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UNIVERSIDADE NILTON LINS

DIREITO

DIREITO PROCESSUAL PENAL

MANACAPURU/AM
2023
RODRIGO DE ANDRADE BRAGANÇA
RODRIGO TALLYS DA SILVA BASTOS
RAYLANE FRANCO PINHEIRO
KEILA FERREIRA BARBOSA
CAIO LEANDRO DA SILVA MONTEIRO

PL DAS FAKE NEWS – PL 2630/2020

Trabalho apresentado para a


obtenção de nota parcial relativa à
matéria de Direito Processual
Penal, pela Universidade Nilton
Lins/ Manacapuru.
Professor: Tonny André.

MANACAPURU/AM
2023
INTRODUÇÃO

O que é a Lei das Fake News?

Em maio, foi apresentado no Senado federal, o PL 2630/2020. Também


denominado como Lei das Fake News, o projeto de lei foi proposto pelo Senador
Alessandro Vieira (CIDADANIA – SE) e definido como a Lei Brasileira de Liberdade,
Responsabilidade e Transparência na Internet.

O que diz a PL da censura?

O texto implementa uma série de medidas e impõe responsabilidades às


grandes empresas e o ponto principal é tornar obrigatória a moderação de conteúdos
publicados na internet para que contas ou publicações com conteúdos considerados
criminosos possam ser identificadas, excluídas ou sinalizadas.

Qual é a finalidade desse projeto de lei?

O PL 2630/20 é um projeto de lei que estabelece normas para as plataformas


digitais (redes sociais, aplicativos de trocas de mensagens e ferramentas de busca)
disponibilizarem seus serviços, a fim de combater riscos de utilização ilegal, tais como
a disseminação de conteúdos que estimulem o ódio, a violência e o preconceito.

Um dos seus principais objetivos é tornar a internet um espaço livre de


conteúdos que promovam a violência, o bullying, o assédio e a discriminação e foi
definido como a Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na
Internet.

Em resumo, a proposta visa tornar a internet um espaço mais seguro e


responsável, combatendo a disseminação de conteúdos prejudiciais e
violentos. Segundo o PL, é uma medida importante para promover a liberdade, a
responsabilidade e a transparência na internet, e contribuir para um ambiente digital
mais saudável e democrático.

PROJETO DE LEI 2630/2020 – PL DAS FAKE NEWS

Os 10 motivos principais que o projeto de lei traz em seu bojo para sua
aceitação:
1. Combate à violência nas escolas;

Uma das principais razões para a aprovação do PL 2630 é o combate à


violência nas escolas. Muitos ataques a escolas são planejados na internet, e o projeto
de lei pode ajudar a desmascarar as milícias organizadas que atacam escolas e
universidades.

2. Internet sem ódio;

O PL 2630 busca tornar a internet um espaço livre de conteúdos que


estimulem o ódio, a violência ou o preconceito. A ideia é tornar a internet um lugar
mais seguro e saudável para todos os usuários.

3. Combate ao cyberbullying;

O cyberbullying é um assédio moral realizado nas redes sociais, sites, blogs,


etc. O PL é necessário para combater a violência, assédio e preconceito, além de
poder identificar o agressor.

4. Internet sem fake news;

O PL visa combater a disseminação de notícias falsas na internet. As


plataformas digitais serão responsáveis por verificar a veracidade das informações
publicadas em suas plataformas e poderão ser penalizadas caso não façam isso.

5. Responsabilidade das plataformas digitais;

As plataformas digitais terão a responsabilidade de monitorar e remover


conteúdos nocivos, como discurso de ódio, violência e preconceito. Além disso, serão
obrigadas a identificar os usuários que compartilham informações falsas e retirar
esses conteúdos do ar.

6. Transparência na internet;

O PL visa promover a transparência na internet. As plataformas digitais serão


obrigadas a divulgar informações sobre a origem dos conteúdos publicados, como a
identidade dos usuários que os compartilham.

7. Proteção de dados pessoais;


O projeto de lei prevê a proteção dos dados pessoais dos usuários da internet.
As plataformas digitais serão obrigadas a solicitar a autorização dos usuários antes
de coletar e utilizar seus dados.

8. Liberdade de expressão;

O PL não afeta a liberdade de expressão, uma vez que não prevê nenhum
tipo de censura ou restrição à imprensa ou às liberdades individuais. Ele apenas
normatiza direitos e combate às Fake News.

