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4. PERSECUÇÃO CRIMINAL 4
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4.3.23. IDENTIFICAÇÃO CRIMINAL 67
4.5. INFORMATIVOS 69
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APRESENTAÇÃO
Esse conteúdo faz parte da apostila de processo penal I do Manual Caseiro, sendo apenas um dos
capítulos abordados na apostila.
E o que seria um bom material? Um bom material, meu caro aluno, é aquele que apresenta a
informação segura, de forma OBJETIVA, CONCISA, ATUALIZADA. Um bom material é, além
disso, aquele que busca preencher todas as lacunas do estudo, sem que recorramos a materiais adicionais.
Dessa forma, buscamos reunir todas as informações em um único material: doutrina, lei seca, questões
e jurisprudência.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL I
4. PERSECUÇÃO CRIMINAL
Segundo Távora e Alencar (2016), a persecução criminal para a apuração das infrações penais
e sua respectiva autoria comporta duas fases bem delineadas. A primeira, preliminar, inquisitiva, e
objeto do presente capítulo, é o inquérito policial. A segunda, submissa ao contraditório e à ampla
defesa, é denominada de fase processual. Assim, materializado o dever de punir do Estado com a
ocorrência de um suposto fato delituoso, cabe a ele, Estado, como regra, iniciar a persecutio criminis
para apurar, processar e enfim fazer valer o direito de punir, solucionando as lides e aplicando a lei ao
caso concreto.
Em RESUMO:
Fase Investigação
Investigatória Criminal
Persecução
Penal
Fase Processual
ou Judicial
Cumpre ainda fazermos uma distinção entre a persecução criminal e a investigação criminal.
Nesse sentido, a persecução criminal pode ser compreendida como atividade do Estado, desde a
investigação até o momento de aplicação ou não do sanção penal. Ou seja, quando surge um ilícito
criminal, surge para o estado o poder/dever em razão do monopólio por ele assumido, de aplicar a
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jurisdição e investigar aquela conduta delitiva, e a partir da colheita de elementos de informação,
eventualmente provocar o aparato jurisdicional por intermédio da propositura de uma ação penal, para
que obedecido devidamente o processo legal, verificar se, na situação concreta, deverá ser aplicada a
sanção penal.
Em RESUMO:
Fase investigatória
(Investigação
preliminar – inquérito
policial)
Persecução Penal
Fase
Judicial/Processual
(Ação Penal)
Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará termo
circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a vítima,
providenciando-se as requisições dos exames periciais necessários.
Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for imediatamente
encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer, não se imporá prisão
em flagrante, nem se exigirá fiança. Em caso de violência doméstica, o juiz poderá determinar,
como medida de cautela, seu afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a vítima.
Dessa forma, enquanto o IP está para a investigação dos crimes comuns, o TCO está para a
investigação das infrações de menor potencial ofensivo. Portanto, pode-se dizer que o TCO tem função
de registrar os fatos que, em tese, configuram-se como IMPO. Nele será qualificado o ofendido, o autor
do fato criminoso, descrito o local e as condições em que ocorreu a infração penal e mencionará as
provas existentes, indicando desde já as testemunhas.
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Vale destacar, que nem sempre será utilizado o TCO para a investigação das infrações de menor
potencial ofensivo, conforme esquematizado abaixo:
AUTOR NÃO PRESTA O IP será lavrado mediante APF, considerando uma interpretação a
SOCORRO IMEDIATO contrário senso do art. 301.
NOS CRIMES DO CTB Art. 301 . Ao condutor de veículo, nos casos de acidentes de trânsito de que resulte
vítima, não se imporá a prisão em flagrante, nem se exigirá fiança, se prestar
pronto e integral socorro àquela.
O art. 69 da Lei nº 9.099/95 fala que o termo circunstanciado é lavrado pela “autoridade
policial”. Quem é considerado “autoridade policial”?
De acordo com o STF, o termo circunstanciado é o instrumento legal que se limita a constatar a
ocorrência de crimes de menor potencial ofensivo, motivo pelo qual não configura atividade
investigativa e, por via de consequência, NÃO se revela como função privativa de polícia judiciária
Assim, o art. 69 da Lei nº 9.099/95 não se refere exclusivamente à polícia judiciária, englobando também
as demais autoridades legalmente reconhecidas.
Dessa forma, o STF julgou constitucional norma estadual que prevê a possibilidade da lavratura
de termos circunstanciados pela polícia militar e pelo corpo de bombeiros militar. Além disso, do
ponto de vista formal, de acordo com o art. 24, incisos X e XI, da CF/88 35, o Estado possui competência
para legislar sobre o tema, pois trata-se de assunto cuja competência é concorrente. [STF. Plenário. ADI
5637/MG, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 11/3/2022 (Info 1046)].
35CF/88, Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar CONCORRENTEMENTE sobre: (...) X - criação,
funcionamento e processo do juizado de pequenas causas; XI - procedimentos em matéria processual;
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6264) julgadas na sessão virtual encerrada em 17/2. As duas ações questionavam o artigo 6º do Decreto
10.073/2019, que autorizava a lavratura do termo.
ESQUEMATIZANDO:
AUTORIDADES
COMPETENTES PARA
LAVRAR TCO
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4.3. INQUÉRITO POLICIAL
O prof. Leonardo de Barreto Moreira Alves (2021, pág.89) 36 ressalta a importância do inquérito
policial explicando que “em um Estado Democrático de Direito, no qual vige o princípio da presunção
da inocência e o processo é tido sob uma visão garantista, somente sendo possível a aplicação da pena
se há́ elementos de prova para tanto, surge o inquérito policial como a principal forma de investigação
estatal, tendo como função primordial sustentar e viabilizar o oferecimento da ação penal, garantindo
assim a sua justa causa, no sentido de exigência de um suporte probatório mínimo (indícios suficientes
de autoria e prova da materialidade do delito)”.
4.3.1. CONCEITO
Corroborando ao exposto, Távora e Alencar (2020), o inquérito policial deve ser compreendido
como sendo “procedimento administrativo, preliminar, presidido pelo delegado de polícia, no intuito
de identificar o autor do ilícito e os elementos que atestem a sua materialidade (existência),
contribuindo para a formação da opinião delitiva do titular da ação penal, ou seja, fornecendo
elementos para convencer o titular da ação penal se o processo deve ou não ser deflagrado”. Agregue-
se ainda a definição proposta, a característica de que o inquérito policial é um procedimento de cunho
inquisitorial.
Complementando, preceitua Pedro Coelho 37 “o inquérito policial pode ser definido como
procedimento administrativo de caráter preparatório e inquisitorial, presidido exclusivamente pela
autoridade policial, com a finalidade precípua de coletar elementos de informação acerca da autoria
e materialidade de uma infração penal”.
36 Sinopse para Concursos. Processo Penal Parte Geral, Leonardo Barreto Moreira Alves, 2021, Editora Juspodivm.
37 Dialógos sobre o Processo Penal/ Pedro Coelho – Salvador: Editora JusPodivm, 2020.
38 Sinopse para Concursos. Processo Penal Parte Geral, Leonardo Barreto Moreira Alves, 2021, Editora Juspodivm.
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processo. Por conta disso, não há que se falar, em regra, na existência de contraditório nesta etapa,
vigendo, pois, um sistema inquisitivo, não existindo participação do agente do delito na produção de
provas”.
Os vícios oriundos da fase do inquérito policial não são hábeis a anular posterior processo, salvo
as chamadas provas ilícitas. Assim, em regra, não há que se falar em contaminação e declaração de
nulidade que macule o processo.
PRETENSÃO PUNITIVA
Investigação Preliminar Fase Judicial
NÃO CONTAMINAM o processo penal
Vícios no Inquérito Policial → subsequente.
Exceção: provas ilícitas.
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- INQUISITORIAL: não há que se falar em contraditório ou ampla defesa na fase do inquérito
policial.
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Justificativa: Atenção, a questão pediu a alternativa incorreta. De fato, o MP pode investigar, contudo
a presidência do inquérito policial é exclusiva do Delegado de Polícia, o que torna a assertiva incorreta.
Embora a atribuição da presidência do inquérito policial seja exclusiva da polícia, existem outros
meios de investigação que poderão ser feitos por outro órgão, que não a Polícia Judiciária. (Ex.
Ministério Público realiza PIC - Procedimento Investigatório Criminal).
No tocante aos elementos informativos, temos que eles são colhidos na fase do inquérito policial.
Diferentemente das provas, que são colhidas na fase do processo. Nesse momento, não há necessidade
de observância do contraditório e da ampla defesa. Tem por função corroborar na opinio delicti e serem
úteis para a eventual decretação de medidas cautelares.
Candidato, o juiz pode fundamentar sua decisão com base apenas nos elementos
informativos? Nos termos do art. 155 do CPP, não pode ser se for exclusivamente. O JUIZ NÃO PODE
CONDENAR COM BASE APENAS com o que consta no IP, pode utilizá-lo de maneira a complementá-
lo.
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Como #JÁCAIU esse assunto em prova de concursos?
Ano: 2016 Banca: CEBRASPE Órgão: PC-GO Prova: Agente de Polícia Substituto.
A respeito do IP e da instrução criminal, assinale a opção correta.
A. O juiz é livre para apreciar as provas e, de acordo com sua convicção íntima, poderá basear a
condenação do réu exclusivamente nos elementos informativos colhidos no IP.
Gab. ERRADO.
Nos termos do art. 155 do Código de Processo Penal, embora o juiz possua liberdade para
apreciar as provas, é necessária a motivação, e não poderá proferir condenação com base
exclusivamente nos chamados “elementos informativos”. Vejamos a legislação:
Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em
contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos
elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não
repetíveis e antecipadas.
Diante disso, assevera-se que eventuais vícios existentes no inquérito policial não têm o
condão de contaminar a futura ação penal ajuizada com base nele. Ou seja, diligências
39Alves, Leonardo Barreto Moreira. Manual de Processo Penal / Leonardo Barreto Moreira Alves - São Paulo: Editora
JusPodivm,2021.
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investigatórias que sejam colhidas descumprindo a forma prevista no ordenamento jurídico não
repercutem na futura ação penal, não têm como consequência a nulidade do processo.
Exemplo de irregularidades que não tem o condão de macular a futura ação penal: crimes de
competência da justiça estadual sendo investigado pela Polícia Federal. Nesse caso, haverá mera
irregularidade.
STF:
Ainda sobre a não contaminação dos vícios do inquérito policial na ação penal subsequente:
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É incabível a anulação de processo penal em razão de suposta irregularidade verificada em
inquérito policial
A suspeição de autoridade policial não é motivo de nulidade do processo, pois o inquérito é mera
peça informativa, de que se serve o Ministério Público para o início da ação penal.
Assim, é inviável a anulação do processo penal por alegada irregularidade no inquérito,
pois, segundo jurisprudência firmada no STF, as nulidades processuais estão relacionadas apenas
a defeitos de ordem jurídica pelos quais são afetados os atos praticados ao longo da ação penal
condenatória.
STF. 2ª Turma. RHC 131450/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 3/5/2016 (Info 824).
Por outro lado, podemos apontar como irregularidade na fase do inquérito policial que irá
macular o futuro processo, a confissão do agente na Delegacia obtida mediante tortura dos agentes
públicos. Nesse caso, estamos diante de uma prova ilícita por patente violação a norma de direito
material. Não cabe falarmos em mera irregularidade neste segundo caso.
Gab. ERRADO.
Inicialmente, cumpre reafirmarmos que de fato, não é cabível a exceção de suspeição em face da
autoridade policial, nos termos do art. 107 do CPP. Contudo, isso não significa que não seja possível a
alegação de suspeição, inclusive, o CPP declina que esta deverá ser levantada pelo próprio delegado de
polícia, quando ocorrer motivo legal. Nesse sentido, o texto normativo “não se poderá opor suspeição
às autoridades policiais nos atos do inquérito, mas deverão elas declarar-se suspeitas, quando ocorrer
motivo legal”.
A função preparatória do inquérito policial, que é a função mais conhecida entre os estudiosos,
revela o lastro probatório mínimo necessário para o ajuizamento da ação penal.
Dessa forma, temos que a finalidade do inquérito policial é colher elementos de informação a
respeito da autoria, materialidade e circunstâncias do crime para subsidiar a opinio delicti. A
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opinio delicti é a convicção do titular da ação penal de que houve um crime e que um crime foi praticado
por determinada pessoa.
Em concurso de Delegado de Polícia Civil da Bahia (2022), foi apontada como CORRETA a seguinte
afirmação: “O inquérito policial é um procedimento preliminar, extrajudicial e preparatório para a ação
penal, sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis; é instaurado pela polícia
judiciária e tem como finalidade a apuração de infração penal e de sua respectiva autoria”.
Vale destacar que o inquérito policial além de ser instrumento unidirecional com função
preparatória (para eventual ação penal), possui uma função preservadora da dignidade da pessoa
humana e do status de inocência (binômio de função preparatória-preservadora).
Conforme ensina o prof. Norberto Avena, a função preservadora do inquérito policial está
relacionada ao intuito de evitar imputações infundadas ou levianas. Tal linha de pensamento, ao fim e
ao cabo, importa em afastar a clássica função unidirecional da investigação criminal, voltada
exclusivamente para a acusação.
O inquérito policial também possui uma função preservadora. Fala-se em função preservadora
pelo fato de que o inquérito serve como instrumento de inibir a instauração de um processo
destituído de elementos de autoria e materialidade, ou seja, um processo temerário.
Nesse sentido, explica Leonardo Barreto [2021, pág, 234]40:
Função preservadora: é a função que assegura que o inquérito servira como filtro contra
processos penais temerários, levianos, arbitrários, o que violaria direitos fundamentais
colocados em jogo, notadamente a presunção de inocência, o status dignitatis e a dignidade da
pessoa humana. Entende-se que o simples ajuizamento da ação penal contra alguém provoca um
fardo à pessoa [...], não podendo, pois, ser ato leviano, desprovido de provas e sem um exame
pré-constituído da legalidade. Esse mecanismo auxilia a Justiça Criminal a preservar inocentes
de acusações injustas e temerárias, garantindo um juízo inaugural de delibação, inclusive para
verificar se se trata de fato definido como crime? O inquérito constitui-se assim em um meio de
afastar dúvidas e corrigir o prumo da investigação, evitando-se o indesejável erro judiciário [...].
40Alves, Leonardo Barreto Moreira. Manual de Processo Penal / Leonardo Barreto Moreira Alves - São Paulo: Editora
JusPodivm,2021.
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4.3.4. FINALIDADE
Muita atenção nesse ponto, prezado candidato. É de extrema relevância a distinção entre os
chamados elementos de informação e as provas. Desse modo, já podemos afirmar a indagação no
sentido de que não, elementos de informação não é sinônimo de provas e devemos vislumbrar de forma
pontual a distinção entre eles.
Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida
em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente
nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas
cautelares, não repetíveis e antecipadas.
41Costa, Klaus Negri. Processo penal didático/ Klaus Negri Costa, Fábio Roque Araújo – Salvador: Editora Juspodbm, 3 Ed.
rev. Ampl. e atual 2020.
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Ao analisarmos o teor do art. 155 do CPP, já podemos extrair uma conclusão: enquanto a prova
é produzida em contraditório judicial, os elementos informativos (elementos de informação) são
colhidos na fase de investigação.
Em RESUMO:
42Alves, Leonardo Barreto Moreira. Manual de Processo Penal / Leonardo Barreto Moreira Alves - São Paulo: Editora
JusPodivm,2021.
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Candidato, é possível o magistrado utilizar os elementos informativos para fundamentar
sua sentença? Nos termos do art. 155 do CPP, não pode ser se for exclusivamente com base neles, ou
seja, não poderá condenar com base apenas nos elementos informativos.
O JUIZ NÃO PODE CONDENAR COM BASE APENAS com o que consta no inquérito
policial, contudo, pode utilizá-lo de maneira a complementá-lo. Desse modo, contemplamos que o
juiz pode se valer dos elementos de informação para fundamentar a sentença condenatória desde que
não baseadas exclusivamente nos elementos de informação, conforme preceitua o art. 155 do CP. Nesse
sentido, a Jurisprudência:
Existem várias formas de investigação criminal, o PIC de atribuição do Ministério Público, por
exemplo. Contudo, outras autoridades que não seja a autoridade policial não pode instaurar e presidir
o inquérito, essa atribuição é única e exclusiva do Delegado. Nesse sentido, o art. Art. 2° § 1° da Lei
n. 12.830/2013. Vejamos:
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dos procedimentos previstos em regulamento da corporação que prejudique a eficácia
da investigação.
