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Faculdade de Balsas – Unibalsas

CURSO: Direito TURNO: Vespertino PERÍODO: 7º período


UNIDADE CURRICULAR: Direito Processual Penal - Procedimentos e Recursos
DOCENTE: Ms. Eloberg Bezerra de Andrade

Aula 01 - 21/02
1) Introdução ao Direito Processual Penal
a) Norma Penal Processual
I. Aquela que regula como se dará a solução dos conflitos em juízo. Ela regula o
processo em si, como este se dará para fins de como será analisado e julgado.
II. Na ocorrência de uma infração penal, será a norma processual penal, por
exemplo, que indicará como é feita a investigação, as provas que podem ser
utilizadas, a maneira como se darão as prisões cautelares, a forma de realização
da instrução criminal e o desfecho do caso por meio de uma sentença.
III. Esta não irá falar do que é certo ou errado, mas dos procedimentos necessários.
IV. Esta, aplica-se desde logo, não importando se irá beneficiar ou prejudicar o réu.
V. Não invalida os atos já praticados.
VI. Exemplificado pelo artigos 4 e 24 do CPP.

Art. 4º A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território


de suas respectivas jurisdições e terá pôr fim a apuração das infrações penais e
da sua autoria.
Polícia Judiciária – âmbito federal (Polícia Federal) e no âmbito estadual (Polícia
Civil).

OBS: Polícia judiciária não se confunde com polícia de segurança ou administrativa, já que
esta tem caráter preventivo, pois atua para impedir que infrações penais sejam praticadas.
Por outro lado, a polícia judiciária tem caráter repressivo, pois atua após a prática delitiva,
tendo por finalidade apurá-la (por meio de um inquérito policial).

Art. 24. Nos crimes de ação pública, esta será promovida por denúncia do
Ministério Público, mas dependerá, quando a lei o exigir, de requisição do
Ministro da Justiça, ou de representação do ofendido ou de quem tiver qualidade
para representá-lo.
b) Norma Penal Material
I. Exemplificada pelo artigo 168 e 317 do CP.
Art. 168 - Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a
detenção: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

II. Aquela que regula as questões de direito originadas do mundo fático/real que
geram repercussão jurídica, definindo quais são as condutas consideradas
criminosas (a lei traz claro que ações são crimes na prática), indicando eventuais
benefícios em favor do condenado, os critérios que excluem o caráter criminoso
da conduta.
III. É esta norma que prevê o mínimo e máxima de pena cominada para cada
conduta criminosa.
IV. Retroage em benefício do réu.

Aula 02 - 28/02

c) Norma Penal Híbrida ou Mista


I. Aquela que contém tanto direito material quanto processual numa única norma.
II. Exemplificada pelos artigos 186 do CPP, onde o interrogatório do réu (direito
processual) e direito do réu ficar em silêncio/calado - princípio da não
autoincriminação previsto no parágrafo único deste artigo (direito material) e
366 do CPP, onde trata do direito processual (com a citação por edital +
suspensão material) + de direito material (prescrição do prazo). Esta sofre de
omissão legislativa, devendo aplicar segundo STF, o que se encontra o se
encontra previsto no CP (art.109).

Art.186. Depois de devidamente qualificado e cientificado do inteiro teor da


acusação, o acusado será informado pelo juiz, antes de iniciar o interrogatório,
do seu direito de permanecer calado e de não responder perguntas que lhe forem
formuladas.
Art. 366. Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir
advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional,
podendo o juiz determinar a produção antecipada das provas consideradas
urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva, nos termos do disposto
no art. 312.
III. Retroage sempre em benefício do réu (Art.5, XL da CF/88), não podendo ser
aplicada ao reverso, quando puder prejudicar o autor do delito cometido antes de
sua entrada em vigor. Sendo uma exceção do CPP.
IV. Os institutos de decadência e perempção são regulamentados pelo CPP (quando
impede a propositura ou prosseguimento da ação penal privada) e pelo CP
(quando geram extinção da punibilidade).

