Você está na página 1de 23

1

AÇÃO PENAL:

DIREITO DE AÇÃO PENAL, CARACTERÍSTICAS DO DIREITO DE AÇÃO


PENAL, CONCEITO DE AÇÃO PENAL, ESPÉCIES DE AÇÃO PENAL, CRITÉ-
RIO IDENTIFICADOR E LEGITIMIDADE ATIVA CONCORRENTE.

Do Direito de Ação Penal - Em verdade, o direito de ação tem base na Constituição da


República Federativa do Brasil de 1.988, no Artigo 5º, XXXV, que ordena:
Art. 5ª, XXXV – a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou
ameaça do direito.

EXPLICAÇÃO: Estado substitui as partes em suas desavenças, impedindo que haja a


preponderância da lei do mais forte e, em contrapartida, para evitar a lei dessa
preponderância, age como terceiro nessas relações de atrito. Dessa forma, esse dispositivo
constitucional garante o direito de pedir ao Estado-Juiz a prestação jurisdicional mediante
a aplicação do direito (penal objetivo) a um caso concreto.

A doutrina descreve: “Do crime nasce a pretensão punitiva estatal, mas não
o direito de ação, que preexiste à prática da infração penal, aliás, como
direito constitucional (art. art. 5º, XXXV, CF).1”

Atenção - Quando há prática de um crime, a sociedade reivindica que o Estado interceda


no ato criminoso, aplique a lei ao caso concreto e afaste, em alguns casos, os cidadãos
inatos ao convívio social. É possível haver o direito de ação sem estar, necessariamente,
adstrita a consecução de uma pretensão punitiva, pois pode ser que o cidadão, enquanto
querelante, ou o Ministério Público entrem em juízo uma ação penal mesmo que esteja
fadada a um fracasso processual.

A doutrina descreve: “É o direito público subjetivo de pedir ao Estado-Juiz


a aplicação do direito penal objetivo ao caso concreto2”.

1
Guilherme NUCCI – Código de Processo Penal Comentado.

2
Nestor TÁVORA – Curso de Direito Processo Penal.

Professor Gabriel Godoi – Processo Penal.


2

Características do Direito de Ação Penal - As principais características do direito de


ação penal são:

a) Direito público: a atividade jurisdicional que se pretende provocar


é de natureza pública. Daí se dizer que a ação penal é um direito público.

Atenção! Mesmo quando é o querelante o ente privado que instrumentaliza a ação penal
privada, o direito de ação tem essência pública.

b) direito subjetivo: o titular do direito de ação penal pode exigir do


Estado-Juiz a prestação jurisdicional, relacionada a um caso concreto;

Atenção - O direito subjetivo é do sujeito titular da ação penal, mas não implica,
necessariamente, no acolhimento da pretensão punitiva.

c) direito autônomo: o direito de ação penal não se confunde com o


direito material que se pretende tutelar;

d) direito abstrato: o direito de ação existe e será exercido mesmo


nas hipóteses em que o juiz julgar improcedente o pedido de
condenação do acusado. Ou seja, o direito de ação independe da
procedência ou improcedência da pretensão acusatória;

e) direito determinado: o direito de ação é instrumentalmente


conexo a um fato concreto, já que pretende solucionar uma pretensão
de direito material;

Atenção - Deve haver a chamada “causa de pedir”, que é o fato o qual se relaciona o
direito de ação.

f) Direito específico: o direito de ação penal apresenta um conteúdo,


que é o objeto da imputação, ou seja, é o fato delituoso cuja prática é
atribuída ao acusado.

Professor Gabriel Godoi – Processo Penal.


3

Conceito de Ação Penal - A ação penal é fase da persecução criminal na qual se busca
a satisfação da pretensão punitiva, em contraditório e com controle judicial, em face de
um acusado que, por via de consequência, leva a termo o seu direito de ampla defesa
em suporte à sua liberdade ambulatória.

Atenção - No Brasil, pode-se perceber duas fases da persecução criminal: a fase que a
doutrina denomina como pré-processual (se dá no inquérito policial) e a fase processual
(quando ocorre a ação penal).

Atenção - Se não há acusação, não há ação penal. Por via de consequência, a


possibilidade da satisfação da pretensão punitiva só será viável com o devido processo
legal. Assim, garantindo-se o exercício do direito da ação (acusação), seja pelo MP seja
pelo querelante, também se garante, na mesma medida, o direito ao contraditório e à
ampla defesa.

Atenção - Nessa construção dialética entre a acusação e a defesa, à luz das provas
produzidas nos autos, é que o Estado-Juiz levará a efeito a prestação jurisdicional,
podendo culminar com a aplicação de lei penal incriminadora, com condenação,
absolvição ou extinção da ação penal, devido a alguma incidência

Espécies de Ação Penal - Há duas espécies de ação penal summa diviso – sob a
perspectiva da legitimação ativa:

1 - Pública – quando o autor é o MP que se subdivide em:

1.a) Pública incondicionada, quando o MP age de ofício sem a


requisição ou a representação de quem quer que seja;
1.b) Pública condicionada, quando o MP somente está autorizado a agir,
em caso de haver representação da vítima ou requisição do Ministro da
Justiça. Vide art. 24, CPP.

O relevante é que a vítima, ou seu representante legal, revele o interesse claro e


inequívoco de ver o autor do fato investigado ou acionado judicialmente. Vide o art. 39,
CPP. A representação pode ser retratada enquanto não oferecida a denúncia. O limite para

Professor Gabriel Godoi – Processo Penal.


