Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
FUNARI
ARQUEOLOGIA E PATRIMÔNIO
Erechim RS
2007
Todos os direitos reservados pela Habilis Editora.
Proibida a reprodução total ou parcial, de qualquer
forma e por qualquer meio mecânico ou eletrônico,
inclusive através de fotocópias e de gravações,
sem a expressa permissão do autor.
www.habiliseditora.com.br
IMPRESSO NO BRASIL
PRINTED IN BRAZIL
APRESENTAÇÃO
INTRODUÇÃO
A Arqueologia é uma disciplina cuja multiplicidade de
enfoques e especializações dificulta que se possam tecer gene-
ralizações a seu respeito. Uma primeira grande questão refere-
se à sua posição em relação às outras ciências, pois alguns a
consideram uma técnica, enquanto outros preferem considerá-
la uma ciência. Alguns consideram-na uma disciplina auxiliar
de uma ciência interpretativa maior, como a Antropologia ou a
História, outros rejeitam essa dicotomia. Um grande número
considera que ela estuda o passado, embora outros admitam que
pode tratar, também, do presente. Todos têm como ponto em
comum, no entanto, o fato de a Arqueologia construir seu co-
nhecimento, principalmente, a partir da cultura material (cf.
Funari, 1998: 9-16).
Este preâmbulo fazia-se necessário para que se pudesse
introduzir a discussão sobre a relação entre a Lingüística e a
Arqueologia de forma adequada. De fato, a Arqueologia englo-
ba uma série de disciplinas, mais específicas, cujos pontos de
contato podem não ser numerosos, como a Pré-História e a Ar-
queologia Histórica, a paleografia e a paleobiologia, a Arqueo-
logia Clássica e a os estudos líticos, para mencionar apenas uma
fração das especializações correntes. Neste contexto, meus ob-
jetivos neste ensaio não pretendem abarcar, diretamente, as re-
lações entre a Lingüistica e a Arqueologia em todos os campos
desta última e em todas as variedades teórico-metodológicas,
mas, de maneira mais modesta, destacar as relações históricas e
estruturais entre ambas. Na medida em que se estará buscando
as origens dessas ligações, far-se-á uso do aporte da Filologia e,
no que se refere ao século XX, a Lingüistica será tomada em
sentido igualmente amplo.
10 PEDRO PAULO A. FUNARI
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARTHES, Roland. (1968). Elementi di Semiologia. Linguistica e scienza
delle significazioni. Turim: Bonomi.
BARTHES, Roland. (1997). Image, music, text. Nova Iorque: Hill and Wang.
BERNAL, Martin. (1991). Black Athena, The Afroasianic Roots of Classical
Civilization, volume I, The Fabrication of Ancient Greece, 1785-1985. Lon-
dres: Vintage Press.
BROCHADO, José Proenza. (1984). An ecological model of the spread of
pottery and agriculture into Eastern South America. Urbana, PhD Thesis.
CARANDINI, Andrea. (1979). “Linguaggio dei manufatti: dagli strumenti
alle arti”. In: Andrea Carandini, Archeologia e cultura materiale, dai ‘lavori
senza gloria’ nellántichità a una politica dei beni culturali. Bari: De Donato.
101-112.
CHILDE, Vere Gordon. (1926). The Aryans. Londres: Kegan Paul.
CHILDE, Vere Gordon. (1960). O Que Aconteceu na História. Tradução de
Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Zahar (original de 1942).
DEETZ, Janes. (1967). Invitation to Archaeology. Nova Iorque: The Natu-
ral History Press.
DERRIDA, J. (1976). Of Grammatology. Baltimore: John Hopkins University
Press.
DERRIDA, J. (1978). “Structure, sign, and play in the discourse of the human
sciences”. In: J. Derrida, Writing and difference. London: Routledge and
Kegan Paul.
24 PEDRO PAULO A. FUNARI
Livros:
1. 1998 Cultura Material e Arqueologia Histórica, organizado por P.P.A.
Funari. Campinas, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, coleção
“Idéias” 1, 317 pp, ISBN 85-86572-04-7.
2. 1999 P.P. A. Funari, M. Hall & S. Jones, Historical Archaeology, Back
from the edge, Londres, Routledge, 1999, 350pp, ISBN0-415-11787-9.
32 PEDRO PAULO A. FUNARI
Artigos:
1. 1993 Memória Histórica e cultura material, Revista Brasileira de Histó-
ria, 13, 25/26, (set.92/ago.93), 17-31.
2. 1994 South American Historical Archaeology, Historical Archaeology in
Latin America, 3, 1-14.
3. 1994 La cultura material y la arqueología en el estudio de la cultura afri-
cana en las Américas, América Negra, Bogotá, 8, 33-47.
4. 1994 Rescuing ordinary people’s culture: museums, material culture and
education in Brazil, in Peter G. Stone & Brian L. Molineaux (ed), The
Presented Past, Heritage, museums and education, Londres, Routledge,
120-136.
5. 1994 Arqueologia Brasileira: visão geral e reavaliação, Revista de Histó-
ria da Arte e Arqueologia, 1, 23-41.
6. 1994 Brazilian Archaeology: overview and reassessment, Revista de His-
tória da Arte e Arqueologia, 281-290.
7. 1995 A hermenêutica das ciências humanas: a História e a teoria e práxis
arqueológicas, Revista da Sociedade Brasileira de Pesquisa Histórica,
10, 3-9.
8. 1995 Arqueologia de Palmares, Carta, Brasília, Senado Federal, 7, 62-63.
9. 1995 The Archaeology of Palmares and its Contribution to the
Understanding of the History of African-American Culture, Historical
Archaeology in Latin America, 7, 1-41.
10. 1995 A cultura material e a construção da mitologia bandeirante: proble-
mas da identidade nacional brasileira, Idéias, 2,1, 29-48.
11. 1995 Memória histórica e cultura material, Revista de Ciências Históri-
cas, Porto, 10, 327-339.
12. 1996 A cultura material de Palmares: o estudo das relações sociais de
um quilombo pela Arqueologia, Idéias, São Paulo, FDE, 27, 37-42.
13. 1996 Resenha de Andrés Zarankin, “Arqueologia Histórica Urbana en
Santa fe la Vieja”, Varia Historia, Belo Horizonte (UFMG), 15, 199.
14. 1996 Archaeological Theory in Brazil: Ethnicity and Politics at Stake,
Historical Archaeology in Latin America, 12, February, 1-13.
15. 1996 A Arqueologia e a cultura africana nas Américas, in Francisca L.
Nogueira de Azevedo & John Manuel Monteiro (coords), Raízes da Amé-
rica Latina, São Paulo, Expressão e Cultura/Edusp, 535-546.
