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A investigação no direito brasileiro pode ser empreendida por vários instrumentos, mas tem-se no inquérito policial a
forma mais conhecida.
Regulamentado pelo art. 4º do Código de Processo Penal, de 1941 (glossário), o inquérito policial é, se não o principal,
talvez o mais conhecido instrumento de apuração de fatos criminosos.
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A investigação busca uma reconstrução histórica dos fatos no sentido de se determinar a verdade dos acontecimentos
objetos de investigação.
Bons estudos!
OBJETIVOS
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INVESTIGAÇÃO CRIMINAL
Lopes Jr. (2013, p.224) afirma que “O CPP de 1941 denomina a investigação preliminar de inquérito policial em clara
alusão ao órgão encarregado da atividade. O inquérito policial é realizado pela polícia judiciária, que será exercida pelas
autoridades policiais no território de suas respectivas circunscrições, e terá por fim a apuração das infrações penais e
de sua autoria (art. 4º)”.
Segue o texto do art. 4º do Código de Processo Penal para uma melhor análise:
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Por essa leitura do art. 4º do Código de Processo Penal, temos uma clara alusão ao propósito do inquérito policial, que
pode ser estendido para o próprio fim de toda investigação criminal: a determinação de indícios de autoria e prova da
materialidade do delito.
Nessa linha, informa o professor Nicolitt (2014, p.179):
Bettiol (1973, p.250), já ensinava que o fim de todo processo será a busca da verdade (glossário) dos fatos, para que
sejam provados em sua subsistência histórica. A busca dessa verdade, no contexto da investigação criminal, seria, nos
termos do art. 4º do Código de Processo Penal, a reconstrução histórica dos fatos, demonstrando-se quem foi o autor
do fato criminoso (indícios de autoria) e a própria existência desse fato criminoso (materialidade do delito).
Nesse momento, já podemos delimitar um breve conceito sobre inquérito policial, que passará pela análise de sua
natureza jurídica. Veja a seguir:
O inquérito, embora seja doutrinariamente o principal instrumento utilizado na investigação, não é o único e,
atualmente, talvez seja o menos prestigiado. Pelo seu excessivo formalismo, produto de uma legislação datada de
1941 (glossário), a sociedade moderna demandou novos instrumentos investigativos.
Uma dessas inovações foi a edição da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995 (glossário), que, entre outros institutos,
criou os chamados Termos Circunstanciados de Ocorrências, com o objetivo de desburocratizar as investigações e
substituir o inquérito policial.
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Essa maneira de investigação (procedimento investigativo) encontrava-se restrita às infrações penais de menor
gravidade chamadas de pequeno potencial ofensivo, ou de menor potencial ofensivo (glossário). Nesses casos, o
inquérito policial era substituído por outro procedimento investigatório, menos formal, chamado Termo
Circunstanciado de Ocorrência (TCO).
Fonte:
Embora o inquérito policial e o Termo Circunstanciado apresentem peculiaridades procedimentais distintas, ambos
preservam sua finalidade como princípio reitor: a busca pela reconstrução história da verdade dos fatos (autoria e
materialidade do delito).
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Esse tema será melhor estudado no conteúdo da disciplina de Processo Penal, mas necessitamos desenvolver
antecipadamente algumas dessas características. Veja, a seguir.
Unidirecional
Essa é a característica do inquérito policial (e de todas as outras formas de investigação). Nicolitt (2014, p. 185), ao
estudar essa característica, afirmou:
Em razão desse raciocínio, o delegado de polícia não poderia realizar nenhum juízo de valor sobre os elementos
informativos do inquérito, o que na prática não ocorre, já que para o delegado aplicar a lei é necessário realizar uma
análise jurídica sobre os fatos. E cada fato ou ocorrência policial possui peculiaridades do caso concreto, o que
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forçosamente exige a aplicação do conhecimento jurídico deste profissional para aplicar a lei ao caso concreto, sejam
as normas penais ou processuais penais.
Em algumas ocasiões, a própria lei já deixa essa necessidade de forma expressa, como ocorre no art. 52, I da Lei
11.343/06 (glossário):
A investigação, com base nessa perspectiva controvertida, portanto, tem como seu principal destinatário o Ministério
Público (glossário), órgão com atribuição constitucional para a propositura da ação penal pública em juízo (glossário),
ou o próprio ofendido (vítima do crime), nos casos de ação penal privada.
