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DA PRISÃO, DAS MEDIDAS CAUTELARES E DA LIBERDADE PROVISÓRIA

O tema PRISÃO, sofreu muitas alterações nos últimos dias, principalmente com o pacote
anticrimes (Lei 13.964/2019). Considero que a banca irá explorar bastante este tema,
justamente por ser uma inovação legislativa e por ter havido muitas discussões acerca
deste tema.

Todavia, a banca não irá explorar entendimentos jurisprudenciais e/ou doutrinários, mas
a letra fria da lei. Por isso, é de extrema importância a leitura reiterada, atenta, fazendo
destaques nos artigos do Código de Processo Penal abaixo listados.

Em sala de aula vamos explorar bastante este tema, justamente devido à importância.
Aqui vamos apenas destacar conceitos gerais e imprescindíveis para o entendimento da
matéria.

Existem duas espécies de prisões no ordenamento jurídico pátrio:

1. Prisão-pena – consiste em uma sanção penal (pena privativa de


liberdade) aplicada apenas no caso do trânsito em julgado de sentença
condenatória.
2. Prisão provisória, cautelar, processual – prisão sem pena –
decretada antes do trânsito em julgado da sentença condenatória com o
escopo de acautelar a persecução criminal.

IMPORTANTE - Para o cidadão ser preso, é preciso ter o flagrante delito ou a ordem
judicial.

IMPORTANTE - a prisão temporária é a prisão do inquérito policial, ou seja, não cabe


na ação penal; e a prisão preventiva cabe tanto no inquérito quanto na ação penal.
Há de se destacar que a prisão cautelar é uma das espécies do gênero Medidas Cautelares,
que são, em verdade, medidas decretadas de forma antecipada com o fim de resguardar
determinado resultado útil futuro quando presentes os requisitos do fumus boni iuris
(fumus comissi delicti) e do periculum in mora (periculum in libertatis).

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Assim, para a decretação das medidas cautelares, inclusive as prisões provisórias, é


necessário que se observem os requisitos legais da NECESSIDADE e da
ADEQUAÇÃO.
1. NECESSIDADE – para a aplicação da lei penal, para a investigação criminal
(Inquérito Policial) ou para a instrução criminal (Ação Penal) e em casos expressamente
previstos para evitar a prática de infrações penais.
2. ADEQUAÇÃO – da medida em relação à gravidade da infração penal, suas
circunstâncias e condições pessoais do indiciado ou réu.
Das medidas cautelares previstas no CPP, a prisão provisória é a mais gravosa e extrema,
pois avança sobre o direito fundamental da liberdade do indivíduo, devendo ser decretada
somente como ultima ratio (a última medida a ser aplicada)

A Constituição Federal contempla o princípio da presunção de não culpabilidade


(princípio da presunção de inocência). Assim, a prisão cautelar deve ser a exceção, e não
a regra, em nosso ordenamento jurídico. Vide art. 5º, LVII, da CF:

LVII – ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de


sentença penal condenatória;

Do Mandado de Prisão - Considera-se realizada a prisão em virtude de mandado quando


o executor, identificando-se, apresenta o mandado e intima a pessoa a acompanhá-lo.
Nada impede, contudo, em se tratando de infração inafiançável, que a prisão seja realizada
sem a apresentação do mandado. Nessa hipótese, o preso será imediatamente apresentado
à autoridade que tenha expedido a ordem.

Importante fazer a leitura da Súmula Vinculante 11.

Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de


fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso
ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de
responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de
nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da
responsabilidade civil do Estado.

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DA PRISÃO EM FLAGRANTE - A prisão em flagrante é: Modalidade de prisão


cautelar, de natureza administrativa, realizada no instante em que se desenvolve ou
termina de se concluir a infração penal.

Atenção - Do ponto de vista processual penal, não é o condutor que prende, ele apenas
conduz. É o delegado de polícia que dá a voz de prisão formal e manda recolher ao
cárcere.

Assim, há:

1. Flagrante facultativo – exercício regular de direito – quando o


condutor do flagrante é qualquer do povo.
2. Flagrante obrigatório – estrito cumprimento do dever legal –
quando o condutor do flagrante é a própria autoridade policial ou seus
agentes, incluindo os policiais que atuam na ordem pública (PM).

