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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL


➔ AGENTE DE POLÍCIA CIENTÍFICA
➔ PERITO OFICIAL FORENSE, NA FUNÇÃO DE PERITO CRIMINAL
➔ PERITO OFICIAL FORENSE, NA FUNÇÃO DE PERITO MÉDICO LEGISTA
➔ PERITO PAPILOSCOPISTA

1. Inquérito policial.
2. notícias criminais.
3. Ação penal.
4. espécies.
5. Jurisdição.
6. Competência.
7. Prova (artigos 158 a 184 do CPP).
8. Prisão em flagrante.
9. Prisão preventiva.
10. Prisão temporária (Lei nº 7.960/89).
11. Processos dos crimes de responsabilidade dos funcionários públicos;
12. Habeas corpus.

LEIS PENAIS ESPECIAIS


➔ AGENTE DE POLÍCIA CIENTÍFICA
➔ PERITO OFICIAL FORENSE, NA FUNÇÃO DE PERITO CRIMINAL
➔ PERITO OFICIAL FORENSE, NA FUNÇÃO DE PERITO MÉDICO LEGISTA
➔ PERITO PAPILOSCOPISTA
1. Lei 8.666/93 – artigos 01 a 06 e 20 a 26 (Normas para licitações e contratos).
2. Lei 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento)
3. Lei 11.340/06 (Maria da Penha)
4. Lei 11.343/06 (Tráfico ilícito e uso indevido de drogas ilícitas)
5. Lei nº 13.869/09 (Abuso de autoridade).
6. Lei nº 8.137/90 (Crimes contra a ordem tributária)
7. Lei nº 8.072/90 (Crimes hediondos).
8. Código de Trânsito Brasileiro (art. 302 ao 312-A).

Professor Gabriel Godoi – Processo Penal.


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Cronograma de Estudos – Prof. Godoi


Data Matéria
04/11 Inquérito e noticia crime
11/11 Ação penal
18/11 Provas e prisão em flagrante, Prisão preventiva e prisão temporária
25/11 Processos dos crimes de responsabilidade dos funcionários públicos e
Habeas Corpus
02/12 Lei 8.666/93; CTB; Lei nº 8.137/90 e Lei nº 8.072/90
09/12 Lei nº 13.869/09; Lei 11.343/06; Lei 11.340/06 e Lei 10.826/03.

1 – Inquérito Policial e Noticia Crime.


O inquérito policial é previsto a partir do art. 4º do Código de Processo Penal (CPP), e
não se trata de um processo judicial ou processo administrativo. Na realidade, o inquérito
policial é um procedimento administrativo, pois, ao seu final, jamais haverá uma
sanção.

Art. 4º A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais


no território de suas respectivas circunscrições e terá por fim a
apuração das infrações penais e da sua autoria.
Parágrafo único. A competência definida neste artigo não excluirá a
de autoridades administrativas, a quem por lei seja cometida a mesma
função.

Conceito de inquérito policial por Renato Brasileiro:

O inquérito policial consiste em um conjunto de diligências realizadas pela polícia


investigativa objetivando a identificação das fontes de prova e a colheita de elementos de
informação quanto à autoria e materialidade da infração penal, a fim de possibilitar que o
titular da ação penal possa ingressar em juízo.

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O inquérito policial é um procedimento preparatório para a futura ação penal. É nele que
serão colhidos elementos para que o titular da ação penal, seja qual for, possa ter
elementos suficientes para ingressar em juízo.

Trata-se de um procedimento administrativo, pois não é judicial e, ao final, não haverá


imposição de sanção. Na realidade, ao final de um inquérito policial, o delegado de polícia
irá elaborar um relatório com tudo o que foi apurado, de modo a viabilizar que o titular,
seja ele o Ministério Público ou o ofendido/seu representante, possa ingressar com a ação
penal.

Esse lastro probatório deve ser voltado para dois elementos principais, que configuram a
justa causa para a ação: a autoria e a materialidade.

Atenção: Existem três correntes que tratam da natureza jurídica do inquérito policial. No
entanto, a corrente majoritária (que deve ser observada por você na prova) é de que o
inquérito é um procedimento administrativo.

Neste ponto, faça uma correlação dos termos “natureza jurídica do inquérito policial”
com seu conceito” procedimento administrativo”

Cuidado com as pegadinhas da prova. Uma segunda corrente vê o inquérito policial


como um processo. Já sabemos que isso não se aplica. Mas uma terceira corrente vê o
inquérito policial como não sendo um processo, por não haver uma relação jurídica
processual, mas também entende não ser um procedimento pois não há sequência de atos
pré-definidos que caracterizem o procedimento.

Realmente não há uma sequência de atos pré-definidos, mas nem por isso a doutrina deixa
de classifica-lo como procedimento administrativo.

PRESIDÊNCIA DO INQUÉRITO - É de responsabilidade da polícia judiciária: função


repressiva, após a prática do crime.

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CPP, Art. 4º A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território
de suas respectivas circunscrições e terá pôr fim a apuração das infrações penais e da
sua autoria.

Cuidado: Quando falamos que a presidência do inquérito policial será exercida pela
polícia judiciaria, queremos dizer que o ÚNICO que poderá presidir o inquérito policial
é o DELEGADO DE POLÍCIA. Isso foi assunto de muita discussão quando da edição
da Lei 12.830/20131:

O MINISTÉRIO PÚBLICO PODE PRESIDIR INQUÉRITO POLICIAL?


Não, pois a Constituição Federal e o Código de Processo Penal concedem essa atribuição
à polícia judiciária. Entretanto, o MP pode realizar diligências paralelas e promover outras
investigações (Procedimento de Investigação Preliminar).
De acordo com o STF, o MP tem poder de investigação.
Aqui temos o Inquérito Civil.
CUIDADO: Existem outras modalidades de inquérito: CPI, inquérito civil, etc.

CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO POLICIAL

1. É um procedimento escrito (vide art. 9º, CPP):


Art. 9º Todas as peças do inquérito policial serão, num só processado,
reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela
autoridade.

2. Dispensabilidade – art. 39, §5º, CPP:

Art. 39, § 5º O órgão do Ministério Público dispensará o inquérito, se


com a representação forem oferecidos elementos que o habilitem a
promover a ação penal, e, neste caso, oferecerá a denúncia no prazo
de quinze dias.

