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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ – CERES

CAMILA FERNANDES ROCHA

ESTUDO DIRIGIDO UNIDADE I

CAICÓ – RN
2023
CAMILA FERNANDES ROCHA

ESTUDO DIRIGIDO UNIDADE I

Estudo dirigido apresentado ao curso de


História do Centro de Ensino Superior do
Seridó - Universidade Federal do Rio
Grande do Norte como requisito avaliativo
da primeira unidade da disciplina de
Antiguidades Afro-Asiáticas.

Orientadora: Profᵃ. Drª Airan dos Santos


Borges de Oliveira

CAICÓ – RN
2023
Resposta 1:

A arqueologia é o campo do conhecimento responsável pelo o estudo


dos primórdios, dos relatos das coisas antigas. Atualmente, por conta do
diálogo com as ciências sociais, a arqueologia vem se traçando de forma
interdisciplinar. Destaca-se que agora, não se visa revelar apenas o sentido
das coisas e dos artefatos desenterrados, mas configurar que os “ecofatos e
biofatos são vestígios do meio ambiente e restos dos animais que passaram
sobre apropriação do ser humano”, isto significa que o objeto de pesquisa
passou a não se limitar somente ao estudo do passado longínquo, mas,
também, a abranger a contemporaneidade. (FUNARI, 2010).

Considerando a correlação da história da humanidade com os artefatos


desde a antiguidade, o estudo da arqueologia no Mundo Antigo se torna
imprescindível. Os estudos práticos e sem mediações da cultura material nos
permite compreender a história e as sociedades antigas, a partir da interação
do homem antigo com a natureza. (MENESES, 1983).

Segundo a arqueóloga e historiadora Cristiane Loriza Dantas, é


necessário compreender a correlação entre as pessoas e os objetos, em
virtude das muitas dinâmicas sociais se darem origem a partir dos processos
de interação entre pessoas e artefatos. (DANTAS, 2014).

Nesta perspectiva, os estudos da arqueologia do mundo antigo


“contribuem para a construção e atualização do conhecimento acerca da
diversidade dos sujeitos, suas relações e as múltiplas culturas da antiguidade,
de maneira multifacetada” (CERQUEIRA & DIAS, 2017).

Igualmente, podemos pensar a importância das pesquisas históricas e


arqueológicas para o estudo do que conhecemos como Oriente próximo, palco
do surgimento das primeiras cidades, sistemas de escrita, impérios e da própria
diplomacia. (POZZER, SCOVILLE & BALÉM, 2021).

São incontáveis as descobertas arqueológicas que trouxeram, a luz,


várias interpretações clássicas, levando a um conhecimento mais preciso. O
estudo da escrita cuneiforme, por exemplo, teve um importante impulso com as
descobertas arqueológicas realizadas, ao trazer ao conhecimento uma enorme
quantidade de documentos, desta escrita e das diversas línguas antigas.
(POZZER, 1998/1999).

Através das diversas evidencias materiais e arqueológicas ao longo do


tempo, é possível elaborar-se uma sequência cronológica do desenvolvimento
mais consistente, que demonstra adequadamente a historicidade, como a
própria criação da história. Tendo como exemplo, o esforço atual crescente de
pesquisadores em dedicar-se às sociedades não-europeias, evoluindo assim,
gradativamente o ensino para uma visão não mais eurocêntrica no caso.
(POZZER, SCOVILLE & BALÉM, 2021).
Então, é através das escavações arqueológicas e evidencias matérias
que se pode conhecer e reconstruir todo um período da história da
humanidade. Ainda há muito a se escavar e a se descobrir, especialmente em
relação a novos materiais tratados pela arqueologia. Uma delas é a de refletir
sobre temas universais, questões que interpelam as sociedades humanas
desde o princípio até os dias de hoje.
Resposta 2:

O Oriente Próximo é um campo do estudo crucial para a reconstrução


histórica das sociedades humanas. Considerado como patamar ou como ponto
de partida de relevantes processos socioculturais e políticos. A verdade, é que
se ansiamos por conhecer e compreender melhor o contexto histórico atual na
sua totalidade, precisamos que o faça, a partir dos múltiplos passados que o
construíram, e a história do Oriente Próximo é justamente um desses muitos
passados que nos dão conhecimento global das primeiras experiências dos
homens vivendo em sociedade. (ZAPATA, 2020).

