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Descrição
A formação da História como campo da ciência ao longo do tempo e suas
principais bases conceituais e metodológicas.
Propósito
Dominar os conceitos e os métodos da história, bem como conhecer a sua
fundamentação como área do conhecimento, auxiliar os profissionais das
Ciências Humanas e da Educação a conseguir analisar fatos do passado de
forma coerente e responsável.
Objetivos
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Introdução
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As múltiplas interrogações a partir do trecho da poesia de Brecht se somam a
outra questão fundamental: o que é a História e qual é sua utilidade no mundo
contemporâneo? Tal pergunta não é simples de ser respondida, pois a história
tem passado, ao longo do tempo, por sucessivas renovações da sua pesquisa e
da escrita, incluindo cada vez mais uma variedade de problemas, objetos e
fontes.
Memória e sociedade
Na mitologia grega, Urano (céu) e Gaia (terra) tiveram doze filhos – entre eles,
Mnemosine (memória), a deusa que opera as engrenagens do esquecimento e
da lembrança. Ela se uniu a Zeus; juntos, geraram as nove musas.
À ausência de memória, dá-se o nome de amnésia. Ela pode surgir por três
motivos:
1. Resultado de implicações de ordem psíquica devido a uma
perturbação mental.
2. Voluntária: criam-se meios para evitar se lembrar do passado,
alterando, por exemplo, uma fonte ou uma narrativa.
3. Involuntária: acontecimentos alheios à vontade humana podem
destruir ou apagar traços do passado (fontes históricas), como a
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destruição do patrimônio, a perda de documentos ou a morte de um
depositário da memória.
Para alguns povos, a memória está conectada à sua história. O povo judeu é
identificado como o “povo de memória” no sentido de que diversos rituais evocam
o passado e são repetidos incessantemente ano a ano (Festa das Tendas,
Festas das Luzes, Purim e Páscoa são alguns exemplos) não como meras
celebrações, e sim como parte da história.
Na tradição desses povos, a fala é um dom divino e é por meio dela que tradições
e saberes, inclusive aqueles relacionados aos ofícios de sobrevivência cotidiana,
como ferreiros, tecelões e trabalhadores de madeira, eram transmitidos.
Saiba mais
A história da fundação de Roma está ligada a uma origem mitológica: dois irmãos
gêmeos, Rômulo e Remo, participaram da fundação da cidade após terem sido
abandonados no rio e salvos por uma loba que os amamentou, mantendo-os
vivos.
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Mas se a memória não é a mesma coisa que história, o que, afinal, é a
história?
História é uma forma de explicar o que aconteceu no passado, embora não seja a
única. Como vimos, a memória também é uma dessas formas. Outra ainda mais
antiga que a história é o mito. Transmitidos de geração em geração, os mitos
serviam como explicação para as coisas sem comprovação, dados e elucidações.
Eles referem-se, em suma, a acontecimentos difíceis de serem datados.
Além de sua narrativa não ter demarcação cronológica, os mitos quase sempre
guardam uma lição sobre o que se deve ou não fazer. Mesmo com o seu declínio,
eles ainda continuam presentes em quase todos os povos não mais como a única
explicação do passado, e sim como uma forma paralela de explicá-la.
Exemplo
A história da fundação de Roma está ligada a uma origem mitológica: dois irmãos
gêmeos, Rômulo e Remo, participaram da fundação da cidade após terem sido
abandonados no rio e salvos por uma loba que os amamentou, mantendo-os
vivos.
História e sociedade
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Isso se deve tanto pelo perfil daqueles que primeiramente se propuseram a
registrar os acontecimentos quanto pela abrangência do que era escrito.
Exemplo
A palavra “história” podia ser traduzida como “testemunha” no sentido de “aquele
que vê”, podendo também significar “procurar saber”, “informar-se” e ainda um
terceiro sentido: o de narração.