16. 1996 Novas perspectivas abertas pela Arqueologia na Serra da Barriga,
in Lilia Moritz Schwarcz & Letícia Vidor de Sousa Reis (orgs), Negras
Imagens, Edusp/Estação Ciência, 139-151;228-230.
ARQUEOLOGIA E PATRIMÔNIO 33
12
Com apoio financeiro da FAPESP.
13
Com apoio financeiro do WAC.
38 PEDRO PAULO A. FUNARI
14
Com apoio financeiro do WAC.
ARQUEOLOGIA E PATRIMÔNIO 39
AGRADECIMENTOS
.
A IMPORTÂNCIA DA TEORIA ARQUEOLÓGICA
INTERNACIONAL PARA A ARQUEOLOGIA SUL-AMERICANA:
O CASO BRASILEIRO
geiros em cursos, ainda que possa ter sido importante para a aber-
tura de horizontes para diversos pesquisadores, não representa
produção própria. Nesta ocasião, não tratarei da período pré-
formativo, pré-disciplinar da Arqueologia no Brasil, até a década
de 1950 (tratado em Funari 1995a), focalizando os desenvolvi-
mentos teóricos desde sua introdução como disciplina acadêmi-
ca, nos últimos quarenta anos.
A Arqueologia, desde o século passado, havia sido explora-
da por estudiosos, em geral ligados aos Museu Nacional do Rio
de Janeiro, Museu Histórico Nacional e Museu Paulista. Enquanto
trabalhos empíricos eram levados adiante por diretores de mu-
seus sob os auspícios de um sistema de patrocínio de elite, o
humanista Paulo Duarte estava no exílio por sua oposição ao Es-
tado Novo e, ao retornar, introduziu a Arqueologia como discipli-
na acadêmica (De Blasis & Piedade 1991: 167) e seu papel como
defensor do patrimônio arqueológico estava em claro contraste
com o padrão tradicional predominante. Seu humanismo basea-
va-se em uma abordagem ética, para com a sociedade e, por isso,
pôde propor duas medidas revolucionárias: o desenvolvimento de
instituições arqueológicas acadêmicas e a proteção do patrimônio.
Os diretores de museus e os arqueólogos tradicionais, ligados aos
sistema de compadrio dominante no país, nunca iriam propor tais
medidas, que, inevitavelmente, desafiavam o nepotismo e as rela-
ções de clientela, infensos ao mérito e aos direitos igualitários
(Da Matta 1991b: 399). A democracia propugnada por Duarte,
baseado no mérito, era, pois, estranha à sociedade hierarquizada
nacional; seu humanismo, de estilo francês, era o suficiente para
romper com práticas patronais arbitrárias de longa tradição (Funari
1992a: 8).
A intervenção militar de abril de 1964 (Cammack 1991: 35)
marcou um período não apenas de repressão generalizada, como
de reforço do clientelismo e do compadrio, agora organizado por
um regime de força. Logo após o golpe, um acordo foi firmado
entre a United States Agency for Inter-American Development e o
Ministério da Educação e Cultura do Brasil (Funari 1996e), que
gerou a reorganização de todo o sistema universitário nacional
46 PEDRO PAULO A. FUNARI
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
Burckhardt, J. 1958 On history and historians. Nova Iorque, Harper and
Row.
Burguière, A 1982 The fate of the history of mentalités in the Annales,
Comparative Studies in Society and History, 24, 424-427.
C. Carreras & P.P.A Funari1998 Britannia y el Mediterraneo. Barcelona,
UBA.
ARQUEOLOGIA E PATRIMÔNIO 53
Cammack, P. 1991 Brazil: the long march to the New Republic, New Left
Review, 190, 21-58.
Castro, P.R. 1991 No país dos economistas – quantidade não faz qualidade,
Folha de São Paulo 3/5/91.
Champion, T.C. 1991 Theoretical archaeology in Britain, em I. Hodder (ed),
Archaeological Theory in Europe: the last three decades, Londres,
Routledge, 91-128.
Chauí, M. 1992 Messianismo e autoritarismo são heranças da colonização,
Folha de São Paulo, 11/10/92.
Cooney, G. 1995 Theory and practice in Irish Archaeology, em P.J. Ucko
(ed), Theory in Archaeology, Londres, Routledge, 263-277.
Croce, B. s.d. Il primato del fare, em B. Croce, Filosofia, poesia, storia,
Nápoles, Ricciardi, 41-47.
Da Matta, R. 1980 Carnavais, malandros e heróis. Para uma sociologia do
dilema brasileiro. Rio de Janeiro, Zahar.
Da Matta, R. 1991a Nepotismo, o jeitinho brasileiro de ser cidadão, Jornal
da Tarde, Caderno de Sábado, 7/9/91.
Da Matta, R. 1991b Religions and modernity: three studies of Brazilian
relationship, Journal of Social History, 25, 389-406.
De Blasis, P.A D. & C.M. Piedade 1991 As pesquisas do Instituto de Pré-
História e seu acervo: balanço preliminar e bibliografia comentada, Revista
do Museu de Arqueologia e Etnologia, 1, 165-188.
Duarte, P. 1994 Pela dignidade universitária, Idéias, 1, 1, 159-179.
Embree, L. 1989 The structure of American theoretical archaeology:
Evans, C. 1967 Introdução, em C. Evans, Programa Nacional de Pesquisas
Arqueológicas, Belém, Smithonian Institution, 7-13.
Faoro, R. 1976 Os donos do poder. Formas do patronato político brasilei-
ro. Porto Alegre, Globo.
Faria, L.C. 1989 Arqueologia como prática, os saberes consagrados, fron-
teiras indefinidas, Dédalo 1, 26-39.
Faversani, F. Resenha de Guarinello, Idéias, 4, 1997, 305-308.
Florenzano, M.B.B. 1997 Nascer, viver e morrer na Grécia Antiga. São
Paulo, Atual.
Funari, P.P. A 1989 Brazilian archaeology and world archaeology: some
remarks, World Archaeological Bulletin, 3, 60-68.
Funari, P.P. A 1991 A Arqueologia e a cultura africana nas Américas, Estu-
dos Ibero-Americanos, 17, 61-71.
54 PEDRO PAULO A. FUNARI
Stephen, L. 1989 Anthropology and the politics of the facts, knowledge and
history, Dialectical Anthropology 14, 259-269.
Telarolli, R. 1977 Poder local na República Velha. São Paulo, Cia Editora
Nacional.
Thomas, J. 1990 Archaeology and the notion of ideology, em F. Baker & J.
