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22 de Setembro de 2023

Ação Penal
Publicado por Wesley Caetano ano passado

Imagem de Klaus Hausmann por Pixabay

1 Conceito

Para Carnelutti, ação é o direito de exigir do Estado a aplicação


da lei no caso concreto. Não é um direito exercido em face do
réu, mas sim do Estado-Juiz, para que este exerça a jurisdição.

O legislador, ao criar leis, diz o direito no plano abstrato, ao


passo que o Estado-Juiz diz o direito no caso concreto, por meio
SAIBA
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O processo
My Research Folderse inicia a partir do exercício do direito de ação e
tem natureza de relação jurídica processual que se desenvolve
entre três atores: autor, réu e Estado-Juiz. O autor da ação pe-
nal irá provocar o Estado-Juiz e este vai citar o réu para que
apresente resposta à acusação. O autor da ação deverá produzir
provas, pois pertence a ele o ônus de provas as alegações. O réu
pode produzi-las em prol de sua defesa. A prova produzida pelo
autor pode ser contraditada pelo réu e vice-versa.

2 Modalidades de ação penal

No ordenamento jurídico brasileiro fala-se em ação penal de


iniciativa pública e ação penal de iniciativa privada.

A ação penal sempre será pública. Porém a iniciativa para o


exercício do direito de ação pode ser pública ou privada.

Há, ainda, as ações autônomas de impugnação ou não condena-


tórias, como o habeas corpus (remédio constitucional para a tu-
tela da liberdade ambulatorial), revisão criminal (que visa des-
constituir a coisa julgada material contrária ao réu) e o man-
dado de segurança.

2.1 Ação penal de iniciativa pública

A titularidade da ação penal de iniciativa pública é do Ministério


Público, conforme se depreende do art. 129, I, da Constituição
Federal, in verbis:

Art. 129. São funções institucionais do Ministério


Público:

I - promover, privativamente, a ação penal pública, na


formaàsda
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Esta norma
My Research Folderconstitucional consagrou o princípio da inércia da
jurisdição e sepultou os chamados procedimentos judicialifor-
mes, isto é, processos criminais iniciados e julgados pelo juiz, o
que é totalmente incompatível com o sistema acusatório.

O princípio da inércia da jurisdição é compatível com a ideia de


impulso oficial. O juiz não pode iniciar o processo, porém este
uma vez iniciado por provocação do autor da ação penal, caberá
ao juiz impulsionar seu andamento.

Denúncia é o nome da petição inicial acusatória na ação penal


pública.

A ação penal de iniciativa pública é regida pelo princípio da


obrigatoriedade, de modo que se no caso concreto o MP enten-
der que existe justa causa, ele estará obrigado a oferecer denún-
cia. Essa princípio é afastado no caso de transação penal, acordo
de não persecução penal, colaboração premiada da Lei de Orga-
nizacoes Criminosas.

2.1.1 Subdivisões da ação penal de iniciativa pública

a) ação penal pública incondicionada

A regra é que toda infração penal seja de ação penal pública in-
condicionada. Quando a lei não faz previsão acerca do tipo de
ação penal, aplica-se essa regra.

b) ação penal pública condicionada a representação da


vítima

São exemplos a ameaça (art. 147 CP), perseguição (art. 147-A


CP), lesão corporal de natureza leve/culposa (por força do art.
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acesso Lei n. 9.099/95), etc. gratuitas. Assine para uso ilimitado de
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Até antes
My Research da Lei n. 13.718/18 , os crimes sexuais eram, em regra,
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de ação penal pública condicionada a representação do ofendido
e só seriam de ação penal pública incondicionada se a vítima
fosse menor de 18 anos, vulnerável ou na hipótese da Súmula
608 do STF, ou seja, quando houvesse um estupro mediante vi-
olência física.

A partir da Lei n. 13.718/18, todos os crimes sexuais passaram a


ser de ação penal pública incondicionada. Por se tratar de lei
maléfica, ela não retroage.

O estelionato era crime de ação penal pública incondicionada


até o advento do Pacote Anticrime, passando a ser, em regra, de
ação penal pública condicionada a representação do ofendido,
salvo se for contra a administração pública, quando a vítima
maior de 70 anos, menor de idade ou incapaz.

c) ação penal pública condicionada a requisição no Mi-


nistro da Justiça

Trata-se de uma requisição imprópria, pois requisitar significa


ordenar, obrigar e o Ministro da Justiça não pode obrigar o titu-
lar da ação penal a oferecer denúncia.

São três os crimes de ação penal pública condicionada a requisi-


ção no Ministro da Justiça: praticado contra a honra do Presi-
dente da República; contra a honra de chefe do governo estran-
geiro; praticado no exterior por um estrangeiro contra um
brasileiro.

2.2 Ação penal de iniciativa privada

A peça inicial acusatória na ação penal de iniciativa privada se


Você tem chama queixa-crime
acesso somente e cabe ao
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O ofendido
My Research Foldersó pode propor a queixa-crime por intermédio de
advogado.