A prisão em flagrante tem lastro constitucional no art. 5º, LXI, da Lex Excelsa:

LXI – ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de
transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;

Todavia, há exceções relativas a pessoas que, em razão do cargo ou da função que


exercem, ou não podem ser presas em flagrante ou têm flagrância levada a efeito de forma
diferenciada:
1. Diplomatas – não são submetidos à prisão em flagrante devido a imunidade
diplomática por força de tratado internacional (Convenção de Viena).
2. Parlamentares Federais e Estaduais – somente podem ser presos em flagrante por
crime inafiançável e devem, logo após a lavratura da flagrância, ser encaminhados à
respectiva Casa Parlamentar.
3. Juízes e membros do MP – somente podem ser presos em flagrante por crime
inafiançável e devem, logo após a lavratura da flagrância, ser encaminhados ao Presidente
da Corte ou ao Procurador-Geral.

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4. Presidente da República – não estará sujeito a prisão enquanto não sobrevier sentença
condenatória na seara das infrações penais comuns, cf. art. 86, § 3º, da CF/88.

Os crimes de ação penal privada ou pública condicionada à representação ensejam a


lavratura da prisão em flagrante.

Espécies de Prisão em Flagrante - MUITO IMPORTANTE

1. Flagrante próprio, propriamente dito, perfeito, real ou verdadeiro –


quando verdadeiramente existe uma situação flagrancial. Ocorre quando o
agente delituoso está em pleno desenvolvimento dos atos executórios da
infração penal, ou quando terminou de concluir a perpetração do ato
delituoso.
2. Flagrante impróprio, imperfeito, irreal ou quase-flagrante – o agente
conclui a ação criminosa ou é interrompido na sua execução e consegue fugir
do local do crime, sendo perseguido em ato contínuo (imediatamente), com
incontinente prisão.
3. Flagrante presumido – o agente, logo depois da prática do crime, embora
não tenha sido perseguido, é encontrado portando instrumentos, armas,
objetos ou papéis que demonstram por presunção ser ele o autor da infração
penal.
4. Flagrante preparado, provocado – é, no dizer de NUCCI, um “arremedo
de flagrante que vem à tona quando um agente provocador induz ou instiga
alguém a cometer uma infração penal, somente para assim poder prendê-lo.”
Atenção: Trata-se de crime impossível, nos termos do art. 17 do CP, conforme
entendimento do STF na sua Súmula 145: “Não há crime quando a preparação do
flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação”.

5. Flagrante forjado, urdido, criminoso – é um “flagrante totalmente


artificial, pois integralmente composto por terceiros.” Ele vem a termo
quando há a colocação artificial de um elemento material de um falso crime
para incriminar terceiro inocente. Trata-se ação criminosa, devendo a prisão
em flagrante ser de todo relaxada.

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6. Flagrante esperado – por meio dessa espécie de flagrância, a polícia toma


conhecimento de uma ação criminosa que está na iminência de ser perpetrada.
Nesse cenário, a polícia se dirige até o local de interesse e intervém por
ocasião da ocorrência do fato criminoso. É espécie de flagrante válido
considerando que não há qualquer tipo de provocação ou preparação.

Atenção - No flagrante preparado existe um agente provocador (induz ou instiga), já no


flagrante esperado a polícia sabe que haverá a prática do crime por angariação de dados
de investigação, se dirige até o local e aguarda.

7. Flagrante diferido, retardado, prorrogado, postergado ou ação contro-


lada – é levado a termo pela polícia judiciária, que retarda a realização da
prisão em flagrante, com o fim de obter elementos probatórios mais robustos
sobre a ação criminosa em curso praticado por organização criminosa.
Aguarda-se, portanto, nesse contexto o momento mais eficaz do ponto de
vista da produção probatória sobre o esquema delituoso para a intervenção do
Estado-Investigação. Essa modalidade está consagrada em lei, como no art.
53, II, da Lei n. 11.343/2006, art.4º-B da Lei n. 9613/1998 e arts. 8º e 9º da
Lei n. 12.850/2013.

Audiência de Custódia

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) engendrou a Resolução n. 213, de 15/12/2015, que


dispõe sobre a apresentação de toda pessoa presa à autoridade judicial no prazo de 24
horas. Tal resolução incrementa o controle judicial em relação à prisão em Flagrante na
esteira do que determina o art. 9º, item 3, do Pacto Internacional de Direitos Civis e
Políticos das Nações Unidas, bem como o art. 7º, item 5, da Convenção Americana sobre
Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica).

