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DELEGADO 2018.1
CONCURSOS PÚBLICOS
PROCESSO PENAL
@professor_bello (21)97434-1978
Questão 04: Durante uma reunião em que se discutia a aplicação à empresa Alfa Ltda. de
penalidade de impedimento de licitar — que fora sugerida em parecer elaborado por Marcelo,
advogado da União —, o proprietário da empresa, João, com a intenção de atingir a honra do
referido servidor público, acusou-o falsamente de estar utilizando seu cargo para beneficiar
sua concorrente, a empresa Beta S.A., já que, com a aplicação da penalidade sugerida, a
empresa Beta seria a única no mercado nacional apta a fornecer o objeto do contrato.
Redija um texto dissertativo a respeito da conduta de João, proprietário da empresa Alfa Ltda.
Em seu texto, aborde
2 o objeto jurídico tutelado pelo Código Penal com a tipificação do crime cometido e os
requisitos para a configuração desse delito; [valor: 3,00 pontos]
Questão 05: À noite, no retorno para a delegacia, depois de cumpridas outras diligências,
policiais civis suspeitaram, com razões justificáveis, da ocorrência de tráfico de drogas em
determinada residência. Imediatamente, entraram à força no local e realizaram busca e
apreensão no domicílio.
3 Caso a ação dos policiais seja considerada ilícita, quais serão as consequências dessa ação?
[valor: 2,00 pontos]
Questão 06: O art. 1.º da Lei n.º 9.296/1996 disciplina que “A interceptação de comunicações
telefônicas, de qualquer natureza, para prova em investigação criminal e em instrução
processual penal, observará o disposto nesta lei e dependerá de ordem do juiz competente da
ação principal, sob segredo de justiça”.
Com base nas disposições da referida norma legal, no entendimento dos tribunais superiores e
na conceituação doutrinária dos diversos fluxos de comunicação, faça o que se pede a seguir.
2 Discorra acerca da legalidade ou não do acesso, sem ordem judicial, a arquivos de ligações
realizadas e recebidas e à agenda de contatos em aparelho telefônico do indiciado apreendido
regularmente pela autoridade policial e esclareça sobre a sujeição, ou não, dessas medidas ao
regime da Lei n.º 9.296/1996. [valor: 3,60 pontos]
Questão 07: Considerando os dispositivos da Lei n.º 12.403/2011, que promoveu alterações no
Código de Processo Penal relativas à prisão processual, discorra sobre a natureza jurídica da
prisão em flagrante diante da nova roupagem processual penal, abordando, necessária e
fundamentadamente, as justificativas doutrinárias que defendem a sua cautelaridade [valor:
4,00 pontos] e as que defendem a sua pré-cautelaridade [valor: 3,60 pontos].
1 O indiciamento é ato privativo de delegado de polícia? O que esse ato deve indicar? [valor:
2,00 pontos]
3 Na hipótese considerada, qual deve ser a providência correta com relação ao ato de
indiciamento do parlamentar? [valor: 2,80 pontos]
Questão 09: Dois homens — um empunhando um revólver; o outro, uma faca — abordaram,
por volta de 20 h 30 min de determinado dia, duas moças que caminhavam em uma rua e as
ameaçaram, exigindo que lhes entregassem seus telefones celulares, tendo sido prontamente
atendidos. Comunicado o fato, a autoridade policial instaurou inquérito policial e, dois dias
depois, os investigadores chegaram aos dois suspeitos, conhecidos pela contumácia na prática
dessa ação criminosa. Levados os suspeitos à delegacia, as vítimas prontamente os
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reconheceram como autores dos roubos, mas sem que a autoridade policial observasse as
normas do Código de Processo Penal que regulam o procedimento de reconhecimento de
pessoas (art. 226 do Código de Processo Penal).
2 Em que fase da persecução penal deve ocorrer o reconhecimento de pessoa? [valor: 5,00
pontos]
Questão 10: A Lei n.º 11.340/2006, também conhecida como Lei Maria da Penha, criou
mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher,
estabelecendo, entre outras, medidas de proteção às mulheres em situações de abuso e de
agressões.
1 Procedimento a ser instaurado pela autoridade policial nos crimes de lesão corporal leve, de
ameaça e de injúria cometidos contra a mulher em situação de violência doméstica, levando-
se em consideração a natureza da ação penal nos respectivos crimes. [valor: 5,25 pontos]
2 Possibilidade de retratação da vítima, no âmbito policial, quanto aos crimes indicados. [valor:
5,00 pontos]
04.07.2018
Art. 144 CF
O caput do Art. 144 CF legitima o flagrante facultativo (Art. 301 CPP), já que segurança pública
é direito e responsabilidade de todos.
Ministro da Justiça não é o chefe da PF. O DPF é dirigido pelo DG – Diretor Geral. Quem pode
ocupar tal cargo? Apenas delegados de polícia de carreira da última classe da carreira –
exigência de 2014 em diante. (Art. 2º-C da lei 9.266/96). Escolha da presidência.
Atualmente Romeu Tuma (ex-Delegado de Polícia de SP e que já foi DG) não poderia ser DG, já
que nunca foi Delegado de Polícia.
1
LEI Nº 13.690, DE 10 DE JULHO DE 2018 (lei na íntegra no final) : Altera a Lei nº 13.502, de 1º de
novembro de 2017, que dispõe sobre a organização básica da Presidência da República e dos
Ministérios, para criar o Ministério da Segurança Pública, e as Leis nos 11.134, de 15 de julho de 2005, e
9.264, de 7 de fevereiro de 1996; e revoga dispositivos da Lei nº 11.483, de 31 de maio de 2007.
Art. 1o Fica criado o Ministério da Segurança Pública e transformado o Ministério da Justiça e
Segurança Pública em Ministério da Justiça.
6
Fundamental para a prova da PF (9.266/96 – Lei que organiza a polícia federal – alterada pela
lei 13.047/14).
Curiosidade: Remoções dentro da PF é feito através de um concurso interno por critérios bem
objetivos de pontuação. Dependendo da localidade da lotação, maior a pontuação. Ficar no
Norte do país, pontua mais que um policial que fica nos grandes centros. Remoções são feitas
quando dos novos integrantes ingressarem na carreira.
Geralmente no início o Policial vai para a fronteira, onde temos uma verdadeira escola, pois
equipara-se ao “médico clínico geral”. O policial investiga contrabando, drogas, prefeito etc.
Tudo pode acontecer.
Lotação:
Desafios:
Volume de Trabalho
Autonomia de Trabalho, de investigação (melhorou com a lei 12.830/13)
Interesses Investigados
*Atribuições (Art. 144 §1º CF/88) vs. Competência (Art. 109 CF/88)
Comuns – Residual
Atribuições:
Polícia Judiciária – Atuar na investigação através de um Inquérito Policial (não existe Inquérito
Policial Federal, o que temos é um inquérito que tramita na polícia federal).
Polícia Administrativa – prestação do serviço público remunerado por taxa. (Ex: taxa de
emissão de passaporte, taxa de fiscalização da empresa de segurança).
Polícia Judiciária:
1) Apurar Infrações contra a ordem política e social (Art. 144 §1º I CF/88):
a) Lei de Segurança Nacional (Art. 7.170/83)
b) Lei de Combate ao Terrorismo (Art. 13.260/16)
2
Início do Bloco 04
3
Toda prova da Polícia Federal cai essa lei!
8
Lembrando que estas atribuições não excluem a atuação dos órgãos estaduais. Ler
Caput do art. 1º da lei. A ideia é a complementariedade.
5) Art. 1º inciso II da lei 10.446/02: II – formação de cartel (incisos I, a, II, III e VII do art.
4º da Lei nº 8.137, de 27 de dezembro de 1990); Exemplo: Se na greve dos
caminhoneiros tivesse comprovado a união das empresas de transportes de
caminhões, poderíamos verificar a formação de um cartel. Outro exemplo é a
formação de cartel para os crimes de relações de consumo.
6) Art. 1º inciso III da lei 10.446/02: III – relativas à violação a direitos humanos, que a
República Federativa do Brasil se comprometeu a reprimir em decorrência de tratados
internacionais de que seja parte; Exemplo: A chacina do Carandiru; homicídio da irmã
Dorothy no Pará.4
4
Verificar o IDC do Art. 109 V-A CF
5
O novo art. 288 CP traz a conduta de Associação Criminosa. Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas,
para o fim específico de cometer crimes: Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.
6
A partir deste inciso alterações de lei em 2013.
10
10) Art. 1º inciso VII da lei 10.446/02: VII – quaisquer crimes praticados por meio da rede
mundial de computadores que difundam conteúdo misógino7, definidos como aqueles
que propagam o ódio ou a aversão às mulheres.
11) Art. 1º Parágrafo Único da lei 10.446/02: Parágrafo único. Atendidos os pressupostos
do caput, o Departamento de Polícia Federal procederá à apuração de outros casos,
desde que tal providência seja autorizada ou determinada pelo Ministro de Estado da
Justiça.8
12) Prevenir e Reprimir Tráfico de Drogas (Art. 144 §1º II CF/88) – não apenas o
internacional. São celebrados convênios9 entre Estados Membros e União Federal.
a) Tráfico internacional
b) Tráfico Interestadual
c) Trafico Intermunicipal
d) Tráfico Local
14) exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras (Art. 144 §1º
inciso III CF/88).
15) exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União. 10(Art. 144 §1º
inciso IV CF/88).
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Misoginia é a repulsa, desprezo ou ódio contra as mulheres. Esta forma de aversão mórbida e
patológica ao sexo feminino está diretamente relacionada com a violência que é praticada contra a
mulher.
A misoginia é a principal responsável por grande parte dos assassinatos de mulheres, também
conhecido por feminicídio, que configura-se como formas de agressões físicas e psicológicas,
mutilações, abusos sexuais, torturas, perseguições, entre outras violências relacionadas direta ou
indiretamente com o gênero feminino.
8
Referência ao superior hierárquico do DPF – Ministro Extraordinário da Segurança Pública.
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Convênio entre a União Federal e o Rio de Janeiro: Cláusula primeira - O presente Convênio tem por
objetivo fixar, nos termos constitucionais, diretrizes e mecanismos de colaboração entre a União e o
Estado do Rio de Janeiro no que diz respeito à preservação da Lei, da ordem pública e da segurança do
cidadão, especialmente no que concerne à prevenção e repressão do contrabando de armas e do tráfico
de drogas;
Cláusula Segunda - Para os fins previstos neste Convênio, o Governo do Estado do Rio de Janeiro
promoverá, de imediato, a constituição de um órgão central para planejar, coordenar e unificar a
atuação das Secretarias de Estado da Justiça, da Polícia Militar, Polícia Civil, e da Defesa Civil, no
combate à criminalidade. Esse órgão atuará sob a direção do Comando Militar do Leste, que, ouvido o
presidente da República, indicará ao governador do Rio de Janeiro o comandante geral das operações.
Cláusula Terceira - Caberá à União prestar, ao órgão central a que se refere a Cláusula anterior,
orientação e assistência técnica, operacional e material;
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Este seria um fundamento para impedir o MP investigar, mas a matéria já está consolidada pela
possibilidade.
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16) Reprimir e apurar crimes políticos, eleitorais e exercer a função de polícia judiciária
eleitoral (CE e Lei 9.504/98).11
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RESOLUÇÃO Nº 23.396 DA POLÍCIA JUDICIÁRIA ELEITORAL
Art. 1º O Departamento de Polícia Federal ficará à disposição da Justiça Eleitoral sempre que houver
eleições, gerais ou parciais, em qualquer parte do Território Nacional (Decreto-Lei nº 1.064/68).
Art. 2º A Polícia Federal exercerá, com prioridade sobre suas atribuições regulares, a função de polícia
judiciária em matéria eleitoral, limitada às instruções e requisições dos Tribunais e Juízes Eleitorais.
Parágrafo único. Quando no local da infração não existirem órgãos da Polícia Federal, a Polícia do
respectivo Estado terá atuação supletiva.
CAPÍTULO II
DA NOTÍCIA-CRIME ELEITORAL
Art. 3º Qualquer pessoa que tiver conhecimento da existência de infração penal eleitoral deverá,
verbalmente ou por escrito, comunicá-Ia ao Juiz Eleitoral (Código Eleitoral, art. 356).
Art. 4º Verificada a sua incompetência, o Juízo Eleitoral determinará a remessa dos autos ao Juízo
competente (Código de Processo Penal, art. 69).
Art. 5º Quando tiver conhecimento da prática da infração penal eleitoral, a autoridade policial deverá
informá-la imediatamente ao Juízo Eleitoral competente, a quem poderá requerer as medidas que
entender cabíveis, observadas as regras relativas a foro por prerrogativa de função.
Art. 6º Recebida a notícia-crime, o Juiz Eleitoral a encaminhará ao Ministério Público Eleitoral ou,
quando necessário, à polícia, com requisição para instauração de inquérito policial (Código Eleitoral, art.
356, § 1°).
Art. 7º As autoridades policiais e seus agentes deverão prender quem for encontrado em flagrante
delito pela prática de infração eleitoral, salvo quando se tratar de crime de menor potencial ofensivo,
comunicando imediatamente o fato ao Juiz Eleitoral, ao Ministério Público Eleitoral e à família do preso
ou à pessoa por ele indicada (Código de Processo Penal, art. 306, caput).
§ 1º Em até 24 horas após a realização da prisão, será encaminhado ao Juiz Eleitoral o auto de prisão em
flagrante e, caso o autuado não informe o nome de seu advogado, cópia integral para a Defensoria
Pública (Código de Processo Penal, art. 306, § 1º).
§ 2º No mesmo prazo de até 24 horas após a realização da prisão, será entregue ao preso, mediante
recibo, a nota de culpa, assinada pela autoridade policial, com o motivo da prisão, o nome do condutor
e os nomes das testemunhas (Código de Processo Penal, art. 306, § 2º).
§ 3º A apresentação do preso ao Juiz Eleitoral, bem como os atos subsequentes, observarão o disposto
no art. 304 do Código de Processo Penal.
§ 4º Ao receber o auto de prisão em flagrante, o Juiz Eleitoral deverá fundamentadamente (Código de
Processo Penal, art. 310):
I – relaxar a prisão ilegal; ou
II – converter a prisão em flagrante em preventiva, quando presentes os requisitos constantes do art.
312 do Código de Processo Penal e se revelarem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares
diversas da prisão; ou
III – conceder liberdade provisória, com ou sem fiança.
§ 5º Se o juiz verificar, pelo auto de prisão em flagrante, que o agente praticou o fato nas condições
constantes dos incisos I a III do art. 23 do Código Penal, poderá, fundamentadamente, conceder ao
acusado liberdade provisória, mediante termo de comparecimento a todos os atos processuais, sob
pena de revogação (Código de Processo Penal, art. 310, parágrafo único).
§ 6º Ausentes os requisitos que autorizam a decretação da prisão preventiva, o Juiz Eleitoral deverá
conceder liberdade provisória, impondo, se for o caso, as medidas cautelares previstas no art. 319,
observados os critérios constantes do art. 282, ambos do Código de Processo Penal (Código de Processo
Penal, art. 321).
§ 7º A fiança e as medidas cautelares serão aplicadas pela autoridade competente com a observância
das respectivas disposições do Código de Processo Penal.
§ 8º Quando a infração for de menor potencial ofensivo, a autoridade policial elaborará termo
circunstanciado de ocorrência e providenciará o encaminhamento ao Juiz Eleitoral.
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17) Apurar infrações penais em sede de disputas de direitos indígenas. Crimes cometidos
contra uma coletividade indígena (Art. 231 CF).
18) Apurar infrações contra o meio ambiente e contra o patrimônio histórico e cultural (Lei
9.605/98). Delegacia especializada dentro da PF. Exemplo: roubo de imagens no
interior de Minas de imagens feitas pelo Aleijadinho pertencentes ao patrimônio da
União. Outro exemplo: tráfico de animais silvestres.
CAPÍTULO III
DO INQUÉRITO POLICIAL ELEITORAL
Art. 8º O inquérito policial eleitoral somente será instaurado mediante determinação da Justiça
Eleitoral, salvo a hipótese de prisão em flagrante.
Art. 9º Se o indiciado tiver sido preso em flagrante ou preventivamente, o inquérito policial eleitoral
será concluído em até 10 dias, contado o prazo a partir do dia em que se executar a ordem de prisão
(Código de Processo Penal, art. 10).
§ 1º Se o indiciado estiver solto, o inquérito policial eleitoral será concluído em até 30 dias, mediante
fiança ou sem ela (Código de Processo Penal, art. 10).
§ 2º A autoridade policial fará minucioso relatório do que tiver sido apurado e enviará os autos ao Juiz
Eleitoral (Código de Processo Penal, art. 10, § 1º).
§ 3º No relatório, poderá a autoridade policial indicar testemunhas que não tiverem sido inquiridas,
mencionando o lugar onde possam ser encontradas (Código de Processo Penal, art. 10, § 2º).
§ 4º Quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver solto, a autoridade policial poderá
requerer ao Juiz Eleitoral a devolução dos autos, para ulteriores diligências, que serão realizadas no
prazo marcado pelo Juiz Eleitoral (Código de Processo Penal, art. 10, § 3º).
Art. 10. O Ministério Público Eleitoral poderá requerer novas diligências, desde que necessárias à
elucidação dos fatos.
Parágrafo único. Se o Ministério Público Eleitoral considerar necessários maiores esclarecimentos e
documentos complementares ou outros elementos de convicção, deverá requisitá-los diretamente de
quaisquer autoridades ou funcionários que possam fornecê-los, ressalvadas as informações submetidas
à reserva jurisdicional (Código Eleitoral, art. 356, § 2º).
Art. 11. Quando o inquérito for arquivado por falta de base para o oferecimento da denúncia, a
autoridade policial poderá proceder a nova investigação se de outras provas tiver notícia, desde que
haja nova requisição, nos termos dos artigos 5º e 6º desta resolução.
Art. 12. Aplica-se subsidiariamente ao inquérito policial eleitoral as disposições do Código de Processo
Penal, no que não houver sido contemplado nesta resolução.
Art. 13. A ação penal eleitoral observará os procedimentos previstos no Código Eleitoral, com a
aplicação obrigatória dos artigos 395, 396, 396-A, 397 e 400 do Código de Processo Penal, com redação
dada pela Lei nº 11.971, de 2008. Após esta fase, aplicar-se-ão os artigos 359 e seguintes do Código
Eleitoral.
Art. 14. Esta resolução entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 17 de dezembro de 2013.
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O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF), em sessão na tarde desta quarta-feira (20), encerrou o
julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 5508 e considerou constitucional a
possibilidade de delegados de polícia realizarem acordos de colaboração premiada na fase do inquérito
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20) Apurar infrações penais contra a ordem tributária federal (Lei 8.137/90).
21) Apurar infrações penais contra a organização do trabalho (Arts. 197 a 207 CP) – O STF
entende que o crime do art. 149 CP – redução à condição análoga a escravo também é
de competência da Justiça Federal.
policial. Por maioria de votos, os ministros se posicionaram pela improcedência da ação, na qual a
Procuradoria-Geral da República (PGR) questionava dispositivos da Lei 12.850/2013 (Lei que define
organização criminosa e trata da colaboração premiada).
Na sessão desta tarde, votaram os ministros Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes, Celso de Mello e
Cármen Lúcia (presidente), todos acompanhando o entendimento do relator, ministro Marco Aurélio.
Segundo ele, a formulação de proposta de colaboração premiada pela autoridade policial como meio de
obtenção de prova não interfere na atribuição constitucional do Ministério Público de ser titular da ação
penal e de decidir sobre o oferecimento da denúncia. Os ministros destacaram que, mesmo que o
delegado de polícia proponha ao colaborador a redução da pena ou o perdão judicial, a concretização
desses benefícios ocorre apenas judicialmente, pois se trata de pronunciamentos privativos do Poder
Judiciário.
De acordo com a decisão, embora não seja obrigatória a presença do Ministério Público em todas as
fases da elaboração dos acordos entre a autoridade policial e o colaborador, o MP deve
obrigatoriamente opinar. No entanto, cabe exclusivamente ao juiz a decisão homologar ou não o
acordo, depois de avaliar a proposta e efetuar o controle das cláusulas eventualmente
desproporcionais, abusivas ou ilegais.
Após o ministro Marco Aurélio ressaltar seu entendimento no sentido da impossibilidade de
interferência da autoridade policial na atribuição exclusiva do Ministério Público de oferecer denúncia,
os ministros Alexandre de Moraes e Roberto Barroso reajustaram os votos para acompanhar
integralmente o relator.
Os ministros Edson Fachin, Rosa Weber e Luiz Fux divergiram parcialmente. Eles entendem que, embora
a autoridade policial possa formular acordo de colaboração, a manifestação do Ministério Público sobre
os termos da avença deve ser definitiva e vinculante.
