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AULA 6
Após estudarmos a teoria da norma penal, a teoria do crime, bem como a teoria da pena, é
necessário voltarmos os olhos para a punibilidade, que nada mais é do que a consequência jurídica
resultante da prática de um ilícito penal. Após breves considerações, analisaremos cada uma das
causas de extinção da punibilidade elencadas no art. 107 do Código Penal – CP (Brasil, 1940). Veremos
que algumas têm caráter personalíssimo, como a morte do agente e o perdão judicial; outras
alcançam todos os envolvidos na prática delitiva, como a decadência e a prescrição; e ainda há as que
uma infração penal a consequência jurídica decorrente de sua prática, qual seja, aplicar àquele uma
pena ou uma medida de segurança. Porém, o poder de punir do Estado pode ser extinto em
Conforme Dotti (2010, p. 763), “as causas extintivas de punibilidade são atos ou fatos que
impedem a aplicação da sanção penal”. Prossegue o professor paranaense:
Algumas destas causas resultam de acontecimentos naturais como a morte; outras de fatos
renúncia e perempção); outras, ainda, decorrem da vontade do Estado (indulto, anistia, graça,
perdão judicial), da vontade do ofendido (renúncia e perdão) ou da vontade do agente (retratação e
de sua prática. O art. 107 do CP enumera, exemplificativamente, várias causas que, materializadas,
levam à extinção da punibilidade do autor do fato delituoso. Algumas podem ocorrer antes do
Outras atingem a sua pretensão executória, vale dizer, manifestam-se após o trânsito em julgado
Há várias causas de extinção da punibilidade previstas também na parte especial do CP, bem
como em leis extravagantes. É importante notar que causas extintivas de punibilidade não se
confundem com escusas absolutórias, pois estas se encontram previstas na parte especial do CP.
personalidade, pelo qual a punição não pode ultrapassar a pessoa do condenado e, morrendo este,
sua execução perde o objeto. O art. 5º, inciso XLV da Constituição Federal de 1988 (CF/1988) confirma
o exposto, ao declarar que “[...] nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a
obrigação de reparar o dano e a decretação de perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendida
aos sucessores e contra eles executada, até o limite do valor do patrimônio transferido” (Brasil, 1988).
Por outro lado, a expressão latina mors omnia solvit (a morte tudo apaga) também é corolário
A causa extintiva da morte do agente pode ocorrer em qualquer fase da persecução penal,
seja durante o inquérito policial, seja ao longo da instrução criminal em juízo, seja ainda no
A causa extingue todos os efeitos de uma sentença penal condenatória, penais e extrapenais,
porém, caso a morte ocorra após o trânsito em julgado da decisão condenatória, prevalecem os
efeitos secundários extrapenais, sendo autorizada a execução, no juízo cível, em face dos
herdeiros do falecido.
Por outro lado, juridicamente, a morte de um ser humano é aferida pela cessação de suas
atividades encefálicas, conforme art. 3º da Lei n. 9.434/1997 (Brasil, 1997). Documentalmente,
comprova-se a morte de alguém por meio da juntada, nos autos, da sua certidão de óbito
(conforme art. 62 do Código de Processo Penal – CPP), não sendo possível declarar extinta sua
punibilidade com base em declaração judicial de ausência (Brasil, 1941b). Não se admite a
Caso a sentença extintiva de punibilidade, que não comporte mais recurso, tenha sido prolatada
com base em certidão de óbito falsa, entendem o Superior Tribunal de Justiça – STJ, conforme
referida decisão não ofende a coisa julgada material, pois a peça processual há de ser considerada
inexistente e o erro material identificado pode ser corrigido a qualquer tempo, inclusive, de ofício,
vale dizer, espontaneamente, pelo Poder Judiciário.
Anistia, prevista no art. 107, inciso II do CP, conforme Dotti (2010, p. 765), “[...] é o ato legislativo
pelo qual o Estado renuncia ao poder-dever de punir o autor do crime, atendendo a razões de
segurança, no caso desta última, nos termos do art. 96, parágrafo único do CP, perdurando, porém, a
Ora, se o Estado, por meio de seus mecanismos legais, pode criminalizar determinados
comportamentos, poderá, também, descriminalizar certos fatos, pois quem pode o mais pode,
efetivamente, o menos.