4

a retratação da representação é o do oferecimento da exordial acusatória pelo MP. Uma


vez oferecida a denúncia, a representação torna-se irretratável. Vide o art. 25 do CPP:

2- Privada – quando o autor é a vítima ou o seu representante legal. A


ação penal privada também pode ser:

2.a) Subsidiária da pública (cf. art. 29, CPP) – quando o direito de agir
transfere-se ao particular em face do MP, que se queda inerte diante do
seu mister. Nesde último caso, a AP inicia-se por queixa e é tratada
como privada. Vide art. 30, CPP.

Atenção - O ofendido ou seu representante legal será denominado querelante, que


instrumentaliza a ação penal privada.

São entendimentos sumulares do STF sobre essa matéria:


Súmula 608 - No crime de estupro, praticado mediante violência real, a ação
penal é pública incondicionada.
Súmula 609 - É pública incondicionada a ação penal por crime de sonegação
fiscal.

O STF no bojo da ADIN 4424 em face da Lei Maria da Penha já decidiu:

“O Tribunal, por maioria e nos termos do voto do Relator, julgou procedente


a ação direta para, dando interpretação conforme aos artigos 12, inciso I, e 16,
ambos da Lei nº 11.340/2006, assentar a natureza incondicionada da ação
penal em caso de crime de lesão, pouco importando a extensão desta, praticado
contra a mulher no ambiente doméstico”.

Critério Identificador da Ação Pública ou Privada - Tal critério é legal e ascende do


CP no seu art. 100. Quando a lei silencia, presume-se ser a ação penal pública
incondicionada.

Art.100.A ação penal é pública, salvo quando a lei expressamente a declara


privativa do ofendido.

Professor Gabriel Godoi – Processo Penal.


5

No caso das AP de iniciativa privada e pública condicionada, há de haver menção


expressa da lei nesse sentido, ainda cf. o art. 100, CP:
§1º A ação pública é promovida pelo Ministério Público, dependendo, quando
a lei o exige, de representação do ofendido ou de requisição do Ministro da
Justiça.
§2º A ação de iniciativa privada é promovida mediante queixa do ofendido ou
de quem tenha qualidade para representá-lo.

Legitimidade Ativa Concorrente - Em regra, a AP pode ser pública (incondicionada ou


condicionada) ou privada, sendo que uma exclui a outra. Todavia, essa divisão comporta
exceções: A primeira exceção vem do que prescreve o art. 29, CPP:

Art.29.Será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for
intentada no prazo legal, cabendo ao Ministério Público aditar a queixa, repudiá-la e
oferecer denúncia substitutiva, intervir em todos os termos do processo, fornecer
elementos de prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do
querelante, retomar a ação como parte principal.

A segunda exceção é a possibilidade de o funcionário público, ofendido em sua honra no


exercício da função, que deveria sempre, quando desejasse ver processado o ofensor,
representar ao MP para que este promova a AP pública, cf. o art. 145, parágrafo único,
CP:

Art.145.Nos crimes previstos neste Capítulo somente se procede mediante


queixa, salvo quando, no caso do art. 140, § 2º, da violência resulta lesão
corporal.
Parágrafo único. Procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça, no
caso do inciso I do caput do art. 141 deste Código, e mediante representação
do ofendido, no caso do inciso II do mesmo artigo, bem como no caso do § 3º
do art. 140 deste Código.

O STF, em sede sumular, tem o seguinte entendimento sobre essa última exceção:

Súmula 714 - É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e


do ministério público, condicionada à representação do ofendido, para a ação

Professor Gabriel Godoi – Processo Penal.


6

penal por crime contra a honra de servidor público em razão do exercício de


suas funções.

INÍCIO DA AÇÃO PENAL - Dá-se pelo oferecimento da denúncia ou da queixa (peça


acusatória), independentemente do recebimento pelo Estado-Juiz, vide o que prescreve
o art. 24, CPP:

Art. 24. Nos crimes de ação pública, esta será promovida por denúncia do
Ministério Público, mas dependerá, quando a lei o exigir, de requisição do
Ministro da Justiça, ou de representação do ofendido ou de quem tiver
qualidade para representá-lo.

De outro lado, o juiz, ao receber a denúncia ou queixa, leva a termo o reconhecimento da


regularidade do exercício do direito de ação, podendo-se, então, promover a consecução
da busca de uma decisão de mérito através do devido processo legal. Ao rejeitar a peça
exordial da AP, o Estado-Juiz também responde ao direito de ação da parte, prestando
satisfação e aplicando o direito, exercendo a jurisdição. Há ainda de se lançar luzes sobre
o início da ação penal privada que interrompe o prazo de decadência, viabilizando o
desenvolvimento do Jus Persequendi do querelante no bojo da ação penal privada. O juiz,
ao receber a peça exordial, cf. NUCCI, promove o entendimento de que esta “encontra-
se em termos para estabelecer a relação processual completa, chamando-se o Réu a
Juízo para comparecer ao processo” e exercer, por via de consequência, o seu direito
de defesa (trata-se da figura triangular, em que os três atores do processo, acusação, defesa
e órgão julgador, interagem).

FUNDAMENTAÇÃO PARA O RECEBIMENTO DA DENÚNCIA OU QUEIXA -


“O recebimento da denúncia ou da queixa-crime possui natureza de decisão
interlocutória simples. Trata-se de decisão irrecorrível, em que pese, na esteira de
consolidada jurisprudência, possa ser impugnada por meio de habeas corpus, se o crime
imputado for punido com pena de prisão, e por meio de mandado de segurança ou
correição parcial, caso se trate de infração não sujeita a pena privativa de liberdade (…),
conforme se extrai da Súmula 693 do Supremo Tribunal Federal.”

Professor Gabriel Godoi – Processo Penal.


