqueológico - Localización de
involucra un estudio de estas características sitios conocidos y sin conocer, registrados por
y se continuará con el libertinaje en la medio de prospecciones (prospección directa
actividad arqueológica; perjudicial en primera superficial extensiva e intensiva y prospección
instancia para el Patrimonio. Las fases de directa subsuperficial), fichas de registro y
trabajo que se presentan de manera fotografías que posteriormente serán siste-
esquemática (ver Amado et al. 2002, Barreiro matizadas y analizadas al igual que la cultu-
2002, Cacheda 2004, Criado et al. 2004, en- ra material relevada.
tre otros) intenta contribuir a la gestión de • Valoración del impacto – Se realizar un
los EIArq y apuesta a un cambio en el diagnostico de los impactos que el proyecto
accionar de los profesionales involucrados en genera sobre el patrimonio de la zona. Im-
los mismos (Tabla 3). pacto existe cuando hay una afección dentro
del entorno de un sitio u área de interés
Fase de Estudio y Evaluación patrimonial. Para determinar el entorno de
afección, hay que diagnosticar el tipo de im-
Se entiende que esta fase de estudio y pacto a generarse.
evaluación del impacto que producirán diver- • Plan de corrección – Según el diagnostico
sos emprendimientos debe considerar los de impacto se proponen las medidas
siguientes puntos: correctoras a llevar a cabo.
• El objetivo principal en esta fase debería
ser diagnosticar, prevenir, mitigar, corregir Fase de Corrección
y/o compensar el impacto, revirtiendo los
efectos negativos mediante la producción de En fase de corrección de impacto debe
conocimiento. considerarse:
• Realización de una Oferta de Trabajo- Para • Entre los objetivos se encuentran: contro-
ello es necesario conocer los bienes lar que se adopten las medidas correctoras
culturales del área, la documentación técni- especificadas en la fase anterior; realizar la
ca del proyecto de obra, su localización, inspección de la obra y las remociones de
extensión y conocer los plazos con los que tierra para documentar la aparición de enti-
se cuenta. En función de esa información, se dades arqueológicas no previstas y poner en
plantea el trabajo, el equipo de personas, el practica las acciones previstas en fase de

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Tabla 3
Fase
Etapa Finalidad Actuación
Proyectode obra
Identificación de los
elementos patrimoniales
• Estudio Cartográfico
• Consultas Bibliográficas
Identificar los elementos • Prospecciones intensivas y
patrimoniales y su entorno extensivas Identificar en
de protección. proyecto de obra:
• Descubrimiento • Agentes (infraestructuras,
• Localización instalaciones, etc) Previas al proyecto
• Descripción • Acción (actividades definitivo o en fase
• Documentación concretas que generan el de ejecución
• Estudio impacto)
EVALUACIÓN • Valoración • Afección (modificaciones del
• Difusión de los bienes medio físico – destrucción-
patrimoniales alteración-distorsión)
• Momento del impacto
(identificar fase de proyecto
en donde el impacto se
hará efectivo)

Diagnosticar el impacto
• Crítico - desaparición total o parcial
• Severo - grado menor de gravedad
• Moderado - riesgo elativo (visual)
• Compatible - inexistencia de riesgo

Evitar o prevenir la Medidas


alteración o destrucción, Preventivas / Protectoras
así como proteger los • Señalizaciones
bienes mediante mediadas • Protección física puntual
cauterlares efectivas y/o • Prospecciones
preventivas. • Sondeos
• Estrategias de control o Previas al proyecto
vigilancia definitivo o en fase
de ejecución
CORRECCIÓN Medidas Paliativas
Minimizar o Compatibilizar • Seguimiento arqueológico
el impacto generando • Traslado o reubicación
conocimiento a partir de • Intervenciones puntuales
la afección • Cambio en técnicas
constructivas

Compensar el impacto
producido mediante un Medidas Compensatorias Fase de ejecución
valor agregado (plus de • Excavaciones fase posterior
conocimiento).

Modelo de fases de trabajo para el desarrollo de EIArq.

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¿Actividad liberal o libertinaje? La práctica laboral en la Arqueología de Contrato en Uruguay
Irina Capdepont Caffa

estudio y evaluación para corregir, paliar, das con la gestión del impacto sobre el
mitigar o compensar en el impacto. patrimonio cultural, con la finalidad de con-
• Esta fase también incluye una oferta y un tribuir a una normalización de la actividad
proyecto arqueológico de control y seguimiento arqueológica. La gestión idónea del Patrimonio
de obra. debería ser aquella que estableciese al me-
• Se llevan a cabo nuevas tareas de campo nos criterios fundamentales para poder de-
en la cual se constata que el proyecto de obra cidir: que es lo que puede ser preservado
se corresponda con el proyecto evaluado y (entendiéndose ello en una situación extre-
se realizan nuevas actividades de prospección ma, convengamos que no se puede parar la
en las que se pueden detectar nuevas economía y desarrollo de un país para pre-
incidencias sobre bienes culturales. servar todo lo que es evidencia cultural, por
• Se hacen visitas periódicas e informes ello la necesidad de un inventario que per-
puntuales. En la fase de control y seguimiento mita valorar los bienes); cuáles son las áre-
se inspeccionan los nuevos perfiles expuestos, as que deberían ser intervenidas por medio
las escombreras y el entrono de los elemen- de excavaciones arqueológica; ponerse de
tos ya documentados en las zonas de riesgo acuerdo en que se entiende por sitio o
o potenciales. yacimiento arqueológico (si una pieza aislada,
• El informe final generado es el valorativo, varias piezas dispersas, agregaciones parci-
en el que se incluyen las fichas de inventario almente discretas de piezas, etc); hasta que
arqueológico, la ubicación del depósito de los punto la identificación del patrimonio arque-
materiales y se produce la Memoria técnica ológico significativo podría alterar o impedir
final del Proyecto General. la implementación de un emprendimiento
económico, entre varios temas más.
Considerar las dos etapas de trabajo
Algunas reflexiones expuestas anteriormente como requisitos
mínimos para abordar estos tipos de
Primeramente considerar que el intento estudios, podría ser la base para la creación
por contribuir a establecer al menos algunos de un programa que articule y consensue,
criterios, metodologías y sistemas de regis- los intereses implicados comprendiendo to-
tro de la información, así como contribuir al das las situaciones eventualmente pasibles
inventario patrimonial, es uno de los caminos de registro y ulterior análisis. Asimismo,
que algunos arqueólogos hemos estamos pueden ser tomadas para llegar a un con-
intentando generar y seguir. Se considera que senso respecto a las medias de mitigación,
ello contribuiría a la consolidación de la rescate o interdicción de a cuerdo a los
actividad arqueológica necesaria para llevar hallazgos oportunamente efectuados. De esta
adelante una política que promueva el forma no solo se lograría un consenso entre las
crecimiento económico y valore la generación partes intervinientes sino que le proporcionaría
de conocimiento sobre el pasado. a la CPCN un mecanismo expeditivo e impar-
Con ello se esta pretendiendo cooperar cial para expedirse en tiempo y forma
en la resolución de la controvertida relación respecto a los informes y a la actuación de
entre dos tipos de intereses (progreso socio- los profesionales involucrados en los EIArq.
económico y bienes cultura) que involucran Dada la situación con la que nos encon-
diversos actores. Es por ello que se hace tramos en Uruguay, merece intentar articular
entonces necesaria la participación, el diálo- planes de gestión del patrimonio que incluyan
go y el planteo de alternativas, por parte de la atención a sus funciones metodológicas y
la administración, propietarios, arqueólogos, cognitivas, estableciendo criterios y
consultores y empresarios, entre otros. Se procedimientos para la identificación,
hace necesario que entre esas alternativas caracterización y valoración de los bienes
se consideren las metodológicas relaciona- patrimoniales. La tarea de mejorar este es-

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 3, 2008.

tado de cosas evidentemente excede en de la legislación nacional y administrativa, así


algunos puntos las posibilidades de los ar- como en el campo científico-académico,
queólogos, ya que también se requiere una mediante la formación de recursos humanos
toma de posición gubernamental acerca de que permita la correcta inserción de la
las políticas a seguir con respecto al arqueología dentro de las esferas productivas
Patrimonio Cultural. de y para la sociedad podrían comenzar a
Para ir finalizando, por un lado debemos cambiar las cosas.
reconocer que no hemos sido capaces de Mediante este trabajo se intenta contri-
desarrollar nuestra disciplina para adaptarla buir al desarrollo de una nueva etapa en lo
a las nuevas necesidades, como expresa Cri- que han sido los EIArq en Uruguay, tratando
ado (1996) transformándola en un saber- de combinar la satisfacción de las demandas
para-hacer cosas que se pueda aplicar a la socioeconómicas con la producción de
resolución de problemas prácticos e conocimiento sobre el pasado mediante el
inmediatos. El dialogo entre arqueólogos, la desarrollo de criterios, procedimientos e ins-
actualización metodológica de los mismos, trumentos para la Gestión del Patrimonio
las modificaciones y/o adecuaciones dentro Cultural.