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Dispõe sobre a investigação criminal conduzida pelo delegado de polícia.
Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a investigação criminal conduzida pelo delegado de polícia.
Art. 2º As funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais exercidas pelo delegado de polícia
são de natureza jurídica, essenciais e exclusivas de Estado.

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Nesse sentido, o inquérito policial não precisa acompanhar a denúncia obrigatoriamente.


Se o MP ou o ofendido já possuírem elementos suficientes para dar início à ação penal,
eles não precisam do inquérito. Contudo, se esse inquérito já estiver pronto, então ele
acompanhará a denúncia ou queixa.

3. Inquisitorialidade: no inquérito policial, o Delegado de Polícia age de ofício, ou seja,


não precisa de provocação. Além disso, não precisa observar contraditório e ampla defesa,
pois esses são princípios que se aplicam aos processos judiciais e aos processos
administrativos.

Atenção: Defesa no Inquérito policial e o Pacote Anticrimes.

Houve mudança referente ao Pacote Anticrimes (Lei 13.964/2019) que passou a exigir
defesa em determinados casos, como no inquérito policial e no inquérito policial militar:
Art. 14-A. Nos casos em que servidores vinculados às instituições
dispostas no art. 144 da Constituição Federal figurarem como
investigados em inquéritos policiais, inquéritos policiais militares e
demais procedimentos extrajudiciais, cujo objeto for a investigação de
fatos relacionados ao uso da força letal praticados no exercício
profissional, de forma consumada ou tentada, incluindo as situações
dispostas no art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940
(Código Penal), o indiciado poderá constituir defensor. (Incluído
pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência)
§ 1º Para os casos previstos no caput deste artigo, o investigado deverá
ser citado da instauração do procedimento investigatório, podendo
constituir defensor no prazo de até 48 (quarenta e oito) horas a contar
do recebimento da citação. (Incluído pela Lei nº 13.964, de
2019) (Vigência)
§ 2º Esgotado o prazo disposto no § 1º deste artigo com ausência de
nomeação de defensor pelo investigado, a autoridade responsável pela
investigação deverá intimar a instituição a que estava vinculado o
investigado à época da ocorrência dos fatos, para que essa, no prazo
de 48 (quarenta e oito) horas, indique defensor para a representação
do investigado. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência)

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§ 3º Havendo necessidade de indicação de defensor nos termos do § 2º


deste artigo, a defesa caberá preferencialmente à Defensoria Pública,
e, nos locais em que ela não estiver instalada, a União ou a Unidade
da Federação correspondente à respectiva competência territorial do
procedimento instaurado deverá disponibilizar profissional para
acompanhamento e realização de todos os atos relacionados à defesa
administrativa do investigado. (Incluído pela Lei nº 13.964, de
2019) (Vigência)
§ 4º A indicação do profissional a que se refere o § 3º deste artigo
deverá ser precedida de manifestação de que não existe defensor
público lotado na área territorial onde tramita o inquérito e com
atribuição para nele atuar, hipótese em que poderá ser indicado
profissional que não integre os quadros próprios da
Administração. (Incluído pela Lei nº 13.964, de
2019) (Vigência)
§ 5º Na hipótese de não atuação da Defensoria Pública, os custos com
o patrocínio dos interesses dos investigados nos procedimentos de que
trata este artigo correrão por conta do orçamento próprio da
instituição a que este esteja vinculado à época da ocorrência dos fatos
investigados. (Incluído pela Lei nº 13.964, de
2019) (Vigência)
§ 6º As disposições constantes deste artigo se aplicam aos servidores
militares vinculados às instituições dispostas no art. 142 da
Constituição Federal, desde que os fatos investigados digam respeito a
missões para a Garantia da Lei e da Ordem. (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019) (Vigência)

4. Sigiloso – art. 20, CPP:


Art. 20. A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à
elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade.

Enquanto, no processo judicial, a publicidade é a regra; no inquérito policial, o sigilo é


uma característica. No sistema brasileiro a regra é a publicidade, seja pela garantia

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constitucional (art. 5º inciso XXXIII), pelo Pacto de São José da Costa Rica (Art. 8º, 5º),
seja pelo Código de Processo Penal (Art. 79).

Todavia, essa regra de publicidade pode ser restringida, quando dai passaremos a falar
em sigilo, como no caso do artigo 20 do CPP. Essa restrição da publicidade divide-se em
duas modalidades:

• SIGILO INTERNO: Consiste na limitação da informação a determinado sujeito


da investigação. Normalmente a publicidade é limitada ao investigado.
• SIGILO EXTERNO: Consiste na limitação da informação para o público
externo, a sociedade em geral.

No caso do artigo 20 do CPP – Característica do inquérito ser sigiloso, estamos falando


do SIGILO EXTERNO, limitando o acesso a sociedade em geral dos atos da investigação.

Existe a possibilidade de se ter no inquérito policial o SIGILO INTERNO. De fato, em


regra não se poderá limitar-se o acesso das partes aos atos da investigação, mas há duas
situações de restrição de acesso a defesa os autos:
• Restrições ligadas a natureza da medida
• Restrições ligadas a eficácia da medida.

Como exemplo, quando se tem interceptações telefônicas em andamento, é óbvio que não
se pode conceder o acesso à defesa sob pena da ineficácia da medida. Assim também,
quando se tem deferido um mandado de busca e apreensão, só se terá acesso depois de
cumprido.

Súmula Vinculante n. 14, STF:


“É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo
aos elementos de prova que, já documentados em procedimento
investigatório realizado por órgão com competência de polícia
judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa”

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A Súmula acima não instituiu o contraditório no âmbito do inquérito policial, mas o


simples acesso às informações contidas nesse inquérito. Além disso, também não instituiu
a ampla defesa, pois em nenhum momento permite que a defesa de um acusado possa se
manifestar ou formular petição. Na realidade, essa Súmula concede à defesa de um
acusado a possibilidade de ter acesso ao que já foi documentado em um inquérito policial,
sem direito ao contraditório e à ampla defesa.