DA PRISÃO TEMPORÁRIA - a prisão temporária é: Modalidade de prisão cautelar,


cuja finalidade é assegurar uma eficaz investigação policial, quando se tratar de apuração

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de infração penal de natureza grave. Ela, portanto, somente tem pertinência no curso
do inquérito policial, não podendo ser decretada em sede de Ação Penal.

A prisão temporária não pode ser decretada de ofício pelo juiz, somente podendo ser
imposta mediante:

Representação da autoridade policial – delegado de polícia.


Requerimento do Parquet.

Na hipótese de representação da autoridade policial, o juiz, antes de decidir, ouvirá o


MP.

A prisão temporária é disciplinada pela Lei nº LEI Nº 7.960, DE 21 DE DEZEMBRO DE


1989.

O despacho que decretar a prisão temporária deverá ser fundamentado e prolatado


dentro do prazo de 24 horas, contadas a partir do recebimento da representação ou do
requerimento. O prazo para a prisão temporária será em regra de 5 dias, podendo ser
prorrogado por mais 5 dias em caso de extrema e comprovada necessidade. Não há,
portanto, a possibilidade de prorrogação automática.
De outro lado, nos casos de inquérito policial que aponta indícios de prática de crime
hediondo, nos termos da Lei n. 8.072/1990, o indiciado poderá permanecer preso em
razão de prisão temporária por 30 dias prorrogáveis por mais 30 dias. Decorrido o prazo
da prisão temporária, seja de 5 dias, seja de 30 dias, o preso deverá ser posto
imediatamente em liberdade.

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IMPORTANTE – PRECISA LEI A LEI DA PRISÃO TEMPORÁRIA PORQUE


NELA QUE ESTARÁ O ROL TAXATIVO DOS CRIMES QUE ADMITEM
PRISÃO TEMPORÁRIA.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu


sanciono a seguinte Lei:
Art. 1° Caberá prisão temporária:
I - quando imprescindível para as investigações do inquérito policial;
II - quando o indicado não tiver residência fixa ou não fornecer elementos necessários ao
esclarecimento de sua identidade;
III - quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer prova admitida na legislação
penal, de autoria ou participação do indiciado nos seguintes crimes:
a) homicídio doloso (art. 121, caput, e seu § 2°);
b) seqüestro ou cárcere privado (art. 148, caput, e seus §§ 1° e 2°);
c) roubo (art. 157, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°);
d) extorsão (art. 158, caput, e seus §§ 1° e 2°);
e) extorsão mediante seqüestro (art. 159, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°);
f) estupro (art. 213, caput, e sua combinação com o art. 223, caput, e parágrafo
único); (Vide Decreto-Lei nº 2.848, de 1940)
g) atentado violento ao pudor (art. 214, caput, e sua combinação com o art. 223, caput, e
parágrafo único); (Vide Decreto-Lei nº 2.848, de 1940)
h) rapto violento (art. 219, e sua combinação com o art. 223 caput, e parágrafo
único); (Vide Decreto-Lei nº 2.848, de 1940)
i) epidemia com resultado de morte (art. 267, § 1°);
j) envenenamento de água potável ou substância alimentícia ou medicinal qualificado pela
morte (art. 270, caput, combinado com art. 285);
l) quadrilha ou bando (art. 288), todos do Código Penal;
m) genocídio (arts. 1°, 2° e 3° da Lei n° 2.889, de 1° de outubro de 1956), em qualquer de
sua formas típicas;
n) tráfico de drogas (art. 12 da Lei n° 6.368, de 21 de outubro de 1976);
o) crimes contra o sistema financeiro (Lei n° 7.492, de 16 de junho de 1986).
p) crimes previstos na Lei de Terrorismo. (Incluído pela Lei nº 13.260, de 2016)
Art. 2° A prisão temporária será decretada pelo Juiz, em face da representação da autoridade
policial ou de requerimento do Ministério Público, e terá o prazo de 5 (cinco) dias,
prorrogável por igual período em caso de extrema e comprovada necessidade.

