Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
216 Cad. Saúde Públ., Rio de Janeiro, 9 (2): 216-222, abr/jun, 1993
Marília Carvalho de Mello e Alvim e João método experimental de diagnóstico de fezes e
Carlos Gomes analisam os casos de hiperosteo- cropólitos não-humanos encontrados no Parque
se porosa — considerada um marcador não-es- Nacional da Serra da Capivara, no Piauí. Se-
pecífico de estresse — em 20 crânios de índios gundo a autora, os padrões utilizados na carac-
Tenetehára-Guajajára que viveram há 50 anos terização das fezes recentes encontradas na
na região do rio Pindaré, no Estado do Ma- mesma região, onde se localizam vários sítios
ranhão. Os esqueletos foram coletados pelo Dr. arqueológicos, também podem ser utilizados na
Pedro de Lima. Os resultados obtidos demons- identificação de coprólitos. Os coprólitos exa-
tram que, no material Tenetehára, a hiperosteo- minados foram coletados em 6 sítios arqueoló-
se é conseqüência de fatores ambientais que gicos datados entre 2.000 AP e até cerca de
provocaram a anemia malárica crônica, fortale- 8.000 AP.
cida por uma dieta inadequada, resultante do Finalmente, Jorge Ferigolo discorre sobre as
contato do indígena com a população regional, paleopatologias de vertebrados não-humanos e
não-indígena. sua importância para se estudar a paleontologia
A seguir, Verônica Wesolowski e Zélia dos evolutiva (cujo espectro é, segundo o autor,
Santos analisam, em uma reduzida amostra muito mais amplo do que o da paleopatologia
dentária Tupí-Guaraní, casos de hipoplasia humana); para se esclarecer aspectos ligados à
linear de esmalte, considerada também um história e à evolução das doenças; para se evitar
exemplo de marcador não-específico de estres- erros taxionômicos; e para suprir informações
se. sobre hábitos alimentares e dados biomecânicos.
Carlos E. A. Coimbra Jr. e Ricardo V. San- O autor — pioneiro no Brasil em paleopatolo-
tos, em seu artigo sobre paleoepidemiologia e gia de vertebrados não-humanos — lista os
epidemiologia das populações brasileiras, de- materiais examinados (ossos e dentes), descreve
monstram que, a partir da análise do material diversas patologias e aponta suas prováveis
ósseo das populações pré-históricas, chega-se causas.
apenas a um quadro fragmentário do estudo A leitura do livro parece-nos imprescindível a
dessas populações. O quadro que se obtém a todos quantos se interessam pelos estudos de
partir do exame das populações atuais é muito paleopatologia e paleoepidemiologia em suas
mais complexo e serve de contraponto ao visões multidisciplinares.
estudo das populações desaparecidas. Em
resumo, os métodos usados em epidemiologia
contribuem para tornar mais seguros os resulta- Maria da Conceição de M. C. Beltrão
dos da paleoepidemiologia. Setor de Arqueologia
Em outro artigo, Marcia Chame propõe um Museu Nacional
Cad. Saúde Públ., Rio de Janeiro, 9 (2): 216-222, abr/jun, 1993 217