5. Discricionário: o rol dos atos previstos nos arts. 6º e 7º do CPP não é taxativo, ou seja,
o delegado de polícia adotará as diligências que achar necessário e não ficará preso a um
rito específico.

6. Oficial: o inquérito policial é conduzido por um órgão oficial, que é a polícia judiciária.

7. Oficioso: todos os atos são praticados de ofício, ou seja, não há necessidade de se


provocar alguém.

No entanto, nos crimes de ação penal de iniciativa pública condicionada ou de iniciativa


privada, não poderá a autoridade policial instaurar de oficio o inquérito policial sem que
haja o requerimento do ofendido ou de seu representante legal.

Todavia, dada esta autorização, a autoridade policial deve realizar todas as diligencias de
oficio, sem a necessidade de nova autorização do ofendido.

8. Indisponível: o delegado de polícia, uma vez que tenha iniciado o inquérito policial,
não pode arquivá-lo.
Art. 17. A autoridade policial não poderá mandar arquivar autos de
inquérito.

9. Incomunicabilidade?
CPP, Art. 21. A incomunicabilidade do indiciado dependerá sempre de
despacho nos autos e somente será permitida quando o interesse da
sociedade ou a conveniência da investigação o exigir.

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O CPP é anterior à Constituição Federal de 1988, que veda a incomunicabilidade até nos
estados de sítio e de defesa. Logo, a incomunicabilidade também não pode existir no
inquérito policial. Hoje, o art. 21 do CPP é tido como um dispositivo não recepcionado
pela CF/1988.

INÍCIO DO INQUERITO POLICIAL.

A forma como se pode ser instaurado o inquérito policial dependerá da modalidade de


ação penal prevista para o crime. O artigo 5º do CPP estabelece as formas de instauração
do inquérito policial, no entanto o rol ali constante não é exaustivo, pois não contempla
os mecanismos de instauração do inquérito.

Art. 5o Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado:


I - de ofício;
II - mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério
Público, ou a requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade
para representá-lo.

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§ 1o O requerimento a que se refere o no II conterá sempre que


possível:
a) a narração do fato, com todas as circunstâncias;
b) a individualização do indiciado ou seus sinais característicos e as
razões de convicção ou de presunção de ser ele o autor da infração, ou
os motivos de impossibilidade de o fazer;
c) a nomeação das testemunhas, com indicação de sua profissão e
residência.
§ 2o Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de
inquérito caberá recurso para o chefe de Polícia.
§ 3o Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de
infração penal em que caiba ação pública poderá, verbalmente ou por
escrito, comunicá-la à autoridade policial, e esta, verificada a
procedência das informações, mandará instaurar inquérito.
§ 4o O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de
representação, não poderá sem ela ser iniciado.
§ 5o Nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente poderá
proceder a inquérito a requerimento de quem tenha qualidade para
intentá-la.

Em geral o inquérito policial pode ser instaurado pelos seguintes mecanismos:

• Noticia crime
• Requisição
• Portaria
• Auto de prisão em flagrante.

OBS: Vamos deixar a “Notícia Crime” para falar mais ao final onde aprofundaremos um
pouco mais.

Requisição do Juiz ou do Ministério Público:

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os crimes processados mediante ação penal pública também podem ter a persecução penal
iniciada por meio de requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público.
Segundo Guilherme de Souza Nucci2, a requisição:

é a exigência para a realização de algo fundamentada em lei. Assim,


não deve confundir requisição com ordem, pois nem o representante do
Ministério Público, nem tampouco o juiz, são superiores hierárquicos
do delegado, motivo pelo qual não lhe podem dar ordens. Requisitar a
instauração do inquérito é diferente, pois é um requerimento lastrado
em lei, fazendo com que a autoridade policial cumpra a norma e não a
vontade particular do promotor ou do magistrado.

Extrai-se das lições de Nucci que a “requisição” se trata de uma atribuição exclusiva dos
juízes e membros do Ministério Público da área criminal, uma vez que é um
desdobramento natural do controle e da fiscalização da Polícia Judiciária no que toca à
obrigatoriedade de apuração de um delito cuja ação penal seja pública incondicionada.

Logo, se outras autoridades e promotores de justiça atuantes em outras esferas (cível,


meio ambiente, por exemplo) tomarem conhecimento de crimes que sejam processados
mediante ação penal pública incondicionada, deverão comunicá-los ao delegado de
polícia, que instaurará inquérito policial, se entender pela existência de elementos
mínimos para tanto, como consequência do recebimento de uma notitia criminis, não
havendo o caráter requisitório em tais informações.

Tais autoridades em exercício na esfera extrapenal também poderão oficiar diretamente


aos juízes e promotores de justiça criminais para que tomem as medidas cabíveis, os quais
poderão requisitar a instauração de inquérito policial se assim entenderem pertinentes, ou,
até mesmo, oferecerem a denúncia, nos casos em que entendam pela existência de justa
causa.

Auto de Prisão em Flagrante e Termo Circunstanciado de Ocorrência:

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NUCCI, Guilherme de Souza. “Código de Processo Penal Comentado”, 10ª Edição, 2010.
Editora Revista dos Tribunais.

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O Auto de Prisão em Flagrante conceitua-se pelo documento que contém as informações


advindas da prisão em flagrante, quer sejam, após a apresentação do conduzido, em
ordem, a oitiva do condutor, das testemunhas, vítima, interrogatório do conduzido
(corrija-se o artigo 304 do CPP que fala em acusado), a fim de formar o contexto fático
(baseado em versões, e não em verdade), demais termos, laudos, relatório e assinaturas,
competindo à Autoridade Policial, sua lavratura.

No entanto, tal procedimento só será efetuado, se a flagrância se fizer legal, ou seja,


ausente de vícios formais e materiais, permitindo-se, assim, sua homologação.