A definição mais comum – da qual certamente você já ouviu falar – sobre História
é de que ela é a “ciência do passado". Tal definição é rejeitada por uma série de
historiadores que consideram absurdo existir uma ciência que se dedique a
estudar o que já aconteceu.
Marc Bloch
Para que serve a história? Certamente você já fez tal pergunta ou já a perguntou
a alguém.
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Resposta
Como apontamos, a resposta mais usual é que a função dela é “conhecer o
passado para entender o presente e preparar o futuro”. Vem do filósofo romano
Cícero, que viveu no século I a.C., a ideia de História como mestra da vida. Tal
frase demonstra que ela tem condições de criar um repertório de experiências
nas pessoas capaz de impedi-las de repetir os erros do passado.
Afirmar que a história não é mestra da vida não significa, contudo, que não
devemos compreender o presente pelo passado, e sim que podemos entender o
passado pelo presente para perceber que “toda a história é contemporânea” (LE
GOFF, 2003, p. 24).
Passado e presente
Praia de Copacabana
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Exemplo
Todo ser humano tem consciência do passado pelo fato de viver com pessoas
mais velhas que narram fatos cujo indivíduo já não lembrava ou desconhecia.
Atenção!
Walter Benjamin (1987) explica que articular historicamente o passado não quer
dizer conhecê-lo “como ele de fato foi”. Na verdade, significa apropriar-se de uma
reminiscência tal como ela relampeja.
Como ciência do passado, a História tem a função de não apenas contar sobre os
fatos do passado, mas também de recorrer aos métodos científicos de pesquisa,
de constituir uma análise série e aprofundada dele. Para isso, ela recorre à
datação dos fatos e aos testemunhos.
Mais à frente, voltaremos a isso. Por ora, é preciso entender que o passado, em
si mesmo, não interessa ao historiador e nem mesmo à sociedade. Só faz sentido
se debruçar sobre o estudo do passado em articulação com questões
contemporâneas.
Por outro lado, embora o passado não possa ser recuperado tal qual ele foi,
todos nós conhecemos alguém que enxerga nele determinada “época de ouro” da
qual o presente teria supostamente nos privado e busca reintroduzi-lo,
desprezando, porém, a compreensão de que, no presente, as condições nem
sempre favorecem o retorno a essa suposta época virtuosa. A compreensão que
as pessoas têm do passado forma a consciência histórica que se manifesta no
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plano concreto da vida humana no instante em que se emite opiniões ou se faz
escolhas políticas, ideológicas, econômicas e pessoais.
Embora a consciência histórica seja uma compreensão do passado, ela não tem
origem apenas na história ensinada e aprendida na escola ou lida nos livros de
história. Ela, afinal, também recebe a influência de diferentes e múltiplas fontes,
desde a moral religiosa e a ética familiar até os inúmeros mediadores de
informações históricas ou de uma concepção de passado.
Exemplo
Filmes veiculados pelo cinema, novelas e séries da televisão, assim como a
literatura e até mesmo os memes das redes sociais.
Por receber influências que nem sempre tratam o passado de forma adequada,
podendo inclusive distorcê-lo, a consciência histórica não demonstra ser crítica a
todo momento; pelo contrário, a consciência sobre o passado pode ser
influenciada por ideias equivocadas dele, levando o indivíduo a exaltar ou a
querer retomar práticas e concepções historicamente superadas. Esse desejo
inclui até práticas e pensamentos que já demonstraram ser inviáveis para a
humanidade.
Exemplo
Concepções racistas e xenofóbicas ou ideologias de ordem fascista.
Tempo e cronologia
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segundo lugar, por incluir uma série de demarcações do tempo a partir das
celebrações religiosas, levando a sociedade a organizar suas vidas nesse
contexto. Mesmo quem não segue as religiões cristãs acaba sendo influenciado
por essa demarcação do tempo.
Exemplo
Os feriados religiosos que se impõem sobre o calendário civil.