Thomas (eds), Writing the Past in the Present, Lampeter, St. David’s
University College, 63-68.
Thomas, J. 1995 Where are we now?: archaeological theory in the 1990s,
em P.J. Ucko (ed), Theory in Archaeology, Londres, Routledge, 343-362.
Tilley, C. 1992 Material Culture and Text: the art of ambiguity. Londres,
Routledge.
Trigger, B.G. 1998 Archaeology and epistemology: dialoguing across the
Darwinian chasm, American Journal of Archaeology, 102, 1, 1-34.
Vianna, O 1987 Instituições políticas brasileiras. São Paulo, Itatiaia.
Wright, J. & A Mazel, 1991 Controlling the past in the museums of Natal
and Kwazulu, Critical Arts 5, 3, 59-77.
OS DESAFIOS DA DESTRUIÇÃO E CONSERVAÇÃO DO
PATRIMÓNIO CULTURAL NO BRASIL
cessos de decisão (Jones 1993: 203) seria apenas possível por meio
da divulgação científica e na mídia da pesquisa arqueológica. Nos
últimos anos, os arqueólogos encarregados do estudo do sítio,
Charles E. Orser, Jr. (1992;1993;1994;1996) e este autor (Funari
1991;1994a;1995a;1995c;1996a;1996b;1996c;1996e;1996f; Orser
e Funari 1992) publicaram três livros, integral ou parcialmente,
dedicados a Palmares, mais de dez artigos científicos em revistas
académicas brasileiras e estrangeiras, assim como Scott Allen
(1997; 1999) produziu um mestrado e um doutorado sobre o sítio,
além de estudo de Michael Rowlands (1999), a partir do mesmo
sítio. Além disso, diversos artigos em revistas e jornais, tanto no
Brasil como no exterior, foram publicados. É provável que isto
não seja suficiente para mudar, de forma radical, a atitude
subjectiva dos brasileiros comuns para com essas evidências hu-
mildes de um quilombo, pois o contexto mais amplo no Brasil
não seria alterado por uma actividade académica isolada, mas,
mesmo assim, muito mais gente, agora, sabe da existência do sí-
tio e de sua possível importância.
De facto, quinze anos atrás, no final do regime militar,
Olympio Serra (1984:108) propôs uma interpretação ousada de
Palmares, como um possível modelo de sociedade não-autoritá-
ria: “deveria ser possível recriar a experiência de uma sociedade
pluralista, como era a República de Palmares. E se você olha esta
mais atraente fase da História do Brasil, vai ver que, em Palmares,
não havia apenas negros, mas também índios, judeus, em outras
palavras, todos os discriminados pela ordem colonial, todos que
eram diferentes”. Alguns anos depois, o trabalho arqueológico na
Serra da Barriga produziu evidência material que pode substanciar
esta abordagem humanista. Palmares deve seu crescimento, so-
brevivência e destruição ao papel que teve no comércio entre a
costa e o interior, pois os interesses mercantis e Palmares se opu-
nham àqueles da nobreza e dos latifundiários, que triunfaram, ao
fim, devido à força dos grupos nobiliárquicos, em Portugal e na
colónia. A destruição desta tendência pluralista explica a persis-
tência de um discurso racista e elitista, já mencionado, e o traba-
lho arqueológico de resgate da cultura material do quilombo, as-
sim como sua preservação como património cultural, passa a ter
ARQUEOLOGIA E PATRIMÔNIO 67
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
Allen, S.J. 1999. Africanims, mosaics, and creativity: the historical
archaeology of Palmares. In Cultura Material e Arqueologia Histórica, P.P.A.
Funari (ed.) Cultura Material e Arqueologia Histórica, P.P.A. Funari (ed.),
pp. 141-178. Campinas: Instituto de Filosofia e Ciências Humanas.
Allen, S.J. 1997. The ethnogenesis of the Palmarino: preliminary directions
in the historical archaeology of a seventeenth-century Brazilian quilombo.
Revista de História da Arte e Arqueologia 3, forthcoming.
Arantes, A.A. 1990. La Preservación delPatrimonio como Práctica Social.
Campinas: Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UNICAMP.
Ballart, Josep. 1997. El Patrimonio Histórico y Arqueológico: valor y uso.
Barcelona: Ariel.
Byrne, D. 1991. Western hegemony in archaeological heritage management.
History and Anthropology 5: 269-276.
Carandini, A. 1979. Archeologia e Cultura Materiale. Dai ‘lavori senza
gloria’ nell’antichità a una politica dei beni culturali. Bari: De Donato.
Cruz, M. 1997. Após 80 anos, achado comporá acervo de museu; guardados
por décadas em armário, fragmentos arqueológicos ficarão expostos em
Chavantes. O Estado de São Paulo, November the 11th, A, p. 22.
Durham, E. 1984. Texto II. In Produzindo o Passado, Estratégias de cons-
trução do patrimônio cultural, A.A. Arantes (Ed.), 23-58. São Paulo:
Brasiliense.
Durrans, B. 1992. Behind the scenes. Museums and selective criticism.
Anthropology Today, 8, 4, 11-15.
Fernandes, J. R. O. 1993. Educação patrimonial e cidadania: uma proposta
alternativa para o ensino de História. Revista Brasileira de História 13 (25/
26), 265-276.
Funari, P.P.A. 1991. A Arqueologia e a cultura africana nas Américas. Estu-
dos Ibero-Americanos 17, 61-71.
Funari, P.P.A. 1994a. La cultura material y la Arqueología en el estudio de la
cultura africana en las Américas. America Negra 8: 33-47.
Funari, P.P.A. 1994b. Rescuing ordinary people’s culture: museums, materi-
al culture and education in Brazil. In The Presented Past, Heritage, museums
and education, P.G. Stone & B.L. Molineaux (eds), 120-136. London:
Routledge.
Funari, P.P.A. 1995a. A cultura material de Palmares: o estudo das relações
sociais de um quilombo pela Arqueologia. Idéias 27, 37-42.
ARQUEOLOGIA E PATRIMÔNIO 69
Hudson, K. 1994. The Great European Museum: the museum one cannot
avoid and does not need to enter. Institute of Archaeology Bulletin 31, 53-60.
Ianni, O. 1988. Uma Cidade Antiga. Campinas: Editora da Unicamp.
Jones, A.L. 1993. Exploding canons: the anthropology of Museum. Annual
Review of Anthropology 22, 201-220.
Leite, P.M. 1996. No túnel da História. Veja, January 31st, 102-104.
Lira, A. 1997. Museu tem cara nova e acervo comprometido. Estado de
Minas, June the 22nd, p. 42.