Também divergindo parcialmente, o ministro Dias Toffoli entende que o delegado de polícia pode
submeter ao juiz o acordo firmado com colaborador desde que a proposta traga, de forma genérica,
somente as sanções premiais previstas no artigo 4º, caput e parágrafo 5º, da Lei 12.850/2013, com
manifestação do MP sem caráter vinculante. Ficaria a critério do juiz a concessão dos benefícios
previstos na lei, levando em consideração a efetividade da colaboração. O ministro entende ainda que a
autoridade policial, diante da relevância da colaboração prestada, pode representar ao juiz, nos autos
do inquérito policial, proposta de perdão judicial, ouvido previamente o MP.
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PENAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. CRIME DE HOMICÍDIO CULPOSO. ART. 109, INCISO IX, DA CF/88.
CRIME COMETIDO A BORDO DE NAVIO. CIRCUNSTÂNCIA NÃO CONFIGURADA. COMPETÊNCIA DA
JUSTIÇA ESTADUAL.
1. A expressão "a bordo de navio", constante do art. 109, inciso IX, da CF/88, significa interior de
embarcação de grande porte.
2. Realizando-se uma interpretação teleológica da locução, tem-se que a norma visa abranger as
hipóteses em que tripulantes e passageiros, pelo potencial marítimo do navio, possam ser deslocados
para águas territoriais internacionais.
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27) Acompanhar e instaurar inquérito referente a conflitos agrários – desde que o crime
seja de competência da Justiça Federal.
A justiça paulista acolheu o pedido da Polícia Federal para a busca e apreensão de materiais e também
deferiu a solicitação de quebra do sigilo eletrônico da empresa. Foi quando se descobriu que o suspeito
era morador de Florianópolis (SC).
Diante dos fatos, o Juízo de São Paulo entendeu que a competência era do Juízo catarinense e enviou o
conflito de competência ao STJ.
15
32) Exercer o controle e fiscalização de segurança privada. (Lei 7.102/83). Todo vigilante
deve ser cadastrado na Polícia Federal. Não existe a profissão de segurança e sim de
vigilante.
37) Realizar o cadastro de entidades que atuem no âmbito de adoções internacionais (Art.
52 ECA – Lei 8.069/90).
XIII - da Justiça;
“Seção XXIII
16
II - exercer:
c) (VETADO);
g) (VETADO);
III - (VETADO);
IV - (VETADO);
“Seção XIII
Do Ministério da Justiça
VI - (revogado);
IX - (revogado);
XI - (revogado);
§ 2º (Revogado).
§ 3º (Revogado).’ (NR)
I - (revogado);
II - (revogado);
VII - (revogado);
VIII - (revogado);
IX - (revogado);
Art. 10. Os cargos de que trata o art. 23 da Lei nº 11.483, de 31 de maio de 2007,
poderão ser utilizados para estruturar o Ministério da Segurança Pública.
Art. 11. A Lei nº 11.134, de 15 de julho de 2005, passa a vigorar acrescida do seguinte
art. 29-A:
VII - Casa Militar do Distrito Federal, para o exercício de cargo em comissão ou função
de confiança;
§ 2º O militar distrital só poderá ser cedido após completar 5 (cinco) anos de efetivo
serviço na corporação de origem.
§ 4º (VETADO).”
Art. 12. A Lei nº 9.264, de 7 de fevereiro de 1996, passa a vigorar acrescida do seguinte
art. 12-B:
“Art. 12-B. A cessão dos integrantes das carreiras de que trata esta Lei somente será
autorizada para:
VII - Secretaria de Estado da Segurança Pública e da Paz Social do Distrito Federal, para o
exercício de cargo em comissão ou função de confiança; e
§ 1º É vedada a cessão de servidor que não tenha cumprido o estágio probatório de que
trata o art. 41 da Constituição Federal;
MICHEL TEMER
Gilson Libório de Oliveira Mendes
Joaquim Silva e Luna
Valter Casimiro Silveira
Gleisson Cardoso Rubin
Eliseu Padilha
Grace Maria Fernandes Mendonça
22
2018 1º SEMESTRE:
907
Acordo de colaboração premiada e delegado de polícia
O Plenário, por maioria, julgou improcedente pedido formulado em ação direta para assentar a
constitucionalidade dos §§ 2º e 6º do art. 4º (1) da Lei 12.850/2013, a qual define organização criminosa e
dispõe sobre a investigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas e o
procedimento criminal.
A ação impugnava as expressões ―e o delegado de polícia, nos autos do inquérito policial, com a manifestação
do Ministério Público‖ e ―entre o delegado de polícia, o investigado e o defensor, com a manifestação do
Ministério Público, ou, conforme o caso‖, contidas nos referidos dispositivos, que conferem legitimidade ao
delegado de polícia para conduzir e firmar acordos de colaboração premiada (Informativo 888).
Prevaleceu o voto do ministro Marco Aurélio (relator), no sentido de que o delegado de polícia pode formalizar
acordos de colaboração premiada, na fase de inquérito policial, respeitadas as prerrogativas do Ministério
Público, o qual deverá se manifestar, sem caráter vinculante, previamente à decisão judicial.
No que se refere ao § 2º do art. 4º da Lei 12.850/2013, o relator esclareceu que o texto confere ao delegado de
polícia, no decorrer das investigações, exclusivamente no curso do inquérito policial, a faculdade de representar
ao juiz, ouvido o Ministério Público, pela concessão de perdão judicial ao colaborador, ainda que esse benefício
não haja sido previsto na proposta inicial, aplicando-se, no que couber, o art. 28 (2) do Código de Processo
Penal (CPP). O perdão judicial é instituto que possibilita ao juiz deixar de impor sanção diante da existência de
determinadas circunstâncias expressamente previstas em lei.
Considerou que o dispositivo, portanto, traz nova causa de perdão judicial, admitido a depender da efetividade
da colaboração. Não se trata de questão afeta ao modelo acusatório, deixando de caracterizar ofensa ao art.
129, I (3), da Constituição Federal (CF), relacionada, apenas, ao direito de punir do Estado, que se manifesta
por intermédio do Poder Judiciário.
A representação pelo perdão judicial, proposta pelo delegado de polícia, ante colaboração premiada, ouvido o
Ministério Público, não é causa impeditiva do oferecimento da denúncia pelo órgão acusador. Uma vez
comprovada a eficácia do acordo, será extinta pelo juiz, a punibilidade do delator.
Quanto ao § 6º do art. 4º da mesma lei, asseverou que o ato normativo em nenhum ponto afasta a participação
do Ministério Público em acordo de colaboração premiada, ainda que ocorrido entre o delegado de polícia, o
investigado e o defensor. Não há, portanto, afronta à titularidade da ação penal. Ao contrário, a legitimidade da
autoridade policial para realizar as tratativas de colaboração premiada desburocratiza o instituto, sem importar
ofensa a regras atinentes ao Estado Democrático de Direito, uma vez submetido o acordo à apreciação do
Ministério Público e à homologação pelo Judiciário.
Embora o Ministério Público seja o titular da ação penal de iniciativa pública, não o é do direito de punir. A
delação premiada não retira do órgão a exclusividade da ação penal.
A norma fixa as balizas a serem observadas na realização do acordo. Estas, porque decorrem de lei, vinculam
tanto a polícia quanto o Ministério Público, tendo em vista que a nenhum outro órgão senão ao Judiciário é
conferido o direito de punir.
O acordo originado da delação não fixa pena ou regime de cumprimento da sanção. Ao Poder Judiciário, com
exclusividade, compete, nos termos do § 1º do art. 4º (4) da Lei 12.850/2013, para fins de concessão de
vantagens, levar em conta a personalidade do delator, a natureza, as circunstâncias, a gravidade e a
repercussão social do fato criminoso e a eficácia da colaboração.
Os benefícios que tenham sido ajustados não obrigam o órgão julgador, devendo ser reconhecida, na cláusula
que os retrata, inspiração, presente a eficácia da delação no esclarecimento da prática delituosa, para o juiz
atuar, mantendo a higidez desse instituto que, na quadra atual, tem-se mostrado importantíssimo. Longe fica o
julgador de estar atrelado à dicção do Ministério Público, como se concentrasse a arte de proceder na
persecução criminal, na titularidade da ação penal e, também, o julgamento, embora parte nessa mesma ação
penal.
A norma legal prevê que, na prolação da sentença, serão estipulados os benefícios. Não se confunde essa
definição, que só cabe a órgão julgador, com a propositura ou não da ação penal. No campo, é soberano o
Ministério Público. Mas, quanto ao julgamento e à observância do que se contém na legislação em termos de
vantagens, surge o primado do Judiciário. Para redução da pena, adoção de regime de cumprimento menos
gravoso ou concessão do perdão judicial, há de ter-se instaurado o processo, garantindo-se a ampla defesa e o
contraditório. Na sentença o juiz, ao verificar a eficácia da colaboração, fixa, em gradação adequada, os
benefícios a que tem direito o delator.
Concluiu que os textos impugnados versam regras claras sobre a legitimidade do delegado de polícia na
realização de acordos de colaboração premiada, estabelecendo a fase de investigações, no curso do inquérito
policial, como sendo o momento em que é possível a utilização do instrumento pela autoridade policial.
Há previsão específica da manifestação do Ministério Público em todos os acordos entabulados no âmbito da
23
polícia judiciária, garantindo-se, com isso, o devido controle externo da atividade policial já ocorrida e, se for o
caso, adoção de providências e objeções.
As normas legais encontram-se em conformidade com as disposições constitucionais alusivas às polícias
judiciárias e, especialmente, às atribuições conferidas aos delegados de polícia. Interpretação que vise
concentrar poder no órgão acusador desvirtua a própria razão de ser da Lei 12.850/2013.
A supremacia do interesse público conduz a que o debate constitucional não seja pautado por interesses
corporativos, mas por argumentos normativos acerca do desempenho das instituições no combate à
criminalidade. A atuação conjunta, a cooperação entre órgãos de investigação e de persecução penal, é de
relevância maior.
Vencidos, em parte, os ministros Edson Fachin, Rosa Weber, Luiz Fux e Dias Toffoli.
O ministro Edson Fachin julgou parcialmente procedente a ação, para, sem redução de texto, excluir a
interpretação aos §§ 2º e 6º do art. 4º da Lei 12.850/2013 que contemple poderes aos delegados de polícia
para celebrar, sem a manifestação do Ministério Público, acordo de colaboração premiada em que se estabeleça
transação envolvendo o poder punitivo estatal. E, por arrastamento, declarar como excluído da expressão ―ou do
delegado de polícia‖, constante do inciso IV do art. 6º (5) da referida lei, o sentido de firmar, sem manifestação
do Ministério Público, acordo de colaboração premiada.
Os ministros Rosa Weber e Luiz Fux julgaram improcedente o pedido principal, quanto à declaração da
inconstitucionalidade das expressões impugnadas nos §§ 2º e 6º do art. 4º da Lei 12.850/2013, e julgaram
parcialmente procedente o pedido sucessivo para dar interpretação conforme no sentido de que manifestação
positiva, ou seja, a anuência do Ministério Público aos termos de colaboração premiada celebrado pelo delegado
de Polícia é uma condição de procedibilidade da própria colaboração, ou seja, o juiz sequer dela conhece se não
houver a anuência do Ministério Público.
O ministro Dias Toffoli julgou parcialmente procedente a ação para: 1) dar interpretação conforme ao art. 4º, §
2º, da Lei 12.850/2013, para assentar a legitimidade da autoridade policial para, diante da relevância da
colaboração prestada, representar nos autos do inquérito policial ao juiz, para a concessão de perdão judicial ao
colaborador, ouvido, previamente, o Ministério Público; 2) dar interpretação conforme ao art. 4º, § 6º, da Lei
12.850/2013, para assentar a legitimidade da autoridade policial para firmar acordos de colaboração premiada,
desde de que, nas condições de sua proposta — art. 6º, II (6), da Lei 12.850/2013 —, somente figurem, de
modo genérico, as sanções premiais expressamente previstas no art. 4º, ―caput‖ e seu § 5º (7), da Lei
12.850/2013, a que poderá fazer jus o colaborador, a critério do juiz, em razão da efetividade de sua
cooperação, exigindo-se, antes de sua homologação, a manifestação, sem caráter vinculante, do Ministério
Público.
906
Condução coercitiva para interrogatório e recepção pela Constituição Federal de 1988 - 2
O Plenário, por maioria, julgou procedente o pedido formulado em arguições de descumprimento de preceito
fundamental para declarar a não recepção da expressão "para o interrogatório" constante do art. 260 (1) do
CPP, e a incompatibilidade com a Constituição Federal da condução coercitiva de investigados ou de réus para
interrogatório, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de ilicitude
das provas obtidas, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado ((Informativo 905)).
O Tribunal destacou que a decisão não desconstitui interrogatórios realizados até a data desse julgamento,
ainda que os interrogados tenham sido coercitivamente conduzidos para o referido ato processual.
Prevaleceu o voto do ministro Gilmar Mendes (relator).
De início, o relator esclareceu que a hipótese de condução coercitiva objeto das arguições restringe-se, tão
somente, àquela destinada à condução de investigados e réus à presença da autoridade policial ou judicial para
serem interrogados. Assim, não foi analisada a condução de outras pessoas como testemunhas, ou mesmo de
investigados ou réus para atos diversos do interrogatório, como o reconhecimento.
Fixado o objeto da controvérsia, afirmou que a condução coercitiva no curso da ação penal tornou-se obsoleta.
Isso porque, a partir da Constituição Federal de 1988, foi consagrado o direito do réu de deixar de responder às
perguntas, sem ser prejudicado (direito ao silêncio). A condução coercitiva para o interrogatório foi substituída
pelo simples prosseguimento da marcha processual, à revelia do acusado [CPP, art. 367 (2)].
Entretanto, o art. 260 do CPP — conjugado ao poder do juiz de decretar medidas cautelares pessoais — vem
sendo utilizado para fundamentar a condução coercitiva de investigados para interrogatório, especialmente
durante a investigação policial, no bojo de engenhosa construção que passou a fazer parte do procedimento
padrão das investigações policiais dos últimos anos. Nessa medida, as conduções coercitivas tornaram-se um
novo capítulo na espetacularização da investigação, inseridas em um contexto de violação a direitos
fundamentais por meio da exposição de pessoas que gozam da presunção de inocência como se culpados
fossem.
Quanto à presunção de não culpabilidade (CF, art. 5º, LVII), seu aspecto relevante ao caso é a vedação de
tratar pessoas não condenadas como culpadas.
A condução coercitiva consiste em capturar o investigado ou acusado e levá-lo, sob custódia policial, à presença
da autoridade, para ser submetido a interrogatório. A restrição temporária da liberdade mediante condução sob
custódia por forças policiais em vias públicas não é tratamento que possa normalmente ser aplicado a pessoas
inocentes. Assim, o conduzido é claramente tratado como culpado.
Por outro lado, a dignidade da pessoa humana (CF, art. 1º, III), prevista entre os princípios fundamentais do
estado democrático de direito, orienta seus efeitos a todo o sistema normativo, constituindo, inclusive, princípio
24
No contexto da condução coercitiva para interrogatório, faz-se evidente que o investigado ou réu é conduzido,
eminentemente, para demonstrar sua submissão à força. Não há finalidade instrutória clara, na medida em que
o arguido não é obrigado a declarar, ou mesmo a se fazer presente ao interrogatório. Desse modo, a condução
coercitiva desrespeita a dignidade da pessoa humana.
Igualmente, a liberdade de locomoção é vulnerada pela condução coercitiva para interrogatório.
A Constituição Federal consagra o direito à liberdade de locomoção, de forma genérica, ao enunciá-lo no ―caput‖
do art. 5º. Tal direito pode ser restringido apenas se observado o devido processo legal (CF, art. 5º, LIV) e
obedecido o regramento estrito sobre a prisão (CF, art. 5º, LXI, LXV, LXVI, LXVII). A Constituição também
enfatiza a liberdade de locomoção ao consagrar a ação especial de ―habeas corpus‖ como remédio contra
restrições e ameaças ilegais (CF, art. 5º, LXVIII).
A condução coercitiva representa uma supressão absoluta, ainda que temporária, da liberdade de locomoção. O
investigado ou réu é capturado e levado sob custódia ao local da inquirição. Portanto, há uma clara interferência
na liberdade de locomoção, ainda que por um período determinado e limitado no tempo.
Ademais, a expressão ―para o interrogatório‖, constante do art. 260 do CPP, tampouco foi recepcionada pela
Constituição Federal, na medida em que representa restrição desproporcional da liberdade, visto que busca
finalidade não adequada ao sistema processual em vigor.
Por fim, em relação à manutenção dos interrogatórios realizados até a data desse julgamento, mesmo que o
interrogado tenha sido coercitivamente conduzido para o ato, o relator consignou ser necessário reconhecer a
inadequação do tratamento dado ao imputado, não do interrogatório em si. Argumentos internos ao processo,
como a violação ao direito ao silêncio, devem ser refutados.
Assim, não há necessidade de debater qualquer relação da decisão tomada pelo STF com os casos pretéritos,
inexistindo espaço para a modulação dos seus efeitos.
O ministro Celso de Mello acrescentou que a impossibilidade constitucional de constranger-se o indiciado ou o
réu a comparecer, mediante condução coercitiva, perante a autoridade policial ou a autoridade judiciária, para
fins de interrogatório, resulta não só do sistema de proteção das liberdades fundamentais, mas, também, da
própria natureza jurídica de que se reveste o ato de interrogatório.
Referido ato processual é qualificável como meio de defesa do acusado, especialmente em face do novo
tratamento normativo que lhe conferiu a Lei 10.792/2003. Essa particular qualificação do interrogatório como
meio de defesa permite que nele se reconheça a condição de instrumento viabilizador do exercício das
prerrogativas constitucionais do contraditório e da plenitude de defesa.
De todo modo, a ausência de colaboração do indiciado ou réu com as autoridades públicas e o exercício da
prerrogativa constitucional contra a autoincriminação não podem erigir-se em fatores subordinantes da
decretação de prisão cautelar ou da adoção de medidas que restrinjam ou afetem a esfera de liberdade jurídica
do réu.
Por fim, afirmou que não haveria como concluir que a condução coercitiva do indiciado ou do réu para
interrogatório, independentemente de prévia e regular intimação, justificar-se-ia em face do poder geral de
cautela do magistrado penal. Isso porque, diante do postulado constitucional da legalidade estrita em matéria
processual penal, inexiste, no processo penal, o poder geral de cautela dos juízes.
Vencidos, parcialmente, os ministros Alexandre de Moraes, Edson Fachin, Roberto Barroso, Luiz Fux e Cármen
Lúcia (Presidente).
O ministro Alexandre de Moraes julgou parcialmente procedente o pedido formulado nas arguições para declarar
a inconstitucionalidade parcial, sem redução de texto, do art. 260 do CPP, unicamente para excluir a
possibilidade de decretação direta da condução coercitiva sem a prévia intimação com base no poder geral de
cautela do juiz.
Considerou, assim, legitima a utilização do instituto da condução coercitiva para interrogatório, porém, desde
que o investigado não tenha atendido, injustificadamente, prévia intimação, permitida a participação do defensor
do investigado e resguardados os direitos ao silêncio e a não-autoincriminação.
O ministro Edson Fachin julgou parcialmente procedente o pedido para atribuir interpretação conforme a
Constituição Federal ao art. 260 do CPP no sentido de ressalvar a possibilidade de decretação judicial e
fundamentada da condução coercitiva em substituição a medidas cautelares típicas mais graves, como a prisão
preventiva ou a prisão temporária, desde que integralmente presentes os requisitos legais e constitucionais
dessas medidas.
Ademais, declarou a inconstitucionalidade da interpretação ampliativa do dispositivo impugnado, impondo-se a
prévia intimação e o não comparecimento injustificado do intimado para a realização da condução coercitiva.
Os ministros Roberto Barroso, Luiz Fux e Cármen Lúcia (Presidente) acompanharam o ministro Edson Fachin.
Arresto e requisitos - 2
A Primeira Turma retomou julgamento de agravo regimental em que se discute a possibilidade de arresto prévio
de bens dos agravados, acusados da suposta prática de crime único de corrupção passiva em concurso de
agentes ((Informativo 903)).
O Ministério Público sustenta o cabimento do arresto como medida preliminar e preparatória à especialização da
hipoteca legal para assegurar que o patrimônio encontrado em nome dos agravados garanta a reparação do
dano moral e material causado pela conduta.
Em voto-vista, o ministro Roberto Barroso divergiu, em parte, do relator e deu provimento parcial ao agravo, no
que foi acompanhado pela ministra Rosa Weber.