Abstract: The current economical development in Uruguay has led to


transformations which affect the archaeological heritage when carrying
out different enterprises. Its increasing number together with the
Environmental Impact Law have come up with an intensification of Impact
archaeological surveys. However, the development of this kind of
archaeological surveys hasn’t been accompanied by the legal, administrative
and academic fields. The problems generated by all this made us think
about the present situation of archaeology, the methodological and ethic
procedures and the role of the institutions which must control this kind of
archaeological surveys.

Keywords: Archaological Impact, Labor field

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 3, 2008.

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 3, 2008. pgs. 65-80.

PROJETO CULTURA E EDUCAÇÃO:


UMA NOVA PROPOSTA MUSEOLÓGICA REGIONAL NA DIMENSÃO
DO MUSEU HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE POÇOS DE CALDAS MG

Daniel Fernandes Moreira *


Haroldo Paes Gessoni **
Sônia Maria Sanches ***

Resumo: O Projeto Cultura e Educação: uma nova proposta


museológica regional na dimensão do Museu Histórico e Geográfico de
Poços de Caldas MG, certificado de aprovação Nº. 1619/001/2004 foi
desenvolvido no ano 2007, através da Lei Estadual de Incentivo a Cul-
tura Nº. 12.733/97, 13.665/2000 Decreto Nº. 43.615/2003. É um pro-
jeto de caráter artístico-cultural que almeja conscientizar alunos e pro-
fessores das escolas da rede pública em relação as riquezas pré his-
tóricas, históricas, geológicas, arquitetônicas, ecossistêmicas e
paisagísticas, através de uma Ação Cultural para professores e con-
fecção de Kits Artísticos Itinerantes.

Palavra Chave: Cultura - Pré-História - Geologia – História - Patrimônio.

INTRODUÇÃO Museu de Arqueologia e Etnologia da


Universidade de São Paulo e como
MOTIVOS QUE LEVARAM A DESENVOLVER O estagiário voluntário no serviço téc-
PROJETO nico de Musealização desenvolvendo
monitorias para o público infantil e
adolescentes demonstrando o acervo
Através do curso de pós-gradua- Formas da Humanidade tivemos con-
ção aluno especial 1 no curso de Ar- tato direto com a metodologia peda-
queologia oferecido no (MAE-USP gógica dessa instituição a qual reali-
za plano de treinamento para profes-
* Lei Estadual de Incentivo a Cultura do Estado de sores utilizando materiais didáticos
Minas Gerais. Museu Histórico e Geográfico de Poços de como a Valise Pedagógica “Origens do
Caldas. E-mail: dafmor78@hotmail.com. (Turismólogo) Homem, Kit de Objetos Arqueológicos
** Museu Histórico Geográfico de Poços de Caldas MG. e Etnográficos, material didático para
E-mail: hgessoni@uol.com.br (Arquiteto e Urbanista) professores”. Com a gama de conhe-
*** Museu Histórico e Geográfico de Poços de Caldas
MG. E-mail: soniamsanches@gmail.com (Pedagoga) cimentos adquiridos no MAE notamos
(1) Daniel F Moreira aluno especial no curso de pós a necessidade de enfatizar os aspec-
graduação em Arqueologia MAE-USP. tos pré-históricos, históricos, geoló-

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 3, 2008.

gicos, arquitetônicos e paisagísticos DESCRIÇÃO DO PROJETO -


na cidade de Poços de Caldas, visto (Apresentação)
que a cidade possui grandes rique-
zas nas respectivas áreas. Para isso A proposta do projeto, dividiu-se em
criamos um Kit Pedagógico Itinerante duas etapas: A primeira elaborou Três Kits
contendo cinco gavetas “Maquetes” Artísticos Culturais (Maquetes) itinerantes2.
que irão ressaltar todos esses aspec- O conteúdo inserido no Kit é o contexto3 do
tos regionais de uma forma lúdica potencial do acervo do Museu Histórico e
criada através de um trabalho artísti- Geográfico.
co confeccionado por alunos do PMJ Os Kits Artísticos Culturais percorrerão
(Plano Municipal da Juventude de Po- os estabelecimentos de ensino das zonas
ços de Caldas MG). Juntamente com rurais e urbanas como instrumento didático
o Kit criamos também um plano de que será criado através de um trabalho “AR-
Ação Cultural que será ministrado por TÍSTICO” que enriquecerá o currículo esco-
um Turismólogo, Arquiteto, Pedagoga. lar do ensino médio e fundamental.

Planta do Kit Artístico Cultural Itinerante


Primeira Gaveta

CIDADE ATUAL
DESENVOLVIMENTO URBANO

Segunda Gaveta

MUSEU HISTÓRICO E GEOGRÁFICO


DE POÇOS DE CALDAS

Terceira Gaveta

MACIÇO ALCALINO
DE POÇOS DE CALDAS MG

Quarta gaveta

FOTO SAINT HILAIRE


FONTE PEDRO BOTELHO

Quinta Gaveta

COMPLEXO
ARQUITETÔNICO

(2) Os Kits pedagógicos representam maquetes que


foram confeccionadas por alunos do PMJ- (Plano
Municipal da Juventude de Poços de Caldas). As
maquetes possuem cinco gavetas.
(3) O contexto refere-se às riquezas naturais e cultu-
rais (históricas e pré-históricas) de Poços de Caldas.

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PROJETO CULTURA E EDUCAÇÃO: UMA NOVA PROPOSTA MUSEOLÓGICA REGIONAL NA DIMENSÃO DO
MUSEU HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE POÇOS DE CALDAS MG
Daniel Fernandes Moreira, Haroldo Paes Gessoni e Sônia Maria Sanches

Registro Fotográfico Do Kit Pedagógico

Conteúdo da Gaveta 01 - Representa a cidade de Poços de Caldas atualmente


(o núcleo urbano e a Serra de São Domingos).

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Conteúdo da Gaveta 02 - Representa o museu Histórico e Geográfico de Poços


de Caldas MG.

Conteúdo da Gaveta 03 - Representa os diferentes tipos


litologicos identificados no Maciço Alcalino de Poços de Caldas MG.

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PROJETO CULTURA E EDUCAÇÃO: UMA NOVA PROPOSTA MUSEOLÓGICA REGIONAL NA DIMENSÃO DO
MUSEU HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE POÇOS DE CALDAS MG
Daniel Fernandes Moreira, Haroldo Paes Gessoni e Sônia Maria Sanches

Conteúdo da Quinta gaveta - Representa a primeira Fonte


de Agua Termal de Poços de Caldas “ Fonte Pedro Botelho (a
esquerda) . A direita representamos as descrições de Augusto
Saint-Hilare ( naturalista Frances) que relata a existência de águas
sulfurosas detectadas em Poços de Caldas MG em 1819.

Crianças do Plano Municipal da Juventude (PMJ) confeccionando os Kits sob res-


ponsabilidade do coordenador voluntário Ivan Moura Antunes.

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 3, 2008.

Crianças do Plano Municipal da Juventude (PMJ) confeccionando os Kits sob


responsabilidade do coordenador voluntário Ivan Moura Antunes.