Sobre o inquérito policial, controle externo da atividade policial e poder investigatório do Ministério
Público, analise as assertivas abaixo e assinale a alternativa incorreta:
A. O inquérito policial pode ser instaurado de ofício, por requisição do Ministério Público e a
requerimento do ofendido em casos de crime de ação penal pública incondicionada.
B. O membro do “Parquet”, com atuação na área de investigação criminal, pode avocar a presidência do
inquérito policial, em sede de controle difuso da atividade policial.
D. O membro do Ministério Público pode encaminhar peças de informação em seu poder diretamente
ao Juizado Especial Criminal, caso a infração seja de menor potencial ofensivo.
Polícia
Administrativa
Polícia Polícia
Investigativa Judiciária
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a) Polícia Administrativa, Preventiva ou Ostensiva: é a atividade policial de natureza preventiva,
encontra-se atrelada a segurança pública, cujo propósito é de impedir a prática de infrações
penais. Denota-se, pois, o seu caráter preventivo. Exemplo: ronda ostensiva realizada pela Polícia
Militar. A polícia administrativa previne crimes.
b) Polícia Judiciária: é a atividade policial de natureza repressiva, cuja atuação acontece depois
que ocorre a prática de uma infração penal. É essa polícia que tem a missão de colher os
chamados elementos de informação para subsidiar a futura ação penal. Exemplo: Polícia Civil.
A polícia judiciária investiga crimes. Em suma, “é aquela voltada para a investigação criminal,
tendo, portanto, caráter repressivo, já que atua após a prática da infração penal, apurando a
sua autoria e materialidade” [ALVES, 2021, pág. 236]43.
c) Polícia Investigativa: Para parte da doutrina a função de polícia investigativa não é a mesma
coisa da função de polícia judiciária, e a primeira não é exclusiva da polícia civil e federal. Temos
algumas disposições normativas que asseveram acerca da diferença entre funções investigativas
e judiciárias:
CF/88 Art. 144, § 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e
mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a:
I - APURAR INFRAÇÕES PENAIS contra a ordem política e social ou em detrimento de bens,
serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como
outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão
uniforme, segundo se dispuser em lei;
IV - exercer, com exclusividade, as funções de POLÍCIA JUDICIÁRIA da União.
Observe que nesse aspecto a polícia judiciária é diferente da polícia investigava, tendo em vista
que não teria sentido o legislador fazer tal distinção como vemos no artigo supracitado. Vejamos também
o texto da Lei 12.830/2013:
43Alves, Leonardo Barreto Moreira. Manual de Processo Penal / Leonardo Barreto Moreira Alves - São Paulo: Editora
JusPodivm,2021.
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No tocante ao teor da súmula vinculante n. 14, ao analisarmos pontualmente seu texto,
vislumbrarmos um primeiro erro – expressão elementos de prova “não há o que se falar elementos de
prova, em âmbito de investigação temos os chamados elementos de informação”, enquanto no âmbito
processual temos a prova propriamente (elementos de prova tecnicamente não existe). Posteriormente
cumpre destacar a expressão “competência” (deveria ser atribuição ou função) de polícia judiciária,
também é um termo que tecnicamente equivocado, competência é atrelado a função jurisdicional. De
qualquer forma, apesar dos erros, a súmula traz uma ideia de não diferenciação de polícia investigativa
e judiciária. Desta feita, podemos concluir acerca deste tema, que com relação a função de polícia
investigativa e judiciária é possível que sejam tratadas de forma divergente, bem como, de forma
sinônima.
Candidato, qual o valor probatório do Inquérito Policial? O inquérito policial TEM VALOR
PROBATÓRIO RELATIVO, o que significa dizer que os elementos informativos colhidos nessa fase,
não são hábeis a fundamentar uma sentença condenatória, por si só, isso porque esses elementos
informativos não foram submetidos ao contraditório e a ampla defesa.
O valor probatório do inquérito policial é relativo, no sentido de que ele, por si só, não pode ser
utilizado para a formação do convencimento do juiz e consequente prolação de sentença penal
condenatória. E que os elementos informativos da investigação são produzidos sem a
observância do contraditório e da ampla defesa, ou seja, de forma unilateral, a partir de
determinações emanadas do delegado de polícia, sem envolvimento direto e efetivo do
investigado e do Ministério Público44.
Dessa forma, temos que o valor probatório do inquérito policial é relativo. Os elementos
produzidos na fase inquisitorial não estão sujeitos ao contraditório e à ampla defesa.
Quando se fala de inquérito policial, é preciso lembrar que o inquérito policial por si só não
produz provas. Prova é um elemento que demonstra determinado fato, mas que está sujeito ao
contraditório e à ampla defesa. Ou seja, é quando o titular da ação penal produz um elemento mostrando
que um fato ocorreu e que foi praticado por determinada pessoa, mas aquele que é imputado pode
contraditar, pode se defender daquilo que está sendo demonstrado.
44Alves, Leonardo Barreto Moreira. Manual de Processo Penal / Leonardo Barreto Moreira Alves - São Paulo: Editora
JusPodivm,2021.
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No inquérito policial, em regra, não há provas, há elementos de informação. Quando o
delegado de polícia descobre algum fato no âmbito do inquérito policial, ele está descobrindo um
elemento de informação.
CPP, Art. 155. “O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em
contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos
informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e
antecipadas.”
É possível, durante o inquérito policial, a produção de provas. Mas no caso dessas provas
não há que se falar em contraditório real, mas apenas em contraditório diferido.
a) Provas cautelares: produzidas no momento anterior à ação penal, e que precisam ser produzidas
naquele momento, pois serão utilizadas posteriormente na ação penal, e se não for produzida não
terá como dar prosseguimento as investigações, pois há um risco de perecimento. Exemplo:
Interceptação telefônica.
b) Provas não repetíveis: eventualmente podem vir a se perder se não forem produzidas em um
momento específico. Exemplo: exame de corpo de delito em vítima do crime de lesão corporal.
No caso as marcas corporais podem vir a se perder se não forem registradas
c) Provas antecipadas: produzidas antes mesmo da ação penal. São aquelas produzidas perante o
juiz, antes do momento adequad, ou seja, em momento processual distinto do previsto. Exemplo:
Testemunha com 89 anos de idade com COVID-19, a chance dessa testemunha vir a falecer é
alta, então o juiz determina a colheita do depoimento antecipadamente [art. 225 do CPP].
Em RESUMO:
CPP Art. 4º A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de suas
respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e da sua autoria.
Parágrafo único. A competência definida neste artigo não excluirá a de autoridades
administrativas, a quem por lei seja cometida a mesma função.
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Polícia judiciária: Polícias Civis e Polícia Federal. É a polícia que auxilia o Poder Judiciário
para as futuras ações penais e para a persecução penal. São instituições comandadas por um delegado de
polícia.
Obs.: o mero fato de um delegado de polícia de determinada localidade investigar um crime praticado
em outra localidade não gera irregularidade. Todas as provas produzidas, desde que lícitas, serão válidas
e ensejarão provas no âmbito da ação penal.
Nos crimes militares de competência da Justiça Militar da União, a atribuição para presidir a
investigação será de um oficial denominado “encarregado”, que será pertencente a mesma força armada
e via de regra terá uma patente maior que a do investigado.
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Da mesma forma, nos crimes militares de competência da Justiça Militar do Estado, a
atribuição para presidir a investigação será de um oficial denominado “encarregado”, que será
pertencente a mesma força armada e via de regra terá uma patente maior que a do investigado.
Nos crimes eleitorais via de regra a atribuição para investigação será da Polícia Federal,
considerando o interesse direto da União. No entanto existe uma exceção pacificada no TSE, nos locais
em que não houver sede da polícia federal, os crimes serão investigados pela polícia civil. Dessa forma,
contemplamos que a atribuição da PF não excluirá a atribuição subsidiária da polícia civil estadual, na
hipótese de município em que não haja órgão da Polícia Federal.
Nos crimes de competência da justiça federal (art. 144, par. 1º, I da CF/88) há uma exceção.
A atribuição de investigação da polícia federal é maior que a competência dos crimes da justiça
federal, de forma que existem situações de crimes de competência da justiça estadual, mas que são
investigados pela polícia federal, desde que presentes dois requisitos cumulativos:
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A. Havendo repercussão interestadual que exija repressão uniforme, o delegado da Polícia Federal
poderá apurar crimes cuja apuração seja de competência da justiça estadual, não havendo mácula apta a
invalidar a produção de provas.
B. O delegado de polícia não pode presidir nem instaurar inquérito policial para apurar crime ocorrido
fora de sua circunscrição territorial, pois o lugar de consumação do delito é o que define a atribuição da
polícia investigativa, em nome do princípio do delegado natural.
C. Se, no curso de investigações policiais presididas por delegado de polícia civil estadual, sobrevier a
federalização do crime, deverá ser mantida a atribuição da polícia civil estadual, uma vez que esta não
está subordinada à Polícia Federal e não há, no ordenamento jurídico brasileiro, a possibilidade de
instauração do incidente de deslocamento de competência no curso do inquérito.
D. O prazo para o delegado de polícia civil concluir o inquérito policial é de trinta dias, se o indiciado
estiver solto, configurando constrangimento ilegal a superação desse prazo sem autorização judicial, por
se tratar de prazo próprio.
E. Ainda que haja motivo de interesse público, o chefe de polícia civil não pode avocar nem redistribuir
o inquérito policial, uma vez que a regra dos atos administrativos não se aplica no âmbito da investigação
policial.
Gab. A.
Cumpre ressaltarmos que o parágrafo único deste artigo traz que se for outro crime que não
previsto no rol exemplificativo e presentes os dois requisitos cumulativos podem ensejar a atuação
investigativa da polícia federal, desde que autorizadas pelo ministro da justiça.
I – sequestro, cárcere privado e extorsão mediante sequestro (arts. 148 e 159 do Código Penal),
se o agente foi impelido por motivação política ou quando praticado em razão da função pública
exercida pela vítima;
II – formação de cartel (incisos I, a, II, III e VII do art. 4º da Lei nº 8.137, de 27 de dezembro
de 1990);
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VI - furto, roubo ou dano contra instituições financeiras, incluindo agências bancárias ou
caixas eletrônicos, quando houver indícios da atuação de associação criminosa em mais de
um Estado da Federação. (Incluído pela Lei nº 13.124, de 2015).
VII – quaisquer crimes praticados por meio da rede mundial de computadores que difundam
conteúdo misógino, definidos como aqueles que propagam o ódio ou a aversão às mulheres.
(Incluído pela Lei nº 13.642, de 2018).
Em RESUMO:
Escrito
Oficiosidade
e Dispensável
Oficialidade
CARACTERÍSTICAS
DO INQUÉRITO
POLICIAL
Temporário Sigiloso
Discricionário
e Indisponível Inquisitorial
A. Procedimento Escrito: nos moldes do art. 9° do CPP, as peças do inquérito serão reduzidas
a escrito. Desse modo, temos que a forma escrita é que será adotada e prevalecerá na elaboração
do inquérito policial, leia-se, na formalização das investigações. E os atos praticados de forma
oral? Entende-se que esses deverão ser reduzidos a termo e, neste caso, rubricadas pela
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autoridade policial. Corroborando ao exposto Norberto Avena 45 “todos os atos realizados no
curso das investigações policiais serão formalizados de forma escrita e rubricados pela
autoridade, incluindo-se, nesta regra, depoimentos, testemunhos, reconhecimentos, acareações
e todo gênero de diligências que sejam realizadas”.
Vejamos o dispositivo legal:
Art. 12. O inquérito policial acompanhará a denúncia ou queixa, sempre que servir
de base a uma ou outra.
Interpretando o teor do art. 12 do CPP em sentido contrário, podemos concluir que se não servir
de base para denúncia ou queixa, será dispensado. Contudo, se servir de base, deverá acompanhar a
peça (denúncia ou queixa-crime). Nessa mesma linha, dispõe o art. Art. 39 § 5° do CPP:
Obs.: Existe uma doutrina minoritária, uma corrente doutrinária, que entende que o
inquérito policial é indispensável. Como a maior parte das ações penais são precedidas de inquérito
policial, essa corrente defende que a regra é a prévia realização de um inquérito policial e apenas
excepcionalmente não haveria um inquérito policial prévio e, portanto, o inquérito policial seria
indispensável.
45Avena, Norberto. Processo penal / Norberto Avena. – 10. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, São Paulo:
MÉTODO,
2018.
27
Há posição (minoritária) na doutrina sustentando que o inquérito policial seria indispensável.
Sem dúvida alguma, Henrique Hoffmann é o maior defensor desta ideia. Para este brilhante
autor, dentre outros argumentos relevantes, observa-se que “nos crimes de ação penal publica
incondicionada (que são a maioria), a regra é a obrigatoriedade de instauração do inquérito
policial, e esse procedimento deve acompanhar a peça acusatória sempre que servir de suporte à
acusação, daí porque a regra é a indispensabilidade, sendo a dispensabilidade uma exceção que
por isso não pode ser erigida à característica do instituto”.
C. Procedimento Sigiloso: A regra geral é a de que o inquérito policial seja sigiloso, tendo em vista
a possibilidade da coleta de mais elementos de informação e garantia da eficácia das diligências
empreendidas no inquérito policial, vejamos o texto normativo:
Dessa forma, ao contrário do que ocorre em relação ao processo criminal, que se rege pelo
princípio da publicidade (salvo exceções legais), no inquérito policial é possível resguardar sigilo
durante a sua realização.
O sigilo na fase do inquérito policial mostra-se necessário para garantia da própria eficácia das
investigações, posto que a sua publicação acabaria por prejudicar a própria medida, basta pensarmos,
28
por exemplo, que o investigado tivesse conhecimento que em face dele teria sido decretada a
interceptação telefônica, com toda certeza, não seriam colhidas as conversas necessárias.
Cumpre ressaltarmos, esse sigilo não é oposto em face de todos os envolvidos na relação
processual penal. Conforme explica o prof. Norberto Avena, “o sigilo não alcança o juiz e o Ministério
Público. Não alcança, também, o advogado que, por força do art. 7, XIV, Estatuto da OAB, tem o
direito de examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, mesmo sem
procuração (salvo nas hipóteses de sigilo formalmente decretado, caso em que o instrumento
procuratório é necessário, nos termos do art. 7, § 10, do EOAB), autos de flagrante e de investigações
de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças
e tomar apontamentos em meio físico ou digital, estabelecendo, ainda, a Súmula Vinculante 14 do STF”.
Nessa esteira, vejamos o teor da Súmula:
Súmula Vinculante nº 14: É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos
elementos de prova que, JÁ DOCUMENTADOS em procedimento investigatório realizado por órgão
com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.
Cumpre ressaltarmos que essa súmula não instituiu o contraditório e/ou ampla defesa no âmbito
do inquérito policial, simplesmente criou, leia-se, reafirmou o direito de acesso da defesa aos
documentos que já foram documentados.
29
Nos termos da Súmula Vinculante 14, restringe-se aos elementos de prova já documentados, e
não a todos e quaisquer documentos, ante a premente possibilidade de atrapalhar as próprias
investigações. Nesse sentido, vejamos o teor da súmula: Súmula Vinculante 14. É direito do defensor,
no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em
procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito
ao exercício do direito de defesa.
Candidato, para que o advogado/defensor tenha acesso aos autos do inquérito policial é necessária
procuração? Em regra, não. Qualquer advogado/defensor tem direito a ter acesso a autos de inquérito
policial. A exceção fica por conta de inquéritos policiais que corram em segredo de justiça ou atos
investigatórios que contenham informações sigilosas.
Vejamos:
30
§10º. NOS AUTOS SUJEITOS A SIGILO, deve o advogado apresentar procuração para o
exercício dos direitos que trata o inciso XIV.
Candidato, para que o advogado tenha acesso aos autos do IP, é necessária autorização
judicial prévia? Em regra, não há necessidade de autorização judicial prévia para que o advogado tenha
acesso dos autos do IP. Contudo, existe uma exceção prevista ao teor do art. 23, da Lei nº 12.850/2013
(Lei das Organizações Criminosa):
Art. 23. O sigilo da investigação poderá ser decretado pela autoridade judicial competente, para
garantia da celeridade e da eficácia das diligências investigatórias, assegurando-se ao defensor,
no interesse do representado, amplo acesso aos elementos de prova que digam respeito ao
exercício do direito de defesa, devidamente precedido de autorização judicial, ressalvados os
referentes às diligências em andamento.
Em RESUMO:
Nas lições de Norberto Avena (2020, pág. 164), “salvo na hipótese de inquérito instaurado pela
polícia federal visando à expulsão do estrangeiro, não são inerentes à sindicância policial as garantias
do contraditório e da ampla defesa”.