25
Admitiu a indisponibilidade dos bens dos agravados para efeito de arresto assecuratório do pagamento de multa
penal na eventual condenação dos réus.
As medidas assecuratórias têm por objetivo assegurar não apenas a reparação do dano, mas também o
pagamento das despesas processuais e as penas pecuniárias em caso de eventual condenação [CPP, art. 140
(1)]. Deste modo, é razoável a incidência do arresto em relação ao valor da multa. Essas medidas levam em
conta o risco da ineficácia da sanção judicial, diante da possibilidade de o futuro condenado dilapidar seu
patrimônio antes da cobrança judicial.
Para que seja autorizada a decretação da medida não é necessária a prática de atos concretos de desfazimento
de bens. Porém, é imperiosa a demonstração da plausibilidade do direito e do perigo na demora. A
indisponibilidade dos bens não trará prejuízos desarrazoados aos réus, pois, se absolvidos ao fim do processo,
terão seus bens desbloqueados.
No que se refere ao arresto dos bens em relação aos possíveis danos morais coletivos, o ministro Roberto
Barroso acompanhou o relator. Afirmou não haver pronunciamento do Supremo Tribunal Federal a respeito da
possibilidade jurídica de reparação de danos morais coletivos, notadamente quando decorrentes de atos de
improbidade administrativa ou de corrupção. Assim, não é, por hora, cabível a medida assecuratória em relação
a essa espécie de dano.
Em seguida, o ministro Luiz Fux pediu vista dos autos.
905
Condução coercitiva para interrogatório e recepção pela Constituição Federal de 1988
Além disso, mesmo para quem considere a condução coercitiva para interrogatório possível, há que se exigir a
rigorosa observância da integralidade do art. 260 do CPP, ou seja, intimação prévia para comparecimento não
atendida.
Por fim, o relator registrou que a declaração de não recepção da condução coercitiva de investigados ou de réus
para interrogatório não tem o condão de desconstituir interrogatórios realizados até a data do julgamento em
questão, mesmo que o interrogado tenha sido coercitivamente conduzido para o ato. Há que se reconhecer a
inadequação do tratamento dado ao imputado, não do interrogatório em si. Argumentos internos ao processo,
como a violação ao direito ao silêncio, devem ser refutados.
Assim, não há necessidade de debater qualquer relação da decisão eventualmente tomada pelo STF com os
casos pretéritos, inexistindo espaço para a modulação dos seus efeitos. Em seguida, o julgamento foi suspenso.
Trata-se de recurso ordinário em ―habeas corpus‖, interposto contra acórdão do Superior Tribunal de Justiça, em
que se discute a nulidade do processo por ilegitimidade do Ministério Público (MP) para propor ação penal nos
casos de crime de estupro sem lesão corporal [art. 213(1), Código Penal].
A defesa alegou que, de acordo com o Enunciado 608(2) da Súmula do Supremo Tribunal Federal, a violência
real praticada no crime de estupro estaria vinculada à existência de lesão corporal, a qual não ficou comprovada
no exame de corpo de delito. O MP não teria, assim, legitimidade para ajuizar a ação penal, pois, nos crimes
contra a liberdade sexual sem violência real, a ação penal pública está condicionada à representação. O processo
seria, portanto, nulo desde o início.
Com base nas especificidades do caso, a Segunda Turma negou provimento ao recurso.
904
Homicídio na direção de veículo automotor e competência do tribunal do júri
A Primeira Turma, por maioria, denegou a ordem de ―habeas corpus‖ em que se pleiteava a reforma da decisão
que reconheceu a ocorrência de dolo eventual em relação a homicídio cometido por motorista embriagado na
direção de veículo automotor, firmada a competência do tribunal do júri.
O impetrante apontava equívoco no enquadramento legal realizado na origem. Pleiteava a desclassificação da
conduta para o crime previsto no art. 302(1) do Código de Trânsito Brasileiro.
O Colegiado considerou legítima a tipificação da conduta como crime doloso, de competência do tribunal do júri,
ante o reconhecimento da evolução jurisprudencial na análise do que vem a ser dolo eventual e culpa
consciente.
No caso, verifica-se a existência de dolo eventual no ato de dirigir veículo automotor sob a influência de álcool,
além de fazê-lo na contramão. Esse é, portanto, um caso específico que evidencia a diferença entre a culpa
consciente e o dolo eventual. O condutor assumiu o risco ou, no mínimo, não se preocupou com o risco de,
eventualmente, causar lesões ou mesmo a morte de outrem.
Vencidos, em parte, os ministros Marco Aurélio (relator) e Luiz Fux, que deferiram a ordem para desclassificar a
conduta imputada ao paciente para a prevista no art. 302 do Código de Trânsito Brasileiro, ante a aplicação dos
princípios da especialidade e da legalidade.
A Segunda Turma, em conclusão de julgamento, condenou parlamentar pela prática dos crimes de corrupção
passiva [Código Penal (CP), art. 317(1) ] e lavagem de dinheiro [Lei 9.613/1998, art. 1º, § 4º(2)], e seus filhos
pelo segundo delito (Informativo 902 e Informativo 903).
Na denúncia, o parlamentar, na qualidade de integrante de cúpula partidária, foi acusado de ter concorrido para
desvios de recursos realizados na estatal, por meio de apoio político à indicação e manutenção de diretor
naquela entidade, o qual lhe teria repassado valores ilícitos, como contraprestação.
Para o Colegiado, os acusados efetivamente cometeram os crimes cuja prática lhes foi atribuída, embora em
extensão menor do que a descrita na denúncia. O juízo condenatório se impõe, considerada a existência de
provas da autoria e da materialidade dos fatos delituosos, bem como do nexo de causalidade entre a conduta
desses acusados e os resultados.
Ressaltou que o regime presidencialista brasileiro confere aos parlamentares um espectro de poder que vai além
da mera deliberação de atos legislativos, com participação nas decisões de governo, inclusive por meio da
indicação de cargos no Poder Executivo. Essa dinâmica é própria do sistema presidencialista brasileiro, que exige
uma coalizão para viabilizar a governabilidade.
A despeito desse ―presidencialismo de coalizão‖, a Constituição Federal (CF) atribui ao Congresso Nacional (CN)
competência exclusiva para fiscalizar e controlar, diretamente, ou por qualquer de suas Casas, os atos do
Executivo, incluídos os da Administração Indireta [CF, art. 49, X(3)].
Nesse âmbito, o CN foi dotado de poderes próprios de autoridade judicial, quando instituídas comissões
parlamentares de inquérito para apuração de fatos determinados, com encaminhamento de suas conclusões ao
Ministério Público para responsabilização civil e criminal de infratores [CF, art. 58, § 3º(4)].
Ademais, para evitar conflitos de interesses, aos deputados e senadores é constitucionalmente vedado, desde a
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expedição do diploma: ―a) firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de direito público, autarquia, empresa
pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviço público, salvo quando o contrato
obedecer a cláusulas uniformes; e b) aceitar ou exercer cargo, função ou emprego remunerado, inclusive os de
que sejam demissíveis "ad nutum", nas entidades constantes da alínea anterior.‖ [CF, art. 54, I, ―a‖ e ―b‖(5)].
Nesse contexto institucional, a percepção de vantagens indevidas, oriundas de desvios perpetrados no âmbito de
entidades da Administração Indireta, em troca de sustentação política a detentores de poder de gestão nessas
instituições, implica evidente ato omissivo quanto à função parlamentar de fiscalizar a lisura dos atos do Poder
Executivo.
Quanto à corrupção passiva, a integral realização de sua estrutura típica exige uma relação entre a conduta do
agente — que solicita, ou que recebe, ou que aceita a promessa de vantagem indevida — e a prática, que até
pode não ocorrer, de um ato determinado de seu ofício.
O exercício ilegítimo da atividade parlamentar, mesmo num governo de coalizão, é apto a caracterizar o ato de
ofício viciado que tipifica o delito, se motivado pela solicitação, aceitação ou recebimento de vantagem indevida.
Esse tipo penal tutela a moralidade administrativa e tem por finalidade coibir e reprimir a mercancia da função
pública, cujo exercício deve ser pautado exclusivamente pelo interesse público. Não se trata simplesmente de
criminalizar a atividade político-partidária, mas de responsabilizar os atos que transbordam os limites do
exercício legítimo da representação popular.
No caso, a Turma entendeu ter ficado comprovado que a sustentação política assegurada pelo parlamentar, em
favor da manutenção do diretor da estatal, configurou ato de ofício para fins de enquadramento no crime de
corrupção passiva.
A denúncia apontou que os réus teriam praticado diversos atos de corrupção. De um lado, o parlamentar teria
concorrido, em concurso de pessoas, com todos os desvios praticados pelo diretor da companhia. De outro, os
réus teriam recebido vantagens indevidas por meio de pagamentos: (a) periódicos (ordinários); (b) esporádico
(extraordinário); e (c) por meio de doação eleitoral oficial.
Quanto à coautoria, o conjunto probatório produzido nos autos é insuficiente para confirmar a adesão subjetiva
do parlamentar aos atos de corrupção praticados pelo diretor, embora tenha se beneficiado de vantagens
indevidas, e ainda que seja provável a sua ciência do estratagema criminoso. Essa circunstância impede a
incidência da norma de extensão prevista no art. 29(6) do CP.
No tocante à imputação de recebimentos periódicos (ordinários) de vantagens indevidas, o quadro probatório é
diverso e robusto. Os depoimentos prestados em juízo por colaboradores são uníssonos, coesos e firmes em
afirmar que o deputado recebeu vantagens indevidas, que lhes eram disponibilizadas mediante a entrega de
dinheiro em espécie.
Embora apenas as declarações dos colaboradores, de forma isolada, não sirvam para fundamentar um decreto
condenatório, nos exatos termos do que preceitua o art. 4º, § 16(7), da Lei 12.850/2013, os fatos retratados
encontram consistente suporte em outros elementos de prova (cruzamento de dados de companhias aéreas;
afastamento de sigilo bancário; perícias em sistemas de contabilidade de pagamentos de propina; depoimentos
de testemunhas; e quebra e disponibilização de dados telefônicos), produzidos sob o crivo do contraditório.
Esse conjunto de provas atesta e reforça a veracidade das declarações prestadas no âmbito de colaboração
premiada e autoriza a sua utilização como fundamento à resolução do mérito da causa penal.
Desse modo, a Segunda Turma concluiu que tais provas confirmam a tese acusatória exposta na exordial e
afastam qualquer dúvida acerca do efetivo recebimento pelo parlamentar de vantagens indevidas de forma
ordinária e periódica, o qual contou com o auxílio de seus filhos em algumas oportunidades.
No que se refere ao recebimento esporádico (extraordinário), a Procuradoria-Geral da República (PGR) apontou
que o parlamentar teria recebido pagamento vultoso destinado a campanha eleitoral.
Embora coerente com as descrições fáticas prestadas pelos colaboradores, essa acusação não encontra respaldo
em outras provas produzidas na instrução criminal, circunstância que encaminha à dúvida, o que impede o seu
uso para a formação do juízo de mérito da causa penal, conforme vedação legal (7).
Nesse ponto, portanto, a PGR não se desincumbiu do ônus que lhe é imposto pelo art. 156(8) do Código de
Processo Penal (CPP), sendo inviável o acolhimento da pretensão requerida na exordial acusatória.
Por fim, o Colegiado, por maioria, absolveu o parlamentar da acusação relativa ao recebimento de doação
eleitoral oficial, que foi materializada de acordo com a legislação aplicável e regularmente declarada na
prestação de contas eleitoral. Ao contrário do apontado na denúncia, não se trata de negócio jurídico simulado,
o qual teria sido realizado para encobrir a verdadeira finalidade da transferência de recursos.
Com relação ao crime de lavagem de dinheiro, o ―Parquet‖ apontou que os réus teriam contribuído para as
ações de lavagem de capitais, tanto nos desvios operacionalizados no âmbito da diretoria da Petrobras quanto
nas vantagens indevidas por eles percebidas em consequência dos atos de corrupção passiva supostamente
praticados.
De início, a Turma reafirmou a jurisprudência deste STF no sentido de que a percepção de valor indevido, por
parte do próprio sujeito ativo do delito de corrupção passiva ou por interposta pessoa pode configurar o delito
de lavagem de capitais. Esse enquadramento pressupõe a prática de atos autônomos de ocultação do produto
do crime antecedente, já consumado (INQ 2.471; AP 470 e AP 694).
Impende destacar que o crime de lavagem de dinheiro é autônomo em relação à infração penal antecedente,
sendo perfeitamente possível que o autor do ilícito anterior seja o mesmo do crime de lavagem de capitais,
tendo em vista que não há, na legislação brasileira, qualquer vedação à chamada ―autolavagem‖ (HC 92.279).
O parlamentar, entretanto, foi absolvido no que tange à participação em todos os crimes de lavagem de dinheiro
praticados em decorrência de contratos celebrados por empresas cartelizadas no âmbito de diretoria da estatal
[CPP, art. 386, VII(9)].
Nos casos em que se atribui determinada prática delitiva em concurso de pessoas, é imprescindível que se
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verifique a existência do vínculo subjetivo na conduta dos agentes consorciados, bem como a relevância causal
da atuação de cada um deles na violação do bem jurídico tutelado pela norma penal, sob pena de não incidência
do referido preceito extensivo, diante da impossibilidade de responsabilização penal objetiva.
No que se refere à apontada lavagem do produto da corrupção passiva correspondente aos recebimentos
periódicos (ordinários) de vantagens indevidas, o conjunto cognitivo dos autos não permite a escorreita
identificação de todos os atos de branqueamento atribuídos aos acusados.
De um lado, os réus foram absolvidos das imputações relativas aos crimes de lavagem de capitais
consubstanciados nos recebimentos em dinheiro em espécie [CPP, art. 386, III(10)]. O ato de mero recebimento
de valores em dinheiro não tipifica o delito de lavagem, seja quando recebido por interposta pessoa ou pelo
próprio agente público que acolhe a remuneração indevida.
Por outro lado, a Turma entendeu que o depósito fracionado do dinheiro em conta corrente, em valores que não
atingem os limites estabelecidos pelas autoridades monetárias à comunicação compulsória dessas operações, é
meio idôneo para a consumação do crime de lavagem. Trata-se de modalidade de ocultação da origem e da
localização de vantagem pecuniária recebida pela prática de delito anterior.
Nesse escopo, ficou demonstrado que o deputado, logo após receber recursos em espécie a título de propina,
praticou, de modo autônomo e com finalidade distinta, novos atos aptos a violar o bem jurídico tutelado pelo art.
1º(2) da Lei 9.613/1998, consistentes na realização de depósitos fracionados em conta de sua titularidade, cujo
somatório perfaz a exata quantia que lhe fora disponibilizada.
No mais, pontuou que ficou demonstrada a incompatibilidade entre os rendimentos auferidos pelo parlamentar
com as quantias movimentadas em suas contas-correntes e os valores em espécie declarados à Receita Federal,
o que caracteriza a formação dolosa de patrimônio supostamente ―lícito‖, conduta que se amolda perfeitamente
ao delito de lavagem de dinheiro.
A apresentação de informações falsas em declarações de ajuste anual de imposto de renda foi uma forma de
tentar dar um ar de licitude a patrimônio oriundo de práticas delituosas.
Por último, o parlamentar foi absolvido da acusação de lavagem de capitais em decorrência de doação eleitoral.
Ainda que eventualmente o valor oficialmente doado fosse produto de crime contra a administração pública, não
há prova segura de que: (a) o réu tivesse ciência de sua origem espúria e (b) tivesse agido com o dolo de
dissimular essa origem e de promover sua reintegração na economia formal.
Em relação aos efeitos da condenação, a Turma fixou danos materiais, mas indeferiu pedido de danos morais
coletivos. Ademais, determinou: (a) a perda de bens e direitos objeto da condenação, ressalvado o direito de
lesado ou terceiro de boa-fé [Lei 9.613/1998, art. 7º, I(11)]; e (b) a interdição para o exercício de cargo ou
função pública [Lei 9.613/1998, art. 7º, II(12)].
Por fim, quanto à perda do mandato parlamentar, o Colegiado, por maioria, deliberou que a perda do mandato
não é automática. Após o trânsito em julgado, cumpre a esta Corte oficiar à Mesa Diretora da Câmara dos
Deputados para que delibere a respeito do disposto no art. 55, VI, § 2º(13), da CF. A perda do mandato é
medida excepcional e o modo de sua extinção é regulado expressamente na CF.
Vencidos, parcialmente, os ministros Edson Fachin e Celso de Mello, que também condenaram o deputado pelo
crime de corrupção passiva e lavagem de dinheiro pelo recebimento de doação eleitoral oficial. Para eles, a
doação eleitoral oficial, quando comprovadamente destituída da gratuidade que a qualifica, configura não só o
delito de corrupção passiva, mas também o de lavagem de capitais, pois materializa a ação de ocultar ou
dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou
valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal.
Vencido, também parcialmente, o ministro Ricardo Lewandowski, que condenou o parlamentar em menor
extensão, apenas com relação aos delitos de corrupção passiva praticados ao tempo em que exercia liderança
partidária (de 1º.2.2011 a 11.8.2011), quando teria efetivo poder para praticar os atos de ofício imputados, sob
pena de responsabilização objetiva.
903
Arresto e requisitos
A Primeira Turma iniciou julgamento de agravo regimental em que se discute a possibilidade de arresto de bens
dos agravados, acusados da suposta prática de crime único de corrupção passiva em concurso de agentes.
O Ministério Público sustenta cabível o arresto como medida preliminar e preparatória à especialização da
hipoteca legal para assegurar que o patrimônio encontrado em nome dos agravados garanta a reparação do
dano moral e material causado pela conduta.
O ministro Marco Aurélio (relator) desproveu o agravo. Em relação ao pedido de arresto, considerou não haver
indicativos de que os agravados estão praticando atos voltados a obstar o ressarcimento de eventuais prejuízos,
requisito necessário ao implemento da medida.
Em seguida, o ministro Roberto Barroso pediu vista dos autos.
Pet 7069 AgR/DF, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 22.5.2018. (Pet-7069)
A Segunda Turma retomou julgamento de ação penal em que se imputa a prática dos crimes de corrupção
passiva [Código Penal (CP), art. 317 (1)] e lavagem de dinheiro [Lei 9.613/1998, art. 1º, § 4º (2)] a deputado
federal e seus dois filhos, pelo suposto recebimento de vantagens ilícitas provenientes de contratos de
29
No caso, o parlamentar, na qualidade de integrante de cúpula partidária, foi acusado de ter concorrido para
desvios de recursos realizados na estatal, por meio de apoio político à indicação e manutenção de diretor
naquela entidade, o qual lhe teria repassado valores ilícitos, como contraprestação.
De início, o Colegiado rejeitou as alegadas preliminares de cerceamento de defesa e violação ao devido processo
legal, tendo em vista que as decisões proferidas no curso deste processo estão em consonância com a
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF).
Quanto ao mérito, os ministros Edson Fachin (relator) e Celso de Mello (revisor) julgaram procedente a
denúncia, em parte, para condenar o parlamentar pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, e os
demais réus pelo segundo delito.
Para eles, os acusados efetivamente cometeram os crimes cuja prática lhes foi atribuída, embora em extensão
menor do que a descrita na denúncia. O juízo condenatório se impõe, considerada a existência de provas da
autoria e da materialidade dos fatos delituosos, bem como do nexo de causalidade entre a conduta desses
acusados e os resultados.
Ressaltaram que o regime presidencialista brasileiro confere aos parlamentares um espectro de poder que vai
além da mera deliberação de atos legislativos, com participação nas decisões de governo, inclusive por meio da
indicação de cargos no Poder Executivo. Essa dinâmica é própria do sistema presidencialista brasileiro, que exige
uma coalizão para viabilizar a governabilidade.
A despeito desse ―presidencialismo de coalizão‖, a Constituição Federal (CF) atribui ao Congresso Nacional (CN)
competência exclusiva para fiscalizar e controlar, diretamente, ou por qualquer de suas Casas, os atos do
Executivo, incluídos os da Administração Indireta [CF, art. 49, X (3)].
Nesse âmbito, o CN foi dotado de poderes próprios de autoridade judicial, quando instituídas comissões
parlamentares de inquérito para apuração de fatos determinados, com encaminhamento de suas conclusões ao
Ministério Público para responsabilização civil e criminal de infratores [CF, art. 58, § 3º (4)].
Ademais, para evitar conflitos de interesses, aos deputados e senadores é constitucionalmente vedado, desde a
expedição do diploma: ―a) firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de direito público, autarquia, empresa
pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviço público, salvo quando o contrato
obedecer a cláusulas uniformes; e b) aceitar ou exercer cargo, função ou emprego remunerado, inclusive os de
que sejam demissíveis "ad nutum", nas entidades constantes da alínea anterior.‖ [CF, art. 54, I, ―a‖ e ―b‖ (5)].