Não há que se esquecer das garantias constitucionais e dos direitos fundamentais que
circundam tais atos, como o da comunicação com familiares e advogado, bem como do
direito de permanecer calado (artigo 5º, inciso LXIII, da CF/88) e do princípio da não
autoincriminação (Nemo tenetur se detegere), sob pena de nulo serem os atos já
praticados, comprometendo todos que virão, culminando também, no relaxamento da
prisão em flagrante por vício formal.
Já o Termo Circunstanciado de Ocorrência, figura-se como documento advindo da
fase pré-processual, elaborado a partir da noticia criminis ou de ofício, tratando-se de
flagrância ou não, quando esta, ao ser verificada pela Autoridade Policial, constituir-se
em infrações penais de menor potencial ofensivo, as contravenções penais e os crimes
cuja pena máxima não é superior a 2 anos, acompanhada ou não com multa (artigo 61, da
Lei nº 9.099/95).

Nele, estarão contidos o resumo do que, em tese, ocorreu com data, horário e local, as
versões da vítima e testemunhas, se houver, o interrogatório do suposto autor, objetos,
que desconfiam sua utilização, e demais informações necessárias a sua completa
apuração, a fim de dar (ou não) prosseguimento aos atos, pelo e no Juizado Especial
Criminal, amparados legalmente pela Lei nº 9.099/95.

Pode ser lavrado pela Autoridade Policial Civil ou Federal, fugindo das atribuições da
Policia Militar. Pode porque o Superior Tribunal de Justiça, no HC nº 7199/PR, de
Relatoria do Ministro Vicente Leal, entendeu pela inexistência de ilegalidade quando o
TCO for lavrado por um agente da polícia.

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Entretanto, prefere-se o posicionamento majoritário da doutrina de que a competência


para lavratura é exclusiva da Autoridade Policial, pois trata-se de verdadeiro ato jurídico,
“razão pela qual não podem e não devem ser formalizados por agentes públicos sem a
devida habilitação jurídica” (ANDREATA, 2014).

De ofício – Portaria.
A autoridade policial pode instaurar inquérito policial de oficio a teor do artigo 5º inciso
I do CPP. Neste caso, é importante que se entenda que não há necessidade de
comprovação plena da autoria e materialidade no momento da instauração do inquérito
policial, conforme decisão do STJ (HC 143.499/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, Dje
12.04.2012.)

NOTICIA CRIME:

Conceito - A notícia do crime é o conhecimento, espontâneo ou provocado, pela


autoridade policial de um fato aparentemente criminoso.

A espontânea é aquela em que o conhecimento pela autoridade policial ocorre direta e


imediatamente, durante o exercício de sua atividade. Pode ocorrer por conhecimento
direto ou comunicação não formal (cognição imediata). Ex: encontro de corpo de delito,
comunicação de um funcionário subalterno, informação pelos meios de comunicação etc.

A provocada é a transmitida pelas diversas formas previstas na legislação processual


penal, consubstanciando-se num ato jurídico. Pode ocorrer por comunicação formal da
vítima ou de qualquer do povo, por representação, por requisição judicial ou do Ministério
Público etc. (cognição mediata).

Pode também a notícia do crime estar revestida de forma coercitiva, hipótese de prisão
em flagrante delito por funcionário público no exercício de suas funções ou particular
(cognição coercitiva).

Assim, a Notitia Criminis subdivide-se em:

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• Notitia criminis de cognição IMEDIATA (ou espontânea): ocorre quando a


autoridade policial toma conhecimento do fato delituoso por meio de suas
atividades rotineiras. É o que acontece, por exemplo, quando o delegado de polícia
toma conhecimento da prática de um crime por meio da imprensa.
• Notitia criminis de cognição MEDIATA (ou provocada): ocorre quando a
autoridade policial toma conhecimento da infração penal através de um
expediente escrito. É o que acontece, por exemplo, nas hipóteses de requisição do
Ministério Público, Juiz ou representação do ofendido.
• Notitia criminis de cognição COERCITIVA: ocorre quando a autoridade
policial toma conhecimento do fato delituoso através da apresentação do
indivíduo preso em flagrante.

Autores e destinatários da notitia criminis

Geralmente, o autor da notitia criminis é o ofendido ou seu representante legal (art. 5º, II
e §§ 4º e 5º), e o seu destinatário é a autoridade policial (art. 5º, II, §§ 3º e 5º), o MP (arts.
27, 39 e 40/CPP), ou, excepcionalmente, o juiz (art. 39/CPP);

Na ação penal pública incondicionada pode, também, ser autor:


• qualquer pessoa do povo: que deve comunicá-la, por escrito ou verbalmente, à
autoridade policial (delatio criminis simples), nada impedindo que seja anônima
(notitia criminis inqualificada). Após, a autoridade investiga sua procedência e
instaura o inquérito policial (art. 5º, § 3º);
• o juiz: que deve comunicá-la ao MP (art. 40) ou requisitar à autoridade policial a
instauração de inquérito policial;
• qualquer funcionário público que tenha conhecimento no exercício de função
pública: que deve comunicá-la à autoridade policial, constituindo a omissão
contravenção penal (art. 66, I, da LCP);
• qualquer pessoa que tenha conhecimento no exercício de medicina ou de outra
profissão sanitária: que deve comunicar à autoridade policial, constituindo a
omissão contravenção penal (art. 66, II, da LCP);

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Na ação penal pública condicionada à representação do ofendido, só pode ser autor da


notitia criminis o ofendido ou o seu representante legal (art. 5º, II, e §§ 4º e 5º)

Na ação pública condicionada à requisição do Ministro da Justiça (crimes praticados


contra a honra do Presidente da República, ou chefe de governo estrangeiro, entre outros
– art. 145, parágrafo único/CP; art. 23, I c/c. art. 7º, § 3º/CP), a notitia criminis é faculdade
do Ministro da Justiça.

Nos crimes de engajamento e deserção, é o Capitão do porto (art. 3º, parágrafo único, do
Dec.-lei 4124/42);
Nos crimes de responsabilidade dos governadores de Estado: às Assembleias
Legislativas;
Nos crimes de responsabilidade do Presidente da República: à Câmara dos Deputados ou
Senado Federal;
Nos crimes militares: autoridade militar competente (art. 7º da CPPM);
Nos crimes relacionados com serviço postal ou com o serviço de telegrama: o MP Federal
(art. 45 da Lei 6538/78).

É com a notitia criminis que se instaura o inquérito policial, mas a lei processual
disciplina a matéria prevendo formas específicas dessa comunicação.