9. Debate democrático;

O PL 2630 prevê a realização de debates democráticos para aprimorar a


legislação sobre a internet e suas implicações sociais e políticas.

10. Mundo digital mais democrático;

A regulação das plataformas digitais é realidade em diversas democracias do


mundo, como na Europa, Alemanha, França e na Austrália. O PL 2630 tem inspiração
em parte dessas iniciativas, especialmente na Lei de Serviços Digitais (DSA, na sigla
em inglês), aprovada pela União Europeia ainda em 2023.

Sobre toda essa narrativa de regulação de informações ou combate às fake


news, surge-se a questão. No Brasil, “fake news” é crime? Tem previsão legal?

PL DAS FAKE NEWS E O ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

O Art. 5º, Inciso XXXIX, da Constituição Federal de 1988 proclama: “não há


crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”. É o
chamado Princípio da Legalidade em Matéria Penal. Sem lei penal, sem fato anterior
à edição da norma incriminadora, não temos crime. Poderemos estar diante de uma
imoralidade, de um ilícito civil ou de um pecado grave, mas sem lei anterior que o
defina e comine pena não temos crime.

Observando o Código Penal e sua legislação extravagante, verificamos que,


definitivamente, “fake news” não se constitui em crime no Brasil. Tanto pela ausência
de previsão de seu tipo normativo, assim como pela ausência de qualquer cominação
de pena.
Sobretudo, sabe-se que no Direito brasileiro nada é absoluto, e por esta razão
há entendimentos que sugerem que aquele que compartilhar ou propagar “fake news”
ou “noticias falsas”, poderá responder por crime com previsão legal no Código Penal
Brasileiro, visto que, O fato das “fake news” não se constituir, por si só, em crime no
País, não significa que não possa servir como um dos vários atos ou meio para a
prática de determinado crime (crime plurissubsistente: crime praticado por mais de um
ato).

O presente texto tem por objetivo principal analisar, sob olhar dos dois lados,
a grave a situação das fake news na legislação brasileira, sobretudo, no que
compreende à ausência de normas referentes à tipicidade penal.

Não existe direito digital que sustente conteúdos relacionados a pornografia,


pedofilia, incentivo ao terrorismo e ao tráfico de drogas, entre outros. Isso é caso de
polícia.

No Brasil, o Código Penal prevê três configurações de crimes ligados a boatos e


mentiras, os chamados crimes de honra. São eles: calúnia, difamação e injúria.

 Calúnia: Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como


crime. Pena: detenção de seis meses a dois anos e multa. Artigo 138/CP.

 Difamação: Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua


reputação. Pena: detenção de três meses a um ano e multa. Artigo 139/CP.

 Injúria: Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro. Pena:


detenção de um a seis meses e multa. Artigo 140/CP.

Todos têm penas semelhantes, e a detenção menor que quatro anos pode ser
convertida em cesta básica e outros serviços.

Por exemplo: Quando o autor usa as redes sociais para espalhar notícias
falsas com o objetivo de prejudicar determinado pessoa, criando uma notícia
fantasiosa, contando um fato criminoso e atribuindo a autoria a um desafeto, pode
caracterizar um crime de calúnia. Se o fato for ofensivo à reputação de uma pessoa,
o crime pode ser difamação, artigo 139 do Código Penal.
Se espalho nas redes sociais que Cristóvão Colombo pisou na Lua com a
Apolo 11 em 1969, estou claramente divulgando uma “fake news”. Sem,
evidentemente, nenhuma repercussão na esfera penal.

Agora, se digo aos meus seguidores nas redes sociais que meu vizinho
Fulano de Tal planeja matar ou causar qualquer tipo de sofrimento ao meu cachorro,
ou que o mesmo teria emitido conscientemente cheque sem suficiente provisão de
fundos na praça, estou sem qualquer sombra de dúvidas cometendo o crime de
Difamação previsto no Art. 139 do Código Penal.