2) Processo × Procedimento
Processo é a soma de todos os atos realizados com a finalidade de justa e imparcial
solução do caso penal pelos órgãos jurisdicionais penais, efetivando as garantias
constitucionais do indivíduo (onde temos a figura do juiz + MP + réu). É a atividade
desenvolvida pelo Estado-Juiz com a função de aplicar a lei ao caso concreto.
Procedimento é a maneira como a atividade de julgar o processo irá ser realizada e
desenvolvida, sendo a formalidade do processo. Em si, é a maneira como cada ato será
realizado, tipo, o momento que será realizada a audiência de instrução e julgamento é
um procedimento. Exemplificado pelos artigos 41 (que trata da forma como se deve ser
a denúncia ou queixa-crime), 311 e 312 do CPP.
Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas
circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa
identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas.
Art. 311. Em qualquer fase do inquérito policial ou da instrução criminal, caberá a
prisão preventiva decretada pelo juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público,
ou do querelante, ou mediante representação da autoridade policial.
Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, por
conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando
houver prova de existência do crime e indícios suficientes da autoria.

Aula 03 - 06/03
3) Ação Penal
a) Conceito: É o direito do Estado-Acusação ou do ofendido de ingressar em juízo
solicitando a prestação jurisdicional, representada pela aplicação das normas de direito
penal ao caso concreto, por meio da ação, tendo em vista a existência de uma infração
penal antecedente, o Estado consegue realizar a sua pretensão de punir o infrator.
b) Tipos:
I. Ação Penal Pública Incondicionada
i. É a regra no ordenamento processual penal brasileiro. Sua
titularidade pertence ao Ministério Público, de forma privativa,
nos termos do art. 129, I da Constituição da República.
ii. Apesar de ser a regra, existem exceções, é claro. Não
precisamos, contudo, saber quais são as exceções. Precisamos
saber que, independentemente de qual seja o crime, quando
praticado em detrimento do patrimônio ou interesse da União,
Estado e Município, a ação penal será pública. É o que prevê o
art. 24, §2º do CPP:
Art. 24 (...) § 2o Seja qual for o crime, quando praticado em
detrimento do patrimônio ou interesse da União, Estado e
Município, a ação penal será pública. (Incluído pela Lei nº 8.699,
de 27.8.1993)
iii. Por se tratar de uma ação penal em que há forte interesse público
na punição do autor do fato, qualquer pessoa do povo poderá
provocar a atuação do MP:
Art. 27. Qualquer pessoa do povo poderá provocar a iniciativa do
Ministério Público, nos casos em que caiba a ação pública,
fornecendo-lhe, por escrito, informações sobre o fato e a autoria
e indicando o tempo, o lugar e os elementos de convicção.
II. Ação Penal Privada Exclusiva
i. É aquela na qual a Lei entende que a vontade do ofendido em ver
ou não o crime apurado e o infrator processado são superiores ao
interesse público em apurar o fato.
ii. Se refere aos crimes que não repercutem tanto na coletividade,
estando mais vinculado a esfera privada. O ofendido deve
constituir advogado ou procurar a DP para propor queixa-crime.
III. Ação Penal Pública Condicionada:
i. Para que o MP (titular da ação penal) possa exercer
legitimamente o seu direito de ajuizar a ação penal pública,
deverá estar presente uma condição de procedibilidade, que é a
representação do ofendido ou a requisição do Ministro da
Justiça, a depender do caso.
IV. Ação Penal Privada Subsidiária da Pública
i. Trata-se de hipótese na qual a ação penal é, na verdade, pública,
ou seja, o seu titular é o MP. No entanto, em razão da inércia do
MP em oferecer a denúncia no prazo legal (em regra, 15 dias se
indiciado solto, ou 05 dias se indiciado preso), a lei confere ao
ofendido o direito de ajuizar uma ação penal privada (queixa)
que substitui a ação penal pública.
ii. O ofendido tem um prazo de seis meses para oferecer a ação
penal privada, que começa a correr no dia em que se esgota o
prazo do MP para oferecer a denúncia, conforme art. 38 do CPP.
iii. Importante ressaltar que, a partir do momento em que se inicia o
prazo para a vítima, tanto ela quanto o MP possuem legitimidade
para ajuizar a ação penal (a vítima para ajuizar a ação penal
privada subsidiária e o MP para ajuizar a ação penal pública).
Trata-se, portanto, de legitimidade concorrente.
4) Sistemas Processuais Penais
a) Acusatório Privado: Cabia a vítima ou aos familiares acusar o autor da infração
penal. Deveriam se dirigir ao juiz para iniciar o processo penal. O juiz era eleito pela
população ou nomeado pelo Estado, cabendo a vítima ou familiares se dirigir a este.
Não existia uma estrutura estatal voltada para a investigação criminal e para acusar o
autor do fato. Tudo ficava a cargo da vítima ou de seus familiares. Recorrente na
Mesopotâmia, Israel, Gécia, Roma, Índia.
b) Inquisitivo: O Estado trouxe para si a prerrogativa de reprimir a prática de delitos,
não dependendo mais de particulares para iniciar o processo penal. Nesse sistema, o
Estado-Juiz concentrava em suas mãos as funções de investigar-acusar-julgar. O
julgador não forma seu convencimento diante das provas dos autos que lhe foram
trazidas pelas partes, mas visa convencer as partes de sua intima convicção, pois já tinha
um juízo de valor ao iniciar a ação.
I. Surgiu no regime monárquico e se aperfeiçoou no Direito Canônico (Séc. XIII).