Em termos gerais, há vários problemas históricos e desafios atuais que


simultaneamente dificultam o campo de estudo e pesquisa do Antigo Oriente
Próximo. Incluindo o eurocentrismo, que pode ser observado em diferentes
campos do conhecimento, no estudo do Oriente Próximo, essa abordagem
eurocêntrica muitas vezes resulta em uma distorção da realidade, pois os
estudos orientais e as perspectivas dos povos locais são frequentemente
negligenciados em favor de uma história ocidentalizada, o que pode levar a
uma compreensão limitada e superficial da região. Além disso, essa
perspectiva eurocêntrica pode contribuir para a manutenção de estereótipos e
preconceitos em relação aos povos orientais. (LIVERANI, 2020; ZAPATA
2020).

Nesta perspectiva, pode-se mencionar o renomado historiador Mario


Liverani, o qual, no livro “Antigo Oriente”, ratifica que os fenômenos históricos
não tem uma “origem” única e definitiva, sobretudo hoje, que exigem que se
evitem os segregamentos etnocêntricos para conhecer experiências e
percursos de outros etnocentrismos. (LIVERANI, 2020).

Além disso, a ideologia religiosa tem sido um problema histórico


significativo para o estudo do Oriente Próximo, uma vez que é um fator que
moldou a história. Primeiramente, a própria redescoberta arqueológica do
Antigo Oriente dá-se, sobretudo, como tentativa de recuperar dados e imagens
do “ambiente histórico” do antigo testamento, sob a ótica da expressão
claramente ideológica: "a Bíblia tinha razão". (LIVERANI, 2020)
No passado, a maior parte das pesquisas arqueológicas na região foi
motivada, financiada e divulgada por sua relevância para a exegese
anticotestamentária. Portanto, não eram "imparciais", nem indiferentes aos
resultados de suas pesquisas, ou seja, a analise destes fatos devem ser feitas
de forma crítica e objetiva a fim de evitar a simplificação e generalização
excessiva, até mesmo nos dias atuais. (LIVERANI, 2020).
Devido a guerra, conflitos políticos e alterações ao longo dos séculos,
muitos registros históricos foram destruídos ou perdidos. Isso torna difícil
estudar certas épocas da história da região. Ademais, vale postular que a
escarces de uma historiografia antiga que forneça descrições, ou meios, para a
reconstrução da história do Oriente Próximo também é um desafio a ser
afrontado. Essa ausência substancial é um dado fecundo, pois exige um
caminho traçado a partir de avaliações responsáveis, ao invés de se apegar a
velhas fórmulas, frequentemente marcadas por ideologias tendenciosas e
reducionistas. (LIVERANI, 2020).

Certamente, as guerras em países do Oriente Próximo, suscitam em um


impacto negativo no patrimônio arqueológico e cultural e nas possibilidades de
reconstrução histórica a partir dos diferentes materiais preservados, pois
muitas peças importantes foram destruídas ou estão inacessíveis. (ZAPATA,
2020).

A guerra não só acaba com a vida das pessoas, mas também com o
conhecimento que pertence a toda a humanidade. Apesar de nas últimas
décadas haver um aumento da informação sobre o significado histórico dos
bens culturais do passado, incoerentemente acompanhamos à sua destruição
e supressão progressiva dos mecanismos sociais e materiais, meios que ligam
a experiência contemporânea das pessoas com a das gerações anteriores.
(ZAPATA, 2020).