7

Entendimento jurisprudencial: A decisão de recebimento da denúncia, como regra


geral, não carece ser motivada, pois o magistrado, com o recebimento, revela, em razão
do inserto da denúncia e contido nos elementos geradores da opinio delicti ministerial,
presente o fumus autorizador da imputação, vide HC 1899.316-3/3 TJSP.

RECEBIMENTO FUNDAMENTADO DA DENÚNCIA OU QUEIXA - Há, todavia,


exceções que demandam a fundamentação do Estado-juiz em relação ao recebimento da
peça acusatória, a saber:

1 - Crimes para os quais o procedimento prevê a apresentação de defesa preliminar, pelo


denunciado, antes do recebimento da denúncia, exemplo do art. 514, CPP, quando há
processo e julgamento dos crimes de responsabilidade dos funcionários públicos: Nesse
caso, o juiz põe a salvo o interesse público.

Art. 514. Nos crimes afiançáveis, estando a denúncia ou queixa em devida


forma, o juiz mandará autuá-la e ordenará a notificação do acusado, para
responder por escrito, dentro do prazo de quinze dias.

2 - Crimes de competência originária dos tribunais superiores, estaduais e regionais,


conforme, por exemplo, o art. 6º, Lei n. 8.038/1990: Mais uma vez, leva-se em
consideração o interesse público.

Art. 6º A seguir, o relator pedirá dia para que o Tribunal delibere sobre o
recebimento, a rejeição da denúncia ou da queixa, ou a improcedência da
acusação, se a decisão não depender de outras provas.

Atenção! O STF, em sede sumular, tem o seguinte entendimento sobre esta última exce-
ção, Súmula n. 714:

É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do ministério


público, condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por
crime contra a honra de servidor público em razão do exercício de suas
funções.

Professor Gabriel Godoi – Processo Penal.


8

Assim, se o crime for contra a honra do servidor, tanto este quando o MP têm legitimidade
para levar a termo a ação penal.

CONDIÇÕES DA AÇÃO PENAL - A ação penal se inicia com o oferecimento da peça


exordial (denúncia ou queixa). Ela é tida como ajuizada quando o juiz a recebe. E a
relação processual se aperfeiçoa uma vez que o réu é validamente citado, passando a
integrar o processo.

Todavia, para que o recebimento da exordial ocorra, o juiz faz um juízo de


admissibilidade, no qual faz-se a observação das condições da ação.

Condições da ação são: “Os requisitos mínimos indispensáveis para a formação da


relação processual que irá, após a colheita da prova, redundar na sentença, aplicando-
se a lei penal ao caso concreto.”
• “São os requisitos necessários e condicionantes ao exercício regular do direito de
ação. Como se depreende, o exercício do direito de ação não se pode traduzir numa
aventura desmedida.

É certo que a deflagração da ação implica sérias consequências ao réu, exigindo-se do


demandante (acusador) o preenchimento de certas condições para que o pleito
jurisdicional possa ser exercido de forma legítima.”

Atenção - Oportunidade para verificação das condições da ação: a verificação para


incidência das condições da ação é de ordem pública e pode ser reconhecida a qualquer
tempo (por ser matéria de interesse público), pelo juiz. Em havendo ausência das
condições da ação, ascende a carência da ação e a consequente extinção do processo sem
julgamento meritório.

CONDIÇÕES GENÉRICAS DA AÇÃO PENAL - As condições genéricas da ação,


que hão de ser observadas em toda e qualquer ação penal, são os parâmetros que o juiz
utiliza na apreciação vestibular da exordial. Assim, se ausentes tais requisitos que dão
pálio para que o processo se aperfeiçoe, o juiz há de rejeitar a denúncia ou a queixa, cf.
art. 395, II, CPP. São elas:

Professor Gabriel Godoi – Processo Penal.


9

➔ Possibilidade jurídica do pedido;


➔ Interesse de agir; e
➔ Legitimidade de parte.

POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO - Constitui a possibilidade, ao menos em


tese, da pretensão de condenação do réu ser atendida. Ou seja, a imputação carreada na
peça acusatória é adstrita a um fato tido como delituoso.

Por consequência a imputação feita na denúncia ou queixa diz respeito a:

→ fato típico; → ilícito e → culpável.

INTERESSE DE AGIR - Há interesse de agir quando se observa na acusação:

→ Necessidade → adequação e → utilidade da ação penal.

• Interesse-Necessidade – da existência do devido processo legal para


existir uma condenação que submeta alguém a uma sanção penal.
• Interesse-Adequação – a AP há de ser promovida nos termos
estabelecidos pela lei processual penal e com lastro em elementos de prova
pré-constituídos
• Interesse-Utilidade – a AP há de ser útil, mesmo que somente em tese,
em prol da realização da pretensão punitiva do Estado.

LEGITIMIDADE DA PARTE - Com o ingresso da peça exordial, o juiz há de verificar


se há legitimidade das partes para configurar os polos da ação penal, tanto no ativo
(acusador) quanto no passivo (acusado). Assim, o juiz certifica se estão presentes a
legitimidade ad causam e a ad processum.
• Legitimidade ad causam – para a causa – no polo ativo da AP,
deve figurar o MP (ação penal pública) ou o querelante (ação penal
privada), ou seu representante legal; no polo passivo, deve estar a
pessoa em relação a qual pesa a imputação.

Professor Gabriel Godoi – Processo Penal.


10

• Legitimidade ad processum – para o processo – no polo ativo da


AP, deve estar um membro do MP (ação penal pública) com atribuição
legal para agir ou o querelante (ação penal privada), ou seu
representante legal (ofendido menor de 18 anos, por exemplo),
evidamente patrocinado por advogado. O juiz observa a capacidade
postulatória.