Merriman, N. 1996. Understanding heritage. Journal of Material Culture 1,
3, 377-386.
Munari, L.A.S. 1995. Surpresas de ‘Óculum’. Folha de São Paulo, Jornal
de Resenhas, September 4th, p.2
Orser, C.E. 1992. In Search of Zumbi. Preliminary Archaeological Research
at the Serra da Barriga, State of Alagoas, Brazil. Normal: Illinois State
University.
Orser, C.E. 1993. In Search of Zumbi. The 1993 Season. Normal: Illinois
State University.
Orser, C.E. 1994. Toward a global historical archaeology: an example from
Brazil. Historical Archaeology 28, 5-22.
Orser, C.E. 1996. A Historical Archaeology of the Modern World. New York:
Plenum.
Orser, C.E. & Funari, P.P.A. 1992. Pesquisa arqueológica inicial em Palmares.
Estudos Ibero-Americanos 18, 53-69.
Potter, Jr. P. B. n.d. Appropriating the victor by addressing the second person.
Unpublished typescript.
Reis Filho, N.G. 1978. Quadro da Arquitetura no Brasil. São Paulo: Pers-
pectiva.
Rocha, P. 1997. Saqueadores do Patrimônio, Roubo de arte sacra mobiliza
Iphan, Polícia Federal e Interpol para inibir ação dos ‘colecionadores’. Es-
tado de Minas, August 3rd, p. 40.
Rowlands, M., 1999, Black identity and sense of past in Brazilian national
culture. In Back from the Edge, Archaeology in history, edited by P.P.A.
Funari, S. Jones and M. Hall. Pp. 328-344. Londres: Routledge.
Rússio, W. 1984. Texto III. In Produzindo o Passado, A.A. Arantes (ed.),
59-95. São Paulo: Brasiliense.
Schwarcz, L.M. 1989. O nascimento dos museus brasileiros, 1870-1910. In
História das Ciências Sociais no Brasil, volume 1, S. Miceli (ed.), 20-71.
São Paulo: Ideps.
Serra, O. 1984. Questões de identidade cultural. In Produzindo o Passado,
A.A. Arantes (ed.), 97-123. São Paulo: Brasiliense.
CONTRADIÇÕES E ESQUECIMENTOS NAS IMAGENS DO
PASSADO1
1
Participação em Mesa-Redonda no CEDEM- UNESP, DOCUMENTAÇÃO E
MEMÓRIA,TESES EM DEBATE, “IMAGENS DO PASSADO, A INSTITUIÇÃO DO
PATRIMÔNIO EM SÃO PAULO, 1969/1987”, Marly Rodrigues, Condephaat e Faap, ex-
positora. Pedro Paulo Funari, UNICAMP, Walter Pires, SMC/SP, Debatedores. Célia R.
Camargo, UNESP. Moderadora. Dia 11 de setembro de 2001, às 18:00h. Praça da Sé, 108,
1º andar, tel 252 05 10. Discussão sobre o livro de Marly Rodrigues.
72 PEDRO PAULO A. FUNARI
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
Bruno, C. 1991 Por um mundo mais justo, Jornal da Tarde, Caderno de
Sábado, 16/11/91, p.3.
Durham, E. 1984. Texto II. In Produzindo o Passado, Estratégias de cons-
trução do patrimônio cultural, A.A. Arantes (Ed.), 23-58. São Paulo:
Brasiliense.
Durrans, B. 1992 Behind the scenes. Museums and selective criticism,
Anthropology Today, 8,4, August, 11-15.
Fernandes, J. R. O. 1993. Educação patrimonial e cidadania: uma proposta
alternativa para o ensino de História. Revista Brasileira de História 13 (25/
26), 265-276.
Funari, P.P.A. 1992/3 Memória histórica e cultura material, Revista Brasi-
leira de História, 13, 25/26, 17-31.
Funari, P.P.A. 1990 Education through Archaeology: a bumpy but exciting
road, Archaeology and Education, 1,2, 9-11.
Funari, P.P.A. 1991 Archaeology in Brazil: politics and scholarship at a
Crossroads, World Archaeological Bulletin, 5, 122-132.
Funari, P.P.A. 1993. Memória Histórica e cultura material, Revista Brasilei-
ra de História, 13, 25/26, (set.92/ago.93), 17-31.
Funari, P.P.A. 1994. Paulo Duarte e o Instituto de Pré-História, Idéias, Cam-
pinas, 1,1, 155-179.
Funari, P.P.A. 1995 A cultura material e a construção da mitologia bandei-
rante: problemas da identidade nacional brasileira, Idéias, 2,1, 29-48.
Funari, P.P.A. 1997 El mito bandeirante: élite brasileña , cultura material e
identidad, Boletín de Antropología Americana, 24, deciembre de 1991 (pu-
blicado em 1997, 110-122. Funari, P.P.A. & I. Podgorny, Congress Review,
Is archaeology only ideologically biased rhetoric?, European Journal of
Archaeology, 1,3, 416-424.
ARQUEOLOGIA E PATRIMÔNIO 77
Hudson, K. 1994 The great European museum: the museum one cannot avoid
and does not need to enter, Institute of Archaeology Bulletin, 31, 53-60.
Ianni, O. 1988. Uma Cidade Antiga. Campinas: Editora da Unicamp.
Luc, J.-L. 1986 La enseñanza de la Historia a traves del medio. Madri,
Cincel.
Meneguello, C. 2001 A preservação do patrimônio e o tecido urbano. Cam-
pinas, manuscrito.
Reis Filho, N.G. 1978. Quadro da Arquitetura no Brasil. São Paulo: Pers-
pectiva.
Rodrigues, M. 2001 Preservar e consumir: o patrimônio histórico e o turis-
mo, in Turismo e Patrimônio Cultural, P.P.A. Funari & J. Pinsky (orgs), São
Paulo, Contexto, 13-24.
TEORIA E MÉTODOS NA ARQUEOLOGIA
CONTEMPORÂNEA: O CONTEXTO DA ARQUEOLOGIA
HISTÓRICA1
1
Considerações apresentadas em eventos acadêmicos sobre os campos conceituais na Arque-
ologia das sociedades históricas.
80 PEDRO PAULO A. FUNARI
havia uma dimensão simbólica na cultura que não podia ser dei-
xada de lado, já no início da década de 1980, mas foi a publicação
de Re-Constructing Archaeology, por Michael Shanks e
Christopher Tilley, em 1987, que marcou o processo de recons-
trução da Arqueologia. Os autores uniram as vertentes filológicas,
históricas e filosóficas da crítica social às reflexões da Antropolo-
gia contextual, em um ataque devastador aos pressupostos histó-
rico-culturais e processuais, caracterizados como discursos a ser-
viço das potências imperialistas e da exploração. Já antes disso,
Bruce G. Trigger constatava que a New Archaeology era uma for-
ma de Arqueologia imperialista. A Arqueologia pós-processual
ou contextual introduziu, de forma explícita, a dimensão política
da disciplina, sua importância na luta dos povos pelo seu próprio
passado e por seus direitos.