Para a segunda etapa, realizamos uma Nessa foi realizada a parceria com o Mu-
Ação Cultural4 destinada para professores seu Histórico e Geográfico situado na cidade
da rede pública e possuiu o objetivo de di- de Poços de Caldas Sul de Minas Gerais.
vulgar as riquezas regionais, educando os O projeto inseriu o processo de musealição,
cidadãos, sensibilizando-os para a necessi- pesquisa, comunicação, preservação e arte.
dade de preservação do patrimônio histórico Segue abaixo o plano de Ação Cultural
através do processo de releitura do ambien- destinado para professores da rede pública,
te natural. nas zonas rurais e urbanas.

(4) O Plano de Ação Cultural consistiu na confecção


de apostilas e aulas expositivas destinadas aos pro- O Plano de Ação Cultural realizou a etapa de divulga-
fessores de Poços de Caldas, funcionários do Museu ção do projeto confeccionando cartazes distribuídos
e palestras nas empresas que colaboraram com o nas escolas, Painel apresentado na IV semana de
projeto através da Lei Estadual De Incentivo a Cultu- Museologia oferecido pela Universidade de São Pau-
ra do Estado de Minas Gerais (ICMS). lo USP- Brasil 2005 e uma publicação no livro Estudos
A empresa Incentivadora do projeto foi a Togni S.A- de Arqueologia Histórica/organização de Pedro Pau-
(Materiais Refratários), e a empresa colaboradora foi lo Funari e Everson Fogolare, Erechim RS (2005) ISBN
a CBA (Companhia Brasileira de Alumínio-Votorantim. 85-905487-1-6.
Como suporte e desenvolvimento do projeto O projeto realizou a divulgação no Jornal da
enfatizamos a colaboração da AMIV (Associação dos Mantiqueira, Jornal da Cidade, Jornal Folha Popular,
Amigos do Museu), Prefeitura Municipal de Poços de Jornal de Poços, Reportagem na TV Plan, Entrevista
Caldas - MG, Secretaria de Educação de Poços de na Rádio Difusora. Essas, foram realizadas na data
Caldas MG e Museu Histórico e Geográfico. de 29-08-2007.

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PROJETO CULTURA E EDUCAÇÃO: UMA NOVA PROPOSTA MUSEOLÓGICA REGIONAL NA DIMENSÃO DO
MUSEU HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE POÇOS DE CALDAS MG
Daniel Fernandes Moreira, Haroldo Paes Gessoni e Sônia Maria Sanches

Visamos potencializar relações proveito- ensino fundamental no sentido de ampliar


sas entre o museu e o ensino formal. seu conhecimento da história de Poços de
No final de cada etapa proposta, foram Caldas, obter noções da criação e modifi-
enfatizadas aos grupos de professores par- cações ocorridas nos espaços museais, ela-
ticipantes várias sugestões didáticas des- borarem metodologias que proporcionem
tinadas aos alunos dentro e fora da sala aos alunos o entendimento da importância
de aula. do museu de nossa cidade e incluí-lo, não
como expectador, mas como parte integran-
te de nossa história.
Abordagens do Plano de
Ação Cultural 01 • Abordagens: “Histórica”
• Breve Histórico de Poços de Caldas
• Histórico do surgimento dos museus
• Plano de Ação Cultural no Brasil
• Primeira Abordagem • Trajetória do Museu Histórico Geográ-
• Ministrante: Daniel Fernandes Moreira. fico de Poços de Caldas
• A História da Villa Junqueira
Essa etapa teve como objetivo enfatizar
• A Associação Amigos do Museu – AMIVI
aspectos ligados a evolução do vulcanismo
• Sugestões didáticas.
e suas transformações magmáticas ao
longo do tempo que originou a formação
do maciço Alcalino de Poços de Caldas Abordagens do Plano de
MG. Procuramos englobar nessa etapa os Ação Cultural 03
diferentes tipos litológicos existentes e
suas relações com as atividades de in-
tempéries enfatizando o surgimento das • Plano de Ação Cultural
águas termais, a ocupação dos grupos • Terceira Abordagem
pré- históricos e o contato com os colo-
nizadores. Ministrante: Haroldo Paes Gessoni
• Abordagens: “Pré-História e História”
Utilizar os bens culturais como recurso
• O Maciço Alcalino de Poços de Caldas
didático, analisar as vivências do passa-
• A Geologia do Planalto de Poços de Caldas
do, entender o momento presente e re-
• As fissuras, águas termais e mineração.
fletir sobre o futuro.
• Os índios pré-históricos e os vestígios
arqueológicos Durante algum tempo notamos o
• O Francês August Saint-Hilare distanciamento existente entre os progra-
• Sugestões didáticas mas adotados nas escolas e a realidade
dos alunos com relação às atividades
extracurriculares. O aluno conhecia prati-
Abordagens do Plano de camente tudo sobre História Geral, mas
Ação Cultural 02 desconhecia a história do seu próprio bair-
ro e da sua cidade.
Plano de Ação Cultural Atualmente nos deparamos com con-
Segunda Abordagem teúdos mais flexíveis, programas diversifi-
cados, onde os alunos mantêm um contato
Ministrante: Sônia Maria Sanches constante com o Museu e outras institui-
ções, contribuindo consideravelmente no
Esse treinamento tem como objetivo es- processo educacional, oferecendo novas
pecífico contribuir com o educador (a) do opções para o trabalho didático e possibi-

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 3, 2008.

litando um maior aproveitamento, tanto Para o desenvolvimento dessas abor-


para o Museu, quanto para a escola. dagens criamos uma apostila destinada
O fato de o Museu Histórico e Geográfico aos professores a qual está inserida em
de Poços de Caldas ser uma instituição que seu conteúdo, explicações detalhadas do
realmente representa a cidade, com acer- conteúdo do Kit Pedagógico (maquetes).
vos emergentes da própria comunidade, faz Dessa maneira o professor estará pre-
com que o público se identifique muito mais parado para levar o Kit a escola e traba-
com a realidade local, pois nele está regis- lhar de diversas maneiras aplicando uma
trada a história de vida do nosso povo e da metodologia diferenciada de acordo com
nossa cidade. seus objetivos traçados durante o ano le-
tivo.
• Abordagens: “Arquitetônicas, Patrimoniais Como propostas finais foram desen-
e Culturais” volvidas sugestões didáticas com o ob-
• Conscientização e Preservação Patrimonial jetivo de fixar todo o conteúdo especi-
• Terminologia Patrimonial ficado no Kit e plano de ação cultural
• A arquitetura do Complexo Cultural Central de uma forma lúdica beneficiando alu-
• A arquitetura do complexo Cultural Central no e professor. Esse foi um esboço ini-
• A Arquitetura dos Prédios tombados em cial e uma síntese traçada para o pro-
Poços de Caldas, uma proposta para a fessor com o intuito que crie novas su-
conscientização e valorização do gestões didáticas, realizando novo efei-
Patrimônio. to multiplicador beneficiando a cultura
• Sugestões didáticas. e as novas gerações.

Modelo das Apostilas Confeccionadas

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PROJETO CULTURA E EDUCAÇÃO: UMA NOVA PROPOSTA MUSEOLÓGICA REGIONAL NA DIMENSÃO DO
MUSEU HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE POÇOS DE CALDAS MG
Daniel Fernandes Moreira, Haroldo Paes Gessoni e Sônia Maria Sanches

Esquema dos jogos inseridos nas sugestões didáticas:

Sugestão didática 01 um dos edifícios tombados pelo CONDEPHACT


– Conselho de Defesa do Patrimônio Históri-
LIGUE OS PONTOS co, Artístico, Cultural e Turístico de Poços de
Caldas.
Desenho esquemático da Fachada do Sugerimos que os professores utilizem
Palace Hotel uma adaptação podendo abranger qualquer
Ligue os pontos e descubra a fachada de outro edifício.

Sugestão Didática 02

CAÇA-PALAVRAS

São diversas as formas de proteção que significam ações de preservação


do patrimônio cultural, encontre os nomes urbana:

INVENTARIAR
TOMBAMENTO
CONSERVAÇÃO
CONSOLIDAÇÃO
RESTAURAÇÃO
ALORIZAÇÃO
REUTILIZAÇÃO

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 3, 2008.