JUSTA CAUSA PARA A AÇÃO PENAL - “A justa causa, em verdade, espelha uma
síntese das condições da ação. Inexistindo uma delas, não há justa causa para a ação
pena”l. Nas palavras de Nestor Távora, “A ação só pode ser validamente exercida se a
parte autora lastrear a inicial com um mínimo probatório (indícios mínimos de autoria
e materialidade e as circunstâncias) que indique os indícios de autoria, da materialidade
delitiva, e da constatação da ocorrência de infração penal em tese (art. 395, I1I, CPP).
É o fumus commissi delicti (fumaça da prática do delito) para o exercício da ação penal.”

CONDIÇÕES ESPECÍFICAS DA AÇÃO PENAL - Há de se destacar ainda que no


contexto do processo penal pátrio existem também condições específicas da ação penal.
São elas:

Condições de procedibilidade – representação da vítima ou seu representante legal,


vide art. 24, in fine, CPP, e a (b) requisição do Ministro da Justiça, vide art. 145,
parágrafo único, CP, nos crimes a ela condicionados. Sem esses elementos, o inquérito
policial não poderá ser instaurado e a ação penal não poderá ser iniciada.

Condições objetivas de punibilidade - (a) sentença anulatória do casamento, no crime


de induzimento a erro ao matrimônio, vide art. 236, CP; (b) ingresso no país, do autor de
crime praticado no estrangeiro, vide art. 7º, §§ 2º, “a” e “b”, e 3º, CP; (c) declaração da
procedência da acusação, pela Câmara dos Deputados, no julgamento do Presidente da
República, vide art. 86, CF; (d) sentença que decreta a falência, concede a recuperação
judicial ou extrajudicial, nas infrações falimentares, vide art. 180, Lei n. 11.101/2005.

PRINCÍPIOS DA AÇÃO PÚBLICA:

Professor Gabriel Godoi – Processo Penal.


11

1) Obrigatoriedade – Legalidade processual – presentes os requisitos legais, o MP está


obrigado a oferecer a acusação (denúncia) em prol do início da ação penal.
Se os fatos que chegam carreiam os elementos mínimos que dão ensejo à consecução da
ação penal privada, o MP não pode tergiversar. Assim, no âmbito dos crimes de ação
penal pública incondicionada, não tem cabimento juízo de conveniência ou oportunidade
por parte do titular da AP. Vide o que ordena o art. 24 do CPP.

A ação penal pública será promovida por denúncia do MP quando houver a incidência
dos elementos mínimos: autoridade do crime, materialidade e circunstâncias.

Atenção - Na seara dos crimes de menor potencial ofensivo (pena menor que 2 anos ou
as contravenções penais), sob os auspícios da Lei n. 9.099/1995, que instituiu os Juizados
Especiais Criminais (JECRIM), há relativização desse princípio em relação aos crimes de
ação penal pública. Aqui há o princípio da obrigatoriedade mitigada (discricionariedade
regrada), existindo a possibilidade de transação penal e composição civil entre as partes.
Vide art. 76 da Lei n. 9.099/1995:
Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal pública
incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá
propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser
especificada na proposta.
(…)
§ 4º Acolhendo a proposta do Ministério Público aceita pelo autor da infração,
o Juiz aplicará a pena restritiva de direitos ou multa, que não importará em
reincidência, sendo registrada apenas para impedir novamente o mesmo
benefício no prazo de cinco anos.

2) Indisponibilidade – Uma vez proposta a ação, o Ministério Público não pode dela
dispor, cf. art. 42 do CPP. Da mesma forma, não pode o MP desistir de recurso interposto,
cf. art. 576 do CPP. Por óbvio, a acusação não é obrigada a interpor recurso, todavia, se
o fizer, não poderá desistir do recurso manejado.

Art. 42. O Ministério Público não poderá desistir da ação penal.


Art. 576. O Ministério Público não poderá desistir de recurso que haja
interposto.

Professor Gabriel Godoi – Processo Penal.


12

Atenção - Também no campo dos crimes de menor potencial ofensivo, há a relati-


vização desse princípio em relação aos crimes de ação penal pública. Aqui o princípio da
indisponibilidade é mitigado pela possibilidade de suspensão condicional do processo
(sursis processual) em face da prática de infrações penais com pena mínima não superior
a 1 ano. Vide art. 89 da Lei n. 9.099/1995:

Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a
um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a
denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos,
desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado
por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão
condicional da pena (art. 77, do Código Penal).

3) Oficialidade – a persecução criminal in juditio (ação penal), assim como a extra juditio
(inquérito policial), está a cargo de um órgão oficial. Em juízo é o MP o órgão responsável
e, na investigação criminal policial, é a polícia judiciária, através do delegado de polícia.
4) Autoritariedade – o titular da ação penal é uma autoridade pública, sendo membro do
MP.
5) Oficiosidade – a ação penal pública incondicionada não demanda autorização para se
instaurar, devendo o Ministério Público atuar ex officio.
6) Da indivisibilidade – a ação penal deve estender-se a todos aqueles que praticaram a
infração criminal. Assim, o MP tem o dever de ofertar a denúncia em face de todos os
envolvidos (o MP não escolhe réu).
7) Intranscendência – Pessoalidade – a ação penal só há de ser proposta em face de quem
se imputa a prática de uma infração penal. Logo, a ação penal não pode alcançar terceiros
que não tenham concorrido de alguma forma para o cometimento da infração objeto da
persecução criminal. Vide art. 29 do CP:

Art. 29. Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a
este cominadas, na medida de sua culpabilidade.

PRINCÍPIOS DA AÇÃO PRIVADA

Professor Gabriel Godoi – Processo Penal.


13

1) Oportunidade – Conveniência – é facultado à vítima decidir entre ofertar ou não a


ação (querela), sendo ela a titular do direito de ação. Assim, o exercício da ação penal
privada é de pura conveniência do ofendido, exercendo a ação apenas e tão somente se o
desejar.