Foi neste contexto que surgiu o World Archaeological Congress
(Congresso Mundial de Arqueologia), em 1986, congregando ar-
queólogos e outros estudiosos, assim como indígenas, preocupa-
dos com as dimensões sociais da Arqueologia. Shanks e Tilley
constataram que o próprio nome da disciplina pode ser interpre-
tado como o “conhecimento do poder”, retomando um dos senti-
dos da palavra arque, em grego. A partir da década de 1990, esse
engajamento levou a um crescente dinamismo da chamada Ar-
queologia Pública (public archaeology), entendida como toda a
pletora de implicações públicas da disciplina, do cuidado pelo
patrimônio aos direitos humanos.
REFERÊNCIA
Funari, P.P.A., Hall, M., Jones, S. (eds). 1999 Historical Archaeology, Back
from the edge. Londres, Routledge, 1999.
A COLEÇÃO DE ÂNFORAS DO MAE-USP:
VASOS E INSCRIÇÕES1
1
Artigo publicado em inglês, MAE-USP amphora collecton: vessels and incriptions, Revista
do Museu de Arqueologia e Etnologia, 11, 2001, 275-282. Traduzido do original em inglês
por Pedro Paulo A. Funari.
88 PEDRO PAULO A. FUNARI
CATÁLOGO DE SELOS
1. e....a
daliou
Tamanho do selo: 5,0 x 1.8 cm.
Forma: retangular
Pasta: marron.
Data: depois de 275 a.C.
Número de tombo: MAE-USP 64/11.18, doado pelo governo
italiano.
Área de produção: Rodes.
Local de achado: Itália.
Descrição do fragmento: alça de ânfora ródia. O diâmetro do
lábio é de cerca 12,8 cm e o ângulo do selo em relação ao pesco-
ço é de 21 graus.
90 PEDRO PAULO A. FUNARI
2. [a]ris[to]klaeus
Segunda marca: P (1 x 1 cm)
Tamanho: 3,2 cm.
Forma: circular.
Pasta: cinza.
Data: início do segundo século a.C.
Número de tombo: MAE-USP 64/11.32, doado pelo governo
italiano.
Área de produção: Rodes.
Local de achado: Itália.
Descrição do fragmento: alça de ânfora ródia. O diâmetro do
lábio era de cerca 11,6 cm. E o ângulo em relação ao colo de 21
graus.
O selo refere-se ao produtor ródio Arístocles, ativo nos últi-
mos cinqüenta anos anos do domínio romano, o que permite
datar o selo na primeira metade do século II a.C.
3. [s]o[kr]ateus
Tamanho: 3,4 cm.
Forma: circular.
Pasta: cinza, com superfície esbranquiçada, avermelhado no
centro.
Data: entre 275-180 a.C.
Número de tombo: MAE-USP 75/1.41, doado por U.T.B.
Meneses.
Área de produção: Rodes.
Local de achado: Delos.
Descrição do fragmento: alça ródia. O diâmetro do lábio era de
cerca 13,4 cm. e o ângulo da alça em relação ao colo é de 15
graus.
ARQUEOLOGIA E PATRIMÔNIO 91
4. Epitpatrophan
Panamou
Tamanho: 3,9 x 1,9 cm.
Forma: retangular.
Pasta: cinza, esbranquiçado na superfície, avermelhado ao centro.
Data: entre 220 e 180 a.C.
Número de tombo: MAE-USP 75/1.42, doado por U.T.B.
Meneses.
Área de produção: Rodes.
Local de achado: Delos.
Descrição do fragmento: alça ródia, ângulo da alça em relação
colo de 11 graus.
Um produtor ródio de nome Pratophanes é bem conhecido
entre 220-180 a.C. (Grace 1952: 529; Grace e Savvatianou-
Petropoulakou 1970: 294).
5. Agathinou
Knidin
Ânfora
Tamanho: 5,6 x 1,6 cm.
Forma: retangular, com um desenho de ânfora de Cnidos.
Pasta: avermelhada.
Data: meados do século II a.C.
Número de tombo: MAE-USP 75/1.43, doado por U.T.B.
Meneses.
Área de produção: Cnidos.
Local de achado: Delos.
92 PEDRO PAULO A. FUNARI
1. Ânfora greco-itálica
Tamanho: altura, 40 cm; diâmetro, 14 cm.; colo, 7 cm., diâme-
tro de 8,5 cm.; largura do corpo, 21 cm.
Forma do vaso: piriforme.
Pasta: cinza.
Data: 350-250 a.C.
Número de tombo: MAE-USP 64/9.5, doado pelo governo itali-
ano.
Área de produção: Itália.
Local de achado: Castiglioncello (Livorno, Itália).
Descrição do vaso: lábio triangular, colo cilíndrico e ombro mar-
cado, alças ovóides ligadas abaixo do lábio e no alto da pança,
corpo piriforme, com ponta curta e maciça.
2. Ânfora greco-itálica
Tamanho: altura, 48 cm.; diâmetro, 12 cm.; alça, 12 cm., diâ-
metro, 8,4 cm., largura do corpo, 19,8 cm.
Forma do vaso: piriforme.
Pasta: marron.
Data: 350-250 a.C.
Número de tombo: MAE-USP 64/9.6, doado pelo governo itali-
ano.
Área de produção: Itália.
Local de achado: Toscanella, tumba dos Velinii (Itália).
ARQUEOLOGIA E PATRIMÔNIO 93
CONCLUSÕES
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
DEBIDOUR, M.
1979 Reflexions sur les timbres amphoriques thasiens. Thasiaca Suppl. 5:
269-314.
EMPEREUR, J.-Y.
1982 Les anses d’amphores timbrées et les amphores: aspects quantitatifs.
Bulletin de Correspondence Héllenique 106: 219-233.
FUNARI, P.P.A.
1985a As transformações das ânforas oleárias béticas de tipo Dressel 20.
Universidade de São Paulo, master’s thesis.
1985b A Anforologia – uma nova disciplina arqueológica. Revista de Histó-
ria 118: 161-170.
1987 Em torno da ânfora: a terminologia latina dos vasos recipientes. N. F.
Pinto and J.L. Brandão (Eds.) Cultura Clássica em Debate. UFMG/CNPq/
SBEC, Belo Horizonte: 51-61.