, Essa concepção não é tão clara assim em relação ao delegado de polícia. No entanto, na 6ª edição de seu livro, Nicolitt (2016, p.
201) alterou seu entendimento com base na doutrina do professor e Delegado Henrique Hoffmann: “nas edições anteriores
afirmávamos que o inquérito era unidirecional, no intuito de demonstrar que sua função é exclusivamente direcionada a formar a
opinião do MP sobre a propositura ou não da ação penal. No entanto, a doutrina tem vinculado que o sentido de tal característica
seria a impossibilidade do delegado de polícia fazer juízo de valor no âmbito do inquérito policial. Certo é que, no curso da
investigação, a autoridade policial emite inúmeros juízos de valor.”
Inquisitorial ou inquisitivo
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O inquérito policial também é inquisitivo ou inquisitório, se contrapondo ao processo que, por previsão expressa na
Constituição, deve respeitar o princípio do contraditório (art. 5º, inciso LV, CRFB).
O inquérito, bem como as demais formas de investigação, é um procedimento. E como tal, não se encontra abrangido
pelo princípio do contraditório, visto como a organização dialética entre as partes (acusação e defesa). Assim, temos:
Por ser inquisitivo e unidirecional, o inquérito policial objetiva unicamente que o órgão acusador promova a acusação
em juízo, ou seja, proponha a ação penal.
Nessa linha, outra característica que se relacionará com o modelo inquisitivo é o sigilo da investigação. Vejamos a
seguir.
Sigiloso
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Desde a edição do Código de Processo Penal, o sigilo do inquérito sofreu grande mitigação, inclusive ganhando novos
contornos e funções.
Por uma leitura exclusiva do art. 20 do CPP, tem-se um sigilo absoluto, visto sob uma “função utilitarista”, ou seja, com
o fim de assegurar a eficácia da investigação no interesse da sociedade.
Além disso, com a promulgação do Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil, Lei 8.906, de 4 de julho de 1994
(glossário), restou mitigado o sigilo do Inquérito, na medida em que o art. 7º, inciso XIV, concedeu a prerrogativa
funcional ao advogado ter acesso à procedimentos de investigação.
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O aparente conflito entre o direito de acesso do advogado a investigações em curso e o sigilo do inquérito policial
acabou chegando ao Supremo Tribunal Federal, que pacificou o tema com a edição da Súmula Vinculante nº 14,
permitindo o acesso do advogado aos elementos de prova já documentados na investigação, no interesse do exercício
de defesa do investigado. Observe:
Escrito
O inquérito policial também possui como característica o fato de ser escrito, conforme dispõe o art. 9º do Código de
Processo Penal.
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Indisponível
O inquérito policial pode ser, ainda, indisponível, pois uma vez instaurado não pode a Autoridade Policial determinar seu
arquivamento, conforme art. 17 do Código de Processo Penal.
Dispensável
O inquérito policial também pode ser dispensável, pois o titular da ação penal poderá utilizar outras fontes de
informação para a propositura da ação penal.
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A investigação criminal é procedimento normalmente conduzido por delegado de polícia, servidor público integrante
das Polícias Civis, no âmbito estadual, ou da Polícia Federal, no âmbito federal.
Contudo, a função de investigar não é monopólio das polícias, conforme interpretação do parágrafo único, art. 4º do
CPP e art. 144 da CRFB. Veja a seguir.
O monopólio da investigação penal pela polícia é tema que já chegou aos Tribunais brasileiros. Nesse sentido, o
Supremo Tribunal Federal decidiu que ao cuidar das funções de polícia judiciária e investigações criminais atribuídas
às Polícias Civis, o texto constitucional do §4º do art. 144 não utiliza o termo exclusividade (glossário).
Ministério Público
Possui atribuição para praticar atos de investigação por força de interpretação de vários
dispositivos legais e constitucionais esparsos.
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Possui competência expressa para realizar investigações criminais por força do art. 58, § 3º,
da CRFB.
Tribunais
O vocábulo prova não possui um único sentido, podendo ser entendido de duas maneiras:
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Desse binômio entre objeto de prova e meio de prova é que ganhará relevância o tema das perícias, vista como um dos
meios de prova mais relevantes na investigação e no processo judicial.
ATIVIDADE
Após compreender os modelos e formas de investigação criminal no Brasil realize a atividade a seguir:
Analise a charge e indique a forma e o órgão mais adequados para realizar a investigação criminal.