A “fake news”, no exemplo acima, me serviu de meio para difamar meu


vizinho, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação. Se a “fake news” não fosse
ofensiva à reputação de meu vizinho, como, por exemplo, se publicasse nas redes
sociais que meu vizinho esteve no planeta Marte no último verão, estaríamos diante
de uma “fake news” que não constitui crime. Igualmente, se digo nas redes sociais
que meu vizinho Fulano de Tal planeja matar ou causar qualquer tipo de sofrimento
ao meu cachorro, ou que o mesmo teria emitido conscientemente cheque sem
suficiente provisão de fundos na praça, mas não possuo nenhum “amigo” ou seguidor
em minha conta de rede social para que terceiros tome conhecimento da publicação,
também não estaremos diante de crime, em razão da ineficácia absoluta do meio
(crime impossível – Art. 17 do Código Penal).

Destarte, podendo a “fake news”, conforme o caso, vir a se constituir em um


dos vários atos ou meio para a prática de determinado crime, nada impedirá sua
investigação como elemento de informação no Inquérito Policial e no processo penal.

Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a Autoridade


Policial deverá apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados
pelos peritos criminais. E, ainda, colher todas as provas que servirem para o
esclarecimento do fato e suas circunstâncias (Art. 6º, do Código de Processo Penal).

O Juiz expedirá mandado de busca e apreensão, quando fundadas razões a


autorizarem para apreender instrumentos utilizados na prática de crime ou destinados
a fim delituoso, para descobrir objetos necessários à prova de infração e, ainda, para
colher qualquer elemento de convicção para a descoberta da verdade (Art. 240, do
Código de Processo Penal).
Nesse toar, a prática de “fake news” quando serviente ao cometimento de
infração penal (modus operandi), utilizada como meio de agir, operar ou executar a
atividade criminosa do agente, resultará na busca e apreensão de todo o equipamento
utilizado para a prática do crime, como, por exemplo, computadores, notebooks,
celulares e outros aparelhos afins utilizados. Somente aqueles objetos
desnecessários à prova de infração, apartados da apuração oficial do Estado,
permanecerão com o acusado.

Há também previsão legal de conduta criminosa, segundo o artigo 287 do


Código Penal Brasileiro.

Art. 287. Fazer, publicamente, apologia de fato criminoso ou de autor de


crime:

Pena – detenção, de três a seis meses, ou multa.

Além do mais, o PL Nº 473/2017, tem o intuito de acrescentar ao Código Penal


a tipificação de divulgação notícia que sabe ser falsa e que possa distorcer, alterar ou
corromper a verdade sobre informações relacionadas à saúde, à segurança pública,
à economia nacional, ao processo eleitoral ou que afetem interesse público, visando
à criminalização das “fake news”.

Destarte, o PL acrescenta ao Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940


Código Penal, o seguinte art. 287-A:

Divulgação de notícia falsa

Art. 287-A - Divulgar notícia que sabe ser falsa e que possa distorcer, alterar
ou corromper a verdade sobre informações relacionadas à saúde, à segurança
pública, à economia nacional, ao processo eleitoral ou que afetem interesse público
relevante.

Pena detenção, de seis meses a dois anos, e multa, se o fato não constitui
crime mais grave.

§ 1º Se o agente pratica a conduta prevista no caput valendo se da internet


ou de outro meio que facilite a divulgação da notícia falsa:
Pena reclusão, de um a três anos, e multa, se o fato não constitui crime mais
grave.

§ 2º A pena aumenta-se de um a dois terços, se o agente divulga a notícia


falsa visando a obtenção de vantagem para si ou para outrem.

Há também a hipótese de quem produz, posta ou encaminha informações


mentirosas pode ser punido pela legislação eleitoral, com multa e/ou prisão.

É crime divulgar "fatos que sabidamente inverídicos" na propaganda eleitoral


ou no período de campanha, sobre partidos ou candidatos e que possam exercer
influência perante os eleitores.

O Código Eleitoral de 1965, embora não fale em fake news, proíbe


expressamente qualquer pessoa de divulgar na propaganda eleitoral, ou durante o
período de campanha, fatos que são inverídicos em relação a partidos ou candidatos.
Em razão disso, há entendimento que isso fundamenta a interpretação jurídica de que
esse tipo de informação é prejudicial ao processo eleitoral (artigos 324 ao 326 do
Código Eleitoral).

E por fim, temos também a Lei Carolina Dieckmann (Lei 12.737/2012) tipifica
o crime de invasão de dispositivos informáticos.