Delatio criminis e a infração penal

A delatio criminis também é a comunicação de um crime à autoridade policial, entretanto


este recurso se diferencia pelo agente que transmite a mensagem, ou seja, na delatio
criminis a comunicação da infração penal chega por meio de qualquer pessoa do povo.

Veja o que diz o artigo 5º, parágrafo terceiro do Código de Processo Penal sobre o
assunto:
Artigo 5º
(...)
§ 3º Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de
infração penal em que caiba ação pública poderá, verbalmente ou por

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escrito, comunicá-la à autoridade policial, e esta, verificada a


procedência das informações, mandará instaurar inquérito.

Perceba que, na delatio criminis não estamos falando de uma comunicação “oficial”, feita
diretamente pelo agente do crime ou pela vítima, mas por terceiros, que tiveram
conhecimento da infração e comunicaram à autoridade competente.

Notitia Criminis inqualificada:


Muito tem se discutido quanto à possibilidade de um inquérito policial ter início a partir
de uma notitia criminis inqualificada, vulgarmente conhecida como DENÚNCIA
ANÔNIMA.

não se pode olvidar que a própria Constituição Federal estabelece que é vedado o
anonimato (CF, art. 5º, IV).

Diante de uma denúncia anônima, deve a autoridade policial, antes de instaurar o


inquérito policial, verificar a procedência e veracidade das informações por ela
veiculadas. Recomenda-se, pois, que a autoridade policial, antes de proceder à
instauração formal do inquérito policial, realize uma investigação preliminar a fim de
constatar a plausibilidade da denúncia anônima.

Afigura-se IMPOSSÍVEL a instauração de procedimento criminal baseado única e


exclusivamente em denúncia anônima, haja vista a vedação constitucional do anonimato
e a necessidade de haver parâmetros próprios à responsabilidade, nos campos cível e
penal. Na dicção da Suprema Corte, a instauração de procedimento criminal originada
apenas em documento apócrifo seria contrária à ordem jurídica constitucional, que veda
expressamente o anonimato.

Diante da necessidade de se preservar a dignidade da pessoa humana, o acolhimento da


delação anônima permitiria a prática do denuncismo inescrupuloso, voltado a prejudicar
desafetos, impossibilitando eventual indenização por danos morais ou materiais, assim
como eventual responsabilização criminal pelo delito de denunciação caluniosa (CP,
art. 339), o que ofenderia os princípios consagrados nos incisos V e X do art. 5o da CF.

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Em síntese, pode-se dizer que a DENÚNCIA ANÔNIMA, por si só, NÃO SERVE para
fundamentar a instauração de inquérito policial, mas, a partir dela, pode a polícia realizar
diligências preliminares para apurar a veracidade das informações obtidas anonimamente
e, então, instaurar o procedimento investigatório propriamente dito.

Firmou-se a orientação de que a autoridade policial, ao receber uma


denúncia anônima, deve antes realizar diligências preliminares para
averiguar se os fatos narrados nessa"denúncia"são materialmente
verdadeiros, para, só então, iniciar as investigações..." (STF 1ª
turma, HC 95.244 Rel. Min. Dias Toffoli)

A figura do whistleblower no Direito Penal

A Lei n. 13.608/2018, que dispõe a respeito do “serviço telefônico de recebimento de


denúncias e sobre recompensa por informações que auxiliem nas investigações
policiais”, previu a figura do chamado whistleblower (informante ou reportante do
bem).

Segundo Nuno Brandão, “whistleblowing é o termo, de origem norte-americana, com


que, há longo tempo, é cunhada a atividade daquele que sinaliza um comportamento ilegal
ou irregular ocorrido no quadro de uma organização, pública ou privada, com a qual tem
ou teve algum vínculo”.

O whistleblower, cuja tradução literal seria o “assoprador de apito”, figura justamente


como aquele que comunica, de forma anônima ou aberta, a órgãos de controle, de natureza
pública ou privada, existentes no interior da própria organização ou fora dela, eventuais
práticas que estejam em desconformidade com o padrão normativo estabelecido para o
exercício de certa atividade. Não se confunde, portanto, com o denominado compliance
officer ou gatekeeper tampouco com o delator ou colaborador premiado.

Importante destacar que a tutela legal do whistleblower foi incorporada ao ordenamento


jurídico brasileiro, mais especificamente no campo de controle estatal das infrações
criminais e administrativas em geral, apenas no ano de 2018.

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A Lei n. 13.964/2019, por sua vez, ampliou a política de whistleblowing na seara pública,
determinando que não apenas os órgãos da administração pública direta, mas também
indireta (autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista)
mantenham unidades de ouvidoria ou correição, com o objetivo de assegurar “a qualquer
pessoa o direito de relatar informações sobre crimes contra a administração pública,
ilícitos administrativos ou quaisquer ações ou omissões lesivas ao interesse público” (art.
4º-A, caput, da Lei n. 13.608/2018).

DESENVOLVIMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL.

O Código de Processo Penal não estabelece sequencia obrigatória a ser observada pela
autoridade policial no curso do inquérito policial. Nem teria mesmo sentido que assim
fizesse, na medida em que deve haver a discricionariedade para seguir o melhor caminho
para cada investigação, observando as necessidades do caso em concreto.

Assim, o artigo 6º e 7º do CPP estabelece um rol de condutas a serem tomadas, mas não
necessariamente na ordem ali contidas.

Art. 6o Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a


autoridade policial deverá:
I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado
e conservação das coisas, até a chegada dos peritos
criminais; (Redação dada pela Lei nº 8.862, de 28.3.1994)
II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados
pelos peritos criminais; (Redação dada pela Lei nº 8.862, de
28.3.1994)
III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato
e suas circunstâncias;
IV - ouvir o ofendido;
V - ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do
disposto no Capítulo III do Título Vll, deste Livro, devendo o respectivo
termo ser assinado por duas testemunhas que Ihe tenham ouvido a
leitura;
VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações;

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VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito


e a quaisquer outras perícias;
VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo processo
datiloscópico, se possível, e fazer juntar aos autos sua folha de
antecedentes;
IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista
individual, familiar e social, sua condição econômica, sua atitude e
estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer
outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu
temperamento e caráter.
X - colher informações sobre a existência de filhos, respectivas idades
e se possuem alguma deficiência e o nome e o contato de eventual
responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa
presa. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
Art. 7º Para verificar a possibilidade de haver a infração sido
praticada de determinado modo, a autoridade policial poderá proceder
à reprodução simulada dos fatos, desde que esta não contrarie a
moralidade ou a ordem pública.