II. As funções de acusar, defender e acusar encontra-se em uma única pessoa.


III. Não há formação de convicção pelo juiz a partir dos elementos probatórios
levados pelas partes (o juiz inquisidor possui ampla iniciativa probatória).
IV. Há a crença de que a descoberta da verdade é a função do processo penal.
V. Em regra, é sigiloso.
VI. Não há contraditório e ampla-defesa.
c) Misto ou Francês: Também chamado juizado de instrução, se caracterizando pela
participação do juiz com apoio da polícia judiciária, que realizavam a instrução
preliminar das investigações, de modo a colher as informações necessárias para embasar
eventual denúncia. Em seguida, os autos desta investigação são encaminhados para o
MP possa avaliar a possibilidade de oferecer a denúncia. O mesmo juiz que participou
da investigação, será o julgador da causa.

d) Acusatório: Nesse sistema, existe uma separação de funções como o MP na função


de acusar, o Juiz de julgar e o Réu com o direito a defesa técnica (tese bem feita pelo
defensor). Este é o sistema adotado em nosso sistema penal. Exemplificado pelo Art.
129 da CF/88, inciso I e o artigo 3-A do CPP.

Art. 129. CF/88. São funções institucionais do Ministério Público:


I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei;
Art. 3º-A. CPP. O processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a iniciativa do juiz
na fase de investigação e a substituição da atuação probatória do órgão de acusação.

I. Possui uma nítida distinção entre as partes do processo


Juiz = órgão imparcial de aplicação da lei, que se manifesta quando devidamente
provocado.
Autor = quem faz a acusação (imputação penal + pedido) e sobre ele recai o
ônus probatório.
Réu = exerce todos os direitos inerentes à sua personalidade, podendo defender-
se utilizando de todos os meios e recursos inerentes a defesa.
II. O princípio do contraditório e da ampla defesa informam todo o processo.
III. O sistema de provas é o do livre convencimento.
IV. A gestão de provas recai precipuamente sobre as partes.

Aula 04 - 13/03
5) Das provas
a) Conceito: É todo elemento que pode levar o conhecimento do fato para alguém. No
processo, a prova é todo fato e acontecimentos, coisas, pessoas e circunstâncias úteis
destinado a convencer o juiz acerca da verdade de uma situação de fato.
b) Fundamentação legal: Art. 155 do CPP – Contraditório Judicial (a manifestação
das duas partes, defesa e acusação, em juízo. Não pode o juiz fundamentar sua decisão
exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ou seja, apenas

aqueles colhidos no inquérito policial, com ressalva das provas cautelares, não
repetíveis e antecipadas). Para condenar, o juiz deve formar seu convencimento com a
junção do inquérito + daquilo trazido pelas provas produzidas em juízo.
Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em
contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos
elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não
repetíveis e antecipadas.
c) Meio de prova: Consiste em atividade desenvolvida perante o juiz que preside a
instrução criminal para se trazer já a prova em si. São produzidas sob o crivo do
contraditório judicial com o breve conhecimento e participação das partes. É quando já
se tem a prova em si constituida, exemplo, a prova testemunhal, a documental, perícia,
exame de corpo de delito, etc.
d) Meio de obtenção (objeto) de prova: Atividade desenvolvida por autoridades
diversas do juiz como forma de identificação das fontes de prova, que de início, se tenha
indício. Em regra, é executada na fase preliminar da investigação por meio da polícia
judiciária. As partes também podem diligenciar no sentido de obter provas, como por
exemplo, com a lavratura de ata notarial ou a elaboração de perícia especializada.
Exemplificado claramente pela busca e apreensão, a interceptação telefônica, etc.
Previsto no artigo 158 a 250 do CPP (perícia, exame de corpo de delito, prova
documental, prova testemunhal, interrogatório, acareação, confissão.