A anistia ocorre mediante edição de lei penal com efeito retroativo (ex tunc), que promove o
esquecimento jurídico do fato criminoso. O instituto refere-se a fatos e não a pessoas, atingindo
todos que tenham praticado determinado delito, sendo certo que seu âmbito não se encontra restrito
a crimes políticos, pois a anistia pode ser aplicada também a crimes comuns. Ela é concedida por lei
federal, sendo competência exclusiva da União sua edição (conforme CF/1988, art. 21, inciso XVII),
por intermédio do Congresso Nacional (de acordo com a CF/1988, art. 48, inciso VIII), mediante
sanção do presidente da república (Brasil, 1988).
A anistia difere da abolitio criminis. Na abolitio criminis, a norma penal incriminadora deixa de
existir, ao passo que na anistia são alcançados apenas os fatos passados, continuando a existir o tipo
penal.
A anistia pode ser concedida antes ou depois da sentença e retroage, ou seja, volta no tempo,
apagando o crime (efeito ex tunc), extinguindo a punibilidade do agente e as demais
consequências de natureza penal, não apagando, porém, os efeitos de natureza extrapenal. Assim,
se o agente vier a cometer novo crime, será considerado primário, bem como a sentença penal
aceita a anistia, ela não poderá ser revogada, até porque lei posterior, de cunho revogador, iria
prejudicar os anistiados, princípio vedado pela CF/1988, em seu art. 5º, inciso XL (Brasil, 1988).
O instituto tem aplicação também na ação penal privada, pois o Estado concedeu ao ofendido o
direito de postular a punição daquele que ofendeu seu interesse, permanecendo com o ente estatal o
direito de aplicar a lei ao caso (direito de punir), encargo a que pode vir a renunciar a qualquer
momento.
Conforme art. 5º, inciso XLIII da CF/1988, a anistia não é cabível em crimes hediondos,
a. própria: quando concedida antes da condenação, ou seja, durante o trâmite da ação penal;
– assim, determinada lei pode conceder anistia a todos os agentes que, durante um período x,
cometeram delitos, à exceção daqueles que cometeram as infrações a, b e c;
f. condicionada: quando se exige alguma condição específica do réu ou condenado para sua
beneficiário.
magistrado que estiver à frente do processo. Assim, tratando-se de ação penal que tramita no
primeiro grau de jurisdição, tal decisão tocará ao juiz. Caso o feito se encontre em tribunal, a ele
competirá declarar extinta a punibilidade do agente. Por fim, se já tiver havido o trânsito em julgado
A graça, conforme art. 107, inciso II do CP (Brasil, 1940), trata-se de clemência individual,
dirigida a pessoa determinada, concedida por um poder soberano, que tem por mira crimes
comuns com sentença penal condenatória transitada em julgado. Tem natureza administrativa e
visa extinguir a pena imposta, pressupondo a existência de uma sentença penal condenatória
irrecorrível. Atinge somente a pena imposta, subsistindo os demais efeitos condenatórios, ou seja,
atinge somente os efeitos executórios da sentença penal. Se o agraciado vier a cometer novo crime,
Como é de índole individual, deve ser requerida pelo condenado, pelo Conselho Penitenciário,
pelo MP ou pela autoridade administrativa, conforme art. 188 da Lei de Execução Penal – LEP (Brasil,
1984) e, uma vez concedida, em regra, não pode ser recusada.
a graça, o que ocorre por intermédio de decreto. Conforme art. 84, inciso XII da CF/1988, a concessão
Executivo nacional, conforme o parágrafo único daquele mesmo artigo, delegar a competência para
sua concessão aos ministros de Estado, ao procurador-geral da república ou ao advogado-geral da
A graça pode ser plena ou parcial, conforme atinja integralmente a pena ou parte dela. Somente
a graça parcial pode ser recusada pelo agente, conforme CPP, art. 739 (Brasil, 1941b).
