O artigo se trata de uma visão que o autor tem sobre a História e sobre a visão
que os historiadores e leitores pensam o passado. E também repensar o campo da
história antiga, da qual ele e especialista. Esse texto também demonstra maneiras de criar, interpretar e narrar a história por meio de algumas técnicas, junto a vestígios do passado que podem ou não dar uma ou mais resposta sobre o passado. Bom este artigo descreve a noção de história cientifica do autor, que diz que seu objeto de estudo não é nada real ou concreto e sim algo que não pode ser definido com precisão dentro de claros limites espaciais, cronológicos e conceituais. E que a história em si opera com formas, mediante as quais os historiadores tentam dar sentido ao passado, criando uma sensação de completude. A história é contada pelos vestígios que são documentos, objetos, textos e recordações de indivíduos vivos que existem aqui e agora. Mas os vestígios em si são só mero caos e nos permite somente ver a história de maneira indireta por múltiplas mediações, que também pode ser denominada por “ciência da história” e as formas são uma parte crucial e decisiva delas. O autor cita no passado havia ordem. Que as sociedades humanas eram no mínimo racionais e que sempre foram organizadas e que seu desenvolvimento segue certos princípios (mesmo que esses princípios fossem o puro acaso) e por isso mesmo a história era considerada cientifica porque considera que os documentos são o fundamento de qualquer reconstrução do passado, a base com a qual se pode confirmar ou negar realidades, e a prova definitiva de que uma ordem existiu no passado. E essa ordem fixa teorias e modelos que são pressuposições dessa ordem. Teorias e modelos são mediações, que junto com os vestígios são parte fundamental na prática da história, pois associam esses documentos, baseando-se em certas teorias da sociedade e da ação humana e em modelos mais específicos da sociedade, que são feitos certos estudos. Mas só essas associações não bastam para explicar o trabalho do historiador e a interpretação do passado que propõe. É aí que entram as formas. As formas seriam generalizações ou contextos que estabelecem relações entre os vestígios ou documentos do passado, teorias e modelos, pondo-os na mesma realidade gerando grandes contextos (mas podem existir contextos pequenos também), pois, a história cientifica é um jogo de interpretações, usando teorias e modelos e certos documentos com base nas generalizações e contextos que são admitidos ou aceitos como validos por escritores e seus leitores. As generalizações tem vários graus de processo, um deles seria definir um período que é selecionar períodos com características comuns, fazendo com que documentos produzidos numa mesma “época” se relacionem e dialoguem entre si. E se o período for longo, mais documentos podem ser postos em relação e serem mais ricos em dialogo. Outra forma de generalização é nomear ou definir uma sociedade, ou uma cultura, ou uma área cultural de modo que documentos atribuídos a essa sociedade ou cultura podem se relacionar entre si, mesmo se os documentos tenham sido produzidos por agentes diferentes, para propósitos diversos e sejam de natureza muito diferente. A agricultura romana é um exemplo de forma ou contexto pequeno que podem conectar diferentes tipos de informações como textos remanescentes dos escritores agrícolas romanos, que escreveram em períodos diferentes e com propósitos distintos; historiadores como Tito Lívio, Apiano e Plutarco; documentos epistolares como as cartas de Plínio, o jovem; enciclopédia, como a História Natural de Plínio, o antigo; e uma serie de restos arqueológicos, de ânforas a edifícios rurais. Até os Estados- nacionais, que são o núcleo de boa parte da disciplina histórica desde o século XIX, são formas bastante amplas. As maiores formas são as que tentam apresentar uma visão de história mundial. Formas maiores e menores estão intimamente relacionadas. Enquanto os contextos menores são mais fáceis de controlar, porém mais pobres, já as formas amplas são mais inteligíveis, mas muitos arbitrarias. Fazendo com que boa parte das formas amplas sejam histórias mais interpretativas. Um