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Como proceder ao ser

vítima de uma ofensa


pela Internet
Publicado por Igor Lucas
há 7 anos

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37 0 22 Salvar Compartil…

As ofensas não são exclusividades da


sociedade atual, porém, com a evolu-
ção da Internet, este tipo de crime tem
uma lesividade bem maior quando re-
alizada através deste meio, em virtude
do alcance que o conteúdo postado na
rede tem, além do falso sentimento de
anonimato e impunidade do ato prati-
cado através de um dispositivo eletrô-
nico. Uma ofensa pode ser tipificada
de várias formas pelo Código Penal,
entre elas:

Calúnia (art. 138, CP) ao imputar,


falsamente, a alguém fato defini-
do como crime;

Difamação (art. 139, CP) ao im-


putar a alguém fato ofensivo à
sua reputação;

Injúria (art. 140, CP) ao ofender a


dignidade ou o decoro de alguém;

Ameaça (art. 147, CP) ao ameaçar


alguém de causar-lhe mal injusto
e grave.

Estes são crimes digitais impróprios,


ou seja, aqueles que ocorrem tanto
“virtualmente”, através da Internet,
ou “fisicamente” em outros meios, por
exemplo oralmente ou de forma escri-
ta. São impróprios pois a tecnologia é
apenas meio de disseminação da ativi-
dade delitiva. Diferentemente dos cri-
mes digitais próprios, onde os dados,
as informações, e os sistemas de tec-
nologia da informação são o objeto da
atividade criminosa, como, por exem-
plo, a invasão de dispositivo informá-
tico (art. 154-A CP).

Apesar de ser diferente apenas quanto


ao meio em que se propaga, o procedi-
mento para obter a devida reparação
em face de uma ofensa pela Internet,
em regra, é completamente diferente,
em virtude justamente destes rastros
deixados no meio digital. Ao ser víti-
ma de um destes crimes, a pessoa
deve tomar, preferencialmente, as se-
guintes medidas:

1) Registrar o fato
imediatamente

Inicialmente, deve a vítima realizar o


print de todas as mensagens, conver-
sas, posts, toda e qualquer informação
que possa indicar a autoria e a materi-
alidade delitiva. Recomenda-se tam-
bém anotar as URLs que apontam
para estas páginas, pois futuramente
podem ser necessárias para um pedi-
do de remoção de conteúdo, como de-
finido pelo Marco Civil da Internet
(art. 19, § 1º) ao requerer a “identifi-
cação clara e específica do conteúdo”.

2) Realizar uma ata notarial

Apesar do Código de Processo Penal


prever que “o juiz formará sua convic-
ção pela livre apreciação da prova
produzida em contraditório judicial”
(art. 155), a colheita mal feita de uma
prova pode levar à sua nulidade, e
consequentemente a inviabilidade de
demonstrar a autoria e a materialida-
de delitiva. Portanto, é recomendável
ir a um cartório de notas, e requisitar
ao tabelião o registro dos elementos
colhidos no item anterior em forma de
uma ata notarial, revestida de fé
pública.

A ata notarial tem sua previsão ex-


pressa na Lei Federal 8.935/1994, que
determina no inciso III, do art. 7º, a
exclusividade da competência ao tabe-
liães em uma lavrar ata notarial, que é
“um instrumento público através do
qual o tabelião relata, de forma abso-
lutamente objetiva, aquilo que vê e
ouve”[1].

O tabelião irá acessar o material re-


quisitado pela vítima, e fará uma
transcrição do seu conteúdo, sem jul-
gamento de mérito, apenas dando fé
que estas informações ali estavam
presentes.

Porém, este ato tem um custo, que em


muitos casos podem inviabilizar sua
produção, especialmente se o conteú-
do das ofensas for muito extenso.
Cada estado da federação determina
sua tabela de custas. À título exempli-
ficativo, nos cartórios do Rio de Janei-
ro, uma ata notarial de uma página irá
custar, em 2017, R$ 301,92[2]. No
estado de São Paulo, a mesma ata de
uma página custará R$ 416,81[3], e
em Minas Gerais, R$ 122,66[4].