Nos termos do art. 5º, inciso XLIII da CF/1988 (Brasil, 1988), é proibida a concessão de graça aos
praticantes de crimes hediondos, tortura, terrorismo e tráfico de entorpecentes e drogas afins, sendo
Previsto no art. 107, inciso II do CP, chamado de indulto propriamente dito ou indulto coletivo, o
indulto vem a ser a clemência coletiva concedida espontaneamente pelo presidente da república
(conforme art. 84, inciso XII da CF/1988), por meio de decreto, cabível em face de penas e de
medidas de segurança (Brasil, 1940, 1988). Atinge a pena imposta, permanecendo os demais efeitos
condenatórios. Assim, caso o indultado cometa novo delito, será considerado reincidente.
duração da pena aplicada, bem como o preenchimento de requisitos de ordem objetiva (por exemplo,
quantum de pena já cumprida) e de ordem subjetiva (por exemplo, primariedade do agente). Note
que, embora seja a regra, o STF não entende ser necessário o trânsito em julgado de sentença penal
entorpecentes ou drogas afins e tortura, conforme entendimento do STF e STJ. É cabível em relação
Abolitio criminis, conforme art. 107, inciso III do CP, trata-se de fenômeno que ocorre quando
nova lei afasta do âmbito penal um fato até então considerado criminoso. Nos termos do art. 5º,
inciso XL da CF/1988, a norma penal mais benéfica é retroativa, sendo assim, possui efeito ex tunc,
do Poder Judiciário no qual esteja tramitando a ação penal atingida pelo instituto. Assim, ela poderá
ocorrer no juízo criminal de primeiro grau, caso a questão se encontre na fase policial ou mesmo em
trâmite da ação penal; ainda no tribunal respectivo, caso se trate de competência originária ou o feito
se encontre em grau recursal; ou, por fim, por decisão de juízo da vara de execução penal, quando se
tratar de sentença penal condenatória transitada em julgado.
A decadência, conforme art. 107, inciso IV do CP, vem a ser a perda do direito de exercício de
ação ou de representação, decorrente da inércia de seu titular durante certo lapso de tempo
estabelecido em lei, atingindo indiretamente o jus puniendi do Estado (Brasil, 1940). É cabível na ação
Salvo disposição legal em contrário, a decadência se opera em seis meses a contar da data em
que a vítima ou seu representante legal souber quem foi o autor do crime (de acordo com art. 38 do
CPP e art. 103 do CP). O prazo, que é peremptório, ou seja, não se interrompe e nem se suspende,
é contado conforme o art. 10 do CP, ou seja, desde o dia do seu início, inclusive (Brasil, 1940, 1941b).
Tratando-se de ação penal privada subsidiária da pública, o prazo decadencial de seis meses
começará a fluir a partir do momento em que escoar o prazo legal conferido ao MP para o
art. 236 do CP e único existente em nossa legislação a ser apurado mediante a propositura de ação
penal privada personalíssima, é necessário notar que o prazo decadencial de seis meses terá início
após o trânsito em julgado da sentença que, proferida pelo juiz da vara de família, vier a anular o
Porém, sendo aquele menor de 18 anos, cabe a seu representante legal tal tarefa.
No crime continuado, o prazo decadencial conta-se isoladamente em face de cada uma das
infrações, ou seja, a partir da data em que se descobre a autoria de cada ilícito penal. No crime
habitual, cuja existência pressupõe uma repetição de atos, a decadência é contada a partir do
último ato conhecido praticado. No crime permanente, o prazo começará a fluir após a cessação
A perempção, como legislada no art. 107, inciso IV do CP, trata-se da sanção, aplicada ao
querelante, consistente na perda do direito de prosseguir na ação penal privada, decorrente de sua
inércia processual (Brasil, 1940). Ela ocorre após o início da ação e, uma vez configurada, atingirá a
todos os querelados, sendo incabível nos crimes de ação penal privada subsidiária.
