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• O tempo presente o trabalho do historiador e

a relação passado/presente no estudo da


História
Observe ao seu redor, a começar
pela imagem no data show, a sala de aula a
sua volta, ouça e sinta o meio em que você
está.
Todas as coisas que você acabou
de vislumbrar têm uma história, até mesmo
aquilo que está dentro de você em termos de
pensamentos e sentimentos na forma de
você sentir e perceber, em outras palavras
tudo tem uma história.
Há história desde que existem
seres humanos sobre a face da Terra,
contudo o conhecimento histórico, enquanto
tal, começou a ser sistematizado na Grécia
Antiga por historiadores como Heródoto e
Tucídides.

Imagens da esquerda para direita, de cima para baixo: (a) Telefon BW 2012-02-18 13-44-32 / Berthold Werner / GNU Free Documentation License; (b) Phone /
Pbroks13 / Creative Commons Atribuição 3.0 Unported; (c) DynaTAC8000X / Redrum0486 / Creative Commons Attribution-Share Alike 3.0 Unported; (d)
Galaxy Nexus smartphone/ Laihiu / Creative Commons Attribution 2.5 Generic
O tempo presente e a História

“A história (...) em vez de relatar ou comprovar, é feita para responder às


questões sobre o passado suscitadas pela observação das sociedades
presentes”. (SEIGNOBOS,apud PROST,2008, p. 25)
O conhecimento Histórico tem como objetivo básico compreender a
realidade atual com base em suas raízes históricas. Dessa forma, os historiadores
questionam o passado buscando elementos para compreensão do presente.
Assim, a História, além de ser uma forma de conhecimento, torna-se uma
ferramenta para compreender a realidade e formar cidadãos críticos.
“(...) a maioria dos historiadores sabem que
ao investigar o passado, até mesmo o passado
remoto, estão igualmente pensando e expressando
opiniões a respeito do presente e suas questões, e
falando a respeito delas”(HOBSBAWM,2002,p.311).

Quando um Historiador busca entender um


determinado processo Histórico, como a queda do
Muro de Berlim, busca não apenas entender o
passado, mas principalmente o presente. As
consequências de determinado fato sobre a
sociedade em que vivemos, sobre nossas vidas. Imagem: BerlinWall-BrandenburgGate / Sue
Ream / Creative Commons Attribution 3.0
Unported
Os tempos da História
O que distingue a História de
outras ciências humanas e sociais é
exatamente o seu aspecto diacrônico ¹.
As questões do historiador são sempre
formuladas no presente com relação ao
passado. Imigrantes italianos

Isso significa que a história


exprime o passado sempre com as
palavras do presente.
“o vai e vem permanente, entre
passado e presente, assim como entre
os diferentes momentos do passado, é a
operação peculiar da História” (PROST, Ulisses Guimarães e a Constituição da
2008, p. 104). República Federativa do Brasil de 1988
Imagem: (a) Imigrantes da Italia / Severino666 / Public
1-Diacrônico: referente a diferentes espaços de Domain; (b) Ulyssesguimaraesconstituicao / Missionary
temporalidade, o contrário de sincrônico que seria ao / Creative Commons Attribution 3.0 Brazil

mesmo tempo.
“A especificidade da história, dentro das
ciências humanas e sociais, é sua capacidade
de distinguir e articular os diferentes tempos
que se acham superpostos em cada momento Imagem: Waves mediterranean sea /
Slawojar / GNU Free Documentation
histórico” (CHARTIER,2010,p.65) License

Segundo o historiador Fernand Braudel, a O tempo dos


História acontece e deve ser vista em três acontecimentos (fatos) de
curta duração é comparado
temporalidades diferentes e sobrepostas: por Fernand Braudel à
1- o tempo de curta duração, ligado à história superfície do mar e às
factual, ao espaço dos acontecimentos; ondas que vêm e vão. A
História em si, estaria nos
2- o tempo de média duração, ligado a uma tempos de média e longa
história conjuntural, ao plano da vida material e duração que estariam
aos ciclos econômicos; abaixo da superfície. Seria
necessário investigar as
3- o tempo de longa duração, ligado a uma história estruturas não
estrutural, está no limite do móvel e do imóvel, simplesmente os fatos.
o plano dos valores fixos e das mentalidades.
O questionamento no estudo da História
• Por que eu me visto desta forma?
• Por que falo Português?
• Por que gosto desse estilo de música?