Atenção - Se a vítima ou se representante legal não exerce o seu direito de ação, na seara
dos crimes de ação penal privada, deixando transcorrer o tempo por 6 (seis) meses,
ascende nesse cenário a decadência. De outro lado, pode também a vítima renunciar ao
seu direito de ação de forma expressa ou tácita.

IMPORTANTE – Ler os arts. 38, 49, 50 e 57 do CPP:

Atenção - Não se pode olvidar que a renúncia é um ato unilateral (vem antes da querela)
da vítima, ao passo que o perdão é um ato bilateral (vem com a querela em curso). A
bilateralidade do perdão se justifica pela possibilidade de o réu desejar provar a sua
inocência, objetivando que o processo evolua, para sagrar-se absolvido.
3) Indivisibilidade – Deve o querelante, ao optar pelo processamento dos autores da
infração, fazê-lo em detrimento de todos os envolvidos. Ou seja, ou a ação penal é contra
todos, ou é contra ninguém. Nesse contexto, o MP atua como custos legis, zelando pelo
princípio da indivisibilidade. Vide Arts. 48 e 49 do CPP:

Questões:

1 - A.T. e L.R. são candidatos ao cargo de síndico do Edifício Maravilha. Em uma reunião de
condomínio, estando presentes cerca de 30 pessoas, A.T. faz inflamado discurso e arremata com
a frase de caráter dúbio: “L.R. tem tudo o que tem porque pegou na mão grande”. L.R., sentindo-
se profundamente ofendido, procura a tutela de seus direitos na Delegacia de Polícia competente.
Diante do caso prático, assinale a alternativa correta.
a) L.R. tem 6 meses para exercer o seu direito de queixa, contados do dia em que vier a
saber quem é o autor do crime.
b) Em caso de morte de L.R., o direito de oferecer queixa ou prosseguir na ação passará
ao seu cônjuge, descendente ou inventariante.

Professor Gabriel Godoi – Processo Penal.


14

c) O pedido de instauração de inquérito policial suspende o transcurso do prazo


decadencial para propositura da queixa enquanto o inquérito não estiver relatado pela
autoridade policial.
d) Caso L.R. não exerça seu direito de queixa, poderá o síndico do Edifício Maravilha
solicitar a abertura de inquérito e posterior oferecimento de queixa, eis que os fatos
interessam diretamente ao condomínio.
e) Não é possível a propositura de queixa sem que tenha sido instaurado previamente o
inquérito policial.
( ) ( )

2 - Jorge foi preso em flagrante pela prática do delito de roubo. Durante as investigações,
descobriram-se mais vítimas dessa prática criminosa, angariando-se mais documentação
que comprovariam esses demais delitos praticados por Jorge. Como se sabe, esses autos
são enviados ao Ministério Público, que é quem tem, por lei, a função privativa de
promover a ação penal pública. Em relação à ação penal, assinale a alternativa correta.
a) O prazo para oferecimento da denúncia, estando o réu preso, será de 5 dias, contado da
data em que o órgão do Ministério Público receber os autos do inquérito policial, e de 15
dias, se o réu estiver solto ou afiançado.
b) O prazo para oferecimento da denúncia, estando o réu preso, será de 10 dias, contado
da data em que o órgão do Ministério Público receber os autos do inquérito policial, e de
20 dias, se o réu estiver solto ou afiançado.
c) O prazo para oferecimento da denúncia, estando o réu preso, será de 5 dias, contado da
data em que o órgão do Ministério Público receber os autos do inquérito policial, e de 20
dias, se o réu estiver solto ou afiançado.
d) O prazo para oferecimento da denúncia, estando o réu preso, será de 10 dias, contado
da data em que o órgão do Ministério Público receber os autos do inquérito policial, e de
15 dias, se o réu estiver solto ou afiançado.
e) O prazo para oferecimento da denúncia, estando o réu preso, será de 15 dias, contado
da data em que o órgão do Ministério Público receber os autos do inquérito policial, e de
30 dias, se o réu estiver solto ou afiançado.
( ) ( )

Professor Gabriel Godoi – Processo Penal.


15

3 - A Lei 13.964/19 – o chamado “Pacote Anticrime” – incluiu na legislação processual


penal a figura do Acordo de Não Persecução Penal (ANPP), no qual o Ministério Público
poderá realizar o acordo com o autor do delito, desde que preenchidos os requisitos legais,
ampliando-se, assim, as hipóteses da chamada justiça negociada no Processo Penal.
Em relação ao tema, observam-se os requisitos legais listados nas alternativas a seguir, À
EXCEÇÃO DE UMA. Assinale-a.
a) A pena em abstrato deve ser inferior a 4 anos, independente se seja hipótese de
transação penal de competência do JECrim.
b) O agente não pode ser reincidente.
c) O agente não pode ter sido beneficiado nos últimos 5 anos com o acordo de não
persecução penal, transação ou suspensão condicional do processo.
d) A acusação não pode ser crime praticado com violência ou grave ameaça contra pessoa.
e) Não deve ser caso de arquivamento da investigação.
( ) ( )

4 - Pedro se desentendeu com seu melhor amigo, José, em virtude de posições políticas
antagônicas e, ao se encontrarem, Pedro, completamente descontrolado, praticou os
crimes de injúria e ameaça contra José, o que foi presenciado pelo policial civil Ricardo,
que passava pelo local onde os fatos ocorreram. Com base na hipótese narrada acima, em
relação à prisão em flagrante, o policial civil Ricardo
a) não poderá efetuar a prisão em flagrante, tendo em vista que os crimes são de ação
penal privada.
b) não poderá efetuar a prisão em flagrante, tendo em vista que os crimes são de ação
penal pública condicionada a representação.
c) poderá efetuar a prisão em flagrante, desde que haja manifestação de vontade da vítima,
já que se trata de crimes de ação penal privada e de ação penal pública condicionada à
representação, respectivamente.
d) poderá efetuar a prisão em flagrante, desde que haja manifestação de vontade da vítima,
já que se trata de crimes de ação penal pública condicionada à representação e de ação
penal pública condicionada à representação privada, respectivamente.
e) poderá efetuar a prisão em flagrante, já que presenciou o cometimento de crimes, e o
instituto da prisão em flagrante nada tem a ver com o da ação penal.
( ) ( )

Professor Gabriel Godoi – Processo Penal.