OBS: Os fatos notórios, também conhecidos como “verdade sabida” não são objetos
de prova, pois são de domínio de grande parte da população medianamente informada.
OBS Acareação: é quando se colocam frente a frente duas ou mais pessoas que fizeram
declarações divergentes sobre o mesmo fato.
e) Prova Direta: é aquela que permite conhecer o fato criminoso por meio de um único
raciocínio. Exemplificado: o depoimento da vítima em audiência que presenciou o
momento do fato criminoso.
f) Prova Indireta: é aquela que para alcançar uma conclusão do fato aprovado, o juiz
deve realizar mais de um raciocínio para concluir quem é o autor do fato criminoso.
Exemplificado: a vítima viu alguém correndo com a arma do crime, sem presenciar o
acontecido; o álibi (a pessoa está afastada geograficamente do local do crime, mas
consegue trazer informações sobre o delito em questão).
g) Tipos de provas
I. Cautelares = aquelas em que há um risco de desaparecimento do objeto da prova
em razão do decurso do tempo. O contraditório é diferido/postergado/ acontece
quando ocorre o colhimento de provas sem que as partes saibam, deixando para
momento posterior de estas se manifestarem, mas sendo necessário que tenha
autorização judicial para que aconteça). Podem ser produzidas na fase
investigatória e na fase judicial. Exemplificado pelas interceptação telefônica,
quebra do sigilo de Whatsapp, interceptação de e-mails, buscas domiciliares,
atas notarias.
II. Não repetíveis (Irrepetiveis) = São aquelas que, uma vez produzidas, não há
como serem novamente coletadas em razão do desaparecimento da fonte
probatória. Podem ser produzidas na fase investigatória e na fase judicial; NÃO
dependem de autorização judicial. Exemplificado pelo exame pericial em caso
de violência doméstica (risco de desaparecer as lesões corporais), o depoimento
de vítimas em estado terminal (controvérsia doutrinária desta última, que é
considerada como prova antecipada por certos doutrinadores).
III. Antecipadas = aquela produzidas perante o juízo em momento processual
distinto daquele legalmente previsto, ou até mesmo antes do início do processo,
em virtude de situações de emergência e urgência, com observância do
contraditório real, com a formação da prova na presença do juiz e das partes
(acusação e defesa). Podem ser produzidas na fase investigatória e na fase
judicial. Dependem de autorização judicial. Exemplificado pelos casos de
oitiva da única testemunha do crime que está em seu leito de morte, o
depoimento especial (feito quando é ouvido a vítima em sala reserva com o
psicossocial), laudo toxicológico e em conformidade com o que se encontra
expresso no artigo 155, parágrafo único do CPP (deve ser respeitada a juntada
das provas cíveis e as provas penais quando forem necessário de uma para que
sejam realmente provada a outra/ Significa que no processo penal é necessário
observar certas normas do direito civil. Exemplo: No crime da bigamia, deve ser
juntada as certidões de casamento).
OBS: Apesar disso, cabe ao juiz decidir sobre a conveniência e oportunidade da
antecipação das provas. Logo, há dois pressupostos a serem observados, um é
o fumus boni iuris (relevância) e periculum in mora (urgência).
OBS: É imperioso destacar que o juiz só pode determinar a produção antecipada
das provas no curso do processo. Assim sendo, antes de iniciada a ação penal, o
juiz não pode fazê-lo de ofício. Nesse caso, o juiz só poderá agir a partir do
requerimento do Ministério Público, do ofendido, do investigado ou de
representação da autoridade policial.

Vejamos como dispõe o art. 225 do CPP:


Se qualquer testemunha houver de ausentar-se, ou, por enfermidade ou por
velhice, inspirar receio de que ao tempo da instrução criminal já não exista, o
juiz poderá, de ofício ou a requerimento de qualquer das partes, tomar-lhe
antecipadamente o depoimento.