Resposta Correta
a) O sistema processual penal, na qual as funções de investigar, acusar, defender e julgar são exercidas por órgãos distintos.
b) O sistema processual penal, na qual as funções de investigar, acusar, defender e julgar são exercidas um mesmo órgão.
c) O sistema processual penal, na qual as funções de investigar, acusar, defender e julgar são exercidas pela Polícia Judiciária,
Ministério Público e o Judiciário.
d) O sistema processual penal, na qual as funções de acusar, defender e julgar são exercidas pelo Ministério Público e o
Judiciário.
e) Sistema processual penal exercido pelo poder judiciário.
Justificativa
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Pelos estudos do nosso sistema processual penal e uma breve leitura do artigo 26 do Código de Processo Penal:
“Art. 26. A ação penal, nas contravenções, será iniciada com o auto de prisão em flagrante ou por meio de portaria
expedida pela autoridade judiciária ou policial.”, podemos concluir:
d) Que se trata de uma permissão para que o juiz ou delegado possam dar início a ação penal pública, porém, não mais
constitucional porque a ação penal pública é privativa do Ministério Público.
Justificativa
Sobre os estudos do modelo brasileiro de sistema acusatório previsto na Constituição da República, assinale a opção
mais adequada, que explique a redação do art. 155 do Código de Processo Penal:
“Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo
fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas
cautelares, não repetíveis e antecipadas”.
Justificativa
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Glossário
VERDADE
Essa concepção de verdade dos fatos, embora seja amplamente dominante na doutrina jurídica brasileira, vem sendo criticada,
cada vez mais, frente à impossibilidade de se utilizar o método analítico-científico das ciências naturais nas ciências sociais.
Para um aprofundamento no tema, ver KHALED JR., Salah. A busca da verdade no processo penal: para além da ambição
inquisitorial. São Paulo: Atlas, 2013.
O inquérito policial encontra-se previsto principalmente no Código de Processo Penal, promulgado pelo Decreto-Lei nº 3.689, de 3
de outubro de 1941.
O próprio legislador definiu as infrações de pequeno potencial ofensivo como sendo todas as contravenções penais e os crimes
cuja pena máxima cominada em abstrato não fosse superior a 2 anos, conforme art. 61 da Lei 9.099/95:
“Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a
que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa.” (Redação dada pela Lei nº 11.313, de
2006).
MINISTÉRIO PÚBLICO
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O Ministério Público, por força constitucional, é o órgão responsável pela propositura da ação penal nos crimes de ação pública,
conforme art. 129, inciso I, da CRFB: São funções institucionais do Ministério Público: I - promover, privativamente, a ação penal
pública, na forma da lei; [...].
Somente para uma breve contextualização, necessitamos antecipar alguns conceitos. A doutrina processual penal classifica a
ação penal como sendo: crime de ação pública (incondicionada e condicionada) e crimes de ação privada. Nos primeiros (crimes
de ação pública), caberá ao próprio Estado, mediante a atuação do Ministério Público, a propositura da ação penal, mediante uma
peça técnica chamada de “denúncia”. Já nos crimes de ação privada, cabe à própria vítima do crime, chamada de querelante, a
propositura da ação penal, mediante a peça técnica chamada de “queixa-crime”. A repercussão social do crime, definida na
própria lei, é que determinará se o crime é de ação penal pública (quando o interesse lesado atinge, além da vítima do crime, a
sociedade/Estado/coletividade) ou de ação penal privada (quando o interesse lesado atinge apenas a vítima).
CONSTITUIÇÃO DE 1988
A Constituição de 1988 prevê no art. 1º a dignidade da pessoa humana como fundamento da República.
Art. 1º, CRFB. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal,
constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
[...]
III - a dignidade da pessoa humana; [...].
EXCLUSIVIDADE
O tema restou pacificado no julgamento do RE 593727 (18.05.15), com repercussão geral reconhecida.
ATOS DE INVESTIGAÇÃO
A possibilidade do Ministério Público realizar investigações criminais decorreria da interpretação conjunta do art. 129, VIII, CRFB;
Art. 7º e 8º da LC 75/83; art. 26 da Lei 8.625/93; e aplicação da chamada teoria dos poderes implícitos, reproduzido no brocado
“quem pode o mais, pode o menos”, na medida em que se o Ministério Público pode realizar a propositura da ação penal, por ser o
titular da ação penal pública, poderia, também, realizar investigação criminal.
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