E com a edição da Lei Nº 12.737, o Código Penal foi alterado, sendo


acrescentado os artigos 154-A, 154-B, 266 e 298 para punição dos crimes cometidos
na internet.

Enquanto o Marco Civil da Internet (Lei 12.965/2014) estabelece diretrizes


para o uso da internet e responsabiliza as empresas de internet por conteúdos ilegais.

COMPETÊNCIA PARA JULGAMENTO CASO O PL 2630 SEJA


APROVADO

Em regra, os crimes contra a honra praticados pelas redes sociais da internet,


a competência de julgamento é da Justiça Estadual. Somente será da Justiça Federal
se for verificada umas das hipóteses previstas nos incisos IV e V do art. 109 da
Constituição Federal/1988.
A PEC nº2630, de 2020 estabelece normas relativas a transparência de redes
sociais e de serviços de mensagens privadas, sobretudo no tocante a
responsabilidade dos provedores pelo combate a desinformação. Com base no
escopo da lei, como também a fundamentação jurídica supracitada, conclui-se que a
competência para julgamento é da Justiça Federal.

A PEC da Fake News em seu artigo 1º e § 3º, define que a referida lei se
aplica, inclusive, ao provedor de aplicação no exterior, desde que oferte serviços ao
público brasileiro ou pelo menos uma integrante do mesmo grupo econômico possua
estabelecimento no Brasil, cita também no seu art. 4º, inciso VI, “rede de disseminação
artificial: conjunto de disseminadores artificiais cuja atividade é coordenada e
articulada por pessoa ou grupo de pessoas, conta individual, governo ou empresa com
fim de impactar de forma artificial a distribuição de conteúdo com o objetivo de obter
ganhos financeiros e ou políticos;”, acrescenta também em seu artigo 23 que “ as
redes sociais devem tornar pública, em plataforma de acesso irrestrito e facilitado,
dados sobre todos os conteúdos patrocinados ativos e inativos relacionados a temas
sociais, eleitorais e políticos.

Apropriadamente vale destacar uma decisão importante do STJ sobre o tema


“ofensas em redes sociais”:

“A competência para julgamento de ação de indenização por danos morais,


decorrente de ofensas proferidas em REDE SOCIAL, é do FORO DO DOMICÍLIO DA
VÍTIMA, em razão da ampla divulgação do ato ilícito”.

STJ, REsp 2032427, pub 05/05/2023.

A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O PL 2630 - CONFLITO

Esse projeto de lei torna-se ainda mais polêmico por ir, possivelmente, contra
alguns dos princípios dos direitos humanos fundamentais elencados em nossa Carta
Magna, a Constituição Federal Brasileira, e muito se discute sobre sua
constitucionalidade.

Um dos princípios, conhecida como rastreabilidade (que tem relação direta


com a privacidade, o sigilo das comunicações e a proteção de dados pessoais).
Art. 5°, inciso XII/CF:

“É inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações


telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso,
por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de
investigação criminal ou instrução processual penal”.

Art. 5°, inciso LXXIX/CF:

“É assegurado, nos termos da lei, o direito à proteção dos


dados pessoais, inclusive nos meios digitais”. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 115, de 2022).

A principal dessas propostas submete todas as mensagens em aplicativos


como WhatsApp a um monitoramento por pelo menos 15 dias desde o envio.

Conforme já afirmado amplamente, essa dinâmica de vigilância em massa e


indiscriminada viola garantias asseguradas pela Constituição Federal, pelo Marco Civil
da Internet e pela Lei Geral de Proteção de Dados.

Nos termos do artigo 10 aprovado pelos senadores, “os serviços de


mensageria privada devem guardar os registros dos envios de mensagens veiculadas
em encaminhamentos em massa, pelo prazo de 3 (três) meses, resguardada a
privacidade do conteúdo das mensagens”. A configuração como “encaminhamento
em massa” depende de que todas as mensagens, de todas as pessoas, sejam
guardadas e comparadas durante 15 dias, o que prejudica, na prática, a referida
pretensão de resguardar o sigilo do conteúdo das comunicações.

