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Prescrição

Prescrição é a perda da pretensão punitiva ou da pretensão executória


em face da inércia do Estado durante determinado tempo legalmente
previsto. “O tempo faz desaparecer o interesse social de punir”.
Pretensão punitiva é o interesse em aplicar uma sanção penal ao
responsável por um crime ou por uma contravenção penal, enquanto a
pretensão executória é o interesse em executar, em exigir que seja
cumprida uma sanção penal já imposta.
É causa de extinção de punibilidade prevista no artigo 107, IV, CP.
Os prazos prescricionais são improrrogáveis, não se suspendendo em
finais de semana, feriados ou férias.
Trata-se de matéria de ordem pública, podendo e devendo ser
decretada de oficio pelo juiz, em qualquer tempo e grau de jurisdição, nos
termos do art. 61, do CPP (“ Em qualquer fase do processo, o juiz, se
reconhecer extinta a punibilidade, deverá declará-lo de ofício. ”)
Constitui matéria preliminar, ou seja, impede análise do mérito da ação
penal, estará extinta a punibilidade não se falando em absolvição ou
condenação do réu. A sentença é absolutória, não gera reincidência, os
efeitos da condenação são apagados.
Todos os crimes prescrevem, com exceção de dois: Racismo (Art. 5º, XLII,
CF/88) e ação de grupos armados, civis ou militares contra a ordem
constitucional e o estado democrático (Art. 5º, XLIV, CF/88).
Tortura prescreve? Sim, ela aparece como crime imprescritível em
tratados internacionais ratificados pelo Brasil (Tratado de Roma), porém
não é mencionada na CF/88. STJ entendeu que as torturas praticadas no
regime militar são imprescritíveis, na seara de reparação dos danos (cível).
Espécies de Prescrição:
a) Prescrição da pretensão punitiva: É verificada antes de transitar em
julgado a sentença final, obsta o exercício da ação penal, regula-se
pelo máximo da pena cominada ao crime, seja na fase
administrativa ou na fase judicial, salvo o disposto nos § 1º do art.
110 que ocorre depois do trânsito em julgado com a pena aplicada
(CP, art. 109).
Sumula 220, STJ: ‘’A reincidência não influi no prazo da prescrição
da pretensão punitiva. ’’ A reincidência somente tem influência na
pretensão executória.
Impede a instauração de IP ou de ação penal.
Desaparece o Direito de punir do Estado.
Impede a análise de mérito da ação penal.
Todos os efeitos de condenação são completamente apagados.
b) Prescrição de pretensão executória: Ocorre após o transito em
julgado da sentença condenatória e vem disciplinada no art. 110,
“caput”, do Código Penal. Extingue somente a pena, mantendo-se
intocáveis todos os demais efeitos secundários da condenação,
penais e extrapenais. O nome do réu continua inscrito no rol dos
culpados, ou seja, ainda cabe reincidência pelo fato.
Essas espécies ocorrem de formas diferentes:
Prescrição da pretensão punitiva propriamente dita, art. 109:    A
prescrição da pretensão punitiva somente ocorre antes do transito em
julgado da sentença condenatória, de tal forma que ela pode ser
alegada a qualquer momento, antes ou durante a ação penal, de ofício
ou mediante requerimento de qualquer das partes. Em regra não há
condenação, mas pode existir. Nesse caso, a pena ainda poderá ser
aumentada.
Não gera reincidência ou efeitos da condenação, ao extinguir a
punibilidade há uma decisão absolutória (art. 397, CPP).
       Além disso, a pretensão punitiva deve ser verificada de acordo com
o máximo da pena privativa de liberdade prevista em abstrato para a
infração penal, de acordo com as regras do art. 109 do Código Penal,
conforme se observa do quadro abaixo:
 
 109,CP
         PENA MÁXIMA                       PRAZO PRESCRICIONAL
            a) inferior a 1 ano                                     3 anos
            b) de 1 a 2 anos                                       4 anos
            c) + de 2 a 4 anos                                    8 anos
            d) + de 4 a 8 anos                                   12 anos
            e) + de 8 a 12 anos                                 16 anos
            f) superior a 12 anos                               20 anos

Prescrição da pretensão punitiva retroativa (art. 110, §1º): Existe


condenação, porém a pena não poderá ser aumentada. Ex: Promotor
decide não oferecer recurso ou oferece porém não pede para aumentar
pena. O cálculo terá base na pena estabelecida na decisão condenatória. A
data do cálculo será anterior à decisão condenatória.
Prescrição da pretensão punitiva superveniente: Mesma coisa da
anterior, porém a data do cálculo será feita posteriormente à decisão
condenatória.
Prescrição da pretensão executória (art. 110, CP): Como já foi falado,
existe condenação e já transitou em julgado para a defesa e para a
acusação. O cálculo terá base na decisão condenatória ou no restante da
pena.
Menor de 21 anos e maior de 18, assim como o maior de 70 (na data da
sentença ou do último provimento judicial), na data dos fatos, o prazo
prescricional reduz pela metade.
Termos iniciais, causas suspensivas e interruptivas:
Termos iniciais (art. 111, CP, decorar): Nos crimes qualificados pelo
resultado, o prazo é computado a partir do evento lesivo qualificador. No
crime habitual, conta-se o prazo prescricional da data da prática do último
ato delituoso.
Art. 111 - A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final,
começa a correr:
        I - do dia em que o crime se consumou; 
        II - no caso de tentativa, do dia em que cessou a atividade criminosa; 
        III - nos crimes permanentes, do dia em que cessou a permanência;
        IV - nos de bigamia e nos de falsificação ou alteração de
assentamento do registro civil, da data em que o fato se tornou
conhecido.
        V - nos crimes contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes,
previstos neste Código ou em legislação especial, da data em que a vítima
completar 18 (dezoito) anos, salvo se a esse tempo já houver sido
proposta a ação penal.

Causas suspensivas (art. 116, CP): São aquelas que analisam o curso do
prazo prescricional, porém recomeçam a correr apenas pelo que resta do
lapso, aproveitando o tempo anteriormente decorrido.
Art. 116 - Antes de passar em julgado a sentença final, a prescrição não
corre:
        I - enquanto não resolvida, em outro processo, questão de que
dependa o reconhecimento da existência do crime; (sentença civil que
julgue se o bem é de certa pessoa em caso de furto, podendo
descaracterizar o fato)
        II - enquanto o agente cumpre pena no estrangeiro.
        Parágrafo único - Depois de passada em julgado a sentença
condenatória, a prescrição não corre durante o tempo em que o
condenado está preso por outro motivo.

Causas interruptivas (art. 117, CP): São aquelas que zeram o prazo
prescricional, estende-se a todos os corréus, exceto no caso de
reincidência (circunstância de cunho personalíssimo).
Art. 117 - O curso da prescrição interrompe-se:
        I - Pelo recebimento da denúncia ou da queixa;
        II - Pela pronúncia;
        III - Pela decisão confirmatória da pronúncia;
        IV - Pela publicação da sentença ou acórdão condenatórios
recorríveis;
        V - Pelo início ou continuação do cumprimento da pena;
        VI - Pela reincidência.
        § 1º - Excetuados os casos dos incisos V e VI deste artigo, a
interrupção da prescrição produz efeitos relativamente a todos os autores
do crime. Nos crimes conexos, que sejam objeto do mesmo processo,
estende-se aos demais a interrupção relativa a qualquer deles.  
        § 2º - Interrompida a prescrição, salvo a hipótese do inciso V deste
artigo, todo o prazo começa a correr, novamente, do dia da interrupção. 

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