Sugestão Didática 03

RECORTE E COLE

Recortar as fotos dos bens tombados pelo


município e relacionar com os temas, colan-
do nos respectivos espaços.

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PROJETO CULTURA E EDUCAÇÃO: UMA NOVA PROPOSTA MUSEOLÓGICA REGIONAL NA DIMENSÃO DO
MUSEU HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE POÇOS DE CALDAS MG
Daniel Fernandes Moreira, Haroldo Paes Gessoni e Sônia Maria Sanches

Sugestão Didática 04

JOGO DA MEMÓRIA

Consiste em cartas com fotos dos pre- com a frente voltada para baixo. O jogador
feitos da cidade de Poços de Caldas MG, que desvira duas cartas. A cada par feito, o jo-
atualmente são nomes em espaços públicos. gador retira as cartas. Ganha o jogo quem
As cartas deverão ser colocadas lado a lado fizer maior número de pares.

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 3, 2008.

Sugestão Didática 05

ANTEPASSADO DOS OBJETOS

O aluno (a) deverá observar atentamen- objeto moderno. Para essa atividade sugeri-
te as imagens de objetos antigos, depois re- mos os folhetos de propaganda distribuídos
cortar e colar no lugar indicado o mesmo em lojas.

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PROJETO CULTURA E EDUCAÇÃO: UMA NOVA PROPOSTA MUSEOLÓGICA REGIONAL NA DIMENSÃO DO
MUSEU HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE POÇOS DE CALDAS MG
Daniel Fernandes Moreira, Haroldo Paes Gessoni e Sônia Maria Sanches

Sugestão Didática 06

COMPLETE A FACHADA DO MUSEU

Exercício de observação para desenvol- Os espaços faltantes são completados


vimento da ação motora e identificação de por desenhos que o aluno fará após obser-
figuras geométricas. var a mesma figura completa.

OBSERVE A FACHADA DO MUSEU

COMPLETE O DESENHO DE ACORDO COM O ANTERIOR.

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 3, 2008.

CONCLUSÃO Drª. Márcia Angelina Alves. Universida-


de de São Paulo USP.
O projeto Cultura e Educação proporcio- Dr. Astolfo G Araújo. Universidade de São
nou intercâmbio Cultural entre múltiplas áreas Paulo USP.
resgatando o valor da cultura em suas mais Drª. Erika M.R. González. Universidade
variadas expressões. de São Paulo USP e Núcleo de Estudos Es-
tratégicos UNICAMP.
Dr. Pedro Paulo Funari. Universidade de
AGRADECIMENTOS São Paulo USP e Núcleo de Estudos Estraté-
gicos UNICAMP.
Ao programa do curso de Pós-Graduação Dr. Tomas D. Dillehay. Universidade de
oferecido pelo Museu de Arqueologia e Vanderbilt EUA.
Etnologia e ao serviço Técnico de Musealização MS-Gerson Levi Méndes. Universidade de
- divisão de difusão Cultural. Vanderbilt EUA.
A Lei Estadual de Incentivo a Cultura do MS- Carlos Rovaron. Universidade de São
Governo do Estado de Minas Gerais. Paulo. USP.
A empresa incentivadora Togni S.A Ma- MS- Raul Ortiz. Universidade de Campi-
teriais Refratários. nas UNICAMP.
A empresa colaboradora CBA (Compa- MS - Gilmar Pinheiro Henrique. Universi-
nhia Brasileira de Alumínio) - Votorantim. dade de São Paulo USP.
A Prefeitura Municipal de Poços de Caldas MG. Ednelson Pereira de Souza (CCPY) - Co-
A Secretaria de Educação de Poços de missão Pró Yanomami, Universidade Fedreral
Caldas MG. de Roraima.
A AMIV – Associação Amigos do Museu. Aos geólogos de Poços de Caldas: Dr.
Ao Museu Histórico e Geográfico de Po- Resk Frahya e Dr. Don Williams.
ços de Caldas. Ivan Moura Antunes. Poços de Caldas PMJ
Dr. Daniel Atencio - Universidade de São (Plano Municipal da Juventude)
Paulo USP. Alunos do PMJ (Plano Municipal da Ju-
Dr. Oscar Seguel. Universidade Austral ventude).
do Chile. Aos professores e alunos de Caldas MG.

Abstract: The Project “Culture and Education: a new proposed regional


museum in the size of the Museum of History and Geography of Wells
Caldas MG” (Certificate 1619/001/2004) was developed in 2007 supported
by State Law for Encouragement of Culture no. 12733/97, Decree No.
13665/2000. 43615/2003. It is a project of artistic and cultural character
that aims awareness of students and teachers from public schools for the
pre historic heritage, historical, geological, architectural, landscape and
ecosystem, through a Cultural Action for teachers and making Kits Artistic
travelers.

Keywords: Culture – prehistory – geology – history – heritage.

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PROJETO CULTURA E EDUCAÇÃO: UMA NOVA PROPOSTA MUSEOLÓGICA REGIONAL NA DIMENSÃO DO
MUSEU HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE POÇOS DE CALDAS MG
Daniel Fernandes Moreira, Haroldo Paes Gessoni e Sônia Maria Sanches

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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79

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1983 Família Franco – Genealogia e História. ços de Caldas. Poços de Caldas, MG: San-
Poços de Caldas, MG: Gráfica D. Bosco. ta Edwiges Artes Gráficas, Tietê, SP: 2001.
MOURÃO, BENEDICTUS MÁRIO MEGALE, NILZA BOTELHO
1998 Quarteto Construtor de Poços de Caldas 2002 Memórias Históricas de Poços de Caldas.
e epopéia de Pedro Sanches. Poços de 2ª edição revisada e ampliada. Poços de
Caldas, MG: Gráfica Sulminas. Caldas, MG: Gráfica Sulminas.

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 3, 2008. pgs. 81-92.

SOB FOGO CRUZADO:


ARQUEOLOGIA COMUNITÁRIA E PATRIMÔNIO CULTURAL

Lúcio Menezes Ferreira*

“Não podíamos compreender porque estávamos longe demais,


e não lembrávamos porque estávamos viajando na noite das primeiras Eras,
de épocas que haviam desaparecido (...). O lugar parecia extraterreno.
Estávamos habituados a vê-lo sob a forma de um monstro agrilhoado e domado,
mas ali – o que víamos ali era uma coisa monstruosa e livre”
(Joseph Conrad. O Coração das Trevas, 1902)

“O mar da História é agitado.


As ameaças e as guerras havemos de atravessá-las.
Rompê-las ao meio, cortando-as,
Como uma quilha corta as ondas”
(Maiakovski. E então, que quereis...?, 1927)

Resumo: O objetivo deste artigo é o de discutir os métodos da Arqueologia


Comunitária. Antes, porém, argumenta-se que a Arqueologia comunitária,
como uma das vertentes da pesquisa arqueológica mundial, quase sempre
se insere em meio aos conflitos sociais. Em primeiro lugar, porque ela não
pode furtar-se de um legado duradouro: as relações históricas que a Ar-
queologia manteve com o nacionalismo e o colonialismo. Em segundo lugar,
porque ela, para firmar-se como gênero de pesquisa, deve enfrentar as
ambivalências das políticas de representação do patrimônio cultural.

Palavras-Chave: Arqueologia Comunitária, Patrimônio Cultural, Identi-


dade Cultural.