31
Trata-se o inquérito, assim, de um procedimento inquisitivo, voltado, precipuamente, à obtenção
de elementos que sirvam de suporte ao oferecimento de denúncia ou de queixa-crime (função
preparatória do inquérito).
Observação: Existe uma exceção à ausência de contraditório: o inquérito policial que tem como
objetivo a expulsão de estrangeiro. Neste, há uma série de procedimentos a serem adotados, bem como
prazo para apresentação de defesa pelo expulsando e seu defensor.
Entretanto, a nova lei de migração (Lei n. 13.445/2017) denomina este inquérito de
PROCESSO DE EXPULSÃO e explicita: “Art. 58. No processo de expulsão serão garantidos o
contraditório e a ampla defesa.”
32
Desse modo, o delegado de polícia conduz as investigações da forma que melhor se
apresenta e mostra-se necessária. Nessa esteira, existe um rol não taxativo nos art. 6º e 7º do CPP de
diligências previstas para serem cumpridas. Destaca-se, porém, que essas diligências não são
vinculantes, obrigatórias, e o delegado pode verificar quais serão necessárias, bem como, poderá também
realizar alguma que não esteja prevista. Inobstante a regra da não obrigatoriedade de diligências pré-
estipuladas, o Ordenamento Jurídico comporta uma exceção, qual seja, a realização do exame de corpo
de delito nos crimes que deixam vestígios.
Por todo o exposto, contemplamos que dizer que o inquérito policial goza da característica da
discricionariedade significa que a autoridade policial possui liberdade de atuação dentro dos parâmetros
legais que lhe são conferidos. Não há que se falar em procedimento rígido de observância obrigatória.
Sobre o tema, discorre Norberto Avena 46, “a persecução, no inquérito policial, concentra-se na
figura do delegado de polícia, que, por isso mesmo, pode determinar ou postular, com
discricionariedade, todas as diligências que julgar necessárias ao esclarecimento dos fatos. Enfim, uma
vez instaurado o inquérito, possui a autoridade policial liberdade para decidir acerca das providências
pertinentes ao êxito da investigação. Isso quer dizer que, no início da investigação e no seu curso, cabe
ao delegado proceder ao que tem sido chamado pela doutrina de juízo de prognose, a partir do qual
decidirá quais providências são necessárias para elucidar a infração penal investigada”.
Diante do exposto, contemplamos que não caberá a Autoridade Policial o indeferimento das
diligências de natureza relevante, como é o caso do exame de corpo de delito nos crimes que deixam
vestígios. Contudo, aqueles requerimentos que se tratar meramente de diligências impertinentes e
protelatórias, poderão ser indeferidos.
46Avena, Norberto. Processo penal / Norberto Avena. – 10. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, São Paulo:
MÉTODO,
2018.
33
No que tange a realização do exame de corpo de delito, preceitua o art. 158 do CPP “quando a
infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo
supri-lo a confissão do acusado”.
F. Procedimento Indisponível: Uma vez iniciado o inquérito a autoridade policial não poderá
arquivar. Nessa esteira, dispõe Távora e Alencar (2016): a persecução criminal é de ordem
pública, e uma vez iniciado o inquérito, não pode o delegado de polícia dele dispor.
34
Nos moldes do art. 17, a autoridade policial não poderá mandar arquivar autos de inquérito.
O delegado de polícia não pode arquivar nem requisitar arquivamento de um inquérito policial, pois ele
não é o titular da ação penal. O titular da ação penal é o Ministério Público.
O ministro Luiz Fux, em janeiro de 2020, suspendeu a eficácia prática de alguns artigos alterados
pelo pacote anticrime, Lei n. 13.964/2019. Ele suspendeu a nova redação do art. 28 do Código de
Processo Penal. Então, por enquanto, a sistemática antiga está válida. Portanto, conforme veremos em
um tópico específico, é necessário estudar a redação antiga, que é como está sendo realizado na
prática, e também é necessário estudar a redação atualizada trazida pelo pacote anticrime
(atualmente suspensa), porque também pode ser cobrada em provas.
A regra é que o inquérito policial arquivado pode ser desarquivado. Entretanto, a depender da
fundamentação do arquivamento, entende a jurisprudência que ele não poderia ser desarquivado.
Para melhor compreensão do tema, vejamos:
35
MOTIVO DO ARQUIVAMENTO DO É POSSÍVEL DESARQUIVAR O
INQUÉRITO POLICIAL INQUÉRITO POLICIAL?
Insuficiência de provas Sim.
Ausência de justa causa
Sim.
(materialidade ou indícios de autoria)
Atipicidade do fato Não.
Não.
Causa extintiva da punibilidade Exceção: certidão de óbito falsa,
neste caso é possível desarquivar.
Não.
Causa extintiva da culpabilidade
Exceção: inimputabilidade.
STJ: Não.
Causa excludente da ilicitude
STF: Sim.
Nas hipóteses em que não pode ocorrer o desarquivamento do inquérito policial, o fundamento
da jurisprudência é de que a decisão judicial que arquivou o inquérito policial fez coisa julgada formal
e material. Ou seja, houve uma decisão de mérito sobre o assunto.
● Arquivamento Implícito
● Arquivamento Indireto
36
G. Procedimento Temporário: é a conclusão que podemos extrair da análise do art. 10 do CPP o
qual prevê um prazo determinado para o encerramento do inquérito policial. Logo, verifica-
se que o procedimento administrativo em estudo é de natureza temporária. Dessa forma, temos
que o IP é transitório, leia-se, temporário.
Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado tiver sido preso
em flagrante, ou estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir
do dia em que se executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver
solto, mediante fiança ou sem ela.
Conforme visto acima, contemplamos que o inquérito policial é temporário, ou seja, possui
prazo determinado para a sua conclusão.
Nos moldes previstos no art. 10 do CPP esse prazo é de 10 dias, se o indiciado tiver sido preso
em flagrante ou estiver preso preventivamente, ou de 30 dias, no caso em que estiver solto.
47 Com a vigência do Pacote Anticrime, o art. 3-B §2º, do CPP, é expresso ao afirmar que a duração do inquérito de
investigado preso poderá ser prorrogada uma única vez, por até 15 (quinze) dias, após o que, se ainda assim a investigação
não for concluída, a prisão será imediatamente relaxada.
37
que se acham investidos, em nosso País, os Advogados, sem prejuízo do permanente controle
jurisdicional dos atos documentados produzidos pela instituição.
B. Ante o princípio constitucional da não culpabilidade, inquéritos e processos criminais em curso são
neutros na definição dos antecedentes criminais.
C. Sendo o ato de indiciamento de atribuição exclusiva da autoridade policial, não existe fundamento
jurídico que autorize o magistrado, após receber a denúncia, requisitar ao delegado de polícia o
indiciamento de determinada pessoa.
D. O prazo de que trata o Código de Processo Penal para término do inquérito é próprio, não prevendo
a lei qualquer consequência processual, máxime a preclusão, se a conclusão do inquérito ocorrer após
trinta dias de sua instauração, estando solto o réu.
E. Descabe cogitar de implemento de inquérito pelo Ministério Público quando este, ante elementos que
lhe chegaram, provoca a instauração pela autoridade policial.
Gab. D.
Outro ponto de extrema relevância no novel dispositivo diz respeito à possibilidade de o juiz das
garantias prorrogar, uma única vez, a duração do inquérito policial por até́ 15 (quinze) dias.
Após a conclusão do referido prazo, se a investigação não for concluída, haverá o relaxamento
da prisão. Esta nova sistemática legislativa altera a regra do CPP, que não previa a possibilidade
de prorrogação do prazo para a conclusão do inquérito policial, quando o investigado se
encontrar preso.
48CÓDIGO DE PROCESSO PENAL PARA CONCURSOS. 11a. edição. Fábio Roque Araújo Nestor Távora. ATUALIZAÇÃO, 2020.
Editora Juspodivm.
38
Há excesso de prazo para conclusão de inquérito policial, quando, a despeito do
investigado se encontrar solto e de não sofrer efeitos de qualquer medida restritiva,
a investigação perdura por longo período e não resta demonstrada a complexidade
apta a afastar o constrangimento ilegal.
O prazo para a conclusão do inquérito policial, em caso de investigado solto é impróprio.
Assim, pode ser prorrogado a depender da complexidade das investigações. Contudo,
consoante precedentes desta Corte Superior, é possível que se realize, por meio de
habeas corpus, o controle acerca da razoabilidade da duração da investigação, sendo
cabível, até mesmo, o trancamento do inquérito policial, caso demonstrada a excessiva
demora para a sua conclusão. STJ. 6ª Turma. HC 653299-SC, Rel. Min. Laurita Vaz,
Rel. Acd. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 16/08/2022 (Info 747).
39
H. Procedimento Oficial: o inquérito policial é realizado por uma autoridade oficial, no caso o
delegado de polícia, devidamente habilitado. Nesse sentido, explica Norberto Avena, trata-se de
investigação que deve ser realizada por autoridades e agentes integrantes dos quadros públicos,
sendo vedada a delegação da atividade investigatória a particulares, inclusive por força da
própria Constituição Federal. A propósito, dispõe o art. 144, § 4°, dessa Carta que “às polícias
civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da
União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares”.
40
Art. 21. A incomunicabilidade do indiciado dependerá sempre de despacho nos
autos e somente será permitida quando o interesse da sociedade ou a conveniência da
investigação o exigir.
Parágrafo único. A incomunicabilidade, que não excederá de três dias, será decretada
por despacho fundamentado do Juiz, a requerimento da autoridade policial, ou do órgão
do Ministério Público, respeitado, em qualquer hipótese, o disposto no artigo 89, inciso
III, do Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil (Lei n. 4.215, de 27 de abril de
1963).
Vejamos:
41
a) a narração do fato, com todas as circunstâncias;
b) a individualização do indiciado ou seus sinais característicos e as razões de convicção ou de
presunção de ser ele o autor da infração, ou os motivos de impossibilidade de o fazer;
c) a nomeação das testemunhas, com indicação de sua profissão e residência.
§ 2o Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de inquérito caberá recurso para o
chefe de Polícia.
§ 3o Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de infração penal em que
caiba ação pública poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-la à autoridade policial, e esta,
verificada a procedência das informações, mandará instaurar inquérito. (denominada de delatio
criminis).
§ 4o O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de representação, não poderá sem
ela ser iniciado. *49
§ 5o. Nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente poderá proceder a inquérito a
requerimento de quem tenha qualidade para intentá-la. *50
1) De ofício pela autoridade policial (inciso I): na hipótese do crime ser de ação penal
pública incondicionada.
2) Por requerimento do ofendido ou seu representante (inciso II): nos casos de ação
penal privada ou de ação penal pública condicionada, a instauração do inquérito
policial dependerá do requerimento do ofendido e no caso da ação pública
condicionada, dependerá de representação.
O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de representação, não poderá sem ela
ser iniciado. Noutra banda, nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente poderá proceder
a inquérito a requerimento de quem tenha qualidade para intentá-la.
Em RESUMO:
42
Em concurso de Delegado de Polícia Civil de Goiás (2022), foi apontada como INCORRETA a
seguinte afirmação: “A investigação preliminar de natureza policial, nos crimes em que a ação penal
pública depender de representação do ofendido, poderá sem ela ser iniciada”.
Em concurso de Delegado de Polícia Civil de Goiás (2022), foi apontada como INCORRETA a
seguinte afirmação: “É irrecorrível o despacho que indeferir requerimento de abertura de inquérito
policial, tendo em vista a prescindibilidade do procedimento investigativo preliminar”.
3) Delatio Criminis
CPP, Art. 5º § 3º Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de infração
penal em que caiba ação pública poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-la à autoridade
policial, e esta, verificada a procedência das informações, mandará instaurar inquérito.
● Simples: Uma terceira pessoa leva ao conhecimento do Delegado o fato da infração penal.
● Inqualificada: Denúncia anônima (Art. 5º, IV, CF / info 580 STF). A constituição veda o
anonimato, por outro lado não se pode vendar os olhos para um crime que aconteceu. O STF
afirma que a denúncia anônima é válida de base para as investigações, mas não será suficiente
por si só para instaurar o inquérito.
● Postulatória: (Art. 5º § 4º) O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de
representação, não poderá sem ela ser iniciado.
Neste aspecto existe uma pequena polêmica no que tange a requisição, afinal candidato, quais
seriam as autoridades competentes para requisitar a instauração do inquérito?
43
doutrina também critica a requisição realizada pelo MP tendo em vista que não existe hierarquia entre
Promotor e Delegado.
Justificativa: Nos crimes de ação penal pública incondicionada a instauração do inquérito policial será
de ofício e a peça inaugural é a PORTARIA.
A delatio criminis é uma espécie de notitia criminis. No entanto, neste último caso é o
conhecimento, pela própria autoridade policial, de um fato delituoso subdividindo-se em:
a) Notitia criminis de cognição imediata (espontânea): Quando o delegado por meio de atividades
rotineiras toma conhecimento do crime. Segundo Norberto Avena, “a autoridade policial toma
conhecimento da ocorrência de um crime de forma direta por meio de suas atividades funcionais
44
rotineiras, podendo ser por meio de investigações por ela mesma realizadas, por notícia veiculada
na imprensa, por meio de serviços de Disque-Denúncia (denúncias anônimas ou não) etc.”.
Em RESUMO:
NOTITIA CRIMINIS DE NOTITIA CRIMINIS DE NOTITIA CRIMINIS DE
COGNIÇÃO IMEDIATA COGNIÇÃO MEDIATA COGNIÇÃO
(DIRETA OU ESPONTÂNEA): (INDIRETA OU COERCITIVA:
PROVOCADA):
ocorre quando o delegado de ocorre quando o delegado de ocorre quando o delegado de
polícia toma conhecimento do fato polícia toma conhecimento do polícia toma conhecimento do
delituoso por meio de suas fato delituoso por meio de um fato delituoso por meio de uma
atividades rotineiras. Ex. Delegado expediente escrito (requisição situação flagrancial. Ex.
assistindo o jornal, toma do MP, requisição de juiz, Alguém que foi conduzido
conhecimento de um fato representação da vítima). coercitivamente a presença do
criminoso que ocorreu na sua área. delegado como autor do delito.
45
Denúncia Anônima
Notitia criminis inqualificada: ocorre quando o delegado de polícia toma conhecimento do fato delituoso
por meio de denúncia anônima.
ATENÇÃO! O delegado de polícia, em razão de uma denúncia anônima, não pode instaurar um inquérito
policial imediatamente. Antes de instaurar um inquérito policial, o delegado deverá fazer a verificação
da procedência das informações – VPI;
Diante do exposto, temos que a denúncia anônima pode oportunizar a instauração de inquérito
policial, desde que haja a verificação de procedência das informações.
Conforme explica Márcio André 51, a denúncia anônima ocorre quando alguém, sem se identificar,
relata para as autoridades (ex: Delegado de Polícia, MP etc.) que determinada pessoa praticou um
crime. É o caso, por exemplo, dos serviços conhecidos como "disk-denúncia" ou, então, dos aplicativos
de celular por meio dos quais se "denuncia" a ocorrência de delitos. O termo "denúncia anônima" não
é tecnicamente correto porque em processo penal denúncia é o nome dado para a peça inaugural da
ação penal proposta pelo Ministério Público. Assim, a doutrina prefere falar em "delação apócrifa",
"notícia anônima" ou "notitia criminis inqualificada".
Vejamos:
51 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Denúncia anônimaa. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/3a824154b16ed7dab899bf000b80eeee>. Acesso
em: 14/09/2020.
46
(...) As autoridades públicas não podem iniciar qualquer medida de
persecução (penal ou disciplinar), apoiando-se, unicamente, para tal fim, em
peças apócrifas ou em escritos anônimos. É por essa razão que o escrito
anônimo não autoriza, desde que isoladamente considerado, a imediata
instauração de “persecutio criminis”.
– Nada impede que o Poder Público, provocado por delação anônima (“disque-
denúncia”, p. ex.), adote medidas informais destinadas a apurar, previamente,
em averiguação sumária, “com prudência e discrição”, a possível ocorrência de
eventual situação de ilicitude penal, desde que o faça com o objetivo de conferir
a verossimilhança dos fatos nela denunciados, em ordem a promover, então, em
caso positivo, a formal instauração da “persecutio criminis”, mantendo-se,
assim, completa desvinculação desse procedimento estatal em relação às peças
apócrifas.
(STF. 2ª Turma. RHC 117988, Relator p/ Acórdão Min. Celso de Mello, julgado
em 16/12/2014).
Diante de uma denúncia anônima, deve a autoridade policial, antes de instaurar o inquérito
policial, verificar a procedência e veracidade das informações por ela veiculadas.