Uma alternativa ao alto custo da ata


notarial é fazer uso da prova testemu-
nhal. Apesar de ser conhecida no âm-
bito criminal como a “prostituta das
provas”, a prova testemunhal não dei-
xa de ser válida, e como dito acima, o
juiz formará seu convencimento pela
livre apreciação da prova. Idealmente
a testemunha não deve ser amigo ou
parente da vítima, ou outra pessoa
que tenha interesse na causa, sob o
risco de ser declarada suspeita.

A sugestão neste caso é procurar um


advogado, que reunirá duas testemu-
nhas imparciais, e fará um auto de
constatação sobre o mesmo material
que seria objeto da ata notarial. Ele,
diante das testemunhas, irá acessar o
material e fazer o registro de seu con-
teúdo, da mesma forma que seria feito
pelo tabelião. Este auto de constata-
ção também terá custo, mas pode ser
menor que o custo da ata notarial, ou
mesmo ser diluído junto dos honorá-
rios já pagos ao patrono da causa.

3) Ir a uma delegacia

De posse deste material, a vítima deve


procurar a Delegacia de Polícia Civil
mais próxima e registrar o fato atra-
vés de um boletim de ocorrência. Em
alguns estados existem delegacias es-
pecializadas em crimes digitais[5],
porém todas detém competência para
registrar o fato.

Por serem crimes de menor potencial


ofensivo, cuja pena máxima não ultra-
passa 2 (dois) anos, conforme dispos-
to pelo art. 61 da Lei 9.099/1995, não
haverá instauração de inquérito poli-
cial, sendo que a autoridade policial
apenas lavrará termo circunstanciado
que será encaminhado ao Juizado Es-
pecial Criminal.

Além disso, a vítima deve estar atenta


à decadência do direito de queixa ou
de representação, que se dá em 6
(seis) meses contados do dia em que
veio a saber quem é o autor do crime,
conforme art. 103 CP. Portanto não
deve demorar a exercer seu direito.

4) Remoção do conteúdo, res-


ponsabilização do provedor de
aplicações e logs

Além da responsabilização criminal, a


vítima poderá solicitar judicialmente
a remoção do conteúdo. De acordo
com o Marco Civil da Internet (MCI),
a remoção se dá apenas mediante or-
dem judicial (art. 19, MCI), exceto em
casos de conteúdo de natureza sexual
(art. 21, MCI).

Conforme dispõe o art. 19 do MCI,


não há que se falar em responsabiliza-
ção do provedor de aplicações, ou seja
a rede social, o blog, o site de notícias,
etc, pelo conteúdo postado por tercei-
ros, a não ser em caso de descumpri-
mento da ordem judicial de remoção
do conteúdo.

Porém, poderá o provedor ser compe-


lido, judicialmente, a exibir registros
de conexão ou de registros de acesso a
aplicações de internet de modo a “for-
mar conjunto probatório em processo
judicial cível ou penal”, como disposto
pelo art. 22 do MCI, auxiliando na
identificação de autoria do fato.

5) Conclusão

Apesar do sentimento de anonimato


de quem comete tais atos ilícitos na
Internet, atualmente é bem difícil,
para usuários comuns, navegar de for-
ma a não deixar rastros por onde se
passa. A vítima de uma ofensa pela
Internet tem meios para buscar a de-
vida reparação, e não deve se esquivar
de procurar este caminho, ajudando a
desencorajar o autor do fato a come-
ter tal ilícito novamente.

Notas:

[1] Fonte: http://www.cartori-


o15.com.br/ata-notarial/

[2] Fonte: http://www.sextooficiorj.-


com.br/tabela-de-custas

[3] Fonte: https://www.26notas.-


com.br/servicos/ata-notarial

[4] Fonte: http://www.cartoriojagua-


rao.com.br/tabela-de-precos

[5] Fonte:
http://www.safernet.org.br/site/pre-
vencao/orientacao/delegacias

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Igor Lucas

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