Nesse contexto institucional, a percepção de vantagens indevidas, oriundas de desvios perpetrados no âmbito de
entidades da Administração Indireta, em troca de sustentação política a detentores de poder de gestão nessas
instituições, implica evidente ato omissivo quanto à função parlamentar de fiscalizar a lisura dos atos do Poder
Executivo.
Quanto à corrupção passiva, a integral realização de sua estrutura típica exige uma relação entre a conduta do
agente – que solicita, ou que recebe, ou que aceita a promessa de vantagem indevida – e a prática, que até
pode não ocorrer, de um ato determinado de seu ofício.
O exercício ilegítimo da atividade parlamentar, mesmo num governo de coalizão, é apto a caracterizar o ato de
ofício viciado que tipifica o delito, se motivado pela solicitação, aceitação ou recebimento de vantagem indevida.
Esse tipo penal tutela a moralidade administrativa e tem por finalidade coibir e reprimir a mercancia da função
pública, cujo exercício deve ser pautado exclusivamente pelo interesse público. Não se trata simplesmente de
criminalizar a atividade político-partidária, mas de responsabilizar os atos que transbordam os limites do
exercício legítimo da representação popular.
No caso, tanto o relator quanto o revisor entenderam ter ficado comprovado que a sustentação política
assegurada pelo parlamentar, em favor da manutenção do diretor da estatal, configurou ato de ofício para fins
de tipificação do crime de corrupção passiva.
A denúncia apontou que os réus teriam praticado diversos atos de corrupção. De um lado, o parlamentar teria
concorrido, em concurso de pessoas, com todos os desvios praticados pelo diretor da companhia. De outro, os
réus teriam recebido vantagens indevidas por meio de pagamentos: (a) periódicos (ordinários); (b) esporádico
(extraordinário); e (c) por meio de doação eleitoral oficial.
Quanto à coautoria, os ministros entenderam que o conjunto probatório produzido nos autos é insuficiente para
confirmar a adesão subjetiva do parlamentar aos atos de corrupção praticados pelo diretor, embora tenha se
beneficiado de vantagens indevidas, e ainda que seja provável a sua ciência do estratagema criminoso. Essa
circunstância impede a incidência da norma de extensão prevista no art. 29 (6) do CP.
No tocante à imputação de recebimentos periódicos (ordinários) de vantagens indevidas, o quadro probatório é
diverso e robusto. Os depoimentos prestados em juízo por colaboradores são uníssonos, coesos e firmes em
afirmar que o deputado recebeu vantagens indevidas, que lhes eram disponibilizadas mediante a entrega de
dinheiro em espécie.
Embora apenas as declarações dos colaboradores, de forma isolada, não sirvam para fundamentar um decreto
condenatório, nos exatos termos do que preceitua o art. 4º, § 16 (7), da Lei 12.850/2013, os fatos retratados
encontram consistente suporte em outros elementos de prova (cruzamento de dados de companhias aéreas;
afastamento de sigilo bancário; perícias em sistemas de contabilidade de pagamentos de propina; depoimentos
de testemunhas; e quebra e disponibilização de dados telefônicos), produzidos sob o crivo do contraditório.
Esse conjunto de provas atesta e reforça a veracidade das declarações prestadas no âmbito de colaboração
premiada e autoriza a sua utilização como fundamento à resolução do mérito da causa penal.
Desse modo, os ministros concluíram que tais provas confirmam a tese acusatória exposta na exordial e afastam
qualquer dúvida acerca do efetivo recebimento pelo parlamentar de vantagens indevidas de forma ordinária e
periódica, o qual contou com o auxílio de seus filhos em algumas oportunidades.
30
Com base nessas premissas, entenderam que a conduta atribuída ao parlamentar se amolda perfeitamente ao
delito de lavagem de dinheiro, pois ficou demonstrado que recebeu vantagem indevida para a prática de ato de
ofício sob a roupagem de doação eleitoral oficial.
Em seguida, o julgamento foi suspenso.
902
Ministério Público e tempestividade de agravo em processo criminal
A Primeira Turma concedeu a ordem de ―habeas corpus‖, com base no art. 39 (1) da Lei 8.038/1990, para
declarar a intempestividade de agravo regimental interposto pelo Ministério Público no Superior Tribunal de
Justiça (STJ) e reestabelecer as penas impostas pelo juízo de segundo grau, que foram aumentadas a partir do
acolhimento do recurso.
A Turma afirmou que o prazo para interposição de agravo pelo Estado-acusador em processo criminal é de cinco
dias (RE 94.013/DF). O Ministério Público não possui, em matéria criminal, ao contrário da Defensoria Pública, a
prerrogativa de prazo recursal em dobro.
A Primeira Turma indeferiu a ordem de ―habeas corpus‖ em que se discutia a nulidade absoluta de pronúncia.
A defesa sustentava a nulidade absoluta do feito, em razão da ausência das alegações finais por abandono da
causa pelo advogado. Sustentava, também, a violação ao devido processo legal, diante da modificação da tese
acusatória em plenário, sem que tivesse sido oportunizado o exercício do contraditório.
A Turma entendeu não ter ocorrido nulidade processual, tendo em vista que, na audiência de instrução, a defesa
técnica postulou a impronúncia. Além disso, não constatou ilegalidade. Afirmou haver correlação entre o que foi
arguido pelo Estado-acusador em plenário e a pronúncia.
HC 129.263/RS, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 15.5.2018. (HC-129263)
A Segunda Turma iniciou julgamento de ação penal em que se imputa a prática dos crimes de corrupção passiva
[Código Penal (CP), art. 317 (1)] e lavagem de dinheiro [Lei 9613/1998, art. 1º, § 4º (2)] a parlamentar e seus
filhos, pelo suposto recebimento de vantagens ilícitas provenientes de contratos de empreiteiras com a
Petrobras.
A denúncia fora recebida, em parte, por esta Turma, com exclusão apenas da causa geral de aumento de pena
prevista no art. 327, § 2º (3), do CP, incabível pelo mero exercício do mandato popular (Inq 3.997/DF).
Na sessão de hoje, os ministros Edson Fachin (relator) e Celso de Mello (revisor) votaram pela rejeição de todas
as questões preliminares arguidas pela defesa, por meio das quais apontou cerceamento de defesa e violação ao
devido processo legal. Para eles, as decisões proferidas no curso deste processo estão em consonância com a
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF).
De início, entenderam que não houve quebra da paridade de armas nem afronta ao tratamento isonômico na
concessão de prazos distintos às partes para apresentação de alegações finais (sucessivo para o Ministério
Público e o assistente de acusação; e comum para a defesa).
Essa diferenciação não causou desequilíbrio à relação processual, nem resultou em prejuízo para a defesa [CPP,
art. 563 (4)]. Ao contrário, a defesa técnica suscitou, nas alegações finais, substanciosas teses defensivas
contrapostas à versão acusatória exposta na denúncia, as quais abordam todo o conjunto probatório produzido
no decorrer da instrução criminal.
Também foi afastada a alegação de violação ao princípio do devido processo legal, com relação ao indeferimento
dos pedidos de (a) substituição de testemunhas, (b) produção de prova pericial; e (c) diligências
complementares.
Operada a preclusão consumativa da pretensão probatória com a apresentação do rol de testemunhas, a sua
posterior substituição só é permitida nos casos de não localização, falecimento ou enfermidade que inviabilize o
depoimento. Essa questão já havia sido resolvida quando do desprovimento dos agravos internos interpostos
pelos réus (AP 996-AGR/DF).
Quanto à prova pericial, o pedido foi protocolado intempestivamente, além de se revelar medida impertinente ou
desnecessária para a resolução da ação penal. Pretendia-se demonstrar a valorização econômica de um imóvel
para justificar o incremento patrimonial de um dos réus.
Igualmente, não há violação ao devido processo legal com relação à rejeição do pedido de diligências
complementares, voltado à inquirição de testemunhas referidas durante a produção da prova oral. Isso porque o
relator possui discricionariedade para apreciar diligência formulada com base no art. 10 (5) da Lei 8.038/1990
[correspondente ao art. 402 (6) do CPP]. No mesmo sentido, a discricionariedade conferida ao juiz encontra
suporte no art. 209, § 1º (7), do CPP.
No mais, os ministros entenderam desnecessária a reunião desta ação penal com os Inquéritos 3.980/DF e
3.989/DF. Ainda que haja conexão entre as demandas, o art. 80 (8) do CPP faculta a separação ou cisão do
32
feito, quando presente motivo relevante que torne conveniente a sua adoção. Ademais, o desmembramento não
causou prejuízo à defesa. De todo modo, essa preliminar está preclusa, pois fora rejeitada por ocasião do
recebimento da denúncia (Inq 3.997/DF).
Em seguida, entenderam não haver violação à paridade de armas entre os sujeitos processuais no acolhimento,
em juízo, da contradita suscitada pela acusação para que o depoimento de testemunha fosse tomado sem a
prestação do compromisso de dizer a verdade.
A testemunha em questão responde a outro processo com base no mesmo contexto delinquencial. Nessas
circunstâncias, o juiz fará consignar a contradita, bem assim a resposta da testemunha, impedindo-a de depor
nos casos em que for ela proibida de fazê-lo [CPP, art. 207 (9)]ou, então, não lhe deferindo o compromisso nas
hipóteses a que se refere o art. 208 (10) do estatuto processual penal, conforme jurisprudência desta Corte.
Por fim, o julgamento foi suspenso para continuidade na próxima sessão corrente, com a colheita dos demais
votos.
901
Oitiva de testemunhas e devido processo legal
A Segunda Turma, com base no Enunciado 691 da Súmula do Supremo Tribunal Federal (1), não conheceu de
impetração, mas concedeu a ordem de ofício para, por força da matriz constitucional do ―devido processo legal‖
(CF, art. 5º, inciso LIV), assegurar a oitiva das testemunhas arroladas pela defesa dos pacientes.
Na espécie, em fase de defesa prévia, a oitiva de todas as testemunhas indicadas pela defesa dos pacientes fora
indeferida, ao fundamento de que o requerimento seria protelatório, haja vista que as testemunhas não teriam,
em tese, vinculação com os fatos criminosos imputados aos pacientes.
A Turma entendeu que as circunstâncias expostas nos autos encerravam situação de constrangimento ilegal
apta a justificar a concessão da ordem de ofício.
O ministro Celso de Mello, ao se reportar aos fundamentos do voto do relator, acentuou que o direito à prova é
expressão de uma inderrogável prerrogativa jurídica, que não pode ser, arbitrariamente, negada ao réu.
O ministro Edson Fachin, também ao fazer referência ao voto do relator, destacou o princípio do livre
convencimento motivado (CPP, art. 400, § 1º), que faculta ao juiz o indeferimento das provas consideradas
irrelevantes, impertinentes ou protelatórias. Afirmou ser recomendável, em um juízo de discricionariedade
regrada, haver a possibilidade de limitar uma expansão demasiadamente criativa que adentre o campo da
protelação. No entanto, observou que, no caso, teria havido o indeferimento de todas as testemunhas de
defesa.
Dessa forma, evidente a infringência à matriz constitucional do devido processo legal, visto que frustrou a
possibilidade de os acusados produzirem as provas que reputam necessárias à demonstração de suas alegações.
900
Prerrogativa de foro e interpretação restritiva - 3
O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos durante o exercício do cargo e
relacionados às funções desempenhadas.
Após o final da instrução processual, com a publicação do despacho de intimação para apresentação de
alegações finais, a competência para processar e julgar ações penais não será mais afetada em razão de o
agente público vir a ocupar outro cargo ou deixar o cargo que ocupava, qualquer que seja o motivo.
Esse é o entendimento do Plenário, ao resolver questão de ordem para determinar a baixa de ação penal ao
juízo da zona eleitoral para posterior julgamento, tendo em vista que: a) os crimes imputados ao réu não foram
cometidos no cargo de deputado federal ou em razão dele; b) o réu renunciou ao cargo para assumir a função
de prefeito; e c) a instrução processual se encerrou perante a 1ª instância, antes do deslocamento de
competência para o Supremo Tribunal Federal (STF) (Informativos 867 e 885).
Prevaleceu o voto do ministro Roberto Barroso (relator), o qual registrou que a quantidade de pessoas
beneficiadas pelo foro e a extensão que se tem dado a ele, a abarcar fatos ocorridos antes de o indivíduo ser
investido no cargo beneficiado pelo foro por prerrogativa de função ou atos praticados sem qualquer conexão
com o exercício do mandato que se deseja proteger, têm resultado em múltiplas disfuncionalidades.
A primeira delas é atribuir ao STF uma competência para a qual ele não é vocacionado. Nenhuma corte
constitucional no mundo tem a quantidade de processos de competência originária, em matéria penal, como tem
a do Brasil. E, evidentemente, na medida em que desempenha esse papel de jurisdição penal de primeiro grau,
o STF se afasta da sua missão primordial de guardião da Constituição e de equacionamento das grandes
questões nacionais.
O procedimento no Supremo é muito mais complexo do que no juízo de primeiro grau, por essa razão leva-se
muito mais tempo para apreciar a denúncia, processar e julgar a ação penal. Consequentemente, é comum a
ocorrência de prescrição, o que nem sempre acontece por responsabilidade do Tribunal, mas por conta do
próprio sistema.
Portanto, o mau funcionamento do sistema traz, além de impunidade, desprestígio para o STF. Como
consequência, perde o Direito Penal o seu principal papel, qual seja, o de atuar como prevenção geral.
O relator frisou que a situação atual revela a necessidade de mutação constitucional. Isso ocorre quando a corte
constitucional muda um entendimento consolidado, não porque o anterior fosse propriamente errado, mas
porque: a) a realidade fática mudou; b) a percepção social do Direito mudou; ou c) as consequências práticas de
uma orientação jurisprudencial se revelaram negativas. As três hipóteses que justificam a alteração de uma linha
33
899
CNMP: competência normativa e interceptação telefônica
O Plenário, por maioria, julgou improcedente o pedido formulado em ação direta ajuizada em face da Resolução
36/2009 do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), que dispõe sobre o pedido e a utilização de
interceptações telefônicas, no âmbito do Ministério Público (MP), nos termos da Lei 9.296/1996.
De início, as preliminares de não conhecimento foram rejeitadas pelos seguintes argumentos: (a) o ato
normativo, de caráter geral e abstrato, foi editado pelo Conselho no exercício de sua competência constitucional
e constitui ato primário, sujeito a controle de constitucionalidade, por ação direta, no Supremo Tribunal Federal
(STF); e (b) as mudanças promovidas no ato impugnado, por resolução posterior, não implicaram na perda do
objeto desta demanda. No que tange à alegação de inépcia apresentada pela Advocacia-Geral da União (AGU), a
petição inicial foi considerada suficientemente clara e não contém vícios formais.
No mérito, ao reconhecer sua constitucionalidade, o Colegiado asseverou que a norma foi editada pelo CNMP no
exercício das atribuições previstas diretamente no art. 130-A, § 2º, I e II, da Constituição Federal (CF) (1).
Nesse contexto, apenas regulamentou questões administrativas e disciplinares relacionadas ao procedimento de
interceptação telefônica, sem adentrar em matéria de direito penal, processual ou relativa a nulidades.
O ato em apreço regulamentou a Lei 9.296/1996 para estabelecer um conjunto de limites à atuação do Parquet,
como forma de proteger o jurisdicionado no que se refere (a) ao requerimento de interceptação; (b) ao pedido
de prorrogação; e (c) à conclusão do procedimento.
De um lado, em cumprimento ao dever funcional de sigilo (2) (3) (4), o ato normativo enumerou validamente os
critérios a serem observados pelos membros do Parquet nos casos de interceptação telefônica, com a finalidade
34
de evitar excessos.
Não foram criados novos ―requisitos formais de validade‖ das interceptações. Tampouco a inobservância dos
preceitos contidos na resolução constitui causa de nulidade, mas sim motivo para a instauração de procedimento
administrativo disciplinar contra o agente público infrator, pois trata-se de regras ligadas aos deveres funcionais
de sigilo na atuação ministerial.
A Corte ressaltou, ainda, que o CNMP possui competência para regular os parâmetros a serem utilizados na
análise de processos disciplinares submetidos ao órgão. Em realidade, trata-se de medida conveniente e
desejável que confere previsibilidade à atuação do Conselho, bem como oferece segurança jurídica e tratamento
isonômico àqueles sujeitos a seu controle.
Por outro lado, padronizou procedimentos formais sobre a matéria, de modo a concretizar o princípio da
eficiência (CF, art. 37, caput) (5), cuja observância deve ser tutelada pelo Conselho (CF, art. 130-A, § 2º, II) (1).
A existência de um grau mínimo de uniformização atende ao princípio da eficiência, além de ser conveniente
para a continuidade das investigações, especialmente ao se considerar a possibilidade de atuação de mais de um
membro do Parquet no mesmo processo e em momentos distintos.
Ademais, ressaltou que o ato questionado está em consonância com a jurisprudência do STF no sentido de que
(a) o pedido de prorrogação de interceptação telefônica, para ser válido, deve estar devidamente justificado e
fundamentado; e (b) é necessário transcrever o trecho completo da conversa, a fim de permitir sua
contextualização, vedada a edição, ainda que dispensada a transcrição completa da interceptação.
Por fim, entendeu que a independência funcional do MP foi preservada. A resolução não impõe uma linha de
atuação ministerial, apenas promove a padronização formal mínima dos ritos adotados nos procedimentos
relacionados a interceptações telefônicas, em consonância com as regras previstas na Lei 9.296/1996.
Vencido o ministro Marco Aurélio, que acolheu integralmente o pedido inicial, por considerar que o CNMP (a)
disciplinou matéria processual penal, cuja competência é privativa da União (CF, art. 22, I) (6); e (b) feriu a
independência funcional do MP, em afronta à cláusula constitucional que exige lei complementar para a fixação
de suas atribuições.
Vencidos, em parte, os ministros Alexandre de Moraes, Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes, que
julgavam parcialmente procedente o pedido formulado.
Os dados obtidos por meio da quebra dos sigilos bancário, telefônico e fiscal devem ser mantidos sob reserva.
Com base nesse entendimento, o Plenário concedeu mandado de segurança para determinar ao Senado Federal
que retire de sua página na Internet os dados obtidos por meio da quebra de sigilo determinada por comissão
parlamentar de inquérito (CPI).
O Tribunal, por maioria, julgou parcialmente procedente o pedido formulado em ação direta para declarar a
inconstitucionalidade do § 1º (1) do art. 13 da Resolução 59/2008 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o qual
dispõe que não será admitido pedido de prorrogação de prazo de medida cautelar de interceptação de
comunicação telefônica, telemática ou de informática durante o plantão judiciário, ressalvada a hipótese de risco
iminente e grave à integridade ou à vida de terceiros.
A Resolução 59/2008 do CNJ disciplina e uniformiza o procedimento de interceptação de comunicações
telefônicas e de sistemas de informática e telemática nos órgãos jurisdicionais do Poder Judiciário.
O Requerente pleiteou a declaração de inconstitucionalidade da totalidade da referida norma, sustentando que o
CNJ, ao editá-la, teria extrapolado sua competência regulamentar, e violado os artigos 2º; 5º, II e XII; 22, I; 48;
84, IV e 103-B, § 4º, da Constituição Federal.
O Plenário, inicialmente, assentou a constitucionalidade da Resolução 59/2008 — exceto pelo § 1º do art. 13 —,
na medida em que o CNJ, órgão que não possui natureza jurisdicional, não desborda dos limites de sua atuação
quando disciplina as obrigações que incumbem aos agentes do Poder Judiciário nas rotinas e trâmites cartoriais
de pedidos de interceptação telefônica.
O CNJ é órgão interno de controle administrativo, financeiro e disciplinar da magistratura, possuindo natureza
meramente administrativa. No âmbito de sua competência normativa, lhe é possível regular as rotinas
cartorárias dos órgãos do Poder Judiciário, desde que isso não implique estender, para além da reserva legal, as
hipóteses legalmente autorizadas de interceptação das comunicações. Por outro lado, o CNJ não pode criar
obrigações que se estendam a órgãos estranhos ao Poder Judiciário.
O ato normativo em questão, de modo geral, observa tais premissas. Entretanto, em relação ao § 1º do art. 13
da Resolução 59/2008, o CNJ extrapolou sua competência normativa, adentrando em seara que lhe é imprópria.
Assim, desrespeitou: (a) a competência legislativa estadual, no que concerne à edição das leis de organização
judiciária locais (CF, art. 125, § 1º); (b) a competência legislativa na União para a edição de normas processuais
(CF, art. 22, I); e (c) a norma constante do art. 5º, XXXV, da CF, no que respeita à inafastabilidade da
jurisdição.