A denúncia anônima, por si só, não serve para fundamentar a instauração de inquérito policial,
mas, a partir dela, pode a polícia realizar diligências preliminares para apurar a veracidade das
informações obtidas anonimamente e, então, instaurar o procedimento investigatório propriamente dito.
47
C. Diante de notitia criminis inqualificada, antes de determinar a abertura do inquérito policial, o
delegado de polícia deve promover a diligência de verificação de procedência das informações, a fim de
evitar delação inescrupulosa.
D. O delegado de polícia poderá interrogar pessoa inimputável presa em flagrante, não sendo possível a
nomeação de curador para acompanhar o ato.
E. O delegado de polícia poderá realizar o interrogatório, sem a participação de advogado, ainda que o
indiciado informe que deseja a presença de seu advogado no ato.
Gab. C.
Conforme o entendimento da Jurisprudência as denúncias anônimas não podem embasar, por si sós,
medidas invasivas como interceptações telefônicas, buscas e apreensões, e devem ser complementadas
por diligências investigativas posteriores.
Gab. ERRADO.
48
A interceptação telefônica é subsidiária e excepcional, só podendo ser determinada quando não houver
outro meio para se apurar os fatos tidos por criminosos, nos termos do art. 2°, inc. II, da Lei nº
9.296/1996. Desse modo, é ilegal que a interceptação telefônica seja determinada apenas com base em
“denúncia anônima”. STF. Segunda Turma. HC 108147/PR, rei. Min. Cármen Lúcia, 11/12/2012.
49
"denúncia anônima" a fim de se verificar a plausibilidade das alegações contidas
no documento apócrifo. Após confirmar a plausibilidade das "denúncias", o MP
requereu ao juízo a decretação da interceptação telefônica dos investigados
alegando que não havia outro meio senão a utilização de tal medida, como forma
de investigação dos supostos crimes. O juiz acolheu o pedido. O STJ e o STF
entenderam que a decisão do magistrado foi correta considerando que a
decretação da interceptação telefônica não foi feita com base unicamente na
"denúncia anônima" e sim após a realização de diligências investigativas por
parte do Ministério Público e a constatação de que a interceptação era
indispensável neste caso. STJ. 6ª Turma. RHC 38566/ES, Rel. Min. Ericson
Maranho (Des. Conv. do TJ/SP), julgado em 19/11/2015. STF. 2ª Turma. HC
133148/ES, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 21/2/2017 (Info 855).
Fonte: www.dizerodireito.com.br
Art. 6o Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial
DEVERÁ:
I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das coisas,
até a chegada dos peritos criminais;
II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos criminais;
III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas circunstâncias;
IV - ouvir o ofendido;
V - ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do disposto no Capítulo III do
Título VII, deste Livro, devendo o respectivo termo ser assinado por duas testemunhas que lhe
tenham ouvido a leitura;
VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações;
VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer outras
perícias;
VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se possível, e fazer juntar
aos autos sua folha de antecedentes;
IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar e social,
sua condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e
quaisquer outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu temperamento e caráter.
X - colher informações sobre a existência de filhos, respectivas idades e se possuem alguma
deficiência e o nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela
pessoa presa.
50
C. prender o suspeito, a fim de evitar sua fuga.
D. preservar o local.
E. ouvir o ofendido, para que se defina a área a ser isolada.
Gab. D.
4.3.15. RECONSTITUIÇÃO
CPP Art. 7º Para verificar a possibilidade de haver a infração sido praticada de
determinado modo, a autoridade policial poderá proceder à reprodução
simulada dos fatos, desde que esta não contrarie a moralidade ou a ordem
pública.
A reprodução simulada é vedada quando importar em ofensa à moralidade, como, por exemplo,
a reconstituição de crime contra a dignidade sexual, ou em ofensa à moralidade ou a ordem pública
Exemplo: Reconstituir um crime de estupro, não tem sentido pedir para que haja novamente o
ato apenas para verificar como aconteceu.
Nesse sentido, NUCCI explica “não se fará reconstituição de um crime sexual violento, usando
vítima e réu, por exemplo, o que contraria a moralidade, nem tampouco a reconstituição de uma chacina,
num lugar onde a população ainda está profundamente revoltada com o crime, podendo até buscar o
linchamento do réu”.
Cumpre destacarmos que o acusado não será obrigado a participar (em decorrência do princípio
do nemo tenetur se detegere), bem como, o Delegado pode achar que não seja fundamental a
reconstituição e não realizá-la.
Conforme ensina Nestor Távora e Fábio Roque, “a participação do indiciado é facultativa, afinal não
está obrigado a se autoincriminar (princípio do nemo tenetur se detegere). Todavia, tem-se admitido a
sua condução coercitiva ao local da reconstituição, mesmo que apenas para presenciar o acontecimento”.
Diante do exposto, contemplamos que o gabarito é ERRADO, posto que em decorrência do princípio da
não autoincriminação, o acusado não é obrigado a participar.
51
4.3.16. PRAZOS PARA A CONCLUSÃO DO INQUÉRITO POLICIAL
Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado tiver sido preso em
flagrante, ou estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em
que se executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver solto, mediante fiança
ou sem ela.
Assim:
Art. 66. O prazo para conclusão do inquérito policial será de quinze dias, quando o indiciado
estiver preso, podendo ser prorrogado por mais quinze dias, a pedido, devidamente
fundamentado, da autoridade policial e deferido pelo Juiz a que competir o conhecimento do
processo.
Parágrafo único. Ao requerer a prorrogação do prazo para conclusão do inquérito, a autoridade
policial deverá apresentar o preso ao Juiz.
Assim:
4.3.16.3. CPM
Art. 20. O inquérito deverá terminar dentro em vinte dias, se o indiciado estiver preso, contado
esse prazo a partir do dia em que se executar a ordem de prisão; ou no prazo de quarenta dias,
quando o indiciado estiver solto, contados a partir da data em que se instaurar o inquérito.
52 Com a vigência do Pacote Anticrime, o art. 3-B §2º, do CPP, é expresso ao afirmar que a duração do inquérito de
investigado preso poderá ser prorrogada uma única vez, por até 15 (quinze) dias, após o que, se ainda assim a investigação
não for concluída, a prisão será imediatamente relaxada.
52
Prorrogação de prazo:
§ 1º Este último prazo (indiciado estiver solto) poderá ser prorrogado por mais vinte dias pela
autoridade militar superior, desde que não estejam concluídos exames ou perícias já iniciados,
ou haja necessidade de diligência, indispensáveis à elucidação do fato. O pedido de prorrogação
deve ser feito em tempo oportuno, de modo a ser atendido antes do término do prazo.
Assim:
Preso 20 dias
Solto 40 dias (prorrogável por + 20 dias).
Art. 10. (...) §1º Os atos policiais (inquérito ou processo iniciado por portaria) deverão terminar
no prazo de dez dias (seja preso ou solto).
Terá o prazo de 30 (trinta) dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e comprovada
necessidade.
Lei nº 11.343/2006. Art. 51. O inquérito policial será concluído no prazo de 30 (trinta) dias,
se o indiciado estiver preso, e de 90 (noventa) dias, quando solto.
Parágrafo único. Os prazos a que se refere este artigo podem ser duplicados pelo juiz, ouvido o
Ministério Público, mediante pedido justificado da autoridade de polícia judiciária.
Assim:
Em RESUMO:
53 Com a vigência do Pacote Anticrime, o art. 3-B §2º, do CPP, é expresso ao afirmar que a duração do inquérito de
investigado preso poderá ser prorrogada uma única vez, por até 15 (quinze) dias, após o que, se ainda assim a investigação
não for concluída, a prisão será imediatamente relaxada.
53
O eventual trancamento de inquérito policial por excesso de prazo não impede,
sempre e de forma automática, o oferecimento da denúncia. STF. 2ª Turma. HC
194023 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 15/09/2021.
Ano: 2019 Banca: CEBRASPE Órgão: TJ-BA Prova: Juiz de Direito Substituto.
Aldo, delegado de polícia, recebeu em sua unidade policial denúncia anônima que imputava a Mauro a
prática do crime de tráfico de drogas em um bairro da cidade. A denúncia veio acompanhada de imagens
em que Mauro aparece entregando a terceira pessoa pacotes em plástico transparente com considerável
quantidade de substância esbranquiçada e recebendo dessa pessoa quantia em dinheiro. Em diligências
realizadas, Aldo confirmou a qualificação de Mauro e, a partir das informações obtidas, instaurou IP
para apurar o crime descrito no art. 33, caput, da Lei n.º 11.343/2006 — Lei Antidrogas —, sem
indiciamento. Na sequência, ele representou à autoridade judiciária pelo deferimento de medida de busca
e apreensão na residência de Mauro, inclusive do telefone celular do investigado. Acerca dessa situação
hipotética, assinale a opção correta.
C. Em razão do caráter sigiloso dos autos do IP, nem Mauro nem seu defensor constituído terão o direito
de acessá-los.
D. Como não houve prisão, o prazo para a conclusão do IP será de noventa dias.
E. Deferida a busca e apreensão, a realização de exame pericial em dados de telefone celular que
eventualmente seja apreendido dependerá de nova decisão judicial.
Gab. D.
Justificativa: Conforme estudamos acima, a regra geral para a conclusão das investigações encontra-se
previsto ao teor do art. 10 do CPP, contudo, existem várias regras específicas, entre elas, a prevista para
os crimes na lei de drogas. Nos termos da Lei n. 11.343/2006: Art. 51. O inquérito policial será concluído
no prazo de 30 (trinta) dias, se o indiciado estiver preso, e de 90 (noventa) dias, quando solto.
O que acontece se os prazos para a conclusão do inquérito policial não forem observados pelo
delegado?
Se o investigado estiver solto, não haverá problemas, pois entende-se que o prazo é impróprio.
Entretanto, apesar de ser impróprio, não poderá haver abusos e, conforme precedentes do STJ, é possível
que se realize, por meio de habeas corpus, o controle acerca da razoabilidade da duração da investigação,
54
sendo cabível, até mesmo, o trancamento do inquérito policial, caso demonstrada a excessiva demora
para a sua conclusão.
Se o investigado estiver preso e o atraso não for expressivo, não há que se falar em ilegalidade,
uma vez que o processo penal posterior pode “compensar” essa demora, sendo mais célere, por exemplo
(Brasileiro, 2017). Porém, da mesma forma, não pode haver abusos, respeitando-se a razoabilidade (STF,
HC 107.382/SP), sob pena de constrangimento ilegal (STJ, HC 343.951/MG). Analogicamente, no
âmbito do Direito Administrativo, há a súmula 592 do STJ, que afirmar que “o excesso de prazo para a
conclusão do processo administrativo disciplinar só causa nulidade se houver demonstração de prejuízo
à defesa”.
Cumpre ressaltar que o art. 3º-B, § 2º, do CPP, introduzido pelo Pacote Anticrime (Lei 13.964/19)
– cuja aplicação está suspensa por decisão do STF -, que prevê que se o investigado estiver preso das
garantias poderá, mediante representação da autoridade policial e ouvido o Ministério Público,
prorrogar, uma única vez, a duração do inquérito por até 15 (quinze) dias, após o que, se ainda assim a
investigação não for concluída, a prisão será imediatamente relaxada.
#MOMENTODIZERODIREITO #MARCINHOEXPLICA
Há excesso de prazo para conclusão de IP, quando, a despeito do investigado se encontrar solto, a
investigação perdura por longo período sem que haja complexidade que justifique
55
indiciado estiver solto, o Delegado de Polícia poderá requerer a prorrogação do prazo (art. 10, caput e §
3º do CPP).
Caso concreto
Constata-se, no caso, o alegado constrangimento ilegal decorrente do excesso de prazo para a conclusão
do inquérito policial. Isso porque a investigação foi iniciada em 2013, ou seja, há mais de 9 anos.
As nuances do caso concreto não indicam que a investigação é demasiadamente complexa: apura-se o
alegado desvio de valores supostamente recebidos pelo paciente, na qualidade de advogado da vítima
(pessoa idosa, analfabeta e economicamente hipossuficiente); há apenas um investigado; foi ouvida
somente uma testemunha e determinada a quebra do sigilo bancário de duas pessoas; e com diligências
já cumpridas. Além disso, a investigação ficou paralisada por cerca de 4 anos e a autoridade policial,
posteriormente, apresentou relatório que concluiu pela inexistência de prova da materialidade e de
indícios suficientes de autoria. No entanto, a pedido do Ministério Público, a investigação prosseguiu.
Mostra-se inadmissível que, no panorama atual, em que o ordenamento jurídico pátrio é norteado pela
razoável duração do processo (no âmbito judicial e administrativo) - cláusula pétrea instituída
expressamente na Constituição Federal pela Emenda Constitucional n. 45/2004 -, um cidadão seja
indefinidamente investigado, transmutando a investigação do fato para a investigação da pessoa.
O fato de o paciente não ter sido indiciado ou sofrer os efeitos de qualquer medida restritiva, por si só,
não indica ausência de constrangimento, considerando que a simples existência da investigação, que no
caso está relacionada ao exercício profissional do paciente, já é uma estigmatização. O constrangimento
é patente.
Em suma:
Há excesso de prazo para conclusão de inquérito policial, quando, a despeito do investigado se encontrar
solto e de não sofrer efeitos de qualquer medida restritiva, a investigação perdura por longo período e
não resta demonstrada a complexidade apta a afastar o constrangimento ilegal.
STJ. 6ª Turma. HC 653.299-SC, Rel. Min. Laurita Vaz, Rel. Acd. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado
em 16/08/2022 (Info 747).
Fonte: CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Há excesso de prazo para conclusão de IP, quando, a despeito do investigado
se encontrar solto, a investigação perdura por longo período sem que haja complexidade que justifique. Buscador Dizer o
Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/3b13b1eb44b05f57735764786fab9c2c>. Acesso em:
15/02/2023
56
4.3.18. RELATÓRIO
CPP Art. 10. § 1º A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido apurado e enviará autos
ao juiz competente.
No relatório, a autoridade policial (Delegado de Polícia) irá narrar todos os fatos, procedimentos
e diligências que ocorreram durante o inquérito policial, sem juízo de valor, não devendo informar se
está comprovado ou não a autoria e materialidade.
Não necessariamente o relatório irá encerrar o inquérito, tendo em vista que o MP pode solicitar
novas diligências, não sendo obrigatório que a autoridade policial faça um novo relatório, nessa fase
apenas cumpre uma diligência que o MP solicitou. Alguns Delegados cumprem a diligência e refazem
o relatório tendo em vista que só existirá e será entregue apenas um relatório.
4.3.19. INDICIAMENTO
O indiciamento é o momento no qual o indivíduo deixa de ser um mero suspeito e passa a ser de
fato um indiciado, indiciado em um inquérito policial, quando o delegado já tem elementos suficientes
para apontar a autoria de um crime.
a. Investigado ou suspeito: Tem se a ideia que aquele pode ter sido o provável autor do crime, mas
que ainda não foi formalmente indiciado. (Juízo de probabilidade de autoria).
b. Indiciado: Aquele suspeito que já foi indiciado nos termos da Lei 12.830/13.
c. Acusado: Expressão utilizada para momento após ao recebimento da denúncia ou queixa.
Lei 12.830/13 Art. 2º § 6º O indiciamento, privativo do delegado de polícia, dar-se-á por ato
fundamentado, mediante análise técnico-jurídica do fato, que deverá indicar a autoria,
materialidade e suas circunstâncias.
O fundamento central do indiciamento é a autoria, mas como não se pode imputar a alguém
nenhum fato vago, terá de imputar um crime, portanto materialidade e circunstância. Antes da Lei 12.830
não era necessário indiciar fundamentando, após ela o indiciamento precisa ser fundamentado, que diz
respeito a análise técnico-jurídica do fato.
Quanto ao momento, poderá ocorrer o indiciamento, desde o auto de prisão em flagrante até o
relatório final. O ato de indiciamento é exclusivo da fase investigatória. Se o processo criminal já teve
início, sem que tenha tido o indiciamento formalmente, não é mais possível o indiciamento, constituindo-
se em constrangimento ilegal. Nesse sentido, o entendimento do STJ.
57
O INDICIAMENTO após o oferecimento da denúncia constitui-se em constrangimento
ilegal.
Candidato, quem possui atribuição para realizar o ato de indiciamento? Excelência, trata-se
de ato privado do Delegado de Polícia. Nessa linha, faz-se preciso destacarmos que atualmente, com
o advento da Lei nº 12.830/2013 há previsão expressa de que o indiciamento é atribuição privativa do
Delegado de Polícia. Nesse sentido, proclama o art. 2º, §6º “O indiciamento, privativo do Delegado de
polícia, dar-se-á por ato fundamentado, mediante análise técnico-jurídica do fato, que deverá indicar a
autoria, materialidade e suas circunstâncias”. O Indiciamento não pode ser objeto de requisição (seja do
Ministério Público ou do Magistrado).
54CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Indiciamento é atribuição exclusiva da autoridade policial. Buscador Dizer o Direito,
Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/d860edd1dd83b36f02ce52bde626c653>. Acesso
em: 16/02/2020.
58
O magistrado não pode requisitar o indiciamento em investigação criminal. Isso
porque o indiciamento constitui atribuição exclusiva da autoridade policial.
É por meio do indiciamento que a autoridade policial aponta determinada pessoa
como a autora do ilícito em apuração. Por se tratar de medida ínsita à fase
investigatória, por meio da qual o delegado de polícia externa o seu
convencimento sobre a autoria dos fatos apurados, não se admite que seja
requerida ou determinada pelo magistrado, já que tal procedimento obrigaria o
presidente do inquérito à conclusão de que determinado indivíduo seria o
responsável pela prática criminosa, em nítida violação ao sistema acusatório
adotado pelo ordenamento jurídico pátrio. Nesse mesmo sentido é a inteligência
do art. 2º, § 6º, da Lei 12.830/2013, que afirma que o indiciamento é ato inserto
na esfera de atribuições da polícia judiciária. STJ. 5ª Turma. RHC 47984-SP,
Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 4/11/2014 (Info 552). STF. 2ª Turma. HC
115015/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 27/8/2013 (Info 717).
Cumpre trazermos ainda uma questão importante quanto ao indiciamento, trata-se de um efeito
previsto na Lei de Lavagem de Capitais caso ocorra o indiciamento de um sujeito/agente que seja
servidor público. Vejamos:
Lei 9.613/ 98 Art. 17-D. Em caso de indiciamento de servidor público, este será afastado, sem
prejuízo de remuneração e demais direitos previstos em lei, até que o juiz competente autorize,
em decisão fundamentada, o seu retorno.
A Lei de lavagem de capitais traz que o servidor público indiciado por crime de lavagem de
capitais, terá de ser automaticamente afastado de suas funções e para que volte para o cargo é necessário
que o juiz determine. A doutrina afirma que este artigo viola o princípio da presunção da não
culpabilidade, tendo em vista que já afasta pelo fato de ser apenas indiciado, violando também o
princípio da jurisdicionalidade, já que o Delegado que determina o afastamento do servidor. No entanto
o dispositivo não foi declarado inconstitucional e não está suspenso, tendo plena eficácia.
Vejamos:
Art. 17-D. Em caso de indiciamento de servidor público, este será afastado, sem prejuízo de
remuneração e demais direitos previstos em lei, até que o juiz competente autorize, em decisão
fundamentada, o seu retorno.
59
Obs.: o STF reconheceu recentemente a inconstitucionalidade do referido dispositivo legal.
Vejamos:
Candidato, quem pode indiciar? Só existe uma pessoa que pode indiciar: o delegado de
polícia, a autoridade policial. O MP é o titular da ação penal e se o MP determinar ao delegado de
polícia que este deve indiciar determinada pessoa? Isso não pode acontecer: nem o MP, muito menos
o Judiciário, podem determinar ao delegado de polícia quem deverá ser indiciado porque o indiciamento
é a convicção do delegado de polícia e o indiciamento é um ato privativo dos delegados de polícia, não
pode ser determinado por outra pessoa, não pode ser requerido por outra pessoa.
Esse indiciamento pode ocorrer em qualquer momento do inquérito policial por meio de
despacho de indiciamento. Por vezes, durante o inquérito policial, o delegado de polícia já chegou à
convicção de que determinada pessoa praticou determinado crime. Todavia, ele ainda tem diligências
investigatórias, provas que ele ainda quer buscar no âmbito daquele inquérito policial: ele já inicia
55CAVALCANTE, Márcio André Lopes. É inconstitucional a previsão legal que determina o afastamento do servidor público
pelo simples fato de ele ter sido indiciado pela prática de crime. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/22cdb13a83f73ccd1f79ffaf607b0621>. Acesso em:
08/05/2021.
60
naquele momento, pode realizar o interrogatório do indiciado e, ainda assim, tem outros atos
investigatórios que pretende praticar ao longo do inquérito policial.
No inquérito policial, o mais comum é que o indiciamento aconteça no relatório final, quando o
delegado de polícia relata o inquérito policial que vai para o MP. Lembre-se que o indiciamento só existe
na fase do inquérito policial. Não há que se falar em indiciamento antes da existência de um inquérito
policial: o sujeito pode ser chamado de investigado, suspeito, mas não de indiciado. O indiciamento deve
ocorrer durante o inquérito policial. O indiciamento também não pode ocorrer na fase da ação penal.
Uma vez que o juiz recebe a denúncia e com o recebimento da denúncia tem início a ação penal, não
pode mais haver indiciamento.
Ao final do inquérito haverá abrem-se três possibilidades, a primeira delas é que o inquérito
policial poderá retornar do MP para a autoridade policial, no entanto, apenas para novas diligências.
CPP. Art. 16. O Ministério Público não poderá requerer a devolução do inquérito à autoridade
policial, senão para novas diligências, imprescindíveis ao oferecimento da denúncia.
A segunda possibilidade é o promotor oferecer a denúncia para dar início a ação penal.
O arquivamento pode ocorrer porque o promotor entende que não tem base suficiente para
oferecer a denúncia, seja porque houve a extinção da punibilidade, não houve crime, não se sabe quem
foi o autor do crime, seja porque foi praticado o crime em excludente de ilicitude como estado de
necessidade, legítima defesa, etc. Quando o promotor entende que não há base suficiente para oferecer
a denúncia ele pede o arquivamento.
Conclusão das Investigações
Pedido de Arquivamento
Pedido de arquivamento (pelo MP) 🡪 será levada para o Juiz apreciar 🡪Juiz poderá homologar o pedido
de arquivamento (concordando com o pedido de arquivamento). Contudo, é possível que o magistrado
discorde. Nesse caso, remeterá a questão ao Procurador Geral de Justiça.
61
Assim:
RESUMINDO
1. Para que haja o arquivamento do inquérito policial, é necessário o requerimento do
Ministério Público.
2. Diante desse requerimento, o juiz poderá concordar com o arquivamento, e o IP será arquivado,
ou;
3. Poderá discordar, e o IP será encaminhado para o Procurador Geral. Nesse último caso, o
Procurador Geral terá três opções: oferecer a denúncia, designar outro órgão do MP para
oferecer a denúncia ou insistir no arquivamento.
4. Quando o Ministério Público recebe o inquérito policial relatado ele tem três opções: oferecer a
denúncia, se já tiver sua opinio delicti formada; solicitar novas diligências investigatórias;
ou requerer o arquivamento do inquérito.
5. O arquivamento do inquérito policial ocorrerá quando o Ministério Público não houver sua
opinio delicti formada. No entanto, arquivar inquérito policial não significa impunidade àquele
que praticou o delito, pois o inquérito policial arquivado pode vir a ser desarquivado se surgirem
novas provas.
62
Portanto, antes do PAC, o promotor pede o arquivamento do inquérito policial (requerimento) e
encaminha para o juiz, que irá concordar e arquivar ou discordar e esse requerimento irá para o
procurador geral de justiça, que por sua vez irá insistir no arquivamento e nesse caso o juiz
obrigatoriamente irá arquivar ou o procurador geral de justiça concordar com o juiz e ele mesmo oferece
a denúncia, ou ainda o procurador concorda com o juiz e designa outro promotor para oferecer a
denúncia.
Obs.: Uma das principais funções do pacote anticrime foi trazer, de maneira definitiva, o sistema
acusatório para o Brasil. Não cabe ao juiz acusar, produzir provas ou determinar se o inquérito
policial deve ou não ser arquivado.
Perceba que agora a nova redação do Art. 28 não menciona quem ordena o arquivamento,
presumindo-se a princípio que quem ordena esse arquivamento é o Promotor. Após isso o promotor terá
de comunicar a vítima e a autoridade policial além de encaminhar para instância de revisão, para
homologação.
Observação. Se a vítima (e não mais o juiz), não quiser o arquivamento, terá o prazo de 30 dias
para pedir a revisão para instância de revisão.
Diante do nosso cenário proposto pelo Pacote Anticrime, temos que quem arquiva o inquérito é
o próprio promotor, no entanto, precisaria ser confirmado tal arquivamento por uma instância de revisão.
A instância de revisão ministerial foi criada também pelo artigo, que será um colegiado que irá
decidir sobre a homologação ou não do arquivamento. (A instância de revisão está suspensa). Em resumo
a figura do juiz não aparece no processo de arquivamento, a não ser no final, apenas para finalizar o
procedimento, sem informar se concorda ou não.
63
O próprio MP entrou em com uma ação de inconstitucionalidade no Supremo, informando que
o órgão não tem estrutura para criar a instância de revisão, tendo em vista que antes apenas iria para o
PGJ quando o juiz discordasse. Na grande maioria dos casos o Promotor pede o arquivamento e o Juiz
concorda, agora a Lei cria a instância de revisão e afirma que TODOS os casos de arquivamento irão
para tal instância, bem como abre possibilidade de a vítima fazer também a provocação. Desta forma o
Ministro Luiz Fux suspendeu o Art. 28 do CPP.
Cumpre apontarmos, neste primeiro momento, que o acordo de não persecução penal é NOVO
na legislação (Código de Processo Penal), porém ele já existia em nosso Ordenamento Jurídico por força
da Resolução 181/2017 do Conselho Nacional do Ministério Público.
O acordo de não persecução penal é um negócio jurídico sujeito a homologação judicial, por
meio do qual o Ministério Público, em exceção ao princípio da obrigatoriedade da ação penal,
propõe acordo, em favor do sujeito passivo da persecução, oferecendo a ele a não apresentação
da denúncia desde que este admita, formal e circunstanciadamente, a prática da infração penal e
cumpra a(s) condição(ões) avençadas.
56PACOTE ANTICRIME: As modificações no sistema de justiça criminal brasileiro, Estácio Luiz Gama de Lima Netto /Pedro
Tenório Soares Vieira Tavares, 2020.
64
De acordo com a nova redação do art. 28-A do CPP, não sendo caso de arquivamento e tendo
o investigado confessado formal e circunstancialmente a prática de infração penal sem violência
ou grave ameaça e com pena mínima inferior a 4 (quatro) anos, o Ministério Público (MP) poderá
propor acordo de não persecução penal, desde que necessário e suficiente para a reprovação e a
prevenção do crime, mediante as seguintes condições ajustadas cumulativa e alternativamente: I –
reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto na impossibilidade de fazê-lo; II – renunciar
voluntariamente a bens e direitos indicados pelo Ministério Público como instrumentos, produto ou
proveito do crime; III – prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por período correspondente
à pena mínima cominada ao delito diminuída de um a dois terços, em local a ser indicado pelo juízo da
execução, na forma do art. 46 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal); IV –
pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do art. 45 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 (Código Penal), a entidade pública ou de interesse social, a ser indicada pelo juízo da
execução, que tenha, preferencialmente, como função proteger bens jurídicos iguais ou semelhantes aos
aparentemente lesados pelo delito; ou V – cumprir, por prazo determinado, outra condição indicada pelo
MP, desde que proporcional e compatível com a infração penal imputada.
Quais são os requisitos necessários para a realização do acordo de não persecução penal?
Vejamos:
65
terços, em local a ser indicado pelo juízo da execução, na forma do art. 46
do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código
Penal); (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
IV - pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do art. 45 do
Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), a entidade
pública ou de interesse social, a ser indicada pelo juízo da execução, que
tenha, preferencialmente, como função proteger bens jurídicos iguais ou
semelhantes aos aparentemente lesados pelo delito; ou (Incluído pela Lei
nº 13.964, de 2019)
V - cumprir, por prazo determinado, outra condição indicada pelo Ministério
Público, desde que proporcional e compatível com a infração penal
imputada. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 1º Para aferição da pena mínima cominada ao delito a que se refere
o caput deste artigo, serão consideradas as causas de aumento e diminuição
aplicáveis ao caso concreto. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 2º O disposto no caput deste artigo não se aplica nas seguintes
hipóteses: (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
I - se for cabível transação penal de competência dos Juizados Especiais
Criminais, nos termos da lei; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
II - se o investigado for reincidente ou se houver elementos probatórios que
indiquem conduta criminal habitual, reiterada ou profissional, exceto se
insignificantes as infrações penais pretéritas; (Incluído pela Lei nº 13.964,
de 2019)
III - ter sido o agente beneficiado nos 5 (cinco) anos anteriores ao
cometimento da infração, em acordo de não persecução penal, transação
penal ou suspensão condicional do processo; e (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)
IV - nos crimes praticados no âmbito de violência doméstica ou familiar, ou
praticados contra a mulher por razões da condição de sexo feminino, em
favor do agressor. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 3º O acordo de não persecução penal será formalizado por escrito e será
firmado pelo membro do Ministério Público, pelo investigado e por seu
defensor. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 4º Para a homologação do acordo de não persecução penal, será realizada
audiência na qual o juiz deverá verificar a sua voluntariedade, por meio da
oitiva do investigado na presença do seu defensor, e sua
legalidade. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 5º Se o juiz considerar inadequadas, insuficientes ou abusivas as condições
dispostas no acordo de não persecução penal, devolverá os autos ao
Ministério Público para que seja reformulada a proposta de acordo, com
concordância do investigado e seu defensor. (Incluído pela Lei nº 13.964,
de 2019)
§ 6º Homologado judicialmente o acordo de não persecução penal, o juiz
devolverá os autos ao Ministério Público para que inicie sua execução
perante o juízo de execução penal. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 7º O juiz poderá recusar homologação à proposta que não atender aos
requisitos legais ou quando não for realizada a adequação a que se refere o §
5º deste artigo. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 8º Recusada a homologação, o juiz devolverá os autos ao Ministério
Público para a análise da necessidade de complementação das investigações
ou o oferecimento da denúncia. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 9º A vítima será intimada da homologação do acordo de não persecução
penal e de seu descumprimento. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
66
§ 10. Descumpridas quaisquer das condições estipuladas no acordo de não
persecução penal, o Ministério Público deverá comunicar ao juízo, para fins
de sua rescisão e posterior oferecimento de denúncia. (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)
§ 11. O descumprimento do acordo de não persecução penal pelo investigado
também poderá ser utilizado pelo Ministério Público como justificativa para
o eventual não oferecimento de suspensão condicional do
processo. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 12. A celebração e o cumprimento do acordo de não persecução penal não
constarão de certidão de antecedentes criminais, exceto para os fins previstos
no inciso III do § 2º deste artigo. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 13. Cumprido integralmente o acordo de não persecução penal, o juízo
competente decretará a extinção de punibilidade. (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)
§ 14. No caso de recusa, por parte do Ministério Público, em propor o acordo
de não persecução penal, o investigado poderá requerer a remessa dos autos
a órgão superior, na forma do art. 28 deste Código. (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)
Sobre o tema é pertinente mencionar a Lei nº 14.188/2021 que inseriu no Código Penal novos
institutos, como o crime de violência psicológica (art. 147-B), o qual fica inviabilizado o acordo de não
persecução penal, nos exatos termos do art. 28-A, § 2º, inc. I, do CPP. Em nenhuma situação se admite
o acordo, seja em razão da sua proibição para crimes cometidos com violência ou grave ameaça, seja em
face da sua não aplicação para delitos contra a mulher por razões da condição de sexo feminino.
Quando o delegado nota algum indício de que aparentemente o documento é falso, por exemplo
uma foto sobreposta a outra.
III – o indiciado portar documentos de identidade distintos, com informações conflitantes entre
si;
67
Exemplo. Quando uma pessoa apresenta uma identidade profissional com dados x e um RG com
dados Y.
Situação em que a identidade civil foi emitida há muito tempo atrás por exemplo.
Parágrafo único. As cópias dos documentos apresentados deverão ser juntadas aos autos do
inquérito, ou outra forma de investigação, ainda que consideradas insuficientes para identificar o
indiciado.
Observação. Nada impede que a situação no caso concreto se encaixe em mais de uma das
hipóteses supracitadas.
Súmula Vinculante nº 14: “É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos
elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com
competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.”
Súmula nº 524, STF: “Arquivado o Inquérito Policial, por despacho do Juiz, a requerimento do
Promotor de Justiça, não pode a ação penal ser iniciada, sem novas provas.”
Súmula n° 397, STF: "O poder de polícia da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, em caso de
crime cometido nas suas dependências, compreende, consoante o Regimento, a prisão em flagrante do
acusado e a realização do inquérito."
Súmula nº 234, STJ: “A participação de membro do Ministério Público na fase investigatória criminal
não acarreta o seu impedimento ou suspeição para o oferecimento da denúncia.”