As hipóteses de perempção estão elencadas no art. 60, incisos I a IV do CPP (Brasil, 1941b):
durante 30 dias seguidos: regularmente intimado o querelante e decorridos 30 dias sem que
haja sua manifestação, declarará o juiz a perempção da ação, não podendo ela ser proposta
b. Quando, falecendo o querelante ou, sobrevindo sua incapacidade, ele não comparecer em
juízo, para prosseguir no processo, dentro de 60 dias, qualquer das pessoas a quem
couber fazê-lo, ressalvado o disposto no art. 36 do CPP: nessa situação, os legitimados para
suceder o querelante no polo ativo da ação penal privada encontram-se elencados no art. 31 do
CPP (Brasil, 1941b). Assim, falecendo o querelante, deverá o juízo intimar seus sucessores, os
quais deverão se manifestar no prazo de 60 dias, sob pena de se configurar a perempção. Nesse
caso, a substituição é condição de prosseguibilidade. Se, após a substituição, houver
desistência por parte do novo querelante, os demais sucessores poderão prosseguir na ação.
processual a que deva estar presente: nessa hipótese, o querelante não comparece
injustificadamente a ato processual no qual sua presença era fundamental. Caso assim se
proceda, entende-se que o autor da ação penal privada não mais está interessado em seu
prosseguimento e, dessa maneira, deverá o juiz declarar extinta a punibilidade do querelado em
face da perempção, determinando o arquivamento dos autos. É necessário notar que, no âmbito
dos crimes apuráveis mediante ações penais privadas, o Estado deixou a critério do ofendido a
análise da propositura ou não da ação. Ora, parte-se do raciocínio pelo qual, tendo optado pela
propositura da demanda, deverá envidar todos os esforços no sentido de levá-la até final
julgamento, sob pena de caracterizar-se a perempção. Por fim, somente a ausência a atos
contra a honra.
contra ele formulada. Caso sejam dois ou mais os delitos imputados ao réu, o pedido de
condenação deve ser expresso em relação a cada um deles, sob pena de ocorrer perempção em
face daquele que foi esquecido. Exemplificando: A propõe ação penal privada em face de B,
imputando-lhe o cometimento dos crimes de injúria e difamação. Nas alegações finais, seu
quanto a este último, deverá o juiz declarar extinta a punibilidade do querelado. Caso o
querelante não apresente alegações finais no prazo legal, estará caracterizada a perempção.
e. Quando, sendo querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar sucessor: nessa
estabelecido para o sucessor da pessoa física no mesmo art. 60, inciso II do CPP (Brasil, 1941b).
Assim, se no prazo legal não houver a habilitação exigida pela lei, deverá o juiz decretar extinta
Por fim, havendo vários querelantes, a perempção somente atingirá o que se mostrar negligente.
o ofendido abre mão, ou seja, desiste do direito de oferecer queixa ou formular representação em
face do autor da infração. Ela ocorre antes do início da ação penal privada ou da ação penal
pública condicionada à representação, sendo, portanto, sempre extraprocessual. A renúncia em
relação a um dos autores do crime a todos aproveita, tendo em vista a aplicação, às ações penais
privadas, do princípio da indivisibilidade. O recebimento de indenização pelo dano resultante do
crime não implica sua renúncia, como expressamente previsto no art. 104, parágrafo único do CP
(Brasil, 1940).
A renúncia sempre foi instituto exclusivo de ação penal privada, mas a Lei n. 9.099/1995, que
instituiu os juizados especiais cíveis e criminais estaduais, criou uma hipótese de sua aplicação às
infrações penais de menor potencial ofensivo apuráveis mediante ação penal pública condicionada à
representação. O art. 74, parágrafo único da Lei n. 9.099/1995 estabelece que, nos crimes de ação
privada ou ação penal pública condicionada à representação, a composição em relação aos danos
civis, uma vez homologada pelo juiz na audiência preliminar, implicará a renúncia, por parte do
Se o titular do direito à ação penal possuir 18 anos, somente ele terá legitimidade para renunciar
ao exercício do direito de queixa. Havendo duas vítimas, a renúncia de uma delas não atinge o direito
O perdão do ofendido, previsto no art. 107, inciso V do CP, consiste em ato bilateral, pelo qual o