OBS: (AV4)  A diferença da cautelar para antecipada é que na antecipada tem


o contraditório (com a participação da acusação e defesa), diferente que na
cautelar não há.

OBS: O artigo 156, inciso I e II do CPP permite a atuação de um juiz investigador que
faz a questão de determinar a produção de prova. Isto viola o sistema acusatório e está
em conflito com o artigo 3º-A do CPP e o artigo 129, I do CP.
Aula 05 - 27/03
6) Teoria dos Frutos da Árvore Envenenada
A) Originada do direito norte-americano, pregando que se uma prova é obtida de
maneira ilícita (obtidas com violação à lei, fora do processo. Viola tanto o direito

material como processual, como traz o artigo 157 do CPP. Além de ser desentranhada,
poderá ter efeitos penais, civis ou administrativos.), todas as provas originárias desta,
mesmo que sendo lícitas, estarão contaminadas, fulminadas de ilicitude, sendo assim
considerada ilícitas por derivação.
OBS: Prova ilegítima, diferente de prova ilícita, é aquela que viola regra apenas do

direito processual, sendo esta produzida no momento que estiver em juízo. Ela é
desentranhada do processo, sem ocorrer nulidade processual.
b) Aceita pelos STF, STJ e demais tribunais superiores.
Segundo o STF, por meio do tema 1238, são inadmissíveis em processos judiciais
administrativos qualquer espécie de provas ilícitas consideradas pelo Poder Judiciário.
c) Fundamentado pelos artigos 5º, LVI da CF e 157 do CPP.
Art.5º. (...) LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos;
Art. 157. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas,
assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais.

d) Exceções à ilicitude da prova: Pode ser usada prova ilícita somente em caso de matéria de
defesa (ser admitidas em favor do réu, se for para garantir a presunção de inocência e a
liberdade do indivíduo) ou quando não houver nexo de causalidade entre a prova ilícita e a
lícita/quando de outra maneira for possível obter a prova, independentemente da primeira
fonte.

Por exemplo: É considerada uma prova derivada da ilícita uma interceptação telefônica
clandestina que permite à autoridade policial tomar conhecimento da existência de uma
testemunha que possa incriminar o acusado. Contudo, tal prova poderia ser aceita se
restar comprovado que as autoridades policiais iriam ter conhecimento desta
testemunha de alguma outra forma.

Por exemplo: uma pessoa acusada injustamente pela prática de um homicídio grava
clandestinamente uma conversa telefônica na qual terceira pessoa confessa a prática de
tal crime. Diante dessa prova em tese ilícita, verifica-se a colisão de direitos
fundamentais, pois a prova afronta a inviolabilidade das comunicações telefônicas e o
direito à intimidade, ao mesmo tempo em que está conforme a ampla defesa, a liberdade
e, principalmente, a presunção de inocência do acusado. Portanto, o magistrado
poderia decidir por usar a prova considerada ilícita, neste caso, primando pelo
princípio da presunção de inocência do réu.
OBS: Art. 157, parágrafo 5º do CPP  O juiz que conhecer do conteúdo da prova
declarada inadmissível não poderá proferir a sentença ou acórdão (impedimento do
julgador).
7) Meios de Obtenção de Prova
7.1 Corpo de Delito X Exame de Corpo de Delito
a) Corpo de Delito: é o conjunto de elementos sensíveis deixados pelo ato que
comprovam a veracidade do crime/delito (deixam vestígios/indícios). É o que tornam o
crime palpável, tangível, perceptível aos sentidos. Exemplo: Uma faca, o corpo de uma
pessoa que foi morta.