68
Súmula nº 444, STJ: “É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar
a pena- base.”
Súmula nº 522, STJ: “A conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade policial é típica,
ainda que em situação de alegada autodefesa.”
4.5. INFORMATIVOS
2022
Caso concreto: a Polícia Militar recebeu denúncia anônima de que Alexandre estaria traficando drogas
em sua casa, no endereço informado. Os policiais se dirigiram até o local. Foram recebidos pelo próprio
Alexandre, que teria permitido a entrada dos policiais. Os PMs fizeram busca na residência e
encontraram droga. Alexandre foi, então, preso em flagrante. Essas provas apreendidas foram
consideradas ilícitas.
O simples fato de o tráfico de drogas configurar crime permanente não autoriza, por si só, o ingresso em
domicílio sem o necessário mandado judicial. Exige-se, para que se configure a legítima flagrância, a
demonstração posterior da justa causa ou, em outros termos, de fundadas razões quanto à suspeita de
ocorrência de crime no interior da residência. STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 2.004.877-MG, Rel. Min.
Ribeiro Dantas, julgado em 16/8/2022 (Info Especial 10).
O prazo para o término do IP com o indiciado solto é impróprio; apesar disso, será possível o
trancamento por excesso de prazo, caso o tempo de duração da investigação ultrapasse os limites
do princípio da razoabilidade
Embora o prazo de 30 (trinta) dias para o término do inquérito com indiciado solto (art. 10 do Código
de Processo Penal) seja impróprio, sem consequências processuais imediatas se inobservado, isso não
equivale a que a investigação se prolongue por tempo indeterminado, por anos a fio, devendo pautar-se
pelo princípio da razoabilidade.
STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 690299-PR, Rel. Min. Olindo Menezes (Desembargador convocado do
TRF da 1ª Região), julgado em 9/8/2022 (Info Especial 10).
Há excesso de prazo para conclusão de IP, quando, a despeito do investigado se encontrar solto, a
investigação perdura por longo período sem que haja complexidade que justifique.
O prazo para a conclusão do inquérito policial, em caso de investigado solto é impróprio. Assim, em
regra, o prazo pode ser prorrogado a depender da complexidade das investigações.
No entanto, é possível que se realize, por meio de habeas corpus, o controle acerca da razoabilidade da
duração da investigação, sendo cabível, até mesmo, o trancamento do inquérito policial, caso
demonstrada a excessiva demora para a sua conclusão.
No caso concreto, o STJ reconheceu que havia excesso de prazo para conclusão de inquérito policial que
tramitava há mais de 9 anos.
A despeito do investigado estar solto e de não ter contra si nenhuma medida restritiva, entendeu-se que
a investigação já perdurava por longo período e que não havia nenhuma complexidade que justificasse
essa demora.
STJ. 6ª Turma. HC 653299-SC, Rel. Min. Laurita Vaz, Rel. Acd. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado
em 16/08/2022 (Info 747).
69
É constitucional a norma de Regimento Interno de Tribunal de Justiça que condiciona a
instauração de inquérito à autorização do desembargador-relator nos feitos de competência
originária daquele órgão.
Não há ilicitude das provas por violação ao sigilo de dados bancários, em razão do
compartilhamento de dados de movimentações financeiras da própria instituição bancária ao
Ministério Público.
Não houve violação ilícita do sigilo de dados bancários. Isso porque não eram informações bancárias
sigilosas relativas à pessoa do investigado, mas sim movimentações financeiras da própria instituição.
Além disso, após o recebimento da notícia-crime, o Ministério Público requereu ao juízo de primeiro
grau a quebra do sigilo bancário e o compartilhamento pelo Banco de todos os documentos relativos à
apuração, o que foi deferido, havendo, portanto, autorização judicial.
Desse modo, as alegadas informações sigilosas não são os dados bancários do investigado, e sim as
informações e registros relacionados à sua atividade laboral como funcionário do Banco.
STJ. 6ª Turma. RHC 147307-PE, Rel. Min. Olindo Menezes (Desembargador convocado do TRF 1ª
Região), julgado em 29/03/2022 (Info 731).
Lei estadual pode autorizar que policiais militares e bombeiros militares lavrem TCO
É constitucional norma estadual que prevê a possibilidade da lavratura de termos circunstanciados pela
Polícia Militar e pelo Corpo de Bombeiros Militar.
O art. 69 da Lei dos Juizados Especiais, ao dispor que “a autoridade policial que tomar conhecimento da
ocorrência lavrará termo circunstanciado” não se refere exclusivamente à polícia judiciária, englobando
também as demais autoridades legalmente reconhecidas.
O termo circunstanciado é o instrumento legal que se limita a constatar a ocorrência de crimes de menor
potencial ofensivo, motivo pelo qual não configura atividade investigativa e, por via de consequência,
não se revela como função privativa de polícia judiciária.
70
STF. Plenário. ADI 5637/MG, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 11/3/2022 (Info 1046).
É ilegal a utilização, por parte do MP, de peça sigilosa obtida em procedimento em curso no STF
para abertura de procedimento investigatório criminal em 1ª instância com objetivo de apuração
dos mesmos fatos já investigados naquela Corte
Caso adaptado: a Procuradoria da República no Paraná, com base na colaboração premiada celebrada
por Bruno, instaurou Procedimento Investigatório Criminal (PIC) com o fim de investigar o possível
cometimento de crimes de corrupção, de lavagem de capitais e de fraude à licitação relacionados a
contratos celebrados entre a Petrobras.
Maurício, um dos investigados no Procedimento aberto, impetrou habeas corpus alegando que os fatos
tratados neste PIC são idênticos aos que foram investigados no Inquérito 4.978, que tramitou no STF em
razão do suposto envolvimento de Deputados Federais.
A defesa de Maurício argumentou que Min. Edson Fachin, relator do Inquérito 4.978 no STF, após a
realização de diversos atos de investigação, teria determinado o arquivamento do inquérito com relação
a todos os investigados, entre os quais o próprio Maurício, por não estar demonstrada a materialidade
das infrações penais.
Logo, para a defesa, seria ilegal a instauração do procedimento de investigação pelo Ministério Público.
Além disso, a defesa argumentou que o PIC foi instaurado com base nas declarações prestadas pelo
colaborador no STF, sendo esse documento sigiloso.
O STJ concordou com a defesa. É ilegal a utilização, por parte do Ministério Público, de peça sigilosa
obtida em procedimento em curso no Supremo Tribunal Federal para abertura de procedimento
investigatório criminal autônomo com objetivo de apuração dos mesmos fatos já investigados naquela
Corte.
STJ. 5ª Turma. RHC 149836-RS, Rel. Min. Jesuíno Rissato (Desembargador Convocado do TJDFT),
Rel. Acd. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 15/02/2022 (Info 726).
2021
O Poder Judiciário não pode impor ao Ministério Público a obrigação de ofertar acordo de não
persecução penal (ANPP).
Não cabe ao Poder Judiciário, que não detém atribuição para participar de negociações na seara
investigatória, impor ao MP a celebração de acordos. Não se tratando de hipótese de manifesta
inadmissibilidade do ANPP, a defesa pode requerer o reexame de sua negativa, nos termos do art. 28-A,
§ 14, do CPP, não sendo legítimo, em regra, que o Judiciário controle o ato de recusa, quanto ao mérito,
a fim de impedir a remessa ao órgão superior no MP. Isso porque a redação do art. 28-A, § 14, do CPP
determina a iniciativa da defesa para requerer a sua aplicação. STJ. 5ª Turma. HC 607003-SC, Rel. Min.
Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 24/11/2020 (Info 683). / STF. 2ª Turma. HC 194677/SP, Rel.
Min. Gilmar Mendes, julgado em 11/5/2021 (Info 1017).
O acordo de não persecução penal (ANPP) não constitui direito subjetivo do investigado, mas sim
faculdade do órgão acusador
O acordo de persecução penal não constitui direito subjetivo do investigado, podendo ser proposto pelo
MPF conforme as peculiaridades do caso concreto e quando considerado necessário e suficiente para a
reprovação e a prevenção da infração penal, não podendo prevalecer neste caso a interpretação dada a
outras benesses legais que, satisfeitas as exigências legais, constitui direito subjetivo do réu, tanto que a
redação do art. 28-A do CPP preceitua que o Ministério Público poderá e não deverá propor ou não o
referido acordo, na medida em que é o titular absoluto da ação penal pública, ex vi do art. 129, inc. I, da
Carta Magna (STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 152.756/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares Da Fonseca,
julgado em 14/09/2021).
71
A remessa dos autos ao órgão superior do Ministério Público deve se limitar a questões
relacionadas aos requisitos objetivos, não sendo legítimo o exame de mérito.
“O controle do Poder Judiciário quanto à remessa dos autos ao órgão superior do Ministério Público
deve se limitar a questões relacionadas aos requisitos objetivos, não sendo legítimo o exame do mérito
a fim de impedir a remessa dos autos ao órgão superior do Ministério Público. Nesse sentido, a Segunda
Turma do Supremo Tribunal Federal decidiu recentemente que não se tratando de hipótese de manifesta
inadmissibilidade do ANPP, a defesa pode requerer o reexame de sua negativa, nos termos do art. 28-A,
§ 14, do Código de Processo Penal (CPP), não sendo legítimo, em regra, que o Judiciário controle o ato
de recusa, quanto ao mérito, a fim de impedir a remessa ao órgão superior no MP. (HC n. 194.677/SP,
julgado em 11 de maio de 2021. Informativo n. 1017)” (STJ. 5ª Turma. HC 668.520/SP, Rel. Min.
Reynaldo Soares Da Fonseca, julgado em 10/08/2021).
Em caso de concurso material de crimes, considerando as penas mínimas de tais crimes (somadas),
o total deve ser inferior a 4 anos. (STF. 2ª Turma. HC 201610 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,
julgado em 21/06/2021).
2020
O acordo de não persecução penal (ANPP) aplica-se a fatos ocorridos antes da Lei nº 13.964/2019,
desde que não recebida a denúncia.
A Lei nº 13.964/2019 (“pacote anticrime”) inseriu o art. 28-A ao CPP, criando, no ordenamento jurídico
pátrio, o instituto do acordo de não persecução penal (ANPP). A Lei nº 13.964/2019, no ponto em que
institui o ANPP, é considerada lei penal de natureza híbrida, admitindo conformação entre a
retroatividade penal benéfica e o tempus regit actum. O ANPP se esgota na etapa pré-processual,
sobretudo porque a consequência da sua recusa, sua não homologação ou seu descumprimento é
inaugurar a fase de oferecimento e de recebimento da denúncia. O recebimento da denúncia encerra a
etapa pré-processual, devendo ser considerados válidos os atos praticados em conformidade com a lei
então vigente. Dessa forma, a retroatividade penal benéfica incide para permitir que o ANPP seja
viabilizado a fatos anteriores à Lei nº 13.964/2019, desde que não recebida a denúncia. Assim, mostra-
se impossível realizar o ANPP quando já recebida a denúncia em data anterior à entrada em vigor da Lei
nº 13.964/2019. STJ. 5ª Turma. HC 607.003-SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em
24/11/2020 (Info 683). STF. 1ª Turma. HC 191464 AgRg, Rel. Roberto Barroso, julgado em 11/11/2020.
É constitucional o Inquérito instaurado para investigar “fake news” e ameaças contra o STF.
É constitucional a Portaria GP 69/2019, por meio da qual o Presidente do STF determinou a instauração
do Inquérito 4781, com o intuito de apurar a existência de notícias fraudulentas (fake news),
denunciações caluniosas, ameaças e atos que podem configurar crimes contra a honra e atingir a
honorabilidade e a segurança do STF, de seus membros e familiares. Também é constitucional o art. 43
do Regimento Interno do STF, que foi recepcionado pela CF/88 como lei ordinária. O STF, contudo,
afirmou que o referido inquérito, para ser constitucional, deve cumprir as seguintes condicionantes:
a) o procedimento deve ser acompanhado pelo Ministério Público;
b) deve ser integralmente observado o Enunciado 14 da Súmula Vinculante.
c) o objeto do inquérito deve se limitar a investigar manifestações que acarretem risco efetivo à
independência do Poder Judiciário (art. 2º da CF/88). Isso pode ocorrer por meio de ameaças aos
membros do STF e a seus familiares ou por atos que atentem contra os Poderes instituídos, contra o
Estado de Direito e contra a democracia; e, por fim,
d) a investigação deve respeitar a proteção da liberdade de expressão e de imprensa, excluindo do escopo
do inquérito matérias jornalísticas e postagens, compartilhamentos ou outras manifestações (inclusive
72
pessoais) na internet, feitas anonimamente ou não, desde que não integrem esquemas de financiamento
e divulgação em massa nas redes sociais.
O art. 43 do RISTF prevê o seguinte:
“Art 43. Ocorrendo infração à lei penal na sede ou dependência do Tribunal, o Presidente instaurará
inquérito, se envolver autoridade ou pessoa sujeita à sua jurisdição ou delegará esta atribuição a outro
Ministro”.
Muito embora o dispositivo exija que os fatos apurados ocorram na “sede ou dependência” do próprio
STF, o caráter difuso dos crimes cometidos por meio da internet permite estender (ampliar) o conceito
de “sede”, uma vez que o STF exerce jurisdição em todo o território nacional. Logo, os crimes objeto
do inquérito, contra a honra e, portanto, formais, cometidos em ambiente virtual, podem ser considerados
como cometidos na sede ou dependência do STF.
STF. Plenário. ADPF 572 MC/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 17 e 18/6/2020 (Info 982).
Não há nulidade na ação penal instaurada a partir de elementos informativos colhidos em
inquérito policial que não deveria ter sido conduzido pela Polícia Federal considerando que a
situação não se enquadrava no art. 1º da Lei 10.446/2002
Caso concreto: a Polícia Federal, sob a supervisão do Ministério Público estadual e do Juízo de Direito,
conduziu inquérito policial destinado a apurar crimes de competência da Justiça Estadual. Entendeu-se
que a Polícia Federal não tinha atribuição para apurar tais delitos considerando que não se enquadravam
nas hipóteses do art. 144, § 1º da CF/88 e do art. 1º da Lei nº 10.446/2002.
A despeito disso, o STF entendeu que não havia nulidade na ação penal instaurada com base nos
elementos informativos colhidos.
O fato de os crimes de competência da Justiça Estadual terem sido investigados pela Polícia Federal não
geram nulidade. Isso porque esse procedimento investigatório, presidido por autoridade de Polícia
Federal, foi supervisionado pelo Juízo estadual (juízo competente) e por membro do Ministério Público
estadual (que tinha a atribuição para a causa).
O inquérito policial constitui procedimento administrativo, de caráter meramente informativo e não
obrigatório à regular instauração do processo-crime, cuja finalidade consiste em subsidiar eventual
denúncia a ser apresentada pelo Ministério Público, razão pela qual irregularidades ocorridas não
implicam, de regra, nulidade de processo-crime.
O art. 5º, LIII, da Constituição Federal, afirma que “ninguém será processado nem sentenciado senão
pela autoridade competente”. Esse dispositivo contempla o chamado “princípio do juiz natural”,
princípio esse que não se estende para autoridades policiais, considerando que estas não possuem
competência para julgar.
Logo, não é possível anular provas ou processos em tramitação com base no argumento de que a Polícia
Federal não teria atribuição para investigar os crimes apurados.
A desconformidade da atuação da Polícia Federal com as disposições da Lei nº 10.446/2002 e eventuais
abusos cometidos por autoridade policial, embora possam implicar responsabilidade no âmbito
administrativo ou criminal dos agentes, não podem gerar a nulidade do inquérito ou do processo penal.
STF. 1ª Turma. HC 169348/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 17/12/2019 (Info 964).
2019
Se o PGJ decidir arquivar um PIC instaurado no exercício de sua competência originária, ele não
precisará submeter esse arquivamento ao Poder Judiciário, não se aplicando o art. 28 do CPP
73
do PIC. Logo, descabe a submissão da decisão de arquivamento ao Poder Judiciário. STF. 1ª Turma. MS
34730/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 10/12/2019 (Info 963).
É possível a deflagração de investigação criminal com base em matéria jornalística
É desnecessária a remessa de cópias dos autos ao Órgão Ministerial prevista no art. 40 do CPP,
que, atuando como custos legis, já tenha acesso aos autos
No caso em que o Ministério Público tem vista dos autos, a remessa de cópias e documentos ao Órgão
Ministerial não se mostra necessária. O Parquet, na oportunidade em que recebe os autos, pode tirar
cópia dos documentos que bem entender, sendo completamente esvaziado o sentido de remeter-se cópias
e documentos. Art. 40. Quando, em autos ou papéis de que conhecerem, os juízes ou tribunais
verificarem a existência de crime de ação pública, remeterão ao Ministério Público as cópias e os
documentos necessários ao oferecimento da denúncia. STJ. 3ª Seção. EREsp 1.338.699-RS, Rel. Min.