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§ 1° Na hipótese de representação da autoridade policial, o Juiz, antes de decidir, ouvirá o


Ministério Público.
§ 2° O despacho que decretar a prisão temporária deverá ser fundamentado e prolatado
dentro do prazo de 24 (vinte e quatro) horas, contadas a partir do recebimento da
representação ou do requerimento.
§ 3° O Juiz poderá, de ofício, ou a requerimento do Ministério Público e do Advogado,
determinar que o preso lhe seja apresentado, solicitar informações e esclarecimentos da
autoridade policial e submetê-lo a exame de corpo de delito.
§ 4° Decretada a prisão temporária, expedir-se-á mandado de prisão, em duas vias, uma das
quais será entregue ao indiciado e servirá como nota de culpa.
§ 4º-A O mandado de prisão conterá necessariamente o período de duração da prisão
temporária estabelecido no caput deste artigo, bem como o dia em que o preso deverá ser
libertado. (Incluído pela Lei nº 13.869. de 2019)
§ 5° A prisão somente poderá ser executada depois da expedição de mandado judicial.
§ 6° Efetuada a prisão, a autoridade policial informará o preso dos direitos previstos no art.
5° da Constituição Federal.

§ 7º Decorrido o prazo contido no mandado de prisão, a autoridade responsável pela


custódia deverá, independentemente de nova ordem da autoridade judicial, pôr
imediatamente o preso em liberdade, salvo se já tiver sido comunicada da prorrogação da
prisão temporária ou da decretação da prisão preventiva. (Incluído pela Lei nº 13.869.
de 2019)

§ 8º Inclui-se o dia do cumprimento do mandado de prisão no cômputo do prazo de prisão


temporária. (Redação dada pela Lei nº 13.869. de 2019)

Art. 3° Os presos temporários deverão permanecer, obrigatoriamente, separados dos demais


detentos.
Art. 4° O art. 4° da Lei n° 4.898, de 9 de dezembro de 1965, fica acrescido da alínea i, com
a seguinte redação:
"Art. 4° ...............................................................
i) prolongar a execução de prisão temporária, de pena ou de medida de segurança, deixando
de expedir em tempo oportuno ou de cumprir imediatamente ordem de liberdade;"
Art. 5° Em todas as comarcas e seções judiciárias haverá um plantão permanente de vinte e
quatro horas do Poder Judiciário e do Ministério Público para apreciação dos pedidos de
prisão temporária.
Art. 6° Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

PRISÃO PREVENTIVA - a prisão preventiva não tem prazo e observa requisitos


estritos do CPP no artigo 312, podendo ser decretada em qualquer fase da persecução
criminal. Seja na fase de inquérito policial, seja na fase da ação penal. Trata-se de
modalidade de medida cautelar (prisão provisória) que promove "constrição à liberdade

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do Indiciado ou Réu, por razões de necessidade, respeitados os requisitos estabelecidos


por lei".

A prisão preventiva é a modalidade de medida cautelar que sustenta o edifício da


prisão processual. Os seus pressupostos e requisitos são fundamentais ao
encarceramento cautelar (mitigando o princípio da não culpabilidade).

Reitero a IMPORTÂNCIA de ler, neste caso, especificamente o Artigo 312 do CPP.

• REQUISITOS PARA A DECRETAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA

Os requisitos legais exigidos, no âmbito do fumus boni iuris e periculum in mora, de


acordo com o art. 312 do CPP, a saber:

Fumus Comissi Delicti - Prova da existência do crime – materialidade: certeza de que


de fato ocorreu uma infração penal.

Indícios suficientes de autoria – autoria: não é exigido, por assim dizer, prova plena da
“culpa” do indiciado ou réu, basta “um prognóstico de um julgamento positivo sobre a
autoria ou participação.”

Periculum in Libertatis - é o perigo na liberdade do indiciado ou do réu. O réu ou


indiciado em liberdade fragiliza a persecução criminal.

3. Um dos requisitos que evidenciem a necessidade da prisão preventiva, quais


sejam:

* Garantia da Ordem Pública – “é a indispensabilidade se manter a ordem na sociedade,


que como regra, é abalada pela prática de um delito.” A doutrina entende ainda que a
preventiva em prol da garantia da ordem pública implica a presença de um binômio do
seguinte trinômio:

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* Garantia da Ordem Econômica – é espécie da Garantia da Ordem Pública. Refere-se


à necessidade de evitar que “o agente causador de seriíssimo abalo à situação econômico-
financeira de uma instituição financeira ou mesmo de órgão do Estado, permaneça em
liberdade, demonstrando à sociedade a impunidade reinante nesta área.” A criminalidade
de “colarinho branco” é alcançada da mesma forma que os outros tipos de delinquentes.