1994 L’huile et l’économie de la Bretagne romaine. P. Lévêque, J.A. Dabdab
Trabulsi and S. Carvalho (Eds.) Recherches Brésiliennes. Belles Lettres,
Bésnçon: 95-115.
1995 Dressel 20 inscriptions from Britain and the consumption of Spanish
olive oil, with a catalogue of stamps. BAR, Oxford.
GARLAN, Y.
1985 Introduction au colloque. J.-Y. Empereur and Y. Garlan (Eds.)
Recherches sur les amphores grecques. De Boccard, Paris: 3-8.
GRACE, V.
1949 Standard pottery containers of the ancient Greek world. Hesperia
Suppl. 8: 175-189.
1952 Timbres amphoriques trouvés à Delos. Bulletin de Correspondence
Héllenique 76: 514-540.
1961 Amphorae and the Ancient Wine Trade. American School of Classical
Studies at Athens, Princeton.
MANACORDA, D.
1986 A proposito delle cosidette “greco-italiche”: una breve nota. J.-Y.
Empereur and Y. Garlan (Eds.) Recherches sur les amphores grecques. De
Boccard, Paris: 581-586.
WELLKOPP, T.
1998 Die Sozialgeschichte der Vater, Grenzen und Perspektiven der
historischen Sozialwissenschaft. Geschichte und Gesellschaft 24: 173-198.
WILL, E.L.
1982 Greco-Italic amphoras. Hesperia 52: 338-356.
CONSIDERAÇÕES SOBRE O PROFISSIONAL DE MUSEU E
SUA FORMAÇÃO
2
Cf. Lorenz (1998: 619): Postmodernismus ist deshalb immer eine radikale Version des
Pluralismus (ênfase no original).
3
Keine Ausstellung ohne Erzählungen, como se propõe na concepção do Museu Ativo (“não
há exposição sem narrativas).
4
Cf. Potter (n.d.: 39): If we can encourage ourselves (sc. museum professionals) and our
visitors to see the objects in our museums as ‘fragile’ – as culturally constructed and a
culturally contested rather than as self-evidently important and in possession of inherent
meanings – then perhaps we all will begin to treat those objects better, thinking about them
rather than worshiping them.
ARQUEOLOGIA E PATRIMÔNIO 99
6
Ainda que alguns dos grandes museus brasileiros, voltados para as Ciências Naturais, no
século XIX, tenham atuado na pesquisa científica (cf. Lopes 1997).
ARQUEOLOGIA E PATRIMÔNIO 101
7
Museologia, História, História da Arte, Arqueologia, Antropologia, Etnologia, Biologia, Ge-
ografia, Etnologia, Estudos da Cultura Material, Folclore, Geologia, Botânica, História Oral,
Iconografia, Semiótica, entre outras.
8
Cf. M.C. Bruno, C. Rizzi e M.X. Cury (1999: 46): “apesar do grande esforço, muitos museus
estão longe da consciência do equilíbrio entre o cuidado com os acervos e a atenção com as
expectativas das sociedades”.
ARQUEOLOGIA E PATRIMÔNIO 103
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
Baker, F. 1991 Archaeology, Habermas and the pathologies of modernity, in
F. Baker & J. Thomas (eds), Writing the Past in the Present, Lampeter,
University Press, 54-62.
Bruno, C. 1991 Por um mundo mais justo, Jornal da Tarde, Caderno de
Sábado, 16/11/91, p.3.
Bruno, M.C., M.X. Cury, M.C.S.L. Rizzi 1999 Difusão científica,
musealização e processo curatorial: uma rede de possibilidades e desafios
para os museus brasileiros, in Anais I Semana dos Museus da Universidade
de São Paulo, São Paulo, USP, 45-50.
Durrans, B. 1992 Behind the scenes. Museums and selective criticism,
Anthropology Today, 8,4, August, 11-15.
Fahmel-Beyer, B. 1993 El concepto de la participación en el discurso de la
ARQUEOLOGIA E PATRIMÔNIO 105
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
Abud, K.M. O Sangue Intimorato e as Nobilíssimas Tradições: A constru-
ção de um símbolo paulista. São Paulo: tese de doutoramento, 1986.
Alcântara Machado, J. Vida e Morte do Bandeirante. São Paulo, 1926.
Allen, S. J. A “Cultural Mosaic at Palmares”? Grappling with the historical
archaeology of a seventh-century Brazilian quilombo. In Cultura Material e
Arqueologia Histórica, P.P.A. Funari (ed.), 141-178. Campinas: IFCH-
UNICAMP, 1999.
Arraes, M. Brazil: the people and the power. London: Pelican, 1972.
Baeta, A.M. Aspectos sobre o processo de contacto entre colonizadores e
abrigos arqueológicos encantados. O Carste, 12: 68-74, 2000.
Bahrani, Z. Conjuring Mesopotamia: imaginative geography and a world
past. In Archaeology under Fire, Nationalism, politics and heritage in the
Eastern Mediterranean and Middle East, Meskell, L. (ed.), 159-174. London
and New York: Routledge, 1998.
Benjamin, W. Über den Begriff der Geschichte. In Gesammelte Schriften,
1,2: 352-360. Frankfurt: Suhrkamp, 1974.
Beting, J. Branco Brasil. O Estado de São Paulo, 22 de julho, 2001: B2,
2001.
ARQUEOLOGIA E PATRIMÔNIO 125
NOTAS
1. O nome “república”, utilizado nos documentos do século XVII é uma
tradução, ao vernáculo, do termo latino então corrente, res publica, usa-
do para designar qualquer Estado; cf. Édison Carneiro, O Quilombo de
Palmares, São Paulo, 1988, p.33. Termos de origem africana, como
mocambo e quilombo, foram introduzidos posteriormente, em geral com
conotações pejorativas. Nos documentos que se referem a Palmares, o
assentamento rebelde é chamado de mocambo, “esconderijo”, segundo
ARQUEOLOGIA E PATRIMÔNIO 137
INTRODUÇÃO
Após essa fase inicial, que abrange o período dos anos 1950
e 1960, a Arqueologia brasileira insere-se na reforma universitá-
ria implantada pelos militares. A pós-graduação brasileira passou
a seguir o sistema americano, com mestrados e doutorados e a
formação em Arqueologia continuou a ser um especialização pos-
terior à graduação, com a exceção do curso, nunca reconhecido
pelo MEC, na Estácio de Sá, no Rio de Janeiro. Os arqueólogos
que surgiram nas três vertentes apontadas, acrescidos de alguns
estudiosos estrangeiros, como André Prous e Gabriela Martín,
constituíram os quadros que estabeleceriam a formação em Ar-
queologia nas décadas de 1970 e 1980. Enquanto nas Ciências
Humanas, em geral, buscava-se uma formação intelectual menos
descritiva e mais crítico-analítica (Janotti & Mesgravis 1980: 9),
a Arqueologia empirista, único discurso associado ao poder, im-
punha, por mecanismos hierárquicos comuns às sociedades patri-
arcais (cf. Collis 1997: 11), mas aqui levados ao paroxismo pelo
regime de arbítrio, uma formação infensa a leituras interpretativas.