Nessa fase, é possível ainda a realização de diligências extraordinárias, como a


representação por medidas cautelares sujeitas a reserva de jurisdição, tais como:
• quebra de sigilo bancário, fiscal, telefônico, telemático,
• interceptação telefônica;
• busca e apreensão
• infiltração policial
• colaboração premiada
• ação controlada
• etc.

Reprodução simulada dos fatos


A reprodução simulada dos fatos, também conhecida como reconstituição do crime,
consiste no refazimento simulado do ato criminoso para verificar se a infração pode ter

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sido praticada de determinada forma. Segundo o dispositivo do artigo 7º do CPP, poderá


ser feita a reprodução desde que não haja contrariedade à moralidade ou a ordem pública.

Ambos os conceitos de à moralidade e ordem pública são de difícil precisão. Eles devem
ser avaliados pela autoridade policial ou judicial com muita cautela.

O suspeito ou indiciado não é obrigado a colaborar de maneira ativa com a reprodução


simulada dos fatos. Embora parte da doutrina entenda que pode ser determinado o seu
comparecimento ao ato, o STF entende que nem mesmo de maneira passiva pode ser
determinado o comparecimento do suspeito ou indiciado no ato (HC 99.289/RS, rel. Min.
Celso de Mello, Dje 04.08.2011).

Condição e faculdade: A autoridade policial pode proceder à reprodução simulada dos


fatos, desde que esta não contrarie a moralidade ou a ordem pública. Exemplo: crimes
contra os costumes. Esse recurso é uma faculdade da autoridade policial, que deve
examinar da sua conveniência e utilidade.

Participação do investigado e condução coercitiva incabível: A participação do


investigado não é obrigatória. Pode ser utilizado um figurante, caso o investigado não
queira participar. É incabível sua condução coercitiva, já que não pode ser obrigado a
fazer prova contra si. Nemo tenetur se detegere inclui o direito de ficar calado, de não
ceder seu corpo, parte de seu corpo, substâncias de seu corpo, para produção de prova.
Significa que o investigado não tem qualquer obrigação de colaborar.

Reprodução simulada dos fatos a requerimento do investigado: É viável. Havendo


fato relevante do ponto de vista penal, é possível fazer a reprodução simulada dos fatos,
objetivando esclarecer fatos alegados pelo investigado.
Possibilidade de o juiz determinar: A possibilidade de proceder à reprodução simulada
dos fatos não é uma faculdade exclusiva da autoridade policial. Pode ser feita no curso da
instrução, a requerimento de qualquer das partes.

Registro do ato: Pode ser lavrada ata ou realizada gravação audiovisual. No caso desta
última, não pode haver cortes. Cortes prejudicariam a confiabilidade da simulação. Não
se estaria esclarecendo dúvida, mas confeccionando prova.

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Prazos de Conclusão do Inquérito Policial.

Decorrente do princípio da razoável duração do processo, elencado no artigo 5º inciso


LXXVIII da CRFB/198/, aqui aplicado de forma ampla, o inquérito policial tem prazo
determinado que irá variar de acordo com a autoridade que preside o inquérito bem como
a matéria.

Vejamos o que diz o art. 10 do CPP:

Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o


indiciado tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso
preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em
que se executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando
estiver solto, mediante fiança ou sem ela.
§ 1o A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido apurado
e enviará autos ao juiz competente.
§ 2o No relatório poderá a autoridade indicar testemunhas que não
tiverem sido inquiridas, mencionando o lugar onde possam ser
encontradas.
§ 3o Quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver solto,
a autoridade poderá requerer ao juiz a devolução dos autos, para
ulteriores diligências, que serão realizadas no prazo marcado pelo juiz.

O IPL, conforme a regra geral do CPP, deverá ser concluído em 10 (dez) dias quando
há indiciado preso cautelarmente. Esse prazo é de matiz processual penal material, pois
relaciona-se com o direito à liberdade. Assim, deve ser contado na forma do art. 10 do
CP, incluindo-se o primeiro dia (data da prisão) e excluindo o dia final. De outro lado,
o inquérito policial, também como regra geral do CPP, será encerrado em 30 (trinta) dias
em caso de investigado ou indiciado solto. Esse prazo é prorrogável.

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Mas, há ainda uma outra observação importante. No caso de crimes hediondos, caso
tenha sido decretada a prisão temporária, o prazo para a conclusão do IP passa a ser de
60 dias. Isso porque a prisão temporária em caso de crime hediondo tem o prazo de
30 dias, prorrogáveis por mais 30 dias. Como a prisão temporária só tem cabimento
durante a fase de investigação, isso faz com que o prazo para a conclusão do IP
acompanhe o prazo da prisão temporária.

Indiciamento

Uma vez finda a fase de colheita dos elementos probatórios, que pode ser chamada de
fase de “instrução” do inquérito policial, a autoridade policial, mediante análise técnico-
jurídica dos fatos, poderá proceder ao ato de indiciamento do(s) investigado(s), quando
presentes os indícios de autoria e materialidade, nos termos do parágrafo 6° do artigo 2°
da Lei 12.830/2013.
O ato de indiciamento é o ato do delegado de polícia, enquanto presidente da investigação,
via de regra praticado ao término da mesma, ao considerar concluída a fase de coleta de
elementos probatórios do delito investigado, quando é possível concluir-se pela autoria
de determinado crime, individualizando-se o autor.

Funciona, portanto, como uma das etapas da formação da culpa na investigação criminal,
quando os elementos constantes no inquérito policial permitem ao delegado de polícia
formar sua convicção de autoria e materialidade na investigação criminal, no processo de
filtragem apontado por Lopes Jr (2012, p. 280), “purificar, aperfeiçoar, conhecer o certo”.

