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Universidade Federal de Pelotas

Instituto das Ciências Humanas


Departamento de Antropologia e Arqueologia
Arqueologia I
Prof. Jorge Eremites de Oliveira

Maria Lucia Jacque Andere de Mello1

Avaliação 1: História da Arqueologia Brasileira, das décadas de 1950 e 1960 aos dias
atuais.

A Arqueologia, apesar da proximidade e do diálogo constante com a História, se


difere da mesma em alguns aspectos – como exemplo o tempo, que na Arqueologia não
se inicia no advento da escrita, é muito mais longo, além de não depender apenas de
registros escritos para reconstruir e compreender a história dos indivíduos. Segundo
Gordon Childe, “um dos principais objetivos da Arqueologia pré-histórica é o de definir
as várias tradições sociais expressas nas diferenças existentes entre suas relíquias ”
(CHILDE, 1988, p.21). No Brasil, assim como a História, os processos de
institucionalização plena e regulamentação da profissão do arqueólogo foram lentos e
tardios, se comparado a outros países.

Com o intuito de compreender as sociedades e suas transformações no tempo, o


campo científico da Arqueologia fora constituído no Ocidente, entre a segunda metade
do século XIX e as primeiras décadas do século XX, tendo como influência correntes de
pensamento como a filosofia de Foucault e o marxismo (FUNARI, 2003, p.95). Vide
contexto histórico de criação de identidade nacional, ideia de um povo e nacionalidade,
procurava-se elementos para legitimar uma língua, cultura e história em comum na
formação das nações europeias, portanto a Arqueologia tornou-se necessária. Nestes
processos de construção de identidade nacional, a Arqueologia apresenta a base empírica,
que envolve a classificação de artefatos e objetos, tempo e espaço em que estão inseridos,
função deles e quem os utilizou (FUNARI, 2003).

No Brasil, na década de 1930 o Ministério da Educação surgiu e com ele as


universidades no país, durante a Revolução de 30. Contudo, é apenas em 1961 que iniciam
discussões sobre a criação de um curso de Arqueologia na Universidade de São Paulo
(USP). Observa-se que os projetos que envolviam educação, sendo este da criação do

1 Graduanda do curso de bacharelado em História, na Universidade Federal de Pelotas.


curso incluso, foram deixados de lado por conta da Ditadura Militar instaurada no país no
ano de 1964, quando os incentivos à ciência e educação foram brutalmente cortados.
Como afirma Pedro Paulo Funari, “a arqueologia humanista ressentia-se da falta de
ambições epistemológicas que lhe dessem espessura acadêmica no interior tanto da
universidade brasileira como, principalmente, internacional.” (FUNARI, 2000, p.77).

No ano de 1965, é fundado o Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas


(PRONAPA), que “pressupunha padronização metodológica, em campo e laboratório, da
coleta de informações, análises e classificações, da terminologia e do formato de
apresentação dos resultados” (SOUZA, 1991, p. 114). Liderado por Betty Meggers e
Clifford Evans, eles constituem a primeira geração de arqueólogos no Brasil. Apesar de
importantes para a história da arqueologia brasileira, cometeram diversos erros como um
grupo arqueológico, consoante com Pedro Paulo Funari, falta de autocrítica,
despreocupação com publicações e execução de escavações sem muito planejamento
foram alguns dos atos destes primeiros arqueólogos (FUNARI, 2000, p.78). Fora apenas
em 1973 que o primeiro curso de arqueologia – com formação dupla em museologia – foi
inaugurado, na Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro.

A regulamentação da profissão de arqueólogo se deu a partir da lei número


13.653/2018, portanto, infelizmente até 2018 não era reconhecido como profissão, o que
salienta a despreocupação do Brasil com as disciplinas de ciências humanas. A década de
1980 tem uma grande importância para o cenário da arqueologia brasileira, o contexto
histórico nacional é de enfraquecimento da ditadura militar, é um momento de tomada de
consciência de classe, e dentro da academia formava-se a segunda geração de arqueólogos
no Brasil, com nomes como Funari e Walter Neves. Em 1985, ocorreu a promulgação da
Constituição Federal, e essa nova geração questionava cada vez mais que tipo de
arqueologia era produzida no país. (OLIVEIRA, 2002, p.29).

Ademais, durante a década de 1980, houve a criação da Sociedade de Arqueologia


Brasileira, marcando o momento em que a Arqueologia tomou local de organização. A
partir de 1990, no governo de Itamar Franco, os investimentos no ensino deram frutos, e
três faculdades possuíam agora o programa de pós-graduação e formavam muitos
arqueólogos brasileiros. Os quais já inseridos nesse contexto de efervescência política,
participaram ativamente da sociedade e política brasileira, esta geração é conhecida como
a terceira geração. Segundo Eremites de Oliveira, esta nova geração “vem se
apresentando como a mais ousada e aquela que tem assumido uma postura de impulso
vanguardista, a meu ver precursora de um importante movimento de renovação dos
estudos arqueológicos no país” (OLIVEIRA, 2002, p. 45).

Após análise, é indubitável perceber que a institucionalização da Arqueologia,


tanto como curso universitário, quanto profissão, no Brasil trilhou um caminho de
dificuldades e ser arqueólogo no país significa “desligar-se do poder paroquial e inserir-
se na ciência universal” (FUNARI, 2000, p.81). Outrossim, deve-se compreender a
relevância desse estudo e que essa história cultural e do patrimônio deve ser de acesso a
todos, inclusive publicada internacionalmente, pois a humanidade não é uma sociedade
única, e é de suma importância o conhecimento das tradições, ritos e produtos sociais
produzidos pelo homem (CHILDE, 1988). Entende-se a importância de todos os
processos de resistência durante s três gerações de arqueólogos no país, que resultaram
na possibilidade de bolsas – como CAPES e CNPQ – e de conseguirem levar o estudo
arqueológico para além das fronteiras brasileiras.

Referências Bibliográficas:

CHILDE, V. G. O que aconteceu na História? 5a. ed. Rio de Janeiro: Guanabara,

Tradução de W. Dutra, 1988.

EREMITES DE OLIVEIRA, J. A Arqueologia Brasileira da década de 1980 ao

início do século XXI: uma avaliação histórica e historiográfica. Estudos Ibero-

Americanos, Porto Alegre, 28 (2): 25–52, 2002. Disponível em:

https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/iberoamericana/article/view/23800.

FUNARI, P. P. A. Arqueologia. São Paulo: Contexto, 2003.

FUNARI, P. P. A.. Como se tornar arqueólogo no Brasil. Revista USP, São Paulo,

44: 74-85, 2000. Disponível em:

https://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/30095/31980.

SOUZA, A. M. de. História da Arqueologia Brasileira. Pesquisas

(Antropologia), São Leopoldo, 46, 1991. Disponível em:

http://www.anchietano.unisinos.br/publicacoes/antropologia/volumes/046.pdf.

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