outro exemplo poderia ser a cidade de Santana do Parnaíba que existe desde o século XVI e possui uma coleção que pode retratar a história do século XVI até o século XIX, e tem vários testamentos e inventários, em parte publicada, em parte conservada e em parte manuscrita. Tal coleção e muito vasta, mas é apenas local, ou seja, e um contexto pequeno. Mas se os colocar em relação com contextos maiores, poderia então ter uma boa noção da história do Brasil, e se colocássemos num contexto maior ainda, podendo então ate fazer parte da história da Europa. Mas quanto maior o contexto mais a história vai se tornando abstrata e intangível. Pois os períodos de cada forma podem ser muito diferentes, ou as culturas e realidades sociais podem ser muito distintas. É uma via de mão dupla. Os contextos menores são meios para se construírem contextos maiores, e vice-versa. A mesma interação entre formas mais amplas e mais restritas aplica-se à História Antiga. História Antiga deveria ser assim a parte mais antiga da história contemporânea, a história de suas origens, de seus começos. Define um período na História. Mas não é assim que é visto no Brasil e muitos outros países. De certo modo, a história antiga passou a ter uma perspectiva europeia dos acontecidos, desde a história medieval. Até mesmo a história do nosso país só e contada depois da “descoberta” pelos europeus. Mas mesmo essa forma, carrega muitas incongruências, pois, mesmo sendo história antiga não e exatamente história antiga da Europa. Por exemplo, nas escolas do Brasil e de muitos outros países nos é ensinado que a história antiga se trata de três divisões principais que seriam: o Antigo Oriente Próximo (principalmente Mesopotâmia, Egito), Grécia e Roma, mas isso acaba sendo muito problemático conceitualmente, pois, o antigo oriente próximo são um território muito vasto, e isso não dá uma unidade histórica essencial, e sim o que dá essa unidade são as culturas, os povos e as organizações sociais. No caso da Grécia era um caso mais complexo porque não é a história de um país especifico ou de um território, pois, os gregos se espalharam pela bacia do Mar Mediterrâneo e além. Mas o que dava essa unidade para a Grécia eram vagamente sua política e sua cultura (já que a Grécia era dividida), mas principalmente suas cidades-Estados (principalmente Atenas e Esparta) que eram independentes umas das outras. Sua história e bem longa, vai desde Homero a Alexandre, o grande e até mesmo a conquista romana. Já a história romana se torna um pouco mais confusa, pois, não se sabe se é a história de uma cidade ou um império. E um grande problema, é que muitos livros citam ‘sociedade romana’, ‘cultura romana’ e ‘economia romana’, sem especificar sobre a Roma, a cidade, a Itália, ou o império como um todo. Pois o império como um todo não era unidade, e sim vários idiomas, culturas, costumes e sociedades. Isso são incongruências conceituais nas formas que empregamos para pensar na história antiga. A história do antigo oriente próximo, da Grécia e de Roma são muito importantes para o mundo, apesar de certas incongruências, essas histórias moldaram boa parte da cultura, das leis, da política e mais diversos outros conceitos de toda a humanidade, mas a história antiga não deveria focar somente nessas histórias, pois, esse mundo é vasto e poderíamos aprender mais sobre outras culturas e povos, como ate mesmo a do nosso pais antes da colonização e como os primeiros habitantes chegaram a essa terra. Poderíamos ter uma abrangência muito grande de conteúdo, vindo de diversas partes do mundo sem focar em apenas um continente como a Europa. A história antiga da Europa é muito interessante e importante, nos ajuda a ter certas dimensões do que estamos estudando, mas se pararmos pra pensar isso torna a história antiga uma guia, mas ao mesmo tempo uma barreira. Pois estamos restritos a pensar que só há um tipo especifico de história e que só ela pode nos levar a entender as outras. Temos que nos desprender dessa visão única de historia antiga e ampliar a nossa visão de mundo, talvez isso nos ajude a deixar nossa historia menos interpretativas, e tivéssemos mais certeza de nossa interpretação de passado.