OBS: Um crime que deixa vestígios é classificado como crime não-transeunte,


intranseunte ou delicta facti permanentis.
b) Exame de Corpo de Delito: é a espécie de análise feita nos corpos de delito destinada
em reunir vestígios materiais deixados pelo crime, ou seja, é de fato a própria perícia
realizada no corpo de delito. O exame de corpo de delito será realizado por perito
oficial, portadoras de diploma de curso superior (Art. 159 CPP), ou, na falta deste, por
duas pessoas idôneas portador de diploma de curso superior, nomeados como peritos ad
hoc pela autoridade competente;
Quando há presença de vestígios, a lei processual penal prevê duas espécies de exames
de corpo de delito:
I. Direto: é aquele realizado diretamente pelo perito, isto é, na presença do próprio
corpo de delito, seja ele uma coisa, um lugar ou uma pessoa. Exemplo: laudo de
exame pericial de lesões corporais feito em vítima que é apresentada perante o
médico-legista; laudo de exame pericial necroscópico feito em cadáver recolhido
no local do crime.
II. Indireto: aquele executado também pelo perito, porém, diante de dados ou
documentos produzidos por outras pessoas, com base nos vestígios do crime, ou
seja, no exame pericial indireto o perito não tem contato pessoal com o corpo de
delito. Exemplo: exame pericial feito com base em prontuário médico, cujas
lesões foram constatadas pelo médico do hospital em que a vítima foi atendida,
imagens de câmera de vigilância, fotografias tiradas durando o local do crime.
OBS: Para que o documento dos vestígios seja submetido a exame de corpo de delito
indireto pelo perito, é preciso que ele seja crível, idôneo, verossímil, apto a ser
confrontado com a realidade. Neste viés, meras fotografias de lesões apresentadas pela
vítima, sem data e sem mostrar seu rosto, mostram-se como documentos duvidosos,
inaptos para produção de exame de corpo de delito indireto.
OBS: Prioridades na realização do exame de corpo de delito (Art. 158, parágrafo único)
Nos casos que se tratar de crime que envolva: violência doméstica e familiar contra
mulher, violência contra criança, adolescente, idoso ou pessoa com deficiência.
OBS: Obrigatoriedade na realização do exame de corpo de delito
+ O exame de corpo de delito é uma importante prova pericial, sua ausência em caso de
crimes que deixam vestígios gera a nulidade (absoluta) do processo, resultando em
absolvição pela ausência ou insuficiência probatória (CPP, art. 386, II ou VII).
+ Fundamentada no artigo 158 do CPP – A confissão de uma pessoa não supera a
necessidade de ser feito o exame pericial quando a infração deixar vestígios, ou seja, se
deixar vestígios (e não tenham desaparecidos) é obrigatório a realização do exame do
corpo de delito, como é no caso do crime de homicídio, lesão corporal, dano, incêndio,
etc.
Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de
delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.

Situações Obrigatórias exigidas no CPP: Arts. 162 (nos casos de Laudo


Cadavérico/Autopsia feita pelo menos 6 (seis) horas depois do óbito), 171 (nos casos de
crimes cometidos com destruição ou rompimento de obstáculo a subtração da coisa, ou
por meio de escalada), 172 (nos casos para avaliação de coisas destruídas, deterioradas
ou que constituam produto do crime), 173 (nos casos de incêndio), 174 (nos casos de
exame para o reconhecimento de escritos, por comparação de letra) e 175 (nos casos de
a exame dos instrumentos empregados para a prática da infração, a fim de se verificar a
natureza e a eficiência, a exemplo de chave falsa, armas).

OBS: Exceções ao artigo 158 do CPP (da não obrigatoriedade/da dispensabilidade do


corpo de delito) – Art.167 do CPP
1ª Exceção A prova testemunhal ( CPP, art. 167) somente funcionará como exceção
ao exame de corpo de delito ( CPP, art. 158) nos crimes sempre intranseuntes (aqueles
que deixa vestígios) quando o desaparecimento dos vestígios se der por caso fortuito,
força maior, culpa exclusiva da vítima ou culpa exclusiva do réu (já nos casos de
desídia estatal – demora/culpa por conta do Estado - que resulta no desaparecimento
dos vestígios referente a crimes sempre intranseuntes é causa de nulidade absoluta,
não podendo ser sanada pela prova testemunhal, ou por outras provas da
materialidade).

2ª Exceção  A Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/06), em seu art. 12, § 3º, em
caráter especial, traz um regramento diverso para os crimes de lesão corporal
praticados em sede de violência doméstica contra a mulher, na medida em que
autoriza que laudos ou prontuários médicos sirvam como meio de prova suficiente,
dispensando o próprio exame de corpo de delito.