Demanda da mesma forma presença de um binômio do seguinte trinômio:

3.3. Conveniência da Instrução Criminal – Conforme NUCCI, é “motivo resultante da


garantia de existência do devido processo legal, no seu aspecto procedimental.” NUCCI
ensina ainda que “a conveniência de todo processo é que a instrução criminal seja
realizada de maneira escorreita, equilibrada e imparcial, na busca da verdade real (…).”
Condutas do indiciado ou réu que impliquem ameaças a testemunhas, manobras para fazer
desaparecer as evidências, ameaças à vítima ao MP, ao juiz etc.

3.4. Garantia de Aplicação da Lei Penal – Segundo NUCCI, este requisito visa garantir
“a finalidade útil do processo penal, que é proporcionar ao Estado o exercício do seu
direito de punir, aplicando a sanção devida a quem é autor de infração.”
Tem cabimento, por exemplo, quando o indiciado ou réu promove manobras para a sua
fuga.
3.5. Descumprimento de qualquer das obrigações impostas por força de outras
medidas cautelares, notadamente as do art. 319 do CPP.

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FUNDAMENTAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA - A decretação da prisão


preventiva deve ser expressamente fundamentada, não sendo suficiente a mera repetição
dos termos legais dos requisitos autorizadores.
Dr., aqui temos que ter muita atenção. Faça a leitura cuidadosa do artigo 315 do CPP.

DA LIBERDADE PROVISÓRIA - É a liberdade concedida, em caráter provisório, ao


indiciado ou réu, preso em decorrência de prisão em flagrante, que, por não necessitar
ficar segregado, em homenagem ao princípio da presunção de inocência, deve ser
liberado, sob determinadas condições.

Fundamento Constitucional da Liberdade Provisória - Estabelece a Constituição


Federal:

Art. 5º, LXVI – Ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei
admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança.

A prisão no Brasil é a exceção e a liberdade, enquanto o processo não atinge o seu ápice
com a condenação com trânsito em julgado, a regra.

MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO - Conforme NUCCI:


As medidas cautelares alternativas à prisão não podem ser impostas pelo juiz observando
sempre a necessidade e adequação.

Elas estão elencadas no artigo 319 do CPP. Podem sem impostas uma ou mais, de acordo
com a necessidade do caso. No entanto, qualquer uma delas, o Juiz ao impor deve
fundamentar sua decisão. IMPORTANTE – Ler o Art. 319 cuidadosamente.

FIANÇA - Nos termos legais, fiança é caução, decavere, que quer dizer "acautelar",
servindo para designar qualquer meio que sirva para assegurar o cumprimento de uma
obrigação. Destarte, fiança é uma garantia real de cumprimento das obrigações
processuais do réu. É garantia real porque tem por objeto coisas (art. 330), não existindo
mais a fiança fidejussória no processo penal comum.

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Já a liberdade provisória mediante fiança é o direito subjetivo do beneficiário, que atenda


aos requisitos legais e assuma as respectivas obrigações, de permanecer em liberdade
durante a persecução penal. É a contra cautela destinada ao combate de algumas prisões
processuais, imprimindo uma implementação financeira e condicionando o beneficiário
a uma série de imposições. Pode haver cumulação, inclusive, com as demais medidas
cautelares diversas da prisão (art. 319, CPP). Com isso, se ele está preso, será libertado;
se está na iminência do cárcere, a prisão não se estabelece. Negada arbitrariamente, dá
ensejo a constrangimento ilegal sanável pelo remédio heroico do HC, além de se
constituir em abuso de autoridade.

Crimes inafiançáveis - O CPP também elenca as hipóteses de não concessão de fiança,


de crimes inafiançáveis. AQUI DEVEMOS LER O ARTIGO 323 E 324 DO CPP.

Art. 323. Não será concedida fiança: (Redação dada pela Lei nº 12.403, de
2011).
I - nos crimes de racismo; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
II - nos crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, terrorismo
e nos definidos como crimes hediondos; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de
2011).
III - nos crimes cometidos por grupos armados, civis ou militares, contra a ordem
constitucional e o Estado Democrático; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de
2011).
IV - (revogado); (Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011).
V - (revogado). (Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011).