Ribeiro Dantas, julgado em 22/05/2019 (Info 649).
Existe julgado em sentido contrário: STJ. 2ª Turma. REsp 1.360.534-RS, Rel. Min. Humberto Martins,
julgado em 7/3/2013 (Info 519)
Não é necessária, mesmo após a Lei 13.245/2016, a intimação prévia da defesa técnica do
investigado para a tomada de depoimentos orais na fase de inquérito policial
Não é necessária a intimação prévia da defesa técnica do investigado para a tomada de depoimentos
orais na fase de inquérito policial. Não haverá nulidade dos atos processuais caso essa intimação não
ocorra. O inquérito policial é um procedimento informativo, de natureza inquisitorial, destinado
precipuamente à formação da opinio delicti do órgão acusatório. Logo, no inquérito há uma regular
mitigação das garantias do contraditório e da ampla defesa. Esse entendimento justifica-se porque os
elementos de informação colhidos no inquérito não se prestam, por si sós, a fundamentar uma
condenação criminal. A Lei nº 13.245/2016 implicou um reforço das prerrogativas da defesa técnica,
sem, contudo, conferir ao advogado o direito subjetivo de intimação prévia e tempestiva do calendário
de inquirições a ser definido pela autoridade policial. STF. 2ª Turma. Pet 7612/DF, Rel. Min. Edson
Fachin, julgado em 12/03/2019 (Info 933).
2018
O STF pode, de ofício, arquivar inquérito quando, mesmo esgotados os prazos para a conclusão
das diligências, não foram reunidos indícios mínimos de autoria ou materialidade
Importante!!!
O STF pode, de ofício, arquivar inquérito quando verificar que, mesmo após terem sido feitas diligências
de investigação e terem sido descumpridos os prazos para a instrução do inquérito, não foram reunidos
indícios mínimos de autoria ou materialidade (art. 231, § 4º, “e”, do RISTF).
A pendência de investigação, por prazo irrazoável, sem amparo em suspeita contundente, ofende o
direito à razoável duração do processo (art. 5º, LXXVIII, da CF/88) e a dignidade da pessoa humana
(art. 1º, III, da CF/88).
74
Caso concreto: tramitava, no STF, um inquérito para apurar suposto delito praticado por Deputado
Federal. O Ministro Relator já havia autorizado a realização de diversas diligências investigatórias, além
de ter aceitado a prorrogação do prazo de conclusão das investigações.
Apesar disso, não foram reunidos indícios mínimos de autoria e materialidade. Com o fim do foro por
prerrogativa de função para este Deputado, a PGR requereu a remessa dos autos à 1ª instância. O STF,
contudo, negou o pedido e arquivou o inquérito, de ofício, alegando que já foram tentadas diversas
diligências investigatórias e, mesmo assim, sem êxito. Logo, a declinação de competência para a 1ª
instância a fim de que lá sejam continuadas as investigações seria uma medida fadada ao insucesso e
representaria apenas protelar o inevitável. STF. 2ª Turma. Inq 4420/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes,
julgado em 21/8/2018 (Info 912). No mesmo sentido: STF. Decisão monocrática. INQ 4.442, Rel. Min.
Roberto Barroso, Dje 12/06/2018.
2017
(Im)possibilidade de reabertura de inquérito policial arquivado por excludente de ilicitude
O MP, no exercício do controle externo da atividade policial, pode ter acesso às OMPs
O Ministério Público, no exercício do controle externo da atividade policial, PODE TER ACESSO
A ORDENS DE MISSÃO POLICIAL (OMP). Ressalva: no que se refere às OMPs lançadas em face de
atuação como polícia investigativa, decorrente de cooperação internacional exclusiva da Polícia Federal,
e sobre a qual haja acordo de sigilo, o acesso do Ministério Público não será vedado, mas realizado a
posteriori. STJ. 1ª Turma. REsp 1.439.193-RJ, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 14/6/2016 (Info
587).
MPF não tem acesso irrestrito a todos os relatórios de inteligência produzidos pela Diretoria de
Inteligência da Polícia Federal
O controle externo da atividade policial exercido pelo Ministério Público Federal não lhe garante o
acesso irrestrito a todos os relatórios de inteligência produzidos pela Diretoria de Inteligência do
Departamento de Polícia Federal, mas somente aos de natureza persecutório-penal. O controle externo
da atividade policial exercido pelo Parquet deve circunscrever-se à atividade de polícia judiciária,
75
conforme a dicção do art. 9º da LC n. 75/93, cabendo-lhe, por essa razão, o acesso aos relatórios de
inteligência policial de natureza persecutório-penal, ou seja, relacionados com a atividade de
investigação criminal. O poder fiscalizador atribuído ao Ministério Público não lhe confere o acesso
irrestrito a "todos os relatórios de inteligência" produzidos pelo Departamento de Polícia Federal,
incluindo aqueles não destinados a aparelhar procedimentos investigatórios criminais formalizados. STJ.
1ª Turma. REsp 1.439.193-RJ, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 14/6/2016 (Info 587).
Conflito de atribuições envolvendo MPE e MPF deve ser dirimido pelo PGR
Compete ao PGR, na condição de órgão nacional do Ministério Público, dirimir conflitos de
atribuições entre membros do MPF e de Ministérios Públicos estaduais. STF. Plenário. ACO
924/PR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 19/5/2016 (Info 826).
Indiciamento envolvendo autoridades com foro por prerrogativa de função
Em regra, a autoridade com foro por prerrogativa de função pode ser indiciada.
Existem duas exceções previstas em lei de autoridades que não podem ser indiciadas:
a) Magistrados (art. 33, parágrafo único, da LC 35/79);
b) Membros do Ministério Público (art. 18, parágrafo único, da LC 75/73 e art. 40, parágrafo único, da
Lei nº 8.625/93). Excetuadas as hipóteses legais, é plenamente possível o indiciamento de autoridades
com foro por prerrogativa de função. No entanto, para isso, é indispensável que a autoridade policial
obtenha uma autorização do Tribunal competente para julgar esta autoridade. Ex: em um inquérito
criminal que tramita no STJ para apurar crime praticado por Governador de Estado, o Delegado de
Polícia constata que já existem elementos suficientes para realizar o indiciamento do investigado. Diante
disso, a autoridade policial deverá requerer ao Ministro Relator do inquérito no STJ autorização para
realizar o indiciamento do referido Governador. Chamo atenção para o fato de que não é o Ministro
Relator quem irá fazer o indiciamento. Este ato é privativo da autoridade policial. O Ministro
Relator irá apenas autorizar que o Delegado realize o indiciamento. STF. Decisão monocrática. HC
133835 MC, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 18/04/2016 (Info 825).
Não é possível decretar medida de busca e apreensão com base unicamente em “denúncia anônima
A medida de busca e apreensão representa uma restrição ao direito à intimidade. Logo, para ser
decretada, é necessário que haja indícios mais robustos que uma simples notícia anônima. STF. 1ª
Turma. HC 106152/MS, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 29/3/2016 (Info 819).
Denúncia anônima
As notícias anônimas ("denúncias anônimas") não autorizam, por si sós, a propositura de ação penal
ou mesmo, na fase de investigação preliminar, o emprego de métodos invasivos de investigação, como
interceptação telefônica ou busca e apreensão. Entretanto, elas podem constituir fonte de informação e
de provas que não podem ser simplesmente descartadas pelos órgãos do Poder Judiciário. Procedimento
a ser adotado pela autoridade policial em caso de “denúncia anônima”: 1) Realizar investigações
preliminares para confirmar a credibilidade da “denúncia”; 2) Sendo confirmado que a “denúncia
anônima” possui aparência mínima de procedência, instaura-se inquérito policial; 3) Instaurado o
76
inquérito, a autoridade policial deverá buscar outros meios de prova que não a interceptação telefônica
(esta é a ultima ratio). Se houver indícios concretos contra os investigados, mas a interceptação se revelar
imprescindível para provar o crime, poderá ser requerida a quebra do sigilo telefônico ao magistrado.
STF. 1ª Turma. HC 106152/MS, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 29/3/2016 (Info 819).
77
E. Impetrar habeas corpus para análise pelo chefe de polícia.
Gab: B.
1. (Ano: 2022 Banca: INSTITUTO AOCP Órgão: PC-GO Prova: Delegado de Polícia
Substituto). Informe se é verdadeiro (V) ou falso (F) o que se afirma a seguir e assinale a alternativa
com a sequência correta.
( ) Negar ao interessado, seu defensor ou advogado acesso aos autos de investigação preliminar, ao
termo circunstanciado, ao inquérito ou a qualquer outro procedimento investigatório de infração penal,
civil ou administrativa constitui crime na hipótese prevista na Lei de Abuso de Autoridade.
( ) Nos termos da Lei da Interceptação de Comunicações Telefônicas, quando o fato investigado
constituir infração penal punida, no máximo, com pena de detenção, não será admitida a interceptação
de comunicações telefônicas.
( ) A interceptação das comunicações telefônicas poderá ser determinada pelo juiz, de ofício ou a
exclusivo requerimento do representante do Ministério Público, na investigação criminal e na instrução
processual penal.
( ) Nos crimes de Abuso de Autoridade (Lei nº 13.869/2019), será admitida ação privada se a ação
penal pública não for intentada no prazo legal, cabendo ao Ministério Público aditar a queixa, repudiá-
la e oferecer denúncia substitutiva, intervir em todos os termos do processo, fornecer elementos de prova,
interpor recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do querelante, retomar a ação como parte
principal.
A. F – F – F – V.
B. V – V – F – V.
C. F – F – V – V.
D. V – F – F – V.
E. F – V – V – F.
2. (Ano: 2022 Banca: INSTITUTO AOCP Órgão: PC-GO Prova: Delegado de Polícia
Substituto). A respeito do regime jurídico do inquérito policial e das demais investigações preliminares,
assinale a alternativa INCORRETA.
A. O Ministério Público dispõe de competência para promover, por autoridade própria, e por prazo
razoável, investigações de natureza penal, desde que respeitados os direitos e garantias que assistem a
qualquer indiciado ou a qualquer pessoa sob investigação do Estado, observadas, sempre, por seus
agentes, as hipóteses de reserva constitucional de jurisdição e, também, as prerrogativas profissionais de
que se acham investidos, em nosso País, os Advogados, sem prejuízo do permanente controle
jurisdicional dos atos documentados produzidos pela instituição.
B. Ante o princípio constitucional da não culpabilidade, inquéritos e processos criminais em curso são
neutros na definição dos antecedentes criminais.
C. Sendo o ato de indiciamento de atribuição exclusiva da autoridade policial, não existe fundamento
jurídico que autorize o magistrado, após receber a denúncia, requisitar ao delegado de polícia o
indiciamento de determinada pessoa.
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D. O prazo de que trata o Código de Processo Penal para término do inquérito é próprio, não prevendo
a lei qualquer consequência processual, máxime a preclusão, se a conclusão do inquérito ocorrer após
trinta dias de sua instauração, estando solto o réu.
E. Descabe cogitar de implemento de inquérito pelo Ministério Público quando este, ante elementos
que lhe chegaram, provoca a instauração pela autoridade policial.
3. (Ano: 2022 Banca: INSTITUTO AOCP Órgão: PC-GO Prova: Delegado de Polícia
Substituto). O inquérito policial é o principal mecanismo destinado a reunir os elementos necessários à
apuração da materialidade de uma infração penal e sua autoria. Sobre o tema, informe se é verdadeiro
(V) ou falso (F) o que se afirma a seguir e assinale a alternativa com a sequência correta.
( ) Quando se tratar de delitos processáveis por ação penal privada, a autoridade policial somente poderá
iniciar investigação preliminar após requerimento de quem tenha legitimidade para oferecer queixa-
crime.
( ) A investigação preliminar de natureza policial, nos crimes em que a ação penal pública depender de
representação do ofendido, poderá sem ela ser iniciada.
( ) É irrecorrível o despacho que indeferir requerimento de abertura de inquérito policial, tendo em vista
a prescindibilidade do procedimento investigativo preliminar.
( ) No crime de sequestro e cárcere privado, o membro do Ministério Público ou o delegado de polícia
poderá requisitar, de quaisquer órgãos do poder público ou de empresas da iniciativa privada, dados e
informações cadastrais da vítima ou de suspeitos.
A. F – V – F – V.
B. V – F – F – V.
C. V – F – V – F.
D. V – F – V – V.
E. F – F – V – F.
4. (Ano: 2022 Banca: INSTITUTO AOCP Órgão: PC-GO Prova: Delegado de Polícia
Substituto). Analise as assertivas e assinale a alternativa que aponta as corretas.
I. Se necessário à prevenção dos crimes relacionados ao tráfico de pessoas, o delegado de polícia poderá
requisitar, mediante autorização judicial, às empresas prestadoras de serviço de telecomunicação que
disponibilizem informações que permitam a localização dos suspeitos do delito em curso.
II. O valor da fiança será determinado com base nas condições pessoais de fortuna e vida pregressa,
sendo irrelevante a natureza da infração.
III. No que diz respeito ao inquérito policial, o ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado poderão
requerer qualquer diligência, que será realizada, ou não, a juízo da autoridade.
IV. A autoridade policial somente poderá conceder fiança nos casos de infração cuja pena privativa de
liberdade máxima não seja superior a quatro anos. Nos demais casos, a fiança será requerida ao juiz, que
decidirá em quarenta e oito horas.
A. Apenas I e II.
B. Apenas II e III.
C. Apenas II, III e IV.
D. Apenas I, III e IV.
E. Apenas I, II e III.
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5. (Ano: 2022 Banca: CEBRASPE Órgão: PC-RO Prova: Delegado de Polícia). Durante a
tramitação de um inquérito policial, um delegado, convencido da autoria de uma determinada infração
penal por certo investigado, realizou a análise técnico-jurídica do fato e indiciou o suspeito. Com
referência a essa situação hipotética, assinale a opção correta, considerando a doutrina e os
entendimentos do STF.
A. O Ministério Público fica vinculado ao indiciamento realizado pelo delegado.
B. É incabível a impetração de habeas corpus para cancelar o indiciamento, apesar dos
constrangimentos causados ao indiciado.
C. Do indiciamento — ato privativo da autoridade policial — decorrem diversas consequências para a
ação penal, para a qual o referido ato é imprescindível.
D. Inexiste fundamento jurídico que autorize o magistrado, após receber a denúncia, a requisitar ao
delegado o indiciamento de determinada pessoa.
E. O simples indiciamento de uma pessoa não implica que seu nome e outros dados sejam lançados no
sistema de informações da Secretaria de Segurança Pública relacionados àquele delito e passem, a partir
disso, a constar da folha de antecedentes criminais do indivíduo.
6. (Ano: 2022 Banca: CEBRASPE Órgão: PC-RO Prova: Delegado de Polícia). Pode o delegado
requisitar, em razão do delito praticado, de quaisquer órgãos do poder público ou de empresas da
iniciativa privada, dados e informações cadastrais da vítima ou de suspeitos do crime de
A. roubo.
B. extorsão com emprego de arma.
C. latrocínio.
D. homicídio qualificado.
E. tráfico de pessoas.
7. (Ano: 2022 Banca: CEBRASPE Órgão: PC-RO Prova: Delegado de Polícia). Considerando que
tenha sido instaurado inquérito policial que ainda se encontra em curso, assinale a opção correta acerca
das funções do delegado.
A. Cabe à autoridade policial arbitrar fiança nos delitos punidos com pena máxima não superior a cinco
anos.
B. Finalizadas as investigações e concluído o inquérito policial, a autoridade policial pode determinar
o arquivamento do feito.
C. É vedado ao delegado representar ao juiz para a instauração de incidente de insanidade mental, sob
pena de invasão da competência do Ministério Público.
D. Cabe ao delegado aceitar ou rejeitar a colaboração de detetive particular.
E. Ao elaborar o relatório final do inquérito, a autoridade policial deverá manifestar-se acerca do
mérito da prova colhida.
8. (Ano: 2022 Banca: CEBRASPE Órgão: PC-RO Prova: Delegado de Polícia). Denomina-se
notitia criminis de cognição imediata quando a autoridade policia
A. fica sabendo da infração penal mediante requisição do juiz.
B. efetua a prisão em flagrante.
C. toma conhecimento da infração penal por requerimento do ofendido.
D. fica sabendo da infração penal em razão do desempenho de suas atividades regulares.
E. toma conhecimento da infração penal em razão de requisição do Ministério Público.
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9. (Ano: 2022 Banca: CEBRASPE Órgão: PC-RO Prova: Delegado de Polícia). Julgue os itens
seguintes acerca do inquérito policial.