+ O artigo 167 do CPP, visando garantir a comprovação da materialidade delitiva,


antecipa a hipótese em que os vestígios desaparecem (mas não por culpa atribuída aos
órgãos da persecução penal/Estado), autorizando, neste caso, a substituição do exame
de corpo de delito pela prova testemunhal.

Art. 167. Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido
os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta.

É relevante salientar que para que a prova testemunhal tenha validade substitutiva de
exame pericial de corpo de delito, é preciso que a testemunha tenha presenciado
pessoalmente os vestígios do crime, não havendo validade probatórias os chamados
“depoimentos derivados da vítima”, ou seja, que são aqueles em que as pessoas apenas
reproduzem em juízo o que a vítima teria lhe contado.

OBS: Art. 161. O exame de corpo de delito poderá ser feito em qualquer dia e a
qualquer hora.
OBS: O artigo 184 do CPP prevê que o juiz e o delegado de polícia poderão negar
perícias requeridas pelas partes, salvo quando a perícia requerida for de exame de
corpo de delito.
OBS: Nos crimes sempre intranseuntes, ausentes os vestígios por desídia não estatal e
ausente também prova testemunhal substitutiva, a palavra da vítima isolada nos autos
não tem o condão de sustentar uma sentença, devendo o acusado ser absolvido.
OBS: Exumação é o procedimento de retirada do corpo da sepultura para fins de
perícia mediante autorização judicial por meio da expedição do alvará judicial de
exumação.
Aula 06 - 10/04
7.2 Cadeia de Custódia (Art. 158-A ao 158-F do CPP)
a) Conceito: São as ações ou procedimentos realizados de maneira sequencial e
conectada, de modo a garantir que a prova produzida fora do ambiente processual seja
colhida e mantida sem que haja alteração indevida.

OBS: Desde o final de 2022, o STJ decidiu que o desrespeito à sequência às regras da
cadeia de custódia resulta em nulidades das provas.
OBS: O local em que serão armazenadas as provas da cadeia de custódia é chamada
central de custódia, vinculadas aos institutos de criminalísticas nos termos do artigo
158-E do CPP.