Não raro, muitos povos acabam convivendo com mais de um calendário: um rege
a vida civil, enquanto outro organiza sua vida religiosa ou de tradição de origem,
como é o caso de judeus e dos chineses.
Exemplo
O ano de 2021, no calendário gregoriano, corresponde a 5781 no calendário
judaico e a 4719 no calendário chinês.
Curta duração
Refere-se ao “tempo breve, ao indivíduo, ao evento”. Está presente na narrativa
factual, destacando, sobretudo, os eventos políticos e os “heróis”. Em termos
numéricos, esse tempo pode se referir a um dia e/ou a alguns poucos anos.
Média duração
Conjuntura de vários anos ou décadas. O que chama a atenção, por exemplo,
não é uma revolução ou uma guerra (ou uma decisão de um político), e sim um
conjunto de elementos que nos permite ver o movimento histórico por meio do
crescimento demográfico, do movimento dos salários ou do volume da produção
agrícola ou industrial.
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Longa duração
Análise que compreende um conjunto mais amplo de décadas ou séculos, pois a
realidade se altera em uma velocidade muito lenta, quase imperceptível
(BRAUDEL, 2007, p. 44-49)
Tempo e temporalidades
BNCC e o tempo
BNCC e o tempo
Prof. Dr. Rodrigo Rainha
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Módulo 1 - Vem que eu Módulo 1 - Vem que eu Módulo 1 - Vem que eu te
te explico! te explico! explico!
Tempo e Cronologia Tempo histórico Tempo e temporalidades
Vamos
praticar
alguns
conceitos?
Questão 1
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E. Embora possa haver diferentes formas de se olhar o passado e registrar os
acontecimentos, o tempo histórico é sempre fixo, imutável.
Questão 2
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2. O conhecimento histórico e seus fundamentos
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Ao final deste módulo, você será capaz de analisar as possibilidades da
história como forma de conhecimento crítico.
História e verdade
Para o historiador Carlo Ginzburg (2007), uma afirmação falsa, uma verdadeira e
uma inventada não apresentam, do ponto de vista formal, nenhuma diferença. O
que vai distinguir uma das outra é a intenção de quem produz a narrativa e a
maneira com que usa as fontes: enquanto a narrativa inventada corresponde ao
que é produzido intencionalmente para ser uma ficção (e assim é reconhecida), a
falsa manipula os testemunhos do passado a fim de querer se passar como
verdade.
Atenção!
Não existe pesquisa histórica isenta, já que o historiador sempre é impulsionado
pela sua concepção de história, como, por exemplo, o processo de seleção de
fontes e a escolha do objeto da pesquisa e da maneira como constrói a narrativa.
A maior ou menor proximidade que ele tenha com um objeto não poderá servir
como desculpa para ele negar, esconder ou manipular fontes e conclusões.
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se relativizar a história a partir do crescimento avassalador de distorções
históricas, negacionismos e revisionismos, que são resultado da propagação
de fake news históricas difundidas por meios diversos.
Pierre Vidal-Naquet (1988) explicou essa estratégia nos anos 1980, período no
qual ele via ressurgir movimentos fascistas na Europa. Para o autor, o
negacionismo não tenta apagar o passado ou escrever uma “nova verdade”. Ele,
na verdade, precisa do passado para relativizar fatos e adulterar dados com o
propósito de construir uma narrativa enganosa, pois uma mentira, uma história
inventada, é facilmente detectável.
Tal realidade, portanto, indica que a História é uma ciência viva. Embora lide com
subjetividades e interpretações das fontes, isso não quer dizer que ela seja uma
mera opinião.
História e ciência
Você deve se lembrar de que anteriormente vimos que a ideia de história como
reflexão intencionalmente voltada para a reflexão crítica da memória tem suas
raízes fincadas na Antiguidade. Atribui-se a Heródoto e Tucídides o ponto de
partida desse processo de registro.
Heródoto Tucídides
Durante séculos, a escrita da história oscilou entre estilos muito diversos, desde a
hagiografia e a história dos governos/reinos e impérios até um trânsito com a
Filosofia e a Teologia.