Finalmente, uma questão importante enfrentada pelos estudiosos do


Oriente Próximo atualmente é a necessidade de se fazer compreender a
importância do estudo desta época pra os interesses nacionais, já que é
considerado um conjunto de conhecimentos improdutivos por estarem longe
das necessidades contemporâneas e totalmente desnecessários no contexto
de nossa realidade latino-americana. (ZAPATA, 2020).
No entanto, são numerosos os elementos de ordem material ou
simbólico da nossa atual civilização, cujas raízes remontam aos princípios
organizativos das antigas sociedades de formas socioculturais em que a
experiência humana pode se materializar ao longo da história, condição
necessária para desenvolver a compreensão, a tolerância e o respeito. Isto
posto, é lícito destacar que segundo Horacio Zapata o mundo como o
conhecemos hoje começou a se formar há mais de cinco mil anos e, a partir
daí, tomar consciência de um dos muitos aspectos históricos que compõem
nossa realidade social contemporânea. (ZAPATA, 2020).

Portanto, as antigas culturas do Oriente Próximo podem ser comparadas


com outras sociedades contemporâneas. Tais comparações históricas
permitirão identificar problemas que dificilmente poderiam ser colocados ou
reconhecidos sem tal hermenêutica. É necessário também uma maior interação
entre os estudos orientais e ocidentais, de modo a se construir um diálogo e
uma compreensão mais aprofundada e respeitosa da história e cultura da
região.
Resposta 3:

Marc Bloch, historiador medievalista francês, afirma, que a história é o


estudo das sociedades humanas no tempo. Portanto, tem como matéria-prima
tudo que evidencie e elucide como o homem vivia num determinado tempo e
espaço. A produção do conhecimento cientifico e histórico deve ser feita com
base em indícios, vestígios e pistas, ou seja, documentos analisados por
estudiosos tornam-se fonte do conhecimento e atestam a presença de uma
experiência social e histórica do passado. (BLOCH, 2001; MAUND &
CAVALCANTE, 2009).
Contudo, existe alguns desafios a serem superados pelos historiadores,
no que cerne o uso da documentação textual para o estudo do antigo Oriente
Próximo. Logo, deve-se discutir as raízes históricas desse problema e suas
consequências.
Primeiramente, muitos textos foram escritos em línguas antigas pouco
difundidas e que não são mais faladas, o que exige conhecimentos
especializados para sua decifração e tradução. Quando Kátia Pozzer fala da
escrita cuneiforme, ela levanta que está escrita não foi “popular”, isso significa
dizer que ela foi pouco disseminada, ou seja, se manteve restrita a um grupo
mínimo de especialista. Por vez, seu aprendizado exige muito tempo e
dedicação. (POZZER, 1999).
Ademais, muitos textos foram escritos com a intenção de glorificar ou
justificar as ações de governantes ou elites. Sob este viés, Le Goff assinala que
todo documento é ao mesmo tempo verdadeiro e falso, trata-se de pôr à luz as
condições de produção e de mostrar em que medida o documento é
instrumento de um poder. (LE GOFF, 1985).
Acima de tudo, muitos dos textos históricos são um corpus de material
fragmentado e danificado, seja em detrimento da passagem do tempo ou da
falta de cuidado ao longo dos anos, o que torna difícil sua interpretação
completa e precisa pelos historiadores.
Por fim, apesar desses desafios, a documentação textual ainda é uma
fonte valiosa de informações para o estudo da história e cultura das sociedades
antigas. Através desses registros, é possível compreender e analisar as
transformações sociais, políticas, culturais e econômicas da antiguidade. Além
disso, a documentação textual serve como fonte de pesquisa para estudos
acadêmicos e históricos atuais, possibilitando a construção de uma narrativa
mais completa e precisa sobre o passado.
Resposta 4:
A partir da análise dos conceitos de unidade e variedade das culturas,
assim como dos núcleos e periferias das regiões do Oriente Próximo Antigo,
podemos entender melhor como as sociedades se relacionavam e se
influenciavam mutuamente. O Oriente Próximo era composto por diversas
regiões e povos, cada um com sua própria cultura, economia e política. No
entanto, havia elementos comuns que uniam essas regiões, incluindo a
religião, o comércio e o conflito. (LIVERANI, 2020).
Esses elementos comuns formavam o núcleo do Oriente Próximo Antigo,
que era composto pelas grandes potências regionais. Essas potências
controlavam vastos territórios e exerciam influência sobre as regiões
periféricas, enquanto as cidades menores e menos poderosas que estavam
fora do núcleo eram frequentemente absorvidas pelos impérios maiores.
Entretanto, apesar de estarem fora do núcleo do Oriente Próximo, essas
regiões desempenharam um papel significativo no desenvolvimento cultural e
econômico da região. (LIVERANI, 2020).
Deste modo, na antiguidade, as relações inter-regionais no Oriente
Próximo eram dominadas por um núcleo de poder que controlava as rotas
comerciais e as cidades mais importantes. Esses impérios centralizavam o
comércio e a cultura e exerciam influência sobre as regiões periféricas. No
entanto, havia também rivalidades entre essas potências e conflitos frequentes,
o que gerava instabilidade na região. (LIVERANI, 2020).
A Mesopotâmia foi uma região marcada por uma dinâmica cultural
complexa em que a unidade e a diversidade se interligavam. Por um lado, a
unidade cultural e religiosa entre as cidades-estados mesopotâmicas, por
exemplo, permitiu o desenvolvimento de uma escrita comum e o comércio
entre as regiões. Por outro lado, a variedade de línguas e culturas na região
gerou tensões e conflitos entre as diferentes comunidades. A título de exemplo,
a escrita cuneiforme, desenvolvida na região, foi adotada por várias cidades-
estados, o que possibilitou uma comunicação mais eficiente entre elas. Essa
escrita era composta por símbolos em forma de cunha que eram impressos em
tabletes de argila. (LIVERANI).
Em conclusão, os conceitos de unidade e variedade, núcleo e periferia
fornecem uma lente útil para entender as relações inter-regionais no Oriente
Próximo na Antiguidade. Eles destacam a diversidade de culturas e etnias que
coexistiam na região, bem como os elementos comuns que as uniam. Além
disso, o conceito de núcleo e periferia destaca a importância do controle do
comércio e dos recursos naturais na competição pelo poder e influência na
região
REFERÊNCIAS