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Quanto à sua natureza, pode ser entendido como um ato administrativo com efeitos
processuais, cujas consequências são bastante claras. Steiner (1998, p. 307) ressalta que:

“O indiciamento formal tem consequências que vão muito além do


eventual abalo moral que pudessem vir a sofrer os investigados, eis que
estes terão o registro do indiciamento nos Institutos de Identificação,
tornando assim público o ato de investigação. Sempre com a devida
vênia, não nos parece que a inserção de ocorrências nas folhas de
antecedentes comumente solicitadas para a prática dos mais diversos
atos da vida civil seja fato irrelevante. E o chamado abalo moral diz, à
evidência, com o ferimento à dignidade daquele que, a partir do
indiciamento, está sujeito à publicidade do ato”.

Relatório final

Consiste no ato que marca o encerramento da investigação preliminar, quando é


oferecido, pela autoridade policial, o relatório onde a autoridade aponta as diligências
realizadas e sua interpretação técnico-jurídica dos fatos.

O relatório final pode prescindir do indiciamento, que somente ocorre quando presente
os indícios de materialidade e autoria de infração penal.
Com o oferecimento do relatório, abrem-se três possibilidades ao Ministério Público:
requisitar novas diligências (necessárias), pedir o arquivamento ou oferecer denúncia.

Questões:

1 - De acordo com as afirmações abaixo, assinale a alternativa correta.


I - O Delegado de Polícia, logo que tomar conhecimento da prática da infração penal
poderá deslocar-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e
conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais, podendo ainda apreender
objetos que tiverem relação com os fatos a qualquer momento.

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II - O Delegado de Polícia, logo que tomar conhecimento da prática da infração penal


deverá ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico em todas as
circunstâncias que achar conveniente à instrução do inquérito policial.
III - Poderá a Autoridade Policial proceder ao reconhecimento de pessoas, coisas e ainda
à acareação, mesmo sem prévia autorização judicial.
a) Apenas as alternativas II e III estão corretas.
b) Apenas as alternativas I e II estão corretas.
c) Apenas a alternativa III está correta.
d) Todas as alternativas estão corretas.
e) Todas as alternativas estão incorretas.
( ) ( )

2 - São características do Inquérito Policial, exceto:


a) Vige o princípio da oficiosidade e oficialidade.
b) Procedimento inquisitivo.
c) É presidido por autoridade pública em conformidade com a constituição federal no
artigo 144, §4º.
d) Uma vez instaurado pode ser arquivado pela autoridade policial.
e) Procedimento escrito e sigiloso.
( ) ( )

3 - Assinale a alternativa que preenche corretamente a lacuna do texto abaixo:


Para verificar a possibilidade de haver a infração sido praticada de determinado modo, a
autoridade policial poderá proceder à ________________________, desde que esta não
contrarie a moralidade ou a ordem pública.
a) juntada de documentos.
b) visita ao local dos fatos.
c) oitiva das partes.
d) perícia nos objetos.
e) reprodução simulada dos fatos.
( ) ( )

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4 - O conceito clássico do inquérito policial dado pela doutrina é que se trata de um


procedimento administrativo que visa apurar autoria e materialidade. A investigação
realizada pela Autoridade Policial faz parte da persecução penal.
Acerca da persecução penal, assinale a afirmativa INCORRETA.
a) Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de inquérito não caberá recurso.
c) A notitia criminis pode ser de cognição imediata, cognição mediata e cognição
coercitiva.
c) A delatio criminis ocorre quando qualquer do povo comunica à autoridade policial a
existência de um crime de ação penal pública (art. 5º, §3º do CPP).
d) O Ministério Público não poderá requerer a devolução do inquérito à autoridade
policial, senão para novas diligências, imprescindíveis ao oferecimento da denúncia.
e) Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela autoridade judiciária, por falta
de base para a denúncia, a autoridade policial não poderá continuar a investigar o fato, a
não ser que ocorra o desarquivamento.
( ) ( )

5 - De acordo com as normas processuais penais vigentes no Brasil, assinale a alternativa


correta.
a) O inquérito policial que tramitar perante a Justiça Estadual deve ser concluído em trinta
dias caso o investigado esteja solto, podendo ser prorrogado após decisão do magistrado
responsável.
b) Não se tramitam inquéritos policiais perante a Justiça Federal.
c) De acordo com a Lei de Tóxicos, o inquérito policial que apura o crime de tráfico de
entorpecentes tem os mesmos prazos de conclusão previstos no Código de Processo
Penal.
d) Se o investigado estiver preso, o prazo de conclusão do inquérito policial será o mesmo
de quando ele estiver solto.
e) Nos crimes contra a economia popular, o prazo para conclusão do inquérito é de cem
dias caso o investigado esteja preso.
( ) ( )

6 - Sobre as regras legais do inquérito policial, assinale a alternativa correta.


a) A lavratura de boletim de ocorrência pelo ofendido não é meio hábil para iniciar o
inquérito policial.

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b) A autoridade policial não poderá mandar instaurar inquérito após comunicação verbal
de suposto crime feita por pessoa do povo.
c) Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de inquérito, só caberá recurso
para o governador.
d) O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de representação, poderá ser
iniciado sem a própria representação.
e) Nos crimes de ação pública, o inquérito policial será iniciado de ofício ou mediante
requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público, ou a requerimento do
ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo.
( ) ( )

7 - A autoridade policial recebeu denúncia anônima sobre a existência de um grupo que


se destinava a praticar roubos a agências bancárias. Diante da notícia recebida, com base
no entendimento dos Tribunais Superiores, a autoridade policial:
a) terá discricionariedade para instauração ou não do inquérito policial;
b) não poderá adotar qualquer medida, por tratar-se de denúncia anônima;
c) deverá realizar diligências preliminares para averiguação, antes de instaurar o inquérito
policial;
d) deverá instaurar imediatamente inquérito policial para apurar o fato;
e) poderá dispensar o inquérito policial e encaminhar as informações recebidas ao órgão
ministerial para o oferecimento imediato de denúncia.
( ) ( )

8 - O ato da autoridade policial de imputação a alguém da prática de ilícito penal nos


autos do IP é denominado
a) libelo acusatório.
b) indiciamento.
c) delação.
d) denúncia.
e) queixa.
( ) ( )

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9 - Assinale a opção correta acerca da natureza jurídica do IP.