Art. 324. Não será, igualmente, concedida fiança: (Redação dada pela Lei nº
12.403, de 2011).
I - aos que, no mesmo processo, tiverem quebrado fiança anteriormente concedida
ou infringido, sem motivo justo, qualquer das obrigações a que se referem os arts.
327 e 328 deste Código; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
II - em caso de prisão civil ou militar; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de
2011).
III - (revogado); (Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011).
IV - quando presentes os motivos que autorizam a decretação da prisão preventiva
(art. 312).

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DA PRISÃO ESPECIAL - Algumas pessoas, em razão da função desempenhada, terão


direito a recolhimento em quarteis ou a prisão especial, enquanto estiverem na condição
de presos provisórios, leia-se, antes do trânsito em julgado da sentença condenatória.

obs.: os presos provisórios são os presos cautelares, aqueles: que estão em prisão em
flagrante, temporária ou preventiva. A prisão especial tem cabimento somente dentro do
escopo das prisões cautelares dos presos provisórios.

O status de preso especial confere ao detento o recolhimento em local distinto da prisão


comum, e não havendo estabelecimento específico para o preso especial, este ficará em
cela separada dentro do estabelecimento penal comum (art. 295, §§ 1º e 2º, CPP).

Os casos de foro privilegiado, cria-se uma categoria diferenciada de brasileiros, aqueles


que, presos, devem dispor de um tratamento especial, ao menos até o trânsito em
julgado da sentença condenatória. Menciona-se, na doutrina, para justificar a distinção,
levar a lei em consideração não a pessoa, mas o cargo ou a função por ela exercida.

Devemos atentar, neste ponto, no artigo 295 e 296 do CPP, que dispõe o rol de pessoas
que gozam da prisão especial, além daquelas prevista em legislação esparsa como a
LOMAN e a LOMP.

Importante - O STF, segundo a Súmula n.717, entende: Não impede a progressão de


regime de execução de pena, fixada em sentença não transitada em julgado, o fato de o
réu se encontrar em prisão especial.

Ou seja, uma vez preclusa a sentença para o MP, e só a defesa tendo recorrido, nada
impede a aplicação de benefícios da execução da pena, conforme a LEP, ainda que o
preso cautelar tenha direito a prisão especial.

Mesmo que um cidadão esteja preso preventivamente em um centro de detenção


provisória e na condição de preso especial (pois possui nível superior), durante a execução
provisória da pena será possível exercer a atividade laboral e, se isso ocorre, já fará jus a
remissão de sua pena.

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USO DA FORÇA – EMPREGO DE ALGEMAS - O uso da força deve ser evitado,


salvo quando indispensável no caso de resistência ou tentativa de fuga do preso (art.
284, CPP). O uso desnecessário da força, ou os excessos, podem caracterizar abuso de
autoridade, lesões corporais, homicídio etc.

O uso da força é diferente da violência. A força é o exercício do estrito cumprimento do


dever legal por parte do agente do Estado que, em face da resistência do cidadão ou de
sua tentativa de fuga, é empregada para que ocorra a aplicação da lei. O agente do Estado
é violento quando excede a força. Já quanto ao preso, pode incorrer em resistência (art.
329, CP), desobediência (art. 330, CP) ou até mesmo evasão mediante violência contra
a pessoa (art. 352, CP).

O STF também disciplinou o uso da força, na porção do emprego de algemas, em sede


de súmula vinculante:

Súmula Vinculante 11 - Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e


de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia,
por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito,
sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da
autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem
prejuízo da responsabilidade civil do Estado.

Segundo o STF, o uso de algemas é uma exceção. Além disso, sobre a responsabilidade
penal, o uso indevido das algemas pode dar ensejo ao abuso de autoridade.

PRISÃO DOMICILIAR - Atualmente, portanto, é possível a decretação da prisão


domiciliar, seja durante a investigação criminal, seja durante a instrução processual
penal. Entretanto, não se deve vulgarizar a prisão cautelar, a ponto de estender a todos
os acusados, mesmo fora das hipóteses deste artigo, a prisão em domicílio, sob pena de
se desacreditar, por completo, o sistema penal repressivo. Note-se ser da essência da
prisão cautelar a eficiente segregação do indiciado ou réu do convívio social, afinal,
estaria ele perturbando a ordem pública ou econômica, prejudicando a instrução ou
pretendendo fugir.

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