Vencidos, tão somente em relação à declaração de inconstitucionalidade do § 1º do art. 13, os ministros Edson
Fachin (relator), Roberto Barroso, Rosa Weber e Gilmar Mendes, que julgaram improcedente o pedido, e, em
menor extensão, o ministro Alexandre de Moraes, que julgou inconstitucional também o art. 14, ―caput‖, da
norma impugnada.
Vencido, em maior extensão, o ministro Marco Aurélio, que julgou o pedido totalmente procedente, por
35
considerar que o ato normativo questionado invadiu seara normativa de competência da União.
898
Embargos infringentes e pressupostos
O Plenário, por maioria, negou provimento a agravo regimental interposto em face de decisão monocrática que
inadmitiu embargos infringentes opostos contra acórdão condenatório proferido pela Primeira Turma do
Supremo Tribunal Federal (STF).
Preliminarmente, o Tribunal entendeu cabíveis embargos infringentes contra decisão proferida em sede de ação
penal de competência originária das Turmas, e, por maioria, fixou como requisito de cabimento desse recurso a
existência de dois votos minoritários absolutórios em sentido próprio.
O Plenário reiterou entendimento exarado quando do julgamento da AP 470 AgR-vigésimo sexto/MG (DJe de
17.2.2014), no sentido de que o art. 333, I (1), do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal (RI/STF),
que prevê o cabimento de embargos infringentes, não foi revogado de modo expresso pela Lei 8.038/1990, não
havendo incompatibilidade entre os dois diplomas normativos. Desse modo, subsiste no ordenamento jurídico o
referido recurso.
Entretanto, ao tempo em que elaborado o RI/STF, as ações penais eram julgadas tão somente pelo Plenário.
Não havia previsão expressa quanto ao cabimento de embargos infringentes contra decisão das Turmas. Por
isso, a Corte deve construir uma solução, levando em conta os precedentes mais próximos, a analogia e os
princípios gerais do Direito.
Nessa linha, considerada a existência de certa lógica processual, os embargos infringentes são cabíveis quando
caracterizada divergência relevante, a ponto de gerar dúvida razoável sobre o acerto de determinada decisão.
No julgamento da AP 409 EI-AgR-segundo/CE (DJe de 1º.9.2015), o Tribunal decidiu que a oposição de
embargos infringentes depende, quanto à sua admissibilidade, da existência, em favor do réu, de, pelo menos,
quatro votos vencidos de conteúdo absolutório em sentido próprio, não se revelando possível, para efeito de
compor esse número mínimo, a soma de votos minoritários de conteúdo diverso, como, por exemplo, o eventual
reconhecimento de prescrição.
O art. 333, parágrafo único (2), do RI/STF, prevê a exigência de quatro votos para o cabimento de embargos
infringentes — ao tempo em que só eram cabíveis de decisões do Plenário —, a caracterizar, assim, a existência
de divergência relevante.
No entanto, ante a falta de disposição expressa para o cabimento de embargos infringentes de decisão das
Turmas, há que se estabelecer algum critério para a verificação da existência de divergência relevante, o ponto
de justificar a interposição do recurso.
À medida em que, para a oposição de embargos infringentes em face de decisão do Plenário são necessários
quatro votos divergentes no sentido da absolvição em sentido próprio, em relação às decisões da Turma, há que
se verificar a existência de dois votos divergentes, também no sentido da absolvição própria.
Na espécie, são manifestamente inadmissíveis os embargos infringentes. Isso porque, de um lado, não se
verificou no acórdão embargado a ocorrência de dois votos absolutórios; de outro, o único voto divergente
apresentado não tratou de absolvição em sentido próprio, ou seja, não expressou juízo de improcedência da
pretensão executória, apenas reconheceu a existência de nulidade processual e a ocorrência de prescrição da
pretensão punitiva. Ademais, no mérito, o juízo condenatório foi assentado à unanimidade pela Turma.
A despeito da insurgência do agravante quanto à decisão monocrática que rejeitou os embargos infringentes, é
necessário registrar que o próprio Plenário, ao julgar a AP 470 QO-décima primeira/MG (DJe de 30.4.2009),
decidiu que cabe ao relator da ação penal originária analisar monocraticamente a admissibilidade dos embargos
infringentes opostos em face de decisões condenatórias. O presente caso demandou solução idêntica. Assim, a
manifesta inadmissibilidade dos embargos, na esteira da jurisprudência da Corte, revelou o caráter meramente
protelatório dos infringentes, razão por que não impediu o imediato cumprimento da decisão condenatória.
Vencidos os ministros Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes, Marco Aurélio, e, em menor extensão,
o ministro Alexandre de Moraes, que deram provimento ao agravo. Consideraram presentes os pressupostos dos
embargos infringentes e impossível cogitar-se da exigência de dois votos minoritários absolutórios como
requisito de cabimento do recurso. O ministro Alexandre de Moraes, por outro lado, entendeu que o
reconhecimento da prescrição da pretensão punitiva constitui preliminar de mérito, configurada, na espécie, a
hipótese disciplinada no art. 333, I, do RI/STF.
Por fim, o ministro Edson Fachin (relator) concedeu, de ofício, prisão domiciliar ao agravante, restando
prejudicada a pretensão formulada no HC 152.707/DF.
A Primeira Turma recebeu denúncia contra senador da república pela suposta prática de crime de corrupção
passiva [art. 317 do Código Penal (CP)] (1) e tentativa de obstrução à justiça (art. 2º, § 1º, da Lei 12.850/2013
(2) c/c artigo 14, II, do CP (3)). O Colegiado recebeu, também, a denúncia em relação a outros imputados pelo
crime de corrupção passiva em coautoria (art. 317 do CP c/c art. 29 do CP (4)).
A denúncia foi oferecida com base em depoimentos prestados no âmbito de acordos de delação premiada, bem
como em gravações telefônicas e ambientais, que apontam indícios da prática, pelos denunciados, de atos
voltados ao recebimento de valores a título de vantagem indevida, além de conduta, por senador da república,
de atos voltados a impedir ou embaraçar investigações relacionadas à operação Lava Jato.
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Inicialmente, a Turma negou provimento a agravo regimental interposto de decisão que indeferiu pedido de
devolução do prazo de resposta para juntada de documentos complementares pela defesa. Pelo princípio da
eventualidade, viabilizada a apresentação de defesa prévia, competia ao investigado trazer todos os argumentos
e documentos de que dispunha, em oposição ao narrado na peça acusatória.
Na sequência, reafirmou a impossibilidade de desmembramento do inquérito quanto aos envolvidos sem
prerrogativa de foro, por se tratar de investigação sobre fato único. As condutas estão de tal forma interligadas
que não é possível a realização de um julgamento cindido de maneira adequada (Informativo 885).
No mais, as preliminares suscitadas foram rejeitadas com base nos seguintes fundamentos: (A) é desnecessária
a submissão desse processo ao Plenário, pois os delitos não foram praticados em concurso ou coautoria com o
Presidente da República, nem mesmo em conexão com algum suposto crime por ele cometido; (B) a rescisão do
acordo de delação não é causa de nulidade das provas, nem impede a investigação dos fatos noticiados pelos
colaboradores, considerados os requisitos do artigo 4º, § 7º, da Lei 12.850/2013 (5); (C) não está caracterizada,
nos autos, a apontada provocação do cometimento do crime de corrupção por membro do Ministério Público
Federal, e (D) não houve violação ao princípio do juiz natural no procedimento de livre distribuição deste
inquérito, resultante da cisão do Inquérito 4.483/DF com relação aos ora denunciados.
No mérito, o Colegiado asseverou que a denúncia atende às exigências do art. 41 do Código de Processo Penal
(CPP) (6): contém descrição do cometimento, em tese, de crime e das circunstâncias, com a individualização das
condutas imputadas a cada um dos acusados. Foram colhidos, na fase do inquérito, indícios de autoria e
materialidade relativamente aos crimes imputados, que autorizam o recebimento da peça acusatória.
No momento da denúncia, o princípio que prevalece é ―in dubio pro societate‖. Ademais, a versão do Ministério
Público apresenta uma solidez de verossimilhança maior do que a da defesa, além de não haver nenhum
fundamento que possibilite a rejeição da denúncia por atipicidade ou falta de justa causa.
Quanto ao crime de corrupção passiva (1), considerou haver indicativos de solicitação e percepção de vantagem
indevida pelo detentor de mandato eletivo, com o auxílio dos demais denunciados. A integralidade dos valores
foi apreendida pela Polícia Federal, a revelar a corrupção.
No que se refere ao delito de obstrução de justiça (2), entendeu estarem presentes indícios da prática, por
senador da república, de atos voltados a impedir ou embaraçar investigações que envolvam organização
criminosa. O parlamentar supostamente (A) atuou na tentativa de aprovação de anistia ao crime de ―caixa dois‖
eleitoral – falsidade ideológica eleitoral (artigo 350 do Código Eleitoral) (7), e (B) tentou influenciar na escolha
de delegados de Polícia Federal para conduzir inquéritos alusivos à operação Lava Jato, buscando assegurar a
impunidade de autoridades políticas.
Por fim, esclareceu que as alegações da defesa atinentes à ausência de comprovação dos elementos objetivos
do tipo, de formalização de ato de ofício e de dolo dizem respeito ao mérito e serão examinadas após a
instrução do processo-crime. Sob o crivo do contraditório, cumpre viabilizar a instrução processual para que os
temas de fundo da imputação sejam analisados.
Vencidos, apenas quanto ao delito de obstrução à justiça, os ministros Alexandre de Moraes, que considerou
genérica a imputação, e o ministro Marco Aurélio, em menor extensão, por entender que a denúncia não deve
ser recebida especificamente quanto à suposta atuação do senador visando à aprovação de anistia a caixa dois
eleitoral, porque a atividade de articulação política não pode ser criminalizada, sob pena de ofensa à imunidade
material dos parlamentares.
897
“Habeas corpus” e prisão preventiva
O Plenário, por maioria, não conheceu de ―habeas corpus‖ em que se discutiu a higidez de prisão preventiva
decretada no âmbito de ação penal e, posteriormente, confirmada em sentença condenatória.
Preliminarmente, o Tribunal, também por maioria, entendeu possível a remessa de ―habeas corpus‖ ao Plenário,
pelo relator, de forma discricionária, com fundamento no art. 21, XI (1), do Regimento Interno do Supremo
Tribunal Federal (RI/STF), em linha com o entendimento manifestado pelo ministro Edson Fachin (relator).
O relator registrou que a Constituição Federal (CF) atribui aos Tribunais a elaboração de seus regimentos
internos (CF, art. 96, I, ―a‖ (2)), os quais configuram normas de idêntica categoria que as leis, solucionando-se
eventual antinomia não pela categoria normativa, mas, sim, pela substância regulada (ADI 1.105 MC, DJU de
24/04/2001).
Nesta senda, o RI/STF confere ao relator a atribuição de remeter processos ao Tribunal Pleno (RI/STF, artigos
6º, II, ―c‖; 21, XI; 22, § único, ―a‖ e ―b‖ (3)), ato esse que sequer desafia impugnação recursal (RI/STF, art. 305
(4)).
Determinadas matérias são naturalmente vocacionadas ao crivo do Tribunal, em sua composição Plenária, ou
mesmo ao órgão especial que detenha competência para tanto (CF, artigos 97; 102, § 3º e 103-A; e Enunciado
10 da Súmula Vinculante do STF). Ou seja, mesmo no que toca ao funcionamento e organização interna, os
Tribunais não detêm competência normativa ilimitada, na medida em que devem ser observadas as restrições
constitucionais próprias.
O STF encontra, em sua composição Plenária, a unidade sinérgica à qual incumbe, por excelência, a guarda da
Constituição e o exercício integral de sua competência. Embora, regimentalmente, sejam admitidas e legítimas
diversas atuações fracionárias e unipessoais, é no colegiado maior que a missão constitucional da Corte resta
exercitada em sua inteireza.
Vencidos, no ponto, os Ministros Ricardo Lewandowski e Marco Aurélio, os quais ressaltaram a necessidade de
37
que o deslocamento de processos ao Plenário se dê motivadamente, na forma do art. 93, IX, da Constituição
Federal.
Quanto ao conhecimento do ―writ‖, prevaleceu o voto do relator, que não conheceu do ―habeas corpus‖,
porquanto a superveniência de sentença condenatória acarreta a modificação do debate processual, bem como a
alteração do título prisional originário.
Isso enseja o advento de uma realidade processual de maior amplitude em relação à considerada no momento
da formalização da impetração em julgamento.
Nessa medida, a superveniente prolação de sentença condenatória impõe uma alteração do campo
argumentativo, exigindo-se que o exame das questões articuladas pelo impetrante opere-se à luz de um
espectro processual não coincidente com o inicialmente impugnado.
Vencidos os ministros Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes, Marco Aurélio e Celso de Mello, que
conheceram do ―writ‖.
Em seguida, o Tribunal analisou a possibilidade de concessão da ordem de ―habeas corpus‖ de ofício.
Prevaleceu, no ponto, também o voto do relator, o qual não verificou a ocorrência de constrangimento ilegal
apto a ensejar a concessão da ordem.
Registrou que, para fins de decretação da prisão preventiva, são necessárias a prova da existência do crime e a
existência de indícios suficientes de autoria, sendo indispensável também a presença de algum dos requisitos
previstos no art. 312 (5) do Código de Processo Penal (CPP).
A compreensão do STF é no sentido de que o fundado receio da prática de novos delitos pode configurar risco à
ordem pública e, por consequência, legitimar a adoção da medida prisional (HC 140.215 AgR, DJe de
27/04/2017 e HC 136.298, DJe de 16/12/2016).
Outrossim, a gravidade concreta do crime e especificidades do ―modus operandi‖ podem ser considerados como
fundamento da prisão preventiva, desde que vislumbrada a possibilidade de reiteração delituosa e, portanto,
com observância da finalidade acautelatória que lhe é própria.
O cenário fático delineado nos autos revela a periculosidade concreta do paciente, circunstância que evidencia o
fundado receio de prática de futuras infrações, ainda que não inseridas no exato contexto em que os fatos
pretéritos teriam se desenrolado. Registre-se, inclusive, que parte dos recursos supostamente objeto de lavagem
de dinheiro não foi recuperada.
Por outro lado, não se verifica a alegada duração desarrazoada da prisão processual em análise. Isso porque a
jurisprudência da Corte é firme no sentido de que não procede a alegação de excesso de prazo quando a
complexidade do feito, as peculiaridades da causa ou a defesa contribuem para eventual dilação do prazo (HC
139.430, DJe de 22/06/2017).
O trâmite processual na origem revela-se compatível com a duração razoável do processo, em face da
complexidade dos fatos, das características processuais da controvérsia e das nuanças probatórias da ação
penal.
Vencidos os ministros Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes e Marco Aurélio, que concederam a
ordem de ―habeas corpus‖ de ofício.
A Segunda Turma, por maioria, concedeu ―habeas corpus‖ para determinar o retorno de preso preventivo a
estabelecimento penal no juízo de origem, diante da manifesta ilegalidade de sua transferência para presídio em
outra unidade da federação.
A mudança foi determinada com fundamento em supostas regalias que o paciente teria recebido no ambiente
carcerário, em atendimento a requisição do Ministério Público Federal.
Para o Colegiado, no entanto, é inviável a remoção de apenado para outro Estado com fundamento em suposto
tratamento privilegiado. Apenas razões excepcionalíssimas e devidamente fundamentadas poderiam legitimar
essa medida.
O art. 5º, LXIII, da Constituição Federal (CF) (1) assegura o direito do preso à assistência da família, bem como
o art. 103 da Lei de Execução Penal (LEP) prevê que o recolhimento deve ocorrer ―em local próximo ao seu meio
social e familiar‖ (2). O interesse da instrução processual, ainda assim, recomenda a permanência do recolhido
no local onde responde ação penal em fase de instrução.
Ademais, o Código de Processo Penal (CPP) dispõe que, ―ressalvados os casos de urgência ou de perigo de
ineficácia da medida‖, o juiz deve estabelecer contraditório prévio em relação a requerimentos de medida
cautelar pessoal (art. 282, § 3º) (3).
A determinação, no entanto, teve amparo fático em apurações realizadas unilateralmente pela acusação e, a
despeito de inexistir urgência, a defesa não foi previamente ouvida. O paciente não está sequer sofrendo
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procedimento disciplinar em decorrência de seu comportamento carcerário. Não houve, assim, respeito ao
devido processo legal nem ao contraditório (art. 5º, LIV e LV, da CF) (4).
Por fim, a Turma ressaltou que, durante o transporte, o paciente foi exibido às câmeras de televisão algemado
por pés e mãos, a despeito de sua aparente passividade, em afronta ao Enunciado 11 da Súmula Vinculante (5).
O uso infundado de algemas é causa suficiente para invalidar o ato processual.
Considerou, ainda, que o abuso no uso de algemas também enseja a responsabilidade disciplinar, civil e penal
do agente ou da autoridade. Por essa razão, determinou a instauração de inquérito no Supremo Tribunal Federal
(STF) para apurar eventual abuso de autoridade (art. 4º, ―b‖, da Lei 4.898/1965) (6). O ―éthos‖ da jurisdição
constitucional é impedir que se cometam violações contra os direitos humanos.
Vencido o ministro Edson Fachin, que denegava a ordem, por considerar demonstrada a excepcionalidade que
justificaria o afastamento do direito do preso ao recolhimento em local próximo ao seu meio social e familiar.
896
Execução provisória da pena e trânsito em julgado de sentença condenatória - 2
O Plenário, em conclusão de julgamento e por maioria, denegou a ordem em ―habeas corpus‖ no qual se
pleiteava a vedação do início da execução provisória da pena de condenado em primeiro e segundo graus de
jurisdição pela prática dos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro (Informativo 895).
Prevaleceu o voto proferido pelo Ministro Edson Fachin (relator), que denegou a ordem, por reputar inexistente
qualquer ilegalidade, abusividade ou teratologia no ato apontado como coator.
Inicialmente, o relator registrou que o ―writ‖ trata tão somente da análise da higidez de ato concreto tido como
configurador de ilegalidade ou abuso de poder, qual seja, decisão denegatória de ―habeas corpus‖ proferida no
âmbito do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Por isso, a matéria a ser analisada fica circunscrita e ostenta
menor amplitude em relação às ações objetivas (ADC 43/DF e ADC 44/DF), ainda pendentes de julgamento pelo
Plenário, nas quais se discute a temática relativa à possibilidade de execução provisória da pena em segunda
instância. Ou seja, não é a hipótese de implementar, nesse julgamento específico, uma revisita ao tema.
Cabe, então, ao Supremo Tribunal Federal (STF) verificar apenas a existência de ilegalidade ou abuso de poder
na decisão proferida pelo STJ, levando-se em consideração a configuração constitucional do ―habeas corpus‖
[CF, art. 5º, LXVIII (1)] e a jurisprudência do STF.
Fixadas essas premissas, destacou que o STJ, ao denegar a ordem, aduziu que a execução provisória de acórdão
penal condenatório proferido em grau de apelação não compromete o princípio constitucional da presunção de
inocência afirmado pelo art. 5º, LVII (2), da Constituição Federal, ainda que sujeito a recurso especial ou
extraordinário, na linha de recente jurisprudência do STF (HC 126.292/SP e ARE 964.246/SP).
A decisão impugnada, portanto, se encontrava em sintonia, ao tempo em que proferida, com a compreensão
majoritária do Plenário do STF. Até o presente momento, não houve revisão desse entendimento em sede de
controle abstrato de constitucionalidade.
Nessa medida, o STJ, ao chancelar a determinação emanada do TRF 4ª, limitou-se a proferir decisão compatível
com a jurisprudência da Suprema Corte, a qual deve manter-se íntegra, estável e coerente, por expressa
imposição legal [CPC, art. 926 (3)].
Ademais, não procede a alegação de que os citados precedentes seriam destituídos de força obrigatória. Na
verdade, é forçoso registrar que o CPC/2015 consolidou cenário processual caracterizado por ferramentas de
gestão de litigiosidade voltadas a conferir eficácia obrigatória a determinados precedentes, valendo registrar o
que disposto no art. 988, § 5º, II (4).
Nesse âmbito, mesmo que sob a perspectiva dos direitos fundamentais, não se verifica alteração no panorama
jurídico que autorize considerar o ato coator como revelador de ilegalidade ou abuso de poder. Isso porque a
busca pela racionalidade do sistema penal também passa pela compreensão dos direitos humanos pela
perspectiva da proibição de proteção deficiente, devendo as condutas violadoras de direitos humanos ser
investigadas e punidas.