BLOCH, M. A apologia da história ou o ofício do historiador. Rio de


Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
CERQUEIRA, F. V.; DIAS, C. K. B. Dossiê “Arqueologia Clássica hoje:
reflexões contemporâneas”. Cadernos do LEPAARQ (UFPEL), v. 14, n. 27,
p. 5-9, 2017.
DANTAS, C. L. Fonte de memórias: Sítio Arqueológico Histórico Fonte da
Carioca. Dissertação (mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Goiás,
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em História. Goiânia, 2014.
FUNARI, Pedro Paulo. Arqueologia. São Paulo: Contexto, p. 125, 2010.
LE GOFF, J. Documento/Monumento. In: ENCICLOPÉDIA Einaudi. Lisboa:
Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1985. v.1: Memória-História.
LIVERANI, M. Antigo Oriente: história, sociedade e economia. ED., 1. SÃO
PAULO, Editora da Universidade de São Paulo, 2020.
MAUND, A. M.; CAVALCANTE, P. História e Documento. Rio de Janeiro:
Fundação CECIERJ, v. 1. Fevereiro, 2009.
MENESES, U. T. B. A cultura material no estudo das sociedades antigas.
Revista de História, n. 115, p. 103-117, 1983.
POZZER, K. M. P. Escritas e escribas: o cuneiforme no antigo Oriente
Próximo. Clássica. v. 11/12, n. 11/12, p. 61-80, São Paulo, 1998/1999.
POZZER, K. M. P.; SCOVILLE, P.; BALÉM, W. R. Desafios e possibilidades
da pesquisa em Antiguidade Oriental no Brasil. Mythos. Ano V, Número III,
p. 159-175, Imperatriz – MA. Setembro, 2021.
ZAPATA, H. M. H. ¿Tiene sentido estudiar historia antigua del cercano
oriente hoy? Tres razones y algunas reflexiones. Revista Brasileira de
História. SÃO PAULO, v. 40, n. 84, p. 193-216, 2020.

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