Na procuração outorgada ao advogado deve constar expressa-


mente poderes específicos constando o nome da pessoa que será
processada criminalmente e narrativa do fato imputado.

Em regra, se o ofendido morrer ou for declarado ausente por de-


cisão judicial, o direito de oferecer a queixa-crime passará para
o cônjuge ou companheiro (a), ascendentes, descendentes ou ir-
mãos. Conforme veremos, isso não se aplica no caso da ação pe-
nal de iniciativa provada personalíssima.

2.2.1 Subdivisões da ação penal de iniciativa privada

a) ação penal privada exclusivamente


privada/propriamente dita

São exemplos os crimes contra a honra, como calúnia, injúria e


difamação.

Exceções: crimes contra a honra do Presidente da República ou


do chefe de governo estrangeiro; crimes contra a honra que
constituem crimes eleitorais; injúria qualificada/preconceituosa

No caso de crimes contra a honra do funcionário público, o


ofendido opta por oferecer representação ou queixa-crime.
Nesse sentido, a Súmula 714 do STF: "É concorrente a legitimi-
dade do ofendido, mediante queixa, e do Ministério Público,
condicionada à representação do ofendido, para a ação penal
por crime contra a honra de servidor público em razão do exer-
cício de suas funções."

Você tem b) ação


acesso penal
somente privada personalíssima
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Só ocorre
My Research em dois casos, presentes num mesmo tipo penal, qual
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seja, o art. 236 do CP: o erro essencial sobre a pessoa no casa-
mento e a ocultação dolosa de impedimento a casamento que
não seja um casamento anterior.

c) ação penal privada subsidiária da pública

Vide meu artigo no link Ação penal privada subsidiária da pú-


blica (jusbrasil.com.br)

3. Ação de prevenção penal

A ação penal é proposta, em regra, objetivando uma


condenação.

Porém, pode acontecer que desde a fase de investigação já se


constata, por meio de incidente de insanidade mental, que o
agente é inimputável. Nessa hipótese, o autor da ação penal irá
requerer a absolvição imprópria (o juiz absolve o réu e lhe im-
põe medida de segurança). A essa ação dá-se o nome de ação de
prevenção penal.

Pode ocorrer também que a inimputabilidade seja reconhecida


apenas durante a ação penal condenatória, e, de igual modo, o
juiz, na sentença, irá prolatar a absolvição imprópria.

4. Dos prazos nas ações penais

Não existe prazo para o MP ajuizar a ação penal pública, po-


dendo oferecer denúncia a qualquer tempo desde que não tenha
sobrevindo a prescrição.

O ofendido deverá formular a representação no prazo de seis


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acesso somente do conhecimento
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gratuitas. autoria. Trata-se
para uso ilimitadode
de prazo
Jurisprudência, Modelos eou
decadencial, Peças.
seja, é de direito material, devendo incluir o pri-

meiro dia
My Research na contagem e desconsiderar frações de dia. É um
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prazo improrrogável, de modo que se se encerrar em dia não
útil, não será prorrogado para o dia útil subsequente. Também
não se suspende e não se interrompe.

A representação não exige nenhum rigor formal, não precisa ser


escrito, pode ser feito sem advogado, a notitia criminis apresen-
tada em Delegacia já vale como representação.

Cabe retratação da representação desde que o MP ainda não te-


nha oferecido denúncia.

Nos crimes de violência doméstica ou familiar contra a mulher,


o art. 16 da Lei Maria da Penha estabelece que a retratação pode
ocorrer até o recebimento da denúncia pelo juiz, que se dará em
audiência designada especialmente para essa finalidade, com a
presença do juiz, vítima, seu defensor e MP (o agressor e seu de-
fensor não estarão presentes). Essa dinâmica visa examinar se a
retratação é fruto da vontade livre da vítima ou se ela está sendo
coagida ou ameaçada.

Para a requisição do Ministro da Justiça não há prazo, podendo


formulá-la a qualquer tempo, desde que não tenha sobrevindo a
prescrição.

O prazo para a propositura da queixa-crime também é decaden-


cial e sempre será de seis meses para qualquer das três modali-
dades de ação penal de iniciativa privada. O que muda é o
marco inicial do prazo:

Na ação penal de iniciativa privada propriamente dita, o prazo


se inicia a partir do conhecimento da autoria da infração penal.

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Na açãoFolder
My Research penal privada personalíssima, o prazo é contado a par-
tir do trânsito em julgado da ação civil que anulou o casamento;
neste caso, a anulação do casamento é uma condição objetiva de
punibilidade.

Na ação penal subsidiária da pública o prazo se inicia a partir do


momento em que o MP deixa escoar o prazo para oferecer a de-
núncia ou solicitar diligências.

Referências bibliográficas:

TÁVORA, Nestor; ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Curso de di-


reito processual penal / Salvador, JusPODIVM, 2019.

ARAÚJO, Fábio Roque; COSTA, Klaus Negri . Processo penal


didático / Salvador, JusPODIVM, 2019.

Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/artigos/acao-penal/1599086971

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