• Que profissão eu pretendo seguir?

Será que escolhemos tudo isso sozinhos, ou será que existe uma
influência da sociedade nas respostas a essas perguntas?

Perceba que para responder a cada uma dessas perguntas (até mesmo
sobre o que se espera do futuro) você terá que recorrer ao passado, terá
que recorrer à memória e a um certo conhecimento histórico.
Podemos fazer também perguntas mais gerais e ligadas a grupos
de pessoas que fazem parte da nossa sociedade como:
•Por que há esse tipo de desigualdade social em minha cidade?

•Por que a questão da violência encontra-se nessa situação em minha


comunidade ou no meu bairro?

Os historiadores trabalham com questionamentos sobre o presente


e, na busca de respostas, procuram fontes que demonstrem evidências
sobre o fato questionado, buscando a raiz do problema, ou seja, sua origem
ou o porquê das coisas estarem de uma determinada maneira e não de
outra.
A tarefa do Historiador
Segundo Roger Chartier, “a leitura das diferentes temporalidades que fazem do
presente “herança e ruptura, invenção e inércia ao mesmo tempo”
(CHARTIER,2010,p.68) é a principal responsabilidade dos historiadores para com
a sociedade.
O conhecimento, porém, não é algo pronto e acabado definitivamente, mas um
processo em constante transformação, dessa forma a História é continuamente
reescrita. Desde os seus primórdios até hoje, passou por inúmeras mudanças na
forma de ser escrita, quanto à utilização das fontes e quanto às suas finalidades.
A História busca mais do que simplesmente responder a questões pessoais,
existe uma luta pela História em que o combate dos historiadores é contra os
passados prontos e desistoricizados, produzidos por alguns grupos no intuito de
iludir e manipular as pessoas. Conhecer a História é percebê-la, pensá-la e
analisá-la criticamente, suprindo a necessidade de nos percebermos e agirmos
como seus sujeitos e não simplesmente produtos dela como muitos querem que
pensemos.
Perguntas de um trabalhador O jovem Alexandre conquistou a Índia.
que lê Sozinho?
Quem construiu Tebas, a cidade das sete César ocupou a Gália.
portas? Não estava com ele nem mesmo um
Nos livros, estão nomes de reis; os reis cozinheiro? Felipe da
carregaram pedras? Espanha chorou quando sua frota
E Babilônia, tantas vezes destruída, quem naufragou. Foi o único a chorar?
a reconstruía sempre?
Frederico Segundo venceu a guerra dos
Em que casas da dourada Lima viviam sete anos. Quem partilhou da vitória?
aqueles que a edificaram?
A cada página uma vitória,
No dia em que a Muralha da China ficou
quem preparava os banquetes
pronta, para onde foram os pedreiros?
comemorativos? A cada dez anos,
A grande Roma está cheia de arcos-do-
triunfo: quem os erigiu? Quem eram um grande homem.
aqueles que foram vencidos pelos Quem pagava as despesas?
césares? Bizâncio, tão famosa, tinha Tantas informações.
somente palácios para seus Tantas questões.
moradores? Na legendária Atlântida,
quando o mar a engoliu, os afogados (Bertolt Brecht in:
continuaram a dar ordens a seus http://literaturaemcontagotas.wordpress.co
escravos. m/2010/03/06/perguntas-de-um-
trabalhador-que-le/)
Correntes Historiográficas
A partir do século XIX, a História

Imagem: Leopold Von Ranke 1877 /


Fallschirmjäger / Public Domain
passou a ser considerada ciência na
Europa, surgindo o modelo da História
tradicional fortemente influenciada pelo
Positivismo², caracterizava-se pelo estudo
dos fatos em forma linear (factual) e busca
a objetividade com base em documentos.
Desse ponto de vista historiográfico, os
sujeitos da História eram apenas as Leopold Von Ranke: historiador alemão
que deu origem à corrente historiográfica
grandes personalidades políticas, tradicional no século XIX, sendo um dos
religiosas e militares. seus principais expoentes.