Arqueologia comunitária significa envol- passado e o presente, a pesquisa arqueoló-


ver a população local nas pesquisas arqueo- gica e o público (Simpson e William 2008).
lógicas e nas políticas de representação do Conceituaram-na, ainda, como um modo de
patrimônio cultural (Marshall 2002: 211). Ela impulsionar a “Arqueologia vista de baixo”
tem sido extensivamente descrita como uma (“Archaeology from below”) (Faulkner 2000).
nova teorização sobre as relações entre o Concretizá-la, como tentarei demonstrar nes-
se artigo, é lidar com negociações de identi-
dades culturais.
Requer, desse modo, instalar-se no cen-
(*)(UFPel) luciomenezes@uol.com.br tro dos conflitos sociais. Pois, ao falarmos

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 3, 2008.

em identidades culturais, nada é mais falso vocalizando identidades nacionais. Por meio
do que o adágio clássico do liberalismo: qui- da cultura material, forneceu matéria-prima
eta non movere – não se deve tocar no que palpável para a elaboração de símbolos na-
está quieto (Foucault 2004: 3). Se as insti- cionais e vinculações ancestrais (Atkinson et
tuições estão em repouso, se nada se abala all 1996). Estabeleceu as regras de uma gra-
ou subleva, se não há descontentamento ou mática da pertença, incutindo nas comuni-
revolta, deixemos tudo como está. Entretan- dades o sentimento de pertencimento a uma
to, no tocante à definição de identidades cul- nação e a um território nacional.
turais, sobretudo quando elas se reportam à A Arqueologia também foi prolífico ins-
Arqueologia e ao patrimônio cultural, nada trumento do colonialismo. Sem dúvida, ao
está quieto, mas em ebulição. Elas se mo- lado do nacionalismo e do imperialismo, o
vem em mar agitado. Não transcendem o colonialismo esteve entre os mais importan-
mundo cotidiano, mas sim infundem noções de tes fatores estruturais da Arqueologia (Trigger
governamentalidade e inculcam normas para o 1984). As pesquisas arqueológicas foram en-
governo de populações (Bhabha 1994). São, tusiasticamente endossadas pelas potências
portanto, fontes perenes de combatividade. coloniais da Europa por meio da organiza-
Assim, argumento aqui que a Arqueolo- ção de museus e explorações científicas
gia comunitária, como uma das vertentes da (Lyons e Papadopoulos 2002: 2). Compassa-
pesquisa arqueológica mundial, está cons- das com os levantamentos topográficos e
tantemente sob fogo cruzado. Primeiro, por- descrições geográficas, as pesquisas arque-
que ela (e o mesmo aplica-se aos demais ológicas adentraram o “Coração das Trevas”;
campos de trabalho em Arqueologia) não timbraram os territórios nativos com a noção
pode furtar-se de um legado duradouro: as de terra nullius (terras que não pertencem a
relações históricas que a disciplina manteve ninguém), isto é, classificando-os como espa-
com o nacionalismo e o colonialismo. Segun- ços plenamente selvagens, demograficamente
do, porque ela, para firmar-se como gênero vazios, esparsamente povoados por grupos
de pesquisa, deve enfrentar as ambivalências “bárbaros” e “primitivos” (Wobst 2005). O
das políticas de representação do patrimônio que permitiu concebê-los como sujeitos de
cultural. Contudo, seus métodos, que apre- evicção de Direito, legitimando-se, assim, o
sentarei no tópico final deste artigo, podem colonialismo (Patterson 1997).
trazer uma série de benefícios, tanto para Como diria Johannes Fabian (1983), os
as comunidades quanto para a interpreta- contatos entre arqueólogos e antropólogos
ção arqueológica. metropolitanos e comunidades do mundo
colonial caracterizaram-se pela “negação da
contemporaneidade”: os povos nativos, como
Equação da Distância e Outro cultural, foram colocados num tempo
Gramática da Pertença diferente àquele do observador, que seria
representante do progresso e da evolução;
A Arqueologia comunitária percorre a essa equação da distância redundou na clas-
esteira do movimento crítico aos modelos sificação dos povos nativos como essencial-
normativos de cultura, que definem identida- mente “primitivos” e congelados no tempo.
des culturais como estanques e ontologicamente Durante o século XIX e mesmo até meados
fechadas. Insere-se na margem oposta das dos anos 1950, essa taxonomia fundou-se,
correntezas políticas que constituíram histo- ademais, nas escavações arqueológicas. Pois
ricamente a Arqueologia. Herdeira do nacio- os depósitos arqueológicos “mostravam” que
nalismo e do imperialismo do século XIX os ancestrais dos atuais “primitivos” usavam,
(Díaz-Andreu 2007), a Arqueologia esteve a basicamente, os mesmos tipos de ferramen-
serviço do Estado (Kohl e Fawcett 1995, Fowler tas e organizavam-se em estruturas sociais
1987). A Arqueologia institucionalizou-se fundamentalmente semelhantes.

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Sob Fogo Cruzado: Arqueologia Comunitária e Patrimônio Cultural
Lúcio Menezes Ferreira

Um dos baluartes dessa interpretação foi efeito escorpião do colonialismo europeu. A


John Lubbock (1843-1913). Em seu clássico Europa bebera do veneno das teorias do ra-
The Prehistoric Times (1865), Lubbock, ao cismo científico que destilara ativamente no
lançar os conceitos de paleolítico e neolítico, ultramar. A Arqueologia dos regimes totali-
não apenas classificou os períodos da Pré- tários mostra a justeza do raciocínio de
História em entidades tecnológicas; estipulou Césaire. Seja nas pesquisas pioneiras de
também uma continuidade cultural entre gru- Bettina Arnold (1996), ou nos diversos estu-
pos pré-históricos e os do presente, dos de caso reunidos numa obra recente
enfatizando que os indígenas da América, por (Legendre et all 2007), vemos como os fi-
exemplo, ainda fabricavam ferramentas nanciamentos em Arqueologia Clássica e
paleolíticas ou neolíticas e que, portanto, es- Arqueologia Pré-Histórica figuraram maciça-
tagnaram-se no tempo (cf., p. ex: Lubbock mente nas políticas culturais da Alemanha e
1865: 446, 540, 542). Nesta visão, os povos de partidos nazistas de outros países da Eu-
nativos ainda viveriam em plena Era paleolítica ropa, como a Dinamarca. A Arqueologia tor-
ou neolítica. Segundo Tony Bennet (2004), os nou-se agente das idéias expansionistas, do
museus, com suas coleções arqueológicas e anti-semitismo e da pródiga criação de sím-
etnográficas arranjadas em série, exibiam bolos nacionalistas.
para o público europeu exatamente esse tem-
po congelado; plasmavam a imagem de uma
primitividade fossilizada, lidimando a noção É Possível Esquivar-se dos Conflitos?
de “missão civilizadora” e o governo colonial.
Daí os museus do século XIX, como já obser- Os séculos XIX e XX não se encerraram
varam Tim Barringer e Tom Flyn (1997), propriamente. É verdade que assistimos, pelo
erigirem-se como expressões espaciais, cul- menos desde o final do século XX, a um des-
turais e sociais da expansão dos impérios. locamento na economia dos poderes mundi-
A Arqueologia Clássica, por sua vez, foi ais: o Estado-nação possivelmente não é mais
fundamental para ampliar a equação da dis- o único foco de onde o poder emana e a do-
tância entre “primitivos” e “civilizados”. Ela minação mundial provavelmente não se es-
cimentou os alicerces da noção de Ocidente praia mais como uma rede lançada por um
como lugar politicamente hegemônico em específico centro imperial (Gilroy 2008, Hardt
relação às outras regiões do globo. Estipu- & Negri 2001). Contudo, há uma imensa lite-
lando uma idéia de “longa duração”, a de que ratura a discutir como as grandes estruturas
os europeus seriam herdeiros diretos (e coloniais, deslocadas após a Segunda Guer-
diletos) de gregos e romanos, ou seja, de ra Mundial, ainda exercem considerável in-
povos que no passado foram imperiais e alas- fluência cultural e política no presente (cf.,
traram seus dotes culturais apolíneos mun- p. ex: Hall 1996, MacLeod 2000, Moore-
do afora, a Arqueologia Clássica articulou- Gilbert 2000). Não surpreende, portanto, que
se diretamente às ambições imperiais da In- diversas idéias da Arqueologia Nazista ainda
glaterra, França, Alemanha e Estados Uni- vigorem no mundo contemporâneo, como os
dos; açulou a segregação “racial” e a domi- museus a céu aberto. Exposições sobre Ar-
nação colonial, naturalizando a “supremacia” queologia pré-histórica permanecem confor-
e a “superioridade” do Ocidente (Bernal 1987, mando identidades nacionais em países nór-
Hingley 2000). dicos (Levy 2006). Ruínas e artefatos da
Como diria Aimé Césaire em seu Discur- Grécia seguem fabulando a imaginação na-
so sobre o Colonialismo (1977 [1955]), se o cional local e conformando a identidade cul-
mundo colonial foi onde essas idéias mais se tural da Europa (Hamilakis 2007).
experimentaram, a Europa também saboreou Pode dizer-se, portanto, que o passado
seu travo amargo. O fascismo e o nazismo nacionalista e colonialista da Arqueologia não
vividos pela Europa seriam, para Césaire, o é fogo morto; é fogo cruzado que continua