a) O IP só será obrigatório para a apuração de crimes de ação privada.
b) O IP só será obrigatório para a apuração de crimes de ação pública.
c) Cuida-se de peça meramente informativa, podendo ser dispensável ao oferecimento da
denúncia ou queixa.
d) Trata-se de peça obrigatória, sem a qual a ação penal, pública ou privada, não poderá
ser iniciada.
e) Por não ser uma peça obrigatória, o IP poderá não acompanhar a denúncia ou a queixa,
mesmo que sirva de base para uma ou outra.
( ) ( )

10 - Assinale a alternativa correta.


a) Nos crimes de ação pública, o inquérito policial não poderá ser iniciado a requerimento
do ofendido.
b) O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de representação, poderá sem
ela ser iniciado, contanto que a representação seja apresentada até o agendamento da
audiência judicial de instrução.
c) Para verificar a possibilidade de haver a infração sido praticada de determinado modo,
a autoridade policial poderá proceder à reprodução simulada dos fatos, isolando a área do
entorno para que eventuais diligências que firam a moralidade pública possam ser
devidamente replicadas.
e) Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de inquérito caberá recurso para
o chefe de polícia.
e) Todas as peças do inquérito policial serão, num só processado, resumidas a escrito e,
neste caso, rubricadas pela autoridade.
( ) ( )

11 - Quando o inquérito policial é instaurado a partir de um auto de prisão em flagrante


delito, diz-se haver:
Alternativas
a) notitia criminis inqualificada.
b) delatio criminis postulatória.
c) notitia criminis de cognição imediata.
e) notitia criminis de cognição mediata.

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e) notitia criminis de cognição coercitiva.


( ) ( )

RESPOSTAS E COMENTÁRIOS:

1 – Gabarito: Alternativa C
Comentário:
Item I - ERRADA - Como o delegado teve o conhecimento do crime, ele deverá e não
poderá.
Item II - ERRADA - O Delegado é obrigado a realizar o processo datiloscópio em todas
as circunstâncias e não apenas naquelas que ele achar conveniente.
Item III - CERTO

2 – Gabarito: Alternativa D
Comentário:
a) CORRETA. Oficialidade: a investigação deve ser realizada por autoridades e agentes
integrantes dos quadros públicos.
b) CORRETA. O inquérito policial é expediente administrativo e inquisitorial, nele não
existe defesa, pois não há lide, não há partes, portanto, os princípios do contraditório e da
ampla defesa são observados exclusivamente na persecução penal judicial.
c) CORRETA. O Inquérito será presidido pela autoridade policial. Art. 144º, § 4º, CF -
às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a
competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais,
exceto as militares. Art. 4º, CPP - A polícia judiciária será exercida pelas autoridades
policiais no território de suas respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das
infrações penais e da sua autoria.
d) GABARITO. O arquivamento deverá preceder de pedido do MP e homologação do
Juiz. Para além da questão: a decisão que determina o arquivamento do inquérito é
irrecorrível (essa informação também é muito cobrada).
e) CORRETA. Escrito: todos os atos do inquérito serão reduzidos a escrito, devendo os
datilografados ou digitados receber a rubrica do delegado. Sigiloso: o delegado deve

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impor ao inquérito o sigilo se necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da


sociedade.

3 – Gabarito: Alternativa E
Comentário: Art. 7o Para verificar a possibilidade de haver a infração sido praticada de
determinado modo, a autoridade policial poderá proceder à reprodução simulada dos
fatos, desde que esta não contrarie a moralidade ou a ordem pública.

4 – Gabarito: Alternativa A
Comentário: Art. 5o Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado:
§ 2o Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de inquérito caberá recurso
para o chefe de Polícia.

5 – Gabarito: Alternativa A
Comentário:
RÉU PRESO: 10 DIAS IMPRORROGÁVEIS
RÉU SOLTO : 3O DIAS PRORROGÁVEIS

6 – Gabarito: Alternativa E
Comentário: Art. 5o Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado:
I - de ofício;
II - mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público, ou a
requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo.

7 – Gabarito: Alternativa C
Comentário: Fundamentação §3 do art. 5º do CPP:
Art. 5º Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado:
§ 3º Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de infração penal em
que caiba ação pública poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-la à autoridade
policial, e esta, verificada a procedência das informações, mandará instaurar inquérito.

8 – Gabarito: Alternativa B
Comentário: O indiciamento é ato privativo da autoridade policial, não podendo o
magistrado intervir ou motivar as decisões do delta nesses casos. Indiciar é deixar de

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considerar o investigado como possível agente do crime, para considerá-lo como provável
agente do crime.

9 – Gabarito: Alternativa C
Comentário: Dispensabilidade
O inquérito não poderá ser arquivado diretamente pela autoridade policial
(indisponibilidade). Essa característica não se confunde com a dispensabilidade.
A justa causa é o suporte probatório mínimo sobre autoria e materialidade delitiva. Como
a função precípua do inquérito policial é oferecer substrato para a ação penal, ele será
dispensável se o MP já possuir esses elementos.

10 – Gabarito: Alternativa D
Comentário: Art. 5º, § 2 Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de
inquérito caberá recurso para o chefe de Polícia.

11 – Gabarito: Alternativa E
Comentário
Notitia criminis
▸De cognição imediata / direta / espontânea: autoridade policial toma conhecimento
por meios corriqueiros.
▸De cognição mediata / indireta / provocada / qualificada: ocorre por meio de
provocação judicial: requisição por parte do juiz, requisição do Ministério Público ou
representação do ofendido.
▸De cognição coercitiva: quando ocorre a comunicação através de flagrante delito.
Delatio criminis
Quando a autoridade recebe uma denúncia de terceiros, fala-se em delatio criminis;
Ocorre somente em caso de ação penal pública incondicionada;
O delatio criminis é sujeito à verificação de procedência das informações;
Também é considerada uma espécie de notitia criminis mediata.
▸Delatio criminis simples: a vítima ou qualquer do povo somente comunica o fato.
▸Delatio criminis postulatória: a vítima ou qualquer do povo comunica o fato à
autoridade policial e pede a instauração de inquérito policial.
▸Delatio criminis inqualificada / apócrifa: refere-se à denúncia anônima.

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