Em um cenário profundamente invasivo, claramente inseguro e timidamente


regulado, dará ensejo a um mecanismo extremamente perigoso. Toda a população
brasileira verá seus dados pessoais e suas comunicações submetidas a um risco real
e muito alto de requerimentos abusivos, de medidas de segurança falhas, de
deliberado mau uso por empresas privadas, e até de vazamentos inadvertidos.
Parlamentares, jornalistas, pesquisadores, ativistas, estudantes universitários,
cidadãos denunciando crimes, mães trocando fotos de seus filhos, pacientes em
consultas com profissionais de saúde, etc.: todo mundo será alvo permanente de
vigilância.
E se, por razões legítimas ou mesmo sem querer, eventualmente alguma
dessas pessoas enviar ou receber um conteúdo que se torne viral, ficarão vinculadas
a uma chamada cadeia de compartilhamento. A vigilância passa a ser um padrão, em
substituição à investigação apenas de pessoas suspeitas de algum ilícito conhecido,
e o consequente potencial de criminalização de cidadãos inocentes é enorme.

Em um processo judicial envolvendo esses conteúdos, caberá às pessoas


envolvidas o dever de demonstrar, após o fato, que não têm relação com a indústria
de disseminação de desinformação que o PL, com boa intenção, pretende atingir. Mas
neste momento, em grave desrespeito à presunção de inocência, seu número de
telefone e sua rede de interações online, por exemplo, já terão se tornado de
conhecimento de outras pessoas, que não apenas as legítimas participantes das
conversas.

Ainda, essa rastreabilidade impacta negativamente o exercício da liberdade


de expressão: o constante monitoramento das mensagens será um balde de água fria
em um ambiente no qual se esperaria uma proteção à privacidade e ao sigilo, inclusive
por força da aplicação de criptografia forte. Um custo muito alto, para uma medida
que, em nenhum lugar do mundo, teve qualquer eficácia minimamente comprovada.

A medida tampouco seria efetiva no sentido de se identificar eventuais autores


de conteúdos ilícitos, já que a própria dinâmica da Internet permite facilmente a quebra
das eventuais cadeias de transmissão e o fato de muitos conteúdos transitarem entre
plataformas (são criados, por exemplo, no YouTube e depois compartilhados no
WhatsApp) impede que se chegue a seus reais produtores. A desinformação é um
problema significativo para a nossa democracia. Mas seu enfrentamento não pode
violar direitos humanos que se encontram na base da própria democracia que se
pretende defender.

Em resumo, é salutar a defesa e proteção dos direitos individuais


fundamentais, inclusive a honra, imagem, intimidade. Ocorre que isso deverá se dar
por todas as formas admitidas em lei. O referido projeto não merece guarida, pois
contraria a nossa Constituição Federal.

Isto porque, por princípio supremo e basilar do estado democrático de direito,


ungido pela Constituição de 1988, é garantido a todos brasileiros a livre
manifestação cultural e do pensamento, sendo certo que normas que criam um
Tribunal da Verdade, para vigiar e punir aquele que supostamente distorçam e
manipulem a verdade, configura não a regulamentação e proteção contra fake news,
mas sim uma espécie de censura prévia inadmitida pela ordem jurídica em vigor.

Além disso, haverá complexa formação procedimental e um poder subjetivo


incontrolável e soberano dos "censores" e "donos da verdade", já que necessário
realizar processo administrativo para a formação do ato regulamentador e de sua
incidência em concreto. Há risco grave de que não sejam garantidos o contraditório
e a ampla defesa dos autores, o que ensejará questionamentos e insegurança
jurídica, dado o elemento subjetivo e de múltiplos sentidos que envolvem a matéria.

Por fim, trata-se, em rigor, de medida inócua, pois já a meios legais de


combater notícias falsas, injuriosas, caluniosas ou difamadoras.

A verdade merece toda a proteção do Estado. Todavia, controle da livre


manifestação não pode se dar prévia e autoritariamente, com bloqueios e
cancelamentos. O correto é a responsabilização, cível e penal, realizado pelas vias
jurídicas judiciárias adequadas, especialmente mediante ações civis para a tutela
dos direitos difusos e coletivos. Restringir, em tese, a liberdade de pensar, falar,
publicar, informar, opinar dos nossos cidadãos é censura e inconstitucional, violando
o art. 5° da Constituição.