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 3, 2008.

se propagando pelo mundo contemporâneo Certamente esses exemplos são radicais


(Gosden 1999). Representações coloniais ain- e extremados. Mas, de todo modo, o passa-
da povoam, como afirma Martin Hall, as in- do é sempre confrontado: o patrimônio cul-
terpretações contemporâneas sobre a cultu- tural, mesmo em contextos de miséria oca-
ra material dos “países periféricos” (Hall sionados por guerra civil, integra as delibe-
2000). É que a Arqueologia nunca está rações e anseios públicos, como é o caso,
desvinculada de liames políticos (Champion hoje, em Serra Leoa (Basu 2008). E mesmo
1991) e é sempre premida pelos movimen- que saiamos das paisagens despedaçadas
tos e conflitos sociais (Wood & Powell 1993). pelas guerras civis, observaremos que as
Gostaria de dar alguns exemplos de como comunidades preocupam-se com os resulta-
o trabalho arqueológico requer necessaria- dos das pesquisas arqueológicas e com as
mente posicionar-se em meio aos conflitos subseqüentes representações do patrimônio
contemporâneos e, nos casos mais extremos, cultural tecidas por elas. Os indígenas do ter-
entre os disparos da guerra e da destruição ritório amazônico, no Brasil, exercem pres-
programada e sistemática do patrimônio cul- são crescente sobre arqueólogos e órgãos
tural. Com efeito, o patrimônio cultural, estu- públicos, manifestando ansiedade quanto ao
dado e interpretado pelos arqueólogos, está destino dos artefatos e aos usos do conheci-
sempre subsumido a políticas de representa- mento arqueológico (Neves 2006: 74). Na
ção. Dito de outro modo: como índice da for- Bolívia, os movimentos indígenas contra a
mulação da auto-imagem de uma nação ou exploração do gás natural pelas multinacionais
de um grupo étnico, o patrimônio cultural é inspiram-se em visões arqueológicas alter-
periodicamente selecionado, re-selecionado, nativas do passado, avessas às interpreta-
revisado, dispensado e, muitas vezes, inten- ções que os classificam como refratários à
cionalmente destruído. Daí ele ser um pode- modernidade (Kojan & Angelo 2005). Numa
roso símbolo dos conflitos sociais. palavra, vários grupos indígenas, cujas
Assim, em 1992, nacionalistas hindus, pletóricas Histórias foram cobertas por este-
estribando-se em resultados de escavações reótipos e políticas coloniais, lutam pela auto-
arqueológicas, demoliram mesquitas na Ín- gestão de seus patrimônios culturais e pela
dia, sob a justificativa de que elas se erigiram repatriação arqueológica (Sillar 2005,
sobre os vestígios de seus legendários he- Simpson 2001, Colley 2002, Funari 2001,
róis. Sérvios e croatas, durante a guerra da Ferreira 2008).
Iugoslávia, destruíram-se não apenas com Dificilmente, portanto, nos esquivaremos
armas de fogo, mas também simbolicamen- dos conflitos ao fazermos pesquisas arqueo-
te, cada qual demolindo os monumentos de lógicas. Se nada está quieto, é preciso efeti-
seus respectivos oponentes (Layton & vamente confrontar o passado e interferir cri-
Thomas 2001). A herança arqueológica da ticamente, junto com as comunidades, nos
porção inglesa de Camarões, que incluiu edi- processos de constituição de identidades cul-
fícios históricos e sítios pré-históricos, é turais que a Arqueologia inevitavelmente pro-
programaticamente abandonado e descurado move. Para tanto, é necessário que defronte-
pelo governo francófilo do país (Mbunwe- mos, inicialmente, as ambivalências das políti-
Samba 2001). Durante uma das mais cruen- cas de representação do patrimônio cultural.
tas fases da guerra civil na Libéria, em 2003,
o Museu Nacional local foi dilapidado. Em
2008, iniciaram-se os trabalhos de restaura- As Ambivalências do
ção do Museu, pois, na concepção do atual Patrimônio Cultural
governo liberiano, a instituição testemunhava
parte da política cultural e da memória oficial É possível afirmar que, depois de 2001,
que o Presidente Ellen Johnson-Sirleaf plane- adquirimos uma mais acurada e aguda cons-
jou pessoalmente (Rowlands 2008). ciência do caráter seletivo que norteia as

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Sob Fogo Cruzado: Arqueologia Comunitária e Patrimônio Cultural
Lúcio Menezes Ferreira

políticas de representação do patrimônio. evidencia como a representação das diferen-


Dois eventos marcaram esse ano: a destrui- ças entre Ocidente e o Oriente pode ainda
ção de numerosos artefatos, incluindo-se ser politicamente eficaz. Afinal, ela atuou em
duas gigantescas estátuas budistas, no conjunto no clima de propaganda intensiva
Afeganistão, e o ataque ao World Trade que ajudou a legitimar a guerra contra o
Center , ambos perpetrados pelo regime Afeganistão e, posteriormente, contra o
Taliban. Segundo Lynn Meskell (2002), as Iraque.
estátuas budistas representavam, para o Sítios de memória e herança negativas.
Taliban, um sítio de memória negativa – o Pode-se falar também, complementando-se
ato iconoclasta visava a conjurar a lembran- os conceitos de Lynn Meskell, em sítios de
ça monumental da diferença religiosa no herança positiva – uma reedição das pesqui-
Afeganistão, cujas marcas o Taliban deseja- sas arqueológicas colonialistas, acionando-
va apagar das linhas oficiais da identidade se as estratégias de pilhagem de artefatos e
nacional que acalentava. Ainda conforme Lynn a fabricação de uma identidade ocidental
Meskell, para boa parte da mídia, dos ar- remetendo-a a sítios onde viveram “grandes
queólogos e profissionais do patrimônio no civilizações”. A Guerra contra o Iraque
Ocidente, o ato iconoclasta representou, por exemplifica o conceito de herança positiva.
sua vez, uma herança negativa – uma cica- Além da morte de civis e da destruição de
triz permanente na memória, a lembrar os edifícios, as coleções mesopotâmicas – de
males do fundamentalismo e da intolerân- “grandes civilizações”, portanto – existentes
cia, as perversidades da ortodoxia política e no Iraque foram “resgatadas” como botim
da violência simbólica. de guerra. O caso mais famoso foi a invasão
A herança negativa foi invocada nova- do exército dos Estados Unidos ao Museu do
mente a propósito do World Trade Center. Iraque, em 2003. Ainda recentemente, em
Meses após o ataque, selecionou-se o lixo e maio de 2007, um militar do exército dos
os despojos oriundos das torres gêmeas para Estados Unidos, empunhando um documen-
uma exposição pública na Smithsonian to da embaixada de seu país e comandando
Institution, o Museu Nacional dos Estados uma tropa, entrou à força no Museu do
Unidos, com sede em Washington. Criou-se, Iraque. O intuito era empossar-se da insti-
por meio dos destroços – pastas de executi- tuição e de suas valiosas coleções, emble-
vo retorcidas, telas de computador e móveis mas da “História da civilização ocidental” (Al-
queimados e em frangalhos –, uma memó- Hussainy & Mattews 2008).
ria oficial da tragédia, manipulando-se, ou As ambivalências das políticas de repre-
tentando-se manipular, a dor dos parentes sentação do patrimônio cultural residem exa-
das vítimas e do público em geral (Shanks et tamente nos modos de produção de sítios de
all 2004). herança negativa ou positiva. Eles são
A manipulação da herança negativa aci- construídos na bigorna onde se forjam os
ona um mecanismo político retrospectivo, processos de seleção da cultura material e
uma marcha à ré que reativa as engrenagens as subseqüentes representações arqueoló-
das memórias do imperialismo oitocentista. gicas do passado ou do presente. Pode-se
Como diria Edward Said (1978), as Humani- simplesmente selecionar o lixo do World
dades, no século XIX, pintaram o Oriente Trade Center para montar-se uma exposi-
como cenário do “exótico”, da barbárie e do ção; uma espécie de reciclagem de arte pós-
despotismo; elas cavaram uma trincheira, um moderna, que com despojos e fragmentos
fosso geopolítico onde se repartiram as “di- descartáveis compõe mosaicos imperialistas
ferenças ontológicas” entre Ocidente e Ori- e arranjos de alteridade, modelando a me-
ente, entre “nós” e os “outros”. As reações à mória para reforçar divisões geopolíticas e
implosão das estátuas budistas, e principal- ilustrar o huttingtoniano “choque de civiliza-
mente a exposição na Smithsonian Institution, ções”. Não é novidade que o arqueólogo tra-