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Hagiografia - é um tipo de biografia, dentro do hagiológio, que consiste na
descrição da vida de algum santo, beato e servos de Deus proclamados por
algumas igrejas cristãs, sobretudo pela Igreja Católica, pela sua vida e pela
prática de virtudes heróicas.
História erudita
Surgiu como um “novo humanismo”, dando ênfase às descrições de instituições,
costumes, cultos, leis e finanças. Isso levou a história a abandonar o caráter
meramente estatístico das narrativas de história política.
História filosófica
A busca pela verdade produziu a noção de fato histórico a partir da crítica, da
desconfiança e da triagem de documentos. Impulsionada pelo Iluminismo, a
história filosófica procurou encontrar nos fatos uma ordem “racional” e uma ideia
de “progresso” na evolução temporal, rejeitando a simples acumulação de dados,
o que caberia à memória.
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Contudo, a historiografia positivista é a dos "fatos", isto é, da valorização dos
documentos e da narrativa. Sujeita a um "método", ela pode ser chamada, por
isso, de "escola metódica" (MARTINS, 2010). Dessa forma, a história também
se viu impactada pelo caráter cientificista tanto alemão quanto francês em
ascensão no século XIX, reformulando de vez a produção historiográfica.
Resposta
A resposta a essa pergunta ainda é alvo de controvérsias, até mesmo entre os
historiadores da atualidade. Para alguns historiadores, ela é uma ciência que se
distingue das demais por ser, ao mesmo tempo, arte. A História é ciência ao
coletar, achar e investigar, mas também é arte ao dar forma ao colhido, ao
conhecido e ao representá-lo. Enquanto as outras ciências satisfazem-se com a
ideia de mostrar o achado, ela se interessa em “reconstituir” e analisar o processo
nos quais os acontecimentos se deram.
A História ensinada
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A obra Tiradentes esquartejado é um óleo sobre tela de 1893 do pintor brasileiro
Pedro Américo. Trata-se, portanto, de uma alegoria criada pelo imaginário do
pintor mais de cem anos depois do fato histórico. Essa pintura é um exemplo da
criação do herói nacional, fazendo, de forma bem evidente, uma referência ao
Cristo crucificado com cabelos e barbas longas.
O fato histórico
Essa é a dimensão humana da ciência histórica – e ela tem profunda relação com
as concepções teórico-metodológicas do historiador. Por conta disso, é
impossível haver um conjunto de fatos históricos a existir independentemente da
interpretação do historiador.
Por um lado, esses fatos são contraditórios como o próprio decorrer da história.
Eles, afinal, são percebidos diferentemente (porque são ocultados) segundo o
tempo, o lugar, a classe ou a ideologia. Por outro, escapam à experimentação
direta por sua natureza passada: eles são susceptíveis apenas de aproximações
progressivas, sempre mais próximas do real, nunca acabadas nem completas
(CHESNEAUX, 1995, p. 67).
Uma primeira conclusão que podemos tirar daqui é que os fatos históricos nunca
chegam “puros” a nós, pois eles não existem nem podem existir de forma pura:
eles são sempre o resultado de escolhas de registro do historiador. Sendo então
uma ciência tão humana, a primeira preocupação ao se ler um livro de
História não deveria ser com o fato em si, e sim com quem o escreveu.
Atenção!
Tal insuficiência e estímulo ao uso de imaginação não podem se manifestar como
um sentimento de simpatia, o que pode levar o historiador a erigir uma narrativa
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panfletária. Tampouco pode haver o abuso do imaginário. A ideia, portanto, é
existir uma imaginação controlada e limitada por contextos semelhantes, fontes
correlatas, entre outros fatores.