I. O investigado pode propor diligências à autoridade policial ou apresentar a ela documentos cuja
juntada ao inquérito entenda pertinentes. Nesse caso, caberá à autoridade policial decidir acerca da
realização da diligência solicitada ou da juntada do documento.
II. O defensor do acusado, além de ter acesso aos autos do inquérito, também poderá estar presente no
interrogatório do indiciado e na produção de provas testemunhais, ocasião em poderá fazer perguntas.
III. Em inquérito policial instaurado para apurar a suposta consumação de fatos relacionados ao uso de
força letal, praticados por policial civil no exercício de suas funções, o investigado deverá ser cienti cado
da instauração do procedimento, podendo constituir defensor em até 48 horas.
Assinale a opção correta.
A. Apenas o item I está certo.
B. Apenas o item II está certo.
C. Apenas os itens I e III estão certos.
D. Apenas os itens II e III estão certos.
E. Todos os itens estão certos.
10. (Ano: 2022 Banca: IBFC Órgão: PC-BA Prova: Delegado de Polícia). Ainda no que diz respeito
ao Inquérito Policial, assinale a alternativa incorreta.
A. A instauração de inquérito policial não é imprescindível à propositura da ação penal pública,
podendo o Ministério Público valer-se de outros elementos de prova para formar sua convicção
B. A unilateralidade das investigações preparatórias da ação penal não autoriza a Polícia Judiciária a
desrespeitar as garantias jurídicas que assistem ao indiciado, que não mais pode ser considerado mero
objeto de investigações
C. O indiciado é sujeito de direitos e dispõe de garantias, legais e constitucionais, cuja inobservância,
pelos agentes do Estado, além de eventualmente induzir-lhes a responsabilidade penal por abuso de
poder, pode gerar a absoluta desvalia das provas ilicitamente obtidas no curso da investigação policial
D. Embora ausentes a amplitude de defesa e o contraditório pleno, nos moldes e com a intensidade
incidentes no processo jurisdicional, não é correto dizer que não há defesa na fase de inquérito, uma vez
que pode o investigado requerer diligências no curso das investigações, bem como possui o direito de
não produzir prova contra si mesmo
E. Considerando os documentos que podem interessar aos rumos da investigação, as diligências que
podem ser realizadas e a finalidade do inquérito, torna-se concebível a forma oral, e prescindível seja
ele materializado na forma escrita
11. (Ano: 2022 Banca: IBFC Órgão: PC-BA Prova: Delegado de Polícia). No que se refere ao
Inquérito Policial, assinale a alternativa incorreta.
A. É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que,
já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia
judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa
B. O inquérito policial é um procedimento preliminar, extrajudicial e preparatório para a ação penal,
sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis; é instaurado pela polícia
judiciária e tem como finalidade a apuração de infração penal e de sua respectiva autoria
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C. Em regra, a autoridade policial deve instaurar inquérito policial de ofício, sem aguardar provocação,
estando dispensada a anuência dos envolvidos e a necessidade de requerimento ou requisição de quem
quer que seja
D. A aparência de eventual causa de exclusão da antijuridicidade não exime a autoridade policial do
dever de investigar, isso porque, a autoridade policial não pode se investir das funções de julgador para
negar, sem apuração regular, a responsabilidade de qualquer infrator da lei penal, o que importaria
enfrentar a ordem jurídica e social, subvertendo a noção do – poder de polícia
E. O inquérito policial é indisponível para a autoridade policial. Instaurado, deverá ser conduzido até
que se esgotem as diligências legalmente possíveis, com vista à completa apuração do fato apontado
como ilícito penal. Contudo, ausentes os elementos do crime, a autoridade policial poderá mandar
arquivar os autos de inquérito
12. (Ano: 2022 Banca: CEBRASPE Órgão: PC-ES Prova: Delegado de Polícia). Acerca dos atos
do delegado de polícia durante o inquérito policial, assinale a opção correta.
A. O delegado de polícia poderá instaurar inquérito policial para apurar delitos específicos e complexos
que chegarem ao seu conhecimento, sendo-lhe autorizada, ainda, a realização de fishing expedition, por
ser um procedimento investigatório especial em razão da artimanha do modus operandi.
B. Em caso de crime que deixar vestígios, se houver a confissão do indiciado, a autoridade policial
poderá dispensar o encaminhamento da vítima para a realização do exame de corpo de delito.
C. Diante de notitia criminis inqualificada, antes de determinar a abertura do inquérito policial, o
delegado de polícia deve promover a diligência de verificação de procedência das informações, a m de
evitar delação inescrupulosa.
D. O delegado de polícia poderá interrogar pessoa inimputável presa em flagrante, não sendo possível
a nomeação de curador para acompanhar o ato.
E. O delegado de polícia poderá realizar o interrogatório, sem a participação de advogado, ainda que
o indiciado informe que deseja a presença de seu advogado no ato.
13. (Ano: 2022 Banca: CEBRASPE Órgão: PC-ES Prova: Delegado de Polícia). A respeito de
investigações policiais, assinale a opção correta.
A. Estando preso o investigado, é proibida a realização de reconhecimento de pessoa por meio de
videochamada, ainda que com a anuência do próprio investigado, por se tratar de procedimento que
exige a presença da pessoa em sede policial.
B. A reconstituição simulada consiste no exame do local do crime por peritos, a m de elucidá-lo
mediante a confecção de fotografias, desenhos e esquemas, sem a presença do investigado e de
testemunhas, para evitar contaminação do local.
C. Durante as investigações policiais, por meio de inquérito presidido pelo delegado de polícia, o
investigado poderá requisitar diligências, as quais, nessa hipótese, deverão ser obrigatoriamente
realizadas, já que a autoridade não pode indeferir tal pedido.
D. Na comarca em que houver duas circunscrições policiais, a autoridade com atribuição em uma delas
deverá requisitar diligências a outra autoridade policial da outra circunscrição, quando, para a conclusão
do inquérito, for necessária a análise de indícios ou provas existentes na localidade dessa última
circunscrição.
E. É permitida a condução coercitiva do investigado até a delegacia de polícia para submetê-lo ao
procedimento de reconhecimento de pessoa, não havendo mácula ao preceito nemo tenetur se detegere.
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14. (Ano: 2022 Banca: CEBRASPE Órgão: PC-ES Prova: Delegado de Polícia). Em relação ao
inquérito policial, assinale a opção correta.
A. Havendo repercussão interestadual que exija repressão uniforme, o delegado da Polícia Federal
poderá apurar crimes cuja apuração seja de competência da justiça estadual, não havendo mácula apta a
invalidar a produção de provas.
B. O delegado de polícia não pode presidir nem instaurar inquérito policial para apurar crime ocorrido
fora de sua circunscrição territorial, pois o lugar de consumação do delito é o que de ne a atribuição da
polícia investigativa, em nome do princípio do delegado natural.
C. Se, no curso de investigações policiais presididas por delegado de polícia civil estadual, sobrevier a
federalização do crime, deverá ser mantida a atribuição da polícia civil estadual, uma vez que esta não
está subordinada à Polícia Federal e não há, no ordenamento jurídico brasileiro, a possibilidade de
instauração do incidente de deslocamento de competência no curso do inquérito.
D. O prazo para o delegado de polícia civil concluir o inquérito policial é de trinta dias, se o indiciado
estiver solto, configurando constrangimento ilegal a superação desse prazo sem autorização judicial, por
se tratar de prazo próprio.
E. Ainda que haja motivo de interesse público, o chefe de polícia civil não pode avocar nem redistribuir
o inquérito policial, uma vez que a regra dos atos administrativos não se aplica no âmbito da investigação
policial.
15. (Ano: 2022 Banca: CEBRASPE Órgão: PC-ES Prova: Delegado de Polícia). Acerca do
inquérito policial e dos direitos e garantias do investigado, assinale a opção correta.
A. Conforme entendimento pacificado do STJ, é admitido que a autoridade policial espelhe o aparelho
celular do investigado, sem a anuência deste ou ordem judicial, e monitore as conversas de aplicativos
de mensagens, a fim de obter provas.
B. Ao fim do termo circunstanciado de ocorrência, quando houver provas suficientes do delito e provas
razoáveis acerca da autoria, a autoridade policial tem o dever de indiciar o suspeito.
C. O indiciamento realizado pelo delegado de polícia, embora seja um ato formal, dispensa
fundamentação acerca do convencimento da autoria e da existência do delito, uma vez que não há
alteração do status do indiciado.
D. O advogado do investigado poderá ter acesso ao procedimento investigatório policial já
documentado, para o exercício da defesa, desde que tenha autorização judicial, independentemente da
natureza do delito.
E. O indiciamento pode ser realizado no auto de prisão em flagrante ou no relatório final do inquérito,
mas, de acordo com o STJ, não será admitido após o recebimento da denúncia.
16. (Ano: 2022 Banca: VUNESP Órgão: PC-SP Prova: Delegado de Polícia). No que concerne aos
investigados em inquérito policial que investiga uso da força letal, é correto afirmar que a Lei n°
13.964/2019 (Pacote Anticrime):
A. a indicação do profissional para o exercício da defesa do servidor deverá ser precedida de
manifestação de que não existe defensor público lotado na área territorial onde tramita o inquérito e com
atribuição para nele atuar, hipótese em que poderá ser indicado Bacharel em Direito, como defensor ad
hoc, mesmo sem inscrição na OAB.
B. havendo necessidade de indicação de defensor, a defesa caberá exclusivamente à Defensoria
Pública, e, nos locais em que ela não estiver instalada, a União ou a Unidade da Federação
correspondente à respectiva competência territorial do procedimento instaurado deverá disponibilizar
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profissional para acompanhamento e realização de todos os atos relacionados à defesa administrativa do
investigado.
C. na hipótese de não atuação da Procuradoria do Estado, os custos com o patrocínio dos interesses dos
investigados nos procedimentos de que trata esse artigo correrão por conta do orçamento próprio da
instituição a que este esteja vinculado à época da ocorrência dos fatos investigados.
D. havendo necessidade de indicação de defensor, a defesa caberá preferencialmente à Defensoria
Pública, e, nos locais em que ela não estiver instalada, a União ou a Unidade da Federação
correspondente à respectiva competência territorial do procedimento instaurado deverá disponibilizar
profissional para acompanhamento e realização de todos os atos relacionados à defesa administrativa do
investigado.
E. não contemplou qualquer dispositivo nesse sentido.
17. (Ano: 2022 Banca: FGV Órgão: PC-AM Prova: Delegado de Polícia). Ao chegar a um ”local de
fato”, ainda não sabendo que se trata de um local de crime, de acordo com o Art. 6º do CPP, a primeira
providência da Autoridade Policial deve ser a de
A. apreender objetos que tiverem relação com o fato, evitando a perda de objetos potencialmente
importantes.
B. ouvir o indiciado, a m de decidir sobre a necessidade de sua detenção imediata.
C. prender o suspeito, a m de evitar sua fuga.
D. preservar o local.
E. ouvir o ofendido, para que se defina a área a ser isolada.
18. (Ano: 2022 Banca: CEBRASPE Órgão: PC-RJ Prova: Delegado de Polícia). Em janeiro de
2017, policiais militares em serviço apreenderam fuzis e revenderam para traficantes de drogas, de modo
que foi instaurado inquérito para apurar crime de comércio ilegal de arma de fogo (art. 17, caput, da Lei
n.º 10.826/2003). Considerando essa situação hipotética, assinale a opção correta com base no advento
da Lei n.º 13.491/2017 e na jurisprudência majoritária do Superior Tribunal de Justiça.
A. A autoridade policial deve declinar de imediato da sua atribuição e remeter ao órgão com atribuição
perante a Justiça Militar, porém se desentranhando os atos investigatórios anteriormente praticados, que
devem ser refeitos devido ao princípio constitucional da irretroatividade da lei mais gravosa.
B. A autoridade policial deve declinar de imediato da sua atribuição, remeter ao órgão com atribuição
perante a Justiça Militar, e os atos investigatórios praticados anteriormente permanecem válidos, não se
aplicando o princípio constitucional da irretroatividade da lei mais gravosa
C. A autoridade policial deve prosseguir com as investigações, mas os atos investigatórios praticados
anteriormente devem ser refeitos devido ao princípio constitucional da irretroatividade da lei mais
gravosa.
D. A autoridade policial deve prosseguir com as investigações, pois a Lei n.º 13.491/2017 não se aplica
aos policiais militares, mas tão somente aos militares das Forças Armadas.
E. A autoridade policial deve prosseguir com as investigações, e os atos investigatórios praticados
anteriormente permanecem válidos, não se aplicando o princípio constitucional da irretroatividade da lei
mais gravosa.
19. (Ano: 2022 Banca: CEBRASPE Órgão: PC-RJ Prova: Delegado de Polícia). Etelvina foi vítima
do crime de roubo com emprego de arma de fogo, numa rua com pouca iluminação em um bairro da
Zona Norte do Rio de janeiro. Desesperada, após o assalto, ela saiu pela rua, gritando por socorro. Cerca
de 500 m adiante do local do fato, encontrou Osvaldo, policial civil que havia saído da delegacia para
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jantar. Ele socorreu Etelvina, ouviu o relato dela com a descrição do agente do crime e a levou à delegacia
de polícia. Em seguida, com autorização da autoridade policial de plantão, Osvaldo, acompanhado de
um colega policial civil de plantão, saiu numa viatura policial, em perseguição do indivíduo com as
características mencionadas por Etelvina. Depois de percorrer as proximidades do local do fato durante
cerca de uma hora, não logrou êxito em localizá-lo. A autoridade policial encaminhou todos ao cartório
e ouviu o relato de Etelvina em detalhes, embora ela tivesse dito que tudo havia sido muito rápido. Não
havia testemunhas do fato, somente o relato de Osvaldo, que disse ter ouvido Etelvina na rua, apavorada.
A autoridade policial perguntou a Etelvina se ela teria condições de reconhecer o elemento pelo álbum
fotográfico da delegacia, e ela respondeu que sim. Desse modo, o delegado entregou-lhe o álbum, para
que ela identificasse o indivíduo. Etelvina olhou todo o álbum fotográfico da delegacia e apontou um
indivíduo como o autor do roubo: era Túlio, autor de diversos roubos na circunscrição da delegacia.
Nessa situação hipotética, de posse do termo de reconhecimento fotográfico, a autoridade policial
deverá, segundo jurisprudência do STJ,
A. instaurar inquérito policial, sem indiciar Túlio, a m de colher maiores elementos de convicção sobre
a autoria e circunstâncias do fato.
B. instaurar inquérito policial, chamar Túlio, para ele dizer se conhece Etelvina, e realizar a acareação
do depoimento de ambos, em busca de possíveis divergências.
C. instaurar inquérito policial, indiciando Túlio com base no reconhecimento fotográfico feito por
Etelvina, e requerer sua prisão preventiva ao juízo competente, a m de colher maiores elementos de
convicção sobre a autoria e circunstâncias do fato.
D. instaurar inquérito policial, indiciando Túlio com base no reconhecimento fotográfico feito por
Etelvina, e requerer sua prisão temporária ao juízo competente, a m de que o Ministério Público ofereça
denúncia contra Túlio.
E. instaurar inquérito policial e requerer a prisão temporária de Túlio, para posterior requerimento de
prisão preventiva e oferecimento de denúncia, diante da insofismável certeza da autoria obtida pelo
reconhecimento fotográfico.
20. (Ano: 2022 Banca: CEBRASPE Órgão: PC-RJ Prova: Delegado de Polícia). O inquérito
policial é atividade investigatória realizada por órgãos o ciais, não podendo ficar a cargo do particular,
ainda que a titularidade do exercício da ação penal pelo crime investigado seja atribuída ao ofendido.
Considerando- se as características do inquérito policial, é correto afirmar que o texto anterior discorre
sobre
A. o procedimento escrito do inquérito policial.
B. a indisponibilidade do inquérito policial.
C. a oficiosidade do inquérito policial.
D. a oficialidade do inquérito policial.
E. a dispensabilidade do inquérito policial.
GABARITOS
1 – B; 2 – D; 3 – B; 4 – D; 5 – D; 6 – E; 7 – D; 8 – D; 9 – C; 10 – E; 11 – E; 12 – C ; 13 – E; 14 – A; 15 – E; 16
– D; 17 – D; 18 – B; 19 – A; 20 – D;
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Ver art. 13-A e 13-B do Código de Processo Penal.
Ver art. 6º, X do Código de Processo Penal.
Ver art. 13, III do Código de Processo Penal.
Ver art. 4º ao 23 do Código de Processo Penal.
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