Sempre houve quem lesse, quem buscasse sair desse marasmo,
mas só podia fazê-lo por sua conta e risco (Noelli 1999). Não se
pode subestimar o sufocamento das vocações, pois as hierarquias
permitiam que se expulsassem da universidade aqueles que não
se conformassem, como ocorreu com o notável caso de Walter
Neves e Solange Caldarelli (reportado em Prous 1994: 12; e em
Funari 1999), nem a institucionalização de uma hierarquia infensa
ao mérito facilitou a formação de novos arqueólogos6. Na maioria
dos casos, bastava algo muito mais insidioso, a internalização da
submissão, pois se sabia que “à volta de um grande e frondoso
carvalho, nada cresce”, nas palavras de Norberto Luiz Guarinello
(1999), a respeito de um dos mandarins da Arqueologia. Não se
buscou criar massa crítica, formando novos estudiosos, o que ex-
plica, em parte, que muitos dos pais fundadores pronapianos te-
nham tido tão poucos alunos, sendo que, ainda hoje, “na maioria
das instituições brasileiras há um processo de sufocamento de
novas vocações”, nas palavras de Francisco Noelli (1999)7.
As duas últimas décadas testemunharam transformações ra-
dicais em um quadro que parecia pouco promissor para a Arque-
ologia brasileira. Warwick Bray (1994: 6), quando discursou ao
ARQUEOLOGIA E PATRIMÔNIO 149
Quadro
COMO TORNAR-SE ARQUEÓLOGO PROFISSIONAL NO
BRASIL EM 1999
I. PRÉ-UNIVERSITÁRIO:
1.VOLUNTARIADO EM PROJETOS DE PESQUISA
2. VOLUNTARIADO EM MUSEUS E OUTRAS INSTITUI-
ÇÕES
- VANTAGENS E DESVANTAGENS: DESPERTAR O
GOSTO PELO ESTUDO DA CULTURA MATERIAL,
MAS POSSIBILIDADE DE SE DECEPCIONAR POR
DEFICIÊNCIA NA FORMAÇÃO ACADÊMICA
II. UNIVERSITÁRIO:
1. GRADUAÇÃO:
A. EM ARQUEOLOGIA (CURSO NÃO RECONHECIDO
PELO MEC)
- VANTAGENS E DESVANTAGENS: ESPECIALIZA-
ÇÃO PRECOCE, POUCO CONTATO COM ÁREAS
AFINS
B. EM DISCIPLINA UNIVERSITÁRIA RELACIONADA
(HISTÓRIA, ANTROPOLOGIA, BIOLOGIA, SOCIO-
LOGIA, GEOGRAFIA, LETRAS, ENTRE OUTRAS)
- VANTAGENS E DESVANTAGENS: CONTATO COM
ÁREAS RELEVANTES DA CIÊNCIA, ESPECIALI-
ZAÇÃO MAIS TARDIA
2. PÓS-GRADUAÇÃO:
A. EM ARQUEOLOGIA
- VANTAGENS E DESVANTAGENS: ESPECIALIZA-
ÇÃO, MENOR ÊNFASE NAS CIÊNCIAS AFINS
B. EM PROGRAMA DE ÁREA RELACIONADA
- VANTAGENS E DESVANTAGENS: CONTATO COM
ÁREAS RELEVANTES DA CIÊNCIA, ESPECIALI-
ZAÇÃO MAIS TARDIA
ARQUEOLOGIA E PATRIMÔNIO 157
AGRADECIMENTOS
NOTAS
1
Recentemente, Cristiana Barreto (1999) considerou “falsa qualquer tenta-
tiva de caracterizar uma politização da disciplina para este período como
o faz Funari (1992b)”. A cassação de Paulo Duarte e seu afastamento da
direção do Instituto de Pré-História, em 1969, as sucessivas reuniões de
Betty Meggers e Clifford Evans e as autoridades políticas, não só acadê-
micas, impostos pela ditadura, o apoio oficial de órgãos do Estado, como
o CNPq, a ascenção acadêmica, com destaque na Arqueologia, de perso-
nagens cuja vinculação com altos hierarcas do regime militar era explíci-
158 PEDRO PAULO A. FUNARI
ta, até mesmo por laços matrimoniais, monstram que não houve politização
da disciplina, mas uma explícita relação, em nada científica, entre arque-
ólogos e o poder político discricionário. Neste sentido, não se pode en-
tender o uso de um adjetivo como “falsa” senão como uma tentativa de
impor, apenas com recursos discursivos apodíticos, um ponto de vista
que serve para “livrar a cara” daqueles que estiveram profundamente
envolvidos com o arbítrio. Sobre o poder do esprit de corps de intelectu-
ais que participaram de regimes de força, veja-se o caso de Vichy, estuda-
do por Sonia Combe (1996), em diversos aspectos similar à situação bra-
sileira. Suas palavras conclusivas merecem ser citadas, referindo-se aos
intelectuais: unless they are careful, run the risk of letting themselves be
guided by ‘functional imperatives serving both the production of consensus
and social integration’. This was Jürgen Habermas’ warning warning to
German historians. He was a non-historian, as his opponents never stopped
emphasizing, whose vigilance had launched the Historikerstreit and who,
on that occasion, was surprised to discover among scientists the attitudes
of ‘political men engaged in conflict’ (Habermas 1988: 57).
2
Cf. Schmitz (1989: 47): “Faz pouco mais de vinte anos que a Arqueologia
brasileira começou a receber verbas públicas e a desenvolver ambiciosos
programas exploratórios, acompanhados de um treinamento mais orgâni-
co do pessoal”; Dias (1995: 35): “A implantação do Programa represen-
tou um salto quantitativo e qualitativo para a Arqueologia Brasileira. Sua
implementação possibilitou que, em apenas cinco anos, fossem levanta-
dos mais de 1500 novos sítios arqueológicos, enquadrados em um mode-
lo cronológico e espacial de que carecia a Pré-História brasileira... O
Pronapa também foi responsável por fomentar a multiplicação de centros
de pesquisa arqueológica no país, que passaram a formar um número
cada vez maior de pesquisadores qualificados”; compare-se com Lewgoy
(1997: 248), Noelli (1999), neste artigo. Diversos arqueólogos engajaram-
se no discurso do poder, saudando o regime militar e seu
desenvolvimentismo; cf. (Meneses 1968: 43) “a importância que se vem
atribuindo (sc. nos anos imediatamente anteriores a 1968) à Universida-
de como fator de desenvolvimento”.