ação penal privada, seja ela exclusiva, seja ela personalíssima (Brasil, 1940). Terá eficácia somente
antes do trânsito em julgado da sentença condenatória. É ato bilateral, pois deve ser aceito pelo
querelado, para gerar efeitos. Se oferecida a um dos ofensores, a todos aproveitará, desde que o
aceitem. Havendo mais de um querelante, o perdão oferecido por um não atinge a ação promovida
pelos demais. Se o querelante tiver 18 anos, o perdão somente poderá ser oferecido por si. Mas, se o
querelante for totalmente incapaz e, dessa forma, esteja sendo representado por seu responsável,
CPP (Brasil, 1941b) que seja intimado o querelado para, em três dias, se manifestar, aceitando ou
recusando o perdão. Caso não o aceite, deverá comparecer em juízo e fazê-lo de forma expressa;
silenciando, entende-se que aceitou o perdão. Extraprocessualmente, o perdão pode ser expresso ou
tácito. Expresso, quando concedido mediante declaração assinada pelo querelante ou procurador
com poderes especiais. Será tácito quando o querelante praticar ato incompatível com a intenção de
Quem se retrata se desdiz, confessa que errou. Por intermédio da retratação, prevista no art. 107,
inciso VI do CP, o querelado (réu) admite que agiu erroneamente e, dessa forma, ocorrendo o fato
antes da prolação de sentença, competirá ao juiz extinguir sua punibilidade. A retratação é admitida
nos crimes de calúnia e difamação, conforme art. 143 do CP, falso testemunho e falsa perícia, nos
termos do art. 342, parágrafo 2º do CP, não tendo, porém, aplicação ao delito de injúria, eis que
nesse caso ocorre uma ofensa à honra subjetiva da vítima (Brasil, 1940).
O perdão judicial, legislado pelo art. 107, inciso IX do CP, é o instituto pelo qual o juiz,
comprovada a prática da infração penal pelo agente, deixa de aplicar-lhe a pena em face da existência
personalíssimo. Mostra-se cabível somente nas hipóteses expressamente previstas em lei, como nos
arts. 121, parágrafo 5º; 129, parágrafo 8º; 140, parágrafo 1º; 180, parágrafo 5º do CP; art. 8º e 39,
parágrafo 2º do Decreto-Lei n. 3.688/1941 (Lei de Contravenções Penais); e ainda no art. 29, parágrafo
2º da Lei n. 9.605/1998 (Lei dos Crimes Ambientais), entre outros (Brasil, 1940, 1941a, 1998).
Doutrina e jurisprudência advogam que o instituto tem perfeita aplicação nos casos em que se
caracteriza concurso formal, conforme art. 70 do CP (Brasil, 1940), ou seja, quando o agente, mediante
uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não. Assim, caso o agente, por
meio de uma única conduta, venha a praticar dois ou mais delitos, contra duas ou mais pessoas,
configurada a situação exigida pela lei, o instituto abrangerá o fato em si (rectius, a conduta) e, assim,
mesmo os delitos cometidos contra vítimas sem qualquer relação de proximidade com o autor serão
O perdão judicial é declarado na sentença, após o juiz considerar o acusado responsável pelo
delito imputado, não precisando ser aceito para gerar efeitos. O perdão afasta os efeitos da
reincidência, conforme art. 120 do CP (Brasil, 1940).
Por fim, o STJ editou a Súmula n. 18/1990, segundo a qual “A sentença concessiva do perdão
A prescrição, prevista no art. 107, inciso IV do CP (Brasil, 1940), “consiste na perda do poder-
dever do Estado de impor uma sanção penal (prescrição da pretensão punitiva) ou de executar a
sanção penal imposta (prescrição da pretensão executória), em virtude do decurso do tempo” (Araújo,
2020, p. 1.174). É instituto de direito material, vez que atinge o direito de punir do Estado. Assim,
compreende-se que a prescrição atinge o próprio direito de punir, ao passo que a decadência alcança
c. prescrição retroativa.
recursos, porém, com ela o Estado perde o poder-dever de concretizar a sanção penal imposta.
Em regra, os prazos prescricionais encontram-se previstos no art. 109 do CP, salvo o referente à
hipótese em que a pena de multa é a única cominada ou aplicada. Nesse caso, o prazo será de dois
anos, conforme disposto no art. 114, inciso I do CP. Porém, quando a pena de multa for alternativa ou
prescrição da pena privativa de liberdade, conforme art. 114, inciso II do CP (Brasil, 1940).
Os prazos prescricionais são reduzidos à metade quando o agente era, ao tempo do crime,
menor de 21 anos ou, na data da sentença, maior de 70 anos.