Contra esse modelo historiográfico


2-Positivismo: Conceito filosófico
e a partir dele, desenvolveu-se ainda no ligado a ideia de triunfo da ciência,
século XIX, na Europa, uma nova corrente que seria capaz de compreender toda
chamada Materialismo Histórico. e qualquer manifestação natural e
humana, desenvolvida pelo Francês
Auguste Comte.
Materialismo Histórico e a Escola dos Annales
O materialismo Histórico desenvolvido por Karl Marx e Friedrich
Engels no século XIX, diferente da história tradicional, pôde observar
que os verdadeiros sujeitos da História não eram apenas os grandes
personagens, mas sim pessoas da sociedade; os seus temas, no
estudo da História, deslocaram-se dos grandes personagens e dos
fatos políticos para as estruturas econômicas (infraestrutura) e
estruturas político-ideológicas (superestrutura).
No início do século XX, desenvolveu-se na França a Escola dos
Annales, a partir de historiadores como Bloch e Febvre que
estabeleceram um dialogo crítico com a postura positivista,
transformando a forma de pesquisar e estudar História, ampliando as
fontes de estudo (orais, audiovisuais, enfim, tudo que é registro de
ação humana), aproximando a História de outras ciências humanas,
demonstrando que todos os seres humanos são sujeitos da História,
dando origem, com o tempo, ao conceito de Nova História.
(a) (b)

Karl Marx (a esquerda) e


Friedrich Engels criadores do
Materialismo Histórico http://lt.wikipedia.org/w
iki/Vaizdas:Lucien_feb
(c)
vre.jpg

Marc Bloch (a esquerda) e


Lucien Febvre Criadores da
Escola dos Annales.

Imagem: (a) Marx color2 / Unknown / GNU Free Documentation License; (b) Engels / ArtMechanic / Public Domain; (c) Block marc / unknown / Public Domain
As fontes Históricas
A fim de poder responder ao questionamento que deu origem
ao seu trabalho, o historiador precisa utilizar fontes históricas que
podem ser:

Obras de arte como três de


Fotografias como a do primeiro de maio de 1808 de Goya
Maio de 1980
Documentos
Imagens da esquerda para direita: (a) Juramento Impatriz Leopoldina/ Maria Leopoldina / Public Domain;
históricos como o (b) 1º Maio 1980 Porto by Henrique Matos / Henrique Matos / GNU Free Documentation License; (c) Tres
juramento da de Mayo by Goya / Francisco de Goya / Public Domain
Imperatriz Leopoldina
à Constituição do
Império do Brasil.
(b)

Slogans

(a)

Mapas

Existem também fontes orais e muitas


outras, pois na verdade tudo que se
relaciona com o ser humano de alguma
forma pode ser considerado fonte
histórica. Podemos dizer que há dois tipos
de fontes: as escritas e as não escritas. (c)