Art. 158-A. Considera-se cadeia de custódia o conjunto de todos os procedimentos


utilizados para manter e documentar a história cronológica do vestígio coletado em
locais ou em vítimas de crimes, para rastrear sua posse e manuseio a partir de seu
reconhecimento até o descarte.
§ 1º O início da cadeia de custódia dá-se com a preservação do local de crime ou com
procedimentos policiais ou periciais nos quais seja detectada a existência de vestígio.
§ 2º O agente público que reconhecer um elemento como de potencial interesse para a
produção da prova pericial fica responsável por sua preservação.
§ 3º Vestígio é todo objeto ou material bruto, visível ou latente, constatado ou
recolhido, que se relaciona à infração penal.
Art. 158-B. A cadeia de custódia compreende o rastreamento do vestígio nas seguintes
etapas:
I – reconhecimento: ato de distinguir um elemento como de potencial interesse para a
produção da prova pericial;
II – isolamento: ato de evitar que se altere o estado das coisas, devendo isolar e
preservar o ambiente imediato, mediato e relacionado aos vestígios e local de crime;
III – fixação: descrição detalhada do vestígio conforme se encontra no local de crime ou
no corpo de delito, e a sua posição na área de exames, podendo ser ilustrada por
fotografias, filmagens ou croqui, sendo indispensável a sua descrição no laudo pericial
produzido pelo perito responsável pelo atendimento;
IV – coleta: ato de recolher o vestígio que será submetido à análise pericial, respeitando
suas características e natureza;
V – acondicionamento: procedimento por meio do qual cada vestígio coletado é
embalado de forma individualizada, de acordo com suas características físicas, químicas
e biológicas, para posterior análise, com anotação da data, hora e nome de quem
realizou a coleta e o acondicionamento;
VI – transporte: ato de transferir o vestígio de um local para o outro, utilizando as
condições adequadas (embalagens, veículos, temperatura, entre outras), de modo a
garantir a manutenção de suas características originais, bem como o controle de sua
posse;
VII – recebimento: ato formal de transferência da posse do vestígio, que deve ser
documentado com, no mínimo, informações referentes ao número de procedimento e
unidade de polícia judiciária relacionada, local de origem, nome de quem transportou o
vestígio, código de rastreamento, natureza do exame, tipo do vestígio, protocolo,
assinatura e identificação de quem o recebeu;
VIII – processamento: exame pericial em si, manipulação do vestígio de acordo com a
metodologia adequada às suas características biológicas, físicas e químicas, a fim de se
obter o resultado desejado, que deverá ser formalizado em laudo produzido por
perito;
IX – armazenamento: procedimento referente à guarda, em condições adequadas, do
material a ser processado, guardado para realização de contraperícia, descartado ou
transportado, com vinculação ao número do laudo correspondente;
X – descarte: procedimento referente à liberação do vestígio, respeitando a legislação
vigente e, quando pertinente, mediante autorização judicial.
Art. 158-C. A coleta dos vestígios deverá ser realizada preferencialmente por perito
oficial, que dará o encaminhamento necessário para a central de custódia, mesmo
quando for necessária a realização de exames complementares.
§ 1º Todos vestígios coletados no decurso do inquérito ou processo devem ser tratados
como descrito nesta Lei, ficando órgão central de perícia oficial de natureza criminal
responsável por detalhar a forma do seu cumprimento.
§ 2º É proibida a entrada em locais isolados bem como a remoção de quaisquer
vestígios de locais de crime antes da liberação por parte do perito responsável, sendo
tipificada como fraude processual a sua realização.
Art. 158-D. O recipiente para acondicionamento do vestígio será determinado pela
natureza do material.
§ 1º Todos os recipientes deverão ser selados com lacres, com numeração
individualizada, de forma a garantir a inviolabilidade e a idoneidade do vestígio durante
o transporte.
§ 2º O recipiente deverá individualizar o vestígio, preservar suas características, impedir
contaminação e vazamento, ter grau de resistência adequado e espaço para registro de
informações sobre seu conteúdo.
§ 3º O recipiente só poderá ser aberto pelo perito que vai proceder à análise e,
motivadamente, por pessoa autorizada.
§ 4º Após cada rompimento de lacre, deve se fazer constar na ficha de acompanhamento
de vestígio o nome e a matrícula do responsável, a data, o local, a finalidade, bem como
as informações referentes ao novo lacre utilizado.
§ 5º O lacre rompido deverá ser acondicionado no interior do novo recipiente.
Art. 158-E. Todos os Institutos de Criminalística deverão ter uma central de custódia
destinada à guarda e controle dos vestígios, e sua gestão deve ser vinculada diretamente
ao órgão central de perícia oficial de natureza criminal.
§ 1º Toda central de custódia deve possuir os serviços de protocolo, com local para
conferência, recepção, devolução de materiais e documentos, possibilitando a seleção, a
classificação e a distribuição de materiais, devendo ser um espaço seguro e apresentar
condições ambientais que não interfiram nas características do vestígio.
§ 2º Na central de custódia, a entrada e a saída de vestígio deverão ser protocoladas,
consignando-se informações sobre a ocorrência no inquérito que a eles se relacionam.
§ 3º Todas as pessoas que tiverem acesso ao vestígio armazenado deverão ser
identificadas e deverão ser registradas a data e a hora do acesso.
§ 4º Por ocasião da tramitação do vestígio armazenado, todas as ações deverão ser
registradas, consignando-se a identificação do responsável pela tramitação, a destinação,
a data e horário da ação.
Art. 158-F. Após a realização da perícia, o material deverá ser devolvido à central de
custódia, devendo nela permanecer.
Parágrafo único. Caso a central de custódia não possua espaço ou condições de
armazenar determinado material, deverá a autoridade policial ou judiciária determinar
as condições de depósito do referido material em local diverso, mediante requerimento
do diretor do órgão central de perícia oficial de natureza criminal.
7.3 Interrogatório do Acusado (Arts. 185 ao 196 do CPP)
a) Conceito: é o ato processual pelo qual o juiz ouve o acusado, ou seja, o momento em
que o acusado tem a oportunidade de esclarecer os fatos e relatos e eventuais acusações,
além de ser o momento em que o juiz tem a oportunidade de conhecer a pessoa do
acusado, seu histórico familiar e seus hábitos.
OBS: O interrogatório é considerado um meio de prova porque leva elemento de
convicção ao julgador.
OBS: No interrogatório judicial, é obrigatório a assistência da defesa.

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