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Extinção da punibilidade por prescrição, decadência ou perempção

Extinção da punibilidade é a perda do direito do Estado de punir o agente autor


de fato típico e ilícito, a perda do direito de impor sanção penal. Quando um agente
pratica algum fato típico e ilícito, o Estado tem o direito de impor neste a sanção penal,
a pena, a perda de direitos. Contudo, existem causas que afastam esse direito do Estado,
que façam com que o agente não seja mais punível por aqueles fatos. O art. 107 elenca
os principais motivos para que o agente tenha sua punibilidade extinta, ou seja, que ele
não possa mais ser punido por aquelas condutas. Existem outras razões na legislação.
Mas no art. 107 são:
I – Morte do agente
II – Anistia, graça ou indulto
III – Retroatividade de lei que não considera mais o fato como criminoso
IV – Prescrição, decadência ou perempção
V – Renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito nos crimes da ação
privada
VI – Retratação do agente nos casos admitidos pela lei
VII – Perdão judicial nos casos previstos em lei
No caso IV, todas essas possibilidades (prescrição, decadência ou perempção) se
relacionam ao decurso do tempo e à inércia.

Decadência
Decadência é a perda de um direito de ação. Se relaciona com o conceito de
decadência do direito civil: é a perda do direito de pleitear uma ação por decurso de
tempo previsto em lei. Portanto, como se trata da perda do direito de ação, não se fala
em ação penal pública incondicionada, à qual se aplicam outros institutos. A decadência
se comunica, portanto, com as ações penais privadas e ações penais públicas
condicionadas. Ou, ainda, no caso das ações penais privadas subsidiárias das públicas,
que surgem quando o Ministério Público se mostra inerte e o ofendido pode agir em seu
lugar, mas sem tirar o a legitimidade do Ministério Público, à qual, novamente, se
aplicam outros prazos e institutos. Em geral o prazo de decadência é de 6 meses
contados a partir do conhecimento da autoria do crime. Ou seja, nas ações penais
privadas (nas quais se apresenta queixa), ações penais públicas condicionadas (onde se
apresenta representação) e nas ações penais privadas subsidiárias das públicas (quando
há inércia do MP), o ofendido tem 6 meses para pleitear ação: ofertando queixa,
oferecendo denúncia, representação, etc. Depois desse período, seu direito decai e não
há mais o que se fazer, pois ele perdeu esse direito em função do decurso de tempo.
Lembrando que representação é a manifestação de vontade do agente para autorizar o
desencadeamento da persecução penal. Por isso se chama ação penal condicionada: o
MP necessita da representação por parte do ofendido para desencadear a ação. Difere
das ações privadas, nas quais quem irá intentar a ação é o próprio ofendido. Aqui, o
ofendido autoriza, por meio da representação, que o MP atue em seu nome. Lembrando,
ainda, que o prazo decadencial é de 30 dias para as causas julgadas nos JECRIM.
A decadência só extingue de fato a punibilidade quando é reconhecida, de ofício,
pelo juiz.

Perempção
A perempção também ocorre somente nas ações penais privadas ou
condicionadas. A diferença é que ela não se dá pelo decurso simples e objetivo do
tempo: a perempção se configura no decurso do processo e se trata, na verdade, da
inércia do ofendido. No caso o ofendido prestou queixa, ofereceu representação, o que
incitou uma ação e subsequentemente um processo judicial. Neste sentido, o ofendido se
vê obrigado a dar continuidade ao processo. Quando o ofendido se mostra inerte, sem
atender às necessidades do processo, ocorre a perempção, que suscita na extinção da
punibilidade do agente. É uma sanção processual (a perda do direito à ação, a extinção
da punibilidade) ao querelante inerte ou negligente. Não se aplica às ações penais
privadas subsidiárias das públicas pois o MP pode se apresentar diante da inércia do
querelante, o que afasta a incidência da perempção. Ocorre nos casos em que somente
se procede mediante queixa (ação penal privada ou condicionada). Se considera a ação
penal perempta quando: o querelante deixa de promover o andamento do processo por
30 dias seguidos; quando o querelante falece ou se torna incapaz e não comparece em
juízo, no prazo de 60 dias, qualquer pessoa capaz de fazê-lo em seu nome para dar
continuidade ao processo; quando o querelante deixa de comparecer a qualquer ato do
processo a que deva estar presente ou deixa de formular pedido de condenação nas
alegações finais; quando o querelante pessoa jurídica se extingue sem deixar sucessor.
A ordem de sucessão para prosseguir ação em caso de morte ou incapacidade do
ofendido é: cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.