Charges

Imagem: (a) Brazil 16thc map / Pedro Reinel, Jorge Reinel, Lopo Homem (mapmakers), and António de Holanda (miniaturist)/ Public Domain; (b) Brasil ame-o
ou deixe-o / Brazilian government / Public Domain; (c) Eleições de cabresto / Storni / Public Domain
O trabalho do Historiador
Quando assistimos a um jogo de futebol, um filme no cinema ou
mesmo a um capítulo de uma novela, formamos geralmente uma
opinião sobre o que acabamos de presenciar. Nossa opinião depende de
muitos fatores, por exemplo: se o nosso time ganhou ou perdeu o jogo.
A questão aqui é: nossa opinião não é necessariamente a igual a
de outras pessoas que presenciaram o mesmo fato ou evento.
Dessa forma, devemos ter em mente que todo ponto de vista é a vista de
um determinado ponto.
Quando o historiador vai abordar uma questão, ele se utiliza de
fontes históricas muitas vezes ligadas a pessoas ou grupos de pessoas
que também tinham o seu ponto de vista expresso, muitas vezes, na
fonte histórica a ser investigada.
Por isso, o profissional da história tem que trabalhar com a
crítica histórica e com variadas fontes de diferentes grupos ligados ao
mesmo processo na construção do Conhecimento Histórico.
A Crítica Histórica
“(...)em determinado sentido, a crítica é a própria história e ela se
afina à medida que a história se aprofunda e se amplia” ( PROST,
2008, p.57).
São os questionamentos que dão origem ao conhecimento
histórico, aquilo que não se conhece e que se pretende conhecer é
que leva à pesquisa histórica; ao levantamento de vestígios que
analisados criticamente vão revelar um fato.
Na análise dos documentos históricos, os historiadores utilizam o
método crítico, que visa responder a questões como: de onde vem
o documento? Quem é seu autor? O autor é sincero ou terá alguma
razão para deturpar seu testemunho? Como o material foi
transmitido e conservado?
A crítica histórica pode ser:

1- crítica externa: refere-se aos caracteres materiais do documento


(papel, tinta, escrita, marcas particulares, etc.)
2- crítica interna: incide sobre a coerência do texto com o momento
histórico em que foi escrito.( ex: a data em que foi escrito e os fatos
mencionados coincidem?)
3- crítica da sinceridade: busca as intenções, confessadas ou não, do
testemunho. (O autor diz a verdade?)
4- crítica da exatidão: refere-se à sua condição objetiva. (existem erros
internos ou externos à fonte analisada?)
5- crítica da interpretação: relativa ao sentido do texto, dos termos e
dos conceitos que variam ao longo do tempo para não cair no erro do
anacronismo.
A construção do conhecimento Histórico

Como os Historiadores conseguem construir um


conhecimento com processos históricos que já passaram e
que não existem mais?

“Como será possível conhecer um fato real que já


não existe?” (SEIGNOBOS apud PROST, 2008,p. 65)

O conhecimento histórico é construído a partir de


vestígios legados por sociedades do passado.
A construção do conhecimento Histórico

O fato é, em verdade, um raciocínio a partir de


vestígios analisados segundo as regras da crítica.

Dessa forma, não pode haver história sem antes


haver questionamentos que levem aos vestígios de um
determinado fato.
Referências
• BOSCHI, Caio César. Por que estudar História? São Paulo: ática, 2007.

• BRECHT, Bertolt. Perguntas de um trabalhador que lê. Disponível


em:<<http://literaturaemcontagotas.wordpress.com/2010/03/06/perguntas-
de-um-trabalhador-que-le/>>. Acesso em: 23 jun. 2012.

• BURKE, Peter (Org.). A Escrita da História: Novas perspectivas. São


Paulo: Editora UNESP, 1992.

• CAPELLARI, Marcos Alexandre; NOGUEIRA, Fausto Henrique


Gomes(Orgs.). História: ser protagonista. São Paulo: edições SM, 2010 (1º
ano – ensino médio).
• CHARTIER, Roger. A história ou a leitura do tempo. 2. ed. Belo Horizonte:
autêntica, 2010.

• FONSECA, Selva Guimarães. Didática e Prática de ensino de História:


Experiências, reflexões e aprendizados. Campinas: Papirus, 2003.

• HOBSBAWM, Eric. Sobre História. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

• HOBSBAWM, Eric. Tempos Interessantes: uma vida no século XX. São Paulo:
Companhia das Letras, 2002.

• PROST, Antoine. Doze lições sobre a História. Belo Horizonte: autêntica,


2008.

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