16

5 - Tencionando apurar um suposto crime de estelionato, Fulano consulta-se com um


advogado para iniciar uma investigação a respeito. Diante dessa situação hipotética, as
opções de Fulano são:
a) lavrar um boletim de ocorrência no Fórum de Justiça ou protocolar uma notícia de
crime na Defensoria Pública.
b) prender em flagrante a pessoa suspeita e conduzi-la coercitivamente à Delegacia de
Polícia.
c) solicitar determinação verbal do magistrado corregedor da comarca para que se instaure
o inquérito de ofício.
d) ajuizar ação de medida cautelar preparatória para, em seguida, oferecer denúncia
criminal direta.
e) lavrar um boletim de ocorrência na Delegacia de Polícia ou protocolar uma petição de
notícia de crime na mesma repartição ou diretamente no Ministério Público.
( ) ( )

6 - Fulano foi alvo de uma representação fiscal, para fins penais, elaborada pela Receita
Estadual, que o imputou, em tese, o crime de supressão tributária previsto no art. 1º, I, da
Lei Federal nº 8.137/1990, tipo esse que possui pena de reclusão de dois a cinco anos e
multa. Fulano é réu primário e de bons antecedentes, não possuindo habitualidade
criminosa. Nesse caso hipotético, o Ministério Público ofereceu denúncia contra ele e,
em petição anexa, ofertou a possibilidade de se celebrar acordo de não persecução penal.
Sobre essa modalidade de acordo atualmente vigente no Código de Processo Penal,
assinale a alternativa correta.
a) O acordo de não persecução penal será formalizado oralmente e será firmado pelo
membro do Ministério Público, pelo investigado e por seu defensor.
b) Homologado judicialmente o contrato acordo de não persecução penal, o juiz devolverá
os autos ao Ministério Público para que inicie sua execução perante o juízo de execução
cível.
c) Recusada a homologação, o juiz devolverá os autos ao Ministério Público para a análise
da necessidade de complementação das investigações ou o oferecimento da denúncia.
d) A vítima será intimada da homologação do acordo de não persecução penal e de seu
regular cumprimento.

Professor Gabriel Godoi – Processo Penal.


17

e) Se o juiz considerar inadequadas, insuficientes ou abusivas as condições dispostas no


acordo de não persecução penal, devolverá os autos ao Ministério Público para que seja
reformulada a proposta de acordo, independentemente da anuência do investigado.
( ) ( )

7 - Ao sair de sua casa, em 17/05/2020, Miriam foi surpreendida por faixa anônima
estendida na via pública com diversas ofensas à sua honra. Diante da humilhação sofrida,
Miriam deixou o país e foi morar no exterior sem se interessar em descobrir o responsável
pelos fatos. Em 03/01/2021, Miriam recebeu mensagem de Sandra, sua antiga vizinha,
confessando ser ela a autora das ofensas, bem como esclarecendo que informou os fatos
ao delegado de polícia, em razão de seu arrependimento. Miriam entrou em contato com
seu advogado, em 25/01/2021, para esclarecimentos jurídicos, informando que
permanece no exterior. O advogado deverá esclarecer naquela data que o crime praticado
seria de injúria, de ação penal privada, logo:
a) a abertura do inquérito policial poderá ser determinada pela autoridade policial,
diretamente, mas a ação penal depende da iniciativa da vítima;
b) a abertura do inquérito policial não poderá ser determinada pela autoridade policial
nem requerida por Miriam, pois operou-se o prazo prescricional para representação;
c) a queixa-crime poderá ser oferecida por Miriam, mas, se através de procurador,
exigem-se poderes especiais;
d) a inicial acusatória não poderá ser oferecida por Miriam, pois operou-se o prazo
decadencial;
e) a queixa-crime poderá ser oferecida por Miriam, pessoalmente ou por procurador sem
poderes especiais.
( ) ( )

8 – Concluídas investigações de inquérito policial, a autoridade policial indiciou


Francisco, sem envolvimento anterior com o aparato policial ou judicial pela prática de
crimes, como incurso nas sanções penais do delito de lesão corporal de
natureza gravíssima (Art. 129, §2º, CP –pena: reclusão de 2 a 8 anos). Tendo Francisco
confessado formal e circunstancialmente a prática da infração penal na delegacia, o
acordo de não persecução penal, no caso em tela:
a) poderá ser proposto pelo delegado, considerando a confissão e a pena mínima
cominada ao delito;

Professor Gabriel Godoi – Processo Penal.