George Washington já ensinou e alertou “Quando a liberdade de expressão


nos é tirada, logo poderemos ser levados, como ovelhas, mudos e silenciosos, para
o abate. ”

CONCLUSÃO

Quando se fala de “fake news”, e de qualquer coisa, é importante ter em


mente que o exercício de nenhum direito fundamental é absoluto, nem a liberdade de
pensamento, nem a liberdade de informar. Nenhum direito pode ser usado para a
prática de ilícito ou de ato nocivo que prejudique o próximo e a sociedade. Sempre
haverá a relativização e a ponderação de valores diante da colisão de direitos
fundamentais, com a primazia do bem comum e da ordem democrática, segundo o
ordenamento jurídico brasileiro.
Sobretudo, é muito difícil se posicionar de uma maneira tranquila, quando se
ver muita coisa errada acontecendo. Complicado mais ainda, sabendo que existe um
projeto de lei, uma intenção do Estado brasileiro, dos mecanismos judiciais e políticos
de controlar o que você deve gostar ou não.

Se tratando a respeito de mídias sociais e internet, esse projeto que ter


“basicamente” acesso a todos os “botões” que eles quiserem de qualquer rede social
ou mídia social.

O problema de dar tanto poder assim ao Governo, é que eles podem


inviabilizar as redes sociais no Brasil, e fazer com que assim, essas plataformas
encerrem suas atividades no país.

Desde que a internet foi criada uma série de mudanças foram acontecendo e
nos últimos tempos há um esforço de tentar entender o que é nocivo e o que não é
nocivo para as pessoas, ou seja, que notícias devem estar públicas e quais não
devem, quais falas podem ser ditas e quais não podem ou não devem. Eles
categorizam isso como as fake news para as “notícias falsas” e toda essa área voltada
ao discurso de ódio (coisas que podem ofender pessoas, grupos e organizações e
etc.).

Entretanto, qual o problema de se tentar institucionalizar tudo isso? Qual o


problema de tentar categorizar se uma fala é discurso de ódio ou não?

Simples, precisaremos de um moderador. De certa forma, melhor dizendo, de


um juiz. Seja ele representado por uma pessoa, por uma IA ou por uma agência
reguladora. Àquele, cuja função seja o de olhar para o que está escrito e decidir com
base em suas próprias visões programadas ou imputadas, se aquilo pode ou não ser
publicado. E sbe qual o problema em se colocar um moderador?

Esse moderador sempre vai ter poder demais. E não existe imparcialidade
neste planeta.

Observamos isso quando um juiz do STF, por vontade própria (de ofício),
paralisou as atividades de uma empresa (TELEGRAM), e determinou que prestasse
depoimento à PF em até 5 dias por causa dos anúncios contra a PL da Censura, que
ainda é só um projeto de lei. Imagina então se já fosse uma lei. Outro exemplo, o atual
governo em vigor, por determinação da Secretaria Nacional do Consumidor, vinculada
ao Ministério da Justiça (Flávio Dino), multou a multinacional Google, em 1 milhão de
reais por críticas a este mesmo projeto de lei. Nem mesmo esse trabalho acadêmico
poderia ser feito com essa conclusão crítica sem ter o seu conteúdo analisado.

Desse modo, a última coisa que eles querem é a dita “liberdade de expressão”
que tanto falam, num país democrático. Onde tais prerrogativas e princípios são
violados.

Em uma democracia convencional, quando você cala um dos lados se mata


a democracia. Onde um lado não pode falar, logo, não pode ser representado. E se o
debate morre, a democracia morre e desse modo entramos no Totalitarismo. Esse é
o rumo do Brasil.

Esteja ciente que o rumo que o nosso país está tomando, que as ações que
o governo está tentando tomar para poder controlar conteúdo nas mídias, é o rumo
que estamos pavimentado para nós. Isso é preocupante.

Logo, com a desculpa esfarrapada de “combate às fake news”, esse projeto


deixa brechas significantes e que podem dar a um governo corrupto a capacidade de
calar sua oposição.

Por todos esses motivos, insistimos na importância de se construírem


propostas que respeitem nossa Constituição, que não violem direitos individuais e
coletivos e que possam ser atualizadas de forma dinâmica, considerando o processo
permanente de inovações tecnológicas e de atualização dos seus usos pela
sociedade. Devemos seguir analisando e trabalhando de modo a garantir que o Brasil
tenha uma lei que de fato combata a desinformação, mas sem violar ou restringir
direitos dos cidadãos e cidadãs do nosso país.

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