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dicionalmente trabalha com o lixo, com os e destruição lhes fossem naturais e ineren-
restos deixados por outras sociedades e que tes, e não produtos das escolhas de como
se depositaram nos arquivos da terra. Se o preservar e para quem preservar. Destrui-
lixo tem e pode ter valor simbólico, também ção e perda não são imanentes ao patrimônio
os artefatos e monumentos, por meio dos cultural. Resultam das seleções deliberadas
quais se interpreta e representa o passado das políticas de representação. É preciso lem-
ou o presente, apontam significativamente brar, como o fez recentemente Jody Joy
para as escolhas seletivas que constituirão o (2004), que artefatos e monumentos só se
patrimônio cultural. tornam significativos quando são cultural-
Isso fica claro, por exemplo, nas discus- mente constituídos como tais. As relações
sões dos arqueólogos especializados em res- sociais não se dão simplesmente entre pes-
tauro de artefatos. Em seu trabalho rotinei- soas e grupos; elas sempre envolvem arte-
ro, o arqueólogo restaurador altera fisica- fatos. Assim, as relações sociais entranham-
mente os artefatos em nome da preserva- se na materialidade. A cultura material, por-
ção. Foca-se, em geral, nos métodos físico- tanto, não é apenas um adendo epidérmico
químicos para a preservação dos artefatos da sociedade, mas pulsa no coração da vida
(Cf., p. ex: Applebaum 1987, Caldararo 1987), social (Thomas 2005). Assim é que a pre-
e não nas culturas que no-los criaram e con- servação do patrimônio cultural, ao contrá-
tinuam, algumas vezes, a usá-los. Esse índi- rio do que comumente se pensa, não é ape-
ce seletivo da conservação arqueológica é nas para o futuro, mas, sobretudo, para o
devotado a garantir a longevidade e essên- presente, para o aqui e agora, pois ele ocu-
cia dos artefatos (cf., p. ex: Silverm & Parezo pa lugar central nos processos de socializa-
1992). Contudo, a escolha sobre o que e ção e conflitos sociais.
como conservar, como diz Glenn Wharton Se isto é claro no que se refere aos cri-
(2005), afeta irremediavelmente nossa per- térios de restauração arqueológica, torna-se
cepção sobre a cultura material exibida nos ainda mais transparente em alguns enuncia-
museus. Por meio de suas intervenções, o dos da Arqueologia de contrato e das
arqueólogo restaurador imprime os valores metodologias arqueológicas de campo. Como
e padrões ocidentais na cultura material dos notaram Ian Hodder e Asa Berggren (2003)
povos indígenas (Johnson 1993, 1994). Ins- a respeito da Arqueologia de contrato que
taura, portanto, suas próprias premissas cul- se faz em boa parte do mundo, esta, além
turais nos artefatos, perpetuando-as. Como de não atentar para o lugar social dos ar-
afirma Miriam Clavir (1996), o resultado des- queólogos, seccionam em fases distintas os
tes critérios unilaterais e seletivos da con- processos de escavação e interpretação dos
servação arqueológica é que os povos indí- sítios arqueológicos. Mas este não é o único
genas e, de um modo mais abrangente, as problema. Em seu furor para “resgatar” e
comunidades locais, são majoritariamente preservar artefatos para o futuro, a Arqueo-
alijadas dos processos de interpretação e das logia de contrato, animada por espírito
políticas de representação do patrimônio cul- salvacionista, tem se inclinado para a des-
tural (Clavir 1996). truição planejada de sítios. Em alguns dos
Poder-se-ia com razão argumentar que setores mundiais da Arqueologia de contra-
não há como restaurar um artefato sem to, é perfeitamente aceitável que arqueólo-
adulterá-lo. Ou ainda, como o faz Cornelius gos destruam propositalmente sítios, desde
Holtorf (2006), que destruição não é antíte- que façam registros detalhados dos contex-
se de preservação e da idéia mesma de tos de deposição dos artefatos e que os or-
patrimônio cultural, tanto mais na “Era do ganizem em reservas técnicas para pesqui-
terrorismo”. Mas tal argumento essencializa sas futuras (Lucas 2001).
as ambivalências das políticas de represen- Minha intenção não é detratar a Arqueo-
tação do patrimônio cultural, como se perda logia de contrato, que, diante da crescente

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expansão dos projetos de desenvolvimento que, portanto, embasarão a constituição de


econômico, tem prestado inestimáveis con- identidades culturais e formarão as cama-
tribuições para o conhecimento histórico e das sedimentares onde se assentarão os sí-
arqueológico. Não estou cindindo em cam- tios de memória negativa ou positiva.
pos opostos Arqueologia de contrato e Ar- Reconhecê-lo é primar pela função primor-
queologia acadêmica, como se a primeira dial da Arqueologia comunitária: perspectivar
sempre fosse parceira de empresários os modos por que concebemos as identida-
inescrupulosos e do Estado, e a segunda sem- des culturais e o próprio trabalho arqueoló-
pre verdadeiramente científica e crítica. Con- gico.
tudo, a Arqueologia de contrato, quando
direcionada retilínea e unicamente para o
futuro, pode incorrer num equívoco: os ar- Métodos e Benefícios da
queólogos do futuro não orientarão neces- Arqueologia Comunitária
sariamente suas pesquisas pelos mesmos
problemas e objetos dos arqueólogos do pre- A Arqueologia comunitária oferece-nos
sente. E, como não existe Arqueologia metodologias propícias para reconsiderar-
apolítica, montar arquivos para o futuro não mos o trabalho com o público e enfrentar-
elidirá as diversas percepções que comuni- mos as escolhas quase sempre unilaterais
dades locais e povos indígenas possuem so- das políticas de representação do patrimônio
bre os sítios que estão sendo destruídos e cultural. Obviamente, as metodologias da
sobre os artefatos que estão sendo deposi- Arqueologia comunitária não são unívocas;
tados em reservas técnicas. variam conforme as especificidades culturais
Não se pode desconsiderar, portanto, a das comunidades e os problemas de pesqui-
série de reflexões contemporâneas sobre a sa atinentes às áreas de estudo. Para
ética das pesquisas de campo em Arqueolo- exemplificá-las, servir-me-ei das pesquisas
gia, recentemente sumarizadas por Richard conduzidas pela equipe de Stephanie Moser
Bradley (2003). Como diz Henrieta Fourmile em Quseir, no Egito (Moser et all: 2002), e
(1989), as comunidades conferem uma vari- pela síntese de Gemma Tully (2007). Ambos
edade de significados aos sítios arqueológi- os trabalhos fixam algumas balizas gerais
cos: repositório de memórias ou mesmo fon- para o trabalho arqueológico comunitário.
te de recursos alimentícios. Sobre este pon- Em primeiro lugar, enfatiza-se a neces-
to, Linda Tuhiwa Smith (1999), partindo do sidade de tornar as comunidades em agen-
ponto de vista nativo, sublinha que pesquisas tes e colaboradoras ativas da pesquisa ar-
arqueológicas envolvem não apenas impac- queológica. Os trabalhos em campo e labo-
tos físicos sobre a paisagem. Elas podem ser ratório, bem como as políticas de gestão do
invasivas ao quebrarem os protocolos das patrimônio cultural, devem ser discutidos e
comunidades sobre os lugares tidos como decididos conjuntamente pela equipe de ar-
sagrados, poderosos ou perigosos. Uma mera queólogos e a comunidade, num diálogo e
caminhada para registrar sítios arqueológicos colaborações contínuos. O que conduz ao
pode transgredir estas regras comunitárias. emprego e treinamento da comunidade para
Há que observar, assim, que as técnicas em- trabalhar em todas as fases do projeto de
pregadas em campo, assim como aquelas que pesquisa, desde a prospecção de sítios às
são utilizadas para restaurar artefatos, estão escavações. Em seguida, como parte funda-
indissociavelmente atadas à posição social e mental dos trabalhos em Arqueologia comu-
epistemológica do arqueólogo. nitária, devem ser feitas entrevistas periódi-
Negá-lo implica em não reconhecer as cas e pesquisas em História oral com a co-
ambivalências das políticas de representa- munidade. Estas permitirão o entendimento
ção do patrimônio cultural, as escolham que dos sentimentos e interpretações das comu-
permeiam a seleção da cultura material e nidades diante das pesquisas arqueológicas.