O termo inicial, ou seja, o momento a partir do qual passa a fluir o prazo prescricional encontra-
se previsto no art. 111 do CP. Lado outro, as causas interruptivas da fluência do prazo prescricional,
ou seja, as hipóteses em que o prazo voltará a fluir novamente por inteiro estão elencadas no art. 117
do CP (Brasil, 1940).
retroativa regula-se pela pena efetivamente fixada na sentença, pressupondo seu trânsito em
julgado, para a acusação. Prescrição superveniente e prescrição retroativa têm como balizas os prazos
condenação para as duas partes e releva como parâmetro a pena efetivamente imposta na sentença.
O prazo poderá ser acrescido em um terço caso o condenado seja considerado reincidente, e seu
termo inicial encontra-se disciplinado no art. 112 do CP. Terá como causas interruptivas, nos termos
(Brasil, 1940).
A chamada prescrição virtual, em perspectiva ou antecipada não possui amparo legal e não é
acolhida pelos tribunais superiores. Trata-se de uma espécie de contagem fictícia (projetada) do prazo
NA PRÁTICA
Você sabia que, até o ano de 2005, a legislação brasileira “premiava” o estuprador com a extinção
de sua punibilidade se ele se casasse com a vítima ou se ela contraísse matrimônio com terceiro e não
desse seguimento à apuração do crime? Os incisos VII e VIII do art. 107 do CP eram assim redigidos:
[...]
VII – pelo casamento do agente com a vítima, nos crimes contra os costumes, definidos nos
Capítulos I, II e III, do Título VI, da Parte Especial deste Código;
VIII – pelo casamento da vítima com terceiro, nos crimes referidos no inciso anterior, se cometidos
sem violência real ou grave ameaça e desde que a ofendida não requeira o prosseguimento do
inquérito policial ou da ação penal no prazo de 60 (sessenta) dias a contar da celebração; [...] (Brasil,
1940).
A Lei n. 11.106/2005, em boa hora, revogou tais dispositivos (Brasil, 1940, 2005).
FINALIZANDO
Verificamos que as causas de extinção de punibilidade, em sua maioria, estão previstas no art.
107 do CP (Brasil, 1940) e, ao tratarmos de cada uma delas, pudemos destacar suas particularidades e,
ainda, sua interpretação pelos tribunais superiores, seu raio de incidência, sua aplicabilidade e sua
relevância. Além disso, restou claro que a interpretação doutrinária nem sempre é pacífica. Por fim,
analisamos quais são as causas de extinção de punibilidade aplicáveis exclusivamente às ações penais
públicas e às ações penais privadas.
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, F. R. Direito penal didático: parte geral. 3. ed. Salvador: JusPodivm, 2020.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial da União, Brasília,
_____. Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro,
_____. Decreto-Lei n. 3.688, de 3 de outubro de 1941. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, 3
_____. Decreto-Lei n. 3.689, de 3 de outubro de 1941. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, 13
_____. Lei n. 9.434, de 4 de fevereiro de 1997. Diário Oficial da União, Brasília, 5 fev. 1997.
_____. Lei n. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Diário Oficial da União, Brasília, 13 fev. 1998.
_____. Lei n. 11.106, de 28 de março de 2005. Diário Oficial da União, Brasília, 29 mar. 2005.
_____. Habeas Corpus n. 143.474/SP, de 22 de outubro de 2009. Relato: Celso Limongi. Diário da
_____. Súmula n. 18, de 28 de novembro de 1990. Diário da Justiça, Brasília, 28 nov. 1990.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus n. 55.091/SP, de 12 de agosto de 1977. Relator:
_____. Habeas Corpus n. 60.095/RJ, de 30 de novembro de 1982. Relator: Rafael Mayer. Diário da
_____. Habeas Corpus n. 84.525/MG, de 16 de novembro de 2004. Relator: Carlos Velloso. Diário
_____. Habeas Corpus n. 87.801/SP, de 2 de maio de 2006. Relator: Sepúlveda Pertence. Diário da
Justiça, Brasília, 26 maio 2006.
_____. Habeas Corpus n. 104.998/SP, de 14 de dezembro de 2010. Relator: Dias Toffoli. Diário da
DOTTI, R. A. Curso de direito penal: parte geral. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010.