Questão 1
“A ‘verdade’ equivale certamente a um ‘juízo verdadeiro’ ou a uma ‘proposição
verdadeira’, mas significa também ‘conhecimento verdadeiro’. É neste sentido
que a verdade é um devir: acumulando as verdades parciais, o conhecimento
acumula o saber, tendendo, num processo infinito, para a verdade total, exaustiva
e, nesse sentido, absoluta.” Fonte: SCHAFF, 1991, p. 105.
A partir dos estudos do módulo e da afirmação acima, é possível afirmar que:
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A. em história, não existe a possibilidade de verdade, pois o historiador é incapaz
de narrar o passado da forma como aconteceu.
B. a historiografia produz verdades absolutas, pois utiliza fontes históricas que
são fidedignas ao passado.
C. a verdade em história é resultado de dois fatores principais: o acesso às fontes
históricas e a análise e interpretação do historiador.
D. todo historiador analisa os fatos históricos com neutralidade e distanciamento,
o que leva à interpretação verdadeira da história.
E. o anacronismo é um dos principais métodos dos historiadores para combater a
falsificação e as mentiras da história.
Questão 2
A história se constituiu de um processo contínuo de interpretação e de um diálogo
entre o presente e o passado. Desse modo, só é possível compreender
completamente o presente à luz do passado, sendo necessário esclarecer o que
são e como são constituídos os fatos históricos. Tendo isso em vista, como
podemos caracterizar o “fato histórico”?
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3. O ofício do historiador: métodos, técnicas e procedimentos
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Ao final deste módulo, você será capaz de debater sobre os procedimentos
de trabalho do historiador, como os critérios de seleção de fatos históricos,
os recortes cronológicos ou temáticos e a relação com as fontes.
As escolas historiográficas
Exemplo
A mesma universidade, país, organização política ou revista de divulgação
acadêmica.
Isso se explica pelo fato de que, nesses espaços comuns, ocorrem intensos e
fecundos debates responsáveis pelo aperfeiçoamento e pela especialização da
escola historiográfica.
Escola Alemã
Estabelecida em fins do século XVIII e tendo perdurado até mais da metade do
XIX, ela foi a responsável pela constituição da História como disciplina e pela
definição da figura do historiador como o profissional responsável pela pesquisa
historiográfica (a qual, conforme apontamos, já tinha sido ocupação de filósofos,
matemáticos e literatos).
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Pensamento marxista
Esse pensamento também deu uma importante contribuição para a historiografia
a partir do final do século XIX, quando se introduziu um referencial materialista
em contraposição ao idealista, provocando, com isso, o declínio da história
política tradicional e a ascensão da história econômica ou sociológica
Uma das principais contribuições dos Annales deixada pelos seus fundadores,
também chamados de “primeira geração dos Annales”, diz respeito ao diálogo
com outras áreas do conhecimento, em especial das Humanidades, indo da
Antropologia até a Psicologia e da Geografia até a Economia.
Exemplo
Obras literárias, imagens iconográficas, diários de pessoas anônimas e jornais.
Fontes históricas
Até aqui você já deve ter entendido o que são as fontes históricas, mas, devido à
sua importância para o ofício do historiador, precisamos aprender um pouco mais
sobre elas.
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transmutaram – ou, mais ainda, com processos que já se extinguiram ou
que fluíram por meio de transformações que terminaram por atravessar os
tempos até chegar ao presente produzindo novos efeitos –, não existiria
outro modo de perceber essas sociedades ou apreender esses processos
senão a partir das chamadas “fontes históricas”, aqui entendidas como os
diversos resíduos, vestígios, discursos e materiais de vários tipos que,
deixados pelos seres humanos historicamente situados no passado,
chegaram ao tempo presente por meio de caminhos diversos.”
(BARROS, 2020)
Voluntária Involuntária
É a produzida com a intenção É aquela cujo vestígio foi produzido com
de deixar registros para a objetivos imediatos e sem a intenção de guardar
posteridade, como a obra de uma história para tempos posteriores, como é
Tucídides sobre a Guerra do caso de rituais religiosos, documentos de caráter
Peloponeso, diários de me- civil ou criminal e até mesmo os vestígios
mórias, cartas e monu- arquitetônicos habitacionais e destinados ao
mentos. lazer.