18

b) não poderá ser proposto, diante da natureza do delito imputado;


c) não poderá ser proposto, pois a pena máxima cominada é superior a quatro anos;
d) poderá ser proposto pelo órgão ministerial, mas não pelo delegado, considerando a
pena cominada e a confissão em sede policial;
e) poderá ser proposto pelo órgão ministerial, mas não pelo delegado, e, havendo
concordância do indiciado e de sua defesa técnica, independerá de homologação judicial.
( ) ( )

9 - Assinale a alternativa correta sobre a ação penal privada.


a) É regida pelos princípios da legalidade ou obrigatoriedade, oportunidade ou
conveniência, da disponibilidade e da indivisibilidade.
b) Divide-se em ação penal privada propriamente dita, ação penal privada personalíssima
e ação privada subsidiária da pública.
c) O princípio da oportunidade confere ao ofendido a possibilidade de promover o perdão,
fazendo extinguir a punibilidade.
d) O prazo para o exercício do direito de queixa é prescricional.
e) A ação penal privada subsidiária da pública se inicia mediante denúncia.
( ) ( )

10 - Com relação aos princípios do Processo Penal, em se tratando de ação penal pública
incondicionada, indique a alternativa INCORRETA:
a) O princípio da legalidade ou obrigatoriedade informa que a ação penal pública deverá
ser iniciada mediante queixa.
b) Pelo princípio da indisponibilidade, o Ministério Público não poderá desistir da ação
penal, salvo nos crimes de menor potencial ofensivo, onde é possível a transação.
c) O princípio da oficialidade indica que a ação penal pública é promovida pelo Ministério
Público.
d) Os princípios da indivisibilidade e da intranscendência, são também princípios da ação
penal pública.
e) O princípio da intranscedência determina que a ação penal deve ser proposta em relação
à pessoa, ou pessoas a quem se imputa a prática da infração penal.
( ) ( )

Professor Gabriel Godoi – Processo Penal.


19

11 - Um promotor de justiça recebeu em seu gabinete documentação demonstrativa de


que um servidor público exigiu dinheiro para a realização de ato de ofício e, por essa
razão, ofereceu denúncia, instruída com a documentação obtida, imputando ao servidor
crime contra a administração pública.
Considerando a situação hipotética descrita, assinale a opção correta.
a) O promotor de justiça agiu incorretamente, uma vez que previamente deveria
determinar a instauração de inquérito policial.
b) O promotor de justiça não poderia apresentar a denúncia, uma vez que deveria
previamente instaurar procedimento de investigação preliminar.
c) A denúncia foi corretamente oferecida, uma vez que a ação penal pode ser proposta
apenas com peças de informação.
d) A conduta do promotor de justiça foi incorreta, pois, ao receber a documentação em
seu gabinete, invadiu as atribuições do delegado de polícia.
e) Foi violado o princípio da ampla defesa, por não ter havido a prévia instauração do
inquérito policial.
( ) ( )

12 - Júlio, durante discussão familiar com sua mulher no local onde ambos residem, sem
justo motivo, agrediu-a, causando-lhe lesão corporal leve.
Nessa situação hipotética, conforme a Lei n.º 11.340/2006 e o entendimento do STJ,
a) a ofendida poderá renunciar à representação, desde que o faça perante o juiz.
b) a ação penal proposta pelo Ministério Público será pública incondicionada.
c) a autoridade policial, independentemente de haver necessidade, deverá acompanhar a
vítima para assegurar a retirada de seus pertences do domicílio familiar.
d) Júlio poderá ser beneficiado com a suspensão condicional do processo, se presentes
todos os requisitos que autorizam o referido ato.
e) Júlio poderá receber proposta de transação penal do Ministério Público, se houver
anuência da vítima.
( ) ( )

Professor Gabriel Godoi – Processo Penal.


20

Gabaritos e comentários:

1 – Alternativa A
Comentário: Art. 38, CPP: Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu
representante legal, decairá no direito de queixa ou de representação, se não o exercer
dentro do prazo de seis meses, contado do dia em que vier a saber quem é o autor
do crime.

2 – Alternativa A
Comentário: Art. 46. O prazo para oferecimento da denúncia, estando o réu preso, será
de 5 dias, contado da data em que o órgão do Ministério Público receber os autos do
inquérito policial, e de 15 dias, se o réu estiver solto ou afiançado. No último caso, se
houver devolução do inquérito à autoridade policial, contar-se-á o prazo da data em que
o órgão do Ministério Público receber novamente os autos.

3 – Alternativa A
Comentário: Art. 28-A. Não sendo caso de arquivamento e tendo o
investigado confessado formal e circunstancialmente a prática de infração penal sem
violência ou grave ameaça e com pena mínima inferior a 4 (quatro) anos, o Ministério
Público poderá propor acordo de não persecução penal, desde que necessário e
suficiente para reprovação e prevenção do crime, mediante as seguintes condições
ajustadas cumulativa e alternativamente: - relativiza a obrigatoriedade da ação penal
pública (é acordo, o investigado precisa concordar!) – A pena máxima pode ser
superior a 4 anos, só a pena mínima é que deve ser inferior a 4 anos, atenção!

4 – Alternativa C
Comentário: "O artigo 301 do Código de Processo Penal, ao prever a hipótese desta
medida cautelar coercitiva, não fez qualquer distinção entre crimes de ação penal pública
ou privada. Fica claro que ocorrendo qualquer delito onde a autoridade policial decida
pela ordem de prisão, não existe na lei qualquer impedimento ou exceção. Em relação aos
crimes de ação penal privada, a prisão em flagrante poderá ser formalizada.
Entretanto, quando se tratar de um delito de ação penal privada, a prisão do acusado
somente poderá ocorrer se o ofendido, ou seu representante legal, requerer no

Professor Gabriel Godoi – Processo Penal.


21

próprio auto de prisão em flagrante a efetivação da segregação." CAPEZ,


Fernando. Curso de processo penal.