O Ministro Alexandre de Moraes também refutou a existência de ilegalidade e abuso de poder no ato atacado, na
linha do entendimento exarado pelo relator. A seu ver, é necessário proceder a uma análise da interligação e
complementariedade entre o princípio da presunção de inocência e os demais princípios constitucionais penais e
processuais penais, em especial, o da efetividade da tutela judicial, do juiz natural, do devido processo legal, da
ampla defesa e do contraditório. A interpretação conjunta e teleológica desses princípios leva o intérprete à
superação de aparentes contradições.
Nessa medida, o princípio da presunção de inocência não será desrespeitado ante a execução provisória da pena
privativa de liberdade, desde que a decisão condenatória tenha observado os demais princípios constitucionais.
Ou seja, o juízo de culpabilidade do acusado deve ser firmado com absoluta independência pelo juízo natural, as
provas devem ser valoradas sob o enfoque do devido processo legal e a condenação criminal deve ser imposta
em decisão colegiada, devidamente motivada, de Tribunal de segundo grau, quando esgotada a possibilidade
recursal de cognição plena. Observados tais parâmetros, será possível o início do cumprimento provisório da
pena, em respeito ao princípio da tutela penal efetiva.
O Ministro Roberto Barroso reiterou que a questão cinge-se à existência ou não de ilegalidade ou abuso de
poder no acórdão do STJ. O cumprimento de precedente do STF, por evidente, não se enquadraria nessas
hipóteses.
Ao avançar sobre a matéria de fundo, afirmou que ocorreu uma mutação constitucional relativamente ao art. 5º,
LVII, da Constituição Federal, a justificar a modificação da interpretação do princípio da presunção de inocência
pelo STF.
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É certo que a mutação constitucional pode ocorrer em três hipóteses: a) mudança relevante na realidade social;
b) mudança na compreensão do Direito; e c) ocorrência de impactos negativos decorrentes de determinada
interpretação. Nesse contexto, a decisão tomada pelo STF, em 2009, no julgamento do HC 84.078/MG — no
qual se vedou a execução da pena privativa de liberdade antes do trânsito em julgado da sentença condenatória
— produziu três impactos negativos: a) incentivo à interposição infindável de recursos procrastinatórios; b)
incremento à seletividade do sistema punitivo brasileiro; e c) geração de descrédito do sistema de Justiça penal
junto à sociedade.
Ressaltou, ademais, que a ordem constitucional brasileira não exige o trânsito em julgado da sentença penal
condenatória como condição para a decretação de prisão. O que se exige é a ordem escrita da autoridade
competente, na forma do art. 5º, LXI, da CF. Assim, o pressuposto para a decretação da prisão no sistema
constitucional brasileiro não é o esgotamento dos recursos com o trânsito em julgado, mas a ordem escrita e
fundamentada da autoridade competente.
A Ministra Rosa Weber, ao também denegar a ordem, destacou questão que antecede o próprio
dimensionamento do art. 5º, LVII, da Constituição Federal. A segurança jurídica, para além de ser um princípio,
consiste em valor ínsito à democracia, ao estado de direito e ao próprio conceito de justiça, além de traduzir, na
ordem constitucional, uma garantia dos jurisdicionados. Nesse enfoque, a imprevisibilidade, por si só, qualifica-
se como elemento capaz de transformar o Direito em arbítrio.
Nessa medida, compreendido o STF como instituição, a simples mudança de composição não constitui fator
suficiente para legitimar a alteração da jurisprudência, como tampouco o são razões de natureza pragmática ou
conjuntural. Em realidade, a consistência e a coerência no desenvolvimento judicial do Direito são virtudes do
sistema normativo enquanto virtudes do próprio Estado de Direito. Assim, as instituições do Estado devem
proteger os cidadãos de incertezas desnecessárias referentes aos seus direitos.
O respeito ao precedente judicial baseia-se na premissa fundamental de que decidir casos similares de modo
semelhante integra o próprio conceito de justiça, na dimensão da equidade. A relação do Tribunal com o
precedente se dá em permanente tensão entre estabilidade e continuidade, de um lado, e os imperativos de
adequação, evolução e aperfeiçoamento do Direito, de outro.
Outrossim, o princípio da colegialidade mostra-se imprescindível para o sistema, porquanto a individualidade
dentro do Tribunal, no processo decisório, tem um momento delimitado, a partir do qual cede espaço para a
razão institucional revelada no voto majoritário da Corte.
Ressalvado o seu entendimento pessoal, a Ministra asseverou que o dever de equidade e o princípio da
colegialidade devem nortear a prestação jurisdicional, de modo a justificar a obediência da orientação hoje
prevalecente no âmbito do STF.
Nessa linha de raciocínio, afirmou não reputar ilegal, abusivo ou teratológico o acórdão impugnado, ao
fundamento de que prevalece nesse Tribunal o entendimento de que a execução provisória de acórdão penal
condenatório proferido em julgamento de apelação — ainda que sujeito a recurso especial ou extraordinário —
não compromete o princípio constitucional da presunção de inocência.
O Ministro Luiz Fux registrou ser um grande equívoco a interpretação literal que se faz do art. 5º LVII, da CF.
Esse dispositivo nada tem a ver com prisão, ausente qualquer relação com a execução provisória da pena. A
interpretação literal desse dispositivo representaria a negação do direito do Estado de impor a sua ordem penal.
Vencidos, em menor extensão, os Ministros Gilmar Mendes e Dias Toffoli, que deferiam a ordem de ―habeas
corpus‖ para fixar a possibilidade de execução provisória da pena somente a partir do julgamento de recurso
especial no STJ.
Vencidos, em maior extensão, os Ministros Ricardo Lewandowski, Marco Aurélio e Celso de Mello, que deferiam a
ordem para que o paciente permanecesse em liberdade até o trânsito em julgado da sentença penal
condenatória.
Em seguida, o Tribunal, por unanimidade, rejeitou questão de ordem, suscitada da tribuna pelo advogado do
paciente, no sentido de que, havendo empate na votação, a Presidente do Tribunal deveria se abster de votar.
Ao final, o Tribunal indeferiu novo pedido de medida liminar suscitado da tribuna, vencidos os Ministros Ricardo
Lewandowski e Marco Aurélio, bem como cassou o salvo-conduto anteriormente concedido.
895
Execução provisória da pena e trânsito em julgado de sentença condenatória
O Plenário iniciou julgamento de ―habeas corpus‖ no qual se pleiteia a vedação do início da execução provisória
da pena de condenado em primeiro e segundo graus de jurisdição pela prática dos crimes de corrupção passiva
e lavagem de dinheiro.
Inicialmente, o Tribunal, por maioria, rejeitou preliminar de inadmissibilidade do ―writ‖, ante o suposto
cabimento, na espécie, de recurso ordinário constitucional, na forma do art. 102, II, ―a‖, da Constituição Federal.
No ponto, o Colegiado ressaltou que o remédio constitucional do ―habeas corpus‖ sempre mereceu reverente
tratamento por parte do Supremo Tribunal Federal, devendo-se considerar, inclusive, que foi precisamente nessa
Corte que floresceu, sob a égide da Constituição Republicana de 1891, a doutrina brasileira do ―habeas corpus‖.
Não seria o caso de reviver referida doutrina, mas, tão somente, de conferir expressão concreta ao direito
inalienável de qualquer pessoa à proteção judicial efetiva, a qual, além de se qualificar como prerrogativa de
índole constitucional, encontra suporte em diversos documentos internacionais.
Por outro lado, não obstante o cabimento, no caso em comento, de recurso próprio — o recurso ordinário
constitucional, a ser ajuizado em face da decisão denegatória exarada pelo Superior Tribunal de Justiça —, a
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Constituição vislumbra dupla possibilidade. Isso porque, ao mesmo tempo que prevê o referido recurso, a
Constituição Federal, no art. 102, I, "i", assenta a competência do STF para o processo e o julgamento de
―habeas corpus‖ quando a autoridade coatora for Tribunal Superior. Há, portanto, uma opção aberta ao paciente
para interpor o recurso ordinário ou mesmo ajuizar, diretamente, a ação constitucional de ―habeas corpus‖
perante o STF.
Vencidos, no ponto, os Ministros Edson Fachin (relator), Roberto Barroso, Luiz Fux e Cármen Lúcia (Presidente),
que não conheciam do ―writ‖.
Em seguida, o Tribunal, por maioria, decidiu pela suspensão do julgamento, vencidos os Ministros Edson Fachin
(relator), Alexandre de Moraes, Roberto Barroso e Cármen Lúcia (Presidente).
Outrossim, tendo em vista requerimento feito da tribuna pelo advogado do paciente, a Corte, por maioria,
deferiu liminar para que fosse expedido salvo-conduto ao paciente até o julgamento do ―habeas corpus‖, o que
se dará na sessão de 4.4.2018, vencidos os Ministros Edson Fachin (relator), Alexandre de Moraes, Roberto
Barroso, Luiz Fux e Cármen Lúcia (Presidente).
A 2ª Turma, por maioria, concedeu a ordem de ―habeas corpus‖ para determinar o trancamento de inquérito
instaurado perante o STJ em desfavor de governador. A investigação foi instaurada para apurar a suposta
prática de crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica eleitoral.
O procedimento investigatório foi inaugurado com base em depoimentos colhidos em sede de colaboração
premiada celebrada com o Ministério Público estadual e homologada pelo respectivo juízo.
A defesa sustentou que houve usurpação de competência e de jurisdição da Procuradoria-Geral da República e
do STJ, o que teria acarretado a nulidade das provas dele derivadas.
A Turma asseverou que, nos termos da lei, o acordo de colaboração premiada deve ser remetido ao juiz para
homologação, o qual deverá verificar sua regularidade, legalidade e voluntariedade. Muito embora a lei fale
apenas em juiz, é possível que a homologação de delações seja da competência de tribunal.
O colaborador admite seus próprios delitos e delata outros crimes. Assim, quanto à prerrogativa de função, será
competente o juízo mais graduado, observadas as prerrogativas de função do delator e dos delatados. Essa
prática vem sendo observada no STF.
No caso, o investigado celebrou acordo de colaboração com o Ministério Público estadual, o qual foi homologado
pelo juiz. O acordo foi rescindido e outro foi firmado e homologado, com os mesmos sujeitos. O colaborador
imputou delitos ao governador. Sustentou que um grupo de auditores da Receita estadual cobrava de
empresários vantagem indevida para deixar de apurar ou reduzir tributos. Durante o período eleitoral de 2014,
parte dos recursos teria sido repassada à campanha do paciente para o cargo de governador. Como
corroboração, o colaborador apresentou nota de compra de compensados, com endereço de entrega na sede do
comitê eleitoral da campanha do paciente. A despeito de terem sido imputados delitos ao governador, a
colaboração não foi realizada pela Procuradoria-Geral da República, tampouco foi submetida à homologação pelo
STJ.
Posteriormente, o STJ analisou a validade do acordo, em sede de reclamação. Reconheceu a usurpação da
própria competência, mas apenas após a homologação do acordo. Conforme a decisão, até os depoimentos do
colaborador, não havia elementos contra autoridades com prerrogativa de foro. Como os elementos que
atraíram a competência do STJ teriam surgido com o acordo, teria sido correto homologar o acordo e, em
seguida, remeter os autos ao STJ.
Essa interpretação, contudo, está em descompasso com o entendimento do STF, segundo o qual a delação de
autoridade com prerrogativa de foro atrai a competência do tribunal competente para a respectiva homologação
e, em consequência, do órgão do Ministério Público respectivo.
Após a instauração do inquérito, a defesa do paciente impugnou a utilização das declarações do colaborador. O
STJ decidiu, então, que o paciente não tinha legitimidade para impugnar o acordo.
O STF entende que o delatado não tem legitimidade para impugnar o acordo, por se tratar de negócio jurídico
personalíssimo. O contraditório em relação aos delatados seria estabelecido nas ações penais instruídas com as
provas produzidas pelo colaborador. A impugnação quanto à competência para homologação do acordo, porém,
diz respeito às disposições constitucionais quanto à prerrogativa de foro. Assim, ainda que seja negada ao
delatado a possibilidade de impugnar o acordo, esse entendimento não se aplica em caso de homologação sem
respeito à prerrogativa de foro. Portanto, o caso é de reconhecimento da ineficácia, em relação ao governador,
dos atos de colaboração premiada, decorrentes de acordo de colaboração homologado em usurpação de
competência do STJ. Por essa razão, as provas devem ser excluídas do inquérito. Tento em vista que a
instauração se deu com base exclusivamente nos atos de colaboração, o inquérito deve ser trancado.
O Colegiado enfatizou, ainda, a necessidade de estrito cumprimento da lei quanto aos benefícios passíveis de
negociação e quanto à competência jurisdicional para dosar a sanção premial. O estabelecimento de balizas
legais para o acordo é uma opção do nosso sistema jurídico, para assegurar a isonomia e evitar a corrupção dos
imputados, mediante incentivos desmesurados à colaboração, e dos próprios agentes públicos, aos quais se
daria um poder sem limite sobre a vida dos imputados. As sanções premiais previstas na lei para acordos fixados
até a sentença são o perdão judicial, a redução da pena privativa de liberdade e sua substituição por restritiva
de direito. Além disso, a lei prevê que, mesmo que não acordado, o perdão pode ser requerido ao juiz,
considerando a relevância da colaboração prestada. O perdão pode ser instrumentalizado por dispensa de ação
penal, se o colaborador não for o líder da organização criminosa e for o primeiro a prestar a efetiva colaboração.
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Na colaboração posterior à sentença, a lei prevê a redução da pena até a metade e a relevação de requisitos
objetivos para a progressão do regime prisional.
De toda forma, compete ao STJ ratificar ou não a homologação dos acordos, avaliando a validade de suas
cláusulas. Eventual juízo sobre a validade dos acordos deverá ser baseado na decisão do STJ.
Vencido, em parte, o ministro Edson Fachin, que não determinou o trancamento do inquérito, por considerar
competir ao STJ a deliberação a respeito, uma vez avaliado o acordo por aquele tribunal.
HC 151605/PR, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 20.3.2018. (HC-151605)
A Segunda Turma, por maioria, denegou a ordem em ―habeas corpus‖, no qual se discutia a existência de
―reformatio in pejus‖ em recurso exclusivo da defesa.
O juízo ―a quo‖ condenou os pacientes às penas do art. 4º, ―caput‖, da Lei 7.492/1986 (1) e do art. 1º, VI, da
Lei 9.613/1998 (2). O Ministério Público Federal não recorreu da decisão. Entretanto, o Tribunal Regional Federal
da 4ª Região, em recurso exclusivo da defesa, reclassificou a conduta para os artigos 16 (3) e 22, parágrafo
único (4), da Lei 7.492/1986. O Superior Tribunal de Justiça endossou o acórdão do TRF 4ª, concluiu que não
houve ―reformatio in pejus‖, pois aquela Corte Regional teria apenas adequado a imputação ao quadro fático dos
autos, em típica situação de ―emendatio libelli‖.
O Colegiado afirmou que o Supremo Tribunal Federal considera possível a realização de ―emendatio libelli‖ em
segunda instância mediante recurso exclusivo da defesa, contanto que não gere ―reformatio in pejus‖, nos
termos do art. 617 do CPP (5).
No caso, o acórdão do TRF 4ª não agravou a situação dos pacientes, tendo em vista que o ―quantum‖ de pena
aplicado em 1º grau teria sido respeitado. Ademais, a reclassificação jurídica dos fatos imputados e a redução
operada nas suas reprimendas deram causa à extinção da punibilidade dos pacientes no que se refere ao delito
do art. 16 da Lei 7.492/1986, tendo em vista à consumação da prescrição, reconhecida em sede de embargos.
Vencido o Ministro Celso de Mello, que deferia o pedido de ―habeas corpus‖ por entender que houve ofensa à
autoridade da coisa julgada, bem como ―reformatio in pejus‖.
A Turma, por maioria, deu provimento a agravo regimental interposto contra decisão que havia determinado a
cisão de investigações com a remessa de declarações prestadas em colaboração premiada às Seções Judiciárias
do Distrito Federal e do Paraná.
O caso versa sobre fatos imputados a diretor de empresa de comunicação que teria recebido supostos
pagamentos irregulares no contexto de campanha eleitoral de candidato ao cargo de governador de estado.
O Colegiado asseverou que a matéria em questão é única e exclusivamente eleitoral, e, por se tratar de delitos
eleitorais conexos com crimes comuns, seu processamento é da competência da justiça especializada. (1) (2).
Com base nesse entendimento, determinou o envio dos termos de depoimento dos colaboradores e de eventual
documentação correlata à Justiça Eleitoral.
Vencido o Min. Edson Fachin, que negou provimento ao agravo, por considerar que a Suprema Corte, nos autos
do INQ 4.130-QO (Informativo 800), atestou a competência territorial da Seção Judiciária do Distrito Federal
com relação a fatos insertos nos mesmos termos de depoimento em referência, por se tratar de circunstâncias
fáticas assemelhadas.
PET 7319/DF, rel. Min. Edson Fachin, julgamento em 27.3.2018. (PET - 7319)
A Turma, por maioria, conheceu da impetração e concedeu a ordem de habeas corpus para converter a custódia
preventiva do paciente em prisão domiciliar humanitária, na forma do art. 318, II, do Código de Processo Penal
(CPP). Determinou, ainda, que a prisão domiciliar deferida seja reavaliada pelo juízo processante a cada dois
meses, enquanto perdurar a necessidade da custódia preventiva decretada (CPP, art. 312).
Os impetrantes sustentaram que as circunstancias do caso autorizam a mitigação do Enunciado 691 da Súmula
do Supremo Tribunal Federal (STF), tendo em vista que o paciente foi operado de tumor maligno e carece de
tratamento pós-operatório adequado, circunstância incompatível com a condição de preso preventivo.
O Colegiado reconheceu a possibilidade de superação excepcional do Enunciado 691 para assegurar ao paciente
a prisão domiciliar humanitária (CPP, art. 318, inciso II).
Enfatizou que, tendo em vista o alto risco de saúde, a grande possibilidade de desenvolver infecções no cárcere
e a impossibilidade de tratamento médico adequado na unidade prisional ou em estabelecimento hospitalar —
tudo demostrado satisfatoriamente no laudo pericial —, a concessão do ―writ‖ se faz necessária para preservar a
integridade física e moral do paciente, em respeito à dignidade da pessoa humana (CF, art. 1º, III).
Vencido o ministro Edson Fachin, que denegava a ordem. Considerou incabível o habeas corpus, pois constava
do laudo pericial que o preso estava em bom estado geral, nutricional e psicológico, embora levemente
deprimido.
42
894
Execução provisória da pena e trânsito em julgado
A Segunda turma, em conclusão de julgamento, resolveu questão de ordem para julgar prejudicada a
impetração em face de pedido de desistência do impetrante (Informativos 872 e 891).
HC 136720/PB, rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 13.3.2018. (HC - 136720)
893
Terras indígenas e conflito de competência - 3
A Segunda Turma, em conclusão de julgamento, acolheu questão de ordem para julgar prejudicado recurso, no
qual se discutia conflito de competência entre a Justiça Federal e a Justiça Comum para julgar delito
supostamente praticado por indígena em área reservada (Informativos 650 e 655).
RE 541737/SC, rel. Min. Joaquim Barbosa, red. p/ ac. Min. Edson Fachin, julgamento em 6.3.2018.
(RE - 541737)
892
Prazo decadencial e direito de representação - 2
A Primeira Turma, em conclusão de julgamento e por maioria, denegou a ordem e revogou a liminar
anteriormente deferida em ―habeas corpus‖ que postulava a extinção de processo criminal com base
essencialmente na alegação de desconsideração do prazo decadencial do direito de representação em crime de
atentado violento ao pudor [CP, art. 214 (1)] (Informativo 878).
No caso, a denúncia do paciente foi realizada em 2012, quando já estava em vigor a Lei 12.015/2009, que
alterou o disposto no art. 225 do Código Penal (2), e mais de cinco anos após a ocorrência do delito.
A Turma asseverou que as instâncias ordinárias concluíram que o crime foi praticado mediante violência real.
Incide, portanto, o Enunciado 608 da Súmula do STF (3), mesmo após o advento da Lei 12.015/2009. Com
efeito, rejeitou a alegação de decadência ao fundamento de que a ação penal é pública incondicionada, na linha
do que decidido no HC 102.683/RS (DJe de 7.2.2011).
Vencido o ministro Marco Aurélio (relator), que deferiu a ordem para declarar extinto o processo ante a
decadência.
Decisão judicial transitada em julgado e “habeas corpus”
A Segunda Turma negou provimento a recurso ordinário em ―habeas corpus‖ no qual se pleiteava a anulação de
sentença penal condenatória transitada em julgado.