Prescrição
Em suma, a prescrição é a perda do direito de punir do Estado em função do
decurso do tempo. O Estado perdeu o tempo máximo para punir o agente e, por isso,
perde o direito de puni-lo. A decadência, além de se tratar de ações privadas, movidas
mediante queixa, se diferencia da prescrição, pois se trata da perda do direito de ajuizar,
enquanto a prescrição se trata da perda do direito de punir. Matéria de direito material
penal, está sujeita aos princípios da reserva legal e anterioridade. A prescrição pode ser
tanto da pretensão punitiva (a de promover uma ação, prolatar uma sentença), quanto da
pretensão executória (de executar a pena em si, colocar o agente no xadrez e deixar
apodrecendo pelo tempo determinado pela sentença condenatória).
 Prescrição da pretensão punitiva em abstrato ocorre antes da sentença
condenatória transitar em julgado. A pretensão punitiva se encontra antes
deste momento, que é o correto para se iniciar a execução da pena. A pena,
aqui, ainda não se tornou definitiva pois não transitou em julgado, o que a
torna uma pena em abstrato pois ainda não foi definida pelo trânsito em
julgado. Quando a pena é abordada em abstrato, a pena máxima para aquele
tipo penal é a levada em consideração para a contagem do prazo da
prescrição, que neste caso vem determinada pelo art. 109 do CP. Se fala na
prescrição da pretensão punitiva quando se sabe do fato, mas, por se
desconhecer a autoria (autoria ignorada), não se inicia o processo. Digamos
que o crime é o de homicídio. Como a pena máxima para homicídio é maior
que doze anos, o prazo prescricional será de 20 anos. Assim, se sabe que
houve um homicídio, houve um inquérito, mas não foi possível identificar o
autor. O prazo prescricional corre, desde o momento do fato, pelos próximos
20 anos, período esse depois do qual não se poderá mais punir o agente:
como prescreveu, o Estado perdeu o direito de puni-lo. Se eu mato alguém
em janeiro de 2001 e não sou identificado como autor do crime até janeiro de
2021, o que não inicia qualquer persecução, o crime prescreve e o Estado
perde o direito de me punir.
 Prescrição da pretensão punitiva retroativa e superveniente ocorre quando
já há sentença condenatória, transitada em julgado apenas para o MP, mas
com possibilidade de recurso para o réu, de forma que é possível prever a
pena concreta como parâmetro. Como já há coisa parcialmente julgada (a
sentença condenatória que transitou em julgado para o MP, ou seja, não
poderá ser acrescida, só diminuída em função de eventual recurso interposto
pelo réu), já existe uma sentença parcialmente concreta, a partir da qual se
poderá determinar prazos prescricionais. A prescrição retroativa acontece da
seguinte forma: suponha que o crime de homicídio, cuja pena máxima é
superior a 12 anos, tenha uma prescrição calculada sobre a pena culminada
em abstrato de 20 anos. Dentro desses 20 anos foi feito todo o inquérito e
processo, que correu até a sentença que transitará em julgado (sentença essa
da qual não cabe nenhum recurso do MP, mas somente do réu, ou seja, não
pode aumentar). Daí quando me dão a sentença, a pena é inferior a 12 anos,
o que dá um prazo prescricional de 16 anos. Agora temos uma pena concrete,
não mais em abstrato: portanto, agora nos comunicamos com um novo prazo
prescricional. É possível que depois da sentença condenatória concreta de
pena inferior à pena em abstrato haja prescrição retroativa. A prescrição
superveniente ocorre entre a publicação da sentença e o trânsito em julgado.
A prescrição da pretensão punitiva é excludente de punibilidade, o réu
permanece primário.
 Prescrição da pretensão executória se assemelha à prescrição da pretensão
punitiva, mas em vez de tratar da aplicação da pena, da sentença, da punição,
ela trata sobre a execução da pena, sobre os anos passados em privação de
liberdade e/ou direitos. É o mesmo prazo do art. 109, mas conta a partir do
trânsito em julgado da condenação para ambas as partes (ou somente a
acusação, ainda em discussão), quando a pena se torna definitiva. Condenado
o réu, começa a contar o prazo prescricional. Isso não altera os efeitos da
condenação, como no caso da reincidência. Somente prescreve o direito de
executar a pena.
OBS: Preclusão é quando uma das partes perde o direito de realizar determinada
manifestação no processo, seja por prazo, formalidade, momento oportuno.
Preclusão
Quando você perde prazo pra realizar algum ato no meio do processo.
Perempção
Perda do direito de ação por inércia durante o processo.
Prescrição
A acusação (estado) perde o direito de punir ou executar a sentença por decurso
de prazo.
Decadência
Perda do direito de ação por decurso do prazo.

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