Além disso, as fontes ainda podem ser classificadas em outras duas categorias:
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Independência ou morte, por Pedro Américo, óleo sobre tela, 1888. Exposta
no Museu Paulista.
Documentos e arquivos
A documentação não pode ser tomada como registro “da verdade”, e sim de
“uma verdade” ou de uma “parte da verdade” que se quis registrar.
Como toda fonte histórica, a história oral pode conter alterações e desvios
propositais (quando o narrador quer desviar de um assunto e, com isso, não
responde às perguntas ou insiste em conduzir a narrativa em outra direção) e
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não propositais (como aqueles decorrentes do esquecimento ou da confusão
mental). Desse modo, é importante ressaltar que a história ali analisada deriva do
olhar e da experiência de alguém.
“[...] a história oral são as memórias e recordações das pessoas vivas sobre
seu passado. Como tal, está submetida a todas as ambiguidades e
debilidades da memória humana; não obstante, nesse ponto, não é
consideravelmente diferente da história como um todo, a qual, com
frequência, é distorcida, subjetiva e vista pelo cristal da experiência
contemporânea.” (SITTON; MEHAFFY; DAVIS JR, 1995, p. 9)
Já pare pensou que história não é uma linha. Logo, se não é uma linha, podemos
nos perguntar: como podemos fazer História? O que faz um historiador? Vamos
pensar sobre essas questões.
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Falta pouco para atingir
seus objetivos.
Questão 1
“As fontes históricas são as marcas da história. Quando um indivíduo escreve um
texto ou retorce um galho de árvore de modo a que esse sirva de sinalização aos
caminhantes em certa trilha; quando um povo constrói seus instrumentos e
utensílios, mas também nos momentos em que modifica a paisagem e o meio
ambiente à sua volta – em todos esses momentos, e em muitos outros, os
homens e mulheres deixam vestígios, resíduos ou registros de suas ações no
mundo social e natural.” Fonte: BARROS, 2020, p. 1.
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Questão 2
Tendo seu auge no século XIX, época em que se formou a historiografia, dois
conceitos eram fundamentais: o de verdade e o de prova. Nesse sentido, os
documentos escritos, especialmente os oficiais, constituíam a matéria-prima
fundamental dos historiadores da “escola metódica” ou “positiva” que buscavam
transcrever o que encontravam na documentação.
Considerações finais
A História, por ser uma ciência, tem objetividade. No entanto, seu objeto de
estudo é marcadamente subjetivo, englobando o homem em sociedade e suas
mudanças ao longo do tempo (passado e presente).
Podcast
Referências
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SITTON, T.; MEHAFFY, G.; DAVIS JR. O. L. História oral: un guía para
professores (y otras personas). México: Fondo de Cultura Económica, 1995.
VIDAL-NAQUET, P. Os assassinos da memória: um Eichmann de papel e
outros ensaios sobre o revisionismo. Campinas: Papirus, 1988.
Explore +
Leia este artigo para entender algumas das principais mudanças que a área da
História teve nos últimos tempos, bem como aprofundar alguns conceitos
fundamentais, como o de tempo histórico, e conhecer outros, como os conceitos
de estrutura e ação:
GUARINELLO, N. L. História científica, história contemporânea e história
cotidiana. Revista brasileira de História. v. 24. n. 48. 2004.
Que tal a assistir um filme? Vamos ver duas obras que abordam o debate sobre
a forma de contar a história:
a) Narradores de Javé (2003)
Este filme fala sobre uma cidade que desapareceria por conta de uma represa,
sendo então pensada uma forma de guardar seu registro.
b) Amistad (1997)
Esta película aborda um navio negreiro que viveu um levante dos escravos e a
disputa de narrativa – principalmente histórica – sobre o direito dos sujeitos que lá
estavam.
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