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Sugerem, ainda, como elas experimentam e conhecimento, no qual emergirão as lembran-


negociam suas identidades culturais em re- ças de memórias perdidas, de sofrimento e
lação ao patrimônio cultural revelado pelas injustiças, que os instrumentos para a recon-
escavações das quais são partícipes. Outra ciliação ou o embate com os poderes estabe-
metodologia importante é a formação de um lecidos surgirão (Jong e Rowlands 2008: 132).
arquivo visual, em fotos e vídeos. A organi- O trabalho arqueológico ao lado das co-
zação de um arquivo visual das escavações munidades é primordial, como recentemen-
e demais etapas da pesquisa arqueológica te afirmou Paul Shackel, para a reafirmação
possibilita que a comunidade tenha registros de identidades locais, especialmente diante
dos eventos, de suas experiências e delibe- do atual contexto de transformações ocasio-
rações patrimoniais. A Arqueologia comuni- nadas pela economia global (Shackel 2004:
tária, nesse passo, assegura à comunidade 10). De certo que as comunidades não são e
função central na criação e imaginação das nunca foram passivas. Nunca estiveram qui-
formas de extroversão e apresentação pú- etas. Elas sempre se inspiraram no passado
blica da cultura material revelada pela pes- para fundar significados culturais no presen-
quisa. Inclusive no quesito de como conser- te; rotineiramente incorporaram objetos e
var os materiais e para quem efetivamente lugares associados às suas memórias soci-
conservá-los, as comunidades deliberam com ais e às narrativas que no-las criam e sus-
os arqueólogos, decidindo-se conjuntamen- tentam (Bradley & William 1998). E, para
te se servirão para usufruto imediato do pre- falar como Marshall Sahlins (1997), nos dias
sente ou das gerações futuras. que correm, em que as forças centrífugas
Como se pode notar, a Arqueologia co- da “globalização” ameaçam tragar as
munitária está longe da promulgação de iden- alteridades num caldeirão cultural homogê-
tidades homogêneas, nacionalistas ou neo, as culturas locais, não obstante as di-
colonialistas. Avessa aos modelos normativos versas experiências da diáspora, continuam
de cultura, ela parte da premissa de que o firmando-se em suas memórias sociais.
patrimônio cultural não tem valor intrínseco. Nem por isso os arqueólogos devem as-
Seu valor é definido por políticas de repre- sistir de camarote, de seus centros acadê-
sentação, cuja narrativa material, como afir- micos ou postos avançados de escavação, o
ma Lindsay Weiss (2007), pode fragmentar espetáculo grandioso da resistência das co-
ou sotopor memórias sociais e identidades munidades. Como diria Frantz Fanon (1961,
culturais dos grupos subalternos. A Arqueo- 35), “todo espectador é covarde ou traidor”.
logia comunitária, ao protagonizar as comu- Se as identidades culturais, no mundo, ainda
nidades no palco de atuação das pesquisas, trazem as marcas e sinais do nacionalismo e
permite-lhes decidir as formas de exibição e do colonialismo, o trabalho arqueológico im-
apresentação pública do patrimônio cultural. plica responsabilidade social e engajamento
Oferece-lhes oportunidade para experimen- político. No mundo da economia global, como
tar e discutir a especificidade histórica e an- pondera Ian Hodder (2002), as questões e
tropológica de suas identidades culturais e as problemas arqueológicos não devem impor-
relações que elas entabulam com patrimônio se verticalmente; os arqueólogos têm obri-
local. Afinal, o patrimônio cultural, nas pala- gação ética de partilhá-las e negociá-las com
vras de Ferdinand Jong e Michael Rowlands, os interesses dos diversos grupos de uma
está intimamente associado às políticas de re- comunidade. Nesta linha, as pesquisas em
conhecimento (“politics of recognition”). O Arqueologia comunitária trarão, inclusive, be-
patrimônio cultural é sempre depositário dos nefícios acadêmicos. Experiências arqueoló-
signos que possibilitam o auto-reconhecimen- gicas em museus australianos evidenciam
to de uma comunidade, pois oferece os meios que, ao trabalhar ao lado dos povos indíge-
materiais para as articulações culturais entre nas, conseguiu-se acomodar múltiplos
o passado e o presente. E é através deste re- paradigmas e exibir para o público os pro-

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cessos de interação, diálogo e tradução cul- ologia em Zonas Portuárias, realizado na


tural (Robins 1996). Arqueólogos, tanto nos Universidade Federal de Rio Grande (RS).
Estados quanto na Austrália, ao incorpora- Agradeço a Rodrigo Torres, organizador do
rem os povos nativos e seus conhecimentos evento, pelo convite para integrar a mesa-
tradicionais nos trabalhos em museus, apren- redonda. Agradeço também aos demais com-
deram uma pluralidade de significados, an- ponentes da mesa-redonda pelas discussões
tes insuspeitados, que as comunidades atri- ensejadas, que muito contribuíram para a
buem aos artefatos (Gibson 2004) e sítios reformulação do texto original: Dr. Norton
arqueológicos (Greer et all 2002). Gianuca (Departamento de Oceanologia –
Por todos esses motivos, talvez seja im- FURG; Secretario do Meio Ambiente da Pre-
portante permanecer sob fogo cruzado e in- feitura Municipal de Rio Grande), Drª Maria
serir-se no movimento permanente das co- Farría Gluchy (Universidad de la Republica,
munidades. Uruguai), Tobias Vilhena (arqueólogo da 12ª
SR IPHAN, Rio Grande do Sul), e ao coorde-
nador da mesa-redonda, Dr. Artur Henrique
Agradecimentos Franco Barcelos (Departamento de Arqueo-
logia – FURG). Sou o único responsável pelo
Este artigo é uma versão bastante modi- conteúdo do artigo. Pedro Paulo Funari e
ficada de uma conferência que proferi, em 5 Franscico Noelli, contudo, leram-no previa-
de novembro de 2008, na mesa-redonda mente, ajudando-me a melhorá-lo. Dedico-
Gestão Patrimonial e Desenvolvimento Por- o a um amigo velho e velho amigo, José
tuário, um dos eventos do Ciclo Internacio- Alberione dos Reis, e aos meus mais novos
nal de Conferências: “2000 Anos de Abertu- amigos, Artur Henrique Franco Barcelos e
ra dos Portos”, Patrimônio Cultural e Arque- Adriana Fraga da Silva.

Abstract: The aim of this paper is to discuss the methods of the Community
Archaeology. It argues before that the Community Archeology, as one element
of the world archaeological research, falls almost always in the heart of
social conflicts. Firstly, because it cannot escape of the a lasting legacy: the
historical relations that related Archeology to nationalism and colonialism.
Secondly, because to establish itself as sort of research it should confront
the ambivalencies of the policies of representation of the cultural property.

Key-Words: Community Archaeology, Cultural Property, Cultural Identity.

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Lucio Menezes Ferreira.pmd 92 02/07/2009, 12:47

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