3
Cf. Lewgoy (1997: 248): “Pelos depoimentos de nossos informantes, per-
cebemos que os ensinamentos passados pelos representantes do
Smithsonian resumiram-se a técnicas de coleta e interpretação de dados,
tendo sido desprezados deste intercâmbio a oferta global de orientações
teórico-metodológicas, bem como o espectro de problemáticas de pes-
quisa disponíveis nos Estados Unidos à época”.
4
Neves (1998: 628): no excavation profiles, or the actual artefact composition
of each leve are presented. One has to wait the full publication of the
ARQUEOLOGIA E PATRIMÔNIO 159
12
Entenda-se teoria, à maneira dos gregos, em seu sentido amplo, engloban-
do tanto grandes quadros interpretativos, como mais prosaicas explica-
ções, como as middle range theories; cf. crítica a estas últimas, em Wehler
(1979a:17): Jedermann wird vermutlich der Meinung beipflichten können,
dass das Wort ‘Theorie’ in den letzten Jahren eine inflationäre Aufblähung
erlebt hat. Nicht selten ist es an die Stelle von ‘plausibler Interpretation’
getreten, hat manchmal sogar nur ‘These’ gemeint oder genau das
bezeichnet, was bei Droysen eine mehr oder minder gute ‘Fragestellung’
geheissen hätte.
13
Cf. Wehler (1979b: 60): Das in der historischen Erzählung wenigstens
zum Teil miteingebaute Erklärungsangebot finde ich im Vergleich mit
expliziter, diskussionsfähiger historischer Theoriebildung wit unterlegen.
In der Tat: the proof of the pie is in the eating.
14
Cf. Olivier (1999a): En ce qui me concerne, j’utilize l’Anglais comme
‘lingua franca’ qu’elle est désormais; o jornal da ADUSP, em seu número
de julho de 1998, p. 56, reproduziu uma sintomática notícia da Nature (9/
4/98), que seria bastante pertinente ao caso brasileiro e que, por isso,
merece ser transcrita: “Novo sistema de avaliação reduz o poder dos ‘ba-
rões da ciência’ na Itália. O novo sistema intituído na Itália tem privilegiado
a qualidade dos projetos e reduziu bastante a pulverização de recursos
que gerava uma distribuição ampla e, conseqüentemente, escassa de re-
cursos por grupo de pesquisa. Alguns nomes bem conhecidos não conse-
guiram, pela primeira vez, renovar seus auxílios por falta de mérito cien-
tífico. Os pedidos de auxílio devem ser apresentados tanto em inglês como
em italiano, de maneira a permitir a participação de consultores exter-
nos” (grifo acrescentado).
15
Um bom exemplo, recente e entre outros, refere-se à vinda de Siân Jones,
com apoio da FAPESP e da British Academy, tendo ensinado na pós-
graduação da UNICAMP, cujos alunos puderam tomar contato com obras
suas inéditas, como seu livro, publicado em 1997, ano em que esteve
aqui. Desta forma, pôde discutir-se uma obra cujas qualidades fariam
com que fosse, em menos de dois anos, resenhada nas principais revistas
internacionais e brasileiras.
16
Em 1991, terminava artigo constatando que três passos se faziam neces-
sários: 1. To know, debate, exchange ideas and integrate archaeology with
other social sciences; 2. To integrate Brazilian archaeology with
archaeology as practised everywhere else in the world; 3. To adopt a Code
of Ethics...to prevent archaeology being used against indigenous minorities
and other oppressed people, and to prevent the return of political
persecution within or outside academic life (Funari 1991: 128; cf. em
castelhano, Funari 1992: 64-65).
ARQUEOLOGIA E PATRIMÔNIO 161
17
Trata-se de algo universal, como assinalaram McGuire e Walker (1999),
mas cujos contornos, em uma sociedade tão desigual como a brasileira,
tornam-se dramáticos. Recentemente, Noelli (e.g. 1994;1995;1996c) tem
produzido diversos estudos contundentes a respeito. Em um artigo sobre
a formação do arqueólogo no Brasil, não caberia desenvolver este tema,
que merece uma reflexão específica. Registre-se, no entanto, que o único
critério universalmente aceito para a chamada Arqueologia de Contrato
consiste na produção científica que deve resultar de qualquer atividade
contratada por uma empresa, o que nem sempre ocorre no Brasil. A for-
mação de iniciantes na Arqueologia nesse ambiente pode ser, portanto,
bastante inadequada, pois o que se tem que aprender é a produzir ciência,
o que nem sempre é o caso na Arqueologia de Contrato.
18
Conscientia, “saber com”, implica na interação social.
19
Um dos motivos de se desconsiderar o aspecto patrimonial da Arqueolo-
gia advém da noção estreita, defendida por alguns, de que “a Arqueolo-
gia não é o estudo de objetos, de coisas” (Meneses 1980: 6), o que
descaracteriza a inevitável ligação entre a Arqueologia e a apropriação
dos artefatos pela sociedade.
REFERÊNCIAS CITADAS
Barreto, C. 1999 Arqueologia Brasileira: uma perspectiva histórica e com-
parada. In P.P.A. Funari, E.G. Neves e I. Podgorny (orgs), Teoria Arqueoló-
gica na América do Sul. Museu de Arqueologia e Etnologia da Universida-
de de São Pauo/Fapesp, São Paulo, no prelo.
Barros e Silva, F. 1997 Jô vira a “vaca sagrada” das elites. Folha de São
Paulo, 9/3/97, TV, p.2.
Batista, P.N. 1997 Um cidadão anacrônico. Folha de São Paulo 16/1/1997,
2, p.2.
Binford, L.R. 1984 In pursuit of the past. Academic Press, Nova Iorque.
Bourdieu, P. 1988 Vive la crise! For heterodoxy in social sciences. Theory
and Society 17: 773-787.
Bourdieu, P. 1989 The corporativism of the universal: the role of intellectuals
in the modern world. Telos 81: 99-110.
Bray, W. 1994 Why study ancient America. Bulletin of the Institute of
Archaeology 31: 5-24.
Collis, J. 1997 Ravenna was all very nice, but... The European Archaeologist
8: 2-4.
162 PEDRO PAULO A. FUNARI