5 – Alternativa E
Comentário: Com as alterações promovidas pela Lei 13.964/19, o crime de estelionato
passou a ser, em regra, de ação penal pública condicionada a representação. Assim, para
que possa ter início a investigação penal, é necessário que o ofendido se manifeste perante
a autoridade competente, o que pode ocorrer de diversas formas, tais como por registro
de um boletim de ocorrência ou por meio de notícia-crime. É pacífico o entendimento de
que, para a representação, não se exige formalismo sendo suficiente a manifestação
inequívoca de que se inicie o processo contra o acusado (STF, 1ª Turma, RHC 65.549/RS,
Rel. Min. Moreira Alves, j. 22/03/1988).
Art. 171, §5º/CPP: "Somente se procede mediante representação, salvo se a vítima for: I
- a Administração Pública, direta ou indireta; II - criança ou adolescente; III - pessoa com
deficiência mental; IV - maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz”.

6 – Alternativa C
Comentário: Art. 28-A, § 8º Recusada a homologação, o juiz devolverá os autos ao
Ministério Público para a análise da necessidade de complementação das investigações
ou o oferecimento da denúncia.

7 – Alternativa C
Comentário: Artigo 38 CPP: O prazo decadencial da ação penal privada é de 06 meses a
contar da data em que a vítima vier a saber quem é autor do crime.
"Art. 44. A queixa poderá ser dada por procurador com poderes especiais, devendo
constar do instrumento do mandato o nome do querelante e a menção do fato criminoso,
salvo quando tais esclarecimentos dependerem de diligências que devem ser previamente
requeridas no juízo criminal.".

8 – Alternativa B
Comentário: A lei 13.964/19 (chamado “pacote anticrime”) incluiu o art. 28-A e seus §
ao CPP, criando a figura do “acordo de não persecução penal”, uma espécie de transação
entre MP e suposto infrator, a fim de evitar o ajuizamento da denúncia. Vejamos:

Professor Gabriel Godoi – Processo Penal.


22

Os pressupostos para a proposição, pelo MP, do acordo de não-persecução penal, são:


Tratar-se de infração penal (crimes ou contravenções penais, portanto), sem violência ou
grave ameaça à pessoa, e com pena MÍNIMA inferior a quatro anos (se for igual a 04
anos, não será cabível!);
O acordo deve se mostrar necessário e suficiente para a reprovação e prevenção do crime;

9 – Alternativa B
Comentário: Divide-se em ação penal privada propriamente dita, ação penal privada
personalíssima e ação privada subsidiária da pública.
• Ação penal privada propriamente dita: é aquela exercida pela vítima ou por
seu representante legal. Sempre que o crime for de iniciativa privada, deve o
dispositivo legal trazer de forma expressa que a titularidade da ação é do
particular, mediante oferta da queixa-crime (art. 100, CP).
• Ação penal privada personalíssima: o direito de ação só poderá ser exercido
pelo ofendido. Não há intervenção do representante legal e nem sucessão por
morte ou ausência. Portanto, se o ofendido vier a falecer, restará o reconhecimento
da extinção da punibilidade, seja operando-se a decadência, caso a ação ainda não
tenha sido exercida, seja pela perempção, caso a demanda, já esteja em curso.
• Ação penal privada subsidiária da pública: é aquela que tem cabimento com a
inércia do MP, que, nos prazos legais, deixar de atuar, não promovendo a
denúncia, ou não se manifestando pela promoção de arquivamento. Possui
expressa previsão constitucional (art. 5º, LIX, da CRFB/1988; art. 29 do CPP e
art. 100, § 3º do CP), não podendo ser suprimida do ordenamento jurídico por ser
considerada uma cláusula pétrea.

10 – Alternativa A
Comentário: Ação penal pública incondicionada é de competência do Ministério Público,
mediante a inicial acusatória denominada denúncia.
Não se sujeita a nenhuma condição nem manifestação de vontade da vítima ou terceiro.
Ou seja, verificando a presença das condições da ação e havendo justa causa para o
oferecimento da denúncia, a atuação do MP não necessita de implemento de qualquer
condição.

Professor Gabriel Godoi – Processo Penal.


23

11 – Alternativa C
Comentário: ART 39.
§ 5 O órgão do Ministério Público dispensará o inquérito, se com a representação forem
oferecidos elementos que o habilitem a promover a ação penal, e, neste caso, oferecerá a
denúncia no prazo de quinze dias.

12 – Alternativa B
Comentário: Súmula 542-STJ: A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante
de violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada. STJ. 3ª Seção.
Aprovada em 26/8/2015, DJe 31/8/2015.
Observações:
É errado dizer que todos os crimes praticados contra a mulher, em sede de violência
doméstica, serão de ação penal incondicionada. Continuam existindo crimes praticados
contra a mulher (em violência doméstica) que são de ação penal condicionada, desde que
a exigência de representação esteja prevista no Código Penal ou em outras leis, que não
a Lei n°. 9.099/95. Assim, por exemplo, a ameaça praticada pelo marido contra a mulher
continua sendo de ação pública condicionada porque tal exigência consta do parágrafo
único do art. 147 do CP. O que a Súmula nº 542-STJ afirma é que o delito de LESÃO
CORPORAL praticado com violência doméstica contra a mulher, é sempre de ação penal
incondicionada porque o art. 88 da Lei n°. 9.099/95 não pode ser aplicado aos casos da
Lei Maria da Penha.

Portanto, é possível a existência de crimes no contexto de violência doméstica e familiar


que é necessário a representação da ofendida, ou seja, nos casos que não estejam
excluídos pela Lei n° 9.099/95 ou por Lei Especial, estes serão de ação penal pública
condicionada a representação, podendo a Ofendida renunciar à representação, porém, tal
renúncia deve ser antes do RECEBIMENTO da denúncia e ouvido o MP, na presença do
juiz e em audiência específica para esse fim.

Professor Gabriel Godoi – Processo Penal.

Você também pode gostar