Preliminarmente, a Turma conheceu do ―habeas corpus‖. Considerou o ―writ‖ cabível, na espécie, por ser mais
célere e benéfico ao paciente, além de sua impetração estar autorizada no art. 648, VI, do CPP (1). Ademais, a
negativa de conhecimento do remédio constitucional dificultaria a defesa do direito das pessoas privadas de
liberdade por condenação alegadamente injusta.
No mérito, a Turma ressaltou que, apesar de parte das alegações da defesa não terem sido expressamente
enfrentadas quando do julgamento da apelação interposta na origem — o que ensejaria a nulidade ora apontada
—, cabia à parte interessada opor embargos de declaração, o que não ocorreu. Por outro lado, as referidas
alegações foram apresentadas de forma lacônica, em dois parágrafos das razões de apelação, sem demonstrar
conecção com o ponto de interesse. Concluiu não haver nulidade a ser reconhecida no acórdão condenatório
impugnado.
891
Execução provisória da pena e trânsito em julgado
A Segunda Turma afetou ao Plenário o julgamento de ―habeas corpus‖ em que se discute a possibilidade de
execução provisória da pena após o julgamento de recurso em segundo grau de jurisdição.
A Segunda Turma, por maioria, concedeu a ordem em ―habeas corpus‖ coletivo, impetrado em favor de todas as
mulheres presas preventivamente que ostentem a condição de gestantes, de puérperas ou de mães de crianças
sob sua responsabilidade.
Determinou a substituição da prisão preventiva pela domiciliar — sem prejuízo da aplicação concomitante das
medidas alternativas previstas no art. 319 do CPP (1) — de todas as mulheres presas, gestantes, puérperas, ou
mães de crianças e deficientes sob sua guarda, nos termos do art. 2º do ECA (2) e da Convenção sobre Direitos
das Pessoas com Deficiência (Decreto Legislativo 186/2008 e Lei 13.146/2015), relacionadas nesse processo
pelo DEPEN e outras autoridades estaduais, enquanto perdurar tal condição, excetuados os casos de crimes
praticados por elas mediante violência ou grave ameaça, contra seus descendentes ou, ainda, em situações
excepcionalíssimas, as quais deverão ser devidamente fundamentadas pelos juízes que denegarem o benefício.
Estendeu a ordem, de ofício, às demais mulheres presas, gestantes, puérperas ou mães de crianças e de
pessoas com deficiência, bem assim às adolescentes sujeitas a medidas socioeducativas em idêntica situação no
43
Quando a detida for tecnicamente reincidente, o juiz deverá proceder em atenção às circunstâncias do caso
concreto, mas sempre tendo por norte os princípios e as regras acima enunciadas, observando, ademais, a
diretriz de excepcionalidade da prisão. Se o juiz entender que a prisão domiciliar se mostra inviável ou
inadequada em determinadas situações, poderá substituí-la por medidas alternativas arroladas no já mencionado
art. 319 do CPP. Para apurar a situação de guardiã dos filhos da mulher presa, dever-se-á dar credibilidade à
palavra da mãe.
Faculta-se ao juiz, sem prejuízo de cumprir, desde logo, a presente determinação, requisitar a elaboração de
laudo social para eventual reanálise do benefício. Caso se constate a suspensão ou destituição do poder familiar
por outros motivos que não a prisão, a presente ordem não se aplicará.
A fim de se dar cumprimento imediato a esta decisão, deverão ser comunicados os Presidentes dos Tribunais
Estaduais e Federais, inclusive da Justiça Militar Estadual e Federal, para que prestem informações e, no prazo
máximo de 60 dias a contar de sua publicação, implementem de modo integral as determinações estabelecidas
no presente julgamento, à luz dos parâmetros ora enunciados. Com vistas a conferir maior agilidade, e sem
prejuízo da medida determinada acima, também deverá ser oficiado ao DEPEN para que comunique aos
estabelecimentos prisionais a decisão, cabendo a estes, independentemente de outra provocação, informar aos
respectivos juízos a condição de gestante ou mãe das presas preventivas sob sua custódia.
Deverá ser oficiado, igualmente, ao Conselho Nacional de Justiça — CNJ, para que, no âmbito de atuação do
Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e do Sistema de Execução de Medidas
Socioeducativas, avalie o cabimento de intervenção nos termos preconizados no art. 1º, § 1º, II, da Lei
12.106/2009 (3), sem prejuízo de outras medidas de reinserção social para as beneficiárias desta decisão. O CNJ
poderá ainda, no contexto do Projeto Saúde Prisional, atuar junto às esferas competentes para que o protocolo
de entrada no ambiente prisional seja precedido de exame apto a verificar a situação de gestante da mulher. Tal
diretriz está de acordo com o Eixo 2 do referido programa, que prioriza a saúde das mulheres privadas de
liberdade.
Os juízes responsáveis pela realização das audiências de custódia, bem como aqueles perante os quais se
processam ações penais em que há mulheres presas preventivamente, deverão proceder à análise do cabimento
da prisão, à luz das diretrizes ora firmadas, de ofício.
Embora a provocação por meio de advogado não seja vedada para o cumprimento desta decisão, ela é
dispensável, pois o que se almeja é, justamente, suprir falhas estruturais de acesso à Justiça da população
presa. Cabe ao Judiciário adotar postura ativa ao dar pleno cumprimento a esta ordem judicial. Nas hipóteses de
descumprimento da presente decisão, a ferramenta a ser utilizada é o recurso, e não a reclamação, como já
explicitado na ADPF 347 MC/DF (DJE de 19.2.2016).
Preliminarmente, a Turma entendeu cabível a impetração coletiva e, por maioria, conheceu do ―habeas corpus‖.
Destacou a ação coletiva como um dos únicos instrumentos capazes de garantir o acesso à justiça dos grupos
mais vulneráveis socioeconomicamente. Nesse sentido, o STF tem admitido com maior amplitude a utilização da
ADPF e do mandado de injunção coletivo.
O ―habeas corpus‖, por sua vez, se presta a salvaguardar a liberdade. Assim, se o bem jurídico ofendido é o
direito de ir e vir, quer pessoal, quer de um grupo determinado de pessoas, o instrumento processual para
resgatá-lo é o ―habeas corpus‖, individual ou coletivo.
Esse remédio constitucional é notadamente maleável diante de lesões a direitos fundamentais, e existem
dispositivos legais que encorajam o cabimento do ―writ‖ na forma coletiva, como o art. 654, § 2º (4), do CPP,
que preconiza a competência de juízes e tribunais para expedir ordem de ―habeas corpus‖ de ofício. O art. 580
(5) do mesmo diploma, por sua vez, permite que a ordem concedida em determinado ―writ‖ seja estendida para
todos que se encontram na mesma situação.
Além disso, a existência de outras ferramentas disponíveis para suscitar a defesa coletiva de direitos não deve
obstar o conhecimento desta ação, pois o rol de legitimados não é o mesmo, mas consideravelmente mais
restrito na ADPF, por exemplo. Além disso, o acesso à justiça, sobretudo de mulheres presas e pobres, diante de
sua notória deficiência, não pode prescindir da atuação dos diversos segmentos da sociedade civil em sua
defesa.
Ademais, as autoridades estaduais apresentaram listas contendo nomes e demais dados das mulheres presas
preventivamente, de modo que fica superada qualquer alegação no sentido de as pacientes serem
indeterminadas ou indetermináveis. O fato de a ordem, se concedida, poder se estender a outras mulheres em
idêntica situação não representa novidade, ao contrário, constitui uma das consequências normais do
instrumento.
Fundamental, ainda, que a decisão do STF, no caso, contribua para imprimir maior isonomia às partes
envolvidas, para permitir que lesões a direitos potenciais ou atuais sejam sanadas com mais celeridade e para
descongestionar o acervo de processos em trâmite no país.
Essas razões, somadas ao reconhecimento do estado de coisas inconstitucional do sistema prisional, bem assim
à existência de decisões dissonantes sobre o alcance da redação do art. 318, IV e V, do CPP (6), impõem o
reconhecimento da competência do STF para o julgamento do ―writ‖, sobretudo tendo em conta a relevância
constitucional da matéria.
O ministro Dias Toffoli acresceu que, nos termos da Constituição, o mandado de segurança é cabível quando
não cabe o ―habeas corpus‖; e é admissível o mandado de segurança coletivo. Por dedução, está prevista a
possibilidade do ―habeas corpus‖ coletivo. Entretanto, conheceu em parte da impetração, apenas no tocante a
atos coatores advindos do STJ, sem prejuízo de eventual concessão da ordem de ofício, se o ato coator houver
se originado nos demais juízos.
44
O ministro Edson Fachin também conheceu em parte da ação, para obstar a impetração ―per saltum‖.
No mérito, o Colegiado entendeu haver grave deficiência estrutural no sistema carcerário, que faz com que
mulheres grávidas e mães de crianças, bem como as próprias crianças, sejam submetidas a situações
degradantes, resultantes da privação de cuidados pré-natal e pós-parto e da carência de berçários e creches.
A respeito, apenas o STF se revela capaz, ante a situação descrita, de superar os bloqueios políticos e
institucionais que vêm impedindo o avanço de soluções, o que significa cumprir à Corte o papel de retirar os
demais Poderes da inércia, catalisar os debates e novas políticas públicas, coordenar ações e monitorar os
resultados.
Além disso, existe a cultura do encarceramento, que se revela pela imposição exagerada de prisões provisórias a
mulheres pobres e vulneráveis, e que resulta em situações que ferem a dignidade de gestantes e mães, com
prejuízos para as respectivas crianças.
Ressalte-se que o país não tem conseguido garantir sequer o bem-estar de gestantes e mães que não estão
inseridas no sistema prisional, ainda que o cuidado com a saúde maternal, de acordo com a ONU, seja prioritário
no que concerne à promoção de desenvolvimento.
Assim, a atuação do Tribunal no sentido de coibir o descumprimento sistemático de regras constitucionais e
infraconstitucionais referentes aos direitos das presas e de seus filhos é condizente com os textos normativos
que integram o patrimônio mundial de salvaguarda dos indivíduos colocados sob a custódia do Estado.
As crianças, notadamente, sofrem as consequências desse quadro em flagrante violação aos arts. 227 (7) e 5º,
XLV (8), da CF, o que resulta em impactos ao seu bem-estar físico e psíquico e em danos ao seu
desenvolvimento.
Portanto, diante desse panorama, é de se evitar a arbitrariedade judicial e a supressão de direitos, típicas de
sistemas jurídicos que não dispõem de soluções coletivas para problemas estruturais. Nesse sentido, cabe ao
STF estabelecer os parâmetros a serem observados pelos juízes quando se depararem com a possibilidade de
substituir a prisão preventiva pela domiciliar.
Vencido, em parte, o ministro Edson Fachin, que concedeu a ordem para conferir interpretação conforme à
Constituição aos incisos IV, V e VI do art. 318 do CPP, de modo que a substituição da prisão preventiva pela
domiciliar esteja submetida à análise do caso concreto, para que se observe o melhor interesse da criança, sem
revisão automática das medidas já decretadas.
890
Quebra de sigilo telefônico e telemático
A Segunda Turma negou provimento a recurso ordinário em ―habeas corpus‖ no qual se discutia a ilicitude das
interceptações telefônicas e telemáticas e das demais provas que delas decorreram.
No caso, a recorrente foi denunciada em razão de desvios de verbas públicas federais mediante utilização de
expedientes fraudulentos, a caracterizar, em tese, os crimes de peculato, corrupção, fraude em licitações,
falsidade ideológica e formação de quadrilha.
A defesa sustentava que a recorrente estaria submetida a constrangimento ilegal, tendo em vista que sua
condenação teria sido fundamentada em provas ilícitas derivadas de sucessivas interceptações telefônicas que
perduraram por prazo excessivo. A recorrente alegava, ainda, nulidade da interceptação de e-mails no decorrer
das investigações. Ressaltava que as provas foram baseadas em denúncia anônima, sem qualquer investigação
preliminar por parte da autoridade policial.
A Turma assinalou que as interceptações não foram baseadas em uma denúncia propriamente anônima, haja
vista que, embora apócrifo o documento que noticia as ilicitudes, este indica o seu autor.
Destacou que a autoridade policial realizou as interceptações com base em diligência preliminar e informações
recebidas pelo Ministério da Justiça, bem como pelos dados fornecidos pela Controladoria-Geral da União (CGU).
Registrou que a decisão proferida pelo juízo processante que autorizou a interceptação telefônica está
devidamente fundamentada, de modo que os elementos constantes dos autos são suficientes para afastar os
argumentos da defesa de que não haveria indícios razoáveis de autoria e materialidade delitiva para se
determinar a medida invasiva ou de que as provas pudessem ser colhidas por outros meios disponíveis.
Afirmou que o Supremo Tribunal Federal reconheceu, já sob a égide do ordenamento constitucional vigente, que
o sigilo de correspondência não é absoluto.
Ademais, a exceção constitucional ao sigilo alcança as comunicações de dados telemáticos, razão pela qual não
há nenhum tipo de vício.
RHC 132115/PR, rel. Min. Dias Tóffoli, julgamento em 6.2.2018. (RHC-132115)
889 – X
908
Configuração de crime militar e licenciamento
45
907
Atentado violento ao pudor e lei das contravenções penais
906 x
905 x
904
Descaminho e crédito tributário
Incidência de segunda deserção e extinção do processo - 2
Remição ficta e omissão do Estado - 2
903
Falsidade ideológica para fins eleitorais e omissão de recursos de campanha
902 x
901
Furto e responsabilidade civil de concessionária de serviços públicos
Princípio da insignificância e pesca no período de defeso
900 X
899
Roubo e extorsão e a continuidade delitiva
898
Descaminho e princípio da insignificância
897
Descaminho e princípio da insignificância
Furto e configuração de crime impossível
896
Progressão de regime e Súmula 715/STF
895 X
894
Desacato praticado por civil contra militar e constitucionalidade
893
Incitação à discriminação religiosa e liberdade de expressão
892 X
891
Inexigibilidade de licitação e tipicidade da conduta
890
Prescrição da pretensão punitiva e execução imediata da pena
46
2018 1º SEMESTRE:
627
Cumpre informar, de início, que a materialidade dos crimes listados no art. 1º,
inciso I a IV, da Lei n. 8.137/1990 apenas se verifica com a constituição definitiva
do crédito tributário, situação que ocorre por meio do procedimento tributário
devidamente instaurado. Assim, o direito penal apenas passa a ter lugar após
verificada a adequada tipicidade da conduta imputada. Nesse contexto, não se
revela indispensável a juntada dos documentos tributários, mas apenas a
comprovação da constituição definitiva do crédito tributário. Eventual
desconstituição do que foi averiguado tributariamente não pode ser feito no juízo
criminal, cabendo ao recorrente se valer dos meios próprios para tanto. Em suma:
a) para o início da ação penal, basta a prova da constituição definitiva do crédito
tributário (Súmula Vinculante 24), não sendo necessária a juntada integral do
Procedimento Administrativo Fiscal – PAF correspondente; b) a validade do crédito
fiscal deve ser examinada no Juízo cível, não cabendo à esfera penal qualquer
tentativa de sua desconstituição; c) caso a defesa entenda que a documentação
apresentada pelo Parquet é insuficiente e queira esmiuçar a dívida, pode apresentar
cópia do referido PAF ou dizer de eventuais obstáculos administrativos; e d) se
houver qualquer obstáculo administrativo para o acesso ao procedimento
administrativo fiscal respectivo, a parte pode sugerir ao Juiz sua atuação até
mesmo de ofício, desde que aponte qualquer prejuízo à defesa, que possa interferir
na formação do livre convencimento do julgador.
pode lhe ser benéfico. Não se trata, portanto, de reformatio in pejus indireta, uma
vez que estamos diante da implementação de regra técnica de julgamento, que
pode ou não resultar em decisão desfavorável à defesa. Assim, considerando os
termos do art. 198 do ECA, não há, em princípio, ilegalidade no procedimento que
impeça sua aplicação.
626
625
isenção que é esperada do togado em um plenário do Júri. Agir com firmeza não é
motivo para imputar ao magistrado a pecha da falta de imparcialidade. O juiz não é
mero espectador do julgamento e tem, não só o direito, mas o dever (art. 497 do
Código de Processo Penal) de conduzi-lo. A quebra da imparcialidade tem de estar
atrelada a alguma conduta do magistrado que possa desequilibrar a balança do
contraditório, ou seja, favorecer, para qualquer dos lados, a atuação das partes.
624
623
12, inciso I, da Lei n. 8.137/1990, não existindo qualquer abuso por parte da
Administração Fiscal em encaminhar as informações ao Parquet" (ARE n. 953.058-
SP, Ministro Gilmar Mendes). Com isso, o entendimento de que é incabível o uso da
chamada prova emprestada do procedimento fiscal em processo penal, tendo em
vista que a obtenção da prova (a quebra do sigilo bancário) não conta com
autorização judicial, contraria a jurisprudência consolidada do Supremo Tribunal
Federal de que é possível a utilização de dados obtidos pela Secretaria da Receita
Federal, em regular procedimento administrativo fiscal, para fins de instrução
processual penal. Nesse sentido, não há falar em ilicitude das provas que embasam
a denúncia em processo penal obtidas por meio de compartilhamento pelo Fisco de
informações sobre movimentação bancária obtidos sem autorização judicial,
porquanto, assim como o sigilo é transferido, sem autorização judicial, da
instituição financeira ao Fisco e deste à Advocacia-Geral da União, para cobrança do
crédito tributário, também o é ao Ministério Público, sempre que, no curso de ação
fiscal de que resulte lavratura de auto de infração de exigência de crédito de
tributos e contribuições, se constate fato que configure, em tese, crime contra a
ordem tributária.
622
SÚMULA N. 607
Tráfico ilícito de drogas. Causa de aumento da pena. Art. 40, inciso III, da
lei n. 11.343/2006. Infração cometida nas imediações de estabelecimento
de ensino em uma madrugada de domingo. Ausência de exposição de uma
aglomeração de pessoas à atividade criminosa. Interpretação teleológica.
Afastamento da majorante.
Não incide a causa de aumento de pena prevista no art. 40, inciso III, da Lei n.
11.343/2006, se a prática de narcotraficância ocorrer em dia e horário em que não
facilite a prática criminosa e a disseminação de drogas em área de maior
aglomeração de pessoas.
621
Compete à Justiça Militar processar e julgar o crime de furto, praticado por civil, de
patrimônio que, sob administração militar, encontra-se nas dependências desta.
prazo para concessão de futuros benefícios seria interrompida, de modo que o novo
cálculo, realizado com base no somatório das penas, teria como termo a quo a data
do trânsito em julgado da última sentença condenatória. Entretanto, da leitura dos
artigos 111, parágrafo único, e 118, II, da Lei de Execução Penal, invocados para
sustentar o posicionamento mencionado, apenas se conclui que, diante da
superveniência do trânsito em julgado de sentença condenatória, caso
o quantum de pena obtido após o somatório não permita a preservação do regime
atual de cumprimento da pena, o novo regime será então determinado por meio do
resultado da soma, de forma que estará o sentenciado sujeito à regressão. Assim,
sequer a regressão de regime é consectário necessário da unificação das penas,
porquanto será forçosa a regressão de regime somente quando a pena da nova
execução, somada à reprimenda ainda não cumprida, torne incabível o regime
atualmente imposto. Portanto, da leitura dos artigos supra, não se infere que,
efetuada a soma das reprimendas impostas ao sentenciado, é mister a alteração da
data-base para concessão de novos benefícios. Por conseguinte, deduz-se que a
alteração do termo a quo referente à concessão de novos benefícios no bojo da
execução da pena constitui afronta ao princípio da legalidade e ofensa à
individualização da pena, motivo pelo qual se faz necessária a preservação do
marco interruptivo anterior à unificação das penas. Ainda que assim não fosse, o
reinício do marco temporal permanece sem guarida se analisados seus efeitos na
avaliação do comportamento do reeducando. Caso o crime cometido no curso da
execução tenha sido registrado como infração disciplinar, seus efeitos já
repercutiram no bojo do cumprimento da pena, pois, segundo a jurisprudência
consolidada desta Corte Superior, a prática de falta grave interrompe a data-base
para concessão de novas benesses, à exceção do livramento condicional, da
comutação de penas e do indulto. Portanto, a superveniência do trânsito em
julgado da sentença condenatória não poderia servir de parâmetro para análise do
mérito do apenado, sob pena de flagrante bis in idem. No mesmo caminho, o delito
praticado antes do início da execução da pena não constitui parâmetro idôneo de
avaliação do mérito do apenado, porquanto evento anterior ao início do resgate das
reprimendas impostas não desmerece hodiernamente o comportamento do
sentenciado e não se presta a macular sua avaliação, visto que é estranho ao
processo de resgate da pena. A unificação de nova condenação definitiva já possui
o condão de recrudescer o quantum de pena restante a ser cumprido pelo
reeducando, logo, a alteração da data-base para concessão de novos benefícios, a
despeito da ausência de previsão legal, configura excesso de execução, baseado
apenas em argumentos extrajurídicos.
620
619
SÚMULA N. 604
618
617
616
Gabarito Questões
1ª Questão:
Canotilho (1941 – 77 anos) e Paulo Castro Rangel (1968 – 50 anos). Canotilho: “a rejeição
constitucional à justiça privada (próprias mãos) exige que os conflitos sejam resolvidos por
órgãos imparciais e qualificados. Tais órgãos detém o monopólio da jurisdição. Corolário do
Princípio da Separação dos Poderes. Canotilho conclui que a doutrina distingue dois tipos de
monopólio: O da primeira e o da última palavra.
Paulo Castro Rangel, por sua vez, fala em critério das duas palavras para se referir a dois níveis
de reserva de jurisdição: Absoluto e relativo
Muitos autores (Alberto Silva Franco, por exemplo) equiparam essa figura à garantia da
inafastabilidade do controle jurisdicional (Art. 5º XXXV CF).
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;
Relativa:
Juiz não só a última palavra, mas também o monopólio da primeira palavra, impedindo
qualquer intervenção de outra autoridade.
2ª Questão:
3ª Questão:
63
4ª Questão:
Espera-se que o candidato desenvolva sua resposta com base no que se apresenta a seguir.
João cometeu o crime de calúnia (delito tipificado no art. 138 do Código Penal) contra o
advogado da União ao imputarlhe falsamente fato definido como crime. O fato imputado a
Marcelo consiste no crime de advocacia administrativa, previsto no art. 321 do Código Penal.
Sobre o referido tipo penal, ensina Bitencourt (2012, p. 623) que o bem jurídico protegido pela
tipificação do crime de calúnia, para aqueles que adotam essa divisão, é a honra objetiva, isto
é, a reputação do indivíduo, o conceito que os demais membros da sociedade têm a respeito
do indivíduo, relativamente a seus atributos morais, éticos, culturais, intelectuais, físicos ou
profissionais; é, em outros termos, o sentimento do outro que incide sobre as nossas
qualidades ou nossos atributos. Os requisitos para a configuração do crime são: a) a imputação
de fato determinado qualificado como crime; b) a falsidade da imputação; c) o elemento
subjetivo — animus caluniandi. A ausência de qualquer desses elementos impede que se possa
falar em fato definido como crime de calúnia. O parágrafo único do art. 145 do Código Penal
dispõe que, em se tratando de crimes contra a honra de funcionário público em razão de suas
funções, a ação penal será pública condicionada à representação. Contudo, o STF, na Súmula
n.º 714, passou a entender que, por violar o interesse individual do funcionário público, “é
concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do Ministério Público,
condicionada à representação do ofendido, para ação penal por crime contra a honra de
servidor público em razão do exercício de suas funções”. Embora o STF afirme tratar-se de
legitimação concorrente, a doutrina tem entendido que a hipótese aventada na súmula é de
legitimação alternativa. Essa conclusão é retirada de entendimento da própria Corte Suprema,
que entende que, “se o funcionário público ofendido em sua honra apresenta representação,
estaria preclusa a instauração penal de iniciativa privada, já que, em tal hipótese, o Ministério
Público estaria definitivamente investido na legitimação para a causa”. (STF, Pleno, Inq.
1.939/BA, rel. min. Sepúlveda Pertence, j. 3/3/2004.) Ensina Oliveira (2009, p. 127) que, se o
próprio Supremo entende que, uma vez oferecida a representação pelo ofendido, autorizando
o Ministério Público a agir, não será mais possível o oferecimento da queixa-crime, forçoso é
concluir que a legitimação, nesse caso, da Súmula n.º 714, não é concorrente, mas sim
alternativa. Na verdade, sendo condicionada à representação, o Ministério Público jamais
estaria legitimado a agir de ofício; caberia, portanto, ao ofendido fazer a opção entre a
representação, escolhendo a via da ação penal pública, ou oferecer queixa-crime, optando
pela ação penal de iniciativa privada. Para que fosse efetivamente concorrente, o ofendido
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5ª Questão:
É possível a entrada domiciliar, no período noturno, sem mandado judicial, nas hipóteses
permitidas pela Constituição Federal: flagrante delito, desastre, para prestar socorro ou com o
consentimento do morador. Art. 5.º, XI, CF/1988 – a casa é asilo inviolável do indivíduo,
ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante
delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial. O
STF, por meio do Tribunal Pleno, ao julgar o RE 603616/RO, em Repercussão Geral, asseverou
que a Constituição dispensa o mandado judicial para ingresso forçado em residência em caso
de flagrante delito, asseverando, ainda, que, no crime permanente, a situação de flagrância se
protrai no tempo, como é o caso do tráfico de drogas. 2 É possível a busca e apreensão no
período noturno, sem mandado judicial, quando há situação de flagrante delito, conforme
disposto no art. 5º, inciso XI, da CF. Destarte, em Repercussão Geral, o STF já asseverou, in
casu, quanto à necessidade de controle judicial posterior à execução da medida, ocasião em
que os agentes estatais demonstrarão a existência dos elementos mínimos a caracterizar as
fundadas razões (justa causa) da referida medida. 3 Se a ação for considerada ilícita, o agente
ou autoridade poderá ser responsabilizado disciplinar, civil e penalmente. Ademais, ressalta-
se, ainda, a possibilidade de nulidade de todos os atos praticados pelo agente e eventual
responsabilização cível do Estado pelos danos causados por seus agentes. Inviolabilidade de
domicílio – art. 5.º, XI, da CF. Busca e apreensão domiciliar sem mandado judicial em caso de
crime permanente. (...) Fixada a interpretação de que a entrada forçada em domicílio sem
mandado judicial só é lícita, mesmo em período noturno, quando amparada em fundadas
razões, devidamente justificadas a posteriori, que indiquem que dentro da casa ocorre
situação de flagrante delito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente
ou da autoridade e de nulidade dos atos praticados. (RE 603.616, relator ministro Gilmar
Mendes, j. 5/11/2015, P, DJe de 10/5/2016, com repercussão geral.)
6ª Questão:
decisão proferida pelo STF: Não se confundem comunicação telefônica e registros telefônicos,
que recebem, inclusive, proteção jurídica distinta. Não se pode interpretar a cláusula do artigo
5.º, XII, da CF, no sentido de proteção aos dados enquanto registro, depósito registral. A
proteção constitucional é da comunicação de dados e não dos dados. (Supremo Tribunal
Federal, Habeas Corpus n.º 91.867/PA, rel. ministro Gilmar Mendes, Brasília/DF: DJ
24/4/2012.) Quanto ao acesso ao detalhamento das chamadas recebidas e realizadas por
telefone, com a informação de número, data, horário e duração, registrados na memória do
aparelho regularmente apreendido pela autoridade policial, o STF já decidiu pela legalidade da
medida, uma vez que a diligência policial, em casos tais, não caracteriza interceptação de
comunicação telefônica, não sendo necessária, portanto, de autorização judicial. Suposta
ilegalidade decorrente do fato de os policiais, após a prisão em flagrante do corréu, terem
realizado a análise dos últimos registros telefônicos dos dois aparelhos celulares apreendidos.
Não ocorrência. Não se confundem comunicação telefônica e registros telefônicos, que
recebem, inclusive, proteção jurídica distinta. A proteção constitucional é da comunicação de
dados e não dos dados. Ao proceder à pesquisa na agenda eletrônica dos aparelhos
devidamente apreendidos, meio material indireto de prova, a autoridade policial, cumprindo o
seu mister, buscou, unicamente, colher elementos de informação hábeis a esclarecer a autoria
e a materialidade do delito. (Supremo Tribunal Federal, Habeas Corpus n.º 91.867/PA, rel.
ministro Gilmar Mendes, Brasília/DF: DJ 24/4/2012.) Vale destacar, no entanto, que o
entendimento corroborado pela atual jurisprudência do STJ se mostrou discordante no sentido
de que, salvo por autorização judicial, decorrente de decisão motivada, as mensagens de
WhatsApp, Facebook Messenger ou qualquer outro aplicativo, bem como os arquivos e os
dados contidos num celular não podem ser averiguados pela polícia e nem utilizados contra
um réu no processo penal ou em qualquer outro processo administrativo ou cível.
7ª Questão:
Mesmo com a alteração do art. 310 do CPP pela Lei n.º 12.403/2011, parte da doutrina
continua a sustentar a prisão em flagrante como medida cautelar, que se perfaz como ato
jurídico com a atuação de dois órgãos estatais distintos (autoridade policial e juiz). Defendem
os doutrinadores que os pressupostos gerais das cautelares (fumus boni iuris e periculum in
mora) estão presentes desde o momento da prisão em flagrante, assim como as características
das medidas cautelares, como a jurisdicionalidade, acessoriedade, preventividade e
provisoriedade. Além disso, a Constituição Federal de 1988, em seu art. 5.º, LXI, prevê que os
cidadãos podem ser presos em flagrante ou por ordem judicial, o que fundamenta a prisão em
flagrante como medida autônoma e cautelar, até a sua conversão em prisão preventiva ou a
concessão de liberdade provisória. O próprio CPP, após as alterações legislativas, ainda intitula
a prisão em flagrante como medida cautelar, no art. 283, § 1.º, in verbis: Art. 283. Ninguém
poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da
autoridade judiciária competente, em decorrência de sentença condenatória transitada em
julgado ou, no curso da investigação ou do processo, em virtude de prisão temporária ou
prisão preventiva. § 1.º As medidas cautelares previstas neste título não se aplicam à infração
a que não for isolada, cumulativa ou alternativamente cominada pena privativa de liberdade.
Alguns autores, no entanto, atribuem pré-cautelaridade à prisão em flagrante em razão de
esta ser realizada por autoridade administrativa, não tendo o condão de servir de título
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autônomo da prisão, sendo necessário que ela seja homologada pela autoridade judiciária e
convertida em prisão preventiva, quando presentes os seus pressupostos legais ou a sua
substituição por medidas cautelares diversas (arts. 310, II, parte final, e 319 do CPP). Assim, se
a prisão em flagrante deve ser homologada pelo juiz e convertida em prisão preventiva, fica
claro que, uma vez realizada a prisão em flagrante, esta deve ser desconstituída ou substituída
por outra medida (a própria preventiva ou medida cautelar diversa), não mais persistindo a
sua natureza cautelar. É mero ato jurídico de natureza administrativa, porquanto antecede
uma medida cautelar principal e porque cessará com a decisão judicial que a converterá em
preventiva, caso se entenda pela sua manutenção, ou pela concessão de liberdade provisória,
caso sua manutenção seja desnecessária. Autores que defendem a cautelaridade: Fernando da
Costa Tourinho Filho, Guilherme de Souza Nucci, Paulo Rangel, Eugenio Pacelli e Douglas
Fisher, entre outros. Autores que defendem a pré-cautelaridade: Aury Lopes Júnior, Luiz Flávio
Gomes, Fernando Capez, Afrânio Jardim.
8ª Questão:
1 O indiciamento é ato privativo de delegado de polícia, que se dá por ato fundamentado, nos
termos da Lei n.º 12.830/2013: Art. 2.º As funções de polícia judiciária e a apuração de
infrações penais exercidas pelo delegado de polícia são de natureza jurídica, essenciais e
exclusivas de Estado. (...) § 6.º O indiciamento, privativo do delegado de polícia, dar-se-á por
ato fundamentado, mediante análise técnico-jurídica do fato, que deverá indicar a autoria,
materialidade e suas circunstâncias. 2 Delegado de polícia não pode, de ofício, indiciar
parlamentar; ele só pode fazê-lo mediante autorização prévia, conforme decisão do STF,
transcrita a seguir. Inq 2411 QO / MT – MATO GROSSO QUESTÃO DE ORDEM NO INQUÉRITO
Rel. ministro Gilmar Mendes Julgamento: 10/10/2007 — Órgão Julgador: Tribunal Pleno
EMENTA: Questão de Ordem em Inquérito. 1. Trata-se de questão de ordem suscitada pela
defesa de senador da República, em sede de inquérito originário promovido pelo Ministério
Público Federal (MPF), para que o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) defina a
legitimidade, ou não, da instauração do inquérito e do indiciamento realizado diretamente
pela Polícia Federal (PF). 2. Apuração do envolvimento do parlamentar quanto à ocorrência
das supostas práticas delituosas sob investigação na denominada “Operação Sanguessuga”. 3.
Antes da intimação para prestar depoimento sobre os fatos objeto deste inquérito, o senador
foi previamente indiciado por ato da autoridade policial encarregada do cumprimento da
diligência. 4. Considerações doutrinárias e jurisprudenciais acerca do tema da instauração de
inquéritos em geral e dos inquéritos originários de competência do STF: i) a jurisprudência do
STF é pacífica no sentido de que, nos inquéritos policiais em geral, não cabe a juiz ou a Tribunal
investigar, de ofício, o titular de prerrogativa de foro; ii) qualquer pessoa que, na condição
exclusiva de cidadão, apresente notitia criminis, diretamente a este Tribunal é parte
manifestamente ilegítima para a formulação de pedido de recebimento de denúncia para a
apuração de crimes de ação penal pública incondicionada. Precedentes: INQ no 149/DF, rel.
ministro Rafael Mayer, Pleno, DJ 27/10/1983; INQ (AgR) n.º 1.793/DF, rel. ministra Ellen
Gracie, Pleno, maioria, DJ 14/6/2002; PET – AgR – ED n.º 1.104/DF, rel. ministro Sydney
Sanches, Pleno, DJ 23/5/2003; PET n.º 1.954/DF, rel. ministro Maurício Corrêa, Pleno, maioria,
DJ 1.º/8/2003; PET (AgR) n.º 2.805/DF, rel. ministro Nelson Jobim, Pleno, maioria, DJ
27/2/2004; PET no 3.248/DF, rel. ministra Ellen Gracie, decisão monocrática, DJ 23/11/2004;
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INQ n.º 2.285/DF, rel. ministro Gilmar Mendes, decisão monocrática, DJ 13/3/2006 e PET (AgR)
n.º 2.998/MG, Segunda Turma, unânime, DJ 6/11/2006; iii) diferenças entre a regra geral, o
inquérito policial disciplinado no Código de Processo Penal e o inquérito originário de
competência do STF regido pelo art. 102, I, b, da CF e pelo RI/STF. A prerrogativa de foro é uma
garantia voltada não exatamente para os interesses dos titulares de cargos relevantes, mas,
sobretudo, para a própria regularidade das instituições. Se a Constituição estabelece que os
agentes políticos respondem, por crime comum, perante o STF (CF, art. 102, I, B), não há razão
constitucional plausível para que as atividades diretamente relacionadas à supervisão judicial
(abertura de procedimento investigatório) sejam retiradas do controle judicial do STF. A
iniciativa do procedimento investigatório deve ser confiada ao MPF contando com a
supervisão do Ministro-Relator do STF. 5. A Polícia Federal não está autorizada a abrir de ofício
inquérito policial para apurar a conduta de parlamentares federais ou do próprio presidente
da República (no caso do STF). No exercício de competência penal originária do STF (CF, art.
102, I, b c/c Lei n.º 8.038/1990, art. 2.º e RI/STF, arts. 230 a 234), a atividade de supervisão
judicial deve ser constitucionalmente desempenhada durante toda a tramitação das
investigações desde a abertura dos procedimentos investigatórios até o eventual
oferecimento, ou não, de denúncia pelo dominus litis. 6. Questão de ordem resolvida no
sentido de anular o ato formal de indiciamento promovido pela autoridade policial em face do
parlamentar investigado. 3 O ato de indiciamento deve ser anulado, pois não houve necessária
autorização prévia do STF para o procedimento.
9ª Questão:
1 Como meio processual de prova, eminentemente formal, conforme Aury Lopes Júnior, “o
reconhecimento é um ato através do qual alguém é levado a analisar alguma pessoa ou coisa
e, recordando o que havia percebido em um determinado contexto, compara as duas
experiências”. O reconhecimento de pessoas tem por finalidade identificar o acusado, o
ofendido ou as testemunhas. Determina o Código de Processo Penal que, havendo
necessidade do reconhecimento de pessoa, aquele que tiver de fazê-lo, normalmente vítima
ou testemunha, deve, primeiramente, descrever as características físicas da pessoa a ser
reconhecida, que será, em seguida, se possível, colocada ao lado de outras pessoas com
características assemelhadas. Logo após, a testemunha - ou a vítima - é convidada a apontá-la.
Havendo razão para recear que a vítima - ou a testemunha -, em razão de intimidação sofrida
ou outra influência qualquer, possa não falar a verdade à frente da pessoa a ser reconhecida, a
autoridade providenciará para que o suspeito não veja quem o está reconhecendo. Essa regra
não será aplicada quando o reconhecimento for realizado durante a fase da instrução criminal
ou em plenário do júri. 2 O reconhecimento de pessoa pode ocorrer na fase do inquérito
policial, por iniciativa da autoridade policial, ou durante a instrução do processo, a
requerimento das partes ou por determinação do juiz. 3 Apesar da clareza da lei e da crítica de
muitos doutrinadores, o STJ tem decidido reiteradamente que as regras estabelecidas no CPP
configuram recomendação legal, e não uma exigência absoluta, não se cuidando, portanto, de
nulidade quando praticado o ato processual de reconhecimento pessoal de forma diversa da
prevista em lei. Portanto, não poderá haver nulidade no auto de reconhecimento de pessoa na
hipótese, nem a anulação do processo penal instaurado com base nesse inquérito policial.
JUSTIFICATIVA CPP, Art. 226.
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10ª Questão:
1 O STF, na ADI n.º 4.424/DF, Rel. Ministro Marco Aurélio, Tribunal Pleno, firmou a orientação
de que a natureza da ação do crime de lesões corporais praticadas no âmbito doméstico é
sempre pública incondicionada, sem possibilidade de retratação da vítima, não importando a
extensão da lesão (leve, grave ou gravíssima, dolosa ou culposa). De igual forma, o STJ
publicou a Súmula 542, nos seguintes termos: “A ação penal relativa ao crime de lesão
corporal resultante de violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada” Em
casos tais, o delegado de polícia, de ofício, deverá instaurar o inquérito policial, sendo
irrelevante a representação da vítima ou a sua posterior retratação, visto que incabível em
qualque r esfera. Com relação aos crimes de ameaça e injúria, estes são de ação penal pública
condicionada ou ação penal privada, conforme os dispositivos próprios do Código Penal. Esse
entendimento foi destacado pelo STF, no julgamento da ADI n.º 4.424/DF, afirmando-se a
permanência da necessidade de “representação” para o processo e julgamento desses crimes.
A Lei Maria da Penha estabelece que todo caso de violência doméstica e intrafamiliar deve ser
apurado por meio de inquérito policial e ser remetido ao Ministério Público. À vista disso,
independentemente da pena prevista para os crimes de ameaça e injúria, que, de regra, são
alcançados pela Lei n.º 9.099/1995, tais delitos, no âmbito da violência doméstica, devem ser
apurados por meio de inquérito policial, tendo como condição de procedibilidade a
representação da ofendida. 2 Uma vez instaurado o inquérito policial, é incabível, no âmbito
policial, a retratação da ofendida, o que somente pode ocorrer perante a autoridade judiciária
competente, nos exatos termos do art. 16 da Lei n.º 11.340/2006, que dispôs que, nas ações
penais públicas condicionadas à representação da ofendida (crimes de ameaça e injúria), só
será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente
designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público.
No caso da lesão corporal leve, precisamente por ser um crime apurado por ação pública
incondicionada, não cabe o instituto da retratação. De acordo com a Lei Maria da Penha — art.
16: nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata esta Lei,
só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente
designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público.
3 Quanto à aplicabilidade da Lei n.º 9.099/1995 e, por consequência, de seus institutos
despenalizadores, a própria Lei Maria da Penha, em seu art. 41, veda a aplicação da Lei n.º
9.099/1995 às hipóteses de violência contra a mulher, o que alcança toda e qualquer prática
delituosa, a exemplo dos delitos e das contravenções que, em razão das penas aplicadas,
seriam abrangidos pelo procedimento especial. Por consequência, ao suposto ofensor não
serão conferidos os institutos da suspensão condicional do processo, da transação penal e da
composição civil dos danos. Na Lei Maria da Penha, art. 41, se encontra a determinação
seguinte: “aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher,
independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei n.º 9.099/1995, de 26 de setembro
de 1995.” Acerca do tema, vide STF - ADI 4424 DF, Rel. Ministro Marco Aurélio, Tribunal Pleno,
DJe 1/8/2014. A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de violência
doméstica contra a mulher é pública incondicionada, e os crimes de ameaça e injúria podem
ser de ação penal pública condicionada ou